Triste fim de policarpo quaresma em quadrinhos MDP

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LIMA BARRETO

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA Adaptação de Ronaldo Antonelli Ilustrações de Francisco Vilachã

E nsino M édio

MATERIAL DIGITAL DO PROFESSOR autoria de Gustavo Assano CC BY NC 4.0 International


Triste fim de Policarpo Quaresma São Paulo, 2021 – 1a- edição Material Digital do Professor Ensino Médio

Responsabilidade editorial: Ana Mortara Coordenação editorial: Estúdio Caraminhoca Autoria: Gustavo Assano Revisão: Equipe Casa de Letras

Joaninha Edições Ltda. Rua Fradique Coutinho, 1139 Vila Madalena - São Paulo - SP Tel. 011 2157-3687

Produzido sob licença CC BY 4.0 International


Sumário

Carta aos professores .............................................. 5 Propostas de atividades 1 ........................................ 6 Propostas de atividades 2 ...................................... 18 Para aprofundar ..................................................... 33 Sugestões de referências complementares ....... 38 Bibliografia Comentada ........................................ 39



Carta aos professores Caro educador/educadora, Este manual busca estabelecer pontos de contato entre a matéria literária apresentada neste livro e você, que é quem de fato coloca em prática o processo educativo. O presente volume consiste numa adaptação para a forma de história em quadrinhos de um dos principais romances publicados no começo do Século XX, por muitos tido como a obra máxima de Lima Barreto. O fato de ser uma adaptação em HQ não pode ser tratado como mero detalhe. Aqui serão fornecidas uma série de questões, propostas de atividades e materiais suplementares que permitirão elaborar o quão proveitoso o uso dessa forma pode ser. Esperamos que ache útil e divertido! O romance adaptado é Triste fim de Policarpo Quaresma, de 1911, considerado uma das principais obras do que se convencionou chamar de pré-modernismo brasileiro. Nela é apresentado um apurado e irônico retrato da vida social, econômica, cultural e política dos primeiros anos da Nova República. Ao conceber o personagem Policarpo Quaresma, Lima Barreto organiza as principais feições do bovarismo implícito no nacionalismo militarista reavivado ao longo da primeira década do século XX. O major Quaresma será por muitos alcunhado “Dom Quixote brasileiro”, pois seu idealismo expõe os autoenganos e inadequações de aspirações culturais que entram em choque com uma realidade áspera e hostil a purismos idealistas do nacionalismo brasileiro. As frustrações, autoenganos e descompassos ideológicos das classes dirigentes do país são examinados criticamente pelo olhar sensível e atento de Lima Barreto. A linguagem em quadrinhos permitirá que estes temas e questões sejam apresentados com objetividade e com diferentes consequências expressivas para serem discutidas. Esperamos que achem útil para o bom trabalho em sala de aula!

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Propostas de atividades 1 1) Tema: O universo das HQs relacionado com prosa romanesca e cinema. (EM13LP51) Selecionar obras do repertório artístico-literário contemporâneo à disposição segundo suas predileções, de modo a constituir um acervo pessoal e dele se apropriar para se inserir e intervir com autonomia e criticidade no meio cultural. (EM13LP54) Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias – mediante seleção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório artístico –, e/ou produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário.

Conteúdo: Apresentação das histórias em quadrinhos enquanto forma específica de expressão artística compreendida e comparada com formas literárias em prosa e formas cinematográficas. Objetivos: Capacitar alunos para a compreensão das histórias em quadrinhos como forma e gênero artístico que possui uma especificidade expressiva, e para a distinção entre esta forma e a especificidade das formas narrativas em prosa, bem como das formas cinematográficas. Justificativa: A forma de composição de obras ficcionais a partir de história em quadrinhos representa uma forma de comunicação de massa amplamente difundida e profundamente consolidada em termos de penetração popular. Neste sentido, sob um primeiro olhar, não há grandes desafios em propor que se leia uma obra escrita no formato de história em quadrinhos para educandos. Em boa medida, a maior parte destes jovens já se familiarizaram com sua estrutura de composição, suas convenções básicas de apresentar personagens, espaços, temporalidades e dinâmicas de enredo.

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No entanto, tal como acontece com a maior parte dos temas relacionados à conversas e discussões sobre obras de arte e apreciação de escrita literária, dificilmente alguém gastou alguns minutos refletindo sobre como estes elementos estão dispostos em termos de consolidação da forma específica em que este material é consumido. Não é muito diferente do que se passa quando se tenta discutir um romance ou um poema narrativo. Ao perguntar sobre as impressões sobre um livro como, digamos, Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, alguns dirão que acharam o personagem Leonardo Pataca engraçado e divertido, enquanto outros poderão acha-lo cruel e irresponsável; alguns poderão achar o enredo dinâmico ao ponto de não poder largar o livro, e outros acharão uma chatice sem fim. Independente destas posições, é muito fácil esta conversa ser desfiada esquecendo-se que a forma lidada é a de um romance, assim como é deixado de lado a consciência sobre quais elementos da leitura são específicos dessa forma artística. Pois bem, a mesma preocupação pode estar presente quando se discute uma história em quadrinhos com estudantes em sala de aula. Tanto uma revista em quadrinhos quanto um romance dispõem narrativas que se constroem a partir de enredo, foco narrativo, personagens, linguagem contextual e variedade de recursos de narração. E por terem estes elementos em comum, ambos também podem trazer grandes questões a partir de problemas da natureza do material fictício, do papel do leitor e da importância e maneira de emitir juízos de valor. Cabe ao professor atentar e enfatizar o fato de que ao se discutir estes elementos, se está assimilando construções formais comuns à prosa literária, assim como ao cinema de ficção.

