A Hora – 25 e 26/05/24

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ANÁLISE, CURADORIA E OPINIÃO DE VALOR grupoahora.net.br

O esforço para retomar a produção

Acessos destruídos dificultam a chegada de alimentos às criações. Municípios fazem força-tarefa para recuperar estradas

Os números da devastação nas propriedades rurais ainda estão subestimados. Emater/ RS-Ascar, Secretaria Estadual de Agricultura, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e administrações municipais, contabilizam as perdas e pretendem emitir um diagnóstico prévio nos

REGIÃO ALTA Logística e demanda por habitação entre as prioridades

Reconstrução de trechos das rodovias 332 e 129, além da construção de moradias são desafios para gestores na parte alta do Vale. Parcerias com a iniciativa privada contribuem no processo.

próximos dias. No campo, famílias contam momentos de dificuldade. Hoje, a preocupação central é quanto à alimentação dos animais. Milho e silagem que estavam guardados para garantir a nutrição no inverno foram perdidos e criações passam fome.

RECUPERAÇÃO DO VALE

Movimentos buscam por alternativas a residências

A necessidade de opções sustentáveis e seguras para reconstrução das moradias tornou-se uma pauta prioritária no Vale do Taquari. Em resposta a essa urgência, empresários, entidades, ONGs e representantes

do poder público se uniram, em diferentes municípios, para dar início aos Movimentos de Recuperação. Uma organização norte-americana também apresentou alternativas aos gestores do Vale.

PÁGINA | 16 e 17

PÁGINAS | 6 e 7

OPINIÃO RODRIGO MARTINI

Ações coletivas em prol da recuperação do Vale

OPINIÃO FABIANO CONTE

Apoio dos catarinenses aos gaúchos é exemplo

Fim de semana, 25 e 26 maio 2024 Ano 21 - Nº 3574 R$ 5,00 (dia útil) R$ 9,00 ( m de semana)
NESTA
GABRIEL SANTOS
EDIÇÃO

clamor que vem do campo

Odrama no campo é uma representação vívida das dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais no Vale do Taquari. A falta de estradas, luz, máquinas e alimentos é mais do que uma lista de privações. Tratase de um retrato da luta diária pela sobrevivência e resiliência depois da catástrofe. A produção primária da região sofre consequências devastadoras. Os animais estão definhando pela falta de ração, pasto e silagem. A terra, contaminada pelo lodo, inviabiliza o plantio e compromete as próximas lavouras. Não bastasse esses dramas, os agricultores ainda somam os danos aos implementos agrícolas, galpões e residências.

Em última análise, a situação no Vale do Taquari é um lembrete da importância da infraestrutura rural e do apoio aos agricultores. É uma chamada à ação para os governos e a sociedade (...).”

Em cima disso, centenas de propriedades rurais ainda estão sem o básico. Sem luz e sem água. A situação está afetando a saúde mental e emocional dos agricultores. Muitos estão sem perspectiva e não sabem o que fazer. A incerteza do futuro, combinada com a perda de colheitas e animais, pode levar a sentimentos de desespero. Mesmo neste cenário adverso, os agricultores lutam para manter as atividades diárias. Sinais claros de resiliência e determinação. Os agricultores planejam formas de recomeçar.

Em última análise, a situação no Vale do Taquari é um lembrete da importância da infraestrutura rural e do apoio aos agricultores. É uma chamada à ação para os governos e a sociedade para reconhecer e responder às necessidades dos agricultores em tempos de crise.

Lajeado - RS

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Os artigos e colunas publicados não traduzem necessariamente a opinião do jornal e são de inteira responsabilidade de seus autores. Impressão: Gazeta do Sul

Diretor Executivo: Adair Weiss

Diretor Editorial e de Produtos: Fernando Weiss

“A vulnerabilidade não pode nos tornar passivos”

Diane Cristina Sordi, 39,nasceuemLajeado, resideemColinasepossui umaestreitarelaçãode voluntariado em toda a região.Elaéengenheirade SegurançadoTrabalhoe, noiniciodemaio,aDefesa Civilaacionouparaatuar no Comitê de Crise de enfrentamentoàenchente, emLajeado. Dentro do Centro de Doações,noBairro Campestre,elaorienta asdistribuições.Relata queosvolutáriosdoVale doTaquarisãoágeise conectados. E acredita na potênciadasolidariedade, masenfatizaque Valeé umaregiãopredisposta adesastres,porémessa vulnerabilidadenãopode tornarapopulaçãopassiva.

Em quantas enchentes ou desastres atuou aqui no Vale do Taquari?

Há 15 anos sou voluntária na família Rotária Lajeado Integração e desde setembro de 2023, atuo à Defesa Civil Estadual. Antes da enchente do ano passado, fazia ações pontuais junto ao Rotary Club de Lajeado Integração.

Em setembro, com o ingresso na Defesa Civil, tive a experiência de atuar no Centro de Distribuição Logística do Vale do Taquari. Agora em maio, fui acionada

para auxiliar no Comitê de Crise instalado em Lajeado, com resgates. Neste momento, faço parte do Centro de Distribuição Logístico instalado no bairro Campestre.

Qual sua motivação para se tornar voluntária?

O “privilégio” de estar no papel de ajudar e não na situação de ser ajudada é motivo suficiente para me colocar à disposição. Cresci em uma família envolvida com a comunidade e com o voluntariado, e para mim, o cuidar é algo natural e instintivo.

Como você vê o voluntariado na região?

Nossa região dá exemplo de proatividade e articulação no voluntariado. Temos grupos de voluntariados que se mantiveram ativos desde a enchente de setembro de 2023 e no fim de abril desde ano,já estavam mobilizados para o trabalho. Somos ágeis, conectados, engajados e somos uma verdadeira potência! O Vale do Taquari tem predisposições naturais a catástrofes, mas também tem predisposição natural para a transformação, e essa transfor-

mação passa pelas mãos, mentes e corações dos voluntários.

O que essa enchente te ensinou?

A vulnerabilidade se mostra de diferentes formas, todos estamos vulneráveis de alguma forma, mas a vulnerabilidade não pode nos

Qual a importância do centro que você está coordenan-

O Centro de Distribuição logístico de Lajeado recebe doações do país inteiro e distribui, de forma coordenada para todo o Vale do Taquari. Nesse CD não enxergamos preferências individuais e de grupos. Nosso trabalho é atender as necessidades de toda a população do vale, sem distinções e preferências. Qual a sua mensagem para os dias difíceis? Dias difíceis também passam! De alguma forma fomos escolhidos para mostrar que ainda podemos ter esperança na humanidade e não podemos desperdiçar essa oportunidade de nos tornarmos seres melhores. Prezado

O parque gráfico em Porto Alegre continua alagado e acessos para nossa entrega comprometidos. Neste momento, conseguimos um novo impressor para edições na quarta-feira e fim de semana. Esperamos tão logo voltar à normalidade. Por conta deste transtorno, será concedido o desconto de 10% em todas as faturas durante os próximos 12 meses. Também liberamos o acesso ao jornal digital em grupoahora.net.br.

2 | A HORA EDITORIAL O
ABRE ASPAS
Fim de semana, 25 e 26 maio 2024
Filiado à Fundado em 1º de julho de 2002 | Vale do Taquari -
assinante!
ANDREIA RABAIOLLI

Movimentos e alentos ao Vale do Taquari

Asociedade civil organizada não mede esforços para a recuperação social, econômica e estrutural da região. Já são diversas ações coletivas tomando forma. Umas com o foco local, e outras com foco regional. Com mais ou menos divulgação, e com muita colaboração coletiva, todas são válidas e necessárias na ordem do dia. As últimas ações foram lançadas pela Cacis, de Estrela, e pela Acil, de Lajeado. As duas entidades lançaram, nessa semana, a “Associação

Reconstrói Estrela” e a campanha “Vale do Taquari – Nosso futuro é aqui”, respectivamente. É possível, inclusive, que novos movimentos surjam nas próximas semanas, dada a nossa histórica característica associativista. Ainda é preciso organizar melhor os propósitos e caminhos, é bem verdade. Mesmo assim, tudo isso precisa servir de combustível para quem ainda tem dúvidas sobre o nosso “renascimento”. Afinal, desistir não pode ser uma opção. E isso sempre esteve no DNA do Vale.

Caumo convocado à câmara

Em Lajeado, os seis vereadores emedebistas de oposição assinam um requerimento ordinário para solicitar a presença, em sessão plenária, do prefeito Marcelo Caumo, do Coordenador da Defesa Civil, e também do Secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agricultura, André Bücker. O convite é para “tratar dos impactos da enchente em nossa cidade”.

rodrigomartini@grupoahora.net.br

Investimentos e burocracias

No retorno para a capital gaúcha, após agenda em Estrela, na quinta-feira, o governador Eduardo Leite e a comitiva pararam para um rápido almoço em Fazenda Vilanova, no Paradouro Bortolini Restaurante. Por lá, o chefe do Executivo gaúcho pediu um espetinho e ouviu do proprietário sobre a dificuldade em conseguir, junto à CCR, a autorização para aprovar o acesso a uma outra área de terra com 10 hectares, onde o empresário projeta novos empreendimentos às margens da BR-386. Uma projeção que já era importante antes da tragédia, e agora ganha mais importância em função da necessária reconstrução e da retomada confiança junto ao setor empresarial do Vale do Taquari.

De olho em Teutônia

A mais germânica cidade do Vale do Taquari tem chamado a atenção de moradores e empresários situados em cidades mais impactadas pelas históricas chuvas das últimas três semanas. Um movimento favorável à Teutônia, mas que gera preocupação nas comunidades vizinhas. Afinal, e em um momento de necessária mobilização social e empresarial para a reconstrução dos municípios, toda e qualquer mão de obra – e todo e qualquer pagador de impostos – tem uma importância ainda maior. Em tempo, e é bom que se diga, a cidade de Teutônia – que completou 43 anos nessa sexta-feira – já chamava a atenção pela própria pujança antes mesmo da tragédia

Paciência e estratégias

O trânsito urbano de Lajeado virou um enfadonho caos nos horários de pico. E uma boa fatia do colapso está relacionada às condições da BR-386. Por vezes, a anarquia de motoristas – de fora, especialmente – compromete ainda mais a mobilidade e a paciência dos lajeadenses. Diante do quadro, que já perdura desde o início da pior tragédia ambiental já registrada no Rio Grande do Sul, é preciso buscar e pensar novas estratégias para minimamente aliviar a tensão dos motoristas. Em um primeiro movimento, o Departamento de Trânsito deve restringir o estacionamento em algumas vias mais estranguladas – como as ruas 17 de Dezembro e Nossa Senhora do Caravágio, entre os bairros Hidráulica e Alto do Parque. Mas ainda é pouco. Assim como é pouco e insuficiente o número de agentes de trânsito para uma cidade de quase 100 mil habitantes.

Todos pela ponte, mesmo!

A reconstrução de uma das travessias sobre o Rio Forqueta – junto à histórica Ponte de Ferro – tem agitado os bastidores político e empresarial de Lajeado e Arroio do Meio, e com duros reflexos à região alta. É fato. As diferentes frentes de trabalho geram divergências desnecessárias entre agentes públicos e privados. E sem desprezar qualquer movimento eu concluo: é preciso deixar algumas particularidades, interesses políticos, vaidades e outros pormenores de lado e, de fato, pensar no coletivo a curto – especialmente –, médio e longo prazo. Caso contrário, vamos gastar energia à toa em um momento crucial à reação e, de quebra, vamos afundar boas intenções e desmotivar os bem-intencionados. E vamos combinar, não há tempo a perder para quem perde muito todos os dias.

- Em Arroio do Meio, a vereadora Adiles Meyer (MDB) se ausentou das duas últimas sessões plenárias da câmara. No dia 17 de maio ela pediu “licença por prazo indeterminado”.

- Nas redes sociais, chama a atenção o aumento no número de seguidores de alguns poucos pré-candidatos em detrimento à estagnação de outros tantos possíveis postulantes. Coincidência ou não, quem cresceu está constantemente na vitrine.

- Muitos vereadores utilizam o mecanismo do “requerimento” para solicitar ações já previstas, movimentos já em construção, e até mesmo fatos já consolidados por parte dos órgãos competentes. Além de perda de tempo – por parte de quem apresenta e de quem é obrigado a dar atenção –, este tipo de atitude demonstra, também, o oportunismo de certos agentes políticos.

- Marcelo Arruda, prefeito de Barra do Rio Azul, será o novo presidente da Famurs. A cerimônia de posse será na próxima terça-feira, às 18h,

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TIRO

thiagomaurique@grupoahora.net.br

THIAGO MAURIQUE

Campanha do Imec valoriza produtos gaúchos

Com 29 supermercados espalhados pelo Rio Grande do Sul, entre as bandeiras Desco e Imec, o Grupo Imec promove campanha de valorização dos produtos gaúchos, ao mesmo tempo em que auxilia os atingidos pela enchente. A empresa promove o programa interno “Produtos da Nossa Gente”, com foco no desenvolvimento das localidades onde as unidades estão inseridas. De acordo com o diretor Comercial e de Marketing do Grupo Imec, Rafael Hübler, representantes das fabricantes gaúchas podem preencher seus dados no site superimec.com. br/fornecedores. “Queremos que as empresas nos mostrem os seus produtos para juntos trabalharmos na reconstrução do nosso estado”, afirma. Os produtos gaúchos são identificados nas lojas.

Além da campanha, o Grupo Imec promove uma série de ações em apoio às comunidades afetadas. Todas as lojas são ponto de coleta para doações do Movimento do Bem, que são destinadas às cidades atingidas. A empresa também doou alimentos, produtos de limpeza e higiene pessoal, água e cobertores em parceria com entidades locais e com as associações Gaúcha e Brasileira de supermercados (Agas e Abras). Além disso, também presta suporte e assistência aos colaboradores afetados pelas águas, entre outras ações.

