MARCELO GOUVÊA
Comportamento
Iniciativa alerta donos de pets Quinta-feira, 11 de agosto de 2016
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Comissão cria dicionário em sapato de pau Dialeto típico dos imigrantes germânicos terá documento com mais de três mil palavras MACIEL DELFINO
Westfália
F
az três anos que 20 pessoas se dedicam a preservar o legado deixado pelos imigrantes alemães. O grupo Amigos do Sapato de Pau se reúne todos os meses para compartilhar pesquisas, textos, anedotas e elementos culturais oriundos da Alemanha. O principal e mais avançado estudo é do dialeto sapato de pau. Até o fim de 2017, o idioma característico estará reunido em dicionário com cerca de três mil palavras. A comissão coordenada pelo professor Lucildo Ahlert, 65, adaptou diferentes vertentes da ortografia alemã. O dialeto sapato de pau surgiu em meados de 1400, considerado um “baixo alemão”, com sotaque mais aproximado do holandês. Pronúncias semelhantes ao inglês de hoje mantinham ramificação. “O inglês é saxão e o alemão anglo-saxão, portanto, é uma mescla das duas vertentes”, revela. Para aproximar a escrita do dialeto, tiveram base nas regras da língua alemã, dicionários em sapato de pau datados em 1750 e na construção de novas palavras. Para incrementar a ortografia, as vogais foram duplicadas, com sentido de alongar
Principal objetivo do grupo Amigos do Sapato de Pau é propagar o dialeto típico às gerações futuras
ou acentuar a pronúncia. Para o professor, o principal desafio é formar material consistente com olhar na realidade atual. Palavras do português e inglês que foram criadas ou se tornaram referência nas últimas décadas tiveram que ganhar tradução. Como exemplo, é possível citar celular, televisão, videogame e aplicativo que não constam em documentos antigos, diz. Até o momento, a comissão escreveu 1,5 mil palavras. Para difundir os conhecimen-
tos, o grupo criou uma página no Facebook, onde textos escritos em sapato de pau serão compartilhados. Além disso, existe a projeção de gravar áudios com leitura de textos para colaborar na pronúncia das palavras e ganhar novos adeptos. O portal do westfaliano é o segundo passo dentro do planejamento. O objetivo é abastecer site com o máximo de informações sobre a cultura. “Será importante para que todos possam trabalhar nas escolas.”
Cidade referência no dialeto No Vale do Taquari, Teutônia, Imigrante e Colinas também têm representantes do dialeto. Entretanto, Westfália se destaca como referência por ter o nome da cidade europeia e manter outras características. Em março, a administração municipal cooficializar o plattdeutsch (alemão sapato de pau) como segunda língua da cidade. As localidades de Linha Berlim e
Paissandu concentram a maioria dos descendentes que se comunicam no idioma. Segundo Ahlert, a cultura dos antepassados deve ser preservada para garantir o futuro. “Cada geração tem que deixar algo para a próxima. Antepassados deixaram grande legado, tenho que fazer a minha parte.” O agricultor Vitor Ahlert, 43, aprendeu o dialeto no convívio com os avós e os pais. Seguindo a tradição, passou os ensinamentos para os três filhos. Lucas Frederico Ahlert, 21, está em nível avançado, compreende e fala fluentemente. Segundo Vitor, o dialeto está no instinto e o aprendizado dos filhos foi mais fácil desde os primeiros anos de vida. Andrei Henrique, 11, e Luize Sofia, 9, ingressaram na escola aos 4 anos e receberam influência intensa do português. “Eles não falam fluente. Entendem algumas coisas, mas respondem mais em português. Eles começaram cedo na escola onde poucos falam o dialeto e isso afetou.” Ahlert participa dos encontros para preservar o idioma. Para ele, garantir a ortografia do sapato de pau é crucial para a existência do dialeto.“ Até agora vem sendo só falado, mas o grupo se preocupa em manter a tradição viva. Uma língua só falada acaba indo ao vento. Queremos deixar por escrito.”