BEM FICA UM BAIRRO FEITO DE GENTES COM HISTÓRIAS QUE MERECEM SER CONTADAS
É com enorme satisfação que venho apresentar mais uma edição do Almanaque Cultural do Bairro de Benfica. Nesta edição, vai ser possível encontrar uma programação eclética e de elevada qualidade para o segundo semestre deste ano, com iniciativas que pretendem privilegiar as mais variadas formas de arte, a música, o teatro, cinema ou exposições, continuando a demonstrar como a cultura marca o nosso Bairro e faz parte do nosso ADN.
A cultura dá-nos um sentido de pertença e de comunidade, é através dela que construímos uma história comum, uma memória coletiva e uma identidade única. Exploramos também essa riqueza histórica de Benfica ao longo das próximas páginas, com uma entrevista aos autores do maior repositório de memórias coletivas da nossa freguesia, o blog “Retalhos de Bem Fica”, Alexandra Carvalho e Fausto Castelhano. Conhecer o nosso passado e valorizar e preservar as nossas raízes contribui para um Bairro de Benfica mais solidário, coeso e unido. Um Bairro feito de gentes com histórias que merecem ser contadas, lugares que devem ser conhecidos, curiosidades, recordações, que devemos proteger e partilhar.
Nesse sentido, vamos também continuar a passear pela toponímia de Benfica e se, na última edição, ficámos a conhecer os artistas plásticos que dão o nome a algumas das nossas ruas, desta vez o destaque vai para os nomes de atores.
A cada Almanaque Cultural que apresentamos à comunidade renova-se o grande orgulho neste projeto que temos vindo a construir e nesta valorização do nosso património material e imaterial.
Acreditamos também no papel importante de uma programação diversificada e que vai ao encontro dos interesses de todos os nossos vizinhos e dos que diariamente nos visitam. Para todas as idades e para todos os gostos, com destaque para o concerto de Jorge Palma, que é também um dos entrevistados deste Almanaque, onde apresentamos também uma entrevista a Martim Vicente, um artista filho de Benfica e que voltou a mostrar todo o seu talento com um grande espetáculo no nosso Arraial. Iremos receber também um conjunto de artistas internacionais, como é exemplo o cantor nigeriano Omah Lay.
A não perder também as comemorações do 5º aniversário do Palácio Baldaya, que é já um polo fundamental e diferenciador em termos culturais no nosso Bairro, ou o Junta-te ao Fado, que irá reunir alguns dos grandes nomes deste género musical em Benfica, passando por um Festival de Arte Urbana, e pelo Lisboa Connection Fest, que apresenta artistas reconhecidos no mundo do blues e do folk.
Convido-vos a lerem este Almanaque e a descobrirem as surpresas que preparámos para os próximos meses. Estou certo de que irão encontrar muitas atividades que não vão querer perder, no Palácio Baldaya, no Auditório Carlos Paredes, nas nossas Associações Culturais e nas nossas ruas!
Um abraço,
Ricardo Marques Presidente de Junta de Freguesia de Benfica
Martim Vicente
1 • Que memórias guardas com mais carinho do nosso Bairro, já que és um filho de Benfica, especialmente durante a tua infância?
A minha história em Benfica não é, inicialmente, como local. Os meus avós viveram aqui, foram das primeiras pessoas a entrar no Bairro de Santa Cruz de Benfica. Os meus pais cresceram aqui e conheceramse no Bairro de Santa Cruz. Desde muito novo que frequento o Bairro e depois, inclusive, a minha primeira experiência ao nível de educação musical foi na Escola nº 17, que é hoje a Escola Básica Professor Salvado Sampaio. Foi nesse ATL que tive as minhas primeiras aulas de música. Estou ligado a Benfica dessa forma há muito tempo.
É também o local da minha Igreja, já que pertenço à Igreja Evangélica de Benfica, que vai fazer agora 50 anos de fundação. Estou aí desde pequeno, a partir dos meus 6 anos, mesmo não vivendo aqui.
A praça também sempre foi uma referência para a minha família. Os meus tios e pais, mesmo não vivendo em Benfica, escolhiam a praça de Benfica para virem fazer as compras dos produtos mais frescos, sempre existiu esta ligação.
Por todas estas razões que descrevi, havia esse desejo de vir para cá. Mais tarde, tive a
oportunidade de poder viver em Benfica e já resido aqui há mais ou menos quatro anos e meio. Tornei-me um freguês oficial e invejado pelo resto da família, porque há essa grande ligação e é um local onde todos desejariam viver.
2 • Foi em 2010 que participaste no programa “Ídolos”, onde conquistaste o segundo lugar. De que forma essa conquista impulsionou a tua carreira?
Foi, obviamente, um momento importante na minha carreira. Eu já era músico, já tocava em bares, começava a criar as minhas primeiras canções nessa altura e o “Ídolos” foi um marco importante, pelo menos no sentido em que foi o momento a partir do qual me profissionalizei. Já tocava e ganhava dinheiro com a música mas era uma época em que ainda estudava ao mesmo tempo. Depois da participação no “Ídolos”, é que a minha profissionalização começou.
O reconhecimento que o “Ídolos” me trouxe tem vantagens e desvantagens. O nosso nome e a nossa imagem ficam conhecidos. Durante algum tempo, há a ideia de nos solicitarem para mais eventos, mas depois é um percurso muito duro e que tem o reverso da medalha.
É um marco ao qual ficamos ligados e que por vezes traz algumas desvantagens, a mim
e a outros concorrentes. Para conseguirmos voltar a ter os níveis de notoriedade que tínhamos enquanto participantes no “Ídolos” há um trabalho muito intenso e exigente a desenvolver.
meu primeiro álbum desde que nasci.
3 • Deste um concerto memorável no Grande Arraial de Benfica. Que emoções sentiste por atuar nesse palco e como é que o público te recebeu?
Foi especial por imensos fatores, em primeiro lugar por ser no local onde vivo e na localidade que mais me diz. Em segundo lugar, porque como pessoa que viveu e vive aqui, segui o crescimento do Grande Arraial e, de facto, parece que vai mesmo ficando maior de ano para ano. Por isso, é muito especial ter estado do outro lado.
Durante alguns anos, estive como ouvinte e desfrutei do Arraial e, de repente, estou em cima do palco principal. Após dois anos de paragem, havia também por parte do público, claramente, uma sede muito grande de momentos como este, em que as pessoas estão juntas, menos preocupados com a pandemia.
Há um respeito mútuo sobre os cuidados a ter neste contexto, mas há também um sentimento de que estamos a caminhar para o bem novamente. Por último, tive uma grande oportunidade de mostrar o meu novo álbum “Coração” a muitas pessoas.
O dia acabou por ser muito especial também pela oportunidade de estar no mesmo palco que o Rui Veloso e, ao mesmo tempo, de ter aquele momento em que pudemos fazer uma parceria no meu concerto.

4• Como descreves o teu mais recente álbum, “Coração”?
É um álbum muito especial para mim, é o segundo, posso dizer que é o meu álbum mais maduro.
O meu primeiro álbum começa a ser feito pouco tempo depois do “Ídolos” e costumam perguntar-me quanto tempo demorei a fazêlo. Na verdade, digo que demorei 26 anos, que era a idade que eu tinha. Andei a construir o
Mas este já foi depois do primeiro, de mais singles, mais trabalho e experiência na música e que foi pensado e arquitetado de maneira especial. Tive oportunidade de o poder fazer durante a pandemia, em que estávamos mais parados. Apesar dos condicionamentos, estive em conjunto com o produtor Francisco Sales, numa casa-estúdio em Viseu, onde não ouvíamos mais nada além dos grilos, raposas, pássaros e a natureza, com uma vista incrível sobre a Serra do Caramulo.
Tem um tema que é afeto a todos nós, que tem a ver com o coração. Apesar de ter este nome, não é exclusivamente a ideia romântica ou apaixonada. Tem a ver com todas as coisas, desde o coração romântico, coração partido, coração crescido, não crescido, maduro, e com a construção de um coração. E como o nosso coração vai sofrer várias fases ao longo da vida mas tem sempre uma capacidade de regeneração. Gostava que cada pessoa que o ouvisse pudesse sentir o seu coração mais preenchido.
5 • Quais os maiores sonhos para o teu futuro profissional?
Um dos grandes sonhos é ter a oportunidade de fazer mais concertos como que o que fiz no Grande Arraial e apresentar mais vezes o meu álbum. Nem sempre tem sido fácil, tenho de admitir, encontrar as oportunidades.
Estes dois anos parado, com cancelamentos e adiamentos, estão a fazer com que as agendas continuem preenchidas apesar de os anos irem passando. Estamos a repor coisas que já estavam contratadas ou adiadas há muito tempo.
O meu grande desejo é ter oportunidades de mostrar este álbum, ao vivo. Acho que é desta forma que diz mais às pessoas. Nos concertos, sinto que o público ouve e aprecia a minha música de outra maneira, as pessoas tentam cantar e interiorizar a mensagem.
ALVESDACUNHA
ROBLESMONTEIRO PAULORENATO VASCOSANTANA ADELINAABRANCHES MARIAMATOS AMELIAREYCOLAÇO BARROSOLOPES ELVIRAVELEZ EMILIADASNEVES LUCILIASIMOES MIGUELVERDIAL
BENFICA RUA A RUA UNIVERSO TOPONÍMICO DOBAIRRO DE BENFICA ATORES
In “Benfica Freguesia Saloia”, de Marília Abel e Carlos Consiglieri
O seu nome foi dado a uma rua de Benfica em 1969. Foi considerado o maior ator de sua geração tendo sido condecorado com o grau de Oficial da Ordem de Santiago da Espada e a medalha de benemérito da Câmara Municipal de Lisboa.
Trabalhou tanto em teatro como em cinema e iniciou a sua carreira em 1912 no Teatro do Ginásio, com A Volta de Nobre Martins. No entanto, havia de ser no S. Carlos que ele se distinguiria integrado na Companhia Rosas & Brazão, na temporada de 1914/15. Em 1926 é-lhe entregue a exploração do Teatro D. Maria II, onde exerceu grande atividade na divulgação de novos autores.
Teve como mestres no início da sua carreira: Araújo Pereira e António Pedro. Nos anos 30 do século XX vai para África na Companhia de Amélia Rey-Colaço Robles Monteiro, onde permanece cerca de dois anos e em que o seu talento se impôs. Finda essa temporada volta ao continente e forma a sua própria companhia com a atriz Berta de Bivar, sua mulher. Arca com sérias dificuldades para manter a companhia, chegando a não ter palco para representar. Regressa ao Teatro Nacional após uma passagem, em 1943, pelo teatro da Trindade. Neste período faz entre outras, uma peça de grande sucesso Dulcineia ou a Última Aventura a de D. Quixote, de Carlos Selvagem. Logo de seguida fica novamente sem trabalho. Quer reformar-se, mas o valor da reforma é tão baixo que o seu público fiel resolve fazer-lhe uma homenagem para angariação de fundos para poder sobreviver. No entanto, Alves da Cunha reage escrevendo para o Diário de Lisboa estar contra uma festa «com discursos “pires”, números arranjados ad-hoc, a gratidão do homenageado e, no fim, uma gaveta de bilheteira com meia dúzia de dias garantidos». O queo ator desejava era poder representar e dedicarse ao teatro sem sobressaltos e dar ao público e ao próprio teatro aquilo que mereciam. Em 1955, no Teatro Avenida, despede-se com a peça A Cotovia, de Anouilh. Este ator foi também ensaiador, empresário, mestre de outros atores e professor do Conservatório Nacional.
ACTOR ESTEVAO AMARANTE, rua (1889-1951)


