JORNAL 40º

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Vida de pescador

Brasileiros cruzam a fronteira para estudar Medicina

Pesca garante sustento de ribeirinhos do rio Uruguai

p 12 e 13

Produção dos alunos do curso de Jornalismo

Unipampa São Borja - Fevereiro de 2023

Mercado informal fomenta a economia

Comércio alternativo é opção para desemprego e baixos salários - p 4 e 5

Saúde e bem-estar

Terapias alternativas previnem doenças e cumprem função social

Clínicas fitness

Emagrecimento “saudável” pode ser uma pegadinha para seu corpo

Empreendedorismo

Brechós geram renda e contribuem para uma economia sustentável

Vinhos e turismo

Desfrute do roteiro da vitivinicultura na fronteira oeste - p 20, 21 e 22

Roteiro gastronômico

Futebol

União samborjense mantém elenco e busca Série Prata em 2023

Crônicas

Ensaios literários em crônicas sobre o intangível

As delícias da panificação argentina que conquistam paladares - p 18 e 19

JORNAL 40 GRAUS, UNIPAMPA SÃO BORJA,
DE 2023
FEVEREIRO
Fugindo
do Real
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10 e
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Foto: Divulgação Barceló Foto: Leandro Oliveira Foto: Diogo Trindade Foto: Maria Eduarda Cogo Foto: Caroline Menegassi

Poluição:

O jornal 40 graus é uma produção experimental desenvolvida por alunos do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). A edição é resultado dos trabalhos realizados nos componentes curriculares de Produção de Jornal e Editoração em Jornalismo, ministrados pelos professores Leandro Ramires Comassetto e Eloísa Joseane da Cunha Klein. A concepção do jornal tem como base a aplicação do aprendizado e a promoção da atividade prática em jornalismo, servindo como um laboratório aos estudantes.

O nome do jornal é uma alusão às altas temperaturas registradas em São Borja. O atraso do calendário acadêmico ocorrido no atual ano letivo, devido à pandemia, impôs a recuperação das aulas justamente nos meses mais quentes do ano, submetendo professores e alunos ao intenso calor enfrentado da cidade, que figura entre as mais quentes do Brasil nesta época, podendo atingir ou até mesmo ultrapassar os 40°.

As produções foram construídas nos moldes de reportagem, pelo aprofundamento que este gênero permite e também por sua perenidade, isto é, as matérias não perdem a validade de um dia para o outro, como é o caso das notícias factuais. As pautas foram pensadas e definidas levando-se em considerações peculiaridades e problemáticas relacionadas à comunidade local, considerando a relevância, utilidade e interesse social. As editorias trabalhadas foram definidas a partir da convencionalidade aplicada nos principais veículos de impressos do país.

Nesta edição, o leitor vai encontrar matérias sobre o comércio alternativo em São Borja, os ribeirinhos que vivem da pesca, os brasileiros que atravessam a fronteira em busca do diploma de Medicina, as terapias alternativas que previnem doenças, as armadilhas dos tratamentos em busca do corpo “ideal”, os preparativos do União São Borjense rumo à Série Prata, os brechós que geram renda e contribuem para uma economia sustentável, o roteiro da vitvinicultura na fronteira Oeste e as delícias da panificação argentina, entre outros atrativos.

Boa leitura!

Expediente

O Jornal 40° é uma publicação dos componentes curriculares de Produção de Jornal e Editoração em Jornalismo, do curso de Jornalismo da Unipampa – São Borja.

Professores responsáveis: Eloísa Joseane da Cunha Klein e Leandro Ramires Comassetto

Editor: Diogo Trindade

Redação, diagramação e edição: Andriel Ferreira da Rosa Martinez, Arthur Gemelli Pereira, Arthur Gomes Fascina, Bruna Raisa Meredick Pelisari, Bruno Rocha Pereira, Caroline Dumke Menegassi, Carolina Santos Tenório, Diogo Trindade, Eduarda Vaqueiro Medina, Flávia Carolina Fernandes de Andrade, Gabriela Azevedo Molina, Gustavo Fernandes Caetano, Helena Carpes Biasi, Iasmin Pinto de Moura, João Gabriel Tobias Rangon, João Victor Menezes Borges, Julia Luiza Oliveira Carvalho da Silva, Larissa Correa Xavier da Silva, Leandro dos Santos Oliveira, Luciane Borges Mancilia, Marcus Vinicius Teles da Cunha Fao, Maria Eduarda Correa Cogo, Maria Eduarda Dantas Caetano, Maria Eduarda Ferreira dos Santos, Nathalia Uryu, Pedro da Silva Albarnaz, Renata Pinto Marques, Sadira Iang Miranda de Souza e Thamires Almeida Freitas.

JORNAL 40 GRAUS, UNIPAMPA SÃO BORJA, FEVEREIRO DE 2023

Matar ou morrer? Não, matar e morrer!

Foto: Juliano Jaques/Correio do Povo

São Borja acima dos 40°: as temperaturas nunca foram tão altas

Ar limpo. Água potável. Solo fértil. Alimentos orgânicos. São desejos que já fazem parte da realidade de muitos. E considerando a quantidade de lixo produzida diariamente, a destruição da camada de ozônio, o desperdício e contaminação de água doce, e inúmeras outras formas de antecipar a extinção humana, daqui a pouco será desejo de todos.

Se hoje comemos pepino, amanhã comeremos agrotóxicos? Não. Hoje comemos agrotóxicos, e amanhã não comeremos nada.

Inúmeros projetos para conter o aquecimento global, com data e tudo, são os post pulados no twitter e as matérias ignoradas nos veículos noticiosos. O ano da salvação mundial ou do prazo final, 2030, é só daqui a 10 anos. E mesmo quando as pessoas mais empenhadas apenas dão uma olhada e compartilham - o que já é alguma coisa, elas nem param para pensar em suas próprias ações. Reciclar, não desmatar, impedir as queimadas, cuidar da água. Completamente esquecidos.

Opa, o mundo vai acabar! As geleiras estão derretendo! O verão deste ano foi o mais quente em décadas!

O mundo não vai acabar, o planeta Terra tem muito o que girar ainda, mas a impossibilidade de o ser humano continuar vivendo tá batendo na porta. Tudo passa em branco. Branco em suas mentes. As árvores vão continuar queimadas, e o plástico mal tem prazo para começar a se deteriorar. Não se atentar a

suas próprias ações está no menu de escolhas da maioria das pessoas. Poucos assuntos recebem valor, mas isso depois de tentar receber atenção por anos.

Usar canudo de plástico? Jamais! As pobres tartarugas...

Agora fazer fogueira de São João e acender lareira dá em alguma coisa? Magina!

Com os ricos, como o caso dos donos de fábricas, estar ciente de suas ações e quais impactos causam no mundo é o de menos com o tanto de dinheiro que ganham em cima disso. Envenenando a si mesmos, pois por mais que estejam em suas mansões com ar purificado e alimentos orgânicos, sem o menor risco a sua saúde, o planeta terra vai ficando inabitável para a humanidade. Então, mesmo aqueles com mais recursos, em um futuro “apocalíptico”, não adiantará de nada o dinheiro no bolso, pois tudo se acabará.

Do que adianta cuidar do meu sem cuidar do nosso?

Fazer lançamentos de produtos ecossustentáveis por marketing, mas continuar descartando os resíduos sólidos de suas empresas em rios acaba pondo tudo na mesma balança. Trará mais lixo e mais mortes.

A poluição não será um prato que comeremos frio, pois mesmo que não tenha como fazer fogo para esquentar, você não precisa comer, se não tem nem ar para respirar. Poluição mata, e você deveria procurar não morrer.

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opinião
EDITORIAL

Argentina atrai brasileiros para cursar Medicina

Barceló, de Santo Tomé, fronteira com São Borja, é uma das universidades preferidas

Por: Arthur Gemeli, Arthur Fascina, João Victor Menezes e Maria Eduarda Caetano

São Borja é conhecida por ser a capital nacional do fandango e a terra dos presidentes e também por estar localizada na divisa entre o Brasil e a Argentina. A cidade se encontra às margens do Rio Uruguai, que forma fronteira natural com a cidade argentina de Santo Tomé. Os municípios estão ligados pela Ponte Internacional da Integração, em castelhano, Puente de la Integración, favorecendo o trânsito de mercadorias. Além do comércio, a educação também uniu os dois países. No lado argentino da ponte está localizada a Fundación Barceló, um instituto universitário de ciências biológicas fundado em 1996 que oferta, entre outros cursos, a graduação em medicina. Com mensalidades muito abaixo das universidades brasileiras, sem a obrigatoriedade de

prestar o vestibular, o Instituto argentino é muito visado por alunos brasileiros que buscam o tão sonhado diploma de medicina. “O curso é muito bom! Bastante rígido. Ou você estuda ou estuda, o que no futuro pode resultar em um excelente médico. A estrutura da faculdade também é boa”, relata uma estudante brasileira, natural do Rio Grande do Sul, egressa da Fundación Barceló.

Tal experiência, possível graças a facilitação burocrática do Mercosul, promove uma troca cultural riquíssima, ampliando os horizontes e possibilidades dos alunos.

Ela conta que escolheu a universidade argentina pela proximidade de sua terra natal, além das baixas mensalidades. “Meu pai queria que eu fizesse medicina. Eu ia fazer em uma particular no Brasil, porém perdi as inscrições do vestibular.

Meu pai disse então para eu fazer na Argentina e depois tentar no Brasil. Queria fazer em Buenos Aires, porém muita gente da minha região vem para Barceló pela curta distância”, acrescenta.

Mas nem tudo é fácil para os brasileiros em Santo Tomé. Muitos estudantes relatam falta de segurança e dificuldades de adaptação na cidade e no instituto, reforçado pela diferença cultural e linguística. “Não me sinto muito bem recebida pelos argentinos, sinto uma antipatia por parte deles. Não são todos, claro. Alguns são muito legais. Porém muitos se omitem de prestar um serviço melhor por conta de sermos brasileiros” diz um outro aluno catarinense, de 20 anos.

Para aqueles brasileiros que pensam em estudar na Argentina, alguns pontos devem ser levados em consideração. É importante ter um entendimento básico de espanhol e saber que são necessários documentos específicos para realizar todos os trâmites legais.