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Metodologia: Numa primeira rodada de conversa, é possível que muitas de algumas das mais célebres HQs de super-heróis sejam mencionadas, como Homem-Aranha, Batman, e X-Men. Talvez seja da predileção de alguns as revistas derivadas de tirinhas humorísticas e espirituosas como Calvin, Asterix, Turma da Mônica ou até mesmo a obra da Laerte ou a Mafalda de Quino. Pode ser que na sala de aula já se possa encontrar aficionados do gênero, havendo citações de obras consideradas de grande maturidade da forma, como as de Alan Moore ou Neil Gaiman (nunca se deve subestimar as possibilidades de contato dos estudantes com uma forma artística tão diversa e tão massificada!). Ao propor esta atividade, que pode ser das mais descontraídas, é importante que se incentive nos alunos: - A compreensão e consciência sobre o amplo leque de possibilidades sobre a variação de formas de contar histórias e de apresentar gêneros narrativos. Por mais que alguém goste de tirinhas concebidas por Maurício de Souza e não aprecie tiragens limitadas da Marvel, é importante que se articule e enuncie esta diferenciação a partir de elementos das obras levadas em conta pelos alunos. - A reflexão sobre os conteúdos das obras citadas na atividade. São muito bem-vindas perguntas simples como “por que você gosta dessa HQ?”, ou “por que você não gosta desse personagem?”. Aqui o educador também é um facilitador no convite para que os alunos elaborem sobre o próprio gosto, ainda que seja uma fase inicial da conversa sobre forma proposta em sala de aula. Desta forma os alunos se sentirão incentivados a lidar com a obra a ser lida em sala de aula como uma continuidade da fruição estética que já trazem tida como hábito extra-escolar. No entanto, não se deve deixar de levar em conta que se trata agora de uma discussão compromissada e não um mero momento de lazer. - A compreensão da existência de um alto nível de informação em diferentes gêneros de histórias em quadrinhos, com elemen-

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tos passíveis de serem absorvidos e discutidos em sala de aula. O próprio conhecimento do educador sobre a forma será de grande proveito nessa questão, pois é deste material que informações são constantemente absorvidas e assimiladas à própria linguagem dos educandos. Ao longo desta atividade, uma clássica comparação que poderá ser feita é sobre a relação entre histórias em quadrinhos e a forma do cinema. É muito possível que alguns alunos terão chegado ao universo das HQs tendo como primeiro contato com personagens célebres através de obras cinematográficas. Será de grande proveito enfatizar as proximidades entre estas formas, ambas de natureza primordialmente visual, dependendo de imagens para fazer narrativas progredirem, mas também concebendo o cinema como dependente de elementos de natureza diversa, como o som para o cinema e o texto escrito para os quadrinhos. Ao estabelecer esta relação, porém, é de grande importância enfatizar que estes meios não são idênticos. Ao assistir um filme, o espectador toma uma atitude muito mais passiva do que quando alguém lê uma revista em quadrinhos. Quando uma cena de filme se encerra, obrigatoriamente se assistirá a sequência seguinte, não sendo mais possível revisitar o trecho passado quando assistido no cinema. É desta forma que o diretor organiza o ritmo da recepção de seu público, fruindo da obra em plena passividade. Histórias em quadrinhos, por outro lado, cobram do leitor uma atitude ativa, não muito distante da leitura de um romance em prosa. Pode-se ler uma página em alguns segundos, ou pode-se contemplá-la por muitos minutos a fio, sendo da escolha do leitor o ritmo da experiência de apreciação. Um grau maior de interatividade e compromisso é cobrado dos leitores de HQ e estas diferenças não podem ser perdidas de vista nesta conversa introdutória. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

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2) Tema: As especificidades da forma HQ. (EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP54) Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias – mediante seleção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório artístico –, e/ou produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário.

Conteúdo: Apresentação de elementos estruturais e estilísticos específicos da forma artística história em quadrinhos a partir do desenvolvimento de conhecimentos prévios do contato com esta forma. Objetivos: Capacitar os alunos para a identificação e articulação de elementos estruturais e estilísticos específicos da forma história em quadrinhos, bem como romper com prévias ideações sobre a oposição entre arte elevada e arte de menor valor em relação a outras formas artísticas, como o romance moderno. Espera-se que com esta aula os alunos tenham os instrumentais necessários para ler uma história em quadrinhos conscientes da linguagem específica desta forma Justificativa: Num momento prévio à leitura da obra em questão, se tem uma boa oportunidade de quebrar preconceitos antigos sobre os quadrinhos como uma cultura menor e as obras romanescas em prosa como necessariamente fonte de elevação por mera convenção do gênero literário. Romper este preconceito é uma forma de furar o bloqueio da intimidação que os grandes nomes da literatura podem fazer recair sobre jovens leitores.

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Metodologia: Propor, seja em duplas ou individualmente, em discussão ou por escrito, que os próprios alunos façam uso de seu conhecimento prévio sobre a forma em quadrinhos e elenquem quais elementos desta forma se diferem de um romance em prosa. Conforme diferentes recursos técnicos são elencados, poderão ser reunidos na lousa, como balões de diálogo, caixas de narração, quadros sequenciados, balões de pensamento, onomatopeias ou imagens. - A partir dessa decomposição, que pode ter maior ou menor amplitude dependendo do que é reunido pelos estudantes, usar um exemplo que concentre uma sequência de três quadrinhos. Pode ser tirado do próprio livro que este manual introduz! - Proponha que, em duplas ou individualmente, se discuta e se coloque por escrito o que acham que está acontecendo na sequência de três imagens, independente dos balões de diálogo. É a oportunidade de encorajar que refinem e reflitam sobre o plano icônico e imagético dos quadrinhos independente do plano textual. Peça que cada dupla ou aluno individual leia o que redigiram. Nas orientações desta atividade, as seguintes ênfases podem ser dadas: Peça que relatem o que está acontecendo; que articulem como eles sabem disso; que digam como a sequência de imagens faz com que se sintam em relação aos personagens ou situação apresentada, e por quê sentem-se assim; que descrevam como os personagens se sentem, e que justifiquem a elaboração da resposta com elementos presentes nos quadrinhos.

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A partir do material fornecido pela discussão, uma série de elementos serão levantados para se esmiuçar a especificidade da forma de histórias em quadrinhos. Poderá ser sublinhada a importância da linguagem corporal e expressões faciais de personagens desenhados. Poderá ser discutido como imagens estáticas por si só podem contar histórias e, ao dispô-las em sequência, como uma progressão de conteúdos narrativos acontece. Será também uma oportunidade de discutir o papel das cores, quando são vivas, quando são neutras, ou até mesmo ausentes, trazendo ênfase para a consciência das escolhas artísticas das composições cromáticas dos quadros. Se poderá discutir a função da combinação entre linguagem verbal e imagética, entendendo-as como inter-relacionadas seja por complementariedade, seja por contradição (o que o personagem diz pode não ser condizente com o que é mostrado pelo quadro). Assim, se poderá apresentar os elementos básicos da construção narrativa em quadrinhos não a partir de exposições teóricas, mas da articulação da prática interpretativa sobre o material em questão. Esta consciência da forma artística poderá ser trabalhada a partir de conhecimentos que os alunos já possuem! Tempo estimado: Uma aula de 50 minutos.

