Revista CulturArt

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Jerônimo Teixeira: articulando a crítica

Edição 1 - Dezembro 2011

SUSTENTABILIDADE

Uma entrevista com o biólogo e jornalista Alexandre Spatuzza FILMES DE TERROR Por que gostamos de sentir medo?

RODCHENKO

Um ensaio sobre a obra e vida do fotógrafo

DELTA BLUES

Robert Johnson, a encruzilhada e o slide do blues de raiz

LARS VON TRIER Uma retrospectiva sobre o diretor mais polêmico de Cannes

R$ 14,00

ANDERSON SCHNEIDER O olhar por trás do fato

15 ANOS SEM RENATO RUSSO

Especial sobre o artista que transformou toda uma geração



E... 04. Editorial 06. Vitrine 07. O que vem por ai 08. Entrevista 11 . A nova MPB 22. Em cartaz 23. Cinema Nacional 36. Livro por Livreiros 37. Estante CulturArt

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Retrospectiva Lars Von Trier na Cinemateca

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24. Longa em foco 25. Espaço Verde 33. Centralização 34. Museus 40. Novelo 41. Espectros 42. Ródtchenko 46. Linha do Trem 44. Grafitagem

Anderson Schnneider

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Filmes de Terror

Por quê gostamos de sentir medo?

O olhar por trás da notícia 15 anos sem Renato Russo

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10. Cultura pop 32. Biliotecas 2.0 35. Etimologia

O rei do Delta Blues e a encruzilhada

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Especial Sustentabilidade com Alexandre Spatuzza


EDITORIAL

CulturArt A

preocupação de discutir cultura sob um ponto de vista analítico e politizado é um dos objetivos que permeiam a atuação da equipe. Para nós, é imprescindível a reflexão sobre as necessidades da inclusão deste assunto não só nas escolas,mas também nas pautas do dia a dia. É a partir da exposição de projetos culturais que se desenvolve o senso crítico e se aguça a sensibilidade. Foi pensando nisso que demos início ao nosso próprio projeto cultural, no qual pessoas completamente diferentes se unem com um só objetivo: fazer, pensar, desvendar, refletir e divulgar cultura.

Desenvolvemos um projeto para dar espaço às nossas inquietações, possibilitando discutir e expressar de forma leve e prazerosa: arte urbana, cinema, música, teatro ou qualquer outra manifestação cultural. A equipe formada por Beatriz Garcez, Débora Dias, Grabrielle Mehringer, Jessica Fiuza e Larisse Alves já passou por diversas transformações. Atualmente em formato de revista, o projeto está mais maduro e estruturado, levando em conta as peculiaridades de cada integrante do grupo, transformando este “mix”de personalidades e interesses, em uma revista plural sob medida para os maisdiversos públicos.


EXPEDIENTE Gabrielle Mehringer Movida pela música e instigada pela cultura associada ao life style despojado e moderno. Desde pequena, sempre se interessou em fazer atividades ligadas a arte e cultura, entre elas, balé, teatro, canto e dança. Atualmente cursa comunicação social com habilitação para Jornalismo. Adora pesquisar sobre a cultura inserida no mundo atual para aqueles que gostam de ler e curtir a cidade.

Débora Dias Estudante de jornalismo com formação em computação gráfica, é apaixonada por fotografia, cinema e literatura. Acredita que é obrigação do Estado permitir o acesso de todas as classes sociais à cultura, direito básico de todo cidadão. A vivência cultural é tão imprescindível quanto aprender a ler e escrever, pois enriquece a mente e sensibiliza a alma, nos preparando para encarar o mundo de forma mais humana.

Jessica Fiuza Estudante de jornalismo, influenciada pela temática existencialista cursou linguagem cinematográfica e é apaixonada por fotografia, música e literatura. Vê as palavras como depositárias de experiências que nos circundam e que também nos constituem. Sendo deste modo a comunicação um processo inerente à história e a cultura humana, intrínseca para a reflexão e o exercício de uma cidadania plena.

Beatriz Garcez Beatriz, radialista e estudante de jornalismo, aprendeu desde pequena a consumir, digerir e nas horas vagas fazer arte. Acredita que quando as crianças têm acesso à cultura desde cedo melhores cidadãos são formados. Conversar sobre cultura é uma de suas atividades preferidas. É facilmente encontrada na Pinacoteca do Estado ou no Sesc, mas sabe que a arte não esta apenas em museus, está presente também na rua e na arquitetura da cidade.

Larisse Alves Estudante de jornalismo e psicanálise, apaixonada por música, cinema e literatura, busca conciliar as análises do cotidiano, com o desvendamento da mente humana, acredita que a cultura é um agente catalisador de pressões internas e externas e que através da arte, seja qual for sua forma de expressão, é possível revelar a verdadeira essência humana.


Vitrine Confira algumas curiosidades dentro do mundo da arte e da cultura

Vocábulo ... De onde vêm as palavras Fulano, Beltrano e Sicrano? Fulano vem do árabe fulân (“tal”). No espanhol do século XIII, fulano era usado como adjetivo, mas depois tornou-se esse substantivo que designa algo que não sabemos o nome. Beltrano veio do nome próprio Beltrão, muito popular na Península Ibérica por causa das novelas de cavalaria. A terminação em ano veio por analogia com fulano. E Sicrano tem origem misteriosa. Como foram inventados os acentos gramaticais? Os acentos gramaticais foram criados por Aristófanes de Bizâncio, o primeiro bibliotecário da Biblioteca de Alexandria, alguns séculos antes de Cristo. Foi na língua grega que ele introduziu tanto os acentos quanto sinais de pontuação.

O que quer dizer o termo sic que costumamos ler em algumas reportagens? Proveniente do latim, sic significa assim, dessa forma, e quer dizer que, por mais estranho que possa parecer o texto ou a declaração de alguém, foi dito daquela forma

Alimentação ... FDA, que é um orgão governamental dos EUA que faz o controle dos alimentos (tanto humano como animal), medicamento, suplemento alimentar, cosméticos e demais substâncias, permite a venda de produtos contendo insetos e pêlos de roedores. A FDA admite como aceitável o encontro de cinco insetos ou partes de insetos para cada 100g de manteiga de maçã e de 30 fragmentos de insetos por 100g na manteiga de amendoim. Isso se deve à impossibilidade da completa remoção de partes corporais de insetos dos produtos alimentícios. A água de coco pode ser utilizada (em caso de emergência) como um substituto para o plasma sanguíneo. A razão para isto é que a água de coco (a água encontrada em côcos – não confunda com o leite de coco) é estéril e tem um nível de pH ideal.

A primeira sopa feita no mundo foi a de hipopótamo. As primeiras provas arqueológicas para o consumo de sopa (sim, existe estudo para isso) mostram que em 6000 aC foi feita a primeira sopa do mundo, e ela foi de hipopótamo.

Comportamento... Durante uma vida, um ser humano passa, em média, 8 anos em filas de espera.

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Bater a sua cabeça contra a parede continuamente gasta em média 150 calorias por hora.

Se você ficar gritando por 8 anos, 7 meses e cinco dias, terá produzido energia sonora suficiente para aquecer uma xícara de café.


O que vem por aí O melhor do que esta por vir, e que você não pode perder !

Muito mais que Foo Fighters !! Agora é a vez de o Brasil receber o consagrado e tão esperado festival de música, Lollapalooza. Comemorando mais de 20 anos de existencia, desde a idealização de Perry Farrell, vocalista da banda Jane’s Addictio, o festival trará dois dias de muita música na chácara do Jockey Club. Os shows acontecerão nos dias 7 e 8 de abril. Entre as atrações mais aguardadas estão o Foo Fighters, Arctic Monkeys, Joam Jett, Plebe Rude, O Rappa, entre outras. Para informações e compra de ingressos, acesse o site http://www.lollapaloozabr.com

Espelho, espelho meu... A Branca de Neve está de volta! Ma não se engane, não estamos falando do clássico desenho da Disney. Em 2012 está prevista a estréia de dois filmes baseados na história dos Irmãos Grimm. “Snow White and the Huntsman” trás Kristen Stewart (a Bela da Saga Crepúsculo) no papel da princesa que mora na floresta com os 7 anões. Já o outro filme, de mesmo tema, ainda não possui título definido e conta com a presença de Julia Roberts como a rainha má. A interpretação da doce Branca de Neve na telona fica a cargo de Lily Collins, que viveu a filha de Sandra Bullock em “Um Sonho Possível”. Esta versão de cenário e figurino exuberantes promete ser um relato fiel à história da princesa.

A Fera !! A Fera, com Vanessa Hudgens e Alex Pattyfer – Estréia dia 09/12/11. Kyle Kingson é um jovem que tem tudo, inteligência, beleza, riqueza e boas oportunidades, mas é vaidoso, egoísta e cruel. Após humilhar uma colega de classe, ele é amaldiçoado por ela para se tornar tudo o que ele despreza, mostrando em sua aparência quão feio é o seu caráter. Enfurecido com a sua nova aparência, ele vai atrás da garota e descobre que só terá a sua beleza de volta se fizer com que alguém consiga amá-lo como ele realmente é. Ao ver o que o filho se tornou, o pai do garoto o manda para o Brooklyn com uma empregada e um professor cego. No local, ele se envolve com um viciado em drogas e sua filha, que o ajudarão a descobrir o verdadeiro amor. CulturArt

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Articulando a crítica O polêmico crítico da Veja, fala sobre do Jornalismo

O jornalista, Jerônimo Teixeira, atual editor de Cultura da revista Veja, tem três livros publicados. Formado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Federal do Rio grande do Sul, é mestrado em Teoria Literária pela Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre. Jerônimo já entrevistou personalidades como o etólogo e o evolucionista Richard Dawkins, o escritor e jornalista Tom Wolfe, o poeta brasileiro Ademir Assunção e o filósofo Luiz Felipe Pondé. Teixeira que é bastante conhecido por questionar a relevância do Movimento de ‘Literatura Urgente’ iniciado em 2004, e cerrar sérias críticas negativas a vários autores e diretores consagrados (entre eles o diretor norteamericano Oliver Stone, e os escritores brasileiros Milton Hatoum, João Filho e Marcelino Freire), falou sobre as formas de texto opinativo, a importância da língua portuguesa na formação acadêmica, o infotenimento, e afirma não acreditar em censura. Qual o requisito básico para a elaboração de uma boa crítica cultural? Você tem que ter certa imersão na obra que esta sendo criticada. Se for um filme, você tem que tê-lo visto, se é um livro, você tem que ter lido, entre outros. Não só esse livro ou esse filme em particular, mas entender a rede de relações em que ele se insere. Isto se chama, em arte, de tradição. Você acredita que existe uma linha tênue entre o Jornalismo Cultural e a Literatura? O modernismo é muito rico nessa figura do escritor crítico. Você tem o T.S. Elliot, você tem o Ezrar Pound, você tem o Verlaine. Enfim, existe esse trânsito de um lado para o outro de criação, mas eu acho que o jornalista, aquele que trabalha como crítico, se ele 08

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Eu acho que não deve ser o nosso objetivo fazer literatura, escrevemos sobre literatura, mas o que nós fazemos é uma coisa diferente.