É em 1969 que o seu nome é dado a esta rua. Embora ator de teatro e de cinema, ninguém esquece o fadista que emprestou a sua voz a grandes êxitos do fado. Natural de Lisboa vem a falecer subitamente no Porto, num restaurante.
Estreou-se, em 1900, no Teatro Avenida, com 12 anos de idade. Porém, há biógrafos que dão a sua estreia um ano depois numa peça de Schwalbach A História da Carochinha. Em seguida trabalha em teatros populares, como o de Alcântara e o de Belém, mas acaba por entrar no Teatro Avenida, em 1906, como ator profissional numa revista de Júlia Mendes, P’rá Frente.
A sua versatilidade como ator permite-lhe fazer os mais variados papéis, nomeadamente, em operetas. Conhece Luísa Santanela, uma italiana que estava na Companhia Aura Abranches - Chaby Pinheiro, com quem viveu e com a qual formou uma companhia. A partir do sucesso de Salada Russa as revistas e operetas não pararam.
Esta companhia vai trazer, em 1927, uma renovação na forma de fazer revista que se vai incorporar na revista Água Pé, da autoria de José e Luís Galhardo, Alberto Barbosa, Lourenço Rodrigues e Xavier de Magalhães, a música de Frederica Freitas e , coreografia do bailarino
Francis, com grandes atores, grupo de bailarinas, uma nova visão dos cenários, dos figurinos, enfim, pode-se falar quase de uma revolução no teatro de revista, tão importante que este cuidado acabou por ser seguido por outras companhias.
Quatro anos depois, após retumbantes êxitos e digressões, dá-se o rompimento entre Santanela e Amarante. Este facto vem-se refletir nas suas atuações que deixam de atrair o público. Estevão Amarante retira-se por cerca de dois anos, para voltar ao lado de Ilda Stichini, mas sem sucesso. Só em 1936 volta a revista recuperando e renovando números e personagens de antigas operetas.
Em 1937, casa com Maria Paula, mas o casamento dura pouco tempo. Nos anos 40 acaba por ingressar no Teatro D. Maria experimentado a comédia à qual se adaptou perfeitamente. Foram inúmeros os seus êxitos em teatro, mas o mesmo não se poderá dizer da sua participação no cinema que foi quase que efémera. Em 1920 recebe o hábito de Santiago, pela peça O João Ratão.
ACTOR NASCIMENTO FERNANDES, rua (1881-1955)
Esta rua recebeu o seu nome em 1969. Morre em Lisboa este algarvio de Faro que se estreou no Brasil em 1905. Embora caixeiro-viajante, vendia géneros alimentícios e guloseimas, é no navio que vai para o Brasil que conhece a companhia de José Ricardo, cujos elementos acabam por se alimentar dos seus produtos dada a má qualidade de comida que havia a bordo. Com a caixa vazia e sem nada para vender teve que ingressar na companhia e fazer uma rábula.
No regresso a Lisboa deixa a caixa e a profissão e vai para o teatro do Príncipe Real, em 1907, na revista Ó da Guarda. Nesta peça e beneficiando dum extraordinário jogo de mímica, cria um personagem inesquecível o polícia «Savalidades». Seguem-se o Sapateiro, o “31” e muitos outros cujos êxitos se irão repetir no cinema mudo e no sonoro como em O Trevo de 4 Folhas de Chianca de Garcia (1936), Aniki-Bóbó de Manoel de Oliveira (1942) e A Vizinha do Lado de António Lopes Ribeiro (1945), neste último com a estreante Lucília Simões. Aliás, Nascimento Fernandes foi um dos pioneiros do cinema e constituiu com a atriz Amélia Pereira, sua mulher, uma empresa, em 1918, para a realização de filmes.
Trabalhou na revista, na opereta, na farsa e na comédia, praticamente todos os géneros teatrais, sempre com muito empenhamento e qualidade, deixando memoráveis muitas das personagens que criou com um enorme talento. Em 1923 está na Companhia de Rey-Colaço - Robles Monteiro e, a partir de 1932, no Teatro de D. Maria estreia uma peça de sua autoria A Tragédia do Silêncio. O seu último papel fá-lo em O Cadáver Vivo já gravemente doente.

ACTOR ROBLES MONTEIRO, rua (1888-1958)

O seu nome é dado em 1963 à Rua Dois do Bairro de Santa Cruz, também conhecida por Rua Dois à Estrada das Garridas. Felisberto Manuel Teles Jordão Robles Monteiro era natural de Castelo Branco, aldeia de São Vicente da Beira, morre em Lisboa.
Com Amélia Rey-Colaço constituiu uma das companhias mais emblemáticas do teatro em Portugal. Estudou no Seminário da Guarda e é lá que, numa récita, o vice-reitor o aconselha a enveredar pelo teatro. Continuou a estudar, como voluntário, o Curso Superior de Letras, mas quando vem para Lisboa, a sua vida mudou. Conhece Augusto Rosa e, pela sua mão, estreia-se em 1913, na peça A Caixeirinha, no Teatro República, hoje São Luís.
Conhece Amélia Rey-Colaço e com ela representa Marinela e, depois, Entre Giestas, de Carlos Selvagem, que os lança como atores. Mais tarde (1920) casam e jamais se separam, nem como atores, nem como casal.
As poucos Robles Monteiro vai-se afastando das representações para se dedicar a outras áreas também importantes do teatro: a montagem, os ensaios, a direção de atores, aspetos administrativos.
A companhia nasce em 1921, no teatro de São Carlos, quando se representava Zilda, de Alfredo Cortês. Entretanto, em 1929, o Teatro de D. Maria abre concurso para concessão do teatro. A sua companhia concorre e ganha essa concessão, onde se fixa.
Regressados de uma digressão o Brasil estreiam a sua primeira peça, como diretores do D. Maria, com Peraltas e Sécias, de Marcelino Mesquita. O facto de ser diretor do teatro estatal obrigava-o a certas cedências, nomeadamente, no elenco, com as quais nem sempre concordava. Muitas vezes preferia outros atores, mas como era subsidiado pelo Estado…
Os seus êxitos no teatro não se repetiram no cinema onde colaborou apenas em dois filmes: Malmequer, de Leitão de Barros (1918) e, O Primo Basílio, de Georges Pallu (1921).
ACTOR VASCO SANTANA, rua (1898-1958)