‘Apesar de sermos irmãos latino-americanos e compartilharmos diveras semelhanças, é preciso ter em mente que o ensino e a cultura argentina são diferentes das nossas, podendo levar tempo e esforço para se adaptarem.

Entre pontos positivos e ne-

gativos, muitos relatam que a experiência de estudar fora do país é muito engrandecedora. Tal experiência, possível graças a facilitação burocrática do Mercosul, promove uma troca cultural, amplia os horizontes e possibilita aos alunos a familiarização com um novo idioma.

Quanto investir?

Um estudante gasta, em média, 40.000 pesos mensais para estudar na Argentina. Na cotação atual, aproximadamente 800 reais de mensalidade. Muitos optam por morar no Brasil, na cidade de São Borja, que fica a apenas trinta minutos da faculdade. O custo do transporte diário varia entre 30 e 40 reais.Para quem opta pelo coletivo, o valor é de R$ 10. O pedágio varia de acordo com a cotação e a variação do peso argentino.

Os que decidiram morar no lado argentino, por sua vez, gastam em torno de 400 reais de aluguel, mais alimentação, cujo custo é similar ao brasileiro.

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O Revalida, prova que subsidia o processo de revalidação de diplomas de médicos formados no exterior e querem atuar no Brasil, Fundación Barceló tem taxa de aprovação de 82%.
“Escolhi a Barceló por indicação de um amigo e também pela proximidade da sede com o Rio Grande do Sul. Fica mais fácil ver a família e os amigos” diz uma estudante da instituição.
Foto: Divulgação Barceló
educação
Fundación Barceló oferece o curso de Medicina desde 1996

Feirantes e ambulantes movimentam a economia

O comércio alternativo, na cidade de São Borja, torna-se uma eficiente opção para enfrentar o desemprego e a baixa média salarial

Feirantes comercializam produtos no mercado público da cidade, oferecendo frutas, legumes, carnes, queijos...

Por: Andriel Martinez, Diogo Trindade e Gustavo Fernandez

Aescassez de oportunidades e a baixa perspectiva de evolução profissional fazem com que iniciativas individuais estimulem o mercado de trabalho informal na cidade de São Borja, Tornando-o fundamental para a saúde econômica local.

O município, que tem população de 61.671 habitantes (dados do último censo - 2010), registra apenas 10.411 empregos formais, isto é, com carteira de trabalho assinada, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). E o salário médio mensal dos trabalhadores formais é de 2,2 salários-mínimos.

No dia 18 de novembro de 2022, o Sistema Nacional de Emprego (SINE) ofertava 11 vagas de emprego, em ocupações distintas. Enquanto algumas vagas são preenchidas, outras são ofertadas. As vagas que surgem a cada dia não são suficientes para suprir a demanda da população desempregada.

O setor que mais gera oportunidades na cidade é o de serviços, empregando 3.405 trabalhadores; seguido pelo comércio, com 3.355; e pela agropecuária, com 1.400 empregados.

Frente às poucas oportunidades e a baixa média salarial, apresenta-se o comércio alternativo, e este,

em alguns casos, acaba sendo mais lucrativo que o próprio mercado formal.

O vendedor ambulante Leonardo de Melo dos Santos optou pela informalidade. O ex-pizzaiolo largou o emprego com carteira assinada para vender caixas de morangos, ameixas e pêssegos.

“Hoje, prefiro trabalhar assim”. Leonardo relata lucrar, mensalmente, mais do que o dobro do que ganhava em seu emprego anterior.

Mercado público

O Mercado público de São Borja, localizado na rua Venâncio Aires, é uma importante ferramenta para impulsionar o co-

mércio alternativo e dar oportunidade aos pequenos produtores de venderem suas mercadorias.

São mais de 10 estandes, onde os feirantes expõem seus produtos. O mercado oferece ao público itens diversos, como frutas, legumes, mel, carne, ovos, queijos, leite, pães, cucas e bolos.

O feirante e produtor rural Jorge Antônio Zuliani Possi comercializa no

Mercado desde sua fundação. Seu principal cultivo é a mandioca, mas também produz legumes, hortaliças e frutas. Contudo, o pequeno produtor, que faz uso de aproximadamente 25 hectares de terra, relata ter enfrentado dificuldades frente ao uso inadequado de defensivos agrícolas, por parte de grandes produtores que cultivam em áreas próximas às suas.

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economia
Fotos: Gustavo Fernandes Mercado público favorece pequenos produtores

A VISÃO DA PREFEITURA

APrefeitura e as instituições de pesquisa não tem informações precisas sobre o índice de desemprego do município, tampouco sobre o número de trabalhadores informais. Contudo, está a par de tais questões. Segundo a Secretária de Desenvolvimento Social, Luciane Bidinoto, dois fatores influenciam os trabalhadores a optar pelo comércio alternativo. Um deles é o baixo número de oportunidades no mercado de trabalho formal. O outro é a falta de qualificação dos candidatos que buscam as vagas. Dessa forma, as ofertas acabam não sendo preenchidas, ou sendo preenchidas por um curto espaço de tempo.

Com o intuito de solucionar o problema, dentro da Secretaria de Desenvolvimento Social há um departamento responsável por tratar da profissionalização dos candidatos. Diversos cursos (padaria, costura, informática, solda, etc.) são oferecidos, periodicamente, por servidores da própria Prefeitura ou através de parcerias com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC).

As vagas para os cursos são preenchidas, majoritariamente, por mulheres, chefes e responsáveis pelo sustento de suas famílias. Após a conclusão do curso, os participantes estão aptos a executar e trabalhar com aquilo que foi estudado, até mesmo, em sua própria casa, de forma informal, mas com a possibilidade de gerar renda.

Posteriormente, um novo curso é ofertado, desta vez, com a intenção de capacitar e encorajar os participantes a abrir suas próprias empresas e formalizar suas atividades, dando continuidade ao empreendimento.

Perfil do trabalhador

WILTON KELLE ARAÚJO

O Vendedor ambulante comercializa diversos itens artesanais, como redes e chapéus.

É natural da Paraíba e está no Rio Grande do Sul a trabalho há um ano, aproximadamente. Seus rendimentos são destinados ao sustento da família.

Quando, eventualmente, vende todos os seus produtos, retorna ao seu estado para reabastecer o estoque. Mas na maioria das vezes seus produtos chegam através de transportadoras.

JORGE ANTÔNIO ZULIANI POSSI

O produtor trabalha no Mercado Público há mais de trinta anos.

Cultiva cerca de 25 hectares de terra, onde produz legumes, hortaliças e frutas. Ocupa-se todos os dias, dividindo seu tempo entre a produção e a venda. No Mercado, expõe seus produtos três vezes na semana, e nos outros dias se dedica exclusivamente à plantação. Seu faturamento é suficiente para cobrir as despesas e suprir suas necessidades.

LEONARDO DE MELO

O vendedor ambulante, natural de Carazinho, viaja periodicamente a São Borja para vender pêssegos, ameixas e morangos.

Também comercializa em outras cidades da região. E coleta seus produtos com pequenos produtores locais.

Normalmente, trabalha durante o dia e viaja à noite. Dorme poucas horas por dia. Apesar da rotina exaustiva, mostra-se satisfeito com os resultados.

JANAINA OLIVEIRA

A feirante trabalha no Mercado Público há, aproximadamente, sete anos.

Vive no assentamento Cristo Redentor, onde cerca de quinze famílias residem e cultivam juntas. Produzem, principalmente, legumes, frutas, ovos, leite e derivados.

O faturamento que as vendas proporcionam é responsável por manter sua família, composta por sete pessoas, além de levar benefícios para o assentamento como um todo.

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Fotos: Diogo Trindade

saúde todo dia

Tratamento alternativo se populariza e conquista profissionais e clientes

Cresce o número de pacientes que buscam terapias para o bem-estar

Foto: Internet

Por: Julia Luiza

Oliveira, Luciane

Mancilia, Flavia Carolina Andrade e Madu Sanffer

Ao longo das nossas vidas somos apresentados a possíveis formas para prevenir e tratar doenças, seja com uso de medicamentos que compramos em farmácia e/ ou remédios que também podem ser caseiros. Essas variedades de práticas entre a medicina convencional e alternativa é conhecida como a medicina complementar ou integrativa, sendo que ambas são utilizadas como tratamento para algum tipo de enfermidade.

A medicina alternativa tem como característica não usar medicamentos farmacêuticos ou intervenções que normalmente fazem parte da medicina convencional.

Em tal medicina existem vários tipos profissionais que atuam com técnicas e tratamentos distintos, considerando acima de tudo cuidar do bem estar do paciente e investigar a causa do problema da forma menos invasiva possível.

Terapia holística

A terapeuta holística Alessandra Passos trabalha em São Borja desde 2019 e ressalta que a medicina integrativa está começan -

Ervas e folhas são maceradas para a obtenção dos extratos

do a se popularizar na região, enquanto em outros estados do país já é bem mais difundida. Ainda relata que sentiu uma boa aceitação da população e dos médicos com os quais trabalha. Formada em Letras e Direito, optou por seguir carreira na área da medicina alternativa fazendo cursos e realizando uma pós-graduação em naturopatia. Ao todo, já são seis anos de cursos profissionalizantes na área.

A profissão de terapeuta holística foi regulamentada através da ABRATH. Rocha pontua que alguns clientes chegam ao consultório já com acompanhamento da medicina convencional e outros sem qualquer tipo de auxílio.

Tratamentos paralelos em uma constante evolução e expansão de consciência que propicia uma forma de autoconhecimento e de aprender e gerenciar suas emoções. Aconselha-se que, em primeiro momento, o paciente faça uma sessão por semana, até aprender a lidar melhor com sua problemática e este intervalo de tempo entre os encontros se torne maior.

“Quando necessário um tratamento de teor físico, há o encaminhamento do paciente para um médico convencional, sempre dando preferência para aqueles que atuam junto da medicina integrativa”, afirma. A terapeuta ainda problematiza a questão de muitos chegarem ao consultório achando que todos os seus problemas irão sumir; aponta que, se a pessoa não tiver um pensamento positivo e não busca situações que façam ela se sentir melhor, provavelmente a terapia não vai surtir tanto efeito.

