Apresentação
Bem-vindos ao universo de “Teias de Histórias”, um livro que nasceu da criatividade de jovens escritores(as) do ensino médio. Inspirados pela riqueza literária de “Parece que foi ontem”, de Daniel Munduruku (2006), aliada a uma sequência didática que se propôs decolonial, parte de uma pesquisa de doutorado, realizada na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens (PPGEL) desenvolvida por mim, professora Ivonete Nink Soares, orientada pela professora doutora Patrícia Graciela da Rocha
Neste livro, caro(a) leitor(a), você perceberá a magia das narrativas entrelaçadas aos elementos das tradições dos povos originários brasileiros, desde a espiritualidade até a conexão com a natureza. Cada página é um convite para explorar a imaginação desses/dessas estudantes que embarcaram em uma jornada de reflexão, imaginação e expressão, para dar vida a mundos únicos e personagens cativantes.
Ao folhear estas páginas, você encontrará não apenas histórias, mas também narrativas que dialogam com a sabedoria dos anciões, com as memórias e com a diversidade cultural e identitária dos povos nativos. São vozes que saíram dos espaços da sala de aula e, em alguma medida, demonstram aprendizados decoloniais sobre os povos originários
Nesse sentido, “Teias de Histórias” é mais do que um livro, é um testemunho da resiliência das culturas dos povos originários e da capacidade da juventude não indígena de aprender, imaginar e escrever narrativas que demonstram o que compreenderam, a partir do contato com as múltiplas vozes que ecoam nas narrativas nativas, especialmente na obra “Parece que foi ontem”, de Daniel Munduruku
Por fim, espero que estas páginas sejam como um portal para a compreensão e celebração da diversidade dos povos originários.
Ivonete Nink
A guardiã Tainá
Tainá, uma jovem indígena da aldeia Kawalei, estava ansiosa para ouvir as palavras do sábio Kaohi. Ele era conhecido por sua sabedoria transmitida de geração para geração. O líder espiritual Tauche também estava presente, observando atentamente.
Enquanto o fogo crepitava e o vento soprava suavemente, Kaohi começou a contar uma história sobre a importância dos cantos e danças ancestrais para manter a harmonia do universo e fortalecer os laços entre aspessoas.
Ao ouvir a história, Tainá sentiu-se conectada com cada palavra e sentiu que era sua responsabilidade preservar essas tradições e transmiti-lasàs próximas gerações.
Desse dia em diante, ela se tornou uma guardiã das memórias e tradições indígenas do povo Kawalei, compartilhava seus conhecimentos com outros jovens e mantinha viva a cultura dos seus antepassados pelasfuturas gerações.
Aiyana
A
verdade nem sempre é o que parece
A história se inicia com o personagem principal Arquino, que em certo dia foi requisitado pela escola para fazer uma excursão para uma aldeia a qual o nome não tinha sido revelado aos alunos, ainda.
Assim que soube da solicitação, Arquino ficou receoso com a ideia. Pediu para seus pais não aceitarem o termo de autorização para ir à excursão, mas eles negaram, pensaram que seria uma boa experiência para o desenvolvimento e entendimento do jovem sobre o assunto que é pouco discutido mundo afora.
No dia da excursão, contra sua vontade e levemente emburrado, Arquino pensa em faltar e ir para outro lugar, mas Guaranas, seu amigo e companheiro de passeio, retruca e diz que vai ser divertido e que vale a pena tentar. Convencido por seu amigo, desiste da ideia de faltar e segue caminho para a escola.
A professora já estava à espera de Arquino e ao vê-lo se aproximar dá um sorriso e entra no ônibus que os levariam para a aldeia.
Ao chegar, com um olhar de tédio, Arquino decide se separar dos demais. Com isso, ele acaba se perdendo em meio à floresta e tenta se comunicar com seu amigo pelo celular, mas no local em que Arquino se encontrava não possuía sinal para tal ação. Então ele decide esperar um pouco para que percebam sua falta em meio aos demais alunos.
A falta é notada pela professora que imediatamente a comunica ao guia responsável pela excursão. Com isso, o guia, junto aos demais, decide chamar por Arquino em meio a
floresta, porém ele já estava muito afastado por ter mudado a direção noinício da trilha.
O guia, ao perceber a falta de resposta, volta ao início da trilha e chama as autoridades locais para vasculharem a área. Além disso, comunica imediatamente a família de Arquino sobresuaausência.