O edital que dá o nome deste ator à rua é de 1969. Vasco Santana possuía o Oficial ato da Ordem de Santiago e, para além de se distinguir no teatro e no cinema, também experimentou a rádio no popular A Lélé e o Zequinha com Irene Velez e Maria Matos (depois Elvira Velez) e a televisão com o filho Henrique Santana. Casou com a atriz Mirita Casimiro. Este antigo estudante de arquitetura, foi um dos maiores fenómenos da arte de representar. Ao que parece entrou para o teatro por acaso. Era frequentador do Teatro Avenida e, um dia, quando ia para os toiros no Campo de Santana, é convidado a substituir o compère, que adoecera. Como era sobrinho de Luís Galhardo, empresário do teatro, teve mesmo que representar na peça O Beijo de A. Leite e Carvalho Barbosa em 1916. Saiu-se de tal maneira que foi de imediato contratado para o Eden.
Os êxitos de toda a sua carreira são incontáveis e era um ator de uma tal qualidade que são inumeráveis os papéis a que deu corpo e, todos eles duma qualidade interpretativa inigualável, chegando a recriar os textos em cena, porque não se preocupava muito em decorá-los. Resolvia esse problema em cima da hora provocando no público um grande efeito. Não se limitou à arte teatral, foi também ensaiador e autor com seu primo José Galhardo e tradutor. Chegou a trabalhar no Teatro Nacional, ao lado de Palmira Bastos, num tipo de teatro diferente, mas com muita qualidade como era normal. Contracenou com alguns dos nomes maiores do teatro e do cinema a ponto de se terem tornado indissociáveis os nomes uns atores dos outros.
A sua redonda figura não o impediu de fazer papéis de jovem namoradeiro como em A Canção de Lisboa de Cottinelli Telmo (1933) ou O Pátio das Cantigas de Francisco Ribeiro (1942). Também não teve problemas em se apresentar como travesti ao lado de António Silva, respetivamente, a cozinheira e a criada de fora na peça Se aquilo que a gente sente (1947).
ACTRIZ ADELINA BRANCHES, rua (1866-1945)
Embora Adelina Abranches tenha nascido na Travessa da Cruz do Desterro, 1, cuja casa tem lápide de referência, foi Benfica que recebeu o seu nome em 1966, na antiga Rua D ao Bairro da Quinta do Charquinho. Foi uma das maiores atrizes do seu tempo, embora tenha falecido no meio das maiores dificuldades, o que levou Luís Forjaz Trigueiros a comentar da bem triste situação a que continuam condenados, neste País, os artistas que não souberam mercadejar a sua Arte. Entrou para o teatro apenas com seis anos de idade, numa brincadeira de Carnaval, no teatro D. Maria Il. Estávamos em 1872 e a peça intitulava-se Os Meninos Grandes, de Enrique Gaspar, fazendo ela de “travesti’. Não satisfeita com o papel que lhe coube, pôs-se a meter algumas “buchas” à sua conta e acabou despedida.
No entanto, como revelou talento assinou contrato para o teatrinho de Belém, o Luís de Camões. O gosto revelado pelo teatro foi de tal ordem, que abandonou os estudos, tendo, apesar disso, frequentado o Conservatório aos 10 anos.
Em 1902, já estava no teatro D. Amélia, com os Rosas e Brazão. Para poder ler a revista Thêatre, teve que aprender francês.
Casou com Luís Ruas, filho do empresário Francisco Ruas do “Príncipe Real’’, e teve dois filhos - Aura e Alfredo - que seguiram as pisadas da mãe. Charles Oulmont escreveu propositadamente uma obra para ser representada por Adelina Abranches e sua filha Aura - Duas Vidas.
Interpretou vários papéis tanto no teatro, nomeadamente na revista, como no cinema, tendo trabalhado com os realizadores Leitão de Barros em Lisboa e Maria do Mar (1930) e com Chianca de Garcia em A Rosa do Adro (1938). Foi distinguida com a Ordem de Santiago e com a Medalha de Ouro da Cidade da Câmara Municipal de Lisboa.
ACTRIZ MARIA MATOS, rua (1890-1952)
O seu nome é recordado em Lisboa não apenas por esta rua de 1966, mas também, pelo teatro municipal que recebeu o seu nome. O nome de Maria Matos foi dado à antiga Rua F à Quinta do Charquinho. Era natural de Lisboa e nesta cidade morreu. Foi atriz, escritora, dramaturga e escreveu no jornal A Capital artigos sobre o teatro e os atores. Recebeu o Hábito de Santiago da Espada.
Foi casada com o ator Mendonça de Carvalho de quem tem Maria Helena Matos, que seguiu a profissão dos pais. Esta atriz, de seu nome próprio Maria da Conceição, que ficou jovem sem pai, teve que trabalhar para o sustento. Mas, enquanto que, a família a empurrava para o professorado, por dar maiores garantias e ser mais adequado a uma jovem, ela contrapôs as artes, especialmente o piano. Após ter terminado o curso de piano no Conservatório Real de Lisboa, inscreveu-se no canto, sempre com o apoio e ajuda da mãe.
Ao ver uma peça de teatro representada pela francesa Bartet, decidiu-se pelo teatro e teve como mestres D. João da Câmara e Augusto de Melo. Ao terminar o curso, em 1907, recebe o 1° Prémio da Arte de Representar com Rosas de Todo o Ano, escrita por Júlio Dantas especialmente para si. No ano seguinte está no D. Maria e torna-se societária da companhia dessa temporada. Com o marido cria uma nova companhia e vai para o Teatro do Ginásio onde se fixam durante alguns anos dando prevalência ao repertório de autores portugueses. No Teatro Avenida Maria Matos experimenta o género dramático em A Inimiga de Niccodemi. Faz digressões pelas ilhas, antigas colónias e Brasil sempre com enormes êxitos. Torna-se professora do Conservatório em 1940, mas pede a demissão em 1945 por sentir que não lhe davam o lugar que lhe competia. É integrada na Companhia Amélia Rey-ColaçoRobles Monteiro, em 1947 e representa A Casa de Bernarda Alba e As Meninas da Fonte da Bica. Também experimenta o cinema onde faz vários papéis, como o seu primeiro papel no de criada de João Semana em As Pupilas do Senhor Reitor de Leitão de Barros (1935).
AMÉLIA REY-COLAÇO

(1898-1990)
, rua
No ano da sua morte a Câmara Municipal de Lisboa dá o seu nome a uma antiga rua de Benfica, a Rua B nas Pedralvas. Foi uma das mais brilhantes atrizes do teatro português e, por esse motivo, entre as muitas homenagens que recebeu em vida, contam-se: a comenda da Ordem de Instrução Pública; o oficialato e a comenda da Ordem da Santiago; a comenda da Ordem de Cristo; e, as Insígnias de Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras, pelo governo francês. Experimentou o teatro, o cinema e a televisão embora nestas duas últimas apenas tivesse participado uma vez em cada uma, respetivamente, na série Gente Fina é outra Coisa e no filme O Primo Basílio de Georges Pallu (1926).

Amélia foi educada em ambiente de pessoas ligadas às artes. Seu pai era o pianista Alexandre Rey-Colaço e estudou em casa duma tia, em Berlim, onde se vivia o mesmo ambiente. Aí nasceu o desejo de ser atriz e quando regressa a Portugal já trás essa ideia determinadao teatro. Começa por participar em recitais e tertúlias particulares mas, em 1917, estreia-se no Teatro D. Amélia, onde se encontrava Augusto Rosa que lhe dá o papel principal em Marinela de Perez Galdós.
Nunca mais deixou a vida artística, nem mesmo depois de ter casado com Robles Monteiro e do nascimento da filha Mariana Rey Colaço que se tornará também atriz.
A sua experiência no Teatro Nacional leva a que se torne também encenadora e crie uma escola de atores. Deu a primazia aos autores portugueses, recuperando para o público, Gil Vicente, D. Francisco Manuel de Melo, Camões, António José da Silva (o Judeu), António Ferreira e outros. De António Ferreira é representado, em 1935, nos claustros do Mosteiro de Alcobaça a Castro, com grande sucesso.
Em 1964, arde o Teatro de D. Maria quase completamente o que veio interromper abruptamente a sua atividade. Vai para o Teatro Avenida, que também arde. Instala-se no Capitólio e depois no Trindade, passando também pelo Teatro Municipal de São Luís. As obras do Nacional demoram tanto tempo que já não lhe permite voltar à casa-mãe. Eduardo Brazão escreveu no livro de Memórias: De uma figura inigualável, de maneios gentis, de uma voz terna e vibrante, Amélia Rey-Colaço é o specimen da atriz de sensibilidade moderna, requintadamente elegante, espirituosa e inteligente.
AUGUSTO COSTA (COSTINHA), rua (1891-1976)
Dois anos após a sua morte a Câmara Municipal de Lisboa dá o seu nome a esta rua. Foi casado com Luíza Durão, também actriz, e com quem trabalhou em muitas peças de teatro. Estreou-se como profissional de teatro em 1913, na revista Quadros Vivos, após alguma experiência no teatro Amador. Depois vai para o Brasil onde está algum tempo (1916 a 1920) e onde é chamado de Costinha. É no seu regresso que, quase se pode dizer, se tornou conhecido. Integrou a Companhia de Satanela-Amarante em Negócio da China, agora com o nome de Costinha.

Estudou violino, por pouco tempo, no Conservatório, mas esse pouco tempo ligado à música permitiu que explorasse essa vertente no teatro e no cinema. Outro aspeto que o caracterizou foi a sua baixa estatura, mas da qual tirava enorme partido em cenas hilariantes como aconteceu em Há Horas Felizes, com a esbelta, alta e elegante francesa Gisele Robert. Em 1946, está no Teatro Apolo na peça A Madrinha de Charley de B. Thomas. Costinha e Luíza Durão dirigidos por Henrique Santana fizeram vários programas em televisão integrados na Companhia Teatro Alegre. Abandonou a revista em 1965, no Teatro Maria Vitória, em E Viva o Velho, de Aníbal Nazaré, mas ainda representou no Teatro Nacional na peça de Roussin A Locomotiva, ao lado de Amélia Rey-Colaço.

A parir de 1930 passa a integrar o elenco de diversos filmes e trabalha com vários realizadores como Leitão de Barros, Jorge Brum do Canto e outros. Embora representasse todos os géneros, foi nas comédias que mais se distinguiu.
AURA ABRANCHES, rua (1896-1962)
Esta artista, escritora e tradutora, filha de outra conhecida atriz Adelina Abranches e do empresário Luís Ruas, nasceu e morreu em Lisboa. O seu nome é dado ao antigo Impasse C da zona a nascente do Bairro das Pedralvas, em 1978.
Estreou-se no Teatro de D. Maria Il, em 1907, com a peça de Maximiliano de Azevedo - Zefa, ao lado de sua mãe. Esteve no elenco deste teatro até morrer. Com sua mãe inicia uma experiência de teatro ao ar livre, em 1911, no Jardim da Estrela com o ator Alexandre de Azevedo. Tratava-se do Teatro da Natureza em que fazia o papel de Corifeu, de Orestes. Dois anos depois está no Brasil a representar com êxito a Menina de Chocolate de Gavault.
Em 1914 já está no Politeama em A Garota e, em 1917, faz o principal papel feminino a lado de Chaby Pinheiro, em Blanchette. De Ernesto Rodrigues, Felix Bermudes e João Bastos representa a comédia O Conde Barão, registando um dos momentos mais altos da sua carreira integrada num elenco de luxo: Chaby Pinheiro, Jesuína de Chaby, Estêvão Amarante, Luíza Satanela, Araújo Pereira e Hermínia Silva. Já casada com outro ator, Pinto Grijó, forma uma companhia com seu marido e a mãe. Porém, até 1932, a carreira de atriz tem altos e baixos e só estabiliza com a entrada na Companhia Amélia Rey-Colaço - Robles Monteiro. É nesta companhia que recria alguns papéis outrora feitos pela mãe e outras peças já representadas por Maria Matos. No confronto com as antigas atrizes não fica a perder. Conseguiu ombrear na arte de palco, para além de ter feito outras peças tanto de autores portugueses como estrangeiros: Maugham, Pirandelo, Gogol e outros. Também experimentou a rádio e a televisão, onde teve um programa infantil. Teve uma breve passagem no cinema. Como escritora chegou a dizer-se que enveredou por esse caminho para dar trabalho à mãe, nomeadamente Aquele Olhar e Madalena Arrependida que se estreou em S. Paulo, em 1922 e, de pois no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, em 1923. Os franceses compararam-na a Anna Magnani quando Paris a viu em Tá-Mar de Alfredo.
BARROSO LOPES, rua (1907-1989)
O seu nome foi dado a esta rua em 1995. Não se sabe muito bem ao certo quando foi a sua estreia no teatro, mas sabe-se que com 17 anos estava no Teatro Politeama a representar À La Fé de Alicio Cortez. Júlio Barroso Lopes embora de formação dramática manteve-se quase sempre na revista, na qual se iniciou em 1931.
Em 1949 junta-se a outros atores para formarem uma sociedade com o objetivo de fazerem a montagem de novas revistas. Foi no Teatro Apolo que se estrearam, em 1950, com Enquanto houver Santo António. Nesta revista Barroso Lopes tem ocasião de recriar a figura do “Ganga”, que tinha sido uma criação de Estêvão Amarante em 1916, a que chamou o “Ganga Júnior’. Esta sociedade ainda faz mais duas revistas: Agora é que ela vai boa e Aguenta-te, Zé!.

