Revista H2 ed.01

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E MAIS:

opinião| dj| mídia| história| grafite| novidades

+

cultura ENTRETENIMENTO análise


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Revista H2


H2 EXPEDIENTE Reportagem João Paulo Monteiro Juliana Prado Colaboradores Conrado Dacax Denis Warren D’Bronx Guaíra Maia Henrique Gasparino Nathalia Boni Diagramação João Paulo Monteiro Foto de capa: Juliana Prado

HEY, MANOS E MINAS

N

uma era em que a tecnologia se desenvolve em uma velocidade incrível, temos a impressão de que a informação também circula a todo vapor. Com isso, os artistas ganharam uma grande aliada: a internet, a forma mais atual e eficiente de comunicação. Além da facilidade na divulgação do trabalho em redes sociais, é possível aprender a fazer tudo no mundo on-line, como produzir uma música própria de maneira independente. Na matéria Você pode, descubra uma série de ferramentas disponíveis para quem está começando e quer mostrar ao mundo o seu trabalho. Em Repórter da Periferia e O Rap Sem Limites, saiba tudo sobre a história do rap e como o estilo veio parar no Brasil; já em Poesia de rua, abordamos o surgimento da expressão visual do Hip Hop: o grafite. O breaking aparece na história de Major em Vivendo nas Batidas do Rap, onde ele conta que viveu ao lado da dro-

ga, mas optou pela dança como estilo de vida. O Perfil desta edição traz a emocionante trajetória do rapper bauruense Coruja BC1, que canta sua realidade através da música e dos repentes, e a turbulenta relação entre o Hip Hop e a mídia é abordada em Resistência recíproca. Nós também falamos da Profissão DJ, regulamentada no ano passado, e desmistificamos os mitos e as verdades que envolvem a maconha. Afinal, será ela Vilã ou mocinha? Para fechar com chave de ouro, Trocando Ideia traz uma entrevista exclusiva com o rapper e apresentador Max B.O., que levanta a bandeira do rap dentro do programa Manos e Minas, da TV Cultura. No papo, ele fala de sua carreira, da mídia e do movimento Hip Hop. Isso, é claro, além das seções Opinião, Novidades, Depoimento e Galeria, que sempre pintam por aqui. Seja bem-vindo à revista H2 e boa leitura!

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sumário

break ing

Divulgação/Bauru Breakers Crew

Jair Magri

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07 max b.o.

Conversamos com Marcelo Silva, o rapper Max B.O. Ele, que é também o apresentador do programa Manos e Minas, da TV Cultura, deu sua opinião sobre a relação do movimento Hip Hop com a mídia.


Arquivo pessoal/Aubre “Dj Ding” Divulgação

06 cobertura 14 projeto Ensaio no Geisel novidades 17 os últimos lançamentos repórter da periferia 24 uma breve história do rap bauru 30 Hip Hop na cidade sem limites carta do leitor o Hip Hop sai da periferia

dj

18 42 gr afite

perfil coru ja bc1

Juliana Prado

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36 opinião 50 preconceito o poder da internet 52 dicas sobre como usá-la depoimento 67 o Hip Hop salvou a minha vida análise 68 Hip Hop e a mídia maconha vilã ou mocinha?


revista H2

carta do leitor

por grupo anonimono

O rap estourou, chegou na mídia, se popularizou. Abraçado pela indústria fonográfica e agora com tecnologias e informações mais acessíveis, é possível que cômodos bagunçados se tornem verdadeiros home studios. As produções de música independente estão em alta e o rap, que partilha do mesmo ideal Punk do “faça você mesmo”, não fica pra traz. Mas o fato de o Hip Hop ganhar uma visibilidade maior não significa que perdeu sua essência de rua. A questão é que, como qualquer gênero musical, tem coisas muito boas, comprometimento com a verdade e vontade de transmitir o que a novela não vende, e também coisas moldadas pra vender e fomentar estereótipos falidos de uma cultura muito mais rica do que as ostentações que promovem. O que, mesmo assim, em âmbitos gerais, ainda é visto como ascensão pra nós, pois é uma porta de entrada para aqueles que não conhecem a cultura. E uma vez do lado de dentro, aumentam-se as possibilidades de enxergar a dimensão do movimento e suas varias vertentes, que se estendem além do conteúdo ativista político/social. É um universo em expansão, e a prova disso é a repercussão que estão tendo os novos artistas. O rap ainda sofre alguma resistência por parte dos MCs mais conservadores que parecem ter tudo muito bem delimitado em suas visões sobre o que é e o que não vem a ser rap. Quase uma demarcação territorial. Certo que temos que tratar e manter as raízes, e é justamente por isso que não tem como impedir que essa grande árvore dê bons frutos e que a semente desses frutos gerem novas raízes. É um processo natural da vida, e quando se tenta interferir nessa naturalidade ocorre um conflito com a lei de progresso. O grito da rua é contra o preconceito, então está na hora de começar a praticar esta harmonia, caso contrário, de nada vale discursar em cima do palco com batida de fundo. A periferia é o primeiro degrau, e o primeiro é importante, pois dá a condição de existência dos demais, e sabe-se lá Deus onde essa escadaria vai dar. O rap é musica, musica é sensibilidade, e sensibilidade não tem endereço fixo, ela faz morada dentro de qualquer ser humano que lhe conceda o espaço. Hip Hop é cultura de rua e a rua passa na frente da casa de todo mundo. Para nos passar sua opinião, sugestão ou comentário, envie um email para revistah2@gmail.com. 06

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breaking

Vivendo nas batidas do rap Foi ainda criança que as batidas do rap passaram a movimentar os pés de Luis Enrique, conhecido por Major. No bairro do Jaraguá, periferia de Bauru, o garoto se interessou pelo breaking, dança que nasceu nas periferias, e de lá para cá, ele não parou mais: “Vi os caras dançando e me apaixonei por aquilo à primeira vista”. Texto Juliana Prado Fotos Acervo pessoal

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diretora, segundo ele). O tempo foi passando e seus amigos desistiram da dança. Alguns tiveram filhos, outros se perderam no tráfico de drogas, um foi preso, o outro se casou. Major não desistiu, continuou dançando.

Cresci ao lado da droga e de muita coisa ruim, mas eu fiz a minha escolha: a dança MAJOR O garoto evoluiu tanto que passou a participar de campeonatos regionais. Viajava para competições e eventos, trocava experiências com pessoas de vários estados e até de outros países. E tanto esforço só poderia lhe render grandes frutos: em 2010, recebeu o convite da Cia. De Dança WaziMu! para fazer parte de um espetáculo chamado Primatas

– do velho ao louco mundo. “Foi incrível pra mim, sempre admirei o WaziMu! e estar junto de alguns dos melhores dançarinos do Brasil, e até do mundo, foi muito marcante”. Logo em seguida, foi convidado a fazer parte do grupo em que dança até hoje. Ele conseguiu espaço para treinar na Academia Sigma de Dança, e as vitórias não param por aí: hoje, Major faz parte de projetos como o Wise Madness, que trabalha o lado espiritual dos jovens através da arte, cultura e esporte e também princípios cristãos. Faz parte, ainda, de um grupo de Hip Hop chamado Tijolo Crew, que envolve não só o breaking, mas também o grafite, MC e DJ, e do grupo chamado Bauru Breakers, e tem um novo projeto onde trabalha com vários bailarinos de outros tipos de dança, o T.W.A.B – Together we are better (Juntos somos melhores). Não é para qualquer um.

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om sua longa trajetória na dança, Major tem muita história pra contar. O interesse começou quando assistiu a alguns grupos que se apresentaram nos caminhões-palco que a periferia recebia. Ele gostou do que viu e passou a frequentar oficinar de breaking. “No começo, eu era o mais preguiçoso da turma”, confessa. “Mas todo dia eu treinava alguma coisa. Havia competições nas escolas e foi então que eu decidi que queria aquilo de verdade. Sempre fui muito competitivo, então me dedicava para ser o melhor”. Ele e seus amigos não deixavam de praticar. “Nós treinavamos onde dava. Se tivesse um bom chão e uma tomada, lá estavamos”. Passaram pela rodoviária (até a polícia expulsá-los de lá), pela praça Rui Barbosa, e até já pularam o muro da escola para dançar lá dentro (com conhecimento da


RESPONSABILIDADE SOCIAL Um papel importante do Hip Hop nas periferias é tirar as crianças e os jovens da rua para, em troca, fornecer cultura de qualidade, aliada a educação e diversão. Major cresceu na periferia, onde teve contato com as drogas e a criminalidade. Ele não esconde a alegria em dizer que a dança foi sua salvação: “Eu cresci ao lado da droga e de muita coisa ruim, mas fiz a minha escolha: a dança. Sempre que eu pensava

em entrar nesse mundo, falava: não, a dança é mais importante”. Hoje, o rapaz dá aulas para mais de 20 crianças na ONG Periferia Legal, trabalho que ele define com uma palavra: orgulho. Ele conta que, quando recebeu o convite da ONG para dar aulas, ficou com receio de não saber ensinar. Mas se enganou, já que, segundo ele, foi mais fácil do que imaginava. Para o professor, cada criança é

um motivo para continuar: “É muito gratificante ver as crianças evoluindo e tendo a dança como uma influência cultural legal para a vida deles. Me vejo em cada aluno”. Além do prazer em dar aulas, Major comenta a importância dos projetos sociais nas periferias. “Eu vivo em uma periferia e sei o quão impactante o Hip Hop é na vida de cada criança. Acredito muito na transformação social através da arte e

Bauru Breakers Crew: Kustelinha, Lucas Yalahar, Major e Victor Soares Revista H2

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da cultura. Muita gente critica, acha que é bobagem, mas é porque não vêem crianças de 8, 9 anos vivendo em lugares infestados pelo tráfico de drogas”, afirma.

história O breaking nasceu em meados dos anos 70 no Bronx, bairro de negros e hispânicos em Nova York. O grande responsável pelo estilo foi Kool Herc. A dança de rua recebeu várias influências, entre elas um pouco de funk, afro e o balanço de danças latinas. E para praticá-la, não basta ter suingue - os passos exigem muita força, energia e criatividade. O breaking representa a manifestação corporal do Hip Hop, e tem esse nome porque os praticantes dançam na “quebrada” da música. No estilo, não são só os pés ou as mãos

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que se movimentam, é o corpo todo - e também o intelecto. Para Major, mais do que dança, o breaking é estilo de vida. “Hoje, o breaking é meu trabalho. Eu danço em apresentações, dou aula, tiro meu sustento da dança. Sou competidor também. Já viajei pra vários lugares do Brasil, já fui pra Venezuela”. Com o tempo, veio à tona a tradição das “batalhas” de dança. A competição era disputada por gangues rivais do Bronx. Dois grupos eram colocados frente a frente e cada batalha durava seis minutos. Esse formato foi modificado, mas ainda há grandes campeonatos pelo mundo todo. Ganha quem dançar melhor, de acordo com os juízes. O grande desafio é ser mais criativo que o oponente, e os movimentos bem executados também

contam pontos. Tudo depende de muita habilidade, e uma série de critérios podem ser avaliados, como a presença de palco, a música escolhida e a dificuldade dos movimentos.

breaking neles Levar solidariedade e educação aos jovens de Bauru: é esse o objetivo de um trabalho realizado no bairro Beija-flor, periferia da cidade. A “Organização Não-Governamental” Periferia Legal tem o intuito de afastar as crianças do mundo do crime. Na sede do projeto, localizada na Rua Afonso Forrenti, 240, são ministradas aulas gratuitas de dança de rua, técnicas de DJ, e também sessões de cinema. O local ainda conta com uma mini biblioteca, com a finalidade de estimular a leitura entre as crianças.