Enquanto procuravam, acharam rastros que imaginavam ser do jovem, porém, ao chegar ao fim das pegadas, nada encontraram, mesmo procurando em volta de todo o local, Arquino não foi localizado. O caso foi registrado como desaparecimento.
Após procurar durante meses, o que abalou a todos os alunos, a vila, a qual foram visitar, foi marcada com má fama, mesmo não possuindo nenhuma culpa com o ocorrido.
O que aconteceu, de fato, foi que Arquino se encantou com o modo de vida de uma população indígena que encontrou no meio da floresta, quilômetros de onde estava o restante da sua turma. A fascinação foi tão grande que ele, sabendo que aquele povo nunca tinha tido contato com os não indígenas, optou por viver ali, distante de toda a sociedade, aprendendo uma nova língua, outra cultura e sem a menor chance de ser encontrado por qualquer pessoa.
Aco’i Alesf
A árvore mágica
Há muitas anos, nas profundezas da Amazônia, vivia o povo Guarani das águas luminosas. Eles eram conhecidos por seu profundo respeito pela natureza e sua profunda conexão com o rio que cortava a florestadensa.
Na história desse povo, eles eram os guardiões de uma árvore mágica que florescia apenas uma vez a cada século. Essa árvore concedia sabedoria e harmonia àqueles quea visitassem.
Uma jovem desse povo que se chamava Katu, curiosa e corajosa integrante dessa etnia, certo dia, teve um sonho no qual a árvore magica a chamava. O chamado foi tão forte que ela sentiu que era seu dever encontrar essa árvore, para compartilhar com seu povo a sabedoria queiria adquirir.
Com a benção do ancião da aldeia, Katu com a cara e a coragem, certa de que viveria uma história épica, navegou pelo rio sagrado em uma canoa construída por ela mesma, enfrentou muitos desafios, como animais da floresta e correntezas traiçoeiras. Seus conhecimentos sobre plantas medicinais e a orientação dos espíritos ancestrais a ajudaram a enfrentar o caminho.
Após muitos meses de aventura, Katu finalmente encontrou a árvore mágica, no coração da selva. Enquanto se aproximava da árvore, ouviu sussurros da natureza, sussurros que compartilhavam conhecimentos, segredos antigos.
Ao retornar para seu povo, com a sabedoria adquirida, ajudava a todos a viver em harmonia com a natureza, respeitando orio e a floresta.
Yara
Surenawa
A graça da fumaça
Se distanciando das cidades, e se entrelaçando com a natureza, numa vasta aldeia que se encontrava no meio das árvores e rios correntes, onde as memórias e as histórias florescem como as flores que envolvem seus campos, se encontrava Romoku, um jovem menino de nove anos de idade, filho do Pajé da aldeia, apaixonado pelos elementos da natureza, principalmente pelo fogo.
Desde muito cedo sempre se entusiasmava por entrar no meio da roda de fogo, para ouvir as histórias e lendas que seu pai contava para o povo, enquanto se aquecia próximo à fogueira, nas noites frias e silenciosas, ao som das madeiras estralando na fogueira, e as faíscas erguendo-seàs estrelas.
Para Romoku, a fumaça era a parte mais importante da fogueira, ela significava uma ligação profundo com os espíritos da natureza. A fumaça, para o menino, era a ponte entre a aldeia e o mundo espiritual, uma forma de se comunicar com os deuses e agradecer pelas bênçãos da terra, como a harmonia da aldeia, a saúde das crianças, a proteção das matas e dos animais.
Ele chamava de “A graça da fumaça” que representava a união entre a aldeia, o céu, a mata e o grande mistério da vida. Sendo uma dádiva que lembrava da importância de cuidar da natureza, de respeitar as ciclos da vida e de celebrar a beleza da criação.
Coaraci Yakecan
Um dia com meus avós
Hoje foi um dia muito interessante, na verdade, hoje tive um sonho muito interessante, eu sonhei com os meus avós. Eles são indígenas. No sonho eu estava em uma floresta ao redor de uma fogueira. A florestaera muito bonita, eraincrível. Eu fiquei por um tempo sentada perto dessa fogueira, de repente meus avós apareceram e começaram a conversar comigo e contar algumas histórias. Eles contaram sobre a infância deles, relembraram o dia calmo, com uma chuva relaxante no qual eles se conheceram e também falaram sobre como aprenderam aapreciar a natureza e como ela é incrível. Esse momento foi maravilhoso. Fiquei quietinha ouvindo tudo. Inclusive, eles também cantaram algumas músicas indígenas. Eu amei. Eu amo músicas, isso foi incrível, ainda mais com o barulho dos folhas provocado pelovento.