Do teatro de revista vai para o Teatro Nacional D. Maria II a partir de 1978 onde termina a carreira em O Gebo e a Sombra, de Raul Brandão. Experimentou a tragédia, a alta comédia, a farsa, a opereta vienense e a popular e, ainda, o cinema em O Pai Tirano de António Lopes Ribeiro (1941) e O Pátio das Cantigas de Francisco Ribeiro (1942) entre outros papéis em diversos filmes. Também participou em teatro radiofónico e na televisão. Em 1986 a Secretaria de Estado da Cultura atribui-lhe a Medalha de Mérito Cultural. Foi casado com a atriz Carminda Pereira.
ELVIRA VELEZ, rua (1892-1981)

A rua com o seu nome data de 1993 e corresponde ao antigo impasse I à Rua da Quinta do Charquinho. Nasceu em Lisboa, na freguesia da Ajuda, e veio a morrer em Caxias. Foi condecorada com a Ordem de Santiago de Espada e, em 1970, recebeu, pela sua criação na Titi da peça A Relíquia, o prémio Lucília Simões. A Cruz Vermelha e a Caritas também a distinguiram. Foi condecorada com a Ordem de Santiago de Espada. Estreou-se em 1913 com a peça Os Grotescos no Teatro Moderno, na atual Avenida Almirante Reis. No entanto, um dos papéis que mais a notabilizou foi no teatro radiofónico quando foi substituir Maria Matos, ao lado de Vasco Santana e de sua filha, Irene Velez, em A Lélé e o Zéquinha, onde era tratada por “aquela santa” pelo genro Vasco Santana. Mas, o seu genro verdadeiro foi Igrejas Caeiro.
Aquando da estreia, quem a viu representar foi Chaby Pinheiro que logo a integrou na sua companhia e a levou em tournée. Quando viajou pelo Brasil também esteve no elenco da companhia brasileira do ator Leopoldo Fróis. Era uma atriz versátil tendo representado todo o tipo de teatro do drama à comédia, da opereta à revista e outros.
Adaptou-se bem ao cinema e fez vários filmes com muita naturalidade e segurança a lado de grandes atores como Santos Carvalho, António Silva, Alves da Cunha entre outros. Iniciouse no filme Aldeia da Roupa Branca de Chianca de Garcia (1938) e a sua última participação no cinema foi em As Pupilas do Senhor Reitor de Perdigão Queiroga (1960).
EMILIA DAS NEVES, rua (1820-1883)


Nasceu, esta grande atriz, em Benfica e o seu nome foi dado à anterior Rua Projectada à Avenida de Grão Vasco. Segundo o padre Álvaro Proença seus pais, Manuel de Sousa, de Angra do Heroísmo e Benta de Sousa natural de Benfica morariam em 1816, “ no sétimo fogo a partir do lado ocidental da igreja, começando a contagem na casa do Adro”. Estreou-se Emília das Neves e Sousa em 1838, no Teatro da Rua dos Condes, como discípula, mas ficou conhecida apenas por Emília das Neves. Nesta época é vista por Almeida Garrett e por Emílio Doux que a vêm representar, apercebem-se dos seus extraordinários dotes e voz, e convidam-na para fazer o papel de Beatriz na peça de Almeida Garrett, Um Auto de Gil Vicente. Logo na primeira representação causou verdadeiro delírio e entusiasmo.
A peça foi repetida várias vezes sempre com a mesma admiração do público. Este auto não só lança uma grande atriz como marca, ainda, o início da reforma do teatro português do século XIX.
Para melhor entender a larga aceitação que Emília das Neves teve no meio teatral é bom referir que era extraordinariamente bela e elegante, a Linda Emília, a que aliava uma forma de estar, entre os colegas, de grande solidariedade, socorrendo-os na doença, aliviando-lhes as dores físicas e psíquicas, juntando-se a eles em vigílias e sacrifícios, constando até, que chegou a pagar-lhes as obrigações do montepio.
A seguir a esta peça representou A Câmara Ardente a que se seguiram outras. Por este
tempo era empresário o 1° Conde de Farrobo que tendo visto em Paris o drama Les prémiers amours de Richelieu muito gostaria de pôr essa obra em cena em Portugal.
Foi E. Doux quem se encarregou de a levar à cena e escolheu para protagonista do cardeal, Emília das Neves em travesti. Claro que a tradução do título da peça ficou Proezas de Richelieu (1842). O êxito foi retumbante o que muito satisfez o conde.
A arte de representar de Emília das Neves era tão grande que foi considerada a Rainha da Cena Portuguesa; a Academia de Coimbra concedeu-lhe o diploma de sócia, andou em tournée pelo Brasil e foram-lhe dedicados vários poemas, como o do portuense Faustino Xavier de Novais que a compara às maiores actrizes estrangeiras a francesa Rachel, a italiana Ristori e muitas outras.
Casou com um militar e amante da boémia D. Luís da Câmara Lema que chegou a ser ministro da Marinha de Saldanha e parlamentar. Foi uma espécie de secretário da mulher tendo chegado a fazer uma biografia. De temperamento inquebrantável Emília das Neves era extremamente reivindicativa como profissional o que lhe trazia imensos incómodos e invejas. Recusava-se a representar no São Carlos devido à acústica, não fazia mais de 14 peças por ano, era exigente no vestuário e nos salários, para si e para os colegas, reclamava no mínimo 20 ensaios por peça, entre outras exigências. Isto levou a que saltitasse de teatro em teatro: D. Maria, Ginásio, Trindade e quando em Lisboa já não a aceitavam ia para o Porto ou para o Brasil. Representou peças de autores portugueses e estrangeiros durante 36 anos. Emília das Neves figura entre as atrizes fotografadas por Disderi, ao lado das já referidas Rachel e Ristori e de Rose Cheri e Júlia Rettich. É o único busto de mulher, esculpido por Soares dos Reis, que se encontra no átrio do Teatro D. Maria II. Emília das Neves foi de facto uma das maiores atrizes do seu tempo. Aquando da sua estreia do Teatro da Rua dos Condes, Almeida Garrett teria dito, quase como que uma premunição: O seu talento é muito grande para terra tão pequena. Neste nosso Portugal vai encontrar as maiores amarguras.
12
LUCILIA SIMÕES, rua (1879-1962)
Em 1978 a Câmara Municipal de Lisboa dá o seu nome a esta rua que corresponde à anterior Rua E da zona nascente do Bairro das Pedralvas. Distinguiu-se no teatro português, esta brasileira do Rio de Janeiro, filha de pais portugueses, que começou a representar em Coimbra apenas com 15 anos na peça de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, no papel de Maria de Noronha. É, porém, na peça Madame Sans-Gêne que mostrará o seu verdadeiro talento, segundo opinião da mãe.
Em Portugal foi a primeira interprete de A Casa da Boneca, de Ibsen, no papel de Nora. No início da sua carreira Lucília procura imitar as grandes atrizes que via ou a sua mãe, também ela atriz. Duas das atrizes que a quem tentou seguir as pisadas foram Sarah Bernhardt e Duse. Esta era uma das críticas que lhe faziam afirmando que ela tinha que ser ela própria, pois tinha figura, era bela e possuía uma excelente voz. Assim quando a mãe volta para o Brasil numa tournée, decide ficar em Portugal no Teatro D. Amélia, sob a influência de Augusto Rosa. Mas, por motivos de ordem pessoal abandona o teatro durante 13 anos. Regressa ao teatro, mais madura e com a sua própria companhia em 1921. Casa com Erico Braga e com ele forma uma companhia, mas embora preferisse o teatro dramático, teve que fazer revista porque era hábito no final dos espetáculos, em complemento, faziam-se revistas em 1 acto.
Coma era brasileira não podia trabalhar no Teatro D. Maria II, mas consegue estrear-se neste teatro em 1936 na peça Isabel, Rainha de Inglaterra. Também foi encenadora tendo colaborado com Procópio Ferreira e dirigiu a companhia brasileira de Eva Todor. Participou em três filmes: A Vizinha do Lado de António Lopes Ribeiro (1945); Não há rapazes maus de Eduardo Maroto (1948); e, Eram Duzentos Irmãos de Armando Vieira Pinto (1952). Recebeu diversas homenagens: a Comenda da Ordem de Santiago, em Portugal; as Palmas de Ouro da Academia Francesa; e, no Brasil foi muito distinguida.