Logo, o trabalho das terapias holísticas integrativas deve ser feito de forma contínua

“Por vezes, se trata de um problema muito pontual e, quando resolvido, o cliente acaba sumindo por seis meses ou mais e, quando acontece outro ponto sensível na vida dessa pessoa, ela irá desabar e precisar de ajuda novamente, o que faz com que ela regresse com outra questão”, conclui.

É uma terapia natural que tem o objetivo de prevenir a manifestação no corpo físico das energias mal qualificadas, tratar as que já se manifestaram e equilibrar o sistema energético.

É uma técnica que consiste na imposição de mãos para transferência de energia, pois acredita-se que desta forma é possível alinhar centros de energia do corpo, conhecidos como chakras, promovendo o equilíbrio energético.

Inspirada na terapia milenar chinesa, a auriculoterapia , embora possa utilizar agulhas, não causa nenhum desconforto. Alivia dores do corpo e da alma, sem efeito colateral nem dependência química.

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JORNAL 40 GRAUS, UNIPAMPA SÃO BORJA, FEVEREIRO DE 2023 Cura prânica Auriculoterapia Reiki

Os florais de Bach, ou terapia floral, são um tratamento alternativo ou complementar usado para curar emoções negativas e proporcionar bem-estar emocional e físico.

Práticas alternativas ganham espaço em tratamentos convencionais

É um sistema de medicina energética que utiliza a prana ou energia vital para equilibrar, harmonizar e transformar os processos bioquímicos do corpo.

A utilização dos procedimentos movimenta o comércio

Fitoterapia é a utilização de plantas para o tratamento de doenças. Todo produto farmacêutico, seja extrato, tintura, pomada, ou cápsula, que utiliza como matéria-prima qualquer parte de uma planta com conhecido efeito farmacológico, pode ser considerado um medicamento fitoterápico.

No âmbito convencional, a médica e clínica geral Diacui Rocha dos Santos afirma ser a favor da medicina integrativa, tendo em vista que os tratamentos tradicionais passaram por muitas fases evolutivas. Declara ver com bons olhos o Sistema Único de Saúde (SUS) utilizando técnicas da medicina em questão nos seus tratamentos. Enfatiza que a complementação de ambos os procedimentos é muito importante, já que tanto o corpo quanto as doenças passaram e passam por transformação.

“A medicina integrativa é muito bacana porque trabalha na prevenção, respeitando os limites do corpo. Inclusive o SUS, agora, incorporou algumas alternativas que antes não tinha. Hoje, em São Borja, temos a auriculoterapia, algumas

massagens, reiki...”

Eram coisas que antes pareciam inviáveis para nós aqui no Brasil. No Oriente se trata de uma prática milenar, é bacana que o SUS já esteja incorporando.

Preconceito

Todavia, ainda há muitos preconceitos relacionados com a medicina alternativa e dentro desta também há outra categoria chamada medicina natural. Na cidade ela é muito presente por se tratar de uma população muito apegada à cultura e crenças. Aqueles com idade mais avançada são os que mais têm conhecimento e sabem identificar as propriedades das ervas utilizadas para chás, remédios e xaropes.

“Vou dar uma con-

tinuidade ao que meu pai já fazia, com a produção de xaropes e sua distribuição para a comunidade.”.

O proprietário da loja de utensílios religiosos Rogério Taschetto conta sobre a venda de itens relacionados à medicina alternativa e natural, afirmando que ampliou a variedade de produtos por orientação de sua ex-sócia, devido ao aumento na procura por artigos que abrangessem técnicas como, por exemplo, a do reiki, que teve grande crescimento na cidade.

“O que mais sai são os cristais para a prática do reiki, assim como os artefatos das religiões orientais. As essências normalmente são para a aromatização do ambiente, pois não trabalhamos

com a linha de essências para tratamento, pois temos dificuldade em conseguir esses produtos. Os chás são direcionados para a cura digestiva e infecções.”

Tendo em vista que, na atualidade, há muitas patologias, é importante entender que ambas as medicinas se complementam, gerando um equilíbrio físico e emocional. Um exemplo disso ocorreu durante a pandemia, o método convencional foi essencial para o refreamento do vírus; porém, em seu decorrer, muitos adquiriram problemas psicológicos desenvolvidos pelo isolamento social e o luto. Muitos encontram refúgio em técnicas integrativas para se manterem estáveis para enfrentarem as situações.

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Rogério Taschetto, da Flora e Xangô, ampliou variedade de produtos que comercializa Fitoterapia Florais de Bach Psicoterapia pranica Foto: Flávia Carolina

Pastoral do Passo produz remédios caseiros e atende a população carente

APastoral da Saúde do bairro do Passo é vinculada à Paróquia Imaculada Conceição, em São Borja, e presta suporte à saúde pública através da medicina natural há mais de 30 anos, contribuindo socialmente com o cuidado, principalmente, da população mais carente. As voluntárias têm conhecimento sobre ervas medicinais, remédios e tratamentos caseiros e cultivam os ingredientes necessários para produzi-los nos fundos da Pastoral.

Marlene Moiano é a coordenadora do projeto, formado apenas por mulheres. Com o intuito de prestar um serviço de qualidade, oficinas de aprendizagem, constituídas por treinamentos de primeiros socorros e assistência por meio de materiais comuns presentes em casa, preparam a equipe e a comunidade, que pode participar dos cursos conforme a agenda, necessitando colaborar com um valor simbólico para arcar com os custos da

prática. A distribuição dos remédios também é feita a preço acessível, variando de R$ 3,00 a R$10,00 ou por trocas de doações, que são utilizadas para a manutenção da produção.

Xaropes, expectorantes, chás e procedimentos caseiros são os mais procurados.

Projeto Independente

A Pastoral não tem vínculo governamental e conta com a ajuda da Igreja, que dis -

ponibiliza o espaço, e da população, que já se sensibilizou pela causa e pelo trabalho exercido e contribuiu para a reforma do local, cerca de 2 anos atrás. Luís Padilha, Fernanda de Zorze e Paulo Guedes foram responsáveis por uma dessas restaurações.

“A Fernanda, minha esposa, era mestranda da Pós-Graduação em Políticas Públicas na Unipampa. Uma das cadeiras que ela cursava era sobre práticas culturais e medicina alternati -

va. Com interesse em criar um artigo sobre o assunto, foi entrevistar a Pastoral da Saúde do Passo e se deparou com a precarização do ambiente em que aquelas mulheres trabalhavam”, comenta Padilha.

Fernanda e Luís mobilizaram um grupo de pessoas e empresas para realizar um brechó solidário e oferecer mão-de-obra para arcar com os reparos urgentes do local. Após esse movimento ser bem sucedido, planejaram

outros três, que arrecadaram o dinheiro necessário para trocar forros, pisos, reformar paredes e pintar a Pastoral. No outono de 2022, a Pastoral da Saúde retribuiu essas ações ao doar 4 caixas cheias de roupas e acessórios para a Unipampa, que promoveu um brechó solidário para a arrecadação de roupas para os alunos vindos de outros locais, no início do semestre presencial em São Borja.

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JORNAL 40 GRAUS, UNIPAMPA SÃO BORJA, FEVEREIRO DE 2023 Remédios caseiros são produzidos pela própria Pastoral Entidade produz variedade de chás e ervas Pastoral da Sáude localizada no bairro do Passo, próxíma ao ginásio Cleto Dória de Azambuja Fotos: Luciane Mancilia
saúde todo dia
Entidade atua há mais de 30 anos de forma voluntária e independente

Cooperação na horta e no laboratório

Produtos de baixo valor para atender a todos

À esquerda, cones hindus, que são utilizados na limpeza de ouvidos, realizada pela voluntária Geni Vepo, que domina essa técnica.

Ao lado, sabonetes caseiros para tratamento de lesões externas. Também vinhos de alecrim que auxiliam na circulação sanguinea e estimulam a memória.

Os preços variam de R$ 3,00 a R$10,00 ou por trocas de doações.

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As voluntárias da Pastoral, Terezinha Dos Santos, Luiza Vepo, Geni Vepo e Ema Rodrigues, trabalham no cultivo das ervas utilizadas no projeto A voluntária Geni Vepo, ao lado, faz aextração das essências. Acima, as denominadas “pomadas milagrosas”

Emagrecimento saúdavel só na fachada

Diferente da promessa estampada no slogan, a orientação é problemática e clientes dizem sentir fome com os métodos usados

gam que foram orientadas a seguir uma dieta extremamente restrita e atingir metas, o que foi pontuado como um método retrógrado e sem eficácia pela profissional da própria clínica. Nas redes sociais, propagandas denunciam a utilização de método com metas.

Abordagem da clínica

Na própria fachada, a clínica confunde emagrecimento saudável com estética

Beleza e magreza. Por muitos anos, a indústria da moda vendeu esses critérios como a idealização do corpo perfeito. A ideia é propagada desde as lojas de departamento, com peças de tamanhos limitados, até as passarelas apenas com modelos magérrimas. A cultura do corpo perfeito fez a sociedade criar artifícios irresponsáveis, tendo por única preocupação o lucro. Pílulas ineficazes, dietas restritivas irresponsáveis e procedimentos duvidosos que prometem o emagrecimento são o exemplo disso.

Em São Borja, a clínica Magrass promete emagrecimento saudável aliado a

procedimentos estéticos.

Iisma Braga, nutricionista da clínica, relata que utilizam métodos de reeducação alimentar, respeitando os limites do paciente e, se necessário, acrescentam no tratamento procedimentos estéticos oferecidos no local. A funcionária enfatiza a responsabilidade da clínica em adotar as condutas para cada pessoa. Complementa que, em alguns casos que exigem avaliação médica, o suporte é oferecido pelo estabelecimento.

Versão das clientes

Entretanto, ao entrevistar duas antigas clientes do local, essas relataram

o uso de métodos restritivos na dieta. Nathalia Fontana, uma das entrevistadas, contou que procurou a clínica por inseguranças estéticas com o próprio corpo e se sentiu pressionada não apenas com o nome da clínica, como também as fotos de modelos excessivamente magras espalhadas em panfletos e banners. A cliente, que procurou atendimento em 2019, acrescentou que, apesar de iniciar o tratamento animada, não conseguiu seguir com os procedimentos, por não se sentir satisfeita com a alimentação restrita, que em certo momento chegou a se basear apenas em legumes, proteínas

e frutas específicas com baixo teor de açúcar. Foi cortado de sua dieta alimentos como arroz, feijão, massa, pão e suco natural, por ter muito açúcar. Outra cliente que preferiu não ser identificada relatou também procurar a clínica para emagrecimento e diz se sentir satisfeita com o tratamento — que chegou a finalizar — e orientações. recebidas na clínica.

