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A velha lição dos “tigres asiáticos”

Agora que se configura um novo boom de preços de minério de ferro e outros metais – mesmo que seja um mini-boom –, além da alta dos grãos como soja e milho que sustenta o vigor do agronegócio brasileiro, os analistas lembram como o País não aproveitou a bonança propiciada pelo superciclo dos commodities minerais que ocorreu entre 2000 e 2014, deixando de realizar as diversas reformas estruturais que se mostravam urgentes já naquela época, visando sustentar novos ciclos de expansão econômica do País.

É didático - mas também com certo sentimento de tristeza - lembrar a história dos “tigres asiáticos”, começando pelo Japão destroçado pela 2ª Guerra Mundial e a China, enfraquecida pelas reviravoltas da revolução do Mao Tse Tung, num país já debilitado pelo regime corrupto após a fundação da república. A Coreia do Sul ainda travou outra guerra contra o regime do Norte. Mas em poucas décadas, os “tigres asiáticos” - que incluem ainda Cingapura, Hong Kong e Taiwan - se reinventaram e, atualmente, ocupam lugar de vanguarda na economia global, ao lado da China. Enquanto isso, o Brasil continua figurando impávido entre os países emergentes, como “país do futuro”.

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E olhando para trás, é fato que até os economistas - independentemente de qualquer doutrina política - reconhecem que o úl-

Alta de preço dos materiais de construção ameaça a retomada da indústria imobiliária nas principais cidades do País

timo governo que priorizou o planejamento estratégico com vistas ao crescimento do País foi do regime militar. Havia o Consider com o plano de incentivar a produção de não ferrosos. O plano plurianual de energia programava os empreendimentos hidrelétricos a construir com anos de antecedência.

Houve prejuízos ambientais com algumas usinas na Amazônia, é verdade, mas tiveram ganhos significativos na capacidade instalada de geração elétrica. As usinas nucleares até hoje são contestadas como aventura tecnológica, sofrendo ainda com falhas de gestão e suspeitas de corrupção - mas Angra I e II estão operando e o País tem domínio do ciclo completo de energia nuclear. E esta não depende do regime hidrológico, que se vê sob constantes pressões de recarga de seus reservatórios em decorrência de mudanças climáticas e escassez de chuvas.

Voltando à mineração, não fosse a então estatal Companhia Vale do Rio Doce e seu visionário presidente Eliezer Batista, talvez o projeto Ferro Carajás e a ferrovia de mesmo nome não teriam se materializado. É verdade também que houve a Serra Pelada, no Pará, mas a CEF comprou muito ouro-paládio produzido por garimpeiros numa época em que se falava que o Brasil se transformaria numa potência produ-

Cingapura tornou-se um “tigre asiático” em poucas décadas

tora de ouro – o que não aconteceu ainda. Ocorreu o mito ainda do anatásio (TiO2), cujas reservas abundantes garantiriam uma posição brasileira de liderança global, ambição essa frustrada em poucos anos.

Há críticas crescentes sobre o visível adiamento das reformas estruturais objetivando agilizar e modernizar a economia nacional. Aponta-se ainda a falta de uma política industrial para o futuro – agora que a economia global singra na era do conhecimento científico e as tecnologias digitais tornaram-se disruptivas, com a destruição criativa de alguns dos modelos de negócio tradicionais.

Nos anos recentes, iniciativas privadas em diversos países ocuparam o espaço das políticas públicas. Acreditamos que as entidades representativas da mineração no País, junto com os organismos dos setores industrial e comercial, poderiam atuar integradamente (de forma colaborativa) com nossas universidades e institutos de pesquisa, para juntos traçarem propostas de novas diretrizes de desenvolvimento industrial - incorporando a mineração 4.0 - para que esta possa produzir novos insumos minerais de elevado valor agregado, em conformidade com parâmetros socioambientais para atender demandas de futuras gerações.

Insistir pelas reformas estruturais da economia no país é fundamental para segurança e conforto de nossa sociedade. A iniciativa privada é capaz de caminhar com as suas próprias pernas em direção ao futuro sustentável, ao invés de lamentar a ausência do governo neste debate estratégico. Este que suba ao trem, com a composição já em movimento... Entretanto, o empresariado precisa por sua vez abrir mão dos subsídios e medidas protecionistas que no final das contas engessam a economia brasileira e sua competitividade.

A melhoria da infraestrutura brasileira depende de recursos privados das concessionárias