MARIA LALANDE, rua (1913-1968)
O seu nome foi dado à antiga rua D do Bairro das Pedralvas, em 1978. Era natural de Castelo Branco e pode-se imaginar o que não foi uma filha dum inspetor escolar preferir o teatro e matricular-se no Conservatório Nacional nos cursos de arte dramática e de bailado. Assim, vai para o Teatro da Trindade e estreia-se ao lado de Adelina Abranches na peça A Cova da Piedade, ainda como discípula.
Pouco tempo depois já está na Companhia de Amélia Rey-Colaço- Robles Monteiro onde permanecerá alguns anos fazendo quase sempre o papel de ingénua. Preferirá as personagens dramáticas, embora tenha experimentado outros géneros sempre com excelentes desempenhos. Fará a peça de Sheldon Romance, será a Carochinha de Schwalbach ou a Maria de Frei Luís de Sousa. Em 1944, interpretará A Ascensão de Joaninha de Gerhart Hauptmann que a convidará para se deslocar à Alemanha, que recusa.
Nesse ano é fundado Os Comediantes de Lisboa, uma parceria dos irmãos António Lopes Ribeiro e Francisco Ribeiro com quem Maria Lalande foi casada. Pretendiam levar à cena um repertório diferente do que se fazia no Teatro Nacional. Maria Lalande, naturalmente, adere a projeto e representa personagens em Miss Bá de R. Besier (1944); Pigmaleão de B. Shaw (1945); Bâton de Alfredo Cortez (1946) e muitas outras até 1950. Representou nos teatros Avenida, Apolo, Variedades, Maria Vitória e cinema Odeon adaptado a teatro. Ingressa no Teatro d’Arte de Lisboa em 1955 em A Casa dos Vivos de G. Green e Yerma de F. Garcia Lorca.
Depois está alguns anos sem trabalhar e regressa em 1965 em a Alma com encenação de Almada Negreiros para as comemorações do centenário de Gil Vicente no Teatro de São Carlos. No ano seguinte com um grupo de colegas cria a Companhia Portuguesa de Comediantes que se instala no Teatro Vilaret com as peças As Raposas de Lilian Hellman e Fumo de Verão de Tennessee Williams. Já no Teatro de São Luís interpretará a Bernarda do António Marinheiro de Bernardo Santareno (1967). Participa em cinco filmes que não lhe deram a mesma dimensão artística que lhe permitira o teatro. Recebeu os prémios Eduardo Brazão e Lucília Simões.
Este topónimo é dado por edital de 1926. Nasceu na freguesia de São Faustino, em Peso da Régua e morre no Porto. A sua vida dividiu-se entre o teatro e a política.
Em 1869 está no Porto a representar no Teatro Baquet em O 1° de Dezembro de 1640 ou A Restauração de Portugal. O título desta peça já deixava adivinhar o futuro lutador pela República.
Nesta cidade nortenha, ainda trabalhará no Teatro da Trindade, em Cancela Velha, mais tarde destruído pelo fogo. Vem para Lisboa em 1876 e estreia-se no Teatro da Trindade onde atua em operetas, zarzuelas e outros espetáculos musicais. Em 1880, deixa Lisboa e vai novamente para o Porto, para o velho Baquet, que também arderá.
Nessa altura Miguel Verdial está no Chalet, inaugurado em 1886. Mas, os movimentos políticos e operários atraem-no. Em 1874, é criada no Porto uma secção da Associação dos Trabalhadores da Região Portuguesa. A seu lado está um irmão operário de tecidos de algodão com quem trabalha ativamente.
Muito empenhado politicamente não deixa de reagir aquando do Ultimatum inglês e adere à Liga Patriótica do Norte presidida por Antero de Quental. No Teatro do Príncipe Real do Porto, Verdial organiza um espetáculo em beneficio da Liga.
Perfeitamente integrado no ideário republicano é ele que após o 31 de Janeiro de 1891, anuncia duma janela dos Paços do Concelho do Porto a lista do Governo Republicano Provisório, presidido por Alves da Veiga, do Partido Republicano. A revolta é aniquilada pela Guarda Municipal, mas a monarquia fica com os dias contados.

Verdial é preso, julgado num navio que se encontrava ao largo do porto de Leixões e condenado a três anos de degredo. Consegue fugir e é amnistiado em 1893, dedicando-se depois ao cooperativismo, tendo tido ainda uma breve passagem pelo teatro.
PAULO RENATO, rua (1924-1981)
O seu nome está numa rua de Benfica desde 1983. Natural de Lisboa, nesta cidade morreu. Foi para o teatro porque, segundo as suas próprias palavras, o teatro era um verdadeiro encontro com a Vida e com a Humanidade.

Tendo feito o Instituto Comercial de Lisboa e colaborado em diversas empresas, acaba por se ligar à Rádio como locutor e produtor de programas. No teatro começa a representar em 1946, dirigido por Gino Saviotti no Teatro Estúdio do Salitre. Três anos depois está no Teatro Experimental da Rua da Fé a interpretar Roberto e Melisandra, da autoria de Tomás Ribas. No ano seguinte entra na Companhia de Amélia Rey-Colaço - Robles Monteiro e entra na peça Crime e Castigo já em 1951, ano em que se considera que iniciou a sua carreira de ator profissional.
Em 1953 está na Companhia de Comédias de Alma Flora, no Teatro da Trindade, onde interpretou Um Beijo na Face e Feitiço. Entretanto, está a trabalhar para o empresário Vasco Morgado, a lado de Laura Alves, no Teatro Monumental, onde teve uma participação ativa. Experimentou ainda o teatro infantil, o teatro radiofónico, a televisão, o cinema. Foi encenador, escreveu teatro infantil de colaboração com Costa Ferreira: Príncipe Valente e Aí Vêm os Palhaços. Participou em diversos filmes, mas aquele que ficará inesquecível como viragem no cinema português será Verdes Anos de Paulo Rocha, em 1963 quando morreu era diretor da Companhia Portuguesa de Teatro.
AGENDA CULTURAL 2º SEMESTRE 2022
JULHO
16, 23 E 30 JUL | SÁBADOS | 11H00
Palácio Baldaya I Ludoteca HORA DO CONTO CONTA-ME UMA HISTÓRIA
Uma oficina de leitura para famílias, dinamizada por Margarida Carvalho, com hora do conto e atelier associado à história. Todos os sábados às 11h00 vem ouvir uma história e recontá-la num objeto com as cores e as formas da tua imaginação!
Para famílias com crianças dos 4 aos 8 anos Entrada livre, mediante inscrição através do e-mail palaciobaldaya@jf-benfica.pt
31 DE JUL A 13 DE AGO 09H00 ÀS 20H00
Palácio Baldaya I Sala Joana Baldaya EXPOSIÇÃO SÚBITA SENSAÇÃO DE ENTENDIMENTO. DE CATARINA SAMPAIO
Esta exposição salienta uma dimensão invisível, que nos envolve e que constrói o nosso ser. Uma dimensão que tem sido desvalorizada vezes sem conta, até ao ponto de se subtrair características prezadas e fundamentais do ser humano, por distrações fortes digitais, mais fáceis de serem vividas, ao invés de um olhar para dentro profundo, virado para uma essência natural intrínseca. Aqui, propõem-se então, uma primazia, a todos os sentidos, uma exposição, na qual existe uma súbita sensação de entendimento, de paragem e reflexão sobre todos os itens da nossa existência, como se de uma revelação total se tratasse, e se entendesse todos os níveis visíveis e invisíveis intrínsecos à nossa existência, assim como, o impacto que temos nos outros e no planeta que nos rodeia. Nesta exposição recomenda-se uma abertura a uma possível desinfeção de todas as feridas, que criámos em tantos campos, físicos, psicológicos e biológicos e a uma reflexão aprofundada no que existe para além da vivência supérflua.
ENTRADA LIVRE
21, 22 E 23 JUL | 22H00
Palácio Baldaya
| Cinema ao Ar livre BENFICA AO LUAR
As noites quentes de verão convidam a um serão passado a ver cinema ao ar livre! O Benfica ao Luar está de volta ao jardim do Palácio Baldaya nos dias 21, 22 e 23 de julho. Três noites para ver ou rever as nossas propostas cinematográficas.
21 JULHO
“Mães Paralelas”, um drama de Pedro Almodôvar realizado em 2021 com Penélope Cruz, Rossy de Palma, Aitana Sánchez-Gijón.

CLASSIFICAÇÃO: M/12
22 JULHO
“O bom patrão”, de Fernando León de Aranoa uma comédia de 2021 com Javier Bardem, Almudena Amor, Manolo Solo, Óscar de la Fuente, Sonia Almarcha Classificação: M/12


23 JULHO
“Ondas de crime” uma comédia de Gracia Querejeta realizada em 2018 com Maribel Verdú, Juana Acosta, Paula Echevarría, Antonio Resines Classificação M/14
ENTRADA LIVRE
AGO STO
20 E 21 DE AGO
PASSEIOS ETNOGRÁFICOS
VIAGENS NA MINHA TERRA ROMARIA DA SENHORA D’AGONIA (VIANA DO CASTELO)
Os Passeios Etnográficos do programa Viagens na Minha Terra têm como objetivo dar a conhecer a cultura e as tradições do nosso país, através da organização de visitas a algumas das mais icónicas festas populares e romarias de Portugal.

A Romaria da Senhora da Agonia (padroeira dos pescadores locais) remonta ao século XVIII e nasce da devoção dos homens do mar, vindos da Galiza e de todo o litoral português, e inclui celebrações religiosas e pagãs. Ao longo de vários dias, as festas incluem desfiles com cabeçudos, gigantones, zés-pereiras (grupos de bombos), carros alegóricos, uma grande variedade de trajes regionais de onde se destacam sempre as peças em ouro que as mulheres carregam e que tornaram a romaria famosa, num espetáculo ímpar.
PARA TODOS INSCRIÇÕES: FORMULÁRIO ONLINE EM WWW.JF-BENFICA.PT
13 AGO
MONSANTO FEST
Omah Lay cantor, compositor e produtor musical nigeriano, é um dos maiores nomes do afrobeat internacional que ganhou amplo reconhecimento no início de 2020 depois do seu single “Bad Influence” se ter tornado viral nas redes sociais e plataformas de streaming. No próximo dia 13 de agosto será o cabeça de cartaz do Monsanto Fest, a realizar na Pista de Radio Modelismo de Monsanto, num concerto produzido pela Bad Company, com apoio da Junta de Freguesia de Benfica.
BILHETES À VENDA NOS LOCAIS HABITUAIS

SET EM BRO

18
1 A 29 SET | 09H00 ÀS 20H00
Palácio Baldaya I Sala do Desembargador EXPOSIÇÃO
PALÁCIO BALDAYA, DE QUINTA A CASA DE CULTURA E INOVAÇÃO PRODUÇÃO: JUNTA DE FREGUESIA DE BENFICA
Exposição que visa contar a história do Palácio Baldaya, desde os primeiros registos enquanto quinta de veraneio à atualidade.
Entrada Livre
1 A 30 SET | 09H00 ÀS 20H00
Palácio Baldaya I Sala Joana Baldaya EXPOSIÇÃO MEMÓRIAS. A BENFICA DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES PRODUÇÃO: JUNTA DE FREGUESIA DE BENFICA
Exposição que, no contexto da comemoração do 80º aniversário do escritor, procura retratar o olhar de António Lobo Antunes sobre Benfica.
Entrada Livre
10 E 17 SET | SÁBADOS | 11H00
Palácio Baldaya I Ludoteca HORA DO CONTO CONTA-ME UMA HISTÓRIA
Uma oficina de leitura para famílias, dinamizada por Margarida Carvalho, com hora do conto e atelier associado à história. Todos os sábados às 11h00 vem ouvir uma história e recontá-la num objeto com as cores e as formas da tua imaginação!
PARA FAMÍLIAS COM CRIANÇAS DOS 4 AOS 8 ANOS
ENTRADA LIVRE, MEDIANTE INSCRIÇÃO ATRAVÉS DO E-MAIL PALACIOBALDAYA@JF-BENFICA.PT
10 E 11 SET
Palácio Baldaya MÚSICA
JUNTA-TE AO FADO
Nos dias 10 e11 de setembro, realiza-se uma nova edição do “Junta-te ao fado”. A iniciativa organizada pela Junta de Freguesia de Benfica, vai contar com alguns dos grandes nomes do panorama do fado da atualidade, Pedro Flores e Teresinha Landeiro e ainda a participação de duas escolas de Fado, que apresentam, ao vivo, a sua arte ao grande público. 10