“Bboying é meu estilo de vida. Sou bboy quando acordo, quando estou trabalhando, quando estou em qualquer lugar. Está em tudo para mim, na maneira de me vestir, de me comportar, de pensar. O breaking sou eu, e eu sou o breaking.” MAJOR

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Freezes: nesses movimentos, o bboy fica imóvel em uma posição de difícil execução. É, muitas vezes, o auge da apresentação. Em uma batalha, quanto mais difícil a posição, maior a nota dos juízes.

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FIM DE SEMANA NO

BOSQUE

“É da hora porque aqui na quebrada a gente conhece todo mundo. Aqui é um lugar de lazer e trazemos o rap pra cá. Temos que usar o espaço pra isso aí mesmo, pro bem, pro Hip Hop, pra orientar a molecada”

MC Dharlis, Mentes Blindadas texto e Fotos João paulo monteiro

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uas vezes por mês rola no bosque do Geisel o projeto Ensaio, organizado pelo Ponto de Cultura Acesso Hip Hop. Tudo é bem simples: o DJ solta a base e quem quiser pega o microfone e lança sua ideia. Sempre aos sábados, no fim da tarde, começo da noite, sem uma hora exata pra começar. Durante a tarde, ainda antes das rimas, o pessoal vai chegando ao bosque enquanto a aparelhagem começa a ser montada. Reencontros, conversas, cigarros, risadas. “É sempre assim, aqui todo mundo é amigo e um fortalece o outro, todos da paz”, comenta Felipe Canela, DJ. Durante uma das vezes em que fui acompanhar o evento, um grupo me chamou a atenção, o Mentes Blindadas, aqui mesmo de Bauru, formado pelos MCs Dentão e Dharlis. Enquanto Dentão usa sua nova camisa do Corinthians (“Libertadores é

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nossa, rapaz”), Dharlis exibe suas tatuagens do Palmeiras e da Mancha Verde (“Ano que vem a gente mata os gambá na Liberta! Fica ligado moleque”). O clima é de total descontração entre os dois, nomes importantes na história do rap bauruense. Mas, os “inimigos no futebol, amigos na vida” não me chamaram atenção somente pelas preferências futebolísticas, mas pelo que cantaram. “Enquanto os manos davam um tapa no beque, eu já tava ali sentado na brisa,


cobertura

Além do rap, basquete também é opçao de lazer no bosque

no meu rap. Então fiquei de boa, tô legal, tô firmão, tô a pampa. A brisa que eu tô, é mais louca que essa daí, essa é diferente, nem vende por aqui. E não dá pra plantar, porque não tem semente, é diferente, cresce na minha mente, se é que você me entende. Ás vezes brota e sai um som, Deus é o agricultor dono do meu dom, me faz saber viajar consciente, pra mim não viajar clandestinamente, porque eu tô ligado que rap é viagem, e quem me passou a caminhada foi o Sabotage.”

Conscientização. É isso que buscam com suas letras. “Apesar do preconceito que o rap sofre, já que muitos acham que só tratamos de temas como violência e drogas, continuamos rimando. Falamos sim de violência, de drogas, mas dos males que causam. Não existe apologia, somos totalmente contra”. Em outro sábado, me chamou a atenção o sentimento de união daqueles que fortalecem o movimento. Como canta Coruja BC1, “a união faz mais que açúcar, e rap é mais que hit, se liga, presta atenção, que é Bauru City”. “Estou falando pela voz do gueto, falo sim, não tenho medo”. Com esse espírito, assumiu o microfone MC Jal. Era sua primeira vez. Vindo do bairro Ferradura Mirim, o jovem de 21 anos sentiu a pressão de estar frente a frente com nomes que fizeram a história do rap bauruense. Errou a letra, parou, baixou a cabeça e pediu desculpas aos seus mestres e ao público. Revista H2

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Mentes Blindadas: rap bauruense de qualidade Prontamente, Dharlis puxou uma salva de palma e gritos de incentivo. MC Jal, agora cheio de confiança, pediu pro DJ soltar novamente a base. “Morador de rua morre de frio, fome e sede, uns morrem queimados, outros no porrete. Não entende o que estou falando? Vai ler jornal, veja o que estão anunciando. Playboy de madrugada en-

che a cara, ri que nem gazela, tira a favela. Sabe inglês, até espanhol, faz natação, joga tênis e futebol. Enquanto isso num farol, vejo um moleque, queimando no sol, vendendo chiclete”. No fim, MC Jal deixa uma mensagem: “não tenho o melhor carro nem o tênis mais caro, mas eu tenho atitude. Faço revolução através das palavras. É muito fácil reclamar e ficar parado. Não inveje nenhum playboy nem sinta vergonha da sua vila, da sua cultura, da sua coMC Jal: nervosismo na estreia do rapper do Ferradura Mirim

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munidade. Pelo contrário, sinta orgulho da sua origem, por mais difícil que ela tenha sido. Nunca se esqueça de que unidos vamos fazer a revolução”. E é assim que o rap se manifesta no bosque do Geisel. Um lugar normalmente calmo, com crianças brincando e famílias passeando, mas que, duas vezes por mês, recebe caras que querem protestar com a voz, que se opõem ao sistema. São bauruenses que clamam pela fé, querem proteção às crianças, lutam contra as drogas e o tráfico e pregam a igualdade, uma sociedade sem racismo e sem preconceito.


NOVIDADES

Não chegou para ser mais um por HENRIQUE GASPARINO

Com mensagens de paz e de superação, D´Bronx lança o álbum “Pra quem não desistiu” trabalhando o mais do mesmo, mas com sua marca no que diz respeito à letra e melodia, demonstrando personalidade. Por meio de seu som, o rapper traz palavras de incentivo no melhor estilo “Se tu lutas, tu conquistas” de SNJ.

Pelo Facebook, Rap Nobre MC lançou sua mais nova música, “É Possível”. Para escutar, é só acessar a fanpage do cara! Curte lá! www.facebook.com/RapNobreMC

Neste segundo álbum solo, o bauruense canta sua trajetória pessoal e profissional, abrindo uma lacuna de esperança para a juventude em desalento com a atual situação econômico-social. Com a participação de Jessé Pedra, Josiel Rusmont, Thigor, Lito Atalaia e Nene, “Pra quem não desistiu” é um álbum que se apoia na fé em Deus. Apesar de não focar, especificamente, em uma religião, D´Bronx mostra sua confiança em uma força maior e, através de sua experiência de vida, chama a atenção para a importância de

Também pela rede social, a galera do

um apego para superação de obstáculos.

Tijolo Crew disponibilizou para down-

Pelo visto em seu som, esse rapper ainda

load “Mais um ano se passou”, do MC

nos brindará com novas músicas e com sua

JF com produção de Felipe Canela.

mensagem inspiradora em um futuro não mui-

www.facebook.com/TijoloCrew

to distante. Que sua luta continue! Revista H2

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Foto: GuaĂ­ra Maia


PERFIL

O RAP AINDA É DEDO NA FERIDA texto João paulo monteiro

Dois MCs frente a frente. Dois rounds de trinta segundos e o tema é livre. Quem dá o veredicto é o público, à moda antiga, pelo barulho. Assim são as rinhas de MC. Idealizadas por Criolo Doido em 2006, têm na figura de Emicida seu maior vencedor (14 vezes). O evento foi um dos responsáveis pelo boom do rap nacional e por sua maior aceitação pelo público em geral. De forma independente, Criolo e Emicida são os líderes desta nova geração de rappers que recolocaram o estilo como um dos grandes no país, chamando a atenção da mídia e, desse modo, daquelas pessoas que antes só conheciam o gênero pelas músicas de fora que tocam nas rádios. Em 2010 Emicida veio a Bauru para um show gratuito durante o Festival Canja, o resultado foi o Parque Vitória Régia lotado. Já em 2012 foi a vez de Criolo lotar uma casa de shows com velhos e novos fãs do rap. “Hoje o rap é um movimento mais aceito, o preconceito tá diminuindo”, afirma Gustavo Vinícius Gomes de Souza. Com apenas 18 anos, Coruja BC1, como é conhecido, é um dos rappers desta nova escola que vem se destacando em Bauru, cantando sua realidade e tentando, por meio de suas letras, transformar. Confira nas próximas páginas a matéria com o jovem rapper.

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Foto: Conrado Dacax

ilho de pais nordestinos, o improviso do repente era algo constante na vida de Coruja. Com o passar do tempo, conheceu o rap, e logo com Racionais MC’s e Planet Hemp. Desse modo o rap entrou na vida do jovem para nunca mais sair: “quando descobri o freestyle, foi amor à primeira vista”. O rap para Coruja é assim, além de paixão, uma forma de expressar a sua verdade, seus sentimen-

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tos e sua vivência: “tento passar o que aprendi com meus erros, o que vejo do mundo e o que vivi, sempre tentando acrescentar alguma coisa na vida de quem me ouve”. Aos nove anos chegou a Bauru. Antes disso, já conhecia e fazia suas primeiras rimas, mas aqui na cidade é que ganhou o apelido que usa até hoje, acrescido posteriormente o BC1: buscando conhecimento em primeiro lugar. Bezerra da Silva, Nina Simone, Tim Maia, Bob Mar-

ley até Emicida. O respeito e o gosto pelos mais variados estilos musicais é a marca de Coruja, que busca influências em cada um deles. Com apenas 12 anos começou a escrever suas letras, ao mesmo tempo em que dançava em grupos como Crew Panic Crew, Breakmon e Breamonster. Em 2010, deu prioridade ao rap, com letras sentimentais e de desabafo. Temas como drogas, desigualdades sociais e respeito são constantes nas músicas do rapper.


Família

O vídeo de Não Posso Murmurar já ultrapassou a marca de 64 mil visualizações no Youtube amo incondicional, guerreira pra carai, não é qualquer mulher que consegue criar dois filhos sem pai”.

Até surdo ouviu O trecho anterior é de Não Posso Murmurar, música presente na mixtape “Até surdo ouviu”, lançada no meio deste ano e pro-

duzida por Felipe Canela, Miez Beats, Rodrigo Dakor e pelo próprio Coruja, com apoio do Ponto de Cultura Acesso Hip Hop. Todas as músicas do álbum são de autoria de Coruja. Apesar de escritas durante uma fase dolorosa de sua vida, após a morte do avô e do pai, as letras

Conrado Dacax

Coruja não nega suas origens nordestinas, muito menos tem vergonha do fato. Emociona-se aos falar sobre seus pais: “não tenho o que reclamar da minha vida. Os treze anos que vivi com meu pai foram ótimos, era um senhor baixinho, negro, nordestino e batalhador. Tive uma mãe guerreira que fazia três trampos por dia, para que eu e minha irmã pudéssemos crescer, ter uniforme e uma calça pra usar”. A admiração pela mãe está evidente no trecho: “Mãe, desculpa pelos trabalhos que eu te dei, sei que não sou perfeito, mas tu és meu maior bem. Te

Zika Zuka Crew: da esquerda para a direita: Thigor, Coruja, Dom Black, Felipe Canela, Miezbeatz e Vitor Felix Revista H2

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Foto: Guaíra Maia

trazem mensagens positivas. E o jovem não canta sozinho. A música Bauru City conta com a participação de Dom Black e trata de modismos e produtos de marcas famosas em uma Bauru na qual a desigualdade social é gritante. Já em Liga os Colômbia, junto com MC Dentão, canta sobre a repressão sofrida pelo usuário de maconha, enquanto políticos cometem atrocidades com o dinheiro público. A crew de Coruja, a Zika Zuka, também está presente na mixtape e no clipe Não Posso Murmurar. Produzido por Rafael Pesotto e Conrado Dacax e com apoio do Ponto de Cultura Acesso Hip Hop, o vídeo já alcançou mais de 58 mil acessos no Youtube.