Sicredi Integração RS/MG personaliza atendimentos

Desde os primeiros dias da tragédia climática que assolou a região, o Sicredi Integração RS/ MG trabalha para atender as necessidades das comunidades atingidas. Após contato inicial

com todos os associados da cooperativa, o mais de cinco mil retornaram com a demandas e receberam atenção personalizada. Ao todo, 370 pessoas solicitaram

Quiero Café inaugura loja no shopping Lajeado

O Shopping Lajeado tem mais uma opção gastronômica. O Quiero Café inaugurou na quartafeira, 22, a 65ª unidade da rede, a terceira em Lajeado. Diante da emergência provocada pelas enchentes no Rio Grande do Sul, todo o faturamento obtido no primeiro dia de funcionamento da loja foi destinado às famílias atingidas.

Sócio do Quiero Café, Luís Felipe Ferreira afirma que o momento representa um marco para a empresa, por apresentar ao público um novo conceito de loja. “É a primeira no modelo

Novo CD da Dullius simboliza reconstrução

Após ter a sede onde funcionou por quatro décadas submersa pela água, a Lojas Dullius inaugurou na sexta-feira, 17, o novo Centro de Distribuição (CD) e sede administrativa da empresa. Localizado no bairro Cascata, em Cruzeiro do Sul, a estrutura de 3,2 mil metros quadrados simboliza a retomada dos negócios no Vale do Taquari após os estragos provocados pelas cheias.

shopping, que já estava no nosso planejamento”, destaca. Com dez empregos gerados, a unidade tem atendimento de segunda-feira a domingo, das 10h às 22h. Conforme Ferreira, a inauguração também simboliza o momento de reconstrução do Estado. Segundo ele, apesar do luto enfrentado pela população gaúcha, as empresas precisam continuar gerando empregos e oportunidades, além de ajudar diretamente as comunidades atingidas com doações e auxílio. “Todos nós somos responsáveis pela reconstrução do RS.”

CIC-Teutônia retoma eventos

A CIC-Teutônia promoveu o workshop “Equilíbrio emocional e a ciência dos relacionamentos”, com participação de 60. A entidade foi a primeira do setor empresarial do Vale a retomar os eventos após as cheias. Para junho, a CIC-Teutônia tem duas atividades programadas – o Happy Hour da Indústria, marcado para o dia 13, e a o almoço empresarial com o prefeito Celso Forneck, que ocorre no dia 21.

Docile mostra força da indústria gaúcha nos EUA

Maior exportadora de doces do Brasil, a Docile integrou a Sweets & Snacks Expo – uma das maiores feiras mundiais do setor, realizada em Indianápolis, nos Estados Unidos. Diretor de mercado externo da empresa, Cristian Ahlert liderou as negociações no estande da empresa, ao lado dos colaboradores Nicole Altenhofen, Gustavo Avallone e Bernardo Kranz. Em nota, a Docile afirma que a participação na feira é uma forma de contribuir com movimento que visa mostrar ao mundo a potência do povo e das empresas gaúchas.

e foram atendidos com a prorrogação de pagamentos, representando R$ 51 milhões em saldos prorrogados. Aos associados do agronegócio, cujas prorrogações estão previstas pelo Governo Federal, foram mais 273 parcelas e R$ 3,3 milhões. No caso das empresas que renegociam dívidas por meio do BNDES Refin, o valor se aproxima de R$ 8 milhões.

A Sicredi Integração RS/ MG também criou uma linha de crédito com condições diferenciadas para quem foi impactado de forma direta e viabilizou o parcelamento do cartão de crédito com juros menores. De acordo com o diretor de Negócios da cooperativa, Fabrício Diedrich, a estratégia em todas as situações é tentar facilitar, eliminar a burocracia e agilizar soluções.

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DRAMA NO CAMPO

Sem estrada, sem luz, sem máquina e sem alimento

Produção primária da região sofre consequências. Animais minguam pela falta de ração, pasto e silagem. Terra contaminada pelo lodo inviabiliza plantio para os próximos períodos e agricultores somam mais prejuízos com danos aos implementos agrícolas

Filipe Faleiro filipe@grupoahora.net.br

Colaboração: Gabriel Santos, Ezequiel Neitzke, Karine Pinheiro e Jéssica Mallmann

VALE DO TAQUARI

“Éimpossível chegar nas propriedades. No Morro

Gaúcho, não há acesso. Temos uma família com galinhas para produção de ovos. Se não conseguirmos chegar logo, eles terão de sacrificar 60 mil animais”.

A história contada pelo prefeito de Arroio do Meio, Danilo Bruxel, é um dos casos dramáticos vivenciados pela população regional. “Estamos fazendo o máximo que podemos para recuperar as estradas, mas não tem sido suficiente”, lamenta.

Por todo o Vale, há produções de leite, gado de corte, na suinocultura e em frango de corte, ameaçadas pela falta de condições mínimas. Dos acessos pelas estradas vicinais, até a falta de luz, de água e de ração. “É muita tristeza. Agricultores estão sem perspectiva. Não sabem o que fazer. Teríamos o início do plantio entre agosto e setembro, mas tem propriedades com mais de um metro de lodo. Eles perderam todas as máquinas também, não há nem como limpar

É muita tristeza. Agricultores estão sem perspectiva. Não sabem o que fazer. Teríamos o início do plantio entre agosto e setembro, mas tem propriedades com mais de um metro de lodo.”

DANILO BRUXEL

PREFEITO DE ARROIO DO MEIO

a terra”, conta o prefeito Bruxel. “Os estoques de milho, de silagem e de ração em diversas localidades foram varridos.

Sem estrada, os agricultores não conseguem nem comprar, não conseguem receber. É uma tragédia”, ressalta o coordenador regional dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STRs), Marcos Hinrichsen.

Os números dos prejuízos em lavouras, qualidade do solo, propriedades, maquinários e criações ainda são desconhecidos.

A Emater-Ascar\RS, junto com a Secretaria Estadual de Agricultura, os municípios e os STRs, elaboram um diagnóstico preliminar sobre o impacto da catástrofe ambiental.

A movimentação econômica regional depende do setor primário. Estima-se que 80% da geração de renda no Vale provenha do campo e do beneficiamento dessas produções. Avicultura, suinocultura e pecuária de leite representam a maior parcela desse total. Junto com isso, a lavoura de milho, voltada para a subsistência dessas criações.

Dúvidas sobre o futuro

Em Arroio do Meio, os cálculos sobre os prejuízos ainda estão subestimados, diz o prefeito Danilo Bruxel. “Ainda não contabilizamos todas as localidades, devido a falta de acesso. Até agora, uma avaliação prévia aponta para mais de R$ 50 milhões em perdas”, diz. As equipes voltadas à recuperação de acessos e estradas rurais atuam de maneira integral para restabelecer as vias às propriedades, afirma Bruxel. Entre as localidades mais atingidas está a propriedade da família Schneider, na localidade de Forqueta Baixa. O cenário é desolador. A inundação devastou a fazenda. Comprometeu a renda e a

Solo devastado desa a para recomeço dos plantios nas propriedades

Recomeçar

Muitas pessoas têm doado feno, ração e pré-secado para a alimentação do que sobrou dos animais. A determinação dos voluntários tem sido fundamental.”

GABRIEL KRAEMER

PRODUTOR RURAL DE ARROIO DO MEIO

continuidade do trabalho para Evanoé Alfredo Schneider, 56, e dos filhos, Gabriel Kraemer, 28, e Augusto, 34.

O gado de corte, uma das principais fontes de renda da família, foi completamente perdido. Além disso, maquinários e implementos agrícolas foram submersos pelas águas, enquanto as lavouras de soja (cerca de 1,7 mil sacos) fundamentais para a economia da propriedade foram arrasadas. “Não sei nem por onde começar. Jamais imaginamos isso. Ficamos dias ilhados, vendo as coisas irem embora”. As palavras de Evanoé mostram a desolação sentida pela família. A dimensão do prejuízo ainda não foi calculada.

Em meio a incerteza com o futuro, o seguro para o maquinário proporciona um alívio parcial. Porém, a lavoura de soja, as perdas nos galpões e nos silos mostram que a retomada será muito desafiadora.

Gabriel, um dos filhos, adverte para a necessidade de ajuda governamental. “Será necessário subsídio financeiro à propriedade”, afirma. Em meio a tanta dificuldade, a solidariedade dos voluntários emociona a família.

“Muitas pessoas têm doado feno, ração e pré-secado para a alimentação do que sobrou dos animais. A determinação dos voluntários tem sido fundamental.”

Na localidade da Cascalheira, interior de Arroio do Meio, a família Brentano contabiliza perdas ao mesmo tempo em que planeja formas de recomeçar. Pela terceira vez, Jair e Luan Brentano viram a lavoura ser atingida pela água. Depois de setembro e novembro, a inundação do início de maio transformou o terreno em lago. O rio deixou resíduos no solo, que inviabilizam o plantio. Ainda assim, Luan Brentano mostra resignação. “Vamos começar tudo de novo”, frisa. Para tanto, o esforço é voltado para serviços de máquinas para limpeza do lodo e no acesso às áreas de cultivo. Depois disso, tratar o campo, com adubo, calcário e fertilizantes. “Assim vamos recuperar a fertilidade do solo devastado”, ensina.

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Família Brentano, de Arroio do Meio pretende retomar produção

Estávamos na laje esperando resgate enquanto víamos 40 anos de investimento sendo levado pelas águas. Decidimos que não dava para continuar com gado, mas vamos seguir com a produção de soja.”

ELOI WERMANN

PRODUTOR RURAL DE ESTRELA

Sem luz desde abril

Entre Colinas e Roca Sales, manter a vida e a atividade primária beira o impossível. Dilamar Gedoz, 54, de Linha Borges de Medeiros, está sem energia elétrica desde o fim de abril, quando desmoronamentos derrubaram vários postes em comunidades vizinhas.

Antes da enchente do início deste mês, a propriedade teve oscilações de luz. Para garantir a alimentação, estocou os congelados de carne na irmã. Trouxe de volta quando houve estabilização. Para recarregar celular, rádio e ter acesso a internet, Gedoz precisa ir até um vizinho. “É impressionante como eles não conseguem ligar até aqui, é desumano.”

Em Progresso, o casal Vanessa e Ernani Dalbosco cria vacas leiteiras. Uma das atividades econômicas da propriedade está indo para o ralo, literalmente. “Ficamos dez dias sem luz. Precisamos descartar uma média de 80 litros de leite pela falta de armazenamento”, diz Ernani. Eles também trabalham com avicultura. O plantel de 11 mil aves que estão sem ração há mais de uma semana.

Mais de R$ 280 milhões de perdas em Estrela

As localidades de Arroio do Ouro, Costão e arredores sofreram fortes impactos. Além de dezenas de casas destruídas na comunidade, produtores rurais ainda contabilizam as perdas. A Secretaria de Agricultura avalia prejuízos superiores a R$ 280 milhões. Na Linha Figueira, Eloi Wermann mantinha produção de leite na faixa dos dois mil litros ao dia, além da plantação de grãos. De 130 animais, restaram 14 adultos. Dois resgatados no interior de Bom Retiro do Sul. O prejuízo avaliado pelo produtor ultrapassa R$ 2 milhões. “Se tivesse que comprar as 100 vacas de novo, ia ser gasto R$ 1 milhão”, desabafa.

Apesar das dificuldades em retomar a produção, comenta a intenção de continuar com a plantação nas terras. “Estávamos na laje esperando resgate enquanto víamos 40 anos de investimento sendo levado pelas águas. Decidimos que não dava para continuar com gado, mas vamos seguir com a produção de soja”, afirma Wermann. O produtor relata que a propriedade foi adaptada de acordo com as referências da cheia de 1941. Diante das previsões para a inundação deste mês, destaca que ele e a família ficaram despreocupados. “Mas vamos continuar em Estrela e começar tudo de novo.”

Desa os a quem ca

A situação do casal Aladi e Maria Dolores Camargo é semelhante. Moradores de Arroio do Ouro, o trabalho diário deles consistia em tratar cerca de 230 bovinos em confinamento. Destes, 11 sobreviveram. Além disso, eles produziam silagem para o gado e verduras para consumo próprio, bem como criação de porcos e galinhas. Camargo relembra que viu máquinas com mais de cinco toneladas levadas pelas águas. “Vamos continuar morando aqui, mas com a tristeza de saber que tudo o que temos foi destruído, todo o investimento no campo e na casa. Sobre os animais, vamos passar adiante, e voltar a morar com o mínimo possível”, comenta. Com a volta à residência, eles devem enfrentar a falta de água.

Água e Luz

Fornecimento de luz também é um problema na localidade de Arroio do Ouro. Grande parte da rede foi destruída. Neste momento, equipes da RGE trabalham na colocação de novos postes para restabelecer a energia elétrica. Por outro lado, a Associação

de Abastecimento de Água do Arroio do Ouro enfrenta problemas no fornecimento. Representante da associação, Ismael Diel, diz que a saída de moradores da comunidade trará queda na arrecadação. Neste momento, avaliam alternativas para continuidade da prestação de serviços.

“Estamos fazendo ajustes da rede velha, mas ela foi muito afetada, tem muito cano rompido. Por enquanto não dá para consumir a água e por isso não vamos cobrar. Mas mesmo com a diminuição do consumo, os gastos devem se manter semelhantes e isso é um desafio para associação.”

Animais

Com alguns animais sobreviventes no campo, a alimentação se torna um desafio. Por ora, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Estrela faz entrega de silagem pré-secada e feno aos agricultores. Segundo o presidente Rogério Heemann, os itens representam “um alívio” e apresentam uma possibilidade de recomeço no campo.

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Casal Vanessa e Ernani Dalbosco precisaram colocar o leite fora por não ter resfriadores Dilamar Gedoz, 54, de Linha Borges de Medeiros GABRIEL SANTOS GABRIEL SANTOS KARINE PINHEIRO KARINE PINHEIRO Casal de Linha Figueira perdeu mais de R$ 2 milhões Na propriedade de Camargo, dos 230 animais, sobraram 11

ECONOMIA

Setor produtivo reage contra escassez de mão de obra

Empresas abrem postos de trabalho, miram a retomada econômica e tentam reverter sensação de êxodo dos trabalhadores da região

Ofertas vindas da região norte do RS, empresas de Santa Catarina com postagens para contratação de gaúchos e ofertas para trabalhadores rurais, com promessa de terras e condições de plantio.