O método utilizado

A clínica tem várias formas de abordagem, de acordo com funcionários da empresa. Durante uma época do ano, distribuem em lojas parceiras a “caixa dos sonhos”. Em um cartão, o potencial cliente deixa seus dados de contato e diz se está satisfeito com seu físico.Se a resposta for não, escreve qual o corpo dos seus sonhos e, posteriormente, o estabelecimento contacta essas pessoas. A marca é ativa nas redes sociais, o que eventualmente também atrai os clientes, portanto, ainda na entrevista com Iisma, ela diz que a maior parte do público na cidade vai por indicação de parentes e amigos. Ainda assim, alguns clientes parecem insatisfeitos com a abordagem, muitos dizem se sentir pressionados pelo nome da clínica “Magrass”. Segundo os entrevistados, a junção dos fatos é sugestiva.

Cultura do emagrecimento estigmatiza corpos gordos

A cultura do emagrecimento penaliza e patologiza corpos gordos. Sedimenta a ideia de que, se um corpo está “grande”, automaticamente está doente, desconsiderando fatores genéticos e estruturando uma sociedade da “gordofobia”, ou seja, de aversão às pessoas gordas. Os estereótipos colocados em uma pessoa fora do padrão estabelecido geram situações constrangedoras e degradantes,

sustentando um discurso de poder que estabelece o que considera “beleza”.

Na tentativa de conquistar um corpo dentro do padrão, algumas pessoas acabam sucumbindo a transtornos alimentares, principalmente anorexia e bulimia, como explica a psicóloga Fabiana SIlva. “Ser gordinho sempre foi motivo de risadas e piadas, como é mostrado em filmes. E assim, com todo esse sistema, que obriga

as pessoas a alcançarem a magreza, gerando a não-aceitação, pessoas gordas desejam aquele padrão a qualquer custo e acabam sendo vítimas de transtornos”.

Outro transtorno citado pela psicóloga é a vigorexia, em que a pessoa tem uma obsessão por ser fitness. Nos diferentes tipos de mídia, existem um bombardeio de produtos de estética, modelos que pregam a

Durante seu acompanhamento, a meta era perder 15kg em 18 semanas. A cliente procurou atendimento em 2021. Ao contrário do que a nutricionista relatou, as pacientes alerem magras o tempo todo faz com que os mais gordos sejam evitados. Essa exclusão vai do ambiente escolar até o de trabalho ou até mesmo familiar”, acrescenta a psicóloga.

promessa de um corpo saudável ou considerado apto do ponto de vista social, quando na realidade cria-se uma ansiedade e crise identitária sobre o próprio corpo.

É uma estigmatização cultural e estrutural transmitida por diferentes instituições sociais que penalizam pessoas maiores por não se encaixarem nos padrões impostos. “Essa estrutura que obriga as pessoas a se-

A gordofobia se apresenta disfarçada de preocupação com a saúde, presumindo que toda pessoa acima do peso requer intervenção, que deve estar focada no peso, dificultando o enfrentamento da problemática.

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cotidiano
Foto: Larissa Xavier Por: Bruno Rocha, Eduarda Medina e Larissa Xavier
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Saúde não é “lindeza”!

A cultura pop e a moda alimentam o mercado do emagrecimento, com seus protagonistas de corpos perfeitos que conseguem tudo pelo simples fato de serem “bonitos”. Personagens gordos nesses universos são estigmatizados, geralmente retratados como piadas, atrapalhados, feios, como se o peso fosse uma personalidade construída em torno do seu corpo.

O estereótipo presente nessas produções é uma reprodução de uma visão gordofóbica. É o que é mostrado nas telas, nas revistas e nas redes sociais. Gordos não são piadas, gordos não são desleixados e gordos podem ser bonitos!

Perfeição e lindeza são duas métricas arbitrárias. No fisiculturismo, por exemplo, as pessoas estão acima do peso, às vezes entrando no quadro de obesidade.

Claro, massa muscular não é o mesmo que gordura, mas é ser saudável? Fisiculturismo não é ser saudável, a atividade, a longo prazo, pode provocar doenças cardíacas.

Clínicas de emagrecimento são um método para ser

saudável? Não, você está lá para emagrecer, às vezes da forma mais radical possível, e não para ser saudável. Pessoas magras são saudáveis? Se elas têm uma alimentação balanceada, de acordo com métricas da OMS, pode-se dizer que sim. Assim como uma pessoa gorda seguindo essas métricas pode também ser.

Ser saudável não é o corpo perfeito, ser saudável não é o necessariamente “bonito” dos padrões sociais impostos. Foi criado o falso moralismo na humanidade para justificar seu desejo pela estética magra, inventando que só sendo magro você é saudável. E diferente do que é perfeição e lindeza, saúde não é métrica arbitrária. É necessária, um direito e o correto.

O corpo ideal não deve vir da estética e sim da saúde, que permite longevidade, um interior e exterior bonito do corpo. Se uma pessoa gorda é saudável e o magro não, deve-se repensar a relação de quem é que está de bem com o corpo. Um processo longo, mas necessário, pois quando você está de bem com o corpo, você finalmente pode estar de bem com sua mente.

Influenciadoras digitais combatem a gordofobia

Influencers body positive (corpo positivo) como as influenciadoras digitais

Andressa Chultz e Juliana Rosa usam suas vozes ativamente para desmistificar a magreza como algo saúdavel.

Detalham como esse processo pode machucar o corpo e mente da pessoa do que o contrário, além de depoimentos de suas trajetórias de aceitação de seus próprios corpos.

Andressa Chultz

“Quando eu era jovem, sofria bullying , era pressionada a ter um corpo padrão”, comenta Andressa, influenciadora desde 2019. Hoje ela afirma que tomou remédios no passado, além de ter feito dietas e exercícios que mais a prejudicavam do que a ajudavam.

Também conta da experiência de como usar

biquini pela primeira vez foi libertadora, dada ao estigma que pessoas gordas sofrem. “Demorei para entender que meu corpo é lindo, necessário.”

A influenciadora usa sua voz para combater influencers que pressionam a ideia do corpo ideal.

Juliana Rosa

Influencer e estudante de Relações Públicas, Juliana aponta que clínicas de emagrecimento vendem a ideia de magreza como salvação. “As pessoas chegam dizendo que quando emagrecer tua vida vai melhorar. Enxergam como solução”.

Ela critica que profissionais como nutricionistas e médicos quebram seu código de ética ao priorizar processos estéticos e cirúrgicos sobre a saúde do paciente.

Andressa Chultz e Juliana Rosa promovem a aceitação do próprio corpo

“As pessoas enxergam os corpos gordos como vilões. Mas eu posso continuar sendo uma pessoa saudável e ser gorda”, afirma.

Para Juliana, é necessário quebrar a relação de bonito e magreza, procu-

rar ajuda psicológica para entender e aceitar seu corpo. “É o conhecimento que vai dissociar a ideia da estética ser a única coisa que importa”, finaliza. Ambas tornaram-se influenciadoras para ensinar a combater a exclu-

são e para promover a aceitação do corpo. Com isso, elas tem o objetivo de fazer com que mais pessoas se sintam bem por fora e por dentro de si mesmas, aprendendo que ser saudável vai além do seu peso.

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Foto: Bruno Rocha Infográfico: Bruno Rocha
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Sobrevivendo das águas

Pesca garante a sobrevivência de ribeirinhos do Rio Uruguai

São Borja é uma cidade gaúcha, no Oeste do Rio Grande do Sul. Banhada pelas águas do Rio Uruguai, possui quilômetros de água doce rio afora. Às suas margens, vivem ribeirinhos que tiram seu sustento da pesca e da comercialização do peixe para negócios (restaurantes e bares) locais. Para algumas pessoas que não conseguem se inserir no mercado de trabalho, essa é a única saída viável para ter uma renda ao fim do mês.

Há seis anos, Miro, pescador profissional, vive da pesca esportiva e do espinhel. Relata que a pescaria com redes é um grande problema que afeta outros pescadores e a fauna, por capturar peixes proibidos e muitas vezes estes acabam morrendo e sendo descartados. Além disso, comenta que é a favor da Lei 503/22, que proíbe, pelo prazo de cinco anos, a comercialização e a industrialização das espécies Dourado e Surubim. “Sou a favor da proibição da pesca com redes no rio por conta da preservação dos peixes, pois, graças à proibição, sempre terá peixes no rio”.

A rede de pesca a que Miro se refere é um aparato feito com

malha fina e fibras de nylon com a finalidade de capturar uma quantia maior de pescado. Pescando cerca de 20 a 30 quilos de peixes por dia com espinhel e molinete, o pescador geralmente consegue comercializar todos esses peixes no mesmo dia.

Já o comerciante e pescador aposentado José Luís do Nascimento diz que a alternativa para muitos moradores de São Borja que não conseguem trabalho é recorrer à pesca, e muitas dessas pessoas não têm autorização para exercer a atividade. “Hoje está bem escasso o peixe porque, conforme vai apertando o serviço na cidade, o morador da cidade não tem outra alternativa senão correr atrás de um peixinho para vender. Ele sabe que pescar é venda garantida.”

Pesca predatória

José Luís do Nascimento comenta que a pesca predatória é um grande problema que gera a escassez do peixe. Essa pesca predatória são os arrastões de redes feitos por outros pescadores em época de piracema, que são quatro meses que não se é

permitido pescar de nenhuma forma. Os pescadores registrados ganham um auxílio financeiro do governo para se manter nesse período. “A pesca predatória é um fator que diminuiu bastante o nosso peixe. São os arrastões de rede em tempo de defeso, que é a época da piracema”, explica.

Dourado e surubim

O pescador não mede palavras ao falar que é contra a proibição da pesca do Dourado e Surubim. Segundo ele, são os peixes mais pescados e também grandes predadores do rio, e não há o que fazer quando eles caem nas redes a não ser consumir no próprio acampamento ou descartar. Mas correm o risco de serem flagrados pelas autoridades e perderem sua carteira de pescadores. “Há mais de vinte anos existe uma lei que não sei como não derrubaram ainda, sobre a proibição da pesca do Dourado e Surubim. Em um rio internacional é uma absurdo esse tipo de lei”, protesta José Luís.