“Sozinho a gente nao consegue nada” Coruja BC1 vinha tentando há anos gravar um álbum: “Dobrava meu joelho toda noite, pedindo ajuda para que Deus abençoasse e colocasse as pessoas certas na minha vida”. No começo deste ano o rapper participou e venceu o duelo de rimas no “Sarau de Arte Urbana”, um evento que reuniu bboys, MCs, grafiteiros e outras artes integradas, realizado pelo Ponto de Cultura Acesso Hip Hop. “Foi um dia muito aben022

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çoado pra mim, por ter ganhado a batalha e, a partir daquele dia conheci melhor o Magu, o Renato Moreira, e hoje a gente trabalha junto e ele já faz parte da minha história”. Com o clipe de Não Posso Murmurar pronto, Coruja o enviou pelo Facebook para Rodrigo Tuchê. O produtor gostou do que viu e convidou Coruja para a batalha Rival Vs. Rival, em Diadema. “Passei uma tarde na Casa do Hip Hop, foi uma experiência enorme”, conta o rapper. Realizado pelo grupo AfroBreak, na ocasião Coruja ficou em segundo lugar, atrás do MC Luca.

O RAP “Acredito que a música, principalmente o rap, é um material de transformação de vidas, algo que acrescenta muito na vida das pessoas e promove uma transformação social muito grande”. É com esse pensamento que Coruja compõe e canta suas letras. Além de tentar passar algo positivo para a vida das pessoas, o protesto também é

uma marca do rapper, uma “revolta e indignação contra o sistema em si”. Segundo Coruja, as humilhações são constantes na vida dos pobres aqui no país, e isso causa revolta: “você nasce com a polícia batendo nos seus familiares, agredindo a gente só porque a gente usa uma calça larga ou porque é negro e usa cabelo black ou trançado. A gente cresce numa realidade de apanhar e

sofrer humilhações”. Como viveu tudo isso na pele, Coruja canta com propriedade. Buscando identificação com o público, canta para a periferia, para aqueles que se identificam com sua música. Mas sabe que seu público não é limitado: “se eu cantar para alguém que não é daqui e puder acrescentar alguma coisa que melhore o caráter ou alguma outra coisa na vida desta pessoa, amém”, finaliza.

O MC é um visionário, sempre vendo o que está errado e colocando o dedo na ferida CORUJA BC1

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Foto: GuaĂ­ra Maia

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rap

repórter

da periferia texto João paulo monteiro

O rap hoje está em evidência em Bauru. Claro que você não vê D’Bronx, Dom Black ou Coruja BC1 estampando uma capa de jornal nem sendo comentado no telejornal, mas isso importa? O movimento está mais forte do que nunca aqui na cidade. Novos nomes trazem novas rimas que arrebatam cada vez mais fãs. Mas, para chegar ao nível que notamos hoje, tanto de aceitação, como de qualidade, foi uma trajetória difícil para o rap. Confira nas próximas páginas um breve relato das origens do gênero, como ele chegou ao Brasil e a nova cara que demos a ele.

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Sarah Edwards

Samantha Lauren

Michael Buckner/Getty Images

Sal Benedetto

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ara entender a origem do rap, é preciso voltar no tempo e viajar um pouco. Na década de 60, na Jamaica, eram comuns as disco-mobiles, uma espécie de discoteca ambulante, que eram colocadas nos guetos para animar os bailes. Com o aparelho, as festas eram na rua mesmo. Durante estas festas, assumiam o microfone os chamados toasters, considerados os primeiros Mestres de Cerimônia. Esses MCs discursavam seguindo o ritmo da música, levando conhecimento e críticas aos presentes. Assuntos como a violência nas favelas de Kingstom ou a situação política da Jamaica eram frequentemente abordados. Devido à crise econômica e social, muitos jovens deixaram a Jamaica rumo aos Estados Unidos na década de 70. Entre eles DJ Kool Herc, que foi o responsável por levar para o Bronx, nos Estados Unidos, a disco-mobile e, junto dela, as festas.

Nas festas de rua estadunidenses foi se misturando o funk e o soul a diversos ritmos diferentes. A partir dai, começaram a despontar MCs e rappers cheios de discursos de denúncia, até mesmo raivosos, muitas vezes influenciados pelos Panteras Negras. Desse modo, com as rimas seguindo o ritmo da música, nasceu o rap, Rythm and Poetry, em português ritmo e poesia. Assim, “ao vivo”, nos quarteirões pobres do Bronx, sempre à base do improviso. Keith “Cowboy” Wiggins e Grandmaster Melle Mel foram os pioneiros desta manifestação cultural e artística.

Dos guetos as quebradas paulistanas O rap, junto do movimento Hip Hop, chegou ao Brasil no início da década de 80. Não se sabe muito bem o que chegou primeiro, se foram as músicas nas rádios, ou a dança com vídeos de Michael Jackson, mas


Foto: Nathalie Gringold

João Paulo Monteiro

o que importa é que o Hip Hop chegou aqui no país. Foi difícil o início do rap por aqui, já que o próprio movimento Hip Hop optou por uma divisão. No começo, os jovens se reuniam na Rua 24 de Maio, em São Paulo, para dançar e cantar. Porém, devido às gran“Aqui no país, o Hip Hop foi des aglomerações e, com isso, incorporado predominante pela várias perseguições por lojistas população negra das periferias. e policiais, estes jovens passaCom o rap, este grupo social ram a se reunir na Estação São passou a buscar uma maior inBento de Metrô. Foi na estaserção dentro da sociedade. As ção que os “tagarelas” (como tragédias e mazelas das grandes eram chamados os rappers) e cidades que afetam os pobres os bboys se separaram, com viraram temas recorrentes nas o ponto de encontro dos letras dos rappers, como pobredançarinos se deslocando za, exclusão social, criminalidade, até a Praça Roosevelt. violência policial e urbana. O rap, Foi, portanto, na Estacomo um movimento cultural ção São Bento que o rap se com viés político, visa uma auestabeleceu na cidade de toexpressão, comunicação, pasSão Paulo, ao som de lasar uma mensagem de educação. tas, palmas e do beat box. A música não se limita a entreIncorporado predominantenimento, mas busca também temente pela população problematizar a realidade da qual negra, o rap foi ganhando autores e público fazem parte”. a cara do povo brasileiro. Denúncias, mazelas soCélio José Losnak, historiador ciais e tudo o que se passa na periferia estava ali, nas letras dos rappers. Por isso o rapper é, muitas vezes, chamado de repórter da periferia, por retratar por meio da sua música tudo aquilo que vê. O início foi conturbado. Mesmo assim, aliando as letras do rap com as batidas do DJ e o break, sem apoio Revista H2

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crescendo em São Paulo e no país, mas se mantinham ainda na “marginalidade” da mídia e do grande público. Foi somente em 1997, com “Diário de um detento” do álbum Sobrevivendo no Inferno dos Racionais MC’s é que o gênero alcançou o topo das paradas pelo país. A música conta a história verídica do massacre no presídio do Carandiru, em 1992, quando 111 presos morreram. Mano Brown, Edy Rock, Ice Blue e KL Jay foram, portanto, os principais responsáveis pela divulgação do rap no Brasil. Desse modo, rappers que já há anos cantavam suas letras, passaram a ser reconhecidos fora das periferias também, como o próprio Thaíde. Muitos, na verdade a maioria, continuam até os dias de hoje lutando sozinhos. Sem qualquer tipo de ajuda, os rappers criam

Foto: Divulgação/TV Band

algum da mídia e de gravadoras, grupos de rap faziam sucesso na capital paulista, o que resultou, no ano de 1988, no lançamento da coletânea Hip Hop Cultura de Rua. Importantes nomes do rap estavam ali, como Thaíde e DJ Hum, MC Jack, Código 13 e O Credo. No ano seguinte, foi a vez do lançamento do primeiro volume de Consciência Black, que trouxe artistas como os Racionais MC’s, Criminal Master e MC Gregory. Em 1989, foi estabelecido o MH2O, Movimento Hip Hop Organizado que proporcionava, além de oficinas e shows de rap gratuitos nas periferias paulistanas, as principais ideias para as letras, por meio de debates sobre questões raciais, sociais e políticas. No final da década de 80, o rap já não era tido mais como um modismo, consolidando-se como trilha sonora da periferia, com letras cada vez mais conscientes e críticas. A partir daí, o Hip Hop e o rap foram somente

Thaíde

selos independentes, gravam seus próprios álbuns, divulgam no boca-a-boca seus shows e vendem seus próprios CDs. Mesmo assim, o rap hoje está incorporado ao cenário musical brasileiro, tendo saído da periferia e vencido preconceitos, ganhando o grande público. Dezenas de álbuns de rap são lançados anualmente, porém, apesar de vários estilos diferentes dentro do rap, o gênero não perdeu sua essência de denúncia, seja das injustiças ou como vivem os pobres das periferias brasileiras.


Foto: Marion S. Trikosko

Martin Luther King e Malcolm X

Desde que se estabeleceu nos EUA, nos anos 70, numa violenta Nova Iorque, o rap impôs a discussão de questões negras. Os Estados Unidos viviam então a ressaca de conflitos raciais que incluíram desde o pacífico movimento pelos direitos civis de Martin Luther King até a militância armada dos Panteras Negras. No Brasil, o debate realmente se intensificou após a projeção do grupo americano Public Enemy, na segunda metade dos anos 80. Seus clipes mostraram um novo mundo de ideias para os rappers do país. Grupos tradicionais de São Paulo como Racionais e DMN admitem Chuck D & Cia. como influência. Malcolm X e Martin Luther King tornaram-se leitura de cabeceira.

Foto: Carolina Sauceda

“A Rua é Noiz” Emicida Revista H2

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Revista H2


BAURU

o rap sem

limites texto João paulo monteiro

Assim como na capital, aqui em Bauru o Hip Hop só se firmou no fim da década de 80 e começo dos anos 90. Antes disso já havia alguns rappers e bboys, mas somente por meio dos bailes do Icaraí, Flashdance, Skinadance e do Bancários, que tocavam rap, é que o movimento foi ganhando força. As músicas de MC Pepeu, Ndee Naldinho, MC Jack, Código 13, Irmãos Metralha e Black Júnior, além dos gringos Afrika Bambaataa, Grandmaster Flesh, Onyx, Public Enemy e Kurtis Blow animavam as noites dos bauruenses.