Movimentos criados para atrair as pessoas atingidas pelas inundações. Entre o que é sensação e o que é verdade, o setor produtivo da região tenta reverter essa narrativa. “Em poucos dias, tivemos 15 pedidos de demissão. Pode parecer pouco, mas e nas tantas outras empresas da região, como está isso?”,

Estamos vivendo um problema que afetará de maneira direta as nossas empresas. Neste momento, é imperioso um plano habitacional consistente para garantir condições das famílias permanecerem na região.”

adverte o diretor da Fontana S.A e presidente da Câmara da Indústria e Comércio (CIC-VT), Angelo Fontana. A indústria de produtos de

higiene está no mercado há 90 anos. A sede em Encantado foi muito danificada pela inundação histórica do início de maio. Apesar do cenário desencorajador, a direção pretende manter os funcionários, mesmo sem atividades.

São mais de 250 trabalhadores. Uma parte contribui na limpeza da indústria e outra em férias coletivas.

Para o presidente da CIC, a devastação causada pela enchente é o principal argumento. “Estamos vivendo um problema que afetará de maneira direta as nossas empresas. Neste momento, é imperioso um plano habitacional consistente para garantir condições das famílias permanecerem na região”, argumenta.

Na maior inundação da história, os prejuízos ainda são incertos. Em termos de vítimas, existem pelo menos 36 mortos no Vale do Taquari. Em relação aos desaparecidos, são 32. As águas atingiram mais de 20 mil imóveis. Dos 38 municípios da região, 30 decretaram calamidade.

Na incerteza, a motivação

Migração de trabalhadores da região preocupa empresas. Organização do setor produtivo elabora campanha para garantir continuidade da força de trabalho

“Foram quatro enchentes em oito meses. Aqui na empresa, estávamos entrevistando uma família e eles estavam querendo deixar a cidade onde moravam para ir a um lugar mais seguro”, diz o empresário, diretor da Metalúrgica Wagner, Rafael Felipe Wagner.

“O homem me disse que nunca tinha trabalhado com metalurgia, mas que iria aprender. O que ele não queria é perder tudo de novo. Queria reconstruir em outro lugar, mas que mantivesse alguma proximidade com os familiares. Esse é um caso e todos os dias ouvimos novos relatos”, diz Wagner.

Como fica em Westfália, muito próxima de Teutônia, a metalúrgica não teve prejuízos diretos. Nenhuma linha foi prejudicada pela água, nem produtos acabados, insumos ou materiais de expediente. A rotina produtiva foi possível manter, com alguns ajustes devido a funcionários prejudicados.

Temos de olhar para frente. O desafio é feito para ser superado. Apesar de tudo, deste sentimento de abatimento, de luto, temos que ajudar as pessoas a enxergarem oportunidades aqui e não desistirem.”

Conforme Wagner, o reflexo foi indireto. Clientes que cancelaram pedidos e falta de pagamentos. “O que não temos como planejar é como vai ser daqui para frente. Há

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ALINE EGGERS DIRETORA-PRESIDENTE DA FRUKI
Filipe Faleiro filipe@grupoahora.net.br
VALE DO TAQUARI
ANGELO FONTANA PRESIDENTE DA CIC-VT

muita incerteza. De nossa parte, estamos deixando muito claro que vamos trabalhar. Vamos ajudar no que for possível. Acreditamos na nossa região, no nosso povo. Sabemos da força dessa comunidade e temos certeza que vamos conseguir”, afirma o empresário.

“Desafio é feito para ser superado”

A Fruki está com 70 vagas de trabalho abertas. “Estamos vendo oportunidades. Tivemos a sorte de nenhuma das nossas unidades ter sido afetada”, diz a diretorapresidente, Aline Bagatini Eggers. De acordo com ela, esses postos não são para reposição de quem saiu, mas para garantir aumento na produção, distribuição e vendas. “Sabemos que empresas aqui da nossa região enfrentam um processo de saída dos profissionais, em especial nas cidades mais atingidas.”

Na Fruki, Aline ressalta a importância do diálogo. “O que temos deixado claro as nossas equipes é o momento da Fruki.

Do que estamos fazendo e do que pretendemos para o curto prazo.”

Para Aline, o esforço pela reconstrução, pela retomada, é uma característica natural do empreendedor do Vale do Taquari. “Temos de olhar para frente, termos resiliência e não baixar a cabeça. O desafio é feito para ser superado. Apesar de tudo, deste sentimento de abatimento, de luto, temos que ajudar as pessoas a enxergarem oportunidades aqui e não desistirem.”

Destino:

Teutônia

O setor produtivo do município de Teutônia tem recebido um contingente expressivo de trabalhadores. Vindos de Roca Sales, Muçum, Estrela, Arroio do Meio e até de Lajeado, conta o integrante da Câmara da Indústria e Serviço do município, e conselheiro da Federasul na região, Renato Scheffler. “A prefeitura nos disse que houve a solicitação de pelo menos mil novas carteirinhas do SUS.”

Trabalhadores de diversas

“Os invisíveis é que preocupam”

Engenheiro Civil, expresidente da CIC-VT e doutor em Ciências, Ambiente e Desenvolvimento, Ivandro Rosa, estuda os fluxos migratórios no Vale do Taquari desde 2012.

“Temos uma parcela de trabalhadores que estão na base da pirâmide. São pessoas sem formação técnica, mas que são fundamentais, pois estão no operacional”, destaca Rosa.

O carregamento de frango nas propriedades é um exemplo. “Chega um ônibus, na maioria das vezes de noite ou de madrugada. Tem lá, 20 ou 30 trabalhadores. Eles carregam ave por ave. Colocam em uma caixa e levam para o caminhão. Essa atuação ninguém vê.”

Pelo perfil deste trabalhador, trata-se de pessoas em vulnerabilidade social.

“São eles que estão nos abrigos agora. Quem está no escritório, na Júlio de Castilhos, que fez curso técnico ou faculdade, não sabe que tem essa base. Não só no frango, nas indústrias, nos frigoríficos, ou na coleta de lixo. São esses os mais atingidos.”

Chega um ônibus, na maioria das vezes de noite ou de madrugada. Tem lá, 20 ou 30 trabalhadores. Eles carregam ave por ave. Colocam em uma caixa e carregam o caminhão. Essa atuação ninguém vê.”

será mantida a produção?”, questiona.

Diagnóstico sobre total de negócios atingidos pela inundação é feito a partir de parceria da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, associações comerciais e Sebrae

áreas de atuação procuram o município, pois fica dentro da área regional, com proximidade com as comunidades de origem. Esse movimento adicional tem como motivo o pouco impacto da inundação no município. Em Teutônia, problemas na distribuição de energia e falta de água praticamente não aconteceram.

O reflexo aparece na procura por imóveis. O corretor Anderson Machado destaca que o impacto aparece no mercado. Essa alta procura faz com que a oferta reduza.

Infraestrutura sólida para se manter atrativo

Um dos setores mais atingidos pela inundação histórica é a

O reflexo desse drama é o êxodo dos trabalhadores. “Imagina o impacto. Em um frigorífico, é necessário mais de 600 pessoas. Se a metade delas sairem, como

Logística. “Tivemos um aumento de 30% nos custos operacionais. Isso é devido aos deslocamentos maiores, engarrafamentos e situação das estradas”, diz o diretor da Tomasi Logística, Diego Tomasi.

Para além dos prejuízos, a disponibilidade de trabalhadores preocupa o empresário. “Nossa região sempre foi atrativa. Pessoas vindas de diversas localidades do Estado buscavam oportunidades aqui.”

Com a catástrofe, há dois riscos, acredita Tomasi. “Podemos ter a saída das pessoas devido ao trauma e também de sermos menos atrativos para trabalhadores de outras cidades.”

Na avaliação dele, reverter esses sentimentos depende da melhora na infraestrutura básica. “Precisamos de pontes resilientes, que não caiam. De termos energia e distribuição de água que não tenham cortes tão frequentes.”

Os moradores que têm raízes no Vale do Taquari, integrados à comunidade, com atuação na igreja, no time de futebol, no clube, na associação do bairro, esses não vão deixar a região, acredita Rosa. “O que me preocupa são os invisíveis. São para essas pessoas que precisamos pensar formas de garantir moradia, inclusão e possibilidade de continuar na região.”

Recuperação

Casas, estradas, ruas e acessos. Depois da destruição, o esforço é pela retomada. “Estamos com vagas abertas e a demanda por serviços aumentou muito. Temos pedidos de materiais muito acima do previsto para o ano”, diz o proprietário da Britagem Cascalheira, Emerson Etgeton Em cima disso, acredita que o mercado de trabalho regional para os próximos meses será de muitas oportunidades. “Há muito trabalho a ser feito. O Vale foi atingido, mas temos outras regiões também muito prejudicadas. A Serra, por exemplo. Municípios turísticos com empresas fechando. Essas pessoas vão precisar de trabalho.”

“No nosso ramo, há muitas oportunidades. Sabemos que outros setores vão ter dificuldades, pois as pessoas e os governos vão priorizar. Moradia e estradas são primeira necessidade agora.”

A HORA | 9 Fim de semana, 25 e 26 maio 2024 IVANDRO ROSA DOUTOR EM CIÊNCIAS, AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
FOTOS FILIPE FALEIRO

ECONOMIA

Empresas atingidas projetam recomeço

Quase um mês após o início da crise provocada pelas enchentes, empresários restabelecem negócios

Com parte do estado ainda sofrendo com as inundações, as empresas no Vale do Taquari restabelecem seus negócios e projetam o futuro. As organizações atingidas se dividem entre reestruturar as sedes afetadas com novas medidas de prevenção ou mudar de endereço para fugir das cotas de inundação. As estimativas da Fecomércio-RS apontam uma perda de R$ 10 bilhões em ativos em razão das cheias no Rio Grande do Sul. Os prejuízos patrimoniais calculados contemplam estoque, maquinário, mobiliário e instalações. Feito com base em imagens de satélite, o estudo aponta 33 mil estabelecimentos diretamente afetados pelos alagamentos nos setores de comércio, serviços e indústria. O levantamento não inclui micro e pequenas empresas que funcionam em domicílios residenciais, nem municípios que sofreram maior impacto de enxurrada do que de alagamentos. Conforme a Fecomércio-RS,

Estamos muito empolgados e acreditamos que esta nova casa vai nos dar muitas alegrias e ótimos negócios.”

Estamos concluindo um pavilhão que comportará o setor administrativo e parte do operacional e, para 2025, mais uma unidade.”

mesmo empresas que não tenham sido atingidas diretamente pela enchente enfrentam impactos da crise – devido a ausência de insumos, água, energia elétrica, mão obra e infraestrutura logística. Por isso, a entidade estima uma perda de R$40 bilhões no PIB gaúcho. Diante desse cenário, a Federação e demais entidades representativas do setor empresarial pleiteiam ações governamentais que ajudem no restabelecimento dos negócios. Enquanto as iniciativas do poder público ainda não se concretizam, as empresas se restabelecem

como podem para garantir a manutenção do emprego e da renda no Estado.

Nova sede marca retomada das Lojas Dullius

Um dos símbolos do recomeço do setor empresarial foi a inauguração do Centro de Distribuição das Lojas Dullius. O antigo CD da empresa, em Cruzeiro do Sul, sofreu com quatro enchentes nos últimos oito meses. Na mais grave, no

Cheia do Rio Taquari atingiu a Rhodoss. Indústria prepara retomada da produção

início de maio, a água ocupou totalmente o local, que foi sede da empresa por 40 anos.

O novo espaço foi inaugurado na sexta-feira, dia 17. Localizado no bairro Cascata, em pavilhão onde funcionava a antiga Incapel, a estrutura de 3,2 mil metros quadrados representa a continuidade da empresa em uma das cidades gaúchas mais prejudicadas pela crise climática.

CEO da Lojas Dullius, Claudir Dullius afirma que a mudança simboliza o início de um novo ciclo de crescimento para a empresa, que continua apostando nos potenciais do Vale do Taquari. “O que vivemos foi doloroso, mas é preciso continuar.”

Reinício com planos de mudança

Diretor das empresas Rhodoss Implementos Rodoviários e

Arla conseguiu minimizar os prejuízos na matriz em Lajeado com procedimentos de prevenção

Dinna Explosivos e Desmonte de Rochas, Nilto Scapin viu as duas empresas serem alcançadas pelas águas do rio Taquari. Localizada na barranca do Rio Taquari, a fábrica de implementos sofreu os maiores estragos, mas tão logo as águas baixaram foram iniciados os trabalhos de recuperação. Conforme Scapin, a produção na Dinna não foi diretamente afetada e a expectativa é de reativar os trabalhos da Rhodoss a partir da próxima semana. “Estamos limpando, lavando e arrumando o que é possível com o objetivo de retomar totalmente as atividades em junho.”

Segundo ele, mesmo sem acreditar em uma nova enchente de grandes proporções nos próximos períodos, a fábrica de implementos será realocada. “Vamos operar no mesmo local por um período, mas pretendo tirar a fábrica de perto do rio.”

Novo endereço após 26 anos

Pioneira no segmento em Lajeado, a Free Viagens e Turismo atuou por 26 anos no mesmo endereço, na avenida Benjamin Constant. Duramente afetada pelas enchentes de maio, a empresa já prepara mudança para nova sede, na sala 906 do edifício Hickman Select.

CEO da agência de viagens, Vera Riediger afirma que a mudança representa oportunidade de crescimento, apesar dos prejuízos sofridos na antiga sede.

10 | A HORA Fim de semana, 25 e 26 maio 2024
VERA RIEDIGER DIRETORA DA FREE VIAGENS E TURISMO
DIEGO SIMONETTI DIRETOR DA DISIM

Prevenção no varejo, preocupação

com o agro

Vamos operar no mesmo local por um período, mas pretendo tirar a fábrica de perto do rio”

os gestores do restaurante iniciaram nova operação na cidade. O restaurante Vovô Garoto abriu as portas na quarta-feira, 22, às margens da BR-386, no bairro Altos do Parque.