ficar tentando fazer literatura normalmente sai uma coisa kitsch, sai uma coisa diretrista, sai uma coisa brega. A pior ingenuidade que existe de um crítico – e isso acontece muito quando a gente sai da faculdade, eu mesmo tinha isso –, é que ás vezes você se encanta com o livro e você tenta fazer um texto tão bonito quanto. Eu acho que não deve ser o nosso objetivo fazer literatura, escrevemos sobre literatura, mas o que nós fazemos é uma coisa diferente. As universidades estão formando cada vez mais profissionais multifuncionais, como você vê esse novo mercado? Como você enxerga a formação em jornalismo? Eu acho de modo geral a formação em Jornalismo fraca, eu acho que a minha formação em Jornal-

ismo é fraca e eu fiz UFRGS, que não é de toda uma má faculdade. Eu percebo também, eu dou uma vez por ano umas quatro aulas de Jornalismo Cultural lá na FAAP, aula principalmente de resenha e de crítica literária, mas especificamente de resenha de ficção. E a avaliação final da turma é escrever a resenha de um livro, eu acho que quase sempre em torno de 10% da turma tem dificuldade. Não é só que eles não tenham bagagem de cultura, ou que não entendam de literatura, é que eles não sabem escrever e “ponto”. Não entendem subordinação, não sabem articular sujeito, verbo e predicado, eu não falei em crase. É uma coisa que já devia estar fixada desde o Ensino Médio, e no entanto, eles passaram. É uma pós-graduação, passaram quase todos eles por faculdades


de Jerônimo Teixeira sua carreira e os parâmetros cultural no Brasil de jornalismo, uns poucos ali vêm de Faculdade de Artes Cênicas da ECA, ou coisa assim, mas o grosso é gente formada em jornalismo. E não é diferente da UFRGS no meu tempo A faculdade tem que tirar o atraso de uma coisa que já deeria ter sido bem fixada no Ensino Médio e às vezes não faz isso. Essa é a maneira como eu vejo com a experiência na sala de aula, com alguns estagiários que passaram aqui pela redação e esse parece ser um problema, mais de fundamento do que de outra coisa. As matérias sobre cultura são desenvolvidas na revista para um público geral, como estas pautas são pensadas e elaboradas, em uma área que há tantas particularidades? Você tem que ter sempre em mente essa perspectiva de tornar as coisas atraentes pro leitor, e enriquecer um pouco também né? Revista e jornal não é escola, não pode jamais suprir o que faltou na formação acadêmica, não é a nossa função. Mas a gente tem que ter a consciência de que existe esse déficit muito grande educacional no país, a formação da gente é ruim. Então você tem que preencher algumas lacunas, mesmo que superficialmente, você tem que acrescentar isso ao seu leitor. Você como Editor de Cultura da revista de maior tiragem nacional, como você trata a incorporação entre Jornalismo e entretenimento, ou o infotenimento? A questão toda é você pensar o ângulo. Evidentemente você tem que ter a distinção das coisas, ninguém pode fazer jornalismo cultural achando que Big Brother é arte, não é. Essa distinção é importante, mas você não pode perder o pulso das coisas que tem importância sociológica ou mercadológica, mesmo que não sejam necessariamente artísticas. Você não pode ignorar os fenômenos. Crepúsculo por exemplo, existem maneiras de abordar Crepúsculo e levar o leitor um pouco adiante. Crepúsculo é um exemplo um pouco mais sofisticado do que Big Brother. Então às vezes você tem que não ter preconceito ou desprezo priorístico, dizer que é bobagem essa história de vampiro romântico, que toma sol. É uma bobagem, mas veja, é uma bobagem sobre a qual se pode falar algumas coisas. A gente fez uma capa de leitura e o pressuposto era esse: existem fenômenos de vendagem que podem ser um passo inicial pro leitor. E sobre as recomendações literárias e as resenhas publicadas na Veja, como são feitas as escolhas e como chegam os livros até redação?

Eventualmente a gente tem alguns livros que saem lá fora, especialmente não-ficção, como de ciência, que a gente tenta antecipar antes de sair no Brasil, porque são coisas que interessam mais pelo tema do que pelo livro em si. Mas isso é mais raro. De resto, as coisas vêm pelas editoras. Era o que eu tava falando da assessoria de imprensa, que eles tão aqui pra te ajudar e não pra te pautar. Ai você vai para a prova, como o livro é uma coisa que demanda tempo, você tem que ter as coisas antecipadamente, então, antes do livro estar pronto você recebe uma prova de leitura. E aí assim, de uma pilha de 70, e ás vezes 100 livros por semana, você tem que escolher dois ou três que vão ser resenhados, e mais dois ou um que vai aparecer no Veja recomenda. Esse trabalho de seleção é até doloroso, porque às vezes você deixa passar: esse livro é muito legal, mas não tenho alternativa. Seja por tempo ou espaço. Por não ter alternativa você deixa passar, fica para a próxima. Quando sair o próximo livro do autor eu vou tratar dele. Você já sofreu algum tipo de censura? Eu jamais usaria o termo censura, acredito em decisões editoriais. Cada veículo tem sua linha editorial, eu jamais vou usar uma biografia do Chávez que seja favorável á ele. O importante é você achar o seu lugar, o que é difícil quando você está saindo da faculdade, às vezes você pega o que tem. Eu particularmente achei meu lugar. Eu sei que as pessoas tem ódio visceral da Veja, porque a Veja é racionaria, a Veja é conservadora, Veja é direita, mas é uma história engraçada, porque é mais fácil você colocar esses rótulos e desqualificar tudo que está na revista, do que responder ao que a revista está dizendo. Eu achei meu lugar, eu gosto da Veja. Às vezes tem um livro que pode até ser interessante, mas é meio chato, só alguém te pediu pra fazer, mas isso acontece se trabalho fosse 100% bom, você não seria pago pra isso. Você acha que há uma gênese negativa em aceitar objeções no contexto nacional? É isso, critica realmente é um corpo estranho para o Brasil. As pessoas não estão preparados, elas publicam teatro, cinema, e acham que apenas esse esforço, de terem feito um livro, um filme, uma peça, elas são heróicas, elas são paladinos da cena. nacional. CulturArt

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POP

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Do pop ao bizarro Confira a performance de Ke$ha em Show na Via Funchal Óculos luminosos e extravagantes, pouca roupa, estilo malicioso e futurístico. Assim subiu ao palco a cantora Ke$ha para seu primeiro show no Brasil, realizado em São Paulo, no dia 28 de outubro. Por: Gabrielle Mehringuer A polêmica performance da norte-americana deixou os fãs alucinados e surpresos. A turnê “Get Sleazy Tour” teve direito a guitarra quebrada, chutes e encenações que beiravam a bizarrice. Kesha não parou em nenhum momento, a cada música a loira de 24 anos interagia com alguém da platéia, fazia coreografias inusitadas, seguida por seus assistentes que adotaram o mesmo comportamento no palco. Todos com perucas chamativas e muita criatividade. Durante o show, Kesha cantou músicas que CulturArt

não faziam parte dos sucessos tocados nas rádios, contudo, manteve o público entusiasmado enquanto aguardavam pelas canções mais famosas. Apesar de não ser hit, a música que mais agitou o público foi “Canibal”, que contou com uma coreografia nada ortodoxa. A cantora amarrou os dançarinos, fingindo arrancar pedaços de carne de seus corpos, simulou arrancar o coração de um deles e finalizou tomando um gole do sangue do rapaz. Apesar de agressiva, o público delirou com a cena, principalmente os que estavam próximos ao palco. Mesmo com pouco tempo de estrada, a cantora superou as expectativas, animando a platéia do início ao fim da apresentação, de 1h15. O show terminou com a californiana impregnada de suor, papel picado, e sangue falso espalhado pelo corpo.


A nova MPB Conheça as mulheres que estão ganhando destaque no cenário da Nova MPB Roberta Sá

Roberta nasceu em Natal, mas foi morar no Rio de Janeiro ainda criança. Iniciou a carreira gravando algumas demos a procura de uma gravadora interessada em seu trabalho. “Braseiro”, foi seu primeiro CD, lançado em 2004. O sucesso e reconhecimento veio em seu segundo disco: “Que belo e estranho dia pra se ter alegria”, de 2007. Pelo trabalho ganhou dois prêmio da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte): melhor cantora e melhor álbum. Suas músicas misturam maxixe, maracatu, ciranda, afoxé, samba-choro e samba-de-roda.

Fabiana Cozza

Fabiana Cozza tem o samba na veia. Seu pai, Oswaldo, foi puxador da Escola de Samba Camisa Verde e Branco. Paulistana da gema, Fabiana tem três discos gravados: “O Samba É Meu Dom”, “Quando O Céu Clarear” e o recém lançado “Fabiana Cozza”. Nos 15 anos de carreira, já homenageou os grandes nomes do samba paulista e carioca, Fabiana não esquece as raízes negras e sempre que pode une as tradições africanas com o samba de roda. Todos os seus CDs são independentes.

Mariana Aydar

A paulistana Mariana Aydar tem inspiração de berço. Filha de Mario Manga – integrante do grupo Premeditando o Breque –, e da produtora musical Bia Aydar, tem como padrinho musical ninguém menos do que Seu Jorge, para quem abriu diversos shows na Europa. A cantora tem público cativo, acostumado com as fusões dos diversos gêneros da MPB. Seu terceiro e último disco “Cavaleiro Selvagem Aqui Te Sigo” tem um som puxado para o forró e conta com a participação especial de Dominguinhos.

Aline Calixto

A mais nova cantora a ganhar espaço na MPB. Antes de lançar seu primeiro CD “Aline Calixto” pela Warner, Aline já fazia sucesso na Lapa. Esta carioca criada em Minas, tem o samba como grande paixão. Em 2008, ganhou o prêmio “Novos Bambas do Velho Samba”, promovido pela tradicional casa “Carioca da Gema”. A cantora sempre se apresenta em rodas de samba com grandes nomes como, Martinho da Vila e Nelson Sargento.