Foto: Guaíra Maia

Revista H2

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Revista H2

Conrado Dacax

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DJ Ding

te fazer música igual os outros”. Foi então no começo dos anos 90 que surgiram os primeiros grupos de rap da cidade, como o Extermínio MCs, Conscientização Rap, Impacto Frontal, Sociedade Feminina e o Desacato Verbal. Este último, responsável pela gravação do primeiro LP de rap do centro-oeste paulista, o Desliga Essa P..., em 1993. DJ Ding, do Desacato Verbal, comenta que no começo era tudo muito difícil e diferente do que é hoje: “Começamos aqui em Bauru em 89, 90. Era eu e o TuReprodução

C ‘‘

ara, sabadão todo mundo queria dançar na pista de dança iluminada da Flashdance e, no domingo, era Bancários e, logo depois surgiu o Skinadance que era rap mesmo e ali, no começo dos anos 90, foi desenvolvido algo legal”, comenta o saudoso Aubre Idesti, o DJ Ding, um dos pioneiros do rap em Bauru. Se nessa época já era difícil, antes era pior. O rapper Ricardo Dias, o Pica Pau, comenta o quanto era complicado: “o Hip Hop começou na minha vida em 1986. A gente não tinha muitos recursos e o que a gente ouvia era pela rádio, a 96, mas a explosão foi com Thaíde e DJ Hum. Pergunte pra qualquer um, você vai ver que não tinha como, tocava nas FMs, era muito legal. Mas, as dificuldades eram muitas, começavam pelo lugar para tocar, porque não tinha. Aí passava pra parte da tecnologia. Os discos de base eram os mesmos pra todo mundo, então era maçan-

A gente saía de Bauru, pegava o trem e ia pra Sao Paulo para curtir os bailes

Desliga Essa P..., álbum lançado em 1993 pelo Desacato Verbal


Conrado Dacax

Alexand re Silv a

thão, e a gente começou a correr junto, ele de Piratininga e eu aqui de Bauru e assim, sem aparelhagem nenhuma. Só gostando de rap e boa. O primeiro mixer foi um radinho AM/FM que um técnico em eletrônica soldou uns cabos e fizemos”. O palco para as festas normalmente era na Praça Rui Barbosa. Desde o começo, os meios de comunicação tradicionais deixavam de lado o movimento. A divulgação era feita no corpo-a-corpo mesmo, um indo até a casa do outro e anunciando a festa. “A praça foi o primeiro lugar que teve um movimento do Hip Hop, no coreto. Eram umas minas

cantando, altos caras tocando. Lembro da Sociedade Feminina, Efeito Frontal, muita coisa legal. E, pra nós, era uma coisa muito nova. Durante a semana era assim, de segunda a sexta trabalhando e, no sábado, rolê na Batista de Carvalho, que era o ponto

Coreto na Praça Rui Barbosa, no Centro de Bauru

O Hip Hop pra mim é filosofia de vida, é o estilo que escolhi pra mim em qualquer lugar que eu estiver PICA PAU Revista H2

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Con rad o

D

ac

ax

não era organizado. Durou até 2006 e tinha como um dos objetivos a profissionalização de MCs, por meio de oficinas gratuitas. O fim deste projeto talvez se deu pela queda do rap e do movimento Hip Hop em Bauru. E a causa foi a violência. Tocando outra vez na cidade, os Racionais MC’s viraram notícia no caderno de polícia em 2005. Durante o show, um jovem de 19 anos foi morto em um tiroteio no meio do salão. Logo depois da abertura com a música “Jesus Chorou” os disparos foram ouvidos. Mano Brown pediu para que os presentes ficassem calmos e para que o corpo fosse conduzido

Divulgação

de encontro com o os amigos”, lembra Pica Pau. A consolidação mesmo do movimento, segundo o rapper Pica Pau, se deu quando os Racionais vieram para Bauru. Foi em 1990, no clube dos Bancários. E, ainda no clube é que o pessoal se reunia na chamada “Hora do Peso”, quando os bboys tomavam a pista. O movimento só passou a ganhar certo destaque na mídia em 1999, com o Som das Ruas na Rádio Unesp FM e o Voz da Periferia na Undertech FM. Dois anos depois, em 2001, nasce o Núcleo Cultural Quilombo do Interior. O projeto surgiu quando algumas pessoas perceberam que o Hip Hop em Bauru era forte, mas

Depois dessa morte, parou o Hip Hop. Nessa época atuava como oficineiro e tinha 40 alunos só no Vila Dutra. Foram 34 pais que me procuraram e me cobraram: como eu falava que Hip Hop é compromisso e de repente acontece uma coisa dessa? PICA PAU

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Revista H2


João Paulo Monteiro Divulgação Divulgação Juliana Prado Divulgação

até o palco. Num ato de fé, o rapper rezou o Pai Nosso e pediu proteção ao jovem baleado. Hoje o Hip Hop voltou a figurar entre os principais gêneros na cidade. Um dos grandes responsáveis é Renato Moreira, o Magu. Ex-diretor presidente do Quilombo do Interior, hoje ele está à frente do Acesso Hip Hop. Em abril de 2011, graças à Lei de Incentivo a Cultura, foi criado o Instituto Acesso Hip Hop, um braço do Instituto Acesso Popular, este criado em 2006. Além de oferecer oficinas, o Ponto de Cultura abre possibilidades efetivas para os artistas do Hip Hop, produzindo e gravando músicas e até mesmo clipes para rappers da cidade. Além do Acesso, o coletivo de artistas Somos Um e a ONG Periferia Legal também realizam ações na cidade que visam um fortalecimento, não só do rap e do Hip Hop, mas buscam também potencializar a qualidade de vida da população da periferia e a promoção da cidadania.

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matĂŠria especial

?

vilĂŁ ou mocinha 036

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os dois lados da

maconha

F

alar em maconha é gerar polêmica. Há quem diga que a droga mata neurônios, e tem também os que lutam pela legalização. Ela aparece em qualquer lugar do planeta, e não há um sequer onde não haja divergências nas opiniões. Afinal, a droga é ou não uma vilã? A Revista H2 foi conferir!

Texto Juliana Prado

das quais 60 se classificam na categoria dos “canabinóides”. De acordo com o Instituto Nacional da Saúde, sua principal substância psicoativa é o THC - tetrahidrocanabinol, substância mais associada aos efeitos produzidos no cérebro.

imunitária, coordenação, aprendizado e soluções de problemas. Devido às suas propriedades, os canabinóides podem produzir efeito analgésico, de relaxamento muscular, melhora de humor, estimulo de apetite, entre outros fatores.

No organismo

Ao fumar maconha, o THC passa pelos pulmões, onde é absorvido e, em minutos, cai na corrente O QUE É? sanguínea, quando chega Maconha é o nome até o cérebro. Os recepdado aqui no Brasil a uma tores atingidos se concenplanta chamada cientifica- tram em lugares diferenmente de Cannabis sativa. tes, como no hipocampo, Planta herbácea de clima cerebelo e gânglios baquente e úmido, é originá- sais. Esses receptores ria da Índia. Os primeiros estão ligados, sobretudo, relatos da erva no Brasil a funções de importância datam do século XVIII. em diversos processos Estima-se que a mafisiológicos, tais como conha contenha mais de regulação do metabolis400 substâncias químicas, mo, ansiedade, função

boa

x

Os efeitos colaterais da droga podem ser físicos e psíquicos, e sua ação depende de cada organismo. Fisicamente, as conseqüências imediatas mais comuns são olhos avermelhados, boca seca e taquicardia (coração disparado). Quanto aos efeitos adversos psíquicos, para algumas pessoas o uso da maconha pode causar angústia, ansiedade e medo. Pode acontecer também a perturbação da capacida037


de de calcular o tempo e espaço, além do prejuízo na atenção. O consumo interfe, ainda, na capacidade cognitiva do individuo, de concentração, memória, iniciativa e outras funções cerebrais, além de causar desmotivação para as atividades do dia a dia. A droga não “destrói neurônios”, como se costuma dizer, mas suas toxinas alteram o funcionamento destas células. Mas, para muitos, o uso da maconha causa sensação de bem estar, seguida de calma, relaxamento e riso imotivado. No livro de Fernando Gabeira, o autor diz que “a maconha leva a um estado contemplativo. Independentemente da presença de espiritualidade, é uma experiência humana para muitos indispensável”. Segundo alguns médicos, a droga apresenta menos danos

à saúde do que as drogas lícitas, como o cigarro e o álcool – não se sabe se por uma questão química ou apenas quantitativa. Se forem analisadas as proporções, o uso do “baseado” costuma ser esporádico, enquanto um fumante de cigarros de nicotina pode tragar mais de 2 maços por dia, e um alcoólatra, ingerir litros de bebida alcoólica. Mas um risco deve ser levado em consideração: a questão da dependência psicológica. Segundo o médico Dr. Ricardo Caponera, “esse é o grande perigo da maconha. Nesses casos, o corpo desenvolve uma tolerância, acostuma-se ao efeito daquela substância. Aí o prazer diminui, e o usuário acaba procurando drogas mais potentes, como a cocaína e o crack”.

SAIBA MAIS * Nenhum mal sério à saúde foi comprovado pelo uso esporádico da maconha; * O vício da maconha é muito mais psicológico do que farmacológico; * Não são conhecidos casos de abstinência causada pela maconha; * Não são conhecidos casos de câncer de pulmão pelo uso da Cannabis (já o cigarro de nicotina é a maior causa da doença). 038

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pla. Nos Estados Unidos, em vários A maconha foi, por muito temestados o uso é liberado e a droga é po, utilizada como “remédio”. Na usada com bastante freqüência para China, servia como analgésico, an- este fim, entre outras utilidades métidepressivo, antibiótico e sedativo. dicas. Existe, portanto, um potencial A erva foi citada na primeira farterapêutico da maconha conhecido e macopéia (livro de medicamentos) comprovado por pesquisadores. conhecida no mundo, cerca de dois Mas, para o Dr. Ricardo Capomil anos atrás. Mas a droga tamnera, o uso da maconha para fins bém foi utilizada, por muitos, para medicinais é “bobagem”. Ele confins não-médicos, principalmente firma seus efeitos terapêuticos, mas como “causadora de risos”. explica que hoje há fármacos mais Muitos acreditam que os efeitos eficientes no tratamento das enfernegativos superam os positivos, midades que poderiam ser tratadas mas os pontos nocivos da macocom a Cannabis. No caso do comnha não estão totalmente compro- bate à náusea, por exemplo, o mévados. Por conta disso, algumas dico explica que a potência da dropessoas lutam pela legalização da ga seria a mesma do medicamento droga no Brasil. Em alguns estados Plasil, vendido em farmácias. norte-americanos, o uso medicinal da maconha é legalizado. Segundo o médico psiquiatra Dartiu Xavier (ao lado), em entrevista à TV UOL, seu uso pode aliviar dores de quem sofre de esclerose múlti-

usos medicinais

Masao Goto Filho

Dartiu Xavier, médico psiquiátra e especialista em dependencia química

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AFINAL, POR QUE É PROIBIDA? Foi esta a pergunta que fiz a mim mesma enquanto escrevia este texto. É proibida porque faz mal? Mas há tantas coisas que fazem mal! Parece que não é bem assim. A guerra contra essa droga foi causada muito mais por fatores culturais, econômicos, raciais e morais do que propriamente por seus danos ao organismo. A maconha surgiu há séculos: há quem diga que oito mil anos atrás, outros garantem que não passa de cinco mil, e talvez não seja possível definir precisamente quando a Cannabis entrou para a História. Nos primeiros anos do século XX, a droga era liberada e utilizada para fins medicinais. Mesmo assim, era vista de forma preconceituosa. No Brasil, era fumada nos terrenos de candomblé. Na Europa, estava associada a imigrantes árabes e indianos. Nos Estados Unidos, muitos dos fumantes eram mexicanos que iam para o país em

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busca de melhores condições de vida. A droga esteve sempre associada às classes marginalizadas. Em 1920 foi decretada, nos Estados Unidos, a Lei Seca, também conhecida por The Noble Experiment, que proibia a venda, fabricação e transporte de bebidas alcoólicas. “A proibição do álcool foi o estopim para o ‘boom’ da maconha”, afirmou o historiador inglês Richard Davenport-Hines em seu livro The pursuit of Oblivion (A busca do esquecimento, ainda sem versão para o Brasil). Com a dificuldade para conseguir bebidas alcoólicas, a maconha passou a ser mais procurada. É neste momento que entra na história Harry Jacob Anslinger, comissário do Serviço de Narcóticos dos Estados Unidos, um homem conhecido por lutar pela proibição da maconha. Na verdade, estavam por trás de sua “luta” algumas questões


econômicas: a Cannabis estava derrubando a indústria de papel, já que servia como matéria prima mais barata do que as madeiras. Anslinger fez com que passassem a ser divulgados alguns “mitos” sobre a droga (como, por exemplo, que a maconha induzia a sexo promíscuo), e, baseado nos boatos, o Estado passou a proibi-la. E o trabalho dele não parou por aí: Harry fez questão de espalhar as “informações” a outros países, e não demorou para que as leis chegassem ao Brasil e também à Europa. O avanço da droga sobre a juventude aconteceu mesmo na década de 60, e influenciou na decisão dos países sobre manter a proibição. Esse período marca o “encontro” da maconha com a classe média – antes disso, a influência

da droga concentrava-se entre pobres e negros.

descriminalização A Lei Seca nos Estados Unidos foi desastrosa. Estimulou a criminalidade, surgiram alguns usos “estranhos” do álcool (foi o único momento da história em que se registrou o uso injetável da substância), houve aumento no índice de violência, entre outros problemas. Na opinião do médico Dartiu Xavier, não se pode criminalizar o individuo pelo uso de uma substância, a penalização apenas piora a situação. Ele acredita que esse tipo de medidas proibicionistas causam muito mais danos ao usuário do que a própria substância. Além disso, para o Dr. Caponera, o uso “não-oficial” da maconha estimula o tráfico, e “este sim é um problema para a sociedade”.