Gerente do estabelecimento, Adriano Alberton afirma que a enchente inviabilizou o ponto em frente a praça da Matriz. O restaurante funcionou no local por 14 anos, com buffet ao meio dia, lanches e choperia no horário noturno.

matriz da empresa, localizada no bairro Navegantes. De acordo com o CEO da Disim, Diego Simonetti, a antiga sede teve que ser desativada e as operações foram deslocadas para outras duas unidades.

“Estamos muito empolgados e acreditamos que esta nova casa vai nos dar muitas alegrias e ótimos negócios.”

Conforme Vera, a sala ainda não tem data para ser inaugurada e a empresa pretende utilizar a estrutura do prédio para realizar eventos para clientes, parceiros e entusiastas do setor do turismo. “Estamos muito empolgados. A Free vai seguir em frente, como fez nos momentos de maior dificuldade.”

Legado para um novo restaurante

Após ver um dos pontos mais tradicionais de Lajeado ser invadido pela água do Rio Taquari,

Conforme Alberton, o Vovô Garoto utiliza boa parte da equipe e mantém o padrão elevado que tornou o restaurante uma das referências gastronômicas da cidade. O novo estabelecimento serve café da manhã e almoço, além de viandas. “Tanto na pandemia quanto nessa última enchente, fizemos viandas para manter as nossas atividades. É uma tendência que ficará ainda mais forte.”

Operações realocadas e investimentos mantidos

Referência em automação elétrica e energia solar fotovoltaica, a Disim, de Arroio do Meio, viu as águas do rio Taquari invadirem a antiga

Apesar dos prejuízos, Simonetti afirma que a empresa manterá investimentos e construirá mais dois pavilhões para comportar as operações da unidade destruída pelas águas e o crescimento planejado para os próximos períodos. “Estamos concluindo mais um pavilhão que comportará o setor administrativo e parte do operacional e, para 2025, teremos mais uma unidade”, aponta. O pavilhão que já está em obras tem conclusão prevista para o fim do mês de junho.

A Arla Cooperativa conseguiu minimizar os prejuízos na matriz em Lajeado com procedimentos de prevenção. No local onde funciona a unidade de varejo da cooperativa, no Centro da cidade, os procedimentos em caso de cheia incluem o desligamento da eletricidade e a evacuação de mercadorias. Mesmo assim, diante da dimensão histórica da enchente, parte do estoque foi afetado.

De acordo com o gerente-geral da Arla, Breno Aloísio Ely, as medidas preventivas evitaram maiores prejuízos, mas a empresa projeta um redesenho da unidade. “Temos um andar acima da loja com auditório e refeitório onde vamos alocar mercadorias.”

Além disso, também está em obras o novo centro de distribuição da cooperativa, que

Temos um andar acima da loja com auditório e refeitório onde vamos alocar mercadorias.”

BRENO ELY

GERENTE-GERAL DA ARLA

terá espaço para alocar parte do estoque. Segundo Ely, a maior preocupação do momento está nos prejuízos sofridos pelos associados no campo. “A dor do varejo é pequena na comparação com os estragos ao agronegócio. É extremamente importante e necessário recursos oficiais para a atividade poder dar continuidade para os próximos ciclos.”

A HORA | 11 Fim de semana, 25 e 26 maio 2024
NILTO SCAPIN DIRETOR DA RHODOSS Lojas Dullius abriu novo centro de distribuição e sede administrativa após danos pelas cheias Após danos pelas cheias, proprietários abrem novo restaurante às margens da BR-386 PEDRO RODRIGUES DIVULGAÇÃO

HABITAÇÃO

ENTREVISTA

JADER BARBALHO FILHO Ministro das Cidades

“Não faltarão recursos para o Rio Grande do Sul”

A Hora – Como é a estratégia do governo para a reconstrução das cidades afetadas por desastres?

Mais de 23 mil pessoas caram desabrigadas na região. Para conhecer demanda por moradias, Ministério das Cidades abre formulário para municípios apresentarem necessidades

Governo estuda autorizar compra de imóveis usados

Ministro das Cidades, Jader Filho, é o responsável por garantir moradias pelo Minha Casa Minha Vida às pessoas que perderam tudo na inundação de maio. Segundo ele, o país dará todas as respostas esperadas pela população gaúcha Filipe

Em entrevista exclusiva ao Grupo A Hora, o Ministro das Cidades, Jader Filho, detalhou o processo para avaliar o cenário da habitação depois da maior tragédia natural da história gaúcha. De acordo com ele, o programa Minha Casa Minha Vida terá uma reestruturação emergencial.

Entre as novidades, destacase a possibilidade de comprar imóveis usados, algo inviável pelo modelo atual. “Vamos contatar os proprietários e ver em que condições estão essas moradias, e se poderão receber essas pessoas.”

Também há um movimento para incluir financiamentos

de unidades fora da faixa de preço do programa, pelo fato de algumas casas onde nunca pegou água terem sido destruídas. Em um primeiro momento, estão previstas 1,5 mil unidades, em um investimento de quase R$ 200 milhões.

No entanto, esse número deve aumentar. “Ainda não temos uma imagem completa da destruição”. Como forma de se ter um diagnóstico mais preciso, o governo federal, por meio do Ministério das Cidades, iniciou na semana passada um formulário digital para que as administrações municipais cadastrem as necessidades.

O documento servirá como ponto de partida para o planejamento voltado à reestruturação. Nele, as equipes

dos municípios poderão inserir as estimativas da necessidade habitacional.

Conforme Jader Filho, as informações serão a base do mapeamento das soluções habitacionais.“Estamos junto com os prefeitos, junto com o Governo do Estado, para entender o tamanho do que é necessário em termos de habitação, em termos de recursos para prevenção, como contenção de encostas e drenagem.”

Pelos cálculos da Casa Civil, até o momento, o Governo Federal já anunciou um investimento total de R$ 60,7 bilhões, além dos R$ 11 bilhões a serem destinados em ações de reconstrução, referentes aos juros perdoados pela União, dívida suspensa pelos próximos três anos.

Jader Filho –Primeiro, quero prestar minha solidariedade a todas as famílias que perderam entes queridos, suas casas e tudo o que construíram. Afirmo para todos: estamos empenhados em fazer o máximo para que a população gaúcha e o Estado possam minimamente voltar à normalidade. Esse é o compromisso do presidente Lula, do ministro Paulo Pimenta, que está aí no Rio Grande do Sul, para contribuir com os prefeitos e com o governador Eduardo Leite. Com relação ao nosso trabalho, o primeiro passo é entender as necessidades de cada município. Iniciamos o cadastramento, em que cada prefeito, cada equipe das cidades possam colocar as informações.

– Como atuar de maneira ágil depois da catástrofe?

Jader Filho – A gente já tem o exemplo do trabalho que tem sido feito pelo Ministério dos Transportes, no processo de reconstrução das rodovias. O governo tem trabalhado de maneira bastante ágil. Quando a gente traz, por exemplo, essa solução de adquirir imóvel pronto, que nunca existiu no Minha Casa Minha Vida, nós estamos buscando outros métodos para dar a resposta ao povo do Rio Grande do Sul. Na forma de construção, vamos buscar práticas também mais rápidas, modelos de obras que diminuam esse tempo de espera. As pessoas que estão nos abrigos têm pressa. O presidente Lula tem nos cobrado todos os dias, para que os encaminhamentos sejam rápidos.

Sabemos que ainda há áreas que não foi possível chegar. Por isso, esse cadastro pode ser atualizado. Ainda assim, é importante que os prefeitos já comecem a alimentar as informações.

– O desastre atingiu famílias de diversas faixas de renda. Como equalizar isso? O programa será pensado para públicos com um pouco mais de poder aquisitivo?

Jader Filho – Quando entendermos o tamanho da demanda, poderemos adaptar essas situações. Vamos entender quais terrenos podem receber as construções. Há outras possibilidades também, como a compra de imóveis prontos. Essa é uma discussão em curso em Porto Alegre. Também vamos contatar imobiliárias, para ver quais casas e apartamentos estão disponíveis e que podemos fazer pelo Minha Casa Minha Vida. Importante dizer, o modelo atual não autoriza a compra de imóveis usados.

Pretendemos colocar na possibilidade de compra, para tanto, a Caixa vai fazer avaliação dessas habitações. Sabemos que não existe essa oferta de imóveis suficiente. Então, são várias frentes de trabalho para que a gente possa fazer aquisição.

Essa é uma preocupação do presidente e de toda a equipe de governo. Só assim é que as pessoas possam ter a dignidade de ter um lar para morar.

– Haverá recurso para tudo isso?

Jader Filho – Sem dúvida. Não faltarão recursos ao Rio Grande do Sul. É um estado que sempre fez muito pelo país, agora chegou a hora do Brasil, como diz o presidente Lula, do governo federal garantir a retomada.

Todos os nossos esforços, toda a nossa energia, está voltada para essa missão de fazer com que a vida no estado possa voltar às condições minimamente normais.

Quando a gente traz, por exemplo, essa solução de adquirir imóvel pronto, que nunca existiu no Minha Casa Minha Vida, nós estamos buscando outros métodos para dar a resposta ao povo do Rio Grande do Sul.”

12 | A HORA Fim de semana, 25 e 26 maio 2024
filipe@grupoahora.net.br
Faleiro
VALE DO TAQUARI
FOTOS FILIPE FALEIRO
A HORA | 13 Fim de semana, 25 e 26 maio 2024

Há clima para eleições no RS?

Faltam pouco mais de quatro meses para o pleito de outubro. Mas catástrofe cria cenário de incerteza nos municípios. Especialistas divergem sobre as condições e o impacto que uma campanha eleitoral causaria em um momento de reconstrução do RS, após comentário de governador

Marcado para 6 de outubro, as eleições municipais mobilizam partidos, précandidatos e autoridades desde o começo do ano. No entanto, a catástrofe climática enfrentada pelo RS desde o começo do mês alterou o cenário. As tradicionais ações de pré-campanha deram lugar ao socorro às vítimas e ao voluntariado. E deixa dúvidas sobre a viabilidade de um pleito nos próximos meses.

A possibilidade de adiamento das eleições no RS foi ventilada já no começo do mês, ganhou força nos últimos dias e encontra eco em uma parcela da sociedade gaúcha. Até o governador Eduardo Leite manifestou preocupação com o impacto de uma disputa eleitoral em meio a reconstrução do Estado.

população aos gestores municipais por soluções mágicas será enorme, e nós sabemos que não há solução mágica diante da grandeza dessa catástrofe”

Porém, a discussão está longe de ter ampla aceitação. No campo partidário, há quem considere oportunismo político propor uma nova data para os pleitos municipais. No âmbito da justiça eleitoral, há uma tendência pela manutenção do calendário atual, em conjunto com as disputas país afora.

“Nós vamos contabilizar as urnas que, eventualmente, sofreram avarias. Temos as urnas em depósito e todas as condições para garantir, até esse momento, as eleições normais em todos os municípios gaúchos. Isso é muito importante, porque o calendário eleitoral permanece para o Brasil todo”, assegurou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.

“É uma questão a ser debatida”

Se no TSE não se cogita um adiamento das eleições, no âmbito da Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS) a discussão pode ocorrer. Foi o que antecipou Vanderlei Teresinha Tremeia Kubiak, então presidente do órgão, durante entrevista à Rádio A Hora 102,9 FM nessa semana.

Entretanto, conforme Teresinha, a Constituição Federal de 1988 normatiza a realização do pleito. O documento supremo nacional prevê eleições para prefeitos, vice-prefeitos e vereadores de forma direta e simultânea em todo país, no primeiro domingo de outubro, anterior ao término do mandato.

“É uma questão a ser debatida. Mas é difícil ocorrer uma alteração”, admite. Em razão dos contínuos transtornos causados pelas fortes chuvas, ainda não é

eleitoral, de convenções partidárias, de reuniões políticas. Não tem clima para isso. As pessoas estão sem casas, sem emprego, algumas sem qualquer estrutura familiar”

possível calcular a real extensão dos prejuízos. O tribunal já iniciou contabilização.

Dos 497 municípios gaúchos, estima-se que 85% tenha tido algum problema, ressalta Teresinha, que complementa dizendo que as próprias sessões eleitorais vão precisar averiguação para confirmar as condições de votação.

Teresinha encerrou o mandato à frente do tribunal. Ela foi substituída pelo desembargador Voltaire de Lima Moraes. A posse ocorreu na quarta-feira, 22. Moraes, em seu discurso, garantiu todos os esforços para a realização de “eleições serenas, transparentes e

O fato de levarmos

num cenário de crise pode ter uma leitura nobre, do quanto valorizamos a democracia. Não minimizo a catástrofe, mas não vejo ela como um impeditivo absoluto a eleição”

isonômicas”. Mandatos afetados

Advogado especialista em direito eleitoral, Fábio Gisch considera “muito difícil” do ponto de vista jurídico ocorrer um adiamento da eleição. Lembra do impacto que isso causaria, com a prorrogação dos mandatos atuais. Além disso, o fato de ser em apenas um estado, e não no país todo, torna a situação mais delicada.

“Não é um país inteiro afetado, como ocorreu na pandemia. Seria necessária toda uma estrutura, uma questão de gerenciamento,

Leite e a discussão

– Em entrevista ao O Globo na segunda-feira, 20, Eduardo Leite concordou com a necessidade de um debate sobre adiamento da eleição. Para ele, o processo pode ser dificultado em meio a uma campanha eleitoral, sobretudo em municípios afetados pela cheia;

– “Junho já é um momento préeleitoral e, em julho, se estabelecem as convenções. É um debate pertinente. O Estado estará em reconstrução, ainda em momentos incipientes, em que trocas de governos municipais podem atrapalhar esse processo. O próprio debate eleitoral pode acabar dificultando a recuperação”, afirmou.

garante condições de realizar pleitos municipais no RS

das urnas, e toda a situação junto ao Tribunal. E como seriam os mandatos? O de agora, talvez de cinco, e o próximo de três? Essa é a dúvida que fica e que alguns discutem. Então eu vejo um entrave nesse ponto”, frisa. Por outro lado, Gisch vê como “necessário” um adiamento, em virtude da situação de calamidade. “Não estamos num momento para realização de campanha eleitoral, de convenções partidárias, de reuniões políticas. Não tem clima para isso. As pessoas estão sem casas, sem emprego, algumas sem qualquer estrutura familiar”. Além disso, observa que a lisura do pleito pode ficar comprometida a partir do momento em que os eleitores, em um momento de luto, votam por uma emoção momentânea. “O voto precisa ser algo que você espera da sua cidade, dos seus administradores, e não algo apenas para os próximos quatro anos. Então, vejo que isso compromete também o próprio pleito eleitoral”.