Céu

Lançou seu primeiro CD lançado em 2005. Foi a partir deste trabalho que a cantora paulistana foi conquistando o grande público e um ilustre fã: Caetano Veloso. Em suas músicas, mistura samba, jazz e até hip-hop. Dona de uma voz doce e músicas calmas, seu segundo Cd “Vagarosa”, foi sucesso de crítica e de público. CulturArt

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15 Anos Sem... Em 11 de outubro de 1996, eu era apenas uma criança de 6 anos e nem podia imaginar que naquela data morria um dos meus maiores ídolos – fato até então desconhecido por mim –, e que posteriormente, ele seria responsável por uma saudade imensa de tudo aquilo que não vivi.Vítima de complicações causadas pela a AIDS, Renato Russo deixava órfão milhões de fãs que encontraram em suas letras terapia e conforto. Por: Larisse Alves

Renato Russo


Neste contexto, encaixa-se perfeitamente a frase clichê: parece que foi ontem. Sim, parece. Mas há uma década e meia, deixava o cenário do rock brasileiro, o poeta que influenciou e arrebanhou a juventude brasileira. Passados 15 anos, suas músicas continuam tão atuais quanto na década de 80: nossa política continua vergonhosa, como esbravejada em Que País É Este. E acima de tudo, o ser humano continua tentando entender as relações humanas, sofrendo por amor e contribuindo, ou lutando contra as contradições da sociedade. Renato Manfredini Jr teve uma infância complicada, sofria de uma doença grave nos ossos, que o deixou hospitalizado em casa durante anos, adolescente rebelde, formou sua primeira banda de punk rock Aborto Elétrico – banda que posteriormente originaria o Capital Inicial e a Legião Urbana –, teve problemas com alcoolismo e drogas, aos 18 anos assumiu para a mãe a homossexualidade ao anunciar o término do namoro com a namorada de época. A história e trajetória de Renato já é conhecida pela maioria. Sua personalidade marcante, depressiva reforçada pelo humor instável, atraíram a adoração do

púbico pelo ídolo e engrandecia a obra realizada por ele, com paixão e intensidade. Os shows raivosos e inconformados provocam no público uma inquietação política e pessoal. Aliás, mantinha com os fãs uma relação de amor e ódio. Intitulado por muitos de Religião Urbana, título este que incomodava Renato, de fato a banda se tornou a principal religião de fãs fervorosos: “Um belo dia, o público vai descobrir que o seu ídolo tem pés de barro, e é uma coisa muito dolorosa porque messias não existem” (Renato Russo). Apesar da presença de palco explosiva, segundo amigos próximos do cantor, ele era tímido e reservada, não era adepto a programas de TV ou publicidade. Para ele, a música era o meio e o fim. A extinta Legião Urbana, até hoje, é uma das bandas de Rock Nacional que mais vende discos. Ícone da música brasileira, Renato Russo foi do inferno ao céu, e todas estas etapas da vida conturbada estão fotografadas em suas letras e músicas, permeados por emoção e filosofia. Engana-se quem acredita que os fãs da Legião são compostos por cinqüentões que viveram a década de ouro do rock anos 80, a

nova geração, como a minha, descobriu o poeta, que continua com a arte mais viva do que nunca. No repertório das rodinhas de violão, ainda estão presentes canções como Pais e Filhos e Eduardo e Mônica. Renato era capaz de falar de amor, sexo, desigualdade social, preconceito ou política, com a naturalidade que qualquer jovem da época, pós-ditadura, gostaria de possuir para tratar de tais assuntos na mesa de jantar, com pais e familiares. A história do eterno adolescente, problemático, e do rock Brasília, foi contada neste ano pelo documentário Rock Brasília – A década de Ouro. Com a participação de Dinho Ouro Preto, Dado Villa Lobos e outros artistas que viveram a época. Uma linda e merecida homenagem, produzida pelo cineasta Vladimir Carvalho e Marcus Ligocki Jr. Arrisco fechar esta matéria, afirmando que Renato foi o último do rock brasileiro, fora as bandas da época que estão na ativa até hoje, atualmente não há produções consideráveis que possam ser ao menos comparadas a genialidade de sua obra.Como ele mesmo afirmou em Love In The Afthernoon: “É tão estranho, os bons morrem jovens”. CulturArt

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O Rei do Delta Blues “Como um copo de água com são apenas placebos A história da música nos contempla com ícones exóticos, porém, de folclores monotemáticos. Muito se especula que assim como Niccolò Paganini vendeu a alma pela habilidade ao violino no século XIX; Robert Johnson, o rei do Delta Blues, teria na encruzilhada, vendido a sua alma em troca de fama como bluesman. Por Jessica Fiuza “O ser humano, quando se depara com algo desconexo do comum tende a procurar explicações sobrenaturais para aquilo que não conseguiria entender pela razão. Como um copo de água com açúcar, rezar ou vender a alma são apenas placebos psicológicos.” Essa afirmação é feita com humor por Pietro Gonçalves – músico–, que tira a gaita do bolso e a fica girando pela mesa, e completa “Se fôssemos dar tanto crédito ao folclore das encruzilhadas tendo artistas geniais como Bob Dylan,

Bob Seger, Jeff Beck, Steve Vai e tantos outros, com certeza a situação econômica do inferno seria melhor do que a Européia.” Essa é a reação do professor de guitarra e gaita diatônica ao ser questionado sobre a lenda da encruzilhada de Robert Johnson. Mas o tema é recorrente, e faz parte da tradição do blues, para alguns o sobrenatural é o elemento chave que representa Robert Johnson. Fazendo com que letras como “Crossroad Blues” sejam injustificáveis a olhos céticos. O maior nome do delta blues é o centro das atenções das rodas de misticismo musical, mas encontrar artigos em terras tupiniquins sobre o bluesman e suas gravações ainda se mostra um desafio mesmo em pleno século 21. Apesar de se encontrar com facilidade em galerias posters e palhetas, e tantas outras parafernalhas que tenham a assinatura ou imagem de Robert, seus riffs continuam abafados dentro dos debates musicais. A famosa técnica de 12 compassos, equilibrar a pressão da palheta nos mais variados grooves em conjunto, e a expressividade das lettras, não entram mais em pauta. Lembro de com cinco ou seis anos ouvir o LP no tocador da sala enquanto meu pai jogava carteado ou bebia um conhaque, as ocasiões iam desde uma conversa com os amigos até a uma fossa musical onde ele parecia conversar consigo mesmo. Mas só muitos anos depois eu me peguei perguntando quem era Robert Johnson.

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e a Encruzilhada açucar, rezar ou vender a alma psicológicos”. Robert Leroy Johnson nasceu em uma família de lavradores no berço do blues norte-americano, no estado do Mississipi, trabalhou no campo até os 16 anos, quando resolveu trocar a vida monótona de cultivador para virar bluesman, tocando gaita e violão. Aos 20 anos descobriu que com o gargalo de uma garrafa quebrada poderia fazer sua guitarra “chorar” de forma intensa, ele tocava o tempo inteiro, desde prostibulos até no meio das ruas. Aos 25 anos já viajava o quanto podia pelas estradas norte-americanas, despontando uma carreira relâmpago que duraria apenas dois anos. Neste meio tempo Robert gravou 29 músicas com o melhor do slide do blues de raiz, pentatonica menor e letras que aprofundavam em suas angústias e boêmias. O Titã do Blues morreu aos 27 anos de causa desconhecida em uma data imprecisa do mês de agosto de 1938. Há várias versões populares para a causa da sua morte, que variam desde envenenamento, sífilis, pneumonia, e o próprio pacto demoníaco.

A encruzilhada

Eddie James House, ou Son House, foi um guitarrista de blues, e um dos principais responsáveis a difundir a lenda sobre o pacto demoníaco de Robert Johnson. Reza a lenda que Robert teria ido até encruzilhada das rodovias 61 e 49 em

Clarksdale, Mississipi, e lá encontrado o demônio que pegou a guitarra do bluesman em suas mãos, afinando-a de um modo infernal em troca da alma de Robert. Após o pacto, o músico tornou-se capaz de tocar blues com uma maestria inigualável. Músicas como “Me and the Devil Blues” e “If I Had Possession Over Judgment Day” reafirmam esta crença popular. Segundo se especula, foi Tommy Johnson, outro grande bluesman, quem ensinou Robert como e onde fazer o pacto. Mesmo com a forte religiosidade imposta pela época, quando se perambulava sozinho pelas estradas e as noites em inferninhos, a fama de ter o Diabo como padrinho era um marketing pessoal inteligente já que lhe conferia proteção. Certa vez, após a morte de Johnson, sua ex-namorada, Willie Mae Powell, suposta musa inspiradora da canção “Love in Vain”, afirmou em um documentário que Johnson teria confessado a ela, ter realmente vendido sua alma. Outro fato curioso, é que dias antes de morrer, ele teria sido encontrado andando de quatro e uivando como um cachorro no corredor do quarto de hotel em que estava hospedado.

No Rock ! Além de influenciar grandes nomes do blues, como Muddy Waters e Elmore James, as músicas de Robert Johnson foram regravadas por divérsos artistas renomados, como Elvis Presley, Led Zeppelin, Red Hot Chilly Peppers, Eric Clapton e os Rolling Stones.

Hollywood !

Com a direção de Walter Hill, lançado em 1986, Crossroads se tornou um clássico e marcou a juventude de quem assistiu á Ralph Macchio (Karate Kid) interpretar um jovem aspirante a Bluesman em uma saga pelo Mississipi atrás da perdida 30 A. canção de Robert Johnson. O filme conta com a participação do cantor e guitarrista Joe Seneca e do célebre guitarrista Steve Vai. Com o título de Crossroads Blues, o oitavo episódio da 2ª temporada da Série Supernatural, também faz menção ás encruzilhadas de Johnson e traz como trilha sonora os principais sucessos do músico.

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Retrospectiva Parceria entre a Cinemateca traz uma retrospectiva sobre um dos De 4 a 20 de outubro, a Cinemateca Brasileira – Vila Mariana – em parceria com a Embaixada da Dinamarca no Brasil e com o Danish Film Institute, e com o apoio do LAICA – Laboratório de Investigação e Crítica Audiovisual do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA-USP –, apresentou a Retrospectiva Lars Von Trier, uma revisão da trajetória de um dos mais dos mais controversos e inovadores cineastas em atividade. Por: Larisse Alves A programação incluiu grande parte dos filmes dirigidos pelo cineasta, alguns deles nunca ou muito raramente exibidos no Brasil. De suas realizações mais importantes, estão ausentes da retrospectiva apenas o seu célebre curta-metragem Nocturne (1981), seu filme de graduação, Befrielsesbilleder (Images of relief), e Medea, sua versão da famosa tragédia de Eurípides, realizada por encomenda para a televisão dinamarquesa. A mostra foi uma oportunidade imperdível para que o público pudesse ver ou rever, em cópias de 35mm, todos os seus filmes já lançados no Brasil, além da totalidade da Trilogia Europa e a íntegra das duas temporadas da minissérie O Reino. A seleção de filmes incluiu ainda o curta-metragem dirigido por Trier para o projeto coletivo Cada um com seu cinema, realizado em comemoração aos sessenta anos do Festival de Cannes, outro curta-metragem fruto de um ambicioso projeto não concluído do diretor, que tomaria 33 anos para ser finalizado (Dimension 1991-1997), e três documentários: Tranceformer, um perfil biográfico do cineasta, The Humiliated, espécie de making of de Os Idiotas e The Purified, centrado nos cineastas do movimento Dogma 95. Na abertura do evento, após a exibição do filme Os Idiotas, a Cinemateca recebeu o professor da Universidade de Copenhagen Peter Schepelern – especialista no movimento Dogma 95 e em Lars von Trier, responsável por inúmeras palestras, artigos, livros e comentários em DVD –, para uma palestra sobre a obra do cineasta. No segundo dia, Schepelern apresentou outra palestra, centrada nos anos de formação de Lars von Trier, na qual o teórico promete analisar o início de carreira do diretor dinamarquês e apresentar trechos de seus primeiros curtas-metragens e filmes universitários. Lars Von Trier é, sem dúvida, o artista dinamarquês que conquistou maior repercussão internacional com sua obra nas últimas décadas e um dos nomes fundamentais do cinema contemporâneo. Ao longo de trinta anos de carreira, ele vem explorando as possibilidades expressivas e narrativas do cinema com uma série de obras absolutamente únicas e desafiantes. Nascido em 1956 é criado por pais que eram comunistas e nudistas radicais, descobriu cedo sua paixão pelo cinema. Aos 11 anos, ganhou de presente uma câmera Super-8 e com ela passou a adolescência a fazer filmes. Formou-se em 1983 na Escola de Cinema de Copenhagen e, após inúmeros curtas e médias-metragens premiados em festivais de cinema europeus, conseguiu finalmente realizar a sua estreia no cinema profissional em 1984, com o longa-metragem Elemento de um crime, um thriller policial neo-noir, altamente estilizado, filmado num expressivo sépia e situado num futuro indefinido. Bem recebido pela crítica e vencedor do Grande Prêmio Técnico no Festival de Cannes, o filme inaugurou uma trilogia de 16