A pescadora Roseni Boeira Garcia, que pesca desde os 15 anos de idade, também é contra a proibição da pesca do Dourado e do Surubim. Ela comenta que um dos peixes que mais caem nas redes é o Dourado. Roseni chegou a apelar para a reporta-

gem no sentido de pressionar pela liberação da pesca dessa espécie. “Vocês que estão fazendo a reportagem podem nos ajudar com isso. Essa proibição não beneficia nós pescadores, e o rio está cheio de Dourados. Queremos que essa lei seja revista”. Roseni está envolvida com a comercialização do peixe em sua casa. Quem faz a pescaria mesmo é seu marido, que relata a falta de peixe no rio devido a vários fatores. Em média o que é pescado, cerca de 15 a 20 quilos por dia, já tem alguns compradores certos. Quando se tem sorte, volta para casa com a pesca garantida e, quando não tem, volta com a esperança de que no outro dia terá uma boa pescaria.

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JORNAL 40 GRAUS, UNIPAMPA SÃO BORJA, FEVEREIRO DE 2023 Pescado é comercializado diretamente por pescadores que vivem às margens do Rio Uruguai, no Bairro do Passo Roseni comercializa o pescado
cidade
Por: Leandro Oliveira, Marcus Vinícius Fão, Pedro Albarnaz e Renata Marques Foto: Leandro Oliveira

Em alguns períodos é proibida a prática da pesca, não somente no rio Uruguai, mas no Brasil inteiro, como o período dos quatro meses da piracema, que acontece quando os peixes percebem uma mudança no ambiente, indicando que a estação é favorável para a reprodução, é uma importante estratégia reprodutiva que ocorre em diversas partes do mundo. A palavra vem do tupi e significa “subida do peixe”. A piracema garante que o peixe complete seu ciclo de vida. Durante o período em que os pescadores ficam sem trabalhar, quem paga seus salários é o governo, em um acordo com os pescadores.

Apesar disso, a piracema causa alguns problemas para os trabalhadores, como relata Cláudio Renato Souza Dias, morador das margens do rio e pescador há mais de 20 anos. “O governo não cumpre o que diz, faz três anos que não recebo durante os quatro meses, mais de 40 pescadores sem receber, cada ano

divergem sobre a piracema

que passa se torna mais difícil” .

Outra dificuldade encontrada é a forma como é feita a comercialização. “Nós, pescadores, enviamos um papel para o Ibama, declarando uma certa quantia de peixes armazenados. Caso o Ibama bata na nossa porta, nós já temos os peixes declarados”, declara Roseni (do que), que sustenta sua família com os peixes pescados no rio Uruguai.

Os peixes armazenados garantem o sustento por um período, mas quando isso acaba, muitos pescadores acabam ficando sem dinheiro, pois muitas vezes a quantia armazenada não é suficiente para os quatro meses, já que muitos pescadores tem clientes fixos, como é o caso de Miro, pescador profissional de São Borja. “Os peixes armazenados acabam e nós não temos mais da onde tirar por conta do proibição, e dessa forma os clientes acabam recorrendo a peixarias, e nós pescadores ficamos sem o lucro que teríamos fora do período da Piracema”, conclui.

História de pescador

O pescador José Luis do Nascimento, de São Borja/RS, conta que começou a pescar desde cedo, por volta dos 6, 7 anos de idade. Com 8 anos já colocava rede na água. A primeira experiência com o rio foi um dia em que ele, acompanhado dos vizinhos, foi pescar. Foram 5 dias no rio, comendo apenas comidas mal cozidas por não saberem cozinhar. Também já acampou na Barra do Camaquã, no qual viu o barco de um lenhador virado e morto afogado após uma en-

xurrada do rio, “sendo muito comum esse tipo de coisa acontecer”. Ele diz que o pescador tem que saber se virar desde cedo com a alimentação, materiais de pesca, como a isca adequada para a pesca do peixe. Segundo ele, acontece muita injustiça no rio, como as leis marítimas por conta da divisão do rio internacional, que para ele seria o canal do rio, com ajuda dos aparelhos para poder localizar facilmente os peixes, além da previsão do tempo.

Dica culinária

Filé de peixe ao curry

O verão chegou e a culinária com peixe é uma boa pedida, é um prato leve, com sabor inigualável. A seguir, uma receita de dar água na boca

Ingredientes

• 4 filés de pescada cortados ao meio (largura)

• 1 cebola em cubos

• 1 dente de alho picado

• 200 ml de leite de coco

• 1 colher de chá de curry em pó

• 1/2 colher de chá de páprica doce

• 1/2 colher de chá de coentro em grãos

• 1/4 colher de chá de mostarda em grãos

Modo de Preparo

1/4 colher de chá de cominho em grãos

• 1 colher de sopa de gengibre fresco picado

• 1 folha de louro

• 1/4 xícara de água fervente

• 1 colher de sopa de azeite

• 6 tomates grape cortados ao meio (comprimento)

• sal a gosto

1. Aqueça o azeite em uma panela para moqueca

2. Coloque as sementes de coentro, mostarda e cominho. Misture por alguns instantes e junte a folha de louro e o curry. Deixe refogar por alguns minutos em fogo baixo

3. Acrescente a cebola, refogue por alguns instantes, junte o alho e o gengibre. Refogue até que o alho comece a dourar.

4. Junte a água, o leite de coco, os tomatinhos e a páprica doce. Tempere com sal e deixe cozinhar até começar a ficar cremoso.

5. Acomode os files de peixe lado a lado. Tampe a panela e cozinhe por uns 5 minutos.

6. Retire os peixes da panela, espere o molho reduzir, mexendo às vezes. Deve levar mais uns 5 minutos. Esta etapa é para que os filés não se desmanchem.

7. Volte o peixe para a panela. Cozinhe por mais 2 minutos com a panela tampada e sirva.

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Pescadores
Cláudio Renato diz que governo não cumpre o prometido José Luís gosta de contar suas aventuras no Rio Uruguai Fotos: Leandro Oliveira

A economia dos brechós para a moda sustentável

Foto: Sadira Iang

Por: Helena Biasi, Gabriela Molina, Sadira Iang

Quando pensamos em moda sustentável, pensamos em roupas que sejam boas em qualidade, com preço acessível para qualquer público consumidor. Os brechós são um ótimo exemplo disso. Esses estabelecimentos vêm apresentando crescimento nos últimos anos para aqueles que querem peças de boa qualidade pagando pouco. Em São Borja, encontramos diversos brechós espalhados pela cidade, dos mais variados, no centro e nos bairros, com roupas acessíveis para os mais diferentes estilos.

O brechó “Amiga Enjoei” pertence a Aline Passos, moradora da cidade, que pensou em criá-lo por necessidade financeira. “Eu precisava na época pra pagar uma dívida e daí eu pensei, eu vou fazer

ralmente uma vez por mês uma promoção no sábado, quando eu coloco peças a partir de um real. Eu priorizo as peças que eu tenho há mais tempo paradas e que não venderam por algum motivo, e geralmente acaba saindo.”

um brechó, e daí foi legal e eu gostei e segui”. Um ano depois, ela continua nas vendas das roupas, calçados, com peças baratas que ela vai garimpando em outros estabelecimentos, procurando sempre pelo que vende mais. Prefere roupas grandes, no tamanho G ou GG, do que peças pequenas, que não têm muita procura.

primeiro contato com a pessoa pelo Facebook.”

Na questão de valores, como todo bom brechó, Aline vende barato e reforça que não gosta de vender artigos muito caros. A faixa de preços é de até R$ 25. Quando alguma peça está há mais tempo sem sair, ela negocia e diz “tento sempre baixar e, se eu não vender, eu faço ge-

Tânia Brasil, por sua vez, criou um brechó modesto em sua própria casa. O estabelecimento foi criado depois que a igreja que ela frequenta dar essa ideia. É dos mais antigos de São Borja, já possui de nove a dez anos, e também tem como objetivo arrecadar o dinheiro de algumas peças para ajudar crianças que ela conhece que sofrem de câncer. O brechó conta com todo tipo de peça e também sapatos, tudo em torno de R$ 20.

Portanto, os brechós são formas de renda para os empreendedores e, para seus consumidores, uma possibilidade de consumir de modo consciente e sustentável.

Moda Sustentável impulsiona o consumo em brechós

A ascensão do fast fashion (moda rápida, em tradução livre) afeta diretamente o meio ambiente e está causando impactos no planeta Terra. Buscando solucionar esse problema, cresce a procura por formas mais sustentáveis de consumir a moda.

“É impossível falar em brechós e não falar em sustentabilidade”, diz a estudante de Jornalismo Flávia Carolina Fernandes, que se assume

Aline também diz que toda sua renda vem dessas vendas e hoje ela vive disso. Conta também que vende peças infantis, mas que as masculinas ela não vende, por não ter saída. As vendas são em sua maioria feitas na plataforma do Facebook, na página do brechó. “Posto tudo que eu pego, então é mais fácil de vender, todo o meu como consumidora assídua de brechós. “Usar roupas de segunda mão significa ir contra a maré de consumo de uma moda imediatista, em que uma produção em larga escala de roupas e acessórios é constantemente renovada para maximizar o lucro”, completa.

O fenômeno fast fashion e a cultura do século XXI de “usar e jogar fora” tornaram-se alvo de estudo em 2021.

“Fios da Moda” feita pelo Instituto Modifica, é a primeira publicação brasileira sobre os impactos socioambientais do descarte das três fibras mais comuns na moda (algodão, poliéster e viscose). Segundo a pesquisa, somente na região de São Paulo são coletadas 45 toneladas de lixo têxtil por dia.

Flávia afirma que “Isso é um reflexo da cultura do imediatismo, que nos faz descartar todo

e qualquer produto, inclusive roupas que após uma ou duas vezes de uso não servem mais ou não são tão legais quanto as da influenciadora X”.

Os brechós, por outro lado, minimizam o consumo exacerbado, trazendo peças de segunda mão, por um preço acessível, o que resulta em menor impacto ambiental. Este nicho de mercado criou então uma forma sustentável de consumir a moda.