14 | A HORA Fim de semana, 25 e 26 maio 2024
RAFAEL MORGENTAL ESPECIALISTA EM DIREITO
ELEITORAL
Mateus Souza mateus@grupoahora.net.br Justiça Eleitoral, por ora, não trabalha com hipótese de adiamento e

Tempo hábil

Na mesma linha, o cientista político Fredi Camargo entende ser “de bom tom” um adiamento da eleição, em virtude de não haver tempo hábil para a reconstrução de uma normalidade cotidiana. Cita o preparo psicológico do eleitor como um motivo, “para poder fazer sua

escolha de forma mais racional e menos passional”. No entanto, também não acredita em uma mudança de data do pleito. “A não ser que haja mobilização da sociedade inteira. Em não havendo, será uma eleição muito complicada tanto para os que estão na gestão quanto aos que estão fora”, salienta. Camargo vê um desafio

ainda maior para aqueles que estão nas gestões municipais, sejam prefeitos que buscam a reeleição ou outros candidatos situacionistas. “A cobrança da população por soluções mágicas será enorme, e nós sabemos que não há solução mágica diante da grandeza dessa catástrofe, em qualquer lugar do planeta que ela fosse acontecer”.

Sem alternativas

“Uma pergunta ainda não foi colocada neste debate. Qual é a alternativa a não realização da eleição?”. A provocação, do advogado Rafael Morgental, especialista em Direito Eleitoral, indica que a discussão sobre o futuro das eleições municipais no RS é complexa.

Defensor da manutenção do pleito para outubro, reconhece a existência de fatores que podem, eventualmente, frustrar a realização da eleição. Contudo, alerta para uma “inconstitucionalidade flagrante” e acredita que sequer há voto para aprovar uma proposta de emenda a constituição.

Também considera a extensão do mandato dos atuais gestores como “a pior solução”.

O entendimento de Morgental é de que a eleição, cuja periodicidade está definida na Constituição, é sagrada. “O fato de levarmos eleições a cabo num cenário de crise pode ter uma leitura nobre, do quanto valorizamos a democracia. Não minimizo a catástrofe, mas não vejo ela como um impeditivo absoluto a eleição. Talvez sejam necessárias adaptações, mas a Justiça Eleitoral deixou claro que tem condições de fazer”, argumenta.

Mesmo assim, ele avalia que, em situações muito isoladas, a discussão sobre adiamento pode prosperar. Cita o exemplo de Cruzeiro do Sul, que teve bairros devastados pela enchente. “Esses podem ter uma análise mais criteriosa. A opinião final é da Justiça Eleitoral. Se acharem que a disputa está completamente comprometida, pode submeter via TSE uma emenda ao Congresso”.

CALENDÁRIO ELEITORAL

O que ainda tem pela frente

6 DE JULHO – Servidor público que pretende concorrer precisa se descompatibilizar do cargo até esta data

20 DE JULHO – Início das convenções partidárias

5 DE AGOSTO – Término do prazo para realização das convenções

15 DE AGOSTO – Data limite para registro das candidaturas

30 DE AGOSTO – Começa a campanha eleitoral obrigatória na TV e no rádio para o primeiro turno

3 DE OUTUBRO – Término da campanha eleitoral

6 DE OUTUBRO – Data do primeiro turno da eleição

19 DE DEZEMBRO – Fim do prazo para diplomação dos eleitos

1º DE JANEIRO/2025 – Posse dos prefeitos e vereadores

A HORA | 15 Fim de semana, 25 e 26 maio 2024
ARQUIVO A HORA

Movimentos de recuperação discutem soluções para moradias do Vale

Empresários e entidades, de diferentes municípios, arrecadam recursos para viabilizar a transferência das famílias atingidas para áreas seguras

Reconstruir Cruzeiro do Sul

Anecessidade de alternativas sustentáveis para reconstrução das cidades, bem como a garantia de segurança às famílias, tornaram-se temas prioritários no Vale do Taquari. Em resposta a essa urgência, empresários, entidades, ONGs e representantes do poder público se uniram, em diferentes municípios, para dar início aos Movimentos de Recuperação, principalmente, de reconstrução das moradias. É o caso de Cruzeiro do Sul, Encantado, Estrela, Lajeado e Muçum, que buscam pela implementação de soluções duradouras a fim de garantir a segurança e resiliência das cidades no futuro.

Um movimento de esperança para a comunidade de Cruzeiro do Sul surgiu por meio de um grupo composto por empresários, comunidade e pela Associação Comercial e Industrial de Cruzeiro do Sul (ACICS). Intitulada

“Reconstruir Cruzeiro do Sul”, a iniciativa une esforços para a construção de lares seguros, estimular negócios locais e garantir um futuro promissor para o município. O primeiro encontro aconteceu no dia 13. Apoiadora do movimento e proprietária da Irrigat Sistemas de Irrigação, Alessandra Hendler, acredita no potencial do projeto,

principalmente por ele aproximar empresários, poder público e comunidade. “Cruzeiro do Sul nunca teve uma voz enquanto coletivo. O que a gente fez aqui foi reunir o comércio e a indústria, a sociedade e elementos importantes para pensar em um movimento de apoio”, explica Alessandra. No encontro, o grupo discutiu ações para realocar as famílias que perderam moradias e comércio para locais mais seguros, criar um plano de ação e reconstruir o município. “O que fizemos aqui foi reunir forças e dizer para essas pessoas que elas não estão sozinhas”.

“Uma

Casa por Dia”

O projeto “Uma Casa por Dia” visa a construção de lares dignos para famílias que perderam tudo durante as cheias. A iniciativa envolve a Agência de Inovação Local (Agil), Pro_Move Lajeado, Univates, empresários, Promotoria Regional Ambiental do MP, Gira e Observatório de Marcas. A parceria também envolve o governo, que cede terrenos públicos, enquanto que a contratação da construtora é feita por meio de recursos privados. As residências serão pagas com dinheiro de doações de grandes empresas e fundos internacionais.

Na terça-feira, 21, representantes da classe empresarial, da comunidade, clubes de serviço e do setor público de Estrela discutiram estratégias para a reconstrução do município. O encontro ocorreu na sede da Câmara de Comércio, Indústria, Serviços e Agronegócio (Cacis) e contou ainda com a presença do prefeito, Elmar Schneider, e de outros representantes do poder público municipal.

Um dos principais assuntos debatidos foi a identificação de áreas de terra para construção de moradias aos atingidos pelas cheias. Desde setembro do ano passado, cerca de 230 famílias de Estrela se beneficiam do aluguel social. No encontro, o chefe do executivo reiterou que 500 moradias serão construídas através da Caixa Econômica Federal. No entanto, o desafio está em arranjar uma área de terra para iniciar a construção. “Com isso, tivemos a ideia de criar uma entidade, um novo

CNPJ. A Associação Reconstrói Estrela vai canalizar recursos e buscar aquisição de terras para viabilizar a construção dessas moradias. Isto por meio de ajuda de parceiros e também da busca desses valores fora da região, mediante uma grande campanha”, afirma o presidente da associação e empresário, Nilto Scapin. De acordo com o presidente da Câmara, Claus Wallauer, alguns empresários já sinalizaram o interesse em colaborar com recursos para a viabilização das obras. “Também buscamos o alinhamento com o poder público para encontrar um caminho, e agora a busca é pela confirmação do local e também dos recursos necessários em sua totalidade, projetos e toda e toda a parte burocrática”, explica. Nos próximos dias devem iniciar as primeiras negociações com os proprietários das áreas potenciais para a construção das moradias.

SOS Habitar – Vale do Taquari

Entidades e voluntários de Encantado fundaram a Associação SOS Habitar – Vale do Taquari, que será responsável pelo fundo de contribuições privadas, sem recurso público, para edificar residências para as famílias desabrigadas pelas cheias no Vale.

A primeira etapa do projeto contemplará Encantado, cidade onde a ação iniciou, uma vez que já existem áreas disponíveis para construção no bairro Lambari.

Pelo menos 96 moradias devem ser contempladas nesta fase, que prevê edifícios de até quatro pavimentos. Cada apartamento terá em torno de 50 metros quadrados, com dois quartos, cozinha, banheiro e área externa. Também serão propostos apartamentos com três dormitórios, e o conjunto habitacional contará com área de lazer. A projeção de valor a ser buscado nessa primeira etapa é de R$ 12 milhões.

Recupera Muçum

Em Muçum, cerca de 60 hectares foram inundados pelas três grandes enchentes do Vale. O que trouxe consequências significativas ao município. Pensando nisso, um grupo de empresários se uniu e formou a Associação Recupera Muçum, que pretende reconstruir a cidade em uma área não

inundável. A ideia do projeto, é garantir que moradores e empresários construam novas histórias em um espaço seguro. “As pessoas estão cansadas de recomeçar, devido ao impacto árduo que essas catástrofes têm na comunidade”, explica a empresária Jeanine Sangalli.

A associação funciona sem fins lucrativos e recebe recursos através de doações de pessoas físicas e jurídicas. O custo inicial do projeto é de aproximadamente R$ 6 milhões, destinado à definição da área. Com a obtenção desse valor, será possível buscar parceiros para desenvolver o loteamento.

Apoio internacional

A ONG norte-americana Volunteer Emergency Relief apresentou uma solução emergencial aos gestores do Vale do Taquari, a qual prevê a entrega de 60 casas por mês, na região. São construções de 44m², elaboradas com material de PVC e gesso, com custo a partir de R$ 70 mil, não incluindo o terreno. “Com 80 pessoas atuando, conseguimos erguer duas casas por dia, uma previsão de entrega muito mais rápida, econômica

e de boa qualidade, sem uso de tijolos e areia”, explica o representante da ONG, Fred Martins. Além das residências, há possibilidades de construir abrigos e escolas.

O projeto inicial envolve a doação de 15 moradias desse modelo para Lajeado, com entrega prevista até 15 de julho. Os recursos são de doações recebidas pela organização. Para a construção das demais casas, a organização busca parcerias com construtoras e prefeituras.

16 | A HORA Fim de semana, 25 e 26 maio 2024 RECONSTRUÇÃO
A HORA | 17 Fim de semana, 25 e 26 maio 2024
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Jéssica R. Mallmann
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ALDO LOPES
Associação Reconstrói Estrela
FELIPE NEITZKE

POLÍTICA

Nova estimativa aponta R$ 135 milhões em perdas com retorno de ICMS no Vale

Arrecadação total prevista para 2024, que era de R$ 539 milhões, pode cair para R$ 400 milhões.

Famurs pleiteia cota extra do FPM para todas as cidades gaúchas, após governo federal autorizar parcela aos municípios em situação de calamidade

Mateus Souza mateus@grupoahora.net.br

Queda de quase 25% na arrecadação com o Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) em 2024. Este é o cálculo da Federação das Associações dos Municípios do RS (Famurs) sobre o impacto da catástrofe climática nos cofres dos municípios gaúchos. No Vale do Taquari, o percentual é semelhante.

Se, no início do ano, o somatório dos 38 municípios da região apontava para uma arrecadação de R$ 539 milhões em retorno do imposto, o estudo econômico-financeiro da entidade aponta para R$ 135 milhões a menos. Mesmo as cidades que não foram tão afetadas diretamente sentiriam as perdas.

A projeção foi elaborada pela Área Técnica de Receitas Municipais e motiva a Famurs a buscar soluções imediatas para socorrer as prefeituras. O governo federal atendeu parcialmente a uma das solicitações, ao confirmar a liberação de uma cota extra do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Contudo, só contempla aqueles decretados em calamidade pública.

“A Famurs faz o pedido para

É evidente que essas despesas terão um impacto signi cativo no orçamento. A restauração de vias, limpeza da cidade e implementação de programas de auxílio social demandarão recursos consideráveis”

RAFAEL SPENGLER

SECRETÁRIO DA FAZENDA DE LAJEADO

que o governo reveja e coloque o FPM para todo o RS, pois todos estão sofrendo, seja de forma direta ou indireta. A gente sabe que é um valor maior, mas é absolutamente necessário, pois a economia do Estado vai cair. Essa receita extra vai socorrer muitos gaúchos”, afirma o presidente da Famurs e prefeito de Campo Bom, Luciano Orsi.

O repasse contemplou, inicialmente, 47 municípios.

Porém, pela atualização do Estado, 72 cidades estão em calamidade pública no RS. Entre elas, 18 do Vale do Taquari, incluindo Lajeado, Estrela, Arroio do Meio, Encantado e Cruzeiro do Sul.

Evitar o colapso

Em ano de fechamento de contas, as prefeituras tentam se organizar para que não tenham um colapso financeiro, ainda mais com a iminente queda na arrecadação. Presidente da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), Jarbas da Rosa, participa das negociações junto à Famurs para que o suporte financeiro seja maior.

“Esse cálculo (da queda de 25%) é uma projeção da Famurs, que pode ou não se confirmar. A cota extra do FPM é importante, mas nós solicitamos uma nova cota. Pois entendemos que é importante a recomposição do ICMS a médio prazo, à medida que for observado o risco na manutenção dos serviços básicos”, salienta. Venâncio Aires, município comandado por Rosa, estima R$ 16 milhões em perdas. A cota extra anunciada deve render R$ 4,5 milhões, valor insuficiente para cobrir o prejuízo. “A preocupação de todos os prefeitos é em fechar as contas. E é um ano de fechamento, que se encerra um ciclo de quatro anos. Então, há essa dificuldade a mais”.

Além do socorro às prefeituras, a Amvat têm atuado com ações coordenadas para a reconstrução da região. Para Rosa, a maior preocupação é com a parte habitacional nos municípios. “É um investimento milionário que deve ser feito com as moradias definitivas. Então, fazemos um trabalho de pressão diariamente, várias vezes ao dia, para que os recursos cheguem”.