16, 17 E 18 SET | 21H30
JARDIM PALÁCIO BALDAYA TEATRO O CICLONE
GRUPO DE TEATRO AMADOR
DE BENFICA
O Grupo de Teatro Amador de Benfica apresenta nos dias 16, 17 e 18 de setembro, no Jardim do Palácio Baldaya, a reposição do enorme sucesso - O Ciclone - com encenação de Benjamim Falcão. Esta é a última oportunidade de assistir à brilhante representação deste comovente e surpreendente enredo.
ENTRADA LIVRE
17 SET | 15H30
Palácio Baldaya I Música para Bebés CONCERTO PARA BEBÉS
NEW MUSIC SCHOOL
PARA FAMÍLIAS COM BEBÉS DOS 6 MESES AOS 4 ANOSENTRADA LIVRE, MEDIANTE INSCRIÇÃO ATRAVÉS DO E-MAIL PALACIOBALDAYA@ JF-BENFICA.PT
18 SET | 11H30
Auditório Carlos Paredes CINEMA INFANTIL FILMINHOS À SOLTA ZERO EM COMPORTAMENTO M/4
SESSÃO FAMÍLIAS: 3€/PESSOA I OBRIGATÓRIA INSCRIÇÃO PRÉVIA ATÉ ÀS 23H59 DO DIA ANTERIOR ATRAVÉS DO EMAIL SERVICOEDUCATIVO@ ZEROEMCOMPORTAMENTO.ORG
24 SET | 11H00
Palácio Baldaya I Sala do Desembargador HORA DO CONTO APANHA PALAVRAS
À RODA DA SAIA DE DONA MARIA JOANNA BALDAYA

SEBASTIÃO ANTUNES + COLETIVO DE ARTISTAS
PARA FAMÍLIAS COM CRIANÇAS DOS 4 AOS 8 ANOS ENTRADA LIVRE, MEDIANTE INSCRIÇÃO ATRAVÉS DO E-MAIL PALACIOBALDAYA@JF-BENFICA.PT
22 A 25 SET
Parque Silva Porto
FEIRA MEDIEVAL FEIRA MEDIEVAL DE BENFICA
Despois de adiada a edição de julho de 2022, na sequência do estado de alerta decretado devido às altas temperaturas, a Feira Medieval de Benfica está de regresso ao Parque Silva Porto, de 22 a 25 setembro! Durante 4 dias, vai ser possível recuar alguns séculos no tempo, através da decoração a rigor, das músicas e danças tradicionais. Os aromas da comida vão ser intensos, e o sabor vai pedir para ser acompanhado por uma boa bebida. Porque não aproveitar para provar um hidromel, considerada a bebida dos deuses? Tudo isto num cenário repleto de figurantes, trajados a rigor, que vão animar as ruas e reforçar o realismo do cenário.
A Feira Medieval de Benfica é uma organização da Junta de Freguesia, em parceria com a TrasEventos. Uma atividade para desfrutar em família!
PARA TODOS
ADULTOS: 2€ | CRIANÇAS: 1€ | FAMÍLIAS: 5€
25 SET | 21H30
Palácio Baldaya MÚSICA JORGE PALMA – SÓ
A apresentação, ao vivo, única e inédita do icónico álbum de 1991, no ano em que comemora 50 anos de carreira. O espetáculo está inserido numa trilogia, com outros formatos e repertório, que serão apresentadas noutras salas da capital. Co-Produção Junta de Freguesia de Benfica.
Bilhetes a partir de 20,00€, à venda em Ticketline.pt.
30 SET 16 OUT | 09H00 ÀS 20H00
Palácio Baldaya I Sala Joana Baldaya EXPOSIÇÃO DE PINTURA
B.ART
Cristina Cabrita Diego Chicaiza Ayala Elisa Colina Teresa Alves
A exposição “B.Art” apresenta trabalhos integrados no objectivo pessoal de exploração plástica de quatro artistas de nacionalidades distintas que partilham a paixão pela arte.

Cristina Cabrita, Diego Chicaiza Ayala, Elisa Colina e Teresa Alves, abraçam o projecto B. Art dedicado à pintura com o objetivo de dar a conhecer a sua produção artística.
As obras expostas poderão ser compreendidas como produções decorrentes do contexto de vida, das inspirações e das experiências vividas por estes artistas. Nesta exposição são apresentados temas, estilos e técnicas diferentes, que identificam a forma como cada um materializa de forma criativa as suas mensagens através da cor, forma e volume.
ENTRADA LIVRE

Jorge Palma na primeira pessoa
Em 72 extraordinárias voltas ao sol, foste inspirando todas as gerações de músicos que se seguiram. Apesar do teu cunho ser único e inimitável, quais são/ foram as tuas maiores inspirações?
Desde sempre, fui absorvendo todo o tipo de géneros, estilos e formatos musicais. Da clássica aos blues, da pop/rock ao jazz, da country ao hip-hop.... Enfim, tenho vindo a receber a influência de toda a música que me dá prazer, mais ou menos interiorizada ou racionalizada. E dá-me imenso gozo perceber que o meu trabalho também tem, ao longo dos tempos, influenciado e estimulado as gerações mais jovens.
És, seguramente, um dos maiores poetas/ escritor de canções do nosso panorama passado e presente, para além de um músico extraordinário. Destas três definições, com qual mais te identificas?
Entre as minhas variadas maneiras de me exprimir musicalmente - escritor de músicas e poemas, instrumentista, intérprete vocal e arranjador/orquestrador, escolho “músico” como a melhor e mais simples forma de me definir profissionalmente.
O Bairro de Benfica é também, o – Bairro do Amor – por ti e pelas tuas canções. Vais estar “Só” em palco, mas muito bem acompanhado por uma plateia multigeracional que te venera. Como explicas esta transversalidade entre o público que gosta da tua música?
Benfica é também um bairro do amor e como todos os bairros do mundo, lugar de vitórias e fracassos, de prazer e de dor, de entusiasmos e desilusões.
Habituei-me ao facto de ser reconhecido, respeitado e mimado por avós, filhos e netos, acho que isso se deve à minha maneira simples e franca de estar e de comunicar. E ao talento também :)
Já te ouvimos a interpretar as tuas cançõesSó - ao piano ou à guitarra, com orquestra e com bandas (mais ou menos numerosas). Com arranjos mais para o Folk, a puxar ao Clássico, a piscar o olho ao Jazz ou, em Rock

“puro e duro”. É caso para afirmar que as boas canções soam bem em qualquer estilo ou formato?
No que diz respeito à minha escrita, há muito tempo que considero que uma boa canção tem de “sobreviver” a qualquer arranjo e, em última análise, existir por si só, nua e crua, sem nenhum tipo de vestimenta.
Voltas em setembro a Benfica, - Só - ao piano, num concerto único e irrepetível, que transporta para o palco, um dos melhores álbuns da história da música portuguesa. Que memórias guardaremos deste espetáculo?
A noite de 25/9 nos Jardins do Palácio Baldaya vai ser, decerto, um momento muito especial, como eu procuro que sejam todas as minhas atuações. Será o primeiro concerto de uma série de seis, denominada “ANTOLOGIA”,
que assinala os meus 50 anos de atividade musical, e que passará depois - entre outubro e novembro - por quatro concertos no Teatro Tivoli, onde revisitarei 3 álbuns por data, e que culminará com a reunião de Palma’s Gang no Cineteatro Capitólio.
Dizer-se que o meu álbum “Só” é um dos melhores da música portuguesa deixa-me por um lado orgulhoso e, por outro lado, um pouco incrédulo, já que se tem feito ao logo das últimas décadas música maravilhosa em Portugal.
Estou convencido de que esta nova apresentação ao vivo deste álbum, em Benfica, estará repleta de calor, rigor e esplendor.
Bem-hajam!
Jorge Palma
OUTUB RO
1 A 31 OUT | 09H00 ÀS 20H00
Palácio Baldaya I Sala Desembargador EXPOSIÇÃO O QUINTO IMPÉRIOFOTOGRAFIA ARTÍSTICA
A exposição “O QUINTO IMPÉRIO –FOTOGRAFIA ARTÍSTICA”, apresentada por GOD Publishing, é uma exposição coletiva de fotografias que vem dar vida e outra expressão ao livro com o mesmo nome, de vários autores. Composta por um conjunto de 24 fotografias que foram a escolha de 18 dos 22 autores neste projeto. Autores: Ana Abrão, Carlos Carreto, Cláudio Rodrigues, Ddiarte, Hugo Pinto, Jackson Carvalho, Jaime Silva, Joaquim Albano Duarte, José Cavaco, Luís Lobo Henriques, Luís Trindade, Miguel Antunes, Nuno Realinho, Pedro Barata, Ricardo Gonçalves, Sérgio Morais, Vasco Inglez, Vítor Murta. Entrada Livre
1, 8, 15 E 22 OUT | SÁBADOS | 11H00
Palácio Baldaya I Ludoteca HORA DO CONTO CONTA-ME UMA HISTÓRIA
Uma oficina de leitura para famílias, dinamizada por Margarida Carvalho, com hora do conto e atelier associado à história. Todos os sábados às 11h00 vem ouvir uma história e recontá-la num objeto com as cores e as formas da tua imaginação!

