AH - Caderno Especial 192 Colonização Alemã| 06 e 07 de agosto de 2016

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A Hora. Agosto de 2016

A origem da arquitetura enxaimel

Rota do Enxaimel

ANDERSON LOPES

Parque Histórico de Lajeado adapta área pública ao estilo de edificações trazidos pelas famílias germânicas

O

atendimento do governo para assentar os primeiros imigrantes alemães em São Leopoldo foi muito demorado. Os lotes coloniais não estavam medidos. Faltavam abrir piques e estradas, entregar instrumentos rurais, sementes e alimento às famílias. O governo imperial estava muito mais preocupado em salvar o território da Província Cisplatina por falta de soldados no seu exército. Por isso, aguardava mais jovens da Alemanha. No decorrer do tempo, os imigrantes começaram a construir suas casas e escolas. O estilo enxaimel (fachwerk em alemão) foi o que mais se destacou. O prefixo fach significa preenchimento. Uma técnica de construção que consiste em paredes montadas com hastes de madeira encaixadas entre si em posições horizontais, verticais ou inclinadas, cujos espaços são preenchidos em geral

O historiador José Schierholt morou em uma casa de esquina durante uma década (de 8 de dezembro de 1971 a 20 de outubro de 1982 ) no atual Centro Histórico de Lajeado. O início da vida comercial de Lajeado se deu nesse lugar. Um prédio na esquina em frente à antiga sede da Companhia de Navegação Arnt, na rua Osvaldo Aranha, esquina com a rua General Osório, chamou atenção. “Este foi o mais antigo prédio enxaimel existente da cidade.” Quando Jacó Felipe Hexsel comprou o Engenho/Serraria de Antônio Fialho de Vargas, em 1872, o vendedor cumpriu a promessa de ampliar o porto de Lajeado, pois as lajes e pedras na foz do Arroio Lajeado (hoje Arroio do Engenho) impediam a subida de barcos maiores pelo Rio Taquari, que precisavam rumar ao sobrado de Fialho de Vargas, no paredão em Conventos Velho, hoje bairro Carneiros. Por isso, contratou o engenheiro Luís Jaeger a construir no início de 1873 este prédio na esquina do antigo centro comercial. Em 7 de outubro daquele ano, uma enorme enchente cobriu os fundamentos do prédio. Jaeger aumentou a altura do alicerce, colocando as famosas janelas ovais para ventilação do porão. O assoalho ficou acima da marca da enchente, uma das maiores de todos os tempos. O prédio ficou pronto no ano seguinte. Conrado Frederico Sudbrack, nascido em 1825, em Bielefeld, Alemanha, foi o primeiro a morar nele. Chegou como imigrante brummer ao Brasil, em 1851, para comandar o barco de Antônio Fialho de Vargas. Comerciante por vários anos, casou-se com Elisabeta Dhein e morreu em 1898. Um ano antes de sua morte, o prédio foi escriturado por Félix Kuhl, empresário comercial vindo de Cruzeiro do Sul. Logo depois, Feliz Kuhl vendeu o prédio para a Companhia de Navegação Arnt. Ele passou a abrigar a família da empresária. Em 2000, o historiador Wolfgang Hans Collischonn, auxiliado por Günther Heinz Richter, publicou o livro Arquitetura em Enxaimel, em edição bilíngue, português e alemão. Foi feito um levantamento fotográfico e descritivo de 90 casas em Lajeado, 113 em Forquetinha e 25 em Canudos do Vale, totalizando 228 moradias em estilo enxaimel, todas muito antigas. O autor desse documentário, tão rico em dados, propõe o sonho de um roteiro turístico, denominado pelo professor Collischonn como Rota do Enxaimel. Para o Parque Histórico de Lajeado, foram transferidas 17 dessas casas. O parque foi inaugurado em 8 de dezembro de 2002. O mesmo fenômeno arquitetônico se deu em Estrela, Teutônia, Westfália, Imigrante, Colinas, Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul, Santa Clara do Sul e outros municípios do Vale.

Após pegar fogo, prédio construído por imigrantes foi demolido em 98

por pedras ou tijolos. Os tirantes de madeira dão estilo e beleza às construções do gênero, produzindo um caráter estético privilegiado. Outras características são a robustez e a grande inclinação dos telhados. A umidade característica da região sul impôs a necessidade de implantação de uma estrutura feita de pedra, afastando o contato direto com o chão, para a madeira não apodrecer.

Primeiro projeto arquitetônico de estilo enxaimel

Ainda que normalmente se faça uma ligação natural entre o enxaimel e a Alemanha, a ver-

dade é que o estilo não tem uma origem determinada. Embora seu desenvolvimento maior tenha sido em território germânico e regiões vizinhas, especialmente no período renascentista, se sabe que o povo etrusco, habitante da região da península itálica, já praticava a técnica desde o século VI a.C. Além de fortes, as casas eram baratas e de construção simples. As toras grossas de madeira eram postas primeiro. Entre

as vigas verticais e nas extremidades das paredes, eram colocadas as horizontais. Algumas em ângulo para evitar inclinação. Pronta a “caixa”, os espaços eram completados com materiais disponíveis de acordo com a região: no RS, há fechamentos com taipa, barro socado, tijolos maciços rebocados e até mesmo pedras grés cortadas. Em Santa Catarina, há maior ocorrência de tijolos maciços sem uso de reboco.


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