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O propósito da criação

animais; logo, os humanos existem para serem humanos.

Contudo, há no ser humano uma certa inadequação. Somos ávidos e, ao mesmo tempo, ignorantes quanto à eternidade. Nossa habilidade de raciocinar indica um vazio existencial. Há uma angústia antológica na humanidade. É o sentimento de estar deslocado, sobre o qual falava o escritor Albert Camus. Em linhas gerais, a Teologia Sistemática chama essa angústia de ‘pecado’, tendo como base as palavras ‘chata’ e ‘hamartano’ (no hebraico e no grego, respectivamente), as quais significam ‘errar o alvo’. Para o teólogo estadunidense J. Oliver Buswell, “pecado pode ser definido como qualquer coisa na criatura que não expresse ou que seja contrário ao caráter santo do Criador”.

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A essa lacuna no coração humano, o poeta português Luís Vaz de Camões chamou de “saudade quebrante”. No famoso poema ‘Sôbolos rios que vão’, nosso poeta registrou que vivemos em uma Babilônia e suspiramos por Sião.

A certa altura, o vate expressa: “Não é, logo, a saudade / Das terras onde nasceu / A carne, mas é do Céu”. Sendo assim, o objetivo da criação aponta para sua origem: é no Criador que encontraremos as respostas para os questionamentos que nos atormentam.

Na busca por preencher a quebran- te saudade que atordoa a humanidade, muitos trilharam estradas diversas. A filosofia grega, por exemplo, possui indicativos muito interessantes. Tais ensinos são valiosos até certo ponto, mas veio ao mundo um Mestre Excelente que apresentou uma Ciência nascida na Sião celestial. Trata-se, pois, de Jesus Cristo, nascido em uma humilde estribaria na Galileia do primeiro século. Seus ensinos são verdadeiros tesouros, nem todos os bancos do mundo poderiam contê-los.

Em certa ocasião, Cristo afirmou: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4). Ele indica que há um pão visível, gerado nesta Babilônia terrena, que não supre a fome do ser humano - essa só pode ser saciada por um pão invisível, procedente da celeste Sião. Curiosamente, o Senhor Jesus orienta que diariamente roguemos ao Criador que nos mande esse pão. A oração do Pai Nosso, no Evangelho de S. Lucas, traz: “o pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Na versão constante no Evangelho de S. Mateus, lê-se, em latim: “panem nostrum supersubstantialem da nobis hodie”; ou seja, é um pão “sobressubstancial”, que alimenta o espírito.

E onde conseguir esse pão? Lembro-me que o repentista evangélico Ednaldo Silva certa vez improvisou os seguintes versos: “Saiba que Jesus é pão, / [mas] não é pão de padaria”. Em sua simplicidade, o poeta respondeu a nossa dúvida! Não será nas coisas terrenas que acharemos o pão celestial. O Senhor Jesus disse de Si mesmo: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6.48). Ele é o Único que veio da Sião Eterna para esta Babilônia transitória. Apenas nEle podemos seguir desta Babilônia passageira até o Eterno Lar.

Em síntese, o propósito do homem e da mulher na criação é serem, verdadeiramente, humanos. Para tanto, faz-se necessário conhecer o Criador. A Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira resume que o homem foi “criado para a glorificação de Deus. Seu propósito é amar, conhecer e estar em comunhão com seu Criador, bem como cumprir sua divina vontade”. À guisa de curiosidade, o evangelho apócrifo de Felipe registra em certa passagem que “antes do advento do Cristo não havia alimento Celestial. (…) Por isso eles (os humanos) se alimentavam como animais. Só que, quando Cristo - O Homem Perfeito - vem, traz o alimento do Céu para que as pessoas se alimentem da comida humana”. Nosso propósito é nos unir a Cristo. Façamos isso. E partilhemos nosso conhecimento com todos que estão nesta Babilônia, sob o jugo da saudade quebrante do pecado, carentes da mensagem da Cruz – única via para o ditoso Lar. n