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3) Tema: A relação da forma literária em prosa com a linguagem dos HQs (EM13LP51) Selecionar obras do repertório artístico-literário contemporâneo à disposição segundo suas predileções, de modo a constituir um acervo pessoal e dele se apropriar para se inserir e intervir com autonomia e criticidade no meio cultural.

Conteúdo: A especificidade da atividade de leitura e a necessidade do uso da imaginação do leitor para o bom aproveitamento do material fruído esteticamente na forma histórias em quadrinho e a diferenciação dos mesmos elementos para relacionar-se com a escrita em prosa. Objetivo: Capacitar os alunos para o exercício ativo e progressivo do exercício da imaginação para ir além dos elementos dispostos nos quadrinhos, bem como saber diferenciar ativamente a forma do exercício imaginativo para a fruição de textos em prosa. Justificativa: Um dos elementos básicos a se levar em conta ao tratar da forma história em quadrinhos é a fixidez da narrativa, em que momentos-chave da história são revelados pela expressão visual e outros são deixados a cargo da imaginação do leitor. Neste sentido, os estudantes são constantemente convidados a pensar quando leem histórias em quadrinhos, complementando na imaginação o que não está expresso em composição gráfica. Uma forma clássica do uso de histórias em quadrinhos em sala de aula em que estas facetas são exercitadas é quando o professor fornece uma tirinha qualquer e pede que os alunos completem os balões de diálogo em branco de forma que o conteúdo do texto verbal se harmonize com o que foi apresentado visualmente como ação narrada.

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Este precedente tão comum sobre o uso desta forma em sala de aula pode ser aproveitado para refletir sobre o sentido da adaptação de um meio artístico para outro. Dentro das possibilidades expressivas que se compõem num livro de histórias em quadrinhos, se pretende refletir sobre a compreensão da relação de adaptações como tradução de uma determinada forma de construir códigos simbólicos narrativos para outro, sem que a passagem da linguagem verbal para a icônico-textual seja vista como redução, limitação ou perda de complexidade. Metodologia: A partir de uma página ou coluna de histórias em quadrinhos, propor que se escreva em sala de aula um parágrafo que narre em prosa o material visual e textual em forma de HQ. O professor poderá justamente incentivar que o estudante complete com o uso da imaginação e organizando em forma de texto em prosa o que é apenas sugerido e não explicitado pelo material gráfico. Com o resultado do exercício feito pelos alunos, se terá a oportunidade de apontar como muitas linhas podem ser resumidas numa única unidade visual, um único quadro da HQ, ou como o contrário também vale, ou seja, como uma frase curta, ou um parágrafo de poucas linhas, ao omitir detalhes, pode resumir o conteúdo de uma página com 12 ou mais quadros. Desta feita, se terá claro e em termos práticos o que se deve ter em mente ao se levar em conta a leitura de uma adaptação de um meio para outro, que no fundo não é nada mais e nada menos que a tradução de um código expressivo (texto em prosa) para outro (HQ). Tempo estimado: Uma aula de 50 minutos.

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4) Tema: Os recursos narrativos na adaptação em quadrinhos para Triste fim de Policarpo Quaresma. (EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP49) Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes gêneros literários (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas, a manifestação livre e subjetiva do eu lírico diante do mundo nos poemas, a múltipla perspectiva da vida humana e social dos romances, a dimensão política e social de textos da literatura marginal e da periferia etc.) para experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura.

Conteúdo: A variação de técnicas e recursos estilísticos na progressão do enredo exposto na narrativa composta na adaptação de Triste fim de policarpo quaresma na forma história em quadrinhos. Objetivos: Capacitar e incentivar alunos para a consciência sobre a uso de recursos narrativos da especificidade do gênero narrativo história em quadrinhos na adaptação do romance Triste fim de Policarpo Quaresma. Justificativa: Ao terminar de ler a adaptação em quadrinhos de Triste fim de Policarpo Quaresma, é notória a riqueza de recursos deste gênero específico na apresentação do enredo, na composição dos arcos dos personagens e nas diferentes maneiras de apresentar os conflitos que fazem a trama se desdobrar. Estes recursos, ao serem enfatizados e interpretados de maneira consciente sobre sua função enquanto recursos narrativos, permitem tornar mais clara a apreensão dos sentidos da parábola concebida por Lima Barreto. A condição “quixotesca” do protagonista é percebida pelo leitor não apenas pelo idealismo caricatural de suas ações e visões de mundo apresentadas diretamente, mas também: pela forma como é referido por terceiros em cenas em que este não se faz presente;

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pelo contraste entre pensamentos e reflexões introspectivas indicadas por balões de nuvens e a interação objetiva colocada em cena pelos quadrinhos; pela complementação entre imagem e composição de fisionomias e gesticulações na interação entre personagens e caixas contendo o texto de um narrador onisciente; e pela forma como eventos passados ou eventos históricos mais amplos acabam por interferir na progressão da trama. Sublinhar a natureza multifacetada dos recursos narrativos da adaptação permite lidar de maneira mais objetiva e fluída com a complexidade da narrativa composta. Muito facilmente a percepção sobre os autoenganos do personagem Policarpo Quaresma podem ofuscar o que estas colisões e formas de inadequação com a realidade revelam sobre a própria realidade retratada. Caso apenas se retenha os sentidos cômicos do romantismo nacionalista representado pelos diferentes projetos malogrados do protagonista, corre-se o risco de criar a impressão de que a crítica da narrativa de Lima Barreto é apenas contra uma postura individual, quando é toda uma dinâmica social, toda uma situação política e todo um apanhado de convenções e costumes que estão sendo retratados criticamente, inclusive daqueles que riem do major Quaresma.