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Lars Von Trier e Embaixada da Dinamarca, diretores mais polêmicos de Canes Lars Von Trier sobre a Europa, que se completaria nos anos seguintes com Epidemia e Europa. A consagração definitiva, contudo, viria no início da década de 1990, com a minissérie televisiva O Reino, de enorme sucesso, o melodrama Ondas do destino, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, e, principalmente, Os Idiotas, segundo filme realizado sob os princípios do Dogma 95, manifesto de cineastas escandinavos do qual Trier foi um dos artífices e signatários, que propunha a criação de um cinema despido de artifícios como tripé, iluminação artificial e trilha sonora incidental. A partir dali, todos os filmes realizados pelo cineasta capturaram imediatamente as atenções do público e da mídia: do aclamado e inovador Dançando no escuro ao perturbador Anticristo, passando por dois filmes realizados com atores norte-americanos sem cenografia, Dogville e Manderlay, pela corrosiva comédia O Grande chefe e por seu último trabalho, a ficção-científica apocalíptica Melancolia, cujo lançamento no Festival de Cannes foi marcado pela polêmica envolvendo declarações infelizes do cineasta à imprensa, nas quais ele se declarava compreensivo em relação a Hitler e ao nazismo – e que resultaram em seu banimento perpétuo do Festival. Polêmicas a parte, não restam dúvidas de que a obra de Lars Von Trier se configura como uma das mais instigantes e originais da cinematografia contemporânea. Seu inegável talento e sua habilidade na direção de atores conduziram nada menos do que três das atrizes que dirigiu ao prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes. Seus filmes são dotados de um estilo único e suas estratégias criativas desafiam formas pré-estabelecidas, clichês e parâmetros consolidados de narrativa e de encenação. São, acima de tudo, trabalhos autorais, como há muito não se via e frente aos quais é impossível permanecer indiferente. Sua obra é marcada por uma reflexão profunda e provocativa a respeito da derrocada da moral e do idealismo num mundo demoníaco em que o único denominador comum entre as pessoas é o sofrimento.

Cena do filme Dogville lançado em 2003 com Nicole Kidman e Paul Bettany

O Anticristo de 2009 com Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe

Melancolia é a última obra produzida pelo diretor . Lançado em 2011 traz no elenco Kirsten Dunst e Alexander Skarsgård

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A hora do Filmes de Por que gostamos Entre possessões, vampiros, serial killers, rituais e de vez em quando, para em frente á tela com as jugulares tomar um susto. Se a busca por hereges na idade média fez muita mulher solteira perder o sono com medo da fogueira, hoje as bruxas continuam no imaginário popular, mas ganharam uma aparência mais sofisticada, estampando os letreiros da sétima arte ao lado de lobisomens estrangeiros em Londres, zumbis “mortos” de fome, vampiros rock star, entre tantas outras criaturas estranhas frutos da mente humana, que movimentam anualmente milhões exorbitantes para o mercado cinematográfico. Por: Jessica Fiuza

Recordes de bilheteria, filmes como Psicose, Sexta-Feira 13, Drácula, O Massacre da Serra Elétrica, e um dos últimos lançamentos desse gênero, Atividade Paranormal, são apenas alguns dos títulos que revelam um estranho fascínio da mente humana pelo terror.

1 - Nosferatu de Friedrich Murnau, 1922, é um filme que serve de inspiração para todos os dráculas, isso devido á forte expressividade da interpretação de Max Schreck;

2 - Abracadabra, de Kenny Ortega, 1993. Com Bette Midler e Sarah Jessica Parker é um clássico do terror infantil e o único filme da lista inocente o suficiente para se assistir com crianças na sala; 18

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Espanto Terror de sentir medo ? perseguições noturnas, uma coisa é fato, a maioria de nós desprotegidas para contemplar o prazer macabro de Mas por quê? Mas o medo é tema recorrente á indagação humana muito antes de ganhar destaque nas telonas. Em 1600, para Hobbes o medo aparece como um operador positivo, propulsor da criatividade. Já em 1920, Freud – o pai da psicanálise – em seu artigo “pulsões e seus destinos”, afirma que precisamos destas narrativas aterrorizantes (como os pesadelos) para construir o nosso psiquismo de forma mais consistente, externando o objeto de terror para fora da mente, evitando assim, que se tornem obstáculos imaginários, geradores de fobias.

Ainda recorrendo a tempos mais remotos, entendemos que pela teoria da evolução o medo e a ansiedade serviriam de auxílio para que nos primórdios o homem evitasse possíveis ameaças em seu cotidiano. Mas será que esse mecanismo ainda serve para o homem do século XXI? Na verdade sim e não. O mecanismo de alerta ainda está presente em nossa mente, ele é necessário para a preservação da raça humana e continuará existindo, porém, sempre adaptado ao

3 - Contos da Cripta, a série de sucesso da década de 90 era apresentada uma caveira chamada de “O Guardião da Cripta.” A série era uma mistura de “Além da Imaginação” e o cinema de horror moderno

4 - Sexta-feira 13. A série da década de 80 que traz Jason Voorhees, o psicopata que adora matar adolescentes, já virou clássico Cult e é pedida certa praquela sexta chuvosa com pipoca ou pizza entre amigos.

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que nos apresenta uma ameaça real. Não identificamos garotinhas mortas em corredores chineses como possíveis ameaças, porque sabemos que aquilo não é real. Afirma o Psicólogo Thiago Branco. Até mesmo filmes com psicopatas estão de certa forma distanciados de nossa realidade, sabemos que existem pessoas com estes transtornos, mas a possibilidade de nos depararmos com um serial killer segurando uma serra elétrica em plena Avenida Paulista é remota e até mesmo absurda. Este distanciamento é o discernimento entre real e ficção e é o que nos permite permanecer sentados em frente á tela sem entrarmos em colapso nervoso quando assistimos á Fred Kruger e companhia.

tos porque todos os medos contém a apreensão fundamental do temor da finitude da existência humana”.

Mas qual a graça de sentir medo? Essa explicação é completamente fisiológica, assim que nossa mente identifica uma ameaça o sistema nervoso é imediatamente ativado e libera substâncias chamadas adrenérgicas, como a Adrenalina, a Noradrenalina e a Dopamina que são lançadas rapidamente na corrente sanguínea. Porém, logo que o cérebro identifica a situação como fictícia, neurotransmissores como os Opióides, liberam Endorfina para relaxar o organismo. As altas de Adrenalina e Dopamina associadas á liberação da Endorfina gera uma sensação de euforia e prazer. E é essa sensação que nos mantém por horas na fila para assistir a estréia de mais uma trilogia sangrenta de filmes como Jogos Mortais.

Cenas de sexo são vendáveis e atraem o público, mas na verdade representam muito mais que isso. Encabeçar cenas picantes no roteiro vão desde a personificação dos nossos anseios e fetiches não concretizados até razões mais profundas e filosóficas.

A sensação é a mesma vivenciada por quem pratica esportes radicais como surf e Bungee jumping, ou até mesmo quando vamos a parque de diversões e entramos em uma montanha russa. Cadáveres O Terror trabalha com os medos primordiais da humanidade, com o instintivo. E nada mais lógico do que encadear nas películas o grande enigma que circunda a mente humana entre dogmas e um grande ponto de interrogação, a morte. Como já dizia Lucrécio: “o medo da morte nos perturba desde os fundamen-

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Retratar a morte de forma crua e com doses de suspense como já defendia Hitchcock é a uma boa receita para lotar uma sala de cinema e deixar alguns fios de cabelo branco no espectador. Sexo ! Se as bruxas ganharam uma repaginada no visual, e trocaram os narizes pontiagudos pelos decotes também pontiagudos, os vampiros também se personificaram em majestosas criaturas atraentes a lá Tom Cruise, e todo filme de serial killer com adolescentes tem que ter... sexo!

Para Bataille, a morte é o grande tabu da humanidade, mas claro, ao lado do sexo. Para o escritor do exagero, tanto o sexo quanto a morte estão intimamente ligados, uma vez que ambos representam o fim da individualidade do ser humano. Crime e Castigo Apesar da ficção servir como espaço nu para nossas cobiças, uma moral puritana ainda costura um enredo bastante “conservador”, afinal não é a toa que na maioria dos filmes de terror, o assassino faz questão de perseguir implacavelmente e executar usuários de drogas (incluindo bebidas alcoólicas), as pessoas que tem relações sexuais, ou a aqueles que desobedecem a alguma ordem seja dos pais ou do patrão.

Faces da Morte Para os desavisados de plantão que gostam de sair às escuras, personalidades nada ilustres já estamparam verdadeiros enredos de terror na vida real, algumas delas até já inspiraram filmes. A condessa da Eslováquia, Elizabeth Báthory (1560-1614) tinha o costume de banhar-se com o sangue de jovens virgens para manter sua juventude. Estima-se que ela tenha feito mais de 600 vitimas. Ted Bundy (1946 –1989), norteamericano charmoso, comunicativo, estudante de psicologia, mentiroso e irresistivelmente mortal. Ele nunca confirmou o número exato de vítimas, mas estima-se que sejam mais de 35. Bundy além de estuprá-las, arrancar-lhe os mamilos. Após matá-las, ainda guardava suas cabeças como troféus em casa. Ed Gein (1906 — 1984), figura um tanto perturbada, tinha uma mãe que o explorava, proibia o contato com mulheres e ainda era lésbica. Depois que ela morreu, Ed empanou sua mãe e a guardou no quarto, e de vez em quando, ele se masturbava em cima dela. Logo depois, ele começou a matar mulheres que considerava parecidas fisicamente com sua mãe. Por fim, tirava a pele das vítimas para fazer sua roupa. Isso lembra o enredo de algum filme? Entre o hall de psicopatas ainda podemos citar Casanova, Lord Byron, o brasileiro Pedrinho Matador, e claro não poderíamos esquecer de mencionar Vlad III, O Empalador, também conhecido pela maioria como Conde Drácula. A vida real, direto para as telonas, histórias macabras recheiam o imaginário humano... E aí vai uma pipoca?



Em Cartaz Confira os filmes em cartaz, e escolha a melhor programação !!