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“O que me cativou foram os muros. A ocupação e transformação da cidade, o preenchimento de espaços vazios. Parece que a cidade é nossa” Celso Oliveira

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grafite

poesia de rua Texto e fotos Juliana Prado

Cores, traços, formas e design tomam conta do cenário urbano. Os grafites se apresentam como um diálogo entre o artista e a rua, entre o muro e o espectador. Uma nova impressão é formada a cada pessoa que passa e interage com a pintura. Imagens modernas estampadas nos muros das cidades mostram a continuação de uma prática que vem dos tempos da pedra: a arte de escrever nas paredes, deixar sua marca, grafitar. Afinal, foi este o vestígio mais rico e fascinante que o homem deixou através do tempo: suas manifestações artísticas.

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o dom de transformar spray em arte O grafite teria surgido, da maneira como conhecemos hoje, por volta de 1968, junto com o movimento da contracultura, quando os muros de Paris foram utilizados para a estampa de inscrições poéticas. A técnica se desenvolveu, ganhou novos significados e, em questão de tempo, se espalhou pelo mundo. Nos Estados Unidos, o grafite despontou e se consagrou como linguagem artística em 1980, junto com o movimento Hip Hop. Para o Brasil, veio com ares norte-americanos, e se instalou no fim dos anos 80, mas já conquistou sua identidade por aqui – foi abrasileirado e hoje garante seu espaço, expõe nossa cultura e segue em constante evolução.

a rua é um museu ao ar livre Celso Oliveira é estudante e grafiteiro há cerca de 6 anos. O interesse pelo grafite começou ainda na escola, quando cursava a sexta série. O primeiro contato com a arte foi mesmo nas ruas, 044

onde, a caminho da escola, observava “novos muros” a cada dia. Depois, vieram oficinas e cursos, que só aumentaram sua vontade de pintar. “Fiz curso de desenho, mas sempre pensando em colocar aquilo nos muros. E fiz uma oficina cujo nome era ‘Lixo Arte’, também relacionada a grafite, mas que englobava serigrafia, fotografia, música e xilogravura. Acabei me apaixonando por todas essas linguagens”, conta Celso. Com as mãos sujas de tinta, ele fala sobre o prazer de pintar e interferir no dia a dia da cidade: “O que me cativou foram os muros. A ocupação e transformação da cidade, o preenchimento de espaços vazios. Parece que a cidade é nossa”, comenta. Seu primeiro contato com a arte foi através do grafite, e apropriar-se dos espaços urbanos acabaria mudando seus rumos para sempre, já que o dom não ficou só nas ruas: há três anos, Celso decidiu fazer das artes, sua profissão. Hoje, ele estuda Educação Artística na Universidade Estadual Paulista.


um espaço no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, quando foram Por muito tempo, o em diversos locais, como expostos 60 trabalhos grafite esteve associada de artistas brasileiros e uma importante ferraa uma conotação negati- menta na reintegração de italianos. O Museu foi o va. O fato de ser ligado à crianças e adolescentes primeiro do país a incorpichação tornou-o objeto na sociedade. porar o grafite. “A arte de combate pela sociecontemporânea tem se o grafite veio para dade. O grafite foi visto influenciado pelo grafite. democratizar a arte São muitos grafites que como um assunto sem Atualmente, é recoimportância, ou mesmo incorporam a sua obra, nhecido e considerado contravenção, e permaelementos que são niuma forma de expressão tidamente oriundos do neceu por um longo peincluída nas artes visuais espaço urbano”, afirmou ríodo à margem do que e urbanas, e distancia-se, Fábio Magalhães, curador conhecemos por arte. Mas essa concepção vem pouco a pouco, do conda mostra. ceito de pichação. E, se se transformando. Não Quando está criando, o alguém ainda duvida des- artista usufrui dos espaços apenas por ser uma forsa transformação, saiba ma de manifestação arpúblicos para interferir na que a técnica conquistou cidade à sua maneira. E a tística, mas também por

nada de pichação ou sua importância social. vandalismo, estamos Atraente para os jovens, falando de arte a arte de rua funciona,

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pintura que às vezes passa despercebida aos nossos olhos na correria do dia a dia, há de ser muito mais que uma simples tinta no muro. “Como qualquer outra manifestação artística, um bom grafite tem que comover de alguma maneira. Tem que arrepiar, extasiar, fazer você sentir, mudar

o seu olhar. Tem que ter sentimento”. Se é para chamar a atenção, o local escolhido não poderia ser mais estratégico: muros, objetos cuja finalidade não é a arte. E as ruas se tornam um museu a céu aberto, por onde passam, todos os dias, milhares de olhares à espera de sentir.

os gêmeos Com o grafite, alguns artistas já voaram alto. É o caso dos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, conhecidos como Os Gêmeos. A técnica entrou na vida dos caras em 1986, quando viviam na região central de São Paulo e a cultura Hip Hop chegava nas terras tupiniquins. Os jovens começaram a pintar suas ideias nos muros, e logo começaram a construir seu estilo. Como não existiam acessórios próprios para a prática, eles improvisavam com tinta de carro, látex, spray e usavam até bicos de desodorante para moldar seus traços. Em 1993, quando o artista plástico e grafiteiro Barry Mgee veio ao Brasil para realizar uma exposição de arte contemporânea, a dupla viu que poderiam viver fazendo o que tanto gostavam. Dois anos depois, realizaram uma exposição no MIS – Museu da Imagem e do Som - de São Paulo. Mas a vida como artistas plásticos só despontou em Munique, Alemanha, a convite de Loomit, grande nome do mundo da street art, que descobriu os brasileiros em uma revista sobre o tema. E foi esse o pontapé inicial para exposições em São Francisco e Nova York, onde suas obras ganharam espaço no mercado de arte contemporânea. Os Gêmeos passaram a levar suas criações para muito além das ruas e hoje têm obras espalhadas por todo o mundo! 046

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Divulgação


GALERIA

Vários são os grafiteiros que colorem os cinzentos muros da cidade. É o grafite tomando conta de Bauru.

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vale a pena tentar? Parque Vitória Régia é depredado após revitalização e cidade fica dividida: de um lado a arte, do outro o piche

Texto

Nathalia Boni Colaboradora

Fotomontagem: Jucivaldo Passos Arquivo pessoal

Contra pichações, fotógrafo bauruense Jucivaldo Passos sugere um Vitória Régia mais colorido e grafitado

T

odos os dias, o Parque Vitória Régia recebe inúmeros ciclistas, crianças brincando e soltando pipa, homens e mulheres caminhando, jovens fazendo malabares e outro tipo de atividade. Aos finais de semana esse número aumenta ainda mais e o local é palco de diversas manifestações culturais. O parque, no entanto, ainda é alvo de pichação e sujeira. Até quem não é daqui percebe como o vandalismo invadiu uma 048

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área tão nobre da cidade de Bauru. Para tentar mudar esse quadro, em setembro deste ano, estudantes da Faculdade de Engenharia da Unesp organizaram, juntamente com a Secretaria do Bem-Estar Social, o evento “Ao Vivo e Em Cores”, projeto de revitalização que deu uma cara nova ao Vitória Régia. As arquibancadas e as pétalas que ficam ao redor do palco foram pintadas, atividades recreativas, como a confecção de pipas e ma-


labares, foram realizadas com as crianças, além de avaliações físicas e várias apresentações musicais durante o dia todo. Três dias após o projeto, as áreas pintadas pelos voluntários foram pichadas durante a madrugada, sem a identificação dos responsáveis, causando indignação entre a maioria da população. O secretário da Cultura de Bauru, Elson Reis, considerou o ato “burro e injustificável”.

O piche é uma forma das pessoas mostrarem que estao vivas FINO

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Arquivo pessoal

mônio de uso comum, reformado voluntariamente por estudantes que nada têm a ver com alguma política da cidade, vale como forma de protesto? Até que ponto podemos afirmar que os responsáveis pela pichação tinham o propósito de reinvindicar os problemas da cidade? O fato é: a depredação causou mais prejuízos aos moradores de Bauru e aos voluntários do que a qualquer autoridade política, suposto “alvo” dos pichadores. O OUTRO LADO Alguns bauruenses, através das redes Dono de uma loja de Street Art, o gra- sociais, comentaram que o grafite podefiteiro Fino pensa diferente do secretário. ria ser uma solução para o problema da Para ele, a pichação é consequência de pichação. Alem de os grafiteiros poderem um problema social. “Pessoas que não expor seu trabalho, existe a questão do têm oportunidade na vida querem ser vis- respeito dos pichadores pela manifestatas. O piche é cheio de sentimento, cheio ção artística, e não haveria vandalismo. “E de raiva, e essa é a forma que encontram se, ao invés de simplesmente pintar novade mostrar que estão vivas”, afirma, demente, fosse contratado um artista para monstrando não ter visto mal no que fize- grafitar, como foi feito no Teatro Muniram os pichadores após a revitalização. cipal?”, questiona Jucivaldo Passos, fotóÉ indiscutível que inúmeros problemas grafo bauruense que produziu uma monsociais estejam presentes na cidade de tagem de como ficaria o Parque Vitória Bauru. Mas será que depredar um patriRégia todo “grafitado”. Vale a pena tentar?

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OPINIÃO o preconceito texto joão paulo monteiro

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esde o início do hip hop aqui na cidade, foram muitas dificuldades que precisaram ser superadas para que o movimento alcançasse o sucesso. Sejam entraves relacionados à tecnologia, à divulgação do movimento ou até mesmo encontrar um local adequado para os shows e festas. Todos os obstáculos já foram superados. Um que ainda persiste, mas o movimento ainda luta forte para superá-lo, é o preconceito. Querendo ou não, o mano é sempre colocado de forma pejorativa por quem vê de fora. Mano é aquele irmão de luta, que levanta a mesma bandeira. Mas, muitas vezes, mano é tido como o cara da calça larga e boné pra trás que faz arruaça e vandalismos na rua. Este estereótipo, que vincula o mano com coisas ruins, não é algo de hoje, vem desde o começo. Anos se passaram, e os manos ainda continuam na luta para desmistificar esse pensamento errado. O problema, talvez, é que o rap ainda é denúncia e, desse modo, muitas vezes tachado como violento. Mas é simples, se o rapper vê flores, ele fala de flores. Mas, se o rapper só vê tragédias, desgraça, polícia agredindo criança, lugares que não tem saneamento básico, vai falar do que nas músicas? Por isso, muitas vezes o rap é discriminado por falar de uma forma muito pesada das coisas, mas é a realidade do movimento. É o que se vive nas quebradas, então a denúncia tem que ser feita desta forma. Sobre esse assunto do preconceito, a Revista H2 conversou com os MCs Dharlis e Dentão, do Mentes Blindadas, confere ai um pouco da ideia dos caras.