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JORNAL 40 GRAUS, UNIPAMPA SÃO BORJA, FEVEREIRO DE 2023 Flavia Carolina, estudante de Jornalismo, é consumidora assidua dos brechós Aline Passos, dona do brechó “Amiga Enjoei”, prefere comercializar peças grandes
Moda

Brechós de

Um dos brechós daquela rua

Há cinco anos, Tatiana Pacheco se viu sem saída. Enfermeira, mãe e com o marido trabalhando fora, Taty teve que largar o emprego para cuidar da casa e resolveu criar um brechó com as próprias roupas para tentar “segurar as pontas”, como ela diz.

Na travessa General Valério, em que ela morava, foi onde inicialmente a sua forma de renda extra se tornou a renda principal da casa. E hoje o Brechó da Taty é um dos mais reconhecidos na cidade. Ainda no mesmo bairro, mas agora na rua Cabo Pedroso, o comércio segue firme, com no mínimo nove araras completas de roupas e um espaço único em frente de sua casa.

Quando Taty começou nesse ramo, o brechó ficava na sala de sua antiga casa, com as poucas peças que tinha, uma arara, e um balcão que o acompanha até hoje. Nessa época, ela aceitava todo tipo de peça, mas com a experiência foi mudando de lema.

“Fui começando a pensar assim: O que eu compraria? Eu compraria isso?”.

É com esse pensamento que Taty seleciona suas peças, comprando de outras cidades, como Ijuí, Erechim ou Santo Ângelo, e repaginando o brechó a cada época do ano. Seja do inverno ao verão, ou do Halloween ao Dia do Gaúcho. Ela sempre busca novos ares, afinal: “Não dá

Localidades

Brechó Amiga Enjoei

(51) 99838-3405

Rua Cabo Pedroso, 1034

Bairro: Pirahy

https://www.facebook. com/amigaenjoei

Brechó da Taty

Cabo Pedroso, 1607

Próx. Eletro Chaves

Fones: 99933-6701 / 99958-8546

Atendimento: 14h às 19h

Brechó Tânia Brasil

Rua 13 de Janeiro

Bairro: Pirahy

Próx. Comprebem Mercado

pra ficar parado, né?”, conta ela. Como tudo é comprado, apesar de procurar artigos em várias cidades, ela diz que em São Borja não aparece nada para revender, “pois aqui as pessoas usam as roupas até acabar, virar pano de chão ou ir para pesca”. Então os lotes costumam ser adquiridos em outras cidades da região.

Enfrentando a marginalização dos brechós, o comércio da Taty quebra as barreiras dos moradores da cidade, praticando moda sustentável, além de receber acréscimo por parte dos alunos da Unipampa que não veem tal cultura como algo “sujo e mofado”.

Centro de Formação

Tereza Verzeri

Rua João Palmeiro, 1746

Bairro: Centro

Aberto na 1ª Sexta-feira do mês

Brechó da Denise

Rua Rodrigues Alves, 665

Bairro: Itacherê

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Brechó da Mana Rua Ângelo Provença, 640 Bairro: Passo Tatiana abriu o brechó para contribuir no sustento da família e hoje é a principal fonte de renda Peças temáticas do brechó Peças do brechó da Taty Tatiana largou a enfermagem para se dedicar ao brechó Fotos: Gabriela Molina

Em busca do título estadual

União Samborjense quer o título da Série Prata em 2023

Jogadores do União Samborjense segurando o troféu do campeonato estadual série bronze de futsal

Após conquistar a série bronze do campeonato estadual gaúcho, a equipe do União Samborjense busca manter o bom trabalho para o ano de 2023. O técnico Ederson Fuio Vieira definiu por objetivo o acesso à Série Ouro do estadual, mas observou que essa conquista é difícil

“O time é muito qualificado e eu confio plenamente nos meus companheiros, que são extremamente comprometidos com o trabalho que tem sido realizado até então. Sem a ajuda da diretoria e a direção do treinador, o União não teria conseguido conquistar a Série Bronze e, desta forma, não conseguiria dar destaque ao trabalho que vem sendo feito desde as categorias de base do time até as divisões profissionais.” Fuio ressaltou que a equipe de São Bor-

ja busca manter o elenco com suas “pratas da casa” e salientou a importância de buscar jogadores do próprio município para a formação da equipe: “Na minha visão o time é muito bom, não precisamos buscar jogadores de fora, pois aqui temos jogadores muito qualificados e com muita qualidade, que tem potencial de mostrar seu futebol para os outros times e que tem tudo para agregar na próxima temporada.” O técnico também fez uma análise geral sobre o desempenho do União Samborjense na última temporada e destacou que os objetivos finais foram alcançados com êxito.

“O time foi formado apenas 15 dias antes do campeonato. Mesmo assim conseguimos bons resultados ao longo do campeonato”. O título, por sua vez, foi alcançado por conta do W.O. da Associação Esportiva União Riograndina de

Futsal, de Rio Grande, que não jogou por estar com muitos desfalques. “Não foi da forma que nós queríamos, mas a Federação achou melhor nos dar o título mesmo sem jogar. De qualquer forma, foi muito gratificante porque só com a gurizada prata da casa nós conseguimos o título”. Segundo o técnico, muitos críticos disseram que não dava pra chegar apenas com as pratas da casa, “mas a gente calou os críticos”. O que importa, segundo Fuio, é que a equipe subiu de categoria e está na Série Prata, onde as equipes são mais qualificadas. O treinador diz ter certeza de que o próximo ano será de muitas conquistas e coisas boas para o time, “até porque nosso elenco é muito qualificado e tem tudo para conseguir conquistar o título da Série Prata”, observa. Fuio está ciente de que o trabalho será muito mais duro e complicado, mas diz confiar na atuação de cada

jogador e no potencial de cada um que essa temporada honrou a camisa do União e conseguiu com muito esforço trazer esse título para a cidade de São Borja.

O fixo do time e também capitão Juliano Rocha da Silva diz que a conquista do título da Série Prata é uma meta, mas mais importante é manter o foco na pré temporada e nos treinos, para que os objetivos sejam alcançados no próximo ano, da mesma forma que foram alcançados em 2022.

“O time tem muito potencial, temos jogadores muito qualificados e, com treinamento adequado, que vamos adquirindo com o decorrer do ano e dos treinos, tenho certeza que temos grandes coisas para esperar do União em 2023”, ressalta o jogador.

Com relação à confiança e responsabilidade dentro do vestiário, Juliano ressalta que a experiência e a atenção são fatores

fundamentais para o rendimento do time e dos jogadores dentro e fora de quadra.

“O foco sempre é essencial, porque sem foco nada é desejado, sem atenção nada é alcançado e sem determinação nada é conquistado. Para termos o melhor resultado possível no ano de 2023 e alcançarmos nossas metas é preciso que mantenhamos nossas cabeças no lugar e que, acima de tudo, a determinação seja o que nos move aos objetivos, porque sem determinação não existe objetivo, e sem objetivo não existe conquista”. O atleta acredita que o objetivo do União é a conquista de cada vez mais espaço no cenário gaúcho de futsal, até alcançar um dia, quem sabe, acesso à liga estadual de futsal e dessa forma provar à população de São Borja que esta cidade tem futuro no esporte, e quem quiser e tiver força e determinação um dia vai alcançar.

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JORNAL 40 GRAUS, UNIPAMPA SÃO BORJA, FEVEREIRO DE 2023 Foto: Guilherme Paesch
esporte
Por: J.Gabriel Rangon e Thamires Almeida

Além das 4 linhas

Futebol, segundo o dicionário, é um esporte cujas partidas são disputadas por duas equipes de 11 jogadores. Mas, sabemos que o futebol não se resume só com o que acontece dentro das 4 linhas de um campo. Os mais entusiastas gostam de usar o termo “nunca será só futebol”. Vai além da emoção de um gol. Além do calor fervoroso da torcida. Além dos sorrisos dos torcedores. Além do tempo. A cada final de partida é comemorado

mais do que a conquista do time.

Em nossa cidade, os responsáveis por isso são Reinaldo Menezes Garcia, presidente da “Associação dos Colorados” de São Borja; e Antônio Carlos Farias, presidente do “Gremistas de São Borja”.

Um ano após a conquista do mundial de clubes de 2010, a associação dos colorados foi criada. O intuito do consulado é reunir os torcedores do Internacional para assistir aos jogos e fazer confra-

ternizações, como excursões para os estádios. Do outro lado da rivalidade, porém um pouco depois, no ano de 2016, o consulado dos tricolores foi fundado, seguindo os mesmos princípios.

À medida que o número de participantes foi crescendo, crescia também a vontade de contribuir com a comunidade torcedora, promovendo ações sociais para a cidade. Antônio ou “Tonhão da lavagem”, como é mais conhecido na cidade, se

diverte junto com as crianças ao se vestir de papai noel azul (as cores do grêmio) ao realizar anualmente o “Natal Solidário”. Em dezembro, os membros dos “Gremistas de São Borja” se reúnem e organizam uma festa para as crianças do CRAS, com brinquedos, comidas, doces, e claro: presentes. Reinaldo e o cônsul do Inter promovem o almoço da família colorada e o jantar dos cozinheiros.

Custeado pelos membros, onde o valor arrecadado do ingresso dos jantares é revertido para auxiliar pessoas portadoras de câncer.

Fazer o bem vai além do seu time, é uma questão de humanidade. É assim que retribuem o carinho dos torcedores em nome dos clubes. Este reconhecimento é necessário, pois sem a torcida os times não conseguem alcançar o sucesso. Quando os membros dos consulados percebem que todo seu esforço, cada suspiro, cada grito de apoio, fez a diferença em sua cidade e no resultado final de uma partida… isso sim é a verdadeira retribuição. Não existe nada que compre essa sensação para eles.

Cenas de torcedores na Copa do Mundo

Os São-borjenses assistiram com entusiasmo aos jogos do Brasil na Copa do mundo do Catar.

Os torcedores ficaram eufóricos com as partidas da seleção, até a eliminação do Brasil para a Croácia.

Os encontros foram marcados por diversas reações, risos, alegrias, comemorações e muitas festas.

Apesar da eliminação os São-borjenses não deixaram de aproveitar, até o apito final.

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Membros do consulado do Internacional no C.F.T.G Farroupilha Natal solidário dos gremistas de São Borja Fotos: arquivo Fotos: Samih Salem

Roteiro gastronômico em Santo Tomé

Descrita como uma mistura cultural e tendo rica influência mediterrânea, espanhola, italiana e indígena, a gastronomia argentina nos encanta em diversos aspectos.