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Metodologia: Formar pares ou trios entre os alunos e propor a leitura das páginas 17 e 18 da adaptação. Nelas é apresentado a interação entre convidados na festa de casamento da filha do general Albernaz. Feita a leitura, propor que debatam como entendem a relação destes personagens coadjuvantes com o protagonista e o que estas passagens revelam sobre estes personagens e sobre o próprio protagonista. Enfatize a necessidade de usar os elementos dispostos no trecho para justificar os argumentos. Após um período de discussão, proponha que apresentem as conclusões ao restante da sala. Aproveite a oportunidade para estabelecer uma mediação entre discordâncias e conduzir a complementação entre as argumentações. Na condução da atividade, pode-se incentivar a discussão apresentando as seguintes questões: O que é dito sobre Policarpo Quaresma em sua ausência seria dito a sua frente? O que isso revela sobre estes personagens? O que a maneira deles tratarem uns aos outros revelam sobre eles mesmos? O que a noção de proibir acesso a livros para pessoas sem título acadêmico revela sobre a crítica destes personagens à loucura de Quaresma? O que a colocação de Albernaz sobre a Guerra do Paraguai seguida da revelação de que não lutou na batalha referida diz sobre a relação de Albernaz com a guerra? Com esta atividade, se fará oportuno indicar o recurso da narrativa de terceiros sobre a situação do personagem bem como também uma dimensão panorâmica do jogo de interesses do meio social a que Quaresma pertence. Ao falarem de um personagem ausente na cena, os personagens formam um retrato de si mesmos e da classe social a que pertencem. Quaresma não percebe o jogo de interesses por trás das várias relações que se estabelecem ao seu redor. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

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Propostas de atividades 2 1) Tema: O nacionalismo tematizado pela narrativa de Triste fim de Policarpo Quaresma. (EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente. (EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais. (EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.

Conteúdo: A forma como a ideologia do voluntarismo nacionalista é retratada no enredo de Triste fim de Policarpo Quaresma. Objetivos: Capacitar os alunos para a interpretação dos elementos que retratam as diferentes dimensões dos mitos fundadores sobre a excepcionalidade da cultura brasileira bem como a maneira como o enredo de Triste fim de Policarpo Quaresma esclarece seus limites e instrumentalizações políticas contraditórias ao longo da história política do Brasil na Primeira República.

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Justificativa: O patriotismo do major Policarpo Quaresma causa uma série de estranhezas em função dos purismos inscritos em sua visão de mundo. A natureza caricatural deste voluntarismo nacionalista está na condução dentro do enredo de posições ideológicas, projetos políticos e ideias sobre costumes e cultura local se redundando em manias, ideias fixas e atestados de insanidade. Há algo de paradoxal nas aspirações míticas do protagonista. O célebre exemplo do projeto de introduzir o tupi-guarani como língua nacional é motivado pela posição de completa aversão a inovações vindas do estrangeiro. Faz rir por excluir quase toda a língua e cultura da população não indígena como parte desta inautenticidade, inclusive a língua falada pelo próprio Quaresma. A descrição desta ideologia patriótica acaba sendo a descrição da própria personalidade do personagem, que tem como marca maior o isolamento e inadequação no convívio com os consensos da cultura local. Esta cultura local, no entanto, não é livre de críticas por parte da narrativa. A ingenuidade de Quaresma, tal como a insanidade de Dom Quixote em sua busca de aventuras oriundas de romances da cavalaria, aponta para um olhar crítico sobre um mundo que não condiz com utopias e purezas míticas de obras literárias de Basílio da Gama, José de Alencar, Gonçalves Dias ou do olhar de viajantes como Gabriel Soares ou Rocha Pita. No entanto, o problema não é apenas a aspiração mítica, pois as consequências sobre a realidade quando colocadas em prática permitem uma leitura crítica não apenas das ideias inadequadas, mas também dos elementos da realidade inóspita e cruel que torna Quaresma impotente.

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Assim, é delirante pensar que apenas porque as terras do Brasil são as mais férteis do mundo a agricultura deve prosperar sem levar-se em conta a aridez da economia dependente e de resquícios coloniais não superados ou as relações de mando e poder sobre a agricultura local; é ingenuidade quase infantil achar que todo monarca é justo por vontade de imposição da ordem nacional se não se leva em conta o jogo de interesses mesquinhos e a situação conjuntural que compõe as disputas e conflitos políticos do país. Ao lidar em sala de aula com estes limites e contradições da ideologia nacionalista figurada na adaptação em quadrinhos, é possível desdobrar alguns dos temas mais complexos do enredo de Triste fim de Policarpo Quaresma. Metodologia: Propor a leitura da 12 e da página 14, em que se expõe respectivamente a proposta de Policarpo Quaresma para a substituição do português pelo tupi guarani como língua oficial e a redação do relatório de guarnições na língua tupi, seguido da leitura da das páginas 36 e 37, em que Quaresma e a irmã recebem a visita de Olga e Dr. Armando Borges no Sítio Sossego seguido do ataque de sua dispensa pelas formigas. Depois, apresente o trecho contido da terceira coluna da página 53 até a o fim da página 54, em que Quaresma pergunta ao marechal Floriano Peixoto se este leu seu memorial de reformas para o estado. Ressalte a linguagem e recursos narrativos utilizados, os momentos de tom de paródia e os momentos de tristeza e frustração patética dos personagens. Enfatize que ali estão apresentados pontos chave dos grandes projetos de vida do major.

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Após a leitura e apreciação dos trechos referidos, forme duplas ou trios e peça para que elaborem respostas para as seguintes questões: - O que cada trecho revela sobre o personagem Policarpo Quaresma? - O que cada trecho revela sobre os projetos de Policarpo Quaresma? - O que cada trecho revela sobre o meio social em que Policarpo Quaresma deseja executar seus projetos? Com as respostas redigidas, proponha que cada dupla ou trio leia para a sala o que puderam formular. Tanto as discordâncias quanto as percepções em comum podem ser elementos proveitosos para explorar o quanto do patriotismo nacionalista serve para conceber críticas tanto às aspirações e ações do personagem Policarpo Quaresma quanto do meio social e da realidade que contradiz a visão de mundo do protagonista. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

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2) Tema: Os eventos históricos retratados na adaptação de Triste fim de Policarpo Quaresma. (EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente. (EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos. (EM13CHS104) Analisar objetos da cultura material e imaterial como suporte de conhecimentos, valores, crenças e práticas que singularizam diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço.

Conteúdo: Os eventos históricos que fazem parte de momentos decisivos do enredo de Triste fim de Policarpo Quaresma, como também elementos que permitem discernir o momento histórico que a adaptação retrata e comenta com olhar crítico. Objetivo: Capacitar e incentivar educandos a identificar e discutir os diferentes acontecimentos históricos que são retratados na trajetória do major Policarpo Quaresma, bem como a forma como estes acontecimentos são colocados na estrutura narrativa da adaptação em quadrinhos.