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‘‘ Foto:Guaíra Maia


Fotos joão paulo monteiro

MC DENTAO

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A minha principal dificuldade dentro do rap é o preconceito. Até hoje, eu tenho mais de 30 anos e ando de calças largas e muitos me vêm e dizem, ‘o cara é vagabundo’. Não é porque você usa uma calça larga e fala uma gíria que você é vagabundo e maloqueiro. Eu sou pai de família, tenho dois filhos maravilhosos. As pessoas acham que MCs são vagabundos, mas a gente é mais informado que muitos. Um dos conceitos bons do rap é o de estar bem informado e ser capaz de trocar uma ideia. Usando nossas gírias e com o conhecimento que a gente tem das quebradas, a gente troca uma ideia. E, não tem como, quem é sofredor e já teve dificuldades na vida, ouve rap.

MC DHARLIS

Falou que é rap, já era. Mas agora o pessoal ta com uma outra visão, tão parando pra escutar e vendo que o rap não é apologia ao crime. As músicas que falam de assalto e de matar também falam que dá cadeia e morte, e que isso não dá certo. O rap mostra para os moleques que não se deve entrar no crime, não traficar, não coisa errada. O rap tá sendo feito com amor, a gente tá se dedicando e, graças a Deus, as portas estão se abrindo para nós.


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internet

Você pode! Texto João paulo monteiro Fotos Divulgação

O nível em que o Hip Hop brasileiro se encontra atualmente não está ligado à propaganda de grandes veículos de comunicação. Até hoje essa relação do movimento com a mídia tradicional é questionada, gerando muitos debates. Uma das principais características do Hip Hop é o exercício constante da comunicação e, desse modo, é impossível depender desta chamada grande mídia. Mesmo que nestes últimos anos seja possível notar uma aproximação entre mídia tradicional e Hip Hop, aqui em Bauru esse contato gera, na maior parte das

vezes, nada mais que uma agenda, ou seja, a mídia dá destaque aos eventos, realizando coberturas, mas ainda falta um material mais analítico e que gere reflexão por parte da população. Para não depender, portanto, desta mídia tradicional, muitos artistas e articuladores do movimento geram sua própria informação, principalmente por meio das redes sociais, como Facebook e Twitter. Acompanhe nas próximas páginas algumas dicas, como sites e redes sociais, que irão ajudar na divulgação e articulação do movimento pela rede virtual.

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A

lém de viver da música, você sabe qual a semelhança entre Mallu Magalhães, Arctic Monkeys, Fresno, Cansei de Ser Sexy e Justin Bieber? Simples, eles são somente alguns dos artistas que mais se destacaram nos últimos anos e que começaram tudo com um Blog, MySpace ou vídeo no Youtube, ou seja, usaram a internet para chegar ao sucesso. Você pode até não gostar da música deles, mas o uso que fizeram das ferramentas disponíveis na internet serve de exemplo pra quem está começando e quer mostrar o seu trabalho para o mundo. A internet causou uma revolução na música, dando a chance a artistas menores de aparecer. Da

geração do mp3, passamos agora para a das redes sociais, cada vez mais repletas de recursos. Na rede, os artistas podem disponibilizar suas músicas gratuitamente para que pessoas conheçam e passem a frente, como um “boca a boca” moderno. Antônio Carlos, de Pouso Alegre, interior de Minas Gerais, esteve este ano na décima oitava edição do Fórum do Hip Hop do Interior Paulista, realizado em Bauru pelo Ponto de Cultura Acesso Hip Hop. Há 15 anos dentro do movimento, somente após participar da oficina sobre Mídias Sociais e Mídias Espontâneas é que Antônio percebeu que já passou da hora de começar a usar a internet: “eu sou um cara que nem curto muito essa tecnologia, de mexer em Facebook,

Arctic Monkeys, Cansei de Ser Sexy, Justin Bieber e Mallu Magalhães são alguns exemRevistapela H2 internet 054 plos de artistas revelados

MSN, Orkut, mas sei que isso vai fazer falta pra mim, vou procurar agora entrar nessa área da tecnologia. Eu sou MC e, com o uso das redes sociais eu sei que eu posso pôr a minha música num número maior de lugares. A importância das redes sociais é isso, saber que vou levar o meu trampo, a minha arte, pra vários lugares sem sair de casa”.

O poder de divulgação da internet A internet se tornou há algum tempo o maior veículo de difusão de informação da nossa geração. Mesmo assim, não são todos que fazem bom uso desta ferramenta. Vários artistas não têm site e nem participam de redes sociais ainda. Estar inserido nesta rede virtual é fácil, não demanda nenhum conhe-


cimento específico nem a contratação de um expert no assunto. “A internet assumiu nos últimos anos uma posição obrigatória na divulgação de artistas independentes,

principalmente por ser um veículo de baixo custo, longo alcance e abrangente – independente da cultura, classe social, posição geográfica ou idade”, afirma o guitarrista Denis Warren.

São vários os sites que permitem essa inclusão de músicas, vídeos, fotografias, biografia, vendas e muito mais. A seguir, Denis Warren nos dá várias dicas sobre o uso dessas ferramentas.

1 – Procure sites que podem ser conectados, exemplo: Twitter + Myspace + Friendfeed. A vantagem é que as atualizações se dão de forma simultânea, ou seja, escreva num dos sites e o post é duplicado nos outros;

6 – Tenha uma padronização visual, um vínculo no design criando indentidade;

2 – Configure para que as movimentações de usuários, como comentários, perguntas, downloads, sejam comunicados via email, tornando mais eficaz o controle desse tipo de interação;

8 – Crie tags que sejam abrangentes, mas ainda diretamente relacionados com sua música. Estas podem ser atualizadas buscando assuntos em evidência no período;

3 – Coloque em cada site os links para suas outras páginas e o link direto para sua homepage;

7 – Coloque a informação de forma direta e clara para ser facilmente identificada;

9 – Não utilize o site para qualquer assunto que esteja com relação desconexa ao artista ou banda;

10 – Cada site tem um propósito di4 – Atualize os sites com frequência ferente. Atender o objetivo de cada para estimular frequentadores ativos; página é importante, então evite um bombardeio de informação desne5 – Permita em algum dos sites um es- cessária. Lembre que textos muito paço para interação do artista com longos não capturam o interesse do o público; visitante espontâneo.

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Facebook, Myspace, Youtube, Flickr, Twitter... Cada uma destas páginas e redes tem um propósito diferente. Então, atender o objetivo de cada página é fundamental. WEBPAGE É a principal página do artista na internet, onde são encontrados além das informações cruciais, os links das outras páginas sociais. O site deve ter design impecável com fácil acesso ao seu conteúdo, que poderá ser abrangente e detalhista. É ideal que o nome seja o mesmo do artista ou banda, e de fácil memorização. Tópicos comuns do site pessoal: Biografia/release: Quem é o artista, que tipo de música faz e quais foram as conquistas ao longo da carreira musical; Discografia: Quais os álbuns que já gravou ou participou. Pode ter uma descrição de cada trabalho, listagem das músicas, amostras em mp3, downloads; Videografia: Quais os vídeos que já gravou ou participou. Pode ser uma seleção de vídeos avulsos mesclando performances ao vivo, clipes, vídeo-aulas; Equipamento: O que usa para gravar e tocar ao vivo. Equipamento que coleciona; Álbum de fotografias: uma seleção de

vários contextos com fotos ao vivo, em estúdio, de divulgação, com outros artistas, em eventos; Turnê/datas: listagem de shows, participações e eventos relacionados ao artista, do passado ao futuro; Novidades: lançamentos, participação em eventos, novas conquistas, essa página tem como principal função trazer dinamismo ao site promovendo constantes atualizações; Downloads: de músicas, vídeos, rider técnico, cartazes, material de divulgação, encartes de CDs e DVDs; Links: todos os sites dos quais participa e links de patrocinadores e relacionados. Fórum: é o espaço ideal para interagir com o público e promover o diálogo entre pessoas compartilhando um assunto em comum: você. Contato: um e-mail ou similar onde é possível contato direto com o artista ou responsável. Sugestões:

DOWNLOADS Permitem uploads/downloads de arqui- tags relacionados, que sua música pode vos. Podem ser usados para armazenar as ser encontrada. Sugestões: músicas da banda/artista, dispondo o link em outras páginas da web, ou como ferramenta para divulgação. Por meio de um sistema de busca do próprio site, usando 056

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VARIADOS Linkedin: Página para conectar profissionais e estimular possibilidades de trabalho. Funciona como um Curriculum Vitae online onde o público pode ter acesso as suas informações profissionais e entrar em contato para assuntos pertinentes.

StarNow: Site com ofertas de trabalho voltados para artistas de vários gêneros. O sistema de filtragem permite encontrar trabalhos para um instrumento específico numa região pré-determinada. MÚSICA

São as principais páginas da web quando Reverbnation: Site voltado para o foco é música. Servem para exibir, promúsica independente promovenmover e divulgar o artista, buscar contatos do o elo entre o artista, os produpara shows e comércio. tores e as casas de espetáculo. Possui um ranking de acordo com os views e fãs e um Youtube: o principal arquivo de player que pode ser facilmente linkado em vídeos no mundo, não apenas re- outras páginas sociais. lacionado com música. Criando Palcomp3: uma das principais páseu canal no Youtube, você pode controlar ginas de música do Brasil com esefetivamente todos os vídeos que fez uplopaço disponível para downloads, ad e tem acesso às estatísticas de acesso. fotos, comentários e release. Artistas noUm número maior de views faz com que o vos são divulgados na home da página, vídeo seja encontrado facilmente e os co- o que catalisa o processo de divulgação mentários criam a interação direta entre os inicial. consumidores ouvintes. Muitas páginas na Cifraclub: Site para as cifras das web usam os links do Youtube para postar músicas da banda. É uma págios vídeos nos seus layouts. na com muitos acessos e que Myspace: Com a renovação do vem se renovando constantemente. Além seu conceito, o Myspace está di- das cifras podem ser encontrados arquivos retamente voltado para a música Guitar Pro, tablaturas e video-aulas. e o artista. O seu player permite a execuTrama Virtual: Página do ção imediata do repertório disponível e as selo Trama que reúne arplaylists promovem a divulgação direta. tistas independentes e remunera os doUnsigned: Página reunin- wnloads. Tem um Top 40 e um Top 100 do artistas independentes que ajuda na divulgação dos artistas e classificando por gênero e estilo. Existe mais visados. a possibilidade do cadastro de fãs que poVimeo: Parecido com o Youtube dem promover o artista nas suas páginas permite arquivamento e execução pessoais dentro do site. de videos, inclusive em HD. Revista H2

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REDES SOCIAIS Use apenas para assuntos relacionados com sua música/banda/artista. Assuntos pessoais devem se restringir a páginas pessoais, onde a divulgação se dá apenas aos amigos. A página da banda deve ter seu conteúdo pertinente às questões do músico. Twitter: com posts curtos, ideal para linkar com suas outras páginas e informar atualizações. Pode ser mais informal com pequenas notas descrevendo o presente e o recurso de retweet ajuda na promoção dos textos. Orkut: ainda bastante popular no Brasil. A página de perfil perdeu espaço para o Facebook e Twitter, mas ainda é muito forte. Veículo ideal para divulgações de massa atingindo público fora do eixo de amizade.