Mais do que apenas carnes e vinhos, o país também é famoso pelas deliciosas facturas e pães. Fomos até Santo Tomé, na província de Corrientes, Argentina, região fronteiriça com São Borja-RS. Ao chegar na cidade com a intenção de passear, os primeiros destinos escolhidos por turistas são-borjenses são óbvios: o Cassino Litoral e a danceteria Santino.

Entretanto, Santo Tomé também conta com outro ponto turístico, interessante e delicioso, que vale a pena adicionar à parada: as padarias.

Mas o que Santo Tomé e São Borja teriam de tão distintos? Afinal, mesmo sendo cidades vizinhas, a proximidade entre os dois lugares não faz com que sejam tão similares a respeito dos aspectos gastronômicos.

A maior prova disso é a disparidade em relação às padarias. Ao visitar um estabelecimento local, testemunhamos essas diferenças, e a experiência foi de dar água na boca.

A tradicional chipa é o pão de queijo argentino

A Argentina possui outros produtos, que também merecem reconhecimento. Um deles, muito popular é a chipa, originalmente

preparada com polvilho doce, amido de mandioca, queijo, manteiga, leite, ovos e sal.

O produto é muito semelhante ao pão de

queijo, mas na padaria Argentina La PanerÍa, o preparo da Chipa é sem adição de água e ovos. Outro aspecto que difere os dois produ-

tos é a consistência e o tamanho, a chipa é menor. Normalmente, a chipa é consumida com margarina quando ainda está quentinha.

de Maisena

Ingredientes

Modo de preparo

1 - Bata a margarina com açúcar e as gemas.

2 - Coloque o limão ralado, o amido e a farinha peneirados com o fermento.

3 - Misture bem e deixe descansar por uns 15 minutos.

1

4 - Divida a massa, estenda com um rolo, não muito fininha.

6 - Leve para assar em forma polvilhada com farinha.

8 - Tem que ficar clarinho.

9 - Depois de frios retire da forma.

Una dois biscoitos com doce de leite e passe coco ralado em volta.

18 JORNAL 40
UNIPAMPA
2023 gastronomia
GRAUS,
SÃO BORJA, FEVEREIRO DE
DELÍCIAS DA FRONTEIRA
100 g de margarina 1/2 xícara de açúcar 4 gemas Raspas da casca de 1 limão 1 e 3/4 xícaras de amido de milho 1/2 xícara de farinha
Padaria argentina La Panería, localizada na cidade de Santo Tomé, Av. San Martín, 851
Alfajor
colher de chá de fermento
Fotos: Maria Eduarda Cogo

DELÍCIAS DA FRONTEIRA

Os pães e as facturas argentinas

La Panería, localizada no centro comercial da cidade de Santo Tomé, é um dos estabelecimentos que mostra como as padarias argentinas têm seu diferencial. Trabalhando apenas com massas, disponibiliza uma enorme variedade de pães e facturas.

As famosas facturas da Argentina são doces de massa folhada, trazida pelos europeus na época da imigração, muito consumidas no café da manhã, no lanche da tarde e também com o mate.

Na Argentina, o consumo do pão é enorme, muito maior que no Brasil. Antonio Carlos Alfredo, dono da padaria, explica que é comum o pão ser comprado por kilo.

“Aqui se come muito pão, tem famílias que compram um quilo de pão pela manhã e um quilo de pão à tarde. Às vezes se come mais pão do que a própria comida.”

Um dos motivos desse grande consumo seria pelo

fato do pão estar presente na maioria das refeições argentinas. É muito comum que os restaurantes ofereçam grandes bandejas de pão para acompanhar o almoço e a janta. É um alimento essencial e indispensável.

Para conseguir cumprir essa grande demanda, é preciso haver uma produção diária intensa. O dono de La Panería afirma que por dia se produz em média cem quilos de pão com 75 quilos de farinha.

Na parte das facturas, há um mar de variedades. Para os fãs de doce, visitar uma padaria argentina é garantia de barriga cheia. A medialuna, muito similar ao croissant, sem dúvidas, é a mais popular, um verdadeiro patrimônio gastronômico do país.

A gastronomia se apresenta de forma variada, podendo ser simples e também extremamente recheada com doce de leite. Indepen-

dente de qual se escolha, a sensação é sempre a mesma: um pão que derrete na boca, macio e saboroso. Comer apenas uma se torna uma missão impossível.

A “factura vigilante” também não fica para trás. Crocante por fora e macia por dentro, é recheada com doce de leite ou goiabada, e é muito consumida com o mate argentino. Antonio fala com orgulho do seu estabelecimento. A padaria teve sua inauguração em 2017, mas ele conta que nem sempre trabalhou com isso. Morou em Florianópolis-SC por 26 anos, trabalhando como analista financeiro. Ele deixou a profissão de lado e foi para Buenos Aires fazer um curso de padeiro. “Sempre gostei da cozinha”. O padeiro mostra com orgulho os títulos da padaria, enquanto comenta que “nunca é tarde para conhecer uma coisa nova na vida”.

A fama do bolachão em São Borja

Em busca da origem do produto conhecido por bolachão, encontramos o projeto Patrimônio Alimentar: O pão bolacha como produto representativo de uma cultura, composto pelas alunas do curso de Gastronomia do Instituto Federal Farroupilha (Campus São Borja), Monica Meza, Tais Righi, Fernanda Bohn e coordenado pela Professora Camila Nemitz.

Monica Meza, natural de Monte Carlo, Argentina, formada no ano de 2022, comenta que a dúvida sobre a origem do bolachão surgiu pelo fato de ela já conhecero produto, antes mesmo de vir a São Borja.

Com a intenção de entender qual era a origem do bolachão, deram início ao projeto com pesquisas de campo e entrevistas. As alunas comentam

que, em fontes bibliográficas, encontraram apenas uma em Santana do Livramento, era um pão com as mesmas características do bolachão.

A comunidade sãoborjense se mostra um tanto quanto difícil em relação a entrevistas; as alunas comentam que encontraram muita dificuldade nesse aspecto. Contudo, as pesquisas sobre o consumo de pães na cidade mostrou que o bolachão ganha disparado. Mônica afirma que gostariam de aprofundar as pesquisas, mas que os registros encontrados na Prefeitura dificultaram o processo, visto que há poucas padarias registradas no município, algumas funcionam sem autorização e outras são registradas como comércio de alimentos.

Tais nos conta que o grupo de pesquisas conseguiu chegar até uma família, que supostamente deu origem ao bolachão, a família Bonetti, composta por três irmãos, e cada um deles possuía uma padaria. A Padaria Brasil era uma delas, funcionava há mais de 40 anos, entretanto fechou suas portas em 2020. O grupo tentou entrar em contato com os proprietários e herdeiros do estabelecimento, mas não obteve informações sobre a origem do produto. As alunas afirmam que a cultura alimentar de São

Borja e de Santo Tomé é diferente em diversos aspectos, até mesmo o local onde a população compra o pão do café da manhã. Na Argentina, compra-se pão em padarias, enquanto em São Borja, compra-se em mercados.

Nos mercados, os produtos oferecidos pela padaria do estabelecimento são sempre os mesmos, fazendo com que a comunidade se acostume com pouca variedade e a cultura alimentar acaba se limitando.

Fernanda afirma que mesmo na tentativa de

implementar esse conceito diferenciado de padaria em São Borja, a população procura pelo básico, pedem por cacetinho e pelos bolachões. Abrir uma padaria na cidade é uma incerteza do ponto de vista econômico. Segundo as alunas, a comunidade não abraça esse tipo de iniciativa. Por fim, as meninas afirmam que, apesar de Santo Tomé e São Borja serem cidades próximas e possuírem um fluxo de pessoas entre elas, a cultura alimentar é totalmente diferente.

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Antonio Carlos Alfredo, próprietário de La Panería

na Fronteira Oeste

Muita gente não sabe, mas a fronteira oeste do rio grande do sul, na divisa com a argentina, é um lugar propício para a vitivinicultura.

No final da década de 90, a empresa brasileira de pesquisa agropecuária (embrapa) organizou palestras, procurando expandir a produção de uvas viní-

feras na região, devido ao terroir propício. Com precipitação pluviométrica, luminosidade e temperatura adequadas para a viticultura, agricultores da região arriscaram o grande investimento a longo prazo e, atualmente, esta é a segunda melhor região do Brasil para se produzir vinhos finos, atrás apenas da Serra Gaúcha. Além de grande

reconhecimento nacional no ramo de vitivinicultura, o turismo da região também expandiu.

O enoturismo tornou-se uma opção para momentos de lazer e tem as vinícolas como espaço para a realização de eventos. Esta reportagem destaca as duas principais vinícolas da fronteira Oeste, a Campos de Cima e a Malgarim.

Por: Bruna Pelisari, Caroline Menegassi e Iasmin Moura

Conheça a vinícola Campos de Cima

A Fazenda Campos de Cima pertence à família Ayub há mais de 150 anos. Localizada no interior do município de Maçambará, tinha suas terras, inicialmente, destinadas à produção de arroz e pecuária.

A atual proprietária, Hortência Ayub, encontrou uma oportunidade de expansão dos negócios da família quando a Embrapa trabalhava a fertilidade de uvas viníferas na região. Do momento de decisão até o início da produção, foram quase 10 anos. Em 2002, foi realizado o primeiro plantio, com mudas importadas da França e Itália, com o objetivo de comercializar o fruto in natura, cuja primeira colheita ocorreu apenas quatro anos depois, em 2006.

Foi a partir de 2010 que a família deu início à produção, inicialmente, de espumantes, em espaço terceirizado para essa finalidade. E já no pri -

meiro ano, o espumante produzido pela marca foi premiado com medalha de ouro no V Concurso Internacional de Vinhos, no Brasil. Em 2013, nova premiação. A Campos de Cima conquistou a Grande Medalha de Ouro no VIII Concurso Brasileiro de Espumantes, destacando-se entre 400 amostras competidoras. No mesmo ano, também levou a Medalha de Prata no Internatio-

nal Wine Challenge, em Londres. Com a expansão da marca para o mundo, no ano de 2014 foi inaugurada a sede da Vinícola Campos de Cima, na cidade de Itaqui, onde, atualmente, são produzidos todos os vinhos e espumantes do grupo. Desde então, os vinhos são referência no mercado nacional e internacional, recebendo premiações ano após ano. A vinícola tem como des -

taque o vinho tinto da linha “3 Bocas” e o Tosquia da linha “Lúdicos”. A empresa é conhecida pelo formato boutique, por produzir em pequena escala priorizando a qualidade, atualmente possui 17 hectares de produção, exportando seus produtos para o Brasil e o mundo. O Reino Unido é o principal país estrangeiro importador dos vinhos da marca.