A pele que habito

Com a direção de Almodóvar, e baseado no livro de Mygale, de Thierry Jonquet, o longa conta a história de Richard Ledgard (Antonio Bandeiras, um cirurgião plástico que, após a morte da esposa em um acidente de carro, resolve criar uma “nova pele” que a poderia tê-la salvo. Através de transgênese com seres humanos, ele consegue realizar sua obra prima, porém será que os fins justificam os meios?

Duração: 120 min. Classificação: 16 anos

Inquietos

Com Mia Wasikowska e Henry Hopper. Cotton é uma paciente com câncer terminal que é apaixonada pela vida. Enoch Brae é um jovem que desistiu dos negócios da vida depois de um acidente que matou seus pais. Quando esses dois “desajustados” se encontram em um funeral, eles acham algo em comum em suas experiências de vida. Para Enoch, isso inclui seu melhor amigo, Hiroshi que é o fantasma de um piloto Kamikaze.

Duração: 91 min. Classificação: 12 Anos

Operação Presente 3D !!

Rodado na noite de Natal , a história apresenta a solução para a pergunta feita por toda criança, como é que Papai Noel entrega todos os presentes em uma unica noite? Para descobrir basta assistir á esta animação da Columbia Tristar, cheia de aventuras, um papai noel utltra-high-tech e seu trenó invisível, e um super herói atrapalhado. O filme apresenta uma história recheada com os ingredientes de um Natal clássico, e a tecnologia 3D deixa o cenário ainda mais encantador. Vale a pena conferir.

Duração: 97 min. Classificação: Livre

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O Auto da Compadecida Não sei, Só sei que fo assim .... Com narrativa e roteiro audiovisual trabalhados de forma diferentes ao do Sertão do Cinema Novo, feito por Glauber Rocha na década de 60, O filmeíAuto da Compadecida apresenta uma estética mais hibrida e menos crua. Apesar disso, o longa não descaracteriza a enfática social que tem como tema a realidade brasileira do sertão nordestino, retratando a década de 30. Por: Débora Dias; Jessica Fiuza e Larisse Alves Com direção e roteiro de Guel Arraes e João Falcão, o filme é baseado na obra de Ariano Suassuna. O enredo é marcado pelo bom humor em jogos de palavras, pelo retrato da religiosidade e presença de forte critica social. Os jogos de palavras, utilizados de maneira bem humorada, é um fator marcante em todos os filmes de João Falcão, como em “O Coronel e o Lobisomem” (2005) e “Fica comigo esta noite” (2006). A referência vem da literatura de Cordel, influência do passado sertanejo do diretor. O enredo se dá no vilarejo de Taperoá, sertão da Paraíba, em uma realidade contemporânea, fortemente marcada por uma carência identidária e pelo conflito de diferentes grupos sociais. Grupos estes, regidos e subordinados aos representantes (padre e bispo) da igreja Católica. É possível observar também, que a religiosidade por muitas vezes é tomada tanto para aliviar as dores da pobreza, quanto para serenar as conseqüências de ações individualistas e moralmente desaprováveis, por mero temor ao inferno e aos castigos anunciados pela moral cristã. Matheus Nachtergale no papel de João Grilo e Selton Mello no papel de Chicó encabeçam a trama e mostram o sujeito nordestino – não apenas como refém de sua situação econômica precária e politicamente dependente dos grandes coronéis e dos grupos de cangaceiros –, mas também, como um sujeito engenhoso e inventivo, que utiliza do típico “jeitinho brasileiro” para enfrentar o cotidiano (e neste caso, também o pós-vida). Deste modo uma das crenças

O Auto da Compadecida de Guel Arraes, levou aos cinemas nacionais mais de 2 milhões de espectadores.

fundamentais subjacente no decorrer do longa, é que o jeitinho brasileiro se fomenta em parâmetros como fé, carência, mentira, ambição e até mesmo na necessidade de sobrevivência. O que transfigura a imagem do sujeito muitas vezes como antiherói, politicamente incorreto, mas engraçado. A figura do anti-herói é recorrente na literatura nacional tanto no romantismo, em obras como Memórias de um Sargento de Milícias de Manuel Antônio de Almeida, e no Modernismo, como em Macunaíma, “herói de nossa gente”, de Mário de Andrade. As relações sociais retratadas no filme trazem ainda discussões que vão desde a desigualdade social, o preconceito racial e a corrupção, até a ambição, o machismo, o adultério, a solidão e a morte.

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Apocalypto Entre os ritos, corpos, ganância e os Maias de Mel Gibson “Eu vi um vazio no Homem, profundo como uma fome que nunca saciará. É ele que o torna triste e que o faz querer mais. Ele vai continuar a querer mais e mais até ao dia em que o mundo dirá ‘Já deixei de existir e nada mais tenho para te dar.” Por: Jessica Fiuza Assim como os olmecas e os Incas, a civilização Maia até hoje gera suposições a respeito de seu colapso. Pesquisadores, como Gerald Haug, do Instituto Federal Suíço de Tecnologia, discutem a exploração dos recursos naturais como a principal causa de prostração deste império. Mel Gibson aposta nesse acervo cultural e explora com realismo a violência palpável dos ritos de sacrifício. O orçamento para a produção de Apocalypto foi de US$ 40 milhões

Lançado em 2006 Apolalypto é um filme atípico e de uma adrenalina “áspera”, justamente por isso, leva a assinatura de Mel Gibson na direção. O longa não se destaca somente pela qualidade técnica ou produção estética, mas também pelo valor histórico-social quanto à degradação ambiental em grande escala. A frase do historiador Will Durant que abre o filme: “Uma grande civilização não pode ser conquistada por fora, antes de se destruir por dentro”. A citação nos serve para ilustrar, logo de início, a decadência do império maia, que mesmo antes de ser conquistada pelos espanhóis, já estava em ruína. A narrativa começa pela história simplista da rotina de uma 24

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tribo do povo silvestre do México rudimentar, que sobrevive principalmente da caça. Nos identificamos facilmente com as origens de nossos antepassados tupiniquins, criando simpatia com os indenes e o protagonista, Jaguar Paw (Rudy Youngblood). Porém, no decorrer do filme a tribo é invadida por guerreiros Maias; têm suas mulheres estupradas, seus anciões degolados e seus guerreiros levados como escravos. Sem ser politicamente correto, o filme se preocupa mais com o impacto do animalesco humano do que com a intenção de agradar aos costumes étnicos e a crítica. Os guerreiros levados como prisioneiros chegam ao Império Maia e se deparam com diversas doenças e um ecossistema extremamente debilitado. As secas e demais mudanças climáticas são

conseqüências do desmatamento que ocorria para a construção de templos e edifícios cada vez maiores. Sem as árvores a umidade do ar diminuía, as chuvas eram escassas e a lama escoava para o pântano, fazendo com que a qualidade das colheitas fossem cada vez piores. Apesar do cenário, os sacerdotes e os reis continuavam a tributar sua população. Havia também, o sacrifício humano de dos prisioneiros, utilizados como oferendas para agradar aos deuses e obter melhorias do habitat, servindo também como entretenimento para a sociedade. Em última análise, o estranhamento da barbárie e da violência utilizadas por Gibson ocorrem por uma visão etnocêntrica e politicamente correta. Em suma, muito nos assemelhamos àquele povo estranho e selvagem que degrada o próprio habitat natural.


Parques Paulistanos Quando o verde ganha espaço em meio ao cinza da cidade Se o paulistano é naturalmente conhecido pelo ritmo acelerado e a rotina conturbada, a cidade de São Paulo tornou-se, para muitos, sinônimo de trânsito, buzinas e caos. Por: Larisse Alves O título de cidade que nunca para, capital caótica, entre outros estereótipos, ajudam a nos convencer de que para encontrar tranqüilidade é preciso descer a serra em dias de feriado, ou até mesmo abrigar-nos em cidades do interior em busca de refúgio e sossego. Apesar de não podermos ignorar que, de fato, vivemos em uma cidade agitada e populosa, vale à pena desfrutar da sensação de paz e liberdade proporcionada pelos diversos parques existentes aqui mesmo. Viveiro Manequinho Lopes, Ibirapuera. Por: Jessica Fiuza

Entre reservas ambientais, parques estaduais e municipais, somam-se 63 áreas espalhadas por toda a cidade, nas mais diversas regiões. O Parque da Luz, por exemplo, localizado ao lado da Estação da Luz – embora possua uma área pequena se comparada aos demais parques –, é o mais antigo da cidade. Recentemente reformado, carrega consigo uma áurea histórica por ter servido durante grande período, a partir de 1901, como ponto de encontro da alta sociedade, sendo palco de festas, peças teatrais, balés e eventos públicos, segundo nos conta a historiadora Fernada Karolina Galvão. Já o Parque do Ibirapuera, localizado na Zona Sul, é um dos mais conhecidos, freqüentados e modernos parques urbanos da cidade. Oferece playgrounds, quadras, ciclovia, pista de Cooper, bosque de leituras, viveiro, escola de jardinagem, museu, planetário, espaço para eventos, um lago com várias espécies de peixes, além de abrigar mais de cem tipos de aves. O administrador Joseppe Di Siervi ressalta a importância do parque para a realização de diversos eventos culturais, sociais e esportivos. No site do Ibirapuera é possível consultar a programação completa: www.parquedoibirapuera.com. Além de proporcionar entretenimento e lazer, os parques possuem importante papel ambiental. Os lagos neles existentes, por exemplo, contribuem para

Parque do Burle Marx. Por; Débora Dias.

amenizar os riscos de enchentes, auxiliando na drenagem das águas e favorecendo o aumento da umidade relativa do ar. Estes ambientes favorecem a flora e a fauna, já que cultivam diversas espécies vegetais e animais. A pedagoga Leila Alves, troca semanalmente as salas de aula, por uma jornada de exercícios no Parque Ibirapuera. Para ela a sensação desfrutada nestes ambientes pode fazê-la esquecer momentaneamente o stress vivenciado no dia-a-dia. “Ver o MASP em plena Avenida Paulista, além de um belo contraste com a paisagem urbana, causa uma sensação reconfortante”. Admite Leila. Para informações sobre os demais parques acesse: www.prefeitura.sp.gov.br. Uma boa opção pra quem gosta de natureza ou busca fugir da agitação, é visitá-los pessoalmente. CulturArt

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Especial Sustentabilidade com...

