Criticas e clipping Pé na Curva

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Criticas Pé na curva

‘Pé na Curva: A surpresa da surpresa da surpresa’

Por *Alexandre Mate

Muitos foram os grupos selecionados para a 25ª edição do Festivale, de São José dos Campos, a enveredar por entre os abissais caminhos da chamada incomunicabilidade contemporânea. Alguns desses grupos (como o Máskara, de Goiânia, ou o Kaus, de São Paulo) montaram obras consagradas como Esperando Godot de Samuel Beckett ou O grande cerimonial de Fernando Arrabal, dois dos mais importantes autores ligados ao teatro do absurdo (ou da absurdidade). Nas duas críticas dos grupos citados foram desenvolvidas reflexões conceituais sobre o movimento, portanto, recomenda aos interessados lê-las no endereço em que esta reflexão se estabelece. Pé na curva, do Grupo de Teatro Cia. de 2 (de São José dos Campos) apresenta duas figuras grotescas, perdidas no tempo e no espaço (e de si mesmas), em relação lúdica, pautada no jogo, surpreendentes. No começo do espetáculo vem a sensação do “já visto”. Tem-se a nítida sensação de que se trata de mais uma obra fundamentada em Esperando Godot de Samuel Beckett, em O arquiteto e o imperador da Assíria de Fernando Arrabal, em Os cegos de Michel de Ghelderode... E de fato, esta apreensão inicial se confirma. A desesperança, o não lugar, o sem destino confluem em um texto bastante telegráfico. Frases rápidas, algumas vezes com aliteração e brincadeira fonética, dão, gradativamente, lugar aos corpos dos atores. Apesar de a obra já ser conhecida, o trabalho dos dois atores: Jean de Oliveira e Jonas de Paula (este último também assina a direção e o texto) surpreende, sobretudo pela entrega, e pela relação absolutamente sem limites que caracteriza o espetáculo. Vê-se aqueles dois corpos franzinos e disponível em exasperação total. A dupla caracteriza-se na grande surpresa do espetáculo, Em troca constante, eles se rodiziam entre Augusto e Branco. Faz tempo que não assisto a tanta entrega... Verdade que essa entrega sem limites deve causar hematomas nos corpos dos dois atores, mas o exercício de plena e total visceralidade acaba por contaminar ao público. Ao final, muitas palmas. Aplauso qualitativo de reconhecimento. Os dois admiráveis bufões - Jean e Jonas (quase um nome dessas duplas ditas regionais de agora) tem muitos tons patéticos. Sai bastante entusiasmado do espetáculo e penso, à luz de tudo o que foi visto no Festival, que a dupla merece um diretor/encenador para, de fora, e por meio de permanentes provocações, equilibrar e “tirar” muito mais corpos-poéticos-em-estado de criação


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