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Enoturismo
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turismo
Vinícola está localizada na BR 472, km 481, no trevo de acesso ao município de Itaqui-RS

Uma nova opção de turismo na região

A arquitetura da vinícola, projetada pela arquiteta e sócia-proprietária Manuela Ayub, une o moderno e o clássico em um mesmo espaço. O piso de cimento queimado, que faz parte de toda a vinícola, foi pensado de modo a representar as características da fazenda. Já a pedra rosa, típica da região, foi usada nas paredes externas. O interior do ambiente carrega o tradicionalismo gaúcho.

O turismo não estava nos planos da empresa. No entanto, por estar localizada às margens da BR-472, conhecida como rodovia do Mercosul, na entrada da cidade de Itaqui, e por contar com um ambiente agradável e convidativo, a procura por momentos de lazer no espaço começou a aumentar.

Devido à demanda, algumas atividades implantadas nas instalações da vinícola, que hoje conta com espaço de locação para a realização de encontros com até 40 pessoas sentadas.

Há quatro opções de degustação com tour pelo espaço de produção, do mais simples ao mais sofisticado, além de um minicurso sobre vinificação, ministrado pelo enólogo da vinícola.

A modesta rede hoteleira do município de Itaqui-RS, sem grandes opções de hospedagem, fez com

que o grupo Campos de Cima pensasse em uma maneira de trazer pessoas de outros lugares para desfrutarem do espaço. Com isso, a antiga casa do caseiro passou por uma adaptação e tornou-se um local para receber amigos e clientes especiais, aberta também para locação a demais hóspedes, incluindo tour com degustação e uma cesta de café da manhã.

Vinícola Boutique

O termo designa vinhos produzidos em escalas bem pequenas, porém com qualidade garantida. A produção é mais artesanal. O cultivo do solo, a plantação, a colheita e a vinificação, tudo é feito dentro da própria vinícola, com cuidado ímpar.

“Produzimos em menor quantidade e melhor qualidade, colheita manual e fizemos uma seleção dos melhores cachos, então só usamos as melhores uvas e mantemos um padrão.” Pedro Candelária, Diretor Comercial da Vinícola Campos de Cima.

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Mesa com pães, queijos e vinhos, posta para a degustação “Visita Vínicola Campos de Cima Lúdicos”

Conheça a Vinícola Malgarim

A produção de vinhos sempre esteve presente na vida de Sérgio Malgarim, proprietário da Vinícola Malgarim. Seus avós produziam para consumo próprio e ele foi cultivando sua afinidade e seu desejo ao longo dos anos. Assim, há 23 anos, ele tomou a iniciativa de começar uma vinícola localizada na Quinta do Sino, em São Borja.

Mesmo com o estigma existente de que vinhedos só poderiam ser cultivados na Serra Gaúcha e não na Fronteira Oeste, Sérgio manteve seu objetivo e procurou aprofundar seus estudos na área. Foi aí que descobriu que na terra onde hoje é localizada a vinícola haviam sido cultivados, séculos atrás, varietais espanholas. As primeiras mudas cultivadas na vinícola foram importadas da França

para a produção de Cabernet Sauvignon.

Isso sempre esteve em mente, eu sempre tive essa afinidade, esse gosto e desejo, eu olhava e achava sempre muito bonitos os vinhedos, da própria família”. Sergio Malgarim, proprietário da vinícola

Hoje Sérgio conta com a presença da família neste ramo também. O filho Daniel é agrônomo e segue os passos do pai na produção de vinhos, a filha Camila é sommelier e a nora Manuela é responsável pelos eventos realizados no local.

Mesmo com a grande procura pelo espaço, Sérgio conta que ainda existem alguns problemas que impedem a visitação da população são-borjense, como a estrada de terra que vai de São Borja para a Quinta do Sino, que fica há 10 minutos da cidade. Ele conta que a vinícola, ultimamente, recebe mais visitantes dos municípios próximos, como Itaqui e São Luiz Gonzaga.

Um novo espaço para o enoturismo

Além da produção de vinhos, a Malgarim também optou por explorar o enoturismo. Contando com espaço amplo, possui diversas opções de eventos, que podem ser marcados a partir de reservas. O espaço da vinícola pode ser alugado para a realização de aniversários, casamentos e festas em geral.

Na visitação, o visitante recebe uma apresentação de toda a vinícola, dos vinhedos e do processo de produção, sendo disponibilizado um vinho para degustação. As degustações são muito procuradas por quem visita a Malgarim.

Os visitantes recebem uma apresentação de toda a linha de vinhos do local, juntamente com uma explicação de todo o protocolo de produção e pode degustá-los com o acompanhamento de uma tábua de frios.

Outro evento muito procurado

são os piqueniques, onde é disponibilizada uma cesta com antepastos, geleias e pães, juntamente de um bom vinho por pessoa. Os visitantes retiram sua cesta e podem andar pelo local enquanto aproveitam o dia. Este evento é feito em aniversários de crianças também, uma opção muito utilizada durante a pandemia. Os visitantes levam mesas de doce e brinquedos infláveis.

Além de eventos ligados aos vinhos, o espaço da Malgarim é muito procurado para books de fotos, seja de casamentos, formaturas ou aniversários.

A cultura missioneira é muito presente na vinícola Malgarim. Sérgio busca manter as origens da cidade de São Borja, a primeira dos sete povos das missões. Todos os visitantes que chegam à vinícola são recebidos com 6 badaladas do sino, o que,

segundo ele, serve para expulsar as más energias.

A arquitetura do local é inspirada na antiga igreja jesuítica do município, muito apreciada pelo

proprietário. Os vinhos também carregam esta história em seus nomes, pois são batizados com algum personagem ou detalhe importante.

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JORNAL 40 GRAUS, UNIPAMPA SÃO BORJA, FEVEREIRO DE 2023 Localizada na BR 472, A 7km do trevo de São Borja sentido ItaquiQuinta do Sino Sergio Malgarim, proprietário da Vinícola, faz o manuseio das uvas
turismo
Vínícola Malgarim

Amor Suicida

Eu queria conversar com você depois de um dia cansativo e curiosamente bom. Queria chegar em casa, tirar os sapatos, tomar um banho, te ligar ou até mesmo por mensagem contar como foi ótimo rever pessoas que há tempos não via. Falar sobre como foi uma loucura e que me senti uma idosa quando fiquei cansada duas horas depois de sair de casa. Queria contar como foi almoçar com meu avô, como ele perguntou o tempo inteiro sobre ti e você ficaria todo bobo com o quão boba eu fiquei por ti.

Só que isso nunca vai acontecer porque todos que me viram

Sobre perder

Ensaios literários

crescer sabiam que nós não seríamos para sempre. Antes mesmo que eu pudesse descobrir, já sabiam. E o nosso nós não era daqueles que lutam contra o próprio destino e vence, já estávamos destinados a perder, não importava o nosso esforço, o nosso destino é um baita de teimoso. E nada do que imaginávamos vai se tornar real daqui em diante, porque a gente sabe como foi demorado construir tudo que construímos e como tudo acabou tão rápido quanto um estalo de dedos.

O amor até pode ter sobrado pelos corredores de uma casa abandonada e a sauda-

Sempre fui daquele tipo de pessoa que diz não ter perdido nada importante na vida. Nunca perdi alguém para a eternidade, para a esperança de um dia haver um reencontro. Nunca perdi coisas que eram mais do que se podia ver. Nunca perdi nada do que dizem tanto perder. A única coisa que perdi foi a infância e não tenho certeza se “perder” é o verbo que exprime o que quero passar. Mas eu perdi. Eu cresci. Voei, como dizem as postagens no Facebook da minha avó.

Voar dói, cansa. Passo os dias entediada sem a implicância de meus irmãos. Sinto falta até das brigas pelo banheiro ao acordar. Dos meus cúmplices, independente da situação. De reclamar de cada respirada e virar uma fera quando outra pessoa pensava em fazer o mesmo. Perdi a felicidade por sentir falta deles.

Perdi os almoços de domingo na casa da vó, nenhum feijão é tão saboroso quanto o

de às vezes até me persegue, cada dia menos, mas ainda dá as caras de vez em quando. A nossa linda história de comédia romântica acaba como o trágico romance de Romeu e Julieta. Ninguém nos envenenou além de nós mesmos, . enquanto Enquanto eu tentava te salvar e vice versa, nós mesmos estávamos nos matando, era como se estivéssemos gozando letalidade. O nosso amor de novela acaba com um ar suicida. E o mundo aplaude como se fôssemos personagens de um livro qualquer em que o autor não tem um pingo de compaixão.

dela e nenhum é feito com tanto carinho. Meu choro perdeu o consolo, o medo ganhou espaço. Perdi o colo de minha mãe, seu abraço de boa noite e os diários puxões de orelha. De estar em seu colo, receber cafuné e escutar seus conselhos atentamente.

Eu me perdi em meio a tantas perdas. Não tenho certeza do que gosto, sinto falta de uma casa que não é mais minha. Saudade de um quarto que já tem outro dono, meu irmão. Saudades dos amigos que perdi, estão espalhados, vivendo.

Vivo feliz, mas sentindo as perdas, com saudade de ter um porto seguro. De saber que posso ligar pra minha mãe e, em instantes, ela vir me socorrer. Saudade de não ter que brigar sozinha pelo que sou ou o que quero.

Eu não perdi pessoas pra morte, ainda assim, a saudade me persegue e a falta me cerca.

crônicas
Larissa Xavier Eduarda Medina

Foto:MariaEduardaCogo

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JORNAL 40 GRAUS, UNIPAMPA SÃO BORJA, FEVEREIRO DE 2023 Foto: João Gabriel Rangon Foto: Maria Eduarda Cogo Foto: Maria Eduarda Cogo
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