Danllay
Origens
Nunca me orgulhei de minha origem, porém não confunda isso com não me orgulhar de ser indígena. Refiro-me à como minhafamíliafoi formada.
Como muitos dizem, minha mãe foi “pega a laço”, forçada a se casar com meu pai. Por ser criança, nunca entendi o fato de minha mãe nunca aparentar estar feliz quando meu pai estava por perto, ele estava sempre presente, por isso eu achava que ela não gostava da minha presença.
Apesar de ser presente, meu pai não era bom comigo, por isso eu tentava brincar com crianças da minha idade. Isso também não funcionou, já que estranhavam minha aparência.
Me isolei, até que, na minha adolescência, percebi que poderia aprender a me comunicar com minha mãe ao aprender o idioma da etniadela, os Suruí.
Ao pesquisar sobre, descobri que, devido a minha ascendência, sou considerada indígena também, por isso decidi me aprofundar no assunto e conversar sobre isso com minha mãe. Foi assim que percebi que precisava ter contato direto com a minha origem e ir,com a minha mãe, à aldeia Suruí.
Ao fazer isso, descobrimos que seria uma boa ideia viver junto, ou pelo menos mais próximo, a eles. Sendo assim, nos mudamos para perto da aldeia. Era bem próximo de Cacoal, então não perdi o contanto com o mundo da cidade que estava tão acostumada eretornei as minhas origens.
Não passo tanto tempo na aldeia quanto minha mãe, acho que estar junto com quem ela conhece desde criança a deixa feliz, muito feliz, então ela não gosta tanto de ficar na cidade. Na verdade, ela mora lá agora. Isso não me chateia, pois sei que ela me ama e eu a amo muito também. Vivemosfelizes.
Vivian Santos
Sabedoria
Era uma vez um indígena que tinha extrema dificuldade de escutar os mais velhos. Esse indígena, chamado Chock, achava que os mais velhos não sabiam viver na sociedade atual, muito pelo contrário, para ele os mais velhos não tinham nenhuma sabedoriaparacompartilhar.
Certo dia, os pais dele começaram a ficar muito doentes, tanto a mãe quanto o pai. Eles pegaram uma doença até então desconhecida para os indígenas.
Chock, por acreditar que os outros indígenas não conseguiriam ajudar seus pais, que não entendiam nada sobre as doenças atuais, não aceitava nenhuma intervenção do povo da aldeia, queria resolver tudo a seu modo. Queria buscar ajuda em outros lugares, mas não conseguia fazer nada sozinho.
Quando seus pais já estavam com o pé na cova, a beira da morte, o líder da aldeia interviu. Fez remédios com as plantas medicinais, usou a sua sabedoria e os curou.
A partir desse momento, Chock começou a dar valor aos conhecimentos e a sabedoria do seu povo.
Aimberê
A história do Pajé
Numa bela noite, enquanto o céu estava repleto de estrelas cintilantes, e a lua lançava sua luz suave sobre a aldeia, o Pajé reuniu todos de sua aldeia, disse que havia uma grande história a ser contada.
Num momento de nostalgia e total silêncio, ele começou a compartilhar suahistória, dizendo:
― Há muitos anos atrás, eu, Pajé Arauna, saí numa caçada a javalis.
E continuou a história...
Ele contou sobre a sua primeira caçada, na qual ele era muito jovem e que seu pai, também Pajé, era grande e forte, como um gorila.
― Nessa noite, eu estava com muito medo, mas, mesmo assim, consegui matar umjavali...
Ainda nessa história, Arauna disse que seu pai ensinou a ele tudo que sabe sobre caça. Essa foi a primeira experiência dele, depoisdessa muitas outras vieram.
No fim da história, Arauna relembra que a parte mais importante dessa história é a persistência, pois mesmo com medo ele conseguiu superar as dificuldades e concluir o que foi pedido a ele. Por isso, em outro dia, ele iria reuni-los novamente para passar todos os ensinamentos que recebeu de seu pai.
Raunai
A jornada de Zahy e a valorização da cultura indígena
Era uma vez uma aldeia, onde viviam os descendentes de uma antiga população de povos originários. Eles mantinham viva a cultura e tradições de seus ancestrais, transmitindo de geração em geração.
Um dia, uma jovem chamada Zahy Tentahar encontrou um livro antigo com o título “Parece que foi ontem” , escrito por Daniel Munduruku. Curiosa, ela começou a ler as páginas amareladas pelo tempo.