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Justificativa: O enredo de Triste fim de Policarpo Quaresma se inicia sem que uma data seja explicitamente fornecida. A percepção do momento histórico surge de situações e eventos que obrigam a relação da situação narrada com eventos históricos reais. Por vezes, estes eventos ou situações são meros “pano de fundo”, meros cenários, tal qual imagens colocadas em segundo plano contrapostas a ações dramáticas em primeiro plano. Mas noutros momentos estes acontecimentos históricos se revelam decisivos para a compreensão do destino das personagens. Estes elementos suscitam diferentes maneiras de lidar com o material histórico em sala de aula. Dada a deflagração da Revolta da Armada no fim da segunda parte da narrativa, pode-se deduzir que o enredo se inicia alguns anos antes de 1892 e depois da renúncia de Marechal Deodoro da Fonseca, já que o governo Floriano Peixoto é apresentado como em andamento. Com estes dados, também é possível deduzir que o país é acometido pela Crise do Encilhamento, em que uma nova classe financista surge nas disputas políticas. Sendo a assinatura da Lei Áurea fato ocorrido há menos de 5 anos, também se fazem presentes as marcas do trabalho servil e o esforço de substituição da mão-de-obra de ex-escravos por imigrantes recém-chegados sem que houvesse programas de indenização para os negros libertos, mantendo a situação de miséria já predominante antes das guinadas políticas a partir de 1889. É também marcante do período as diversas ameaças de golpes, revoltas, degolas e reformulações de quadros burocráticos que moldarão a ideologia das classes ociosas e do funcionalismo público e militar. Assim se explica as constantes referências à Guerra do Paraguai como exemplo fundante de glória bélica passada nos diálogos de salão por parte dos personagens militares. As marcas de todos estes fatos podem ser abordadas com a adaptação da obra de Lima Barreto.

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Metodologia: Faça uma apresentação geral do governo Floriano Peixoto como uma administração de tutela militar até 1894. Enfatize o descontentamento da oposição aos governos militares dada a situação de aprofundamento da Crise do Encilhamento, tendo o período marcado por fraudes, alta especulação e inflação galopante. Contextualize o estopim para a Revolta da Armada o fechamento do Congresso, que deflagra uma crise política sem perspectiva de conclusão pacífica e, somado a isso, Floriano Peixoto suspende as eleições temporariamente e entra em cena o jacobinismo florianista, movimento radical de apoio à “mão de ferro” do novo presidente. Enfatize o fato da república ter menos de 5 anos de idade no clímax da revolta contra Floriano Peixoto e a abolição da escravatura menos de 6. Em seguida, apresente o segundo quadro da página 36, em que o Dr. Armando Borges fala sobre a revolta de Fortaleza e a demanda pela volta de Deodoro da Fonseca. Após esta leitura, apresenta o terceiro quadro da primeira coluna da página 37, em que o empregado Felizardo explica que não toma iniciativa na agricultura por não haver condições para trabalhadores nativos como as oferecidas a novos agricultores imigrantes. Por último, leia detidamente com os alunos as páginas 42 e 43.

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Peça aos alunos que se organizem em trios e proponha que discutam o que estes trechos revelam sobre a situação do Brasil retratado no enredo. Feita a discussão, proponha a leitura e debate sobre as respostas formuladas. As seguintes questões podem servir de facilitadores para orientar a discussão: O que a forma de apresentar o diálogo entre Adelaide e Dr. Borges revela sobre a relação dos personagens com as agitações políticas em andamento? O que a resposta de felizardo revela sobre as impressões de Olga e sobre os projetos de Policarpo Quaresma sobre o cultivo da terra naquela região? Por que na maior parte do tempo os personagens parecem alheios à revolta que se torna tão decisiva na última parte da narrativa? O que cada reação de cada personagem revela sobre o que pensam da revolta? Enfatize e incentive o uso da forma narrativa, a situação dos personagens, a composição dos diálogos e dos quadrinhos para a elaboração das respostas. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

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3) Tema: A situação social da mulher tal como retratado na adaptação Triste fim de Policarpo Quaresma. (EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente. (EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos. (EM13CHS104) Analisar objetos da cultura material e imaterial como suporte de conhecimentos, valores, crenças e práticas que singularizam diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço. (EM13CHS105) Identificar, contextualizar e criticar as tipologias evolutivas (como populações nômades e sedentárias, entre outras) e as oposições dicotômicas (cidade/ campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros, razão/sensibilidade, material/virtual etc.), explicitando as ambiguidades e a complexidade dos conceitos e dos sujeitos envolvidos em diferentes circunstâncias e processos. (EM13CHS501) Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identi cando processos que contribuem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a autonomia, o empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade.

Conteúdo: A trajetória das personagens Olga e Ismênia, que permitem traçar comentários e tirar conclusões críticas sobre o lugar social da mulher nos primeiros anos da Primeira República tal como retratado na adaptação de Triste fim de Policarpo Quaresma.

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Objetivo: Capacitar e incentivar nos educandos a interpretação sobre uma perspectiva crítica intencional no enredo concebido por Lima Barreto sobre as obrigações e subalternizações que os costumes e as convenções socais impunham sobre as mulheres refletidas nas trajetórias dos personagens Olga e Ismênia. Justificativa: Tanto Olga, afilhada de Quaresma e filha do rico empreiteiro italiano, como Ismênia, filha do coronel Albernaz, padecem da mesma sina de ter o casamento burguês arranjado como única perspectiva mínima de emancipação familiar e autonomia social. Este é um tema fortemente marcado e tematizado no enredo de Triste fim de Policarpo Quaresma e apresenta consequências profundas sobre o sentido do comentário social que a narrativa faz sobre o mundo em que as fantasias de Quaresma sobre a pátria mítica e gloriosa não poderem existir como efetivas. Tanto a forma como se posicionam diante do casamento enquanto obrigação social como a maneira que se relacionam com o protagonista revelam perspectivas críticas sobre o lugar social esperado na sociedade retratada na narrativa. Ismênia, que é abandonada pelo marido prometido, sucumbe à ideia fixa de ver-se noiva e enlouquece. A demência revela a falta de perspectivas ou alternativas para conceber a própria autonomia e livre-arbítrio nos círculos sociais da elite carioca da época, e o casamento, ao invés de libertação, é uma prisão da autoimagem feminina. Já Olga será o exato contrário de Ismênia. Ao invés de frágil e abatida pelas frustrações trazidas pelas obrigações do matrimônio, casa-se com convicção e clareza sobre este papel, esforçando-se em não limitar sua personalidade a ele. Formula uma voz crítica própria, tece comentários críticos sobre a situação política, posiciona-se sobre os dilemas sociais da época e, junto com Ricardo, é a única que permanece ao lado do major Quaresma até o seu fim trágico.