Avaliação

No município mais populoso da região, a projeção da Famurs indica pouco mais de R$ 20 milhões em perdas. O secretário da Fazenda de Lajeado, Rafael Spengler, no entanto, lembra que se trata de uma estimativa preliminar e conservadora. Frisa que há fatores que também influenciarão na retomada econômica do Estado e podem amenizar a situação.

“O governo municipal adota uma postura proativa na busca por alternativas para compensar essa potencial perda de receita. Estamos empenhados em viabilizar recursos junto aos

governos estadual e federal para investimentos emergenciais, como a construção de pontes e moradias, reconstrução de vias e a obtenção da parcela extra do FPM”, destaca.

Conforme Spengler, o município segue em processo de avaliação dos impactos das recentes cheias e, por isso, não tem uma estimativa precisa e considera prematuro definir com precisão o montante necessário. “É evidente que essas despesas terão um impacto significativo no orçamento. A restauração de vias, limpeza da cidade e implementação de programas de auxílio social demandarão recursos consideráveis”.

Arrecadação no Vale do Taquari

Municípios da região

Projeção inicial

Reestimativa

Anta Gorda R$ 12,7 milhões R$ 9,5 milhões

Arroio do Meio R$ 39,5 milhões R$ 29,6 milhões

Arvorezinha R$ 10,8 milhões R$ 8.1 milhões

Bom Retiro do Sul R$ 10,7 milhões R$ 8 milhões

Boqueirão do Leão R$ 6,5 milhões R$ 4,9 milhões

Canudos do Vale R$ 5,8 milhões R$ 4,3 milhões

Capitão R$ 11 milhões R$ 8,2 milhões

Colinas R$ 10,4 milhões R$ 7,8 milhões

Coqueiro Baixo R$ 5,3 milhões R$ 4 milhões

Cruzeiro do Sul R$ 18,5 milhões R$ 13,9 milhões

Dois Lajeados R$ 8,2 milhões R$ 6,2 milhões

Doutor Ricardo R$ 4,1 milhões R$ 3,1 milhões

Encantado R$ 26,9 milhões R$ 20,2 milhões

Estrela R$ 39,7 milhões R$ 29,8 milhões

Fazenda Vilanova R$ 8,1 milhões R$ 6,1 milhões

Forquetinha R$ 4,3 milhões R$ 3,2 milhões

Ilópolis R$ 5,7 milhões R$ 4,3 milhões

Imigrante R$ 12,1 milhões R$ 9,1 milhões

Lajeado R$ 83,4 milhões R$ 62,5 milhões

Marques de Souza R$ 8,4 milhões R$ 6,3 milhões

Mato Leitão R$ 8,3 milhões R$ 6,2 milhões

Muçum R$ 6,3 milhões R$ 4,7 milhões

Nova Bréscia R$ 12,6 milhões R$ 9,4 milhões

Paverama R$ 7,7 milhões R$ 5,8 milhões

Poço das Antas R$ 7,3 milhões R$ 5,5 milhões

Pouso Novo R$ 3,9 milhões R$ 2,9 milhões

Progresso R$ 8 milhões R$ 6 milhões

Putinga R$ 7,1 milhões R$ 5,3 milhões

Relvado R$ 6,2 milhões R$ 4,6 milhões

Roca Sales R$ 16,3 milhões R$ 12,2 milhões

Santa Clara do Sul R$ 10,5 milhões R$ 7,9 milhões

Sério R$ 5,1 milhões R$ 3,8 milhões

Tabaí R$ 5 milhões R$ 3,7 milhões

Taquari R$ 23 milhões R$ 17,4 milhões

Teutônia R$ 43 milhões R$ 32,2 milhões

Travesseiro R$ 8,2 milhões R$ 6,2 milhões

Vespasiano Corrêa R$ 8 milhões R$ 6 milhões

Westfália R$ 18,1 milhões R$ 13,5 milhões

TOTAL R$ 539,1 milhões R$ 404,4 milhões

18 | A HORA Fim de semana, 25 e 26 maio 2024
Só em Estrela, perdas podem passar dos R$ 10 milhões, conforme estimativa da Famurs DIVULGAÇÃO
A HORA | 19 Fim de semana, 25 e 26 maio 2024

VÍTIMAS DA TRAGÉDIA

Enchente histórica deixa 38 mortos e 28 desaparecidos

As famílias vivem entre o luto e a incerteza. Buscas por desaparecidos continuam. No Estado, são 163 óbitos confirmados

Bibiana Faleiro bibianafaleiro@grupoahora.net.br

Do pico histórico de 33,35 metros do Rio Taquari no início do mês, até agora, quatro semanas depois, o sentimento na região e no RS ainda é de luto. Na região, são 38 mortes confirmadas e mais 28 pessoas desaparecidas. Entre as cidades com maior número de óbitos e desaparecidos, está Cruzeiro do Sul, Roca Sales e Lajeado. Além disso, muitos bairros foram devastados, como é o caso do Passo de Estrela, na divisa entre Lajeado e Cruzeiro do Sul. Era na localidade vivia a família Silva, proprietária da clínica veterinária Lajevet. O casal Orlando e Gladis estava na residência de dois pisos na Rua da Divisa, com o filho Alexânder e a filha Josiani quando a força do Rio Taquari derrubou as paredes. Apesar de não terem sido localizados entre os escombros,

Familiares me ligaram contando que a casa tinha ido e que eles estavam dentro. Pedi para con rmarem. Então tive que dar a notícia para minha esposa e meus lhos. Todos choramos muito.”

não foram encontrados sinais da família. Os quatro nomes constam na lista de desaparecidos de Lajeado.

Luciani Silva, outra filha do casal, o marido Glaucio Coutinho, e os filhos Alan, Luan e Cauan, estavam em Goiás para uma competição de tiro de laço quando aconteceu a catástrofe. Coutinho relembra que na cheia de setembro, faltou pouco para a água chegar no segundo andar da casa e, com as projeções de que essa enchente de maio atingiria mais quatro metros, ele ligou para

os sogros para pedir que saíssem. Algumas coisas da casa foram salvas, mas ninguém acreditava que a cheia seria maior do que a de setembro. A água subiu rápido e com forte correnteza. Os resgates com barcos não puderam ser feitos e eles não conseguiram ser salvos antes da estrutura desabar.

“Alguns familiares me ligaram contando que a casa tinha ido e que eles estavam dentro. Pedi para confirmarem. Então tive que dar a notícia para minha esposa e meus filhos. Todos choramos muito”, conta Coutinho.

Para honrar a lembrança dos avós e da tia (veterinária e cuidadora do cavalo), Alan ainda competiu na final do campeonato de laço.

A família mora em um quiosque na rua da divisa, em uma propriedade alta, que não foi atingida. Mas muitas coisas foram roubadas no tempo em que estiveram fora.

Pela proximidade com a casa dos sogros, era ali que tinham muitos troféus de Alan, além de recordações da vida de toda a família. O luto é de muitas formas. Mas se intensifica já que Orlando, Gladis, Josiani e Alexânder não foram encontrados. A família vive com a incerteza e não têm por quem velar.

A localidade de Passo de Estrela, que ca na divisa entre Cruzeiro do Sul e Lajeado, foi uma das mais atingidas pelas cheias

Buscas continuam

Os resgates continuam, em cidades como Roca Sales, com seis pessoas desaparecidas, Cruzeiro do Sul, com oito e Lajeado com cinco. As buscas também são feitas em Encantado, Estrela, Marques de Souza, Poço das Antas, Relvado, Roca Sales, Teutônia e Arroio do Meio. Equipes do Grupo de Operações de Resgate e Salvamento de Concórdia, além do Corpo de Bombeiros Militares de Santa Maria também atuam em ações de buscas no estado, incluindo a cidade de Arroio do Meio. No município, Alvaro Antonio Ramos continua desaparecido após a tragédia.

O aposentado residia na rua Emílio José Kaufmann, no bairro São José, e foi visto pela última vez na quarta-feira, 30. Ramos, que trabalhou por anos como funcionário público na prefeitura, é o único registro de desaparecimento da cidade.

Buscas por desaparecidos continuam na região. Em Arroio do Meio, autoridades buscam por Alvaro Antonio Ramos

Luto

Enquanto algumas famílias vivem com a incerteza, outras tantas lidam com o luto. Em Cruzeiro do Sul, o casal Lothar Schmitt e Lúcia Ramos Christallina foi velado na igreja Matriz. O sepultamento foi no Cemitério Municipal. Vítimas de deslizamentos em Tamanduá, distrito de Marques de Souza, Maria Olinda Lazzaron e Juarez Kerber, que eram vizinhos, também foram velados pelos familiares. Já Clair Terezinha Bergmann continua desaparecida no município. Segundo dados da Defesa Civil do Estado, a morte de Maria Olinda foi contabilizada para Lajeado. Outra vítima de soterramento,

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VALE DO TAQUARI

Josaine Machado. A mulher de 46 anos foi a primeira vítima da cidade. O corpo dela foi sepultado no cemitério de Jacarezinho, comunidade onde residia.

A filha, Isabela Caroline Andreoli, 20, conta que no dia do acidente, todos estavam em casa, ela, o irmão Arthur, o avô e a mãe. Era meio-dia, e família tirava alguns pertences de dentro do carro, porque pretendiam dormir no veículo em outro ponto da localidade, ou ir até a casa de um vizinho, após receberem os avisos das autoridades sobre o risco de deslizamentos. “Nós estávamos com medo de acontecer alguma coisa”, conta Isabela. Ela lembra que enquanto estavam fora da casa, ouviram

um barulho e viram a casa dos vizinhos ser levada pelas terras. Arthur estava dormindo dentro da residência deles e Isabela correu para acordá-lo. “Quando eu olhei para o lado para ver a minha mãe, em segundos, o morro do lado esquerdo também tinha desmoronado e tinha levado ela junto. Arrastou ela por alguns metros”. Isabela diz que os irmãos chegaram a encontrar a mãe com vida, mas ela não resistiu. Pelo levantamento da Defesa Civil, além de Lajeado, Cruzeiro do Sul, Marques de Souza e Encantado, as mortes também ocorreram em Capitão, Forquetinha, Paverama, Putinga, Roca Sales, Venâncio Aires, Travesseiro e Taquari.

No estado

Os temporais e cheias do início do mês atingiram 469 municípios gaúchos. Até essa sexta-feira, 24, eram mais de 63,9 mil pessoas em abrigos e 581,6 mil desalojadas. O estado contabiliza 163 óbitos confirmados decorrentes da tragédia, além de 65 pessoas desaparecidas.

A Defesa Civil orienta as pessoas a verificarem se seus nomes constam na lista de desaparecidos. Se constar, a orientação é procurar a Delegacia de Polícia Civil mais próxima para verificação a regularização dos dados, com a retirada do nome da lista.

Lista de óbitos (38)

Cruzeiro do sul

Ilo Antonio Maria

Julio Antonio Maria

Lothar Schmitt

Lúcia Ramos Christillino

Alvino Marques Machado

Darli de Freitas

Forquetinha

Atanácio Walmor Fuchs

Celi Fuchs

Lajeado

Marco Antonio Petter

Roca Sales

Não Identificado

Venâncio Aires

Cleci Bergenthal

Delso Bergenthal

Jarves da Silva

Valson Tende

Taquari

Bertilde Mentges

Maurante

Quando eu olhei para o lado para ver a minha mãe, em segundos, o morro do lado esquerdo também tinha desmoronado e tinha levado ela junto. Arrastou ela por alguns metros.”

Desaparecidos (28)

ARROIO DO MEIO

Alvaro Antonio Ramos

CRUZEIRO DO SUL

Adriana Maria da Silva

Diana Alves Meirelles

Fabricio Adriano Wendt

João Alexandre de Moraes

Jorge Lauri Rodrigues

Valdelirio Farias do Amaral

Zildomar Fiel da Rosa

ENCANTADO

Bernardete Marques da Silva

César Gilmar das Chagas

ESTRELA Andre Dutra

LAJEADO

João Luiz Maurante

Orlando da Silva

Gladis Elisabeth da Silva

Josiani Carolini da Silva

Alexânder Júnior da Silva

MARQUES DE SOUZA

Clair Teresinha Bergmann

POÇO DAS ANTAS

Vanderlei da Rosa

RELVADO

Heloisa Maria da Rocha

Leandro da Rocha

ROCA SALES

Dorly Brino

Elirio Brino

Erica Brino

Gabriela Brino

Janice Brino

Maria Eduarda Brino

TEUTÔNIA

Danilo Ferreira

Ondina Sirlei Ferreira

A HORA | 21 Fim de semana, 25 e 26 maio 2024
Anderson Eckhardt Roca Sales Adir Eckhardt Roca Sales Andrieli Amanda Roca Sales Ariel Oliveira Roca Sales Julia Izé - Capitão Elenita Eckhardt Roca Sales Darci Markcmann Travesseiro Helio Hein Cruzeiro do Sul Flavio de Souza Cruzeiro do Sul Helga Hein Cruzeiro do Sul José Álvaro Devitte Roca Sales Manuella Wendt Cruzeiro do Sul Valéria Gregory Cruzeiro do Sul Maria Lazzaron Lajeado Silvane Soares Roca Sales Leticia de Souza Roca Sales Mario da Costa Silva Roca Sales Prisilio Ribeiro - Capitão Nelson Schaefer Paverama Mário Forti - Putinga João Gregory Cruzeiro do Sul Glaucio Coutinho perdeu os sogros e cunhados na cheia, além da casa da família ALDO LOPES Delmar Sander Paverama Josaine Machado Encantado ISABELA CAROLINE ANDREOLI FILHA DA VÍTIMA JOSAINE MACHADO

Planejamento ao futuro precisa se adaptar à nova realidade de cheias

Debate do projeto “Um novo olhar sobre os Bairros” discutiu também o futuro de áreas como o Centro Histórico, que ficou totalmente inundado, e soluções às áreas onde habitações foram destruídas

Um novo olhar sobre os bairros

É preciso fazer estudos consistentes, até pelas questões hidrológicas e o mapeamento das zonas de riscos. São coisas que precisam ser pensadas e executadas a várias mãos, e não no impulso, embora o momento exija agilidade.”