Alexandre Spatuzza “Porque se preocupar com o meio ambiente tambem é uma questao de cultura”


Especial Sustentabilidade Pra mim, só um café puro Sustentabilidade, políticas públicas e um pouco de conversa Nem o caótico transito daquele sábado chuvoso, impediu que Alexandre Spatuzza fosse pontual ao chegar ao Centro Cultural São Paulo (CCSP) em Pinheiros, local escolhido por ele para a realização da entrevista. Bem agasalhado e acompanhado de seu filho Miguel, preferiu conversar em um café: “Para mim, só um café puro” disse. O Jornalista de políticas públicas e sustentabilidade, possui uma trajetória profissional diferente do comum, mas confessa que a paixão pelo jornalismo surgiu ainda na juventude e que chegou até mesmo a sonhar em ser correspondente de guerra “A minha adolescência foi no Reino Unido. Quando eu estava saindo do colégio já estava começando a me interessar pelo jornalismo”. Segundo ele, o hábito de ler revistas e jornais era praticamente um vício e seus assuntos preferidos sempre foram política e economia. Porém, na época, Spatuzza optou por cursar biologia na Universidade de Edimburg, uma das mais renomadas universidades da Escócia. Foi somente depois, já no Brasil, que ele se deparou novamente com o Jornalismo. A carreira começou antes mesmo de sua formação universitária, trabalhando como redator da editoria de cidades, do jornal Correio de Osasco. Spatuzza afirma que sempre conseguiu direcionar suas pautas para os assuntos que lhe interessavam, sem esquecer-se de seu papel como jornalista, sobre o qual assume ter uma visão romântica: “Eu sou meio romântico, mas o jornalista tem um papel muito de iluminista. Não é? Ele levanta a bandeira do debate, através do convencimento. No fazer jornalístico você tem que convencer através dos fatos, não é?”. Ele defende a teoria, que faz questão de deixar claro que se trata apenas de uma opinião pessoal, de que a realização de uma política pública bem estruturada está intimamente ligada à política, porém, segundo ele, só é implementada pelas ferramentas econômicas:

“Política pública é o lado prático da política e a política, pra mim, é a coisa mais importante que a sociedade inventou. Não existe sociedade sem política, tudo o que a gente faz é política. [...] Para implementar as políticas públicas, você precisa de todas as ferramentas econômicas. Você precisa ter recurso, precisa gerenciar este recurso, você precisa atingir os públicos a quem é direcionada a política publica”. Com uma expressão entusiasmada, ainda faz questão de ressaltar o papel da objetividade e da apuração na construção de

uma matéria. Ele não acredita em 10% de objetividade jornalística, afirma que o melhor caminho para se obter uma boa matéria, honesta e imparcial, é usar todas as ferramentas disponíveis ao jornalista, para se ter a melhor apuração dos fatos possível, chegando mais próximo da realidade. O jornalista gesticula e discorre sobre política e economia em setores públicos e privados, enquanto seu café parece quase intacto. Spatuzza afirma que há uma condescendência do jornalismo com os setores priva-

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Especial Sustentabilidade dos “O problema é, se você diz que o Estado é opaco, o setor privado também é opaco. Só que o setor privado tem uma desculpa muito boa, que os jornalistas em geral respeitam, e não respeitam no Estado. É que as empresas dizem que não podem falar coisas estratégicas do mercado. [...] E no final é a mesma coisa. Os dois estão dando uma desculpa esfarrapada, para não dar informação”. Spatuzza ainda afirma que a chegada da Internet está mudando o cenário do jornalismo contemporâneo, segundo ele, a flexibilidade e os novos espaços permitem que o jornalismo se torne menos refém da publicidade, como acontece nos grandes veículos. Para ele, as agencias de publicidade têm uma grande dificuldade de investir em pequenos veículos, principalmente se não estiverem alinhados aos princípios ideológicos da agencia. Deste modo a distribuição de revistas e outros periódicos jornalísticos na web, conferem ao jornalista, maior autonomia que precisa ser cada vez mais explorada. Apesar de ser difícil separar o perfil de Jornalista da pessoa Alexandre, uma vez que ambos se misturam o tempo todo, agora já com um ar mais descontraído, Spatuzza discorre e brinca sobre si próprio, apóia as mãos sobre a mesa e afirma que ainda está se organizando para gerenciar melhor o próprio tempo. Termina a entrevista contando que o seu sonho é escrever um livro.

Exemplar da Revista Sustentabilidade idealizada e produzida por Spatuzza

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As cinco sustentáveis do mês !! 01. Troque suas lâmpadas incandescentes por fluorescentes. Lâmpadas fluorescentes gastam 60% menos energia que uma incandescente. Deste modo, você economizará 136 quilos de gás carbônico anualmente. 02. Escolha eletrodomésticos de baixo consumo energético. Procure por aparelhos com o selo do Procel (no caso de nacionais) ou Energy Star (no caso de importados). 03. Não deixe seus aparelhos em standby. Simplesmente desligue ou tire da tomada quando não estiver usando um eletrodoméstico. A função de standby de um aparelho usa cerca de 15% a 40% da energia consumida quando ele está em uso. 04. Faça compostagem. Cerca de 3% do metano que ajuda a causar o efeito estufa é gerado pelo lixo orgânico doméstico. Aprenda a fazer compostagem: além de reduzir o problema, você terá um jardim saudável e bonito. 05. Compre alimentos produzidos na sua região. Fazendo isso, além de economizar combustível, você incentiva o crescimento da sua comunidade, bairro ou cidade.

O material produzido chega a aproximadamente 50 matérias mensais.

A revista conta com um acervo com mais de 3000 matérias que podem ser buscadas por palavra chave


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Bibliotecas 2.0 Modernas e bem equipadas, bibliotecas de São Paulo têm pouca visitação Ao contrário do que se pode imaginar, São Paulo possui bibliotecas com milhares de volumes disponíveis para pesquisa e empréstimo, são aproximadamente oitenta unidades públicas, e outras mantidas por centros privados. Por: Débora Dias A bibliotecária Maricy Vasconcelos, uma das responsáveis pela Biblioteca Prefeito Prestes Maia, localizada na Zona Sul, afirma que houve um aumento na doação de livros, e que isso tem sido suficiente para garantir um atendimento de qualidade ao público. As bibliotecas sempre foram procuradas para a realização de pesquisas e a obtenção de informação, mas com o aumento da acessibilidade às mídias digitais, houve uma diminuição nas visitas a esses locais. Há, porém, quem ainda prefira estudar em bibliotecas, como afirma o vestibulando Raphael Aquino, de dezoito anos. Ele possui o hábito de freqüentar bibliotecas e diz que o ambiente é pro-

pício para a concentração, o que facilita o estudo. A prefeitura tem realizado projetos para aumentar o interesse da população pela leitura, uma iniciativa realizada é os ônibus-biblioteca, que atravessam a cidade promovendo eventos de recreação e incentivo à leitura. Merecem destaque também, a implantação de bibliotecas em estações do metrô e oficinas de leitura nos Centros Educacionais Unificados, Céus. A auxiliar de bibliotecária Maria Luiza, trabalha biblioteca municipal Belmonte, de Santo Amaro, conta que os projetos de incentivo fizeram com que muitas crianças se tornassem freqüentadoras assíduas e algumas, inclusive, acompanhadas pelos pais. Para conhecer estes e outros projetos de inclusão, promovidos pela prefeitura , ou obter o endereço das bibliotecas, acesse o site: www. prefeitura.sp.gov.br.

Vale a pena conhecer.... ... Domínio Público Uma biblioteca virtual, lançado em novembro de 2004 que visa contribuir para o desenvolvimento da educação e da cultura, através do acesso ao seu acervo de forma livre e gratuita. Para mais informações batas acessar: http://www.dominiopublico.gov.br

.... CCSP O Centro Cultural São Paulo, CCSP, é um espaço reservado para exposições, apresentações e manifestações artísticas e ainda conta com uma uma biblioteca sempre atualizada. Localizado junto à estação Vergueiro do metrô, conta com um ambiente receptivo, tranquilo e aconchegante, no qual é possível estudar, encontrar os amigos, e até mesmo, tomar um café na lanchonete. Conheça o Centro Cultural e fique atento à programação! Acesse: www.centrocultural.sp.gov.br.

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Centralização A cultura e o lazer ainda são áreas que revelam desigualdades sócio-econômicas, e a Centralização dificulta o acesso aos espaços culturais São Paulo é, sem dúvidas, uma das cidades mais importantes do país, vista como sinônimo de melhores condições de trabalho e de vida. Mas o que dizer quanto ao investimento feito em cultura e lazer? Por: Débora Dias O que podemos perceber hoje é uma centralização dos espaços culturais em alguns bairros da cidade, geralmente não acessíveis a todos, e algumas exceções “perdidas” pelos bairros mais simples. Digo exceções pois geralmente, são espaços mantidos pela própria comunidade local sem muita atenção do governo.

Isso tudo acaba afastando a população destes locais, e conseqüentemente, restringindo o acesso a informações e experiências que poderiam contribuir, e muito, para a bagagem cultural das pessoas, principalmente dos jovens.

Vamos usar como exemplo as bibliotecas: são aproximadamente oitenta, espalhadas por todas as regiões da cidade. As principais estão em boas condições, como é o caso da Biblioteca Prefeito Prestes Maia, em Santo Amaro, bairro importante da zona sul. Nela, as estantes estão abarrotadas de livros, tanto que a aceitação de doações foi interrompida por uns tempos.

O governo tem desenvolvido projetos como o ônibus-biblioteca, uma biblioteca móvel que leva literatura às regiões onde não existem espaços destinados a esse fim, e a inauguração de pequenas bibliotecas em algumas estações do metrô. Mas será que apenas isso é suficiente, ou poderiam existir outras soluções?

E o que fazer para reverter essa situação?

Porém, se olharmos um pouco mais longe, encontraremos escolas públicas com bibliotecas praticamente vazias ou com livros em péssimas condições de uso. Os museus também apresentam esse problema de localização. O Museu da Língua Portuguesa, por exemplo: apesar de apresentar preços baixos e ter como assunto principal a nossa língua – importantíssimo no desenvolvimento intelectual de nossas crianças – é de difícil acesso, mesmo estando próximo a estação Luz do metrô.

É importante observar que, para uma grande parcela da população, gastar dinheiro com ônibus e metrô para visitar museus e arcar com o valor, mesmo que simbólico, da entrada não é algo viável.

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Museu da Língua Portuguesa Uma viagem ao passado em um espaço reservado para manter viva a história do nosso idioma A Língua Portuguesa é um dos principais traços da cultura brasileira e importante herança para cada um dos que aqui nasceram. Apesar de ser falada em diversos outros países, no Brasil ela se tornou única ao unir características do português falado em Portugal, das línguas do indígenas – que viviam aqui desde os primórdios –, e dos africanos, trazidos para cá na época da escravidão. Além disso, sofreu forte influência dos estrangeiros que vieram ao país em busca de melhores oportunidades de vida. Por: Débora Dias Com o intuito de preservar a história e a origem da língua portuguesa, foi criado o Museu da Língua Portuguesa. Localizado no histórico prédio da Estação da Luz, é composto por três andares, sendo o primeiro reservado para exposições temporárias, o segundo para uma exposição fixa – onde estão expostos objetos que contam um pouco da história da língua, suas influências e linha cronológica –, e o terceiro, composto por um auditório onde são exibidos filmes e palestras para ilustrar e fixar o que foi visto nos outros andares. Atualmente, o museu apresenta, pela primeira vez, uma exposição totalmente dedicada a um escritor paulista e paulistano. Intitulada “Oswald de Andrade: o culpado de tudo” a mostra, apresenta a história de vida do escritor Oswald de Andrade, figura decisiva na história do modernismo no Brasil e um dos promotores da SemaO Museu está localizado no histórico prédio da Estação da Luz

na de Arte Moderna. Oswald é famoso por ser considerado um dos mais rebeldes e inovadores escritores da época. A exposição é composta por diversos módulos que levam o visitante a conhecer as principais etapas da vida do escritor modernista, tendo inclusive, um espaço destinado à interação, no qual é possível deixar registradas as impressões que se tem sobre o acervo. Para completar a experiência, o grupo Caixa de Imagens, conhecido pela produção de pequenos espetáculos com fantoches dentro de caixas de papelão, realiza uma apresentação individual com um boneco que representa o escritor. Na apresentação, que tem duração de três minutos, cada pessoa poderá conhecer um pouco da história de Oswald de forma única e exclusiva.