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Olga parece ser a tradução ética do que Policarpo Quaresma poderia ser caso soubesse extrair conhecimento e sabedoria a partir da observação da realidade e não apenas de livros que grassam sobre a glória mítica infinita do país. Enfatizar a discussão em sala de aula sobre estas duas personagens permitem aprofundar a compreensão da crítica social implícita na narrativa de Lima Barreto bem como desdobrar as posições políticas defendidas pela composição da narrativa. Metodologia: Faça a leitura detida das duas primeiras colunas das páginas 19, em que Olga e seu pai estão a caminho do hospício em que Quaresma está internado e estão pensando sobre o casamento arranjado e as decisões que cada qual foi obrigado a tomar sobre o assunto devido às circunstancias. Em seguida, leia com os alunos detidamente a página 24, em que se apresenta o desgosto de Ismênia após ter sido enganada por Cavalcanti e sua incapacidade de superar a ideia de perda do casamento. Por último, apresente as páginas 67 e 68, que apresentam a conclusão da narrativa com o último esforço de Olga para tentar salvar Quaresma da execução. Após a leitura dos trechos em questão, proponha que sentem em pares ou trios e que discutam e formulem respostas para as seguintes questões: - Quais as diferenças mais marcantes entre Olga e Ismênia? - O que o trecho lido revela sobre o destino de Ismênia? - Por que a narrativa se conclui com a reflexão de Olga? As questões incentivarão uma formulação sobre as reações

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opostas sobre o lugar social da mulher brasileira no final do século XIX, mas também facilitarão a reflexão sobre o sentido da conclusão da triste trajetória de Policarpo Quaresma. Será uma oportunidade para enfatizar o contraste entre a visão de mundo de Olga e de Quaresma, bem como sobre sua perspectiva anticonvencional e em franco contraste em relação ao oportunismo mesquinho por trás das posições políticas de quase todas as personagens masculinas na narrativa, excetuando-se Quaresma e Ricardo. Diferentes momentos do enredo podem ser recapitulados, como a conversa com o empregado Felizardo na página 37, ou a defesa que faz do padrinho contra a acusação de ser doido na página 12. Também se poderá debater a ideia de espera por um outro momento histórico sugerido pela reflexão final de Olga, espera, quem sabe, por uma situação política que permita reconhecer na ingenuidade quixotesca de Policarpo Quaresma um desejo sincero por um país melhor que ainda não veio a existir. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

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4) Tema: A relação entre personagens fictícios e personagens históricos na adaptação de Triste fim de Policarpo Quaresma. (EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente. (EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos. (EM13CHS104) Analisar objetos da cultura material e imaterial como suporte de conhecimentos, valores, crenças e práticas que singularizam diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço.

Conteúdo: As consequências da interação entre personagens históricos reais, aqui exemplificado na figura do marechal Floriano Peixoto, tratados como personagens fictícios e a forma como permitem conceber na obra de ficção um profundo comentário histórico. Objetivo: Capacitar e incentivar nos educandos um olhar crítico sobre o tratamento literário de personagens históricos reais, como Floriano Peixoto, como personagens fictícios que integram num enredo fictício, mas que permite entrever e identificar comentários críticos e reflexões históricas profundas a partir da obra em questão.

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Justificativa: Há no enredo de Triste fim de Policarpo Quaresma o esforço de traçar a correlação entre vidas individuais, com suas ações e pensamentos, com a realidade objetiva compartilhada coletivamente, ou seja, com uma realidade histórica. Neste sentido, tal qual diversas tradições de romances realistas europeus do século XIX que foram mimetizados com diferentes resultados no Brasil, há um esforço de fornecer um retrato totalizador de uma situação histórica objetiva. Diferentes classes, espaços, tempos e tradições culturais são colocadas em relação no esforço de composição figurativa. Os eventos históricos centrais que se revelam determinantes para o destino da personagem, a saber, a consumação da Revolta da Armada contra Floriano Peixoto, são eventos cujos processos de desdobramento não são apresentados em primeiro plano, sendo o personagem, por assim dizer, “atropelado” pela história. O fato de se mostrar totalmente alheio aos acontecimentos amplos do país são uma escolha da composição do enredo que merece toda a atenção e busca de sentido na estrutura da narrativa. Quando o major busca Floriano Peixoto, espera encontrar um grande monarca unificador dos cismas nacionais e saneador das crises que o anti-herói começa a entender que existem em seu país. Não concebe, no entanto, os problemas em sua devida complexidade, esperando da “mão de ferro” a solução para as reformas que busca. Ora, o Floriano Peixoto apresentado na narrativa é o anticlímax dessa expectativa, podendo ser lido como uma crítica ácida sobre a cegueira de Quaresma, como também ao radicalismo militar da época. Metodologia: Propor aos alunos a leitura do primeiro quadro da página 41, em que se retrata a tomada de consciência por parte de Quaresma sobre a natureza política dos obstáculos para a prosperidade da agricultura no campo. Depois, propor a leitura detida das páginas 44 e 45, em que se apresenta o primeiro contato de

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Quaresma com o marechal Floriano Peixoto. Por fim, propor a leitura das páginas 53 e 54, em que se estabelece o último diálogo entre os dois, confirmando-se a leitura de Floriano sobre as propostas de Quaresma, bem como sua indiferença e desdém com estas. Ao longo da leitura, pontue o fato de que durante toda a narrativa até a página 41, Policarpo Quaresma tratava a política e os conflitos que demarcavam as crises do país como irrelevantes ou inexistentes, pois a excelência e vocação da nação para um destino grandioso ofuscava e tornava menores estas questões. Após a leitura, forme duplas ou trios entre os alunos. Proponha a discussão acerca das seguintes questões, cujas respostas podem ser entregues por escritos ou verbalizadas em discussão com a sala: - O que motiva Policarpo Quaresma a buscar o encontro com Floriano Peixoto? - Na forma como o encontro é retratado, o que a narrativa revela sobre Floriano Peixoto? - O que mudou em Policarpo Quaresma após o último encontro com Floriano Peixoto? - O que a forma como Floriano Peixoto é retratado no enredo da história em quadrinhos revela sobre a política brasileira da época? Enfatize a necessidade de argumentar utilizando elementos da narrativa nas formulações das respostas. A partir destas questões será possível lidar com o personagem Floriano Peixoto como figura histórica real, ao mesmo tempo que se aproveitará do enredo fictício para se pensar os sentidos da personagem para apontar a ironia do destino trágico desfechado. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos

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Para aprofundar Lima Barreto foi um dos cronistas mais argutos e perspicazes sobre os primeiros anos da Belle Époque brasileira e Triste fim de Policarpo Quaresma é tida como sua obra de maior fôlego. Primeiramente foi publicado em folhetins na edição vespertina do Jornal do Commercio entre 11 de gosto e 19 de outubro de 1911 e depois foi lançado como livro em 1915, publicado pela Revista dos Tribunais. Era seu segundo romance, seguido de Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909). Neste período o autor já ganhava fama de “do contra” nos círculos literários, seja pelos princípios defendidos, seja pelo propósito de compor sua ironia ferina. Provocador nato, era contra políticos afetados, intelectuais retraídos e aristocratas recém-consolidados. Sua vocação era de profundo crítico dos bovarismos da nova ordem social produzida pela Nova República e suas manias de elogiar e tomar como modelo todas as referências europeias e americanas e envergonhar-se do que é próprio da cultura local. De origem afrodescendente e profundamente consciente das discriminações e limites que uma sociedade ainda marcada pelo escravismo recém-abolido lhe impunha, desenvolveu uma sensibilidade rara entre os literatos da época para as questões sobre desigualdades sociais e as diversas injustiças colocadas em prática pelas muitas guinadas políticas e revoltas testemunhadas pelo autor ao longo do final do século XIX e começo do XX. No entanto, era filho de seu tempo e, portanto, era permeado de contradições. Oscilou entre o evolucionismo positivista e o pensamento liberal, as duas grandes doutrinas filosóficas das gerações formadas após as aspirações modernizantes da geração de 1870, antes de tornar-se profundo crítico do darwinismo social e flertar com o anarquismo e as novas visões de mundo sobre igualdade e luta social que passam a circular após a Revolução Russa, de 1917.

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Em Policarpo Quaresma, no entanto, estamos diante do Lima Barreto frustrado e melancólico sobre as promessas de futuro que gerações anteriores a sua nutriam sobre a possibilidade da Nova República, a abolição da escravatura e as reformas urbanas e científicas colocadas em prática na capital. O advento da nova ordem republicana foi marcado por uma série contínua de crises políticas, sociais e econômicas, trazendo consigo grandes ondas intermináveis de deposições, degolas, exílios, deportações, fechamentos do congresso e suspensão de eleições. Eram perseguidos tanto membros das elites tradicionais do Império como também grupos comprometidos com anseios populares das correntes mais radicais do republicanismo. Eram perseguidos e executados tanto os distantes quanto os próximos aos ideais republicanos, conformando um processo convulsivo de seleção política. Diante da nova paisagem cultural carioca, formada por novos ricos oriundos das substituições das antigas elites por uma nova classe financista adaptada à situação pós-crise do encilhamento, o novo arrivismo sondolidou um novo modelo de “burguês bem-sucedido”. A esta nova mentalidade econômica das elites, soma-se o rescaldo do “jacobinismo” florianista, o qual nutria um nacionalismo militarista raivoso que passa a ditar as tendências dos debates públicos ao longo da virada do século. É neste período que Lima Barreto se forma e ganha fama como escritor e cronista de olhar agudo sobre as transformações diversas vividas no dia-a-dia da nova realidade carioca. Também é neste período que Euclides da Cunha tomará parte em sua expedição a Canudos escrevendo para o jornal Estado de S. Paulo, levando-o a escrever Os Sertões, Olavo Bilac consolidará seu prestígio parnasiano, João Ribeiro publicará algumas de suas principais reflexões estéticas e Graça Aranha conceberá o seu Canaã, para se ter em mente seus contemporâneos de maior prestígio.

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Pouco antes do processo de publicação dos folhetins que já teriam como título definitivo Triste fim de Policarpo Quaresma, entre 1909 e 1910 Lima Barreto se engaja na campanha presidencial que representava os desdobramentos destas regressões ideológicas apontadas: o marechal Hermes da Fonseca, que representava o retorno do militarismo florianista ao poder depois dos primeiros presidentes civis com mandatos que não deram conta dos desdobramentos da crise do encilhamento, e Rui Barbosa, famoso jurista, político e diplomata, ex-ministro da Fazenda de discurso civilista e legalista, que fez uma campanha baseada no respeito ás leis, a cultura, a educação e da moralidade pública. Anti-hermista, aderiu a Rui Barbosa, mas não é difícil entrever sua percepção crítica aos dois lados em contenda por trás do idealismo de Policarpo Quaresma e a corrupção da sociedade que lhe faz escárnio. Ao longo das décadas de 1890 e 1910, convencionou-se destacar a ausência de obras verdadeiramente inovadoras em relação às tradições literárias consolidadas em períodos anteriores, ainda que obras e autores marcantes não faltassem (tanto Os Sertões como Canaã são de 1902, por exemplo). Será preciso esperar até o ano de 1922 para que um sentido de ruptura reaparecesse na literatura como evento irradiador de mudanças de pensamento e de formas de conceber a experiência cultural brasileira como um todo. É neste sentido que se emprega o termo “pré-modernismo”, que não deixa de ser um termo vago, pois serve mais como anteparo para conceber uma periodização (“tudo anterior à semana de 22”) do que para descrever o conteúdo e substância artística de obras colocadas sob um crivo crítico consistente. No entanto, será predominante nos artistas da época o desrecalque sobre a miséria pasmosa que assolava a maior parte do país e a tomada de consciência sobre os sentidos de uma sociedade de economia dependente e que não conseguiu superar as marcas da

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ordem escravocrata e colonial supostamente recém-abolidas com a nova ordem republicana. Será marca maior das obras pertencentes ao chamado pré-modernismo, portanto, a problematização da realidade social e cultural da vida brasileira. Usando a crônica social, a crítica política e a caricatura de costumes e convenções sociais do Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX, antecipavam a explosão de experimentações que dimanará da paulista Semana de 22. É neste sentido que Lima Barreto será tido pela crítica especializada como um dos maiores autores do pré-modernismo brasileiro. Não serão poucas as críticas contra a obra de Lima Barreto, tanto no calor da hora de sua recepção quanto em momentos diversos de seu desdobramento crítico ao longo do tempo. Foi avaliado como mais preocupado com a crítica social e menos com o rebuscamento e sofisticação da expressão artística e literária, muito mais comprometido com sua realidade imediata e os desdobramentos do meio que o cercava do que com o aprofundamento de suas capacidades criativas na escrita. No entanto, com o passar dos anos, é sua originalidade, sensibilidade, olhar único para as contradições culturais e lucidez de difícil comparação que se tornaram as marcas do reconhecimento de sua obra. Hoje é tido como portador de uma escrita tão viva quanto de Machado de Assis e Joaquim Nabuco em termos de atualidade e percepção de permanência. Entre os requisitos de sua escrita engajada, estava o imperativo da sinceridade, de modo que a prosa transmita diretamente os sentimentos e as ideias do escritor, presando a simplicidade e a clareza. Em seu modo de entender, há um propósito na literatura e o escritor é portador de uma missão: contribuir para a construção da liberdade no convívio entre os homens.