PARA FAMÍLIAS COM CRIANÇAS DOS 4 AOS 8 ANOS ENTRADA LIVRE, MEDIANTE INSCRIÇÃO ATRAVÉS DO E-MAIL PALACIOBALDAYA@JF-BENFICA.PT
1, 2, 3,4 E 5 OUT | 21H00
Auditório Carlos Paredes MÚSICA
LISBOA CONNECTION FEST
Depois do sucesso das primeiras duas edições, o festival de Blues & Folk “Lisboa Connection Fest” está de regresso a Benfica, desta vez ao Auditório Carlos Paredes! Criado com o objetivo de ir ao encontro daquilo que o público do Blues & Folk anseia, o Lisboa Connection Fest já colocou Lisboa no circuito internacional destes dois estilos musicais, tendo já trazido ao bairro da música grandes nomes como Martin Harley, Chino&The Big Bet, Bayou Moonshiners, Cristóvam, Budda Power Blues, Frankie Chavez, entre outros. BILHETES À VENDA NA TICKETLINE.PT

FILME DO MÊS
ZERO EM COMPORTAMENTO
Todos os anos, surgem no circuito nacional e internacional, muitos filmes que são muito bons (ou importantes), mas que não têm dimensão para justificar uma estreia comercial. São, por isso, ignorados pelos distribuidores convencionais.
Para dar visibilidade a estes filmes, a Zero em Comportamento, com mais de 20 anos de experiência, criou o projeto O FILME DO MÊS, através do qual exibe mensalmente, em diferentes locais, o mesmo filme.
O programa deste projeto é composto por títulos que poderão versar sobre temas tão distintos como: Política, Economia, Direitos Humanos, Educação, Arquitetura e Urbanismo, Artes, Ciência e Ecologia, entre muitos outros. Aceita o nosso convite para assistir ao FILME DO MÊS, no Auditório Carlos Paredes?
M/12
Bilhetes: 4€ – geral • 3€ – moradores com apresentação de comprovativo Reservas: servicoeducativo@zeroemcomportamento.org
15 OUT | 15H30
Palácio Baldaya MÚSICA PARA BEBÉS CONCERTO PARA BEBÉS NEW MUSIC SCHOOL
Os bebés começam a ouvir ainda dentro da barriga das mães e, de acordo com os especialistas, a expressão musical ajudamnos a desenvolver o intelecto, estimula a fala e a audição. A Junta de Freguesia de Benfica alia-se à New Music School para um concerto onde sons, ritmos e timbres variados dão o mote para uma tarde onde a música e os bebés reinam.

Para famílias com bebés dos 6 meses aos 4 anos Entrada livre, mediante inscrição através do e-mail palaciobaldaya@jf-benfica.pt
16 OUT | 11H30
Auditório Carlos Paredes
CINEMA INFANTIL FILMINHOS À SOLTA
ZERO EM COMPORTAMENTO
M/4
Sessão famílias: 3€/pessoa I Obrigatória inscrição prévia até às 23h59 do dia anterior através do email servicoeducativo@zeroemcomportamento.org
17 OUT A 30 NOV | 09H00 ÀS 20H00
28 E 29 OUT | 21H00
Auditório Carlos Paredes MÚSICA
BBV ACOUSTIC SESSIONS
ARTISTAS A ANUNCIAR
A celebração do Hip Hop, num registo acústico e intimista. Uma Co-Produção Junta de Freguesia de Benfica e BBV Studios. M/16 I Bilhetes à venda na ticketline.pt
7 A 9 OUT | 15H00 ÀS 22H00
Palácio Baldaya BALDAYA VINTAGE FEST
O Baldaya Vintage Fest está de regresso para uma segunda edição. O evento promete reviver os anos 50 e 60, com os penteados e roupas vintage da época, concertos com muito rock, carros e motas clássicas que vão invadir e animar o Palácio Baldaya. Durante o Festival, há também um mercado com vários artigos originais e marcas vintage: roupa, acessórios, maquilhagem, jogos e consolas, cerveja artesanal ou editoras de música. O Baldaya Vintage Fest acontece nos dias 7, 8 e 9 de outubro, com entrada livre. Uma iniciativa organizada pelo Baldaya Vintage Fest e Junta de Freguesia de Benfica.
Entrada Livre
Palácio Baldaya I Sala Joana Baldaya EXPOSIÇÃO
A SENHORA DE NOSSA SENHORA DO CABO ESPICHEL. HISTÓRIA DE UMA ROMARIA SALOIA.
Esta exposição aborda o culto a Nossa Senhora do Cabo Espichel ou Santa Maria da Pedra de Mua, que é mencionado pela primeira vez numa carta régia de D. Pedro I, datada de 1366. Esta é uma das mais antigas e interessantes manifestações de religiosidade popular em Portugal.
O círio de Nossa Senhora do Cabo Espichel é recebido por cada freguesia de 26 em 26 anos. Entrada Livre

29 OUT | 11H00
Palácio Baldaya I Sala Desembargador HORA DO CONTO APANHA PALAVRAS MACHADA, MACHADINHA, MACHADADA!
SEBASTIÃO ANTUNES + COLETIVO DE ARTISTAS
Sessões interativas para crianças e famílias, com a participação do músico Sebastião Antunes. Uma experiência multicultural para desfrutar em família, onde a palavra e o texto (em prosa ou em verso, tradicional ou de autor), se cruzam com a música, com o teatro e com a dança.
Para famílias com crianças dos 4 aos 8 anos Entrada livre, mediante inscrição através do e-mail palaciobaldaya@jf-benfica.pt
NOV EM BRO
5, 12 E 19 NOV | SÁBADOS | 11H00
Palácio Baldaya I Ludoteca HORA DO CONTO CONTA-ME UMA HISTÓRIA
Uma oficina de leitura para famílias, dinamizada por Margarida Carvalho, com hora do conto e atelier associado à história. Todos os sábados às 11h00 vem ouvir uma história e recontá-la num objeto com as cores e as formas da tua imaginação!
PARA FAMÍLIAS COM CRIANÇAS DOS 4 AOS 8 ANOS ENTRADA LIVRE, MEDIANTE INSCRIÇÃO ATRAVÉS DO E-MAIL PALACIOBALDAYA@JF-BENFICA.PT
10 A 13 NOV | 12H00 ÀS 22H00
PALÁCIO BALDAYA MAGUSTO
Como manda a tradição, o dia de São Martinho volta a ser comemorado no Bairro de Benfica com muita música, animação, castanhas assadas e jeropiga para acompanhar!
Entrada Livre
17 NOV | 21H30
DATA A DEFINIR
Auditório Carlos Paredes
TEATRO É URGENTE O AMOR
GTAB - GRUPO DE TEATRO AMADOR DE BENFICA
5 A 30 NOV | 09H00 ÀS 20H00
Palácio Baldaya I Sala do Desembargador EXPOSIÇÃO RECORDAR SARAMAGO
Exposição evocativa da vida e obra de José Saramago, no contexto da celebração do 100º aniversário do seu nascimento.

ENTRADA LIVRE
06 NOV | 11H30
Auditório Carlos Paredes
CINEMA INFANTIL
FILMINHOS À SOLTA
ZERO EM COMPORTAMENTO
Os “Filminhos à solta” são curtas-metragens infantis para ver em família aos domingos de manhã no Auditório Carlos Paredes! Com produção da “Zero em Comportamento”, todas as sessões dos Filminhos à solta incluem uma ficha pedagógica.
M/4 SESSÃO FAMÍLIAS: 3€/PESSOA I OBRIGATÓRIA INSCRIÇÃO PRÉVIA ATÉ ÀS 23H59 DO DIA ANTERIOR ATRAVÉS DO EMAIL SERVICOEDUCATIVO@
ZEROEMCOMPORTAMENTO.ORG
Auditório
Carlos Paredes CINEMA FILME DO MÊS ZERO EM COMPORTAMENTO
Todos os anos, surgem no circuito nacional e internacional, muitos filmes que são muito bons (ou importantes), mas que não têm dimensão para justificar uma estreia comercial. São, por isso, ignorados pelos distribuidores convencionais. Para dar visibilidade a estes filmes, a Zero em Comportamento, com mais de 20 anos de experiência criou o projeto O FILME DO MÊS, através do qual exibe mensalmente, em diferentes locais, o mesmo filme.
O programa deste projeto é composto por títulos que poderão versar sobre temas tão distintos como: Política, Economia, Direitos Humanos, Educação, Arquitetura e Urbanismo, Artes, Ciência e Ecologia, entre muitos outros. Aceita o nosso convite para assistir ao FILME DO MÊS, no Auditório Carlos Paredes? M/12
Bilhetes: 4€ – geral • 3€ – moradores com apresentação de comprovativo Reservas: servicoeducativo zeroemcomportamento.org
O Grupo de Teatro Amador de Benfica (GTAB), com direção e encenação do ator Benjamim Falcão, desenvolve o seu trabalho no Auditório Carlos Paredes desde 2008, com o apoio da Junta de Freguesia de Benfica, reunindo a participação de 36 elementos. Além das apresentações regulares no Auditório Carlos Paredes, o Grupo de Teatro Amador residente na freguesia também sobe ao palco do Palácio Baldaya, onde vai continuar a mostrar o seu talento, em 2022. Ao longo do ano, o GTAB vai apostar numa programação diversificada, estimulando a fruição cultural e impulsionando o teatro amador na freguesia de Benfica. Iniciativas a não perder!
Bilhetes à venda em www.ticketline.sapo.pt
19 NOV | 15H30
Palácio Balday MÚSICA PARA BEBÉS CONCERTO PARA BEBÉS NEW MUSIC SCHOOL
Para famílias com bebés dos 6 meses aos 4 anos Entrada livre, mediante inscrição através do e-mail palaciobaldaya@jf-benfica.pt
25 E 26 NOV | 21H00
Auditório Carlos Paredes
MÚSICA
JUNTA-TE AO CANTE