Objetos típicos dos diversos povos que contribuíram para a formação da língua portuguesa estão expostos no museu.

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O Museu funciona de terça a domingo, das 10h às 17h. Aos sábados, a entrada é gratuita e nos demais dias custa R$6,00, sendo que estudantes pagam meia entrada todos os dias. Crianças com menos de 10 anos, idosos com 60 anos ou mais e professores da rede pública não pagam. Para mais informações, visite o site: www. museulinguaportuguesa.org


Etimologia O que você diz é realmente o que você quer dizer? Todo dia você vai à tortura e volta para casa em meio ao seu grupo de escravos. Por: Jessica Fiuza Apesar do estranhamento que a frase acima possa causar, é isso que você diz etimologicamente quando afirma que vai todo dia para o trabalho e volta para casa em meio a sua família. Isso ocorre porque as palavras possuem uma origem remota e há um forte desgaste desses termos em nosso cotidiano, gerando a perda do seu sentindo original. As palavras em seu uso cotidiano são tão banalizadas e desgastadas, que muitas vezes as utilizamos sem saber o que realmente significam, e isso não quer dizer necessariamente que desenterrar aquele dicionário antigo da prateleira vá resolver o problema. O que quase ninguém sabe, é que a etimologia é um dos poucos meios que nos permite descobrir o verdadeiro significado das palavras. A etimologia é o estudo da composição de uma palavra e de seu valor histórico, além de nos auxiliar transparecendo o verdadeiro sentido das palavras, também estabelece ligações entre diversas línguas. e muitas vezes, nos revela aspectos bastante curiosos.Você sabia, por exemplo, que a palavra família, vem do latim famulus/ famulia, e que no vocábulo romano servia para designar um grupo de escravos?

Os romanos organizavam sua sociedade primeiramente em bases econômicas, e o termo era utilizado para designar os serviçais. A palavra dama por sua vez, vem do jurídico grego damar, e significa submeter-se, ser dominada. Já a palavra trabalho que vêm do verbo Tripaliare, até a instauração da idade média, significava torturar. O Tripalium era um instrumento feito com estacas que servia para a tortura de seres humanos e de animais.

Sabotagem, referência á danificar propositalmente algo, na verdade vem do francês de sabot, “calçado com sola de madeira. Apesar do aspecto mórbido que lhe foi conferido, Cemitério vem do Latim Coemeterium, e do Grego Koimeterion e significa “dormitório”. Conhecer a origem da língua, além de ser importante para o uso correto das palavras, pode ser um passatempo interessante e divertido!

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Comer, Rezar e Amar A obra que se transformou em livro de cabeceira de muitas mulheres Aclamado pelo público e pela crítica, Comer, Rezar, Amar, desperta reflexões exclusivamente femininas, sobre situações simples da vida. A obra ensina as mulheres a obter independência, se valorizar e ter amor próprio. Tais temas são abordados sem cair na linha de ‘auto-ajuda’. Por: Gabrielle Mehringuer Aos trinta anos, Elizabete estava no auge de ter tudo o que as mulheres chamam de ‘vida padrão’, um bom trabalho, sua própria casa e um marido que a amasse. O problema é que ela percebe que essa historia de ‘vida padrão’ não é uma verdade universal, com isso, bem era a última coisa que ela podia estar neste momento de sua vida. A historia não é uma comédia, porém, apresenta situações divertidas, e desperta sintonia com nosso dia a dia, viajando por lugares que muitas pessoas tem o sonho de conhecer, como Itália, Índia, Indonésia... O que instiga o leitor é o realismo presente nas situações narradas no livro. Na Itália, primeira parada da protagonista Liz, as cenas são descritas de forma que conseguem literalmente dar água na boca. Na Índia, a trama é um pouco mais confusa, mas quando Bali é o local, tudo fica incrível novamente. Para as mulheres bem resolvidas, apreciem o que Liz conheceu em cada viagem. Para as mulheres que ainda não se resolveram, apreciem a sintonia que Liz encontra em cada viagem feita, quando descobre a felicidade dentro dela mesma, sem precisar de outro para ser feliz.

Na conttramão . . . Se “Comer, rezar, amar” fez um grande sucesso entre o público feminino, os homens também não tem do que reclamar, isso porque a versão bem humorada, “Beber, jogar, f@#er” do escritor Andrew Gottlieb, traz a jornada de um homem em busca de diversão na Irlanda, Las Vegas e na Tailândia. O livro teve seus direitos para o cinema comprados pela Warner, ou seja, logo veremos essa título também nas telonas. 36

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Estante CulturArt O CulturArt traz 5 dicas e lançamentos dos livros do mês de dezembro pra você

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Steve Jobs – Isaacson, Walter: Baseado em mais de quarenta entrevistas com familiares, amigos, colegas, adversários, concorrentes, e o próprio Steve Jobs, o livro conta sobre a vida do empresário, instigado pela perfeição, no universo industrial tecnológico. A biografia autorizada foi escrita por Walter Isaacson e lançada no dia 24 de outubro em todo o mundo, incluindo o Brasil, e já o livro mais vendido pela Amazon em 2011.

Para seguir a minha jornada: A autora Regina Zappa já escreveu duas obras sobre a trajetória de Chico Buarque. Desta vez, ela aprofunda suas pesquisas e cria um almanaque, recuperando entrevistas antigas sobre a vida do cantor e compositor.

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São Paulo – Cada um conta sua história: O livro da fotógrafa Giovanna Nucci, lançado em outubro no MCB, traz imagens que retratam a caótica capital paulistana, feitas por mais de dois mil quilômetros caminhados pela cidade. O Livro do Boni:

O publicitário e empresário, José Bonifácio de Oliveira, mais conhecido como Boninho, relata sua própria trajetória desde a infância. O autor descreve diversos episódios e desafios, com bom humor e muitos detalhes.

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Tarsila – Os Melhores Anos: Maria Alice Milliet escreve a biografia de Tarsila do Amaral, mostrando a relação dela com os artistas de vanguarda com quem conviveu nos anos 20 (em Paris) e as influências exercidas sobre sua arte. Durante a obra, são feitas comparações das obras mais importantes da pintora. CulturArt

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Anderson Schneider

A vontade de ir além do fato instantâneo e efêmero, e a curiosidade em conhecer sobre os desfechos dos casos, fizeram com que o fotógrafo brasileiro, Anderson Schneider, resolvesse abandonar a rotina das redações e se dedicasse a pesquisa de histórias antigas, para acompanhar a vida destas pessoas que um dia foram notícia. Por: Débora Dias

A vida além da notícia


Anderson Schneider O olhar por trás da notícia e a vontade de ir além do fato

O olhar por trás do fato E a vontade de ir além da notícia A busca incansável pelo “furo de reportagem” e a ânsia pelo novo, fazem com que os jornalistas deixem de acompanhar o desenrolar dos casos que noticiam, o público fica sem saber o que acontece com os protagonistas das histórias divulgadas pela mídia. Com a câmera em mãos, o fotógrafo visitou lugares famosos por grandes tragédias, como o Iraque – destruído pela violência da guerra e o Haiti –, no Brasil, fotografou o garimpo de Eldorado, os Leprosários do interior e Brasília, cidade onde vive. Nestas visitas, Anderson deparou-se com muitas surpresas, segundo ele, a mais marcante foi encontrar moradores nas ruínas dos leprosários de Redenção: “As pessoas estavam vivendo ali, porque como foram internadas ainda muito novas, perderam suas famílias. Aqueles lugares tornaram-se seus lares”.

Uma característica pecuiar no trabalho de Schneider é a opção por fotografias em preto e branco. Quando questionado sobre o motivo da monocromia, Anderson revela: “Pode parecer estranho, mas eu sou daltônico. Sintome mais seguro com o P&B, pois posso ter certeza do resultado”.

Apesar da explicação dada por ele ser motivo de saúde, de qualquer forma, os tons das fotos concedem um ar ainda mais impactante às imagens, o estilo despertando a sensibilidade de quem entra em contato com a fotografia de Anderson.

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Teatro: Novelo Texto de Nanna de Castro e direção de Zé Henrique de Paula “Ah, homens... Meu amor pelos homens me trouxe amigos com H maiúsculo. Com eles, as delícias de brincar de carrinho, de se jogar no rio do alto do barranco, de rolar aos murros no pátio da escola, de caçar o sexo oposto e devorá-lo, sem flores no dia seguinte. Tirei a focinheira do meu próprio macho no parque... Proclamo a mulheres a amarem os homens. Não o “seu homem”, sua metade platônica da maçã, a maldita tampa da sua panela, o pai dos seus filhos, o cara que vai te salvar da solidão, ou atender sei lá que sonho que te venderam na infância. Convido as mulheres a amarem os homens “per si”. E visitarem o macho que todas carregam. Cocem o saco. Sintam a experiência de poder e o risco de ter algo pendurado entre as pernas. Recebam o baú pesado das expectativas a serem atendidas, exponham-se ao crivo do olhar feminino que é um abismo de abnegação, mas também de ânsias e, por favor, não sejam moleques, respondam à altura, sejam homens! Nunca me disseram: seja mulher! Querendo dizer: seja adulta, seja forte, dê conta. É que a fita métrica de medir homem é muito mais curta e pobre de dimensões. Eu quero dizer a todas que estou cercada de homens lindos e bons, Sim, eles existem. Mas não porque eu precise. E sim porque o amo”. Este texto foi retirado do Blog de Nanna de Castro (www.senhoritasafo. blogspot.com) escritora da peça O Novelo. O projeto surgiu desta admiração da autora pelo universo masculino – até então relatado apenas em seu Blog – uni-

da a vontade de um grupo de amigos atores, em abordar este universo masculino nas artes cênicas de forma não caricatural, como na maioria das comédias. Em 2007, convidada por estes atores, Nanna o ouviu sem preconceitos. Depois de três anos tricotando, teceram o espetáculo com maestria.O texto apresenta uma visão, envolvendo diversas dimensões do homem contemporâneo, inserindo suas alegrias, conflitos, ambições, coragem, mágoas, medos, frustrações, sonhos, entre muitas situações, não só comuns ao ser humano, mas especialmente ao homem. A peça conta a história de cinco irmos (Maurício, João Pedro, Zeca, Mauro e Cláudio), que se reencontram na sala de espera de um hospital público, após receberem a notícia de que um homem, que pode ser o pai que os abandonou há 20 anos, está internado na UTI. Na identificação d que os homens são parecidos, mas muito diferente, que veio a percepção destas questões. E como lidar com elas, tendo as mudanças comportamentais entre homens e mulheres nos dias de hoje? Engraçada, dinâmica e provocante “Novelo” encanta o público levando-o a refletir sobre os dilemas masculinos. O espetáculo está em cartaz no Viga Espaço Cênico, ao lado do metrô Sumaré, de segunda a sábados às 21h. Por: Larisse Alves