À medida que mergulhava na leitura, Zahy se encantava com as histórias e saberes compartilhados pelos autores. Ela aprendeu sobre a sabedoria ancestral dos indígenas, sua relação harmoniosa com a natureza e a importância da preservação das terras indígenas. Sentiu-se inspirada a compartilhar essas histórias com sua aldeia.
Zahy decidiu organizar um encontro na aldeia para contar as histórias do livro e discutir como poderiam aplicar aqueles ensinamentos em suas vidas. Os indígenas se reuniram em volta de uma grande fogueira, ansiosos para ouvir as palavras dela.
Enquanto contava as histórias, os indígenas se conectavam com suas raízes e reafirmavam sua identidade cultural. Sentiram-se fortalecidos ao perceberem que suas tradições não eram apenas lembranças do passado, mas algo vivo e presente em suasvidas.
A partir daquele encontro, os indígenas decidiram realizar mais atividades para valorizar as culturas indígenas e promover o diálogo com outros povos. Organizaram exposições de artesanato, palestras sobre a importância da preservação
ambiental e intercâmbioscom outras aldeias.
Com o tempo, a aldeia se tornou um exemplo de resistência e preservação cultural. As histórias dos indígenas foram compartilhadas não apenas entre eles, mas também com pessoas de outras regiões do país. Desse modo, o legado dos indígenas é reconhecido e respeitado, contribuindo para uma sociedade maisinclusivae consciente.
Assim, a história dos indígenas continua a ser contada e celebrada, mostrando que o passado está presente e que as tradições ancestrais são fundamentais para construir um futuro melhor para todos.
Jurema Karajá
Um mito e sobrevivências
Todas as noites o Pajé sentava-se numaroda, em volta de uma fogueira, com vários indígenas mirins. Ele contava histórias e passava seus conhecimentos para essas crianças.
Tudo sobre as suas culturas, formas de fazer as coisas e mitos eram ensinados nesses diálogos.
Numa certa noite, quando o Pajé disse que iria contar a história do Saci-Pererê, as crianças ficaram bastante assustadas. Elas pensaram que iriam escutar as histórias que eram contadas na escola, aquelas em que um menino negro, de uma perna só, travesso, fazcoisas erradas.
Porém, depois que o Pajé contou a verdadeira história do Saci, um indígena baixinho que tinha um cachimboe que usou os poderes de seu colar para ajudar uma garotinho indígena a recuperar seus movimentos e sair da cadeira de rodas, as crianças ficaram bastante surpresas e perceberam que essa história era bem diferente da que eles conheciam.
Nesse mesmo dia, o Pajé também falou que é preciso ter bastante cuidado na floresta, principalmente quando for caçar.
Sempre tem muitos animais extremamente perigosos e assustadores. Ele também passou informações preciosas sobre como viver.
Araponga
Memórias e sabedoria da teia infinita
Todas as noites, enquanto as estrelas piscavam no céu, o velho sábio compartilhava histórias dos tempos imemoriais, transportando as crianças para épocas distantes. Elas aprendiam que o silêncio dos velhos continha a essência de sabedoria e que nas tradições e no respeito ao saber do outro, encontravam seu verdadeiropertencimento.
Anos se passaram desde aqueles tempos, mas as memórias daqueles círculos sagrados permaneceram vivas, como tatuagens, na almadessas crianças, agora adultos.
Em momentos de solidão, as palavras daquele ancião ecoam lembrando que, apesar de estarem longe da aldeia, eles sempre estão ligados à teia infinita que conecta todas as coisas. E assim, eles encontram conforto nas lições atemporais do velhosábio,um suavemurmúrio na vastidão douniverso...
Essa era uma das histórias que meu avó sempre me contava antes de eu ir dormir. Ainda sinto falta dele me contando histórias da sua antiga aldeia.
Kamba’i Kayará
Parece que foi hoje
Parece que foi hoje, estávamos reunidos em volta de uma fogueira, (há 10 anos atrás), relembrando os tempos do “descobrimento” do Brasil, no ano de 1500, com a chegada dos portugueses.
Eles diziam ter descoberto as terras do território brasileiro, mas, na verdade, nós indígenas já habitávamos esse território. Já tínhamos tradições, culturas e famílias aqui.
Cada um com sua etnia, rotinas e, principalmente, sem poluição e sem o homem branco se achando o donoda nossa terra.
Os homens brancos trouxeram as armas e as