Recursos – comunidades, álbum de fotografias e vídeos, recados. Facebook: um dos mais populares com um grande número de inscritos, junto com o Twitter forma a principal dupla mundial. Toda empresa está vinculando suas projeções na mídia a esses dois sites. O botão Like pode e deve ser incluído em outros sites, o que facilita demais a propagação da informação. Recursos: álbum de fotografias, vídeos, posts com comentários, eventos, comunidades e muito mais. Friendfeed: parecido com o Twitter. Seus desenvolvedores acreditam que o Friendfeed torna o conteúdo de internet mais relevante usando a página social como ferramenta para descoberta de assuntos interessantes. Possui grupos vinculados a assuntos em comum.

BLOGS e FOTOLOGS São páginas que complementam as outras, fornecendo espaço para veiculação de assuntos específicos. Flickr: Uma das principais páginas para o arquivamento e demonstração de fotografias. Podem ser separadas em álbuns e comentadas. Fotolog: Arquivo de fotografias com legendas e espaço para comentários.

Blogger: Podem ser postados vídeos, músicas e fotografias, mas o foco principal é a qualidade do texto. O blog pode ser temático, mesmo quando o assunto é uma banda ou artista, por exemplo, para falar de equipamento, ou ser um diário de uma turnê.

Então é isso. Com um uso correto, a internet é uma poderosa ferramenta de divulgação do seu trabalho, trazendo um retorno direto e imediato do público. Agora que você já conhece os principais sites e redes, é só começar!

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A Revista H2 conversou também com Chico Maia, ele é jornalista e gestor de projetos na Prefeitura de Bauru desde 1988. Chico trabalha auxiliando, articulando e fortalecendo movimentos sociais e culturais, no sentido de prepará-los para que possam acessar recursos em nível federal, estadual, municipal e na iniciativa privada no Brasil ou até mesmo fora do país. São vários os mecanismos de empresas e de governo, via incentivo fiscal, na qual grupos ou artistas possam acessar recursos para fortalecer seus trabalhos culturais. São programas do Ministério da Cultura, da Funarte, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Funda-

ção Palmares, Ministério do Turismo, Secretaria do Estado da Cultra, entre outros, voltados ao Hip Hop e a vários outros movimentos culturais. “No entando, muitos destes grupos nem imaginam a quantidade de recursos que existe. Uma das minhas funções é mostrar que existem vários caminhos e que estes grupos precisam ser organizados e se capacitar para acessar e captar estes recursos e, depois disso, executar seu projeto cultural, prestar contas e dar continuidade ao ciclo”, afirma o jornalista. A internet é o caminho mais fácil para se encontrar oportunidades, então, fique ligado sempre nesses sites sugeridos por Chico Maia:

FIQUE ATENTO!! Ministério da Cultura - www.cultura.gov.br Portal Setor 3 Senac - www.setor3.com.br Dearo Alianças Estratégicas - www.dearo.com.br Petróleo Brasileiro S/A Petrobrás - www.petrobras.com.br Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - www.cnpq.br Portal dos Convênios do Governo Federal - www.convenios.gov.br Revista Marketing Cultural Online - www.marketingcultural.com.br Grupo de Institutos Fundações e Empresas - www.gife.org.br Fundos de Fomento Social da Fundação Getúlio Vargas - www.fgv.br/fosocial Organização em Defesa dos Direitos e Bens Comuns - www.abong.org.br Rede de Informações para o Terceiro Setor - www.rits.org.br

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TROCANDO IDEIA

BOLETIM DE OCORRÊNCIA Texto João paulo monteiro FOTOS DIVULGAÇÃO / TV CULTURA

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Transitando entre o rap e o repente, Marcelo Silva, ou Max B.O, se destacou como repórter do programa Brothers of Brazil da RedeTV!, onde entrevistava e improvisava ao mesmo tempo. Hoje, levanta a bandeira da cultura rap dentro da televisão como apresentador do Manos e Minas, da TV Cultura, único programa de TV aberta destinado ao rap, Hip Hop e cotidiano da periferia.

envolvimento com o Hip Hop vem desde cedo. Seu primeiro grupo foi o Boletim de Ocorrência (primeiro significado do B.O. que acompanha seu nome). Em seus novos trabalhos, explica a sigla como Brasileiro Original e, além disso, também é o nome de seu projeto que pesquisa manifestações locais nos elementos do Hip Hop, o Brasil Original. Dos festivais infantis, passou para o grupo Academia Brasileira de Rimas e consolida seu trabalho no movimento e no cená-

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rio musical nacional cantando ao lado de nomes como Marcelo D2, Seu Jorge, Nação Zumbi, O Rappa, entre outros, além do lendário Afrika Bambaataa. Sempre envolvido em causas sociais, trabalha no “Tim Música nas Escolas” e com a crew PATCHOL’S Família, que realiza eventos sociais em apoio a comunidades carentes. A revista H2 bateu um papo com o MC sobre sua carreira, mídia e Hip Hop. Confere aí: Revista H2: Quando o Hip Hop entrou na sua vida? Max B.O.: Sou envolvido com a cultura hip hop des-

de 1993, ano em que escrevi minha primeira letra. H2: Os meios de comunicação tradicionais abriram portas para você? Fizeram algo mudar nas suas letras? B.O.: Sim, abriu portas. Mostrei o Hip Hop como ferramenta de comunicação e isso fez com que uma oportunidade fosse abraçada. Através dela entrou um Hip Hop legitimo, respeitando a oralidade e a capacidade de improvisação. Agora, as mudanças nas minhas letras estão ligadas aos temas e conceitos da vida. A porta aberta pelo meio de comunicação jamais poderia influir na for-


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ma de conceber minha arte. H2: Você entende o programa Manos e Minas como algo feito pelo movimento Hip Hop para o próprio movimento? Qual a importância do programa na sua opinião? B.O.: Acho que mesmo com as dificuldades de sermos uma TV aberta, fundação do estado de São Paulo, as questões das letras muito explícitas e tudo mais, apesar disso tudo, conseguimos fazer

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um bom programa. A nível da Cultura, estamos entre a segunda e terceira melhor audiência da emissora. O Manos é feito pela cultura Hip Hop, mas para todos. Acho que por ser um programa numa TV aberta, temos ainda mais a função de falar com a cultura e principalmente com quem não há conhece. H2: Como são definidos os assuntos e os encaminhamentos? B.O.: Recebemos e bus-

camos informações e acontecimentos que sejam ligados ao cotidiano dos jovens, independente de serem apreciadores da cultura ou não. Os assuntos são definidos de acordo com o que acontece de novo, importante e interessante, etc. H2: Como você vê a relação do movimento com a mídia tradicional? B.O.: Recebe o espaço que tem buscado. Acho que a mídia divulga por vontade


própria a arte que mais lhe convém financeiramente, o produto quer envolver a massa, mesmo que ludibriando-a. Aí o rap, a cultura Hip Hop, que tem sua formação, sua raiz, entra até onde da. Vai até onde não distorce a raiz. H2: Você vê alguma forma de preconceito de alguma parte? Seja da mídia para com o movimento ou do próprio movimento Hip Hop para com a mídia tradicional? B.O.: Sim, dos dois lados. Mas também tem muita gente querendo mudar esse panorama. O Hip Hop tem seu espaço garantido em todos os lugares e a mídia tem obrigação de considerar isso, sem piadas, exploração ou deturpação da arte ali apresentada. H2: O Hip Hop é capaz de produzir sua própria mídia e não se importar com a mídia tradicional? B.O.: É capaz, mas não é o suficiente. O movimento fala diretamente pro publico do Hip Hop, com a linguagem que o publico já conhece. Mas a mídia em geral é necessária, para mostrar uma

Em 2010, quando João Sayad assumiu o comando da TV Cultura, o programa Manos e Minas foi extinto. Diante da revolta popular em redes sociais e do apelo de personalidades como Emicida, Mano Brown e Eduardo Suplicy, o programa voltou ao ar cinco meses depois

visão mais abrangente e mais didática da cultura. H2: E, além da mídia, o movimento consegue se sustentar de dentro pra fora? Seja produzindo suas próprias músicas sem depen-

dência de grandes produtoras, divulgando e organizando seus próprios shows e etc.? Aqui no Brasil, a cultura Hip Hop existe há mais de 30 anos e na maioria dos casos sempre foi assim. Revista H2

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DJ

Profissão DJ Texto Juliana Prado Fotos Acervo pessoal

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er DJ tornouse uma atividade atrativa e cobiçada entre os jovens. Eles estão por toda a parte: baladas, festas, e até em academias. Afinal, parece divertido trabalhar em lugares onde as pessoas estão para se divertir, não é mesmo? Mas, será que qualquer um pode “apertar o play”? O que é preciso para se tornar um DJ? Depois de anos sendo uma atividade não muito definida, oscilando entre “músico” e “técnico de som”, os “disk jockeys” ganharam, no fim do ano passado, uma profissão. Isso porque a Comissão de Assuntos do Senado (CAS) aprovou o projeto de lei que regulamenta a ocupação. O projeto é antigo, e

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a questão é discutida há alguns anos no Congresso Nacional, mas finalmente saiu do papel. As atividades passaram a constar na lei nº 6.533, de 1978, que trata da regulamentação das profissões de artistas e técnicos em espetáculos e diversões. A partir da medida, o primeiro passo para se tornar DJ é ter registro na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego. É preciso, também, ter um certificado ou diploma correspondente às habilitações profissionais. Apenas os DJs que já exerciam o ofício antes da lei estão dispensados dessa obrigação. Um dos pontos positivos da medida seria pôr fim à questão dos “DJs celebridade” – artistas

famosos que, vez ou outra, comandam as pick-ups em casas noturnas (e por cachês altíssimos). Muitos DJs “velhos de casa” acreditam que os novatos estão tirando a vaga dos verdadeiros profissionais. Mas, para o DJ bauruense Felipe Canela, esse não é um grande problema, já que o ramo está crescendo e “há lugar para todos”. No entanto, ele explica que existem diferenças: “hoje é fácil ter a aparelhagem de DJ. Com os recursos que a internet oferece, qualquer um toca. Mas os DJs profissionais sabem usar o equipamento, são estudados para isso. Um DJ de verdade cria seus próprios remixes e suas músicas, sabem como valorizar o trabalho.”


Um dos pioneiros do Hip Hop em Bauru, hoje Ding atua como DJ na ONG Periferia Legal, no bairro do Beija Flor

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todo mundo aperta o play? Outra discussão que assola a questão das habilidades de um “disc-jockey” veio à tona quando o renomado DJ e produtor canadense Deadmou5 “entregou o jogo” e, após dizer ter consciência que seria odiado pela classe, publicou na internet uma declaração que dizia “todos nós apertamos o play”, afirmando que qualquer DJ toca sets com trechos pré-mixados. As declarações deram o que falar! Na internet, reivindicações com cara de manifesto esquentaram a discussão. Muitos criticaram o DJ por acreditarem que o mérito do profissional está na habilidade de tocar ao vivo. A “desculpa” dada por Deadmou5 foi que os grandes DJs não podem se arriscar nos “megaeventos”, já que qualquer deslize poderia custar caro. Afinal, ele está certo? Na opinião de Felipe Canela, “um verdadeiro DJ faz o trampo na hora e mostra por quê realmente é DJ.” No entanto, ele concorda que, ao tocar ao vivo, podem acontecer erros que realmente prejudicam a atuação do DJ, e não vê problema nos

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que preferem pré-mixar seus sets. “Isso é bastante relativo, tudo depende do objetivo do DJ. Mixar na hora é bacana, porque você acaba passando uma energia diferente pra galera. Mas não sou contra os que tocam trechos pré-mixados. Cada um toca como quiser”.