Para celebrar o Alentejo e a elevação do Cante a Património Imaterial da Humanidade, O Grupo - Planície Cantada - convida para dois espetáculos únicos e irrepetíveis, em conjunto com outros grandes Grupos que se dedicam à arte deste inimitável género musical mundialmente reconhecido.
Bilhetes à Venda em Ticketline.pt
+ COLETIVO DE ARTISTAS
Sessões interativas para crianças e famílias, com a participação do músico Sebastião Antunes. Uma experiência multicultural para desfrutar em família, onde a palavra e o texto (em prosa ou em verso, tradicional ou de autor), se cruzam com a música, com o teatro e com a dança.
Para famílias com crianças dos 4 aos 8 anos Entrada livre, mediante inscrição através do e-mail palaciobaldaya@jf-benfica.pt
SABIA QUE?
Benfica começou por ser uma aldeia de camponeses e que a denominação Saloia deriva de Çaloio ou Çalaio que era o tributo que os mouros, que após a conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques se fixaram nos arredores da cidade, pagavam nas portas de Benfica para comercializar os seus produtos hortícolas em Lisboa.
Que os lisboetas são conhecidos por Alfacinhas todos sabem, mas sabia que a palavra alfacinha é mesmo um diminutivo de alface (do árabe al-khass) e que provavelmente foram os Mouros, a quem os lisboetas chamavam saloios que devolveram o cumprimento, comparando os lisboetas a grilos pelo gosto das alfaces que eles cultivavam e lhes vendiam nos mercados de Lisboa.
Os “Saloios” de Benfica deslocavam-se a Lisboa para venderem as suas frutas, legumes e flores e era nas Portas de Benfica que os produtos eram pesados e cobrados os impostos de entrada de mercadoria na cidade.
No século XV, Benfica foi promovida a sede de julgado do Termo de Lisboa, o que então representava já alguma autonomia, incluindo dois juízes privativos. Ainda no século XV fixaram-se em Benfica três importantes Irmandades: Nossa Senhora do Amparo, Santo António e São Sebastião.
HISTÓRIAS QUE MERECEM SER CONTADAS
«RETALHOS DE BEM-FICA»: O BLOGUE QUE COSE UM MANTO DE MEMÓRIAS E HISTÓRIAS DO PATRIMÓNIO
DE BENFICA.
Ao longo dos tempos, a maioria das civilizações que utilizaram a palavra escrita viram-na como uma forma de preservar a memória, de impedir que esta desapareça na densa bruma do tempo e que se esqueça para sempre. Nesta edição da Agenda Cultural, entrevistamos duas figuras que chamaram a si a missão de, através da escrita, manter viva a memória e identidade coletiva de Benfica. Falamos de Fausto Castelhano e Alexandra Carvalho, dois filhos de Benfica, que são os autores do blogue e da página de Facebook «Retalhos de Bem-Fica».
Nesta conversa, recordámos as origens e a missão deste blogue, que nasceu da vontade de Alexandra Carvalho, que começou por criar, em conjunto com duas outras senhoras, uma página chamada «Mercados de BemFica», que abrangia as freguesias de Benfica e de São Domingos de Benfica. Mais tarde, decidiu, por questões editoriais, separar-se deste grupo inicial e fez nascer um novo blogue sob o nome «Retalhos de Bem-Fica».
Nas palavras de Alexandra Carvalho, «a perspetiva era falar do passado de Benfica, mas também do presente e de coisas mais atuais».
O momento exato da entrada de Fausto Castelhano, enquanto redator de textos para o blogue, perdeu-se. No entanto, terá sido por volta de 2009, pouco antes da luta pela proteção da Vila Ana e da Vila Ventura. De acordo com Alexandra Carvalho, «o Fausto começou a comentar, com a sua sabedoria mais antiga, de quem viveu um passado rural desaparecido». Mais tarde, quis colaborar de forma constante, onde relatava, numa escrita quase literária, vivências, locais e pessoas que já não existiam, ou que estavam a desaparecer da memória coletiva da Freguesia. Para Alexandra, antropóloga de formação, esta foi
a oportunidade perfeita para cumprir o intuito do blogue.
Um dos objetivos de Alexandra era construir uma página em que todos pudessem colaborar com histórias, textos e imagens. Muitos participaram, enviando fotografias e textos pequenos, sobretudo testemunhos pessoais. Porém, de forma sistemática e com textos mais completos, relatos de vivências e locais do passado, os de Fausto eram únicos. Logo no início, contaram com a ajuda de um fotógrafo, Mário Pires, que colaborou em reportagens. Para a memória da história do blogue, ficou a visita a uma loja muito antiga que existiu na Rua Cláudio Nunes, pertença do Sr. Gaspar. O estabelecimento era uma taberna-mercearia, «à antiga», como nos contou Fausto Castelhano, acrescentando que conheceu o Sr. Gaspar «quando era pequeno, em 1945/46. Quando faleceu, quem passou a tomar conta da taberna foi um cunhado da esposa do Gaspar. Fomos lá com o Mário, fizemos uma entrevista, isto lá para as 10/11 horas da manhã, em que ele depois nos ofereceu um copinho de vinho. Eu tinha lá estado antes. Eu apanhei logo. Já lá estavam alguns clientes, uns já com um copo de cerveja, outros com um de tinto. (…) Acabámos por ir lá uma segunda vez. Foi muito interessante».
O registo destas vivências, que estavam em vias de desaparecer, levou à divisão do blogue em várias rubricas, como por exemplo, a das lojas mais antigas, onde se relatou a história da loja do Sr. Gaspar, do Capelo, da drogaria da Estrada de Benfica. Ou a rubrica das gentes de Benfica, onde se entrevistaram personagens marcantes da freguesia, como o filho do primitivo dono do «Na volta cá te espero» – o João Peres. Por fim, criou-se uma rubrica com publicações do dia-a-dia, mais
utilitária, como a vez em que uma senhora perdeu o gorro da filha e depois da partilha da situação, o gorro foi encontrado.
O Facebook acabou por facilitar o processo e torná-lo mais imediato. A publicação dos textos no blogue é morosa e trabalhosa, exige tempo. No Facebook, os dois podem editar e publicar textos e imagens, facilitando muito o trabalho.
Por fim, há ainda a questão da publicação de animais perdidos por parte dos donos que os procuram, numa tentativa de encontrá-los. Tema caro a Alexandra, por ser um gosto especial e pessoal.
Em suma, o fundamental do «Retalhos de Bem-Fica» é a interligação entre o passado e o presente, fazendo dele uma fonte essencial e incontornável para o conhecimento e partilha das histórias das gentes e memórias da freguesia com um impacto considerável, pois o blogue tem cerca de 6.700 visualizações por mês e 3.732 seguidores no Facebook.
O nome do blogue – «Retalhos de Bem-Fica» – resume bem o seu principal objetivo. Os retalhos remetem-nos para o juntar de peças do passado e do presente de Benfica, como uma manta de histórias e memórias que vai sendo cosida, no conceito inicial, através de vários contributos. Enquanto que o termo «Bem-Fica», remete-nos para o passado através da grafia antiga do nome da Freguesia. Dos projetos do passado ficou para a história do blogue o movimento de defesa pela conservação e preservação da Vila Ana e da Vila Ventura que, para além de um movimento de cidadãos, acabou por permitir e abrir espaço para a partilha de histórias sobre a Freguesia. No presente, o estudo sobre a história da Quinta da Granja, para o futuro, quem sabe, transformar esta história da única quinta rural de Lisboa numa monografia e o

sonho de, um dia, publicar os textos mais significativos do blogue.


O «Retalhos de Bem-Fica» vive hoje com os dois resistentes Fausto e Alexandra, com a missão de preservação de memórias de gentes e locais de um passado desaparecido, impedindo que este se apague em definitivo da cultura e história locais. São, por conseguinte, através do blogue, um dos garantes da memória, da história e da defesa do património material e imaterial de Benfica.

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Os Story Tellers! São os novos habitantes que vivem no Parque Silva Porto, desde agosto de 2021. As pequenas esculturas da autoria do artista Fulviet vieram dar uma nova vida ao Parque e proporcionar novas experiências a quem o visita!
Estas simpáticas personagens são acompanhadas de um QR Code que dá acesso a excertos de Bandas Desenhadas de autores nacionais e internacionais. O principal objetivo desta intervenção é dar a conhecer um pouco da história da banda desenhada, com especial ênfase na portuguesa, e criar novas formas de apreciar o Parque através da cultura interativa.

Com o intuito de não limitar esta descoberta a uma única visita, trimestralmente, no início de cada estação do ano (21 de março, 21 de junho, 21 de setembro e 21 de dezembro), os conteúdos são trocados, sob novas temáticas ou a seleção de obras de um mesmo autor. No primeiro trimestre do projeto, marcando o Outono, estiveram patentes oito autores representando as diferentes épocas da BD em Portugal, desde Raphael Bordalo Pinheiro (1846-1905) até Nuno Saraiva, passando por Carlos Botelho (1899-1982), Sérgio Luís (1921-43), Eduardo Teixeira Coelho (19192005), José Ruy, Isabel Lobinho (1947-2021) e Fernando Relvas (1954-2017).
No Inverno, o tema recaiu sobre a cidade de Lisboa com trabalhos de Relvas - justificado com a reedição de Concerto para Oito Infantes e Um Bastardo, O Eterno Passageiro de Luís Félix, Ana de Nuno Artur Silva e António Jorge Gonçalves, “Bairro Alto” de Ana Cortesão, as antologias Lisboa 24h00 (Bedeteca de Lisboa; 2000) e Lisboa é very very Typical (Chili Com Carne; 2015) e ainda, pela primeira vez em português, a BD de José Smith Vargas publicada na revista italiana Internazionale.
Para esta Primavera, estendendo-se pelo Verão, aproveitamos para “abrir as portas dos QR” a novos autores em ascensão como Gonçalo Duarte, Alexandra Saldanha, a dupla de “Azoresploitation” Francisco Afonso Lopes e Francisco Lacerda, Rodolfo Mariano, Dois Vês, Tiago da Bernarda e Mariana Pita.
O Conger Conger Comix é uma “BD cadáver esquisito”, isto é, uma banda desenhada em que um autor dá início à história, passa de seguida para outro autor, sem poder controlar a direção do enredo, e assim sucessivamente. Esta experiência narrativa foi realizada entre junho e dezembro de 2021, todos os meses com um autor diferente que conduzia a história em cada número da agenda alternativa Yuzin, uma publicação açoriana que convidou a Associação Chili com Carne para incluir nas suas edições bandas desenhadas, sendo este o resultado.
A StoryTellers e a Conger Conger Comix, dois projetos criados em 2021, encontraramse agora, no percurso dos QR Code distribuídos pelo Parque Silva Porto e na publicação um livro que compila este “cadáver esquisito” e com capa de Gregory Le Lay.
A StoryTellers é uma iniciativa promovida pela Junta de Freguesia de Benfica, em parceria com a Bedeteca de Lisboa e a Galeria de Arte Urbana, sendo da autoria do Coletivo Booksonwall, um coletivo artístico multidisciplinar com origem no Uruguai.
Mundo da Banda Desenhada toma conta do Parque Silva Porto