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Será um exemplar misturador de problemas pessoais com as questões sociais, sendo possível encontrar diversos elementos da biografia de Lima Barreto em suas obras (a insanidade de seu pai e a própria internação num hospício e a insânia e internações dos personagens em Triste fim de Policarpo Quaresma; os bairros e paisagens urbanas que presenciava e os cenários de seus romances; quase todos os livros citados como parte da biblioteca de Quaresma eram títulos na biblioteca pessoal de Lima Barreto). Na trajetória trágica de Policarpo Quaresma encontramos o máximo da capacidade expressiva de Barreto como ficcionista, cumprindo com a junção de questões particulares da época com o espírito geral do tempo histórico que se desdobrava. Forjou, assim, um romance histórico brasileiro estranho e singular, em que os traços negativos das derrotas sobre esperanças por outro país que ainda não se formou, mais justo e mais sensibilizado com as várias desigualdades e iniquidades que o conforma, pudessem ser configuradas artisticamente.

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Sugestões de referências complementares O triste fim de Policarpo Quaresma. Lima Barreto. São Paulo: Penguin, 2011. Romance. Policarpo Quaresma, Herói do Brasil. Dir. Paulo Thiago. 1998. – Adaptação para o cinema. “Revolta da Armada: Setores da Marinha lutam contra Floriano Peixoto”. Vitor Amorim de Ângelo. Endereço eletrônico: <https://educacao. uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/revolta-da-armada-setores-damarinha-lutam-contra-floriano-peixoto.htm>– Artigo jornalístico. Lima Barreto – Um grito brasileiro. Programa Mestres da Literatura, TV Escola. Dir. Mônica Simões. 2002 – Episódio de programa televisivo. “Mulato, pobre, mas livre”. Unidos da Tijuca. 1982. – Samba enredo. “Lima Barreto, um intelectual de fronteira”. Entrevista com Lilia Schwarcz. Revista Habitus. 2017. Endereço eletrônico: <https:// revistas.ufrj.br/index.php/habitus/article/view/17898>. – Entrevista com biógrafa de Lima Barreto. “As insanas do Hospício Nacional de Alienados (1900-1939)”. Revista História, Ciência, Saúde – Manguinhos. vol. 15. Rio de Janeiro. 2008. – Artigo científico sobre as práticas psiquiátricas do Hospital de Alienados do Rio de Janeiro, onde Lima Barreto foi internato e inspira-se para retratar a internação do personagem Policarpo Quresma na primeira parte da narrativa.

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Bibliografia Comentada BARBOSA, Alexandre; RAMOS, Paulo; RAMA, Angela; VILELA, Túlio; VERGUEIRO, Waldomiro (orgs.). Como usar a história em quadrinhos na sala de aula. 2. Ed. São Paulo: Contexto, 2005. – A publicação consiste numa coletânea de textos em que são apresentadas didaticamente as diferentes facetas e possibilidades do uso da forma história em quadrinhos em sala de aula. Há artigos que versam sobre a história da forma, as possibilidades de variação estilística e as precedências proveitosas do uso deste tipo de material por educadores. BARBOSA, Francisco de Assis. A vida de Lima Barreto: 1881-1922. 11 ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017 – Primeiro grande estudo sobre a vida de Lima Barreto e os sentidos de sua obra completa. Organizador das edições das obras completas do autor, esta publicação é responsável pelo resgate da escrita de Lima Barreto do ostracismo. Apresenta esclarecimentos e interpretações sobre eventos da vida pessoal do autor para a composição de diversas passagens de sua obra ficcional assim como contextualiza seus posicionamentos políticos. BOSI, Alfredo. “Pré-modernismo e Modernismo”. In: História concisa da literatura brasileira. 43 ed. São Paulo: Cultrix, 2006. Capítulo em que o crítico expõe sua conceituação sobre as leituras do conceito periodizador de “pré-modernismo” e os principais autores que publicaram no período abarcado. Lima Barreto é apresentado à luz do contexto histórico, sua biografia e alguns dos aspectos mais marcantes de sua obra de ficção, além de relacionado a outros autores do período, como Euclides da Cunha, João Ribeiro e Graça Aranha.

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CANDIDO, Antonio. “Os olhos, a barca e o espelho”. In: A educação pela noite. 5 ed. rev. pelo autor. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2006. Breve e profundo ensaio em que o acrítico analisa trechos dos diários e outros escritos memorialísticos de Lima Barreto, compondo em sua reflexão sobre a escrita do autor os elementos em latência que permitem entender seu projeto literário e aspectos de sua prosa em obras de ficção. Seu foco é a compreensão de como a experiência pessoal se mistura ao sentimento social para desaguarem combinadas na elaboração da escrita. LUKÁCS, György. “A figuração do conflito na épica e na dramática”. In: O romance histórico. Trad. Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2011. – Capítulo em que o crítico expõe a oposição entre forma épica e forma dramática e a eficácia de ambos na composição do gênero romance histórico. Estas reflexões são úteis para se refletir sobre o tipo de composição e processo de configuração figurativa se dá na estrutura do enredo de Triste fim de Policarpo Quaresma, pois também ocorre um esforço de espelhamento de realidade objetiva em oposição a uma trajetória individual. SCHWARCZ, Lilia Mortiz. Triste Visionário. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. – Biografia de Lima Barreto com muitos dados atualizados e diversas digressões úteis sobre as diferentes fases de sua vida, suas lutas e engajamentos políticos e os altos e baixos de sua carreira literária. A historiadora apresenta dados fundamentais sobre o contexto histórico e a forma como aparecem nas obras do autor e fornece diferentes pontos de vista sobre a recepção de sua escrita como cronista, romancista e satirista dos diferentes momentos históricos que testemunhou da vida cultural brasileira.

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SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1999. – Estudo amplo e profundo sobre os primeiros anos da primeira república, enfatizando o engajamento social e cultural de alguns dos principais intelectuais brasileiros na época. As transformações sociais, econômicas e culturais são abordadas com profundidade e dando ênfase para obra de dois dos maiores autores pré-modernistas: Euclides da Cunha e Lima Barreto.

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