DJ da periferia É na ONG Periferia Legal, em Bauru, que o DJ Ding exerce sua atividade: faz nascer novos DJs. Com 20 anos de estrada, Ding ministra oficinas sobre a atividade de um disk-jockey para crianças, e fala com alegria sobre a experiência: “A responsabilidade é grande. Algumas músicas mandam mensagens certas, e outras nem tanto. A gente tem que saber lidar com isso. A música passa muita coisa para a molecada. Quando toca, eles ficam em transe. E se tocar o dia inteiro, eles ficam aqui o dia inteiro. É um motivo pra tirá-los da rua, um incentivo pra gostar de música, despertar interesse e ver como funciona a atividade de DJ. E o pagamento é grande. O retorno é muito gratificante.”


DEPOIMENTO o

HIP HOP

salvou a minha Foto Juliana Prado

vida

“A minha relação com o hip hop é de troca. O Hip Hop me resgatou efetivamente. Em dezembro deste ano faz dez anos que estou limpo, sou ex-usuário de crack. Uma das coisas que me resgatou, me tirou do crime e do crack, foi a preocupação que o rap trouxe com o meu povo e o que a gente vinha fazendo com a gente mesmo. Vender a droga e plantar a morte dentro da nossa própria quebrada, pegar uma coisa que o sistema planta dentro da quebrada e disseminar aquilo e causar a morte dentro do nosso povo mesmo, caindo numa armadilha. Ai comecei a escrever as minhas letras quando estava internado, e o rap prega o compromisso de você viver o que você canta. Aí não tinha como eu entrar em contradição. Eu tinha que passar uma mensagem positiva e, a partir daquilo, eu tinha que ser o exemplo. Graças a Deus estou hoje nesta caminhada que o Hip Hop conseguiu me resgatar.” Fábio “Corvo”, 28 anos, 15 de Hip Hop Revista H2

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análise

Hip Hop

e a

Mídia

resistência recíproca Texto João paulo monteiro

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V

ivemos uma realidade da mídia no Brasil muito complexa. Hoje, algumas poucas famílias concentram em suas mãos os principais conglomerados midiáticos do país. Com isso, essa chamada grande mídia ou mídia tradicional não faz coberturas de eventos realmente relevantes na sociedade, mas enfocam aqueles que, de certa forma, vão de encontro aos seus interesses mercadológicos. Esse é o pensamento do coordenador do curso de jornalismo da FAAC/UNESP-Bauru Juarez Xavier. “Não se pode esperar muito da cobertura desta mídia”, aponta o professor. A história recente do Hip Hop nos mostra que o distanciamento do movimento da mídia se deu mesmo com os Racionais MCs. Apresentados à grande mídia em 1997, com o histórico álbum Sobrevivendo no Inferno, o grupo foi símbolo de uma geração. E, uma característica marcante, que influenciou muitos, foi

pessoal de artistas. Não que essa também não seja uma função do jornalismo cultural, a agenda, só que hoje, esse se tornou o foco principal e às vezes até único do caderno”. E essa crise do jornalismo afeta, é claro, a cobertura do movimento hip hop aqui em Bauru. Em pouco tempo o movimento ganhou muita força e, apesar desse desenvolvimento, os veículos de comunicação ainda o veem de uma forma muito estereotipada e sem força comercial, fator determinante no jornalismo, aponta Mariana: “a força comercial das matérias é constantemente algo a ser considerado nos veículos de comunicação, principalmente na área cultural. São empresas e produtores divulgando seus eventos CRISE NO JORNALISMO e, ao mesmo tempo, inSó que este espaço vestindo no jornal. Então é é muito concorrido nos lógico que o jornal vai dar dias de hoje. Mariana mais espaço para um show Cerigatto, jornalista aqui que esta sendo divulgado em Bauru, admite que o no jornal e tem um inves“jornalismo cultural hoje timento por trás, voltado virou um meio de markepara o próprio jornal. Os ting e meio de divulgação anunciantes são, muitas justamente esta distância que mantinham da mídia tradicional. Hoje, mais de 15 anos depois, a situação mudou e bastante, mas a relação entre hip hop e mídia ainda é conturbada e muito se discute sobre o tema. “Foi uma postura, uma maneira de pensar que acabou influenciando muita gente e interferindo nas relações entre o Hip Hop e a mídia. Acho que hoje esse debate já foi superado de diversas maneiras”, opina Gabriel Ruiz, jornalista e membro da rede de coletivos Fora do Eixo. “Se você está sendo chamado, você tem que aproveitar a oportunidade e ocupar o espaço que a mídia tradicional está oferecendo e divulgar seu trabalho, falar de suas ideologias e no que acredita”.


vezes, produtores que trazem shows e acabam comandando a linha principal de matérias do caderno. A gente tem aqui em Bauru algumas empresas de produtores que, qualquer coisa que eles tragam, tem que dar destaque, porque eles são ao mesmo tempo anunciantes do jornal”.

novas tecnologias, a gente mudou este cenário. Hoje não existe mais esta questão de que a indústria cultural é o único acesso para você divulgar o seu trabalho. Hoje, quem está postando alguma coisa no Facebook, ganha visibilidade. A internet democratizou bastante a questão do trabalho artístico como um todo”. OUTRAS MÍDIAS A blogueira Letícia Abreu está Uma alternativa, segundo o inserida neste meio alternativo de professor Juarez, são as mídias comunicação. Ela mantém o “Bauradicais: “são os grupos sociais ru Também É Rap” e acredita que subalternos e marginalizados que é nas redes sociais a melhor forma constituem suas mídias, tanto im- de comunicação entre o movipressa como eletrônica e agora mento e o público: “hoje em dia mídias digitais. Este é um fenôa cobertura sobre o hip hop está meno muito positivo no Brasil”. crescendo cada vez mais, quando Segundo Juarez, a mídia alter- tem algum show ou alguma maninativa e radical consegue furar a festação são falados nos telejornais invisibilidade que a mídia corpo- e publicados na mídia impressa. rativa tenta impor aos movimen- Mas é no espaço das redes sociais tos sociais: “um fator muito imonde os eventos são sempre divulportante é que, a despeito desta gados, como no Facebook e Twitconcentração midiática, as mídias ter, fazendo com o que as pessoas radicais conseguem estabelecer conheçam, compartilhem, e assim um diálogo com setores que, de todos acabam se interessando e fato, estão interessados nessa in- participando dos eventos”. formação, ou seja, os movimenA principal mídia especializada tos sociais”, finaliza o professor. no assunto no país é a revista e Mariana Cerigatto também portal Rap Nacional. Com mais de acredita nesta alternativa: “a 35 mil acessos diários, a publicagrande mídia sempre esteve ção completou 12 anos de exisapoiando os grupos que estavam tência. A revista se diz mais que em destaque na indústria cultuuma publicação impressa, é a voz ral, porém, com a internet e as de uma parcela da população que 070


está marginalizada. Cristiane Oliveira é uma das repórteres da revista e é responsável pelas entrevistas do “Rap Além do Rap”. Militante do movimento hip hop, faz questão de levá-lo a todos os lugares e mostrar sua importância, seu real sentido e valor. Quanto à mídia tradicional, Cristiane é só crítica: “o Hip Hop não tem o devido espaço na mídia de massa, e quando abrem este espaço não fazem questão de entender o movimento e acabam desrespeitando ou

cometendo gafes”. Cristiane também vê na internet a alternativa, um espaço onde o movimento se fortaleceu e vem caminhando com suas próprias pernas: “o Hip Hop absorveu o meio virtual como propriedade particular do movimento, se organizou e criou programas web, rádio, faz transmissões ao vivo, utiliza as redes sociais com maestria e faz desses canais de comunicação um meio eficaz para passar a mensagem que os meios tradicionais de mídia boicotam diariamente. Estar Conrado Dacax

As mídias radicais são alternativas para o movimento Hip Hop, que pouco espaço tem na mídia tradicional, segundo Juarez Xavier

ou não estar na mídia de massa já não faz diferença pra o Hip Hop”. Sobre o papel desempenhado pela revista, Cristiane afirma que a equipe faz o possível para cumprir a missão de informar com qualidade: “o público é muito grande, recebemos emails diariamente de grupos pedindo um espaço e mandando músicas. Sempre nos colocamos à disposição do movimento, acho importante a existência de veículos especializados, pois eles são feitos por pessoas que realmente entendem de Hip Hop e mais que isso, fazem mais por amor do que por qualquer outro motivo”, finaliza a jornalista. O rapper bauruense D’Bronx ora ou outra está estampado nas capas dos jornais aqui em Bauru. Para ele, é de fundamental importância no Hip Hop as parcerias. “Por mais que o artista seja independente, ele depende de muitos parceiros e de pessoas que saibam usar as mais diversas ferramentas que ele não tem conhecimento e, com essa parceria, poRevista H2

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tencializar o seu trabalho artístico e sua carreira”. A relação com a mídia deve ser da mesma forma, acredita D’Bronx: “mídia tradicional e alternativa se complementam. É importante estar inserido na mídia alternativa para não criar dependência alguma, ou seja, o próprio movimento é capaz de se articular e se produzir. Mas é importante também se inserir, criar uma parceria com outras mídias, como jornais e televisão, porque, querendo ou não, a grande massa assiste televisão, compram jornais, então, se o artista puder utilizá-la como mais uma ferramenta para levar a sua informação, seu protesto, sua indignação e ter um alcance maior de pessoas, acho válido”. “Eu acho que o Hip Hop deve ocupar todos os espaços desde que esta ocupação seja feita por pessoas conscientes e que saberão passar qual o verdadeiro sentido do movimento. Se for para ir na Globo e só segurar o microfone e cantar creio 072

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que não precisamos disso, pois a internet já faz este papel. Ao meu ver, quem se propõe a levar o Hip Hop para lugares onde ele ainda não adentrou terá como obrigação ter um discurso coerente e principalmente atitude coerente ao seu discurso. Explicar quem somos, porquê somos, e onde pretendemos chegar é fundamental para que os leigos possam se não entender, pelo menos dar-nos o devido respeito”, finaliza Cristiane. Querendo ou não, existe um preconceito por parte das empresas jornalísticas em relação a movimentos como o Hip Hop, que vem da periferia. Não um preconceito escancarado, mas ainda assim existe, basicamente por falta de conhecimento. Para superar tal situação, fica aqui uma sugestão da Mariana Cerigatto: “falta para os grupos manter contato e se organizar de forma a montar uma linha de trabalho para se relacionar com os meios de comunicação, estreitando os laços”.

A mídia tradicional é importante, segundo D’Bronx. Porém, é importante que o rapper desenvolva sua própria forma de se comunicar com seu público, para que não seja criada uma dependência


Divulgação

Exemplos de mídias que abordam o movimento Hip Hop na TV:

Sábados, às 18h30, na TV Cultura Na Internet:

centralhiphop.uol.com.br

www.rapnacional.com.br

baurutambemerap.blogspot.com.br Revista especializada:

RAP NACIONAL rapnacional.com.br/revista

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Div ulg

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O Hip Hop na cidade de Bauru vem passando por uma grande transformação positiva, que é fruto e reflexo do que vários ativistas do movimento fizeram no passado. Não podemos esquecer de quem começou isso em nossa cidade sem os recursos que hoje temos em mãos. Devido à evolução tecnológica, cultural e muitos preconceitos e barreiras que foram quebradas, vejo o Hip Hop crescer cada vez mais, muitos artistas trabalhando com empenho e profissionalismo tendo oportunidade de obter o seu sustento financeiro fazendo arte. Se continuarmos trabalhando cada vez mais, é claro, daqui a alguns anos teremos muito mais o que relatar. É importante atentar ainda para um fator primordial do Hip Hop, que é a transformação social. Independente da evolução ou da época que estamos o Hip Hop deve ser uma ferramenta de transformação social. Não são apenas 4 elementos, não é um movimento que veio para benificiar um só, e sim todo um coletivo, grupo, comunidade e assim por diante. B’BRONX

Muito obrigado a todos pela leitura, um abraço, fiquem com Deus e segue a rima...


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