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Teatro: Espectros Texto original de Henrik Ibsen, adaptado por Ingmar Bergman O título já anuncia ao espectador que a peça não trará uma temática tranqüila e prazerosa. São 90 minutos de tensões, conflitos, fantasmas do passado vindo à tona e uma normalidade inicial, incômoda, que vai se dissipando no decorrer do drama. Há momentos em que a confusão toma conta dos ares do teatro, sufocando a platéia de dúvidas e sentimentos contraditórios com relação às personagens. Por: Larisse Alves A dramaturga Tereza Menezes que participa da produção da peça faz uma análise profunda sobre a obra e suas intenções: A peça Espectros de Ilbsen, escrita em 1881, provocou um, imenso escândalo na sociedade da época. Foi radicalmente condenada pela crítica e proibida pela censura em vários países da Europa, por tratar de assuntos tabus como doença venérea, incesto, eutanásia entre outras polêmicas. Porém, não foi com o propósito de tratar esses assunto que Ilbsen escreveu o drama. O cerne da peça é a possibilidade de fazer escolhas verdadeiras na vida. Em todo o século XIX os heróis dos romances e peças de teatro eram vítimas do destino, do meio familiar ou social. O inimigo estava fora. O escritor inovou ao colocar o inimigo dentro de cada um. Neste “novo estilo de drama”, a luta é travada contra os próprios demônios, ou espectros, que tomam vida dentro da pessoa, levando- a fazer escolhas, muitas vezes, contrárias à sua natureza. Ingmar Bergman, que sempre foi grande admirador de bsen – depois de mais de quatro décadas fazendo teatro e cinema –, resolveu traduzir e adaptar Espectros em 2002, escolhendo-a como sua última montagem teatral. O encontro dos dois gênios foi altamente auspicioso. Ilbsen, propôs, com toda sua poesia e contundência, aquilo que ele próprio chamou de “a revolução do espírito humano”, o sujeito que se joga no abismo de seus

medos e mentira, enfrenta a inevitável solidão do ser humano e torna-se capaz de conhecer e ser ele próprio. Bergman, como em tantos de seus filmes, penetra mais uma vez no âmago de cada personagem para mostrar o quanto é precário o seu encontro com o outro, expõe sua hesitação em dizer a verdade, tornando-se prisioneiro de seus desejos mal formulados e, sobretudo, desvenda sem pudor sua demolidora dificuldade de amar. Nesta adaptação da peça, os espectros que rondam mãe, filho e agregados da casa dos Alving, manifestam-se de modo ainda mais sensível ao espectador. As emoções estão mais à flor da pele. Palavras e ações definitivas colocam as personagens em situações limites de onde não podem mais recuar. Nas palavras do próprio Bergman “em sua raiva avassaladora, eles são igualmente vítimas e predadores uns dos outros”. Presenciamos o desvendamento gradual que faz dos desejos e sentimentos das personagens, sublimes e destruidores, lutando com a mesma obstinação para fugir e para encontrar a verdade. E, apesar do “grande medo que todos nós temos da luz”. Como diz Helene Alvin, a peça nos inclui na trajetória de cada um destes seres através das trevas em direção à luz. A peça está sendo exibida no Viga Espaço Cênico, ao lado do metrô Sumaré, às sextas e sábados às 21h e aos domingos às 19h. CulturArt

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ENSAIO Um olhar sob a exposição uma revolução A Pinacoteca é o meu lugar preferido para visitar aos sábados pela manhã. A calma com que a luz do sol entra pelo teto de vidro, cobre os tijolos terracota e cria sombras quadriculadas que parecem dançar, me faz querer passar o dia ali; observando. Em uma destas manhãs vi a foto: “Moça com uma Laica”; o padrão da sombra quadriculada imprime uma trama sobre a moça e o cenário. A partir deste momento me senti conversando com Ródtchenko por olhar. Nosso olhar, me atrevo a dizer, é absorvido pelos contrates do preto e branco, das possibilidades de desenho que esses contrastes criam. Não me refiro ao preto ou branco estourado, mas a possibilidade de composição sem perder os tons de cinza entre um e o outro. “Degraus” apresenta essa gradação de tons na diagonal, “ângulo de Ródtchenko”. “Um fotógrafo pode provocar uma coincidência de linhas ao mover sua cabeça apenas uma fração de milímetro. Pode modificar as perspectivas com um simples dobrar de joelhos (...) Mas compõe uma foto aproximadamente no mesmo tempo exigido para apertar o botão, na velocidade de uma ação reflexa”, Henri Cartier - Bresson. Ao visitar a exposição me deparei com a arquitetura da cidade russa, os prédios e torres são fotografados em ângulos diferentes, criando perspectivas novas. A fotografia é contemporânea, a cidade moderna desenvolve-se nela e faz da cidade o seu cenário: praças, prédios, monumentos e o cotidiano. Ródtchenko capta a atmosfera de mudança na Rússia que efervescia com idéias comunistas e o movimento construtivista. Os desfiles e os esportistas ganham destaque em sua lente. Aleksander (1891-1956) era um artista inquieto, estava sempre procurando uma maneira de se expressar. Pintor, escultor e designer gráfico, a sensibilidade do olhar de Ródtchenko captava tudo, desde a textura das peças de carro ao mundo mágico dos acrobatas, malabaristas e equilibristas.

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Instantes de adrenalina eternizados em um clique. As lúdicas imagens do circo contrastam com o geométrico e organizado mundo socialista. O retrato de seus amigos íntimos e familiares nos faz sentir cúmplices da relação que mantinham. O fotógrafo procurava enquadrá-los sob diversos ângulos para obter momentos diferentes de suas personalidades. O artista demonstrou seu talento, também, na ilustração de um livro infantil: fez um ensaio delicado com recortes de homens e cenários de papel. Já nas capas da revista LEF (Frente de Esquerda das Artes), criou padrões estéticos que são copiados e reproduzidos até hoje, como o retrato de Lília Brik feito para o cartaz Knigui. Na Rússia, pós revolução, artistas como Ródtchenko acreditavam que seus trabalhos deveriam servir às massas, ser entendidos por todos, usar técnicas e matérias industriais. Vanguardista, Aleksander atribuía à fotografia o mesmo status das outras artes


RODCHENKO BEATRIZ GARCEZ

Aleksander Ródtchenko, na fotografia

e exaltava a importância da foto reportagem, muito antes da Magnun Photos de Bresson e Capa. Quando a fotografia, como obra de arte, participou do Salão de Belas Artes francês, na metade do século XIX, Baudelaire escreveu um texto desaprovando a classe, classificado por ele como o início da industrialização da arte. A fotografia demoraria mais um século e meio para ser completamente

aceita e reconhecida como obra de arte. A Pinacoteca do Estado te conecta à todas estas histórias. Possui entrada gratuita aos sábados, e as esculturas e os quadros ganham a companhia de crianças, estudantes, turistas, casais, e pessoas de todos os tipos como a cidade de São Paulo. Na Pinacoteca você pode ter a sorte de encontrar, como eu já encontrei, Décio Pignatari e Ruy Ohtake, observando fotografias.

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Grafite ... Já faz tempo que o termo grafite ganhou reconhecimento e se distanciou do patamar de pichação. Os mais conservadores podem até torcer o nariz, mas grafite é arte e confirmar a sua importância é promover a diversidade dos olhares sobre a cultura em uma cidade com tantas manifestações como São Paulo. Por: Jessica Fiuza

Grafite - Terreno Abandonado - Vila Sônia. Foto por Pee Fernandes

e os rabiscos da cidade


Grafite - Casa de Cultura do Butantã. Foto por Pee Fernandes

Grafite - Coletivo Matilha Cultural. Foto por Pee Fernandese

Grafitagem e Arte Urbana A tinta entre os rabiscos da cidade O termo arte urbana tem se propagado rapidamente nos últimos anos, mas nem todo artista é Banksy e isso traz um novo desafio, mostrar e dizer algo completamente diferente de tudo que já foi exposto e dito anteriormente. A arte tem de se reinventar a cada dia, transformar o deteriorado em inusitado, e o comum em insólito. Então por que não fazer isso nos muros da cidade? Uma das novas técnicas que tem impressionado o público e ajuda a evitar a poluição visual é o Grafite em 3D. A técnica ainda é pouco utilizada no Brasil, mas já ganhou espaço nas principais ruas de Nova York e Chicago. É realizada através da dissolução entre uma espécie de giz e água, e por isso, a obra tem um tempo de vida menor quando comprada á uma feita com spray. Kurt Wenner, e Tracy Lee Stum são alguns dos principais grafiteiros desta categoria. No Brasil um dos maiores artistas plásticos a ganhar destaque pela grafitagem, é Eduardo Kobra. Morador do Campo Limpo, um dos bairros periféricos de São Paulo, Kobra começou envolvido com

pichação aos 12 anos, e chegou a ser detido por vandalismo. Hoje é um dos grafiteiros responsáveis pela pintura do maior painel da América Latina, que se encontra na Av. 23 de maio. A pintura do painel foi autorizada pela prefeitura de São Paulo para comemoração do aniversário da cidade em 2009, e é mantido até os dias de hoje. Kobra arcou sozinho com todos os gastos em material e equipe para pintura. Uma dupla de grafiteiros que também tem ganhado reconhecimento no exterior, são os irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, mais conhecidos como os Gêmeos do grafite. Além da dupla “6emeia“, formada por Anderson Augusto (SÃO) e Leonardo Delafuente (Delafuente), moradores do bairro da Barra Funda. O grafite está diretamente ligado a vários movimentos e expressões, principalmente o hip hop, e por se tratar justamente de arte de rua a grafitagem aparece como uma expressão mais crua do cotidiano. Esse estereótipo mais periférico ainda causa estranhamento e conservadorismo ao relacionar o grafite como uma arte.

“O maior problema é que ainda tem gente que acha que pichação e grafite é a mesma coisa, e não é. Ou que acha que grafite é como outdoor e vai poluir a cidade. Ás vezes não tem manutenção da obra, fica exposto lá tomando chuva e sol, vai ficar feio com o tempo, não tem jeito, tem que pintar de novo, mas ai vê e acha que grafite que é feio” afirma o grafiteiro Gabriel Pereira Marques. O que para muitos críticos adeptos de João Cândido Galvão pode render debates infinitos dentro das galerias sobre o papel da grafitagem como arte, e a invasão do espaço público, para outras pessoas o grafite pode ser discutido de uma ótica mais simples e menos autoritária. “O excesso de grafite pode causar uma certa poluição visual mesmo, chegando até a ficar feio, mas tem alguns que são verdadeiras obras de arte mesmo ocupando muros inteiros, é relativo. Como toda obra, pra ser arte, tem que ser sóbrio e de boa qualidade. E se for arte, não tem motivo pra não ocupar os muros da cidade.” afirma o bacharel em Ciência da Computação, Luiz Henrique Strobelt Pérez.

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Linha do Trem

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