AUGUSTO ALVES

ARQUITETO E URBANISTA E PROFESSOR DA UNIVATES

LAJEADO

Como pensar a cidade daqui para frente após a maior catástrofe natural da história da região? Pergunta que norteou debate na noite dessa quartafeira, 22, dentro do projeto “Lajeado – Um novo olhar sobre os Bairros”. Soluções e iniciativas a curto, médio e longo prazo foram apresentadas para que o município possa superar e se preparar para futuros eventos climáticos deste porte. Participaram do debate, o secretário municipal de Segurança Pública, Paulo Locatelli, o arquiteto e urbanista e professor da Univates, Augusto Alves, e dois integrantes do Comitê Gestor

do Centro Histórico, André Jäeger e Henrique Reali. Entre os convidados, todos foram unanimes em afirmar que é preciso unir esforços para a reconstrução.

No âmbito do planejamento, Alves entende o Plano Diretor precisa de uma revisão urgente e necessária, em virtude da cota alcançada pelo rio Taquari no começo do mês. “É preciso fazer estudos consistentes, até pelas questões hidrológicas e o mapeamento das zonas de riscos. São coisas que precisam ser pensadas e executadas a várias mãos, e não no impulso, embora o momento exija agilidade”, pontua.

Já Locatelli reconhece a necessidade de um aprimoramento nos sistemas de alerta da Defesa Civil, mas lembra que mudanças vêm “de cima para baixo” e precisam ocorrer

Nossa preocupação aqui é potencializar o trabalho voluntário. Temos que envolver toda a comunidade nesses treinamentos e simulados, e torcer para que o Estado nos forneça com antecipação as informações sobre elevações do rio.”

PAULO LOCATELLI

SECRETÁRIO MUNICIPAL DE SEGURANÇA PÚBLICA

de forma integrada. “Nossa preocupação aqui é potencializar o trabalho voluntário, dando cursos e capacitações. Temos

O Ney Santos Arruda, por mais que tenha sido destruído, precisa ser reconstruído, pois é local de contato com o rio. Sempre teremos perdas, mas o investimento que se faz ali é minimamente seguro.”

ANDRÉ JÄEGER INTEGRANTE DO COMITÊ GESTOR DO CENTRO HISTÓRICO

que envolver toda a comunidade nesses treinamentos e simulados, e torcer para que o Estado nos forneça com antecipação as informações sobre elevações do rio”, afirma.

Desafios ao Centro Histórico

Uma das áreas mais atingidas pela enchente de maio, o Centro Histórico de Lajeado ficou praticamente submerso no pico da cheia. E uma das preocupações é com o futuro da área, ligada diretamente às origens e ao desenvolvimento do município. Se por um lado, a sede do Poder Executivo permanecerá no local, empresas repensam a continuidade em áreas que foram inundadas.

“O impacto já havia sido muito grande em setembro. E agora eu não sei o que vai acontecer ali. Trabalho em frente ao Colégio Madre Bárbara e o que vejo são

lojas vazias, pessoas dizendo que não irão voltar. Lugares onde antes nunca havia pego água. Isso me preocupa muito”, lamenta Jäeger. Reali, que também atua na procuradoria jurídica do município, entende que é possível retomar a atividade econômica na região, desde que ocorra uma qualificação na previsibilidade de eventos climáticos extraordinários. “Eu vejo entusiasmo de algumas pessoas arrumando salas, fazendo limpeza, pintura. É uma característica do nosso povo, ser aguerrido e forte. Precisamos unir os interesses para que possamos voltar a ocupar o Centro”.

Alternativas

No debate, outro assunto abordado foi sobre a necessidade de alternativas para serviços essenciais que falharam durante a inundação da cidade. “Se o celular funciona, ok. E se dá problema, qual o plano B, o plano C? São coisas assim que nós precisamos pensar”.

Na mesma linha, Jäeger mostrou preocupação com o abastecimento de água e de energia elétrica nesses períodos. Lembra que um possível plano B, que é a fiação subterrânea, apresentou problemas em Porto Alegre. “As estruturas precisam ser mais resilientes e resistentes”.

Em relação às áreas que não poderão mais ser habitadas, Alves sugere áreas de lazer que possam mitigar danos. “O Ney Santos Arruda, por mais que tenha sido destruído, precisa ser reconstruído, pois é local de contato com o rio. Sempre teremos perdas, mas o investimento que se faz ali é minimamente seguro”.

22 | A HORA Fim de semana, 25 e 26 maio 2024 POLÍTICA
Mateus Souza mateus@grupoahora.net.br Debate dessa quarta focou nos desa os para a reconstrução de Lajeado ELOISA SILVA
Realização
Construtora e Incorporador ARQUIVO

Região registra dois óbitos por leptospirose

São pelo menos 97 casos suspeitos e oito confirmados da doença, que é agravada por situações de calamidade como as cheias

Bibiana Faleiro bibianafaleiro@grupoahora.net.br

VALE DO TAQUARI

A16ª Coordenadoria

Regional de Saúde (CRS) confirmou duas mortes por leptospirose na região (em Travesseiro e Venâncio Aires). Além disso, são 97 casos suspeitos e oito confirmados, de pacientes em tratamento contra a doença. Em meio ao surto de dengue que ainda é presenciado na região, autoridades agora também se preocupam com o aumento da disseminação da leptospirose, agravada pelo estado de calamidade pós-enchente.

Especialista em saúde da vigilância epidemiológica da 16ª CRS, Susane Schossler, destaca que outras doenças que também podem surgir após uma cheia são a hepatite A ou o tétano. De acordo com Susane, até o momento, não há casos suspeitos das doenças no Vale. Ainda, podem surgir casos de acidentes com animais peçonhentos, doenças diarreicas agudas e atendimento antirrábico humano (contra raiva). “A água contaminada das enchentes carrega uma série de agentes infecciosos

Números da doença no Vale

Boqueirão do Leão

Casos suspeitos: 1

Colinas

Casos suspeitos: 3

Cruzeiro do Sul

Casos suspeitos: 5

Encantado

Casos suspeitos: 10

Estrela

Casos suspeitos: 16

Confirmados: 1

Lajeado

Casos suspeitos: 33

Confirmados: 2

Nova Bréscia

Casos suspeitos: 1

Poço das Antas

Casos suspeitos: 1

Roca Sales

Casos suspeitos: 6

Taquari

Casos suspeitos: 10

Confirmados: 1

Teutônia

Casos suspeitos: 6

Confirmados: 1

Travesseiro

Casos suspeitos: 3

Confirmados: 1

Óbitos: 1

Venâncio Aires

Confirmados: 2

Óbitos: 1

cidades com óbitos pela doença cidades com casos confirmados cidades com casos suspeitos

que podem desencadear essas doenças”, reforça.

Sintomas e tratamento

Susane destaca que a leptospirose é uma doença infecciosa e febril aguda, transmitida a partir da exposição direta ou indireta à

É uma doença de alta incidência no contexto de enchentes. O período para surgimento dos sintomas dura em média de 5 a 14 dias após a exposição, mas pode chegar até 30 dias.”

Outras doenças

TÉTANO ACIDENTAL: a infecção ocorre pela contaminação de ferimentos superficiais ou profundos de qualquer natureza. O período compreendido entre o ferimento e o primeiro sintoma pode variar de três a 21 dias. Sempre que houver lesão na pele/mucosa, lavar o local com água e sabão e procurar o serviço de saúde mais próximo.

HEPATITE A: a infecção acontece pelo contato com água ou alimentos contaminados. O risco aumenta em locais com problemas de saneamento básico e inundações próximas a locais com esgoto a céu aberto. A vacina está presente no calendário vacinal para crianças.

urina de animais, principalmente ratos, infectados. O contágio pode ocorrer a partir da pele com lesões ou mesmo em pele íntegra se imersa por longos períodos em água contaminada. Também pode ser transmitida por meio de mucosas. “É uma doença de alta incidência no contexto de enchentes. O período para

surgimento dos sintomas dura em média de 5 a 14 dias após a exposição, mas pode chegar até 30 dias”, destaca a especialista. Ela ainda diz que na enchente de setembro de 2023, foram aproximadamente 300 casos suspeitos notificados na região. Susane ainda diz que quem teve contato com água ou lama da inundação no período de até 30 dias anteriores ao início dos sintomas, e apresentar febre, dor no corpo, especialmente na região lombar e panturrilha, dor de cabeça, vômitos ou pele amarelada, deve procurar um serviço de saúde. “A contaminação pode ocorrer em qualquer época do ano, mas as chances de contágio são maiores quando há inundações, enxurradas e lama. Se houver algum ferimento ou arranhão, a bactéria penetra com mais facilidade no organismo humano”. O tratamento deve ser iniciado no momento da suspeita clínica.

A antibioticoterapia está indicada em qualquer período da doença, mas a eficácia costuma ser maior na primeira semana do início dos sintomas.

Cuidados

Para prevenir o contágio, é importante evitar o contato direto da pele com lama, principalmente se estiver machucada. Utilização de luvas e botas de borracha.

Cuidar na remoção de entulhos, com picadas de animais como cobra, escorpião ou aranha. Além de estar atento a machucados com pregos ou outros materiais que tiveram contato com a água da enchente.

“Lave bem as mãos e outras partes do corpo expostas com água

ACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOS: caracterizamse pelo envenenamento causado pela inoculação de toxinas por meio do aparelho inoculador de animais peçonhentos, como cobras, aranhas e escorpiões. No contexto da calamidade pública causada pelas enchentes, a maior probabilidade é de ocorrência de acidentes com cobras da espécie Bothrops sp (jararacas).

ATENDIMENTO ANTIRRÁBICO HUMANO: é o conjunto de medidas necessárias para prevenção da raiva humana em situações de contato com animais mamíferos, como mordeduras, arranhaduras ou lambeduras em mucosas ou pele lesionada.

DOENÇAS DIARREICAS

AGUDAS (DDA): são síndromes caracterizadas pelo aumento do número de evacuações, com diminuição da consistência das fezes, geralmente líquidas ou semilíquidas, que podem ter duração de até 14 dias.

limpa e sabão para evitar infecções e doenças”, completa Susane. Outra indicação é se certificar de estar com a vacinação contra o tétano em dia.

Casos graves

A Secretaria Estadual de Saúde confirmou a morte de um homem de 67 anos, de Travesseiro, pela doença. Essa foi a primeira morte pela infecção desde o início da enchente de maio. A morte ocorreu na sexta-feira, 17. O segundo óbito pela doença foi de um homem de 33 anos, morador de Venâncio Aires. O município confirmou pelo menos outros dois casos de leptospirose, que já se recuperaram.

A HORA | 23 Fim de semana, 25 e 26 maio 2024 ÁGUAS
PÓS-CHEIAS
Venâncio Aires Boqueirão do Leão SUSANE SCHOSSLER ESPECIALISTA EM SAÚDE DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DA 16ª CRS KARINE PINHEIRO

O recomeço do Ferro & Fogo de Bom Retiro do Sul 365 VEZES NO VALE

Depois de 18 dias parados, o Ferro & Fogo Hambúrguer e Grill retoma as atividades em Bom Retiro do Sul. O recomeço ocorre na modalidade tele entrega e retirada com o cardápio reduzido aos hambúrgueres.

O empreendimento se instalou numa residência histórica do bairro Cidade Baixa em abril de 2023. A casa de 1948 e arquitetura

portuguesa foi totalmente reformada para abrigar a hamburgueria. Em um ano no endereço, foram enfrentadas quatro cheias. No caso da enchente de maio, o nível do rio surpreendeu e alcançou dois metros dentro do prédio. Acostumados com a invasão da água em cerca de 40 e 50 centímetros, os proprietários apenas levantaram os móveis e mantimentos, insuficiente

para evitar a perda. O prejuízo é estimado em R$ 100 mil.

O salão estará fechado por tempo indeterminado. Conforme o proprietário Diego Schmidt, a intenção é reconstruir os ambientes modernos e retomar o atendimento presencial com mesmo nível de sofisticação dos espaços e qualidade dos pratos.

Univates com as cores do RS

Espaço onde se respira arte, o Centro Cultural Univates ganhou as cores da bandeira do Rio Grande do Sul em mais uma ação simbólica para trazer esperança ao povo gaúcho. Na página do Instagram do 365 vezes no vale divulgamos um vídeo de como ficou o imponente prédio com o verde, vermelho e amarelo.

na Cidade

Baixa foi afetado por quatro enchentes no último ano

A hamburgueria iniciou na garagem da família apenas no sistema delivery, formato muito semelhante ao vivido atualmente. Schmidt encara o recomeço com entusiasmo. “Se conseguimos conquistar tudo o que tínhamos, vamos avançar de novo e conseguir até coisas melhores”, acredita.

Mais informações sobre o Ferro & Fogo podem ser obtidas no Instagram oficial @ ferroefogoburguergrill ou no WhatsApp 51 99927-4261.

O Paulo Afonso Dresch registrou essa curiosa imagem do amanhecer em Lajeado na quarta-feira, dia 22. Os contornos das nuvens lembram o formato do Cristo Protetor de Encantado com seus braços abertos. Uma coincidência no curto retorno do sol ao Vale.

Use a #365_vezes_no_vale e compartilhe as belezas da região conosco!

24 | A HORA Fim de semana, 25 e 26 maio 2024 @afonso_dresch
365vezesnovaledotaquari@gmail.com
Hamburgueria de Bom Retiro do Sul retoma as atividades no sistema delivery e focado nos hambúrgueres Centro Cultural Univates está vestido com as cores verde, vermelho e amarelo da bandeira do Rio Grande do Sul Prédio
A HORA | 25 Fim de semana, 25 e 26 maio 2024

O mundo mudou, tchê

Aluta e as perdas foram grandes, e o sentimento de que o nosso mundo mudou, está correto, porém, é preciso retornar à nossa vida. Seguir só lamentando, não nos leva muito longe.

Precisamos chorar as perdas, os amigos e familiares que se foram, mas temos que seguir e proteger os que ficaram.

Se vem mais chuva, nos preparemos, se vem outra enchente,

não devemos ficar no seu caminho, precisamos ser inteligentes e nos adaptar para não corrermos risco de novo, não podemos ser teimosos.

Um amigo me disse.: ” Claiton, viver é todo dia afastar do caminho as pedras que Deus vai botando, testando tua força de sobrevivência, e tu vai encontrando soluções e segue em frente, porém, às vezes, o teste é maior que o do nosso dia a dia,

e ele bota uma pedra tão grande que tu não tens força pra tirá-la do caminho, então, meu caro, este dia tu precisa te adaptar e não tentar removê-la, apenas desvie dela e tome outra direção.” Precisamos desta direção, porque se ficarmos batendo cabeça na pedra ela não vai sair, e tu vai rachar a cabeça. Hoje, o rio nos mostrou que pode ser esta pedra, então precisamos respeitar os seus domínios.

26 | A HORA Fim de semana, 25 e 26 maio 2024
claiton miranda
A HORA | 27 Fim de semana, 25 e 26 maio 2024

105 anos da Emef Dom Pedro I

A escola foi fundada em 25 de maio de 1919 por 14 famílias de origem alemã, que residiam na então chamada Linha São Bento do Sul, hoje, bairro Jardim do Cedro, em Lajeado. As atividades iniciaram em 1920, numa pequena estrutura próxima à atual Igreja São Francisco de Assis. As aulas eram todas em alemão, com 15 alunos,

da 1ª a 4ª série. Naquele tempo, a escola era chamada de Deutsch Evangelische Schule, Escola Evangélica Alemã. O primeiro professor foi Theobaldo Dick, que, na época, dava aulas também no Colégio Alberto Torres. Foi durante a Segunda Guerra Mundial que a escola mudou o nome alemão para Dom Pedro I. Era época do Estado Novo

de Getúlio Vargas e o Brasil fazia parte das nações aliadas contra a Alemanha. Em 1963, a escola passou a funcionar no endereço atual. Uma pequena salinha foi erguida, onde uma professora dava aula para

todas as turmas. Ainda hoje a estrutura existe na escola, no meio do pátio, e serve como sala dos professores. A Emef Dom Pedro I foi municipalizada em 1993 e neste sábado, completa seus 105 anos de história.

Vinte anos atrás, Marques de Souza e Travesseiro não tinham uma ponte operante entre os dois municípios. A estrutura sobre o Rio Forqueta estava pronta, mas faltava um dos aterros, no lado de Marques de Souza. A população improvisava com uma escada de madeira para acessar a estrutura e cruzar o rio. Conforme reportagem da época, o Governo do

Estado ainda não tinha enviado o projeto para a construção do aterro, e as desapropriações ainda não tinham sido encaminhadas. A obra levou anos para ser finalizada, só foi entregue às comunidades em 2006. Vinte anos depois, no dia 2 de maio de 2024, a tão aguardada ligação foi levada embora pela água. Pelo menos, dessa vez, os aterros ainda estão lá.

Sábado é

Dia da Indústria

Dia do Massagista

Dia da Toalha

Dia Nacional da Adoção

Dia Internacional do Sapateado

Dia Internacional das Crianças

Desaparecidas

Dia do Orgulho Geek

Dia da Costureira

Dia Internacional da Tireoide

Dia da África

Santo do dia 25

Santa Maria Madalena de Pazzi

Nacional de Combate ao Glaucoma

do Revendedor Lotérico Santo do dia 26 São Filipe Néri

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A foto mostra a turma de 1941, com o professor Jacob Eggers, em frente à escola

As cidades de Santa

Catarina têm adotado o Rio Grande do Sul, fornecendo equipamentos, voluntários e, acima de tudo, uma imensa vontade de ajudar. Essa mobilização tem sido um exemplo para todo o país e tem dado um novo ânimo às pessoas afetadas pelas cheias. O apoio dos catarinenses não se limita a doações de materiais; voluntários de diversas cidades catarinenses estão se deslocando para as áreas afetadas, trazendo consigo recursos essenciais e um espírito de colaboração que tem levantado a moral dos gaúchos em tempos tão difíceis. As iniciativas de ajuda incluem a reconstrução de infraestruturas danificadas, limpeza de áreas afetadas e apoio psicológico às vítimas. O impacto desse esforço conjunto

FABIANO CONTE

Jornalista e radialista

Apoio dos catarinenses aos gaúchos é exemplo

tem sido profundo, proporcionando um novo fôlego para as comunidades que enfrentam a árdua tarefa de reconstrução. A colaboração entre as duas regiões é um testemunho da capacidade humana de se unir em solidariedade. Enquanto o trabalho de

recuperação continua, o apoio vindo de Santa Catarina serve como um alicerce de força e encorajamento para os gaúchos, reforçando os laços entre os estados e deixando um legado de amizade e cooperação que será lembrado por muitos anos.

Ação humanitária

Uma foto capturada pelo repórter Gabriel Santos revela um momento de humanidade em meio à tragédia causada pelas recentes enchentes e deslizamentos em Arroio do Meio. Na imagem, Dona Eli Wommer, de 85 anos, é resgatada de sua casa no Morro São Roque após um deslizamento de terra ameaçar sua segurança.

O Exército Brasileiro tem desempenhado um papel crucial nas operações de resgate e assistência às comunidades afetadas pelos desastres naturais no Rio Grande do Sul. A imagem de Dona Eli sendo carregada em segurança por soldados no meio da vegetação densa é um testemunho da dedicação dos militares.

Divisão, somente física

Na região da Ponte Seca, na BR386, nos arredores da Havan, apareceu em um dos escombros a frase “Muro de Berlim”. As divisões físicas causadas pela queda de pontes, barreiras e casas destruídas têm sido um grande desafio para a comunidade. No entanto, em meio ao caos, a população demonstra união e solidariedade.

ARTIGO

ROGÉRIO WINK

Empreendedor e comunicador, apresentador do programa “O Meu Negócio”, da Rádio A Hora 102.9

Superando desafios

O atual cenário trouxe desafios imensuráveis para as empresas da região, especialmente os pequenos negócios. Sem o apoio de grandes empresas e fornecedores, muitos empreendedores se encontram em uma encruzilhada, lutando para manter-se de pé e preservar o trabalho que sustentam tantas famílias. Existem caminhos viáveis para a recuperação. Aproveitando a experiência de muitos empreendedores, seguem ações práticas de gestão , com manutenção de funcionários e vendas, sempre respeitando o momento de cada empreendimento e as pessoas envolvidas.

A primeira medida crucial é a gestão eficaz do fluxo de caixa. Sem recursos abundantes disponíveis, cada real conta.

Revise todas as despesas e identifique onde cortes devem ser feitos. Priorize os gastos essenciais e adie os não essenciais. Cada um sabe onde “aperta o sapato “ . Negociar prazos de pagamento mais longos com fornecedores pode aliviar a pressão imediata sobre o caixa.

Procure linhas de crédito especiais oferecidas por bancos, cooperativas de crédito ou os sócios, que atendam a pequenas empresas em emergências. Programas governamentais de apoio financeiro também devem ser uma fonte vital de recursos.

Elabore projeções de fluxo de caixa para os próximos meses, ajustando o orçamento conforme necessário. Isso ajuda a antecipar desafios e planejar ações corretivas com antecedência. Uma planilha Excel resolve isso.

Existem caminhos viáveis para a recuperação.”

Fique perto do seu Contador ele pode fornecer orientação. Manter seus funcionários engajados é fundamental. Eles são a espinha dorsal do seu negócio.

Considere horários de trabalho flexíveis, temporários, banco de horas ou férias para atender às necessidades dos funcionários durante este período. Modelos que foram utilizados na “pandemia” podem ser uteis. Embora os recursos financeiros sejam limitados, apoio logístico e outros mecanismos são importantes para manter o time. Recuperar as vendas é crucial para a sobrevivência de qualquer negócio.

Aproveite o marketing tradicional, contatos com clientes e plataformas digitais para promover seus produtos e serviços (lembre-se de que você é importante para o negócio e a vida do seu cliente) , elas atingem mercados fora dos locais . Campanhas de vendas direcionadas atraem novos clientes e mantem os atuais.

Associações empresariais ( ex Cdl , Acis, Sindicatos…) também oferecem suporte e oportunidades para ações conjuntas .

Sabemos que os tempos são desafiadores. No entanto, é nas adversidades que a verdadeira força e resiliência emergem. A capacidade de inovar, adaptar e persistir é o que nos distingue aqui no Vale do Taquari. Os negócios locais são a base de sustentação da nossa economia.

Lembrem-se de que não estamos sozinhos. Há recursos e pessoas dispostas a ajudar. Busquem apoio .

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FOTOS DIVULGAÇÃO

FILIPE FALEIRO

Jornalista colunafaleiro@grupoahora.net.br

Nas últimas décadas, temos vivenciado uma série de mudanças comportamentais que vêm afetando a configuração das famílias e, por conseguinte, das sociedades. Os casais estão tendo um número cada vez menor de filhos e os tendo cada vez mais tarde. É crescente também o número de pessoas que aderem à tendência childfree (“livre de crianças” ou “sem crianças”, em inglês), ou seja, optam por não ter filhos. Os motivos são os mais variados, como manter a independência, querer aproveitar a vida e poder viajar a hora que desejar, razões financeiras, não se submeter a uma série de sacrifícios que a maternidade e a paternidade impõem, dentre outros.

Mas, também é grande o contingente, sobretudo de mulheres, que ficaram em cima do muro sobre ter ou não filhos e acabaram decidindo tê-los, algumas vezes quando já era tarde. Atualmente, cerca de 15 a 20% das pessoas estão se deparando com dificuldades na hora de engravidar e nos centros de reprodução humana, é comum ouvir manifestações como “fui deixando para mais adiante”, “o tempo passou e não me dei conta”, “busquei primeiro a estabilidade profissional e financeira”, “eu não queria ter filhos naquela época, mas agora eu quero... muito!” e uma outra declaração de pesar que também é frequente: “por que não congelei os meus óvulos antes, enquanto era tempo?” Uma vez que a vida dá voltas e com o passar do tempo muitas vezes mudamos de opinião, a expressão do latim utilizada na área jurídica, in dubio pro reo pode ser adaptada para a área do planejamento familiar. Assim, se hoje cogitamos em não ter filhos ou se há dúvidas, o mais sensato seria pecar pelo excesso e congelar óvulos, para não surgir no futuro uma evitável sensação de arrependimento.

Chegou a hora de falar sobre as responsabilidades?

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Anarrativa insistente do governador Eduardo Leite, de que não é hora de buscar responsáveis pela tragédia de maio, é muito oportuna. Para ele.

Essa culpa também recai sobre outros entes, como no federal. Os municípios também têm alguma parcela. Menor, justo pela estrutura das cidades, que proporcionam pouco o que se fazer.

Do lado de cá do balcão, agora é o momento de falar sobre responsabilidades. A população quer saber, entender e ter garantias de que as falhas não vão se repetir. Cabe o adendo, em setembro já se falava em “virada de chave”. Que era algo extraordinário, e que não aconteceria de novo.

O resultado não foi esse. Foi pior. A tragédia, as mortes, os desaparecidos, as casas, as empresas, a economia, as estradas estão aí para contar essa história.

Temos de apontar o dedo e cobrar essas respostas (veja ao lado):

MUNICÍPIOS

- Falta de profissionalização das defesas civis; - Zoneamento urbano feito sem planejamento para catástrofes climáticas;

FEDERAL

- Políticas nacionais sem previsibilidade dos colapsos causados pelas mudanças climáticas;

- Falta de incentivos para uso de combustíveis renováveis e para geração de energia limpa;

- Lula demora para incluir adaptação climática no Programa de Aceleração do Crescimento;

- Oito meses depois, o governo federal ainda não liberou o novo sistema de alerta de desastres. Ministro Waldez Goes afirmou que a ferramenta estava pronta durante ato em Lajeado no mês de março.

ESTADUAL

- O governador Eduardo Leite demorou para comunicar a tragédia. - O alerta foi feito em 26 de abril. Três dias depois, durante a noite, ele faz um vídeo sem orientações claras à população;

- Demorou também em cobrar o governo federal para envio de helicópteros e da força nacional para socorro das vítimas;

- Ao longo da primeira gestão, provocou um verdadeiro desmonte das leis ambientais. Criou o autolicenciamento. Em que as atividades comerciais poderiam instalar unidades, com supressão de vegetação, desde que escrevessem um formulário se comprometendo em compensar o impacto ambiental.

- Ignorou os estudos técnicos sobre aumento dos níveis de chuva. Para se ter uma ideia, nos últimos 12 anos, em 90% das cidades atingidas pela inundação, houve decretos de emergência devido à incidência de chuvas com muito volume.

Fugir da conversa

Quem mente que não há aquecimento global tem tudo para fazer sucesso na internet. E o argumento da vez é a inundação de 1941. Falácias de que eventos extremos sempre aconteceram servem de justificativa para quem tem preguiça de pensar. É mais fácil continuar fazendo tudo como sempre do que reconhecer que os cientistas estão certos há muitas décadas. É

mais cômodo negar o problema e dizer que não existe influência humana na maior incidência de episódios extremos no Brasil, no RS e no mundo. No centro do país e nos bastidores do poder em Brasília do Congresso Nacional, qualquer discussão para fugir da pauta das mudanças climáticas faz sucesso entre os negacionistas. Teve político que atribui a “castigo Divino” devido ao show da

Madonna no Rio de Janeiro. De que a performance da cantora foi um “ritual satânico” tendo como oferenda os corpos da vítima da inundação no RS. É inacreditável. Isso é desvio de foco. É falar sobre qualquer outra coisa. Menos do que interessa. Agora, a pauta sobre o futuro é essa: como o Brasil, o RS e as regiões atingidas vão se adaptar frente a nova realidade climática?

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Pensa em não ter filhos (ou está em dúvida)... então congele seus óvulos
23/05/2024 23:13 LULA no Rio grande do Sul.jpg
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Fim de semana, 25 e 26 maio 2024

Fechamento da edição: 19h MÍN: 8º | MÁX: 14º

massa de ar polar define as condições do tempo na Região. O dia começa com temperaturas baixas e há possibilidade de geada nos pontos mais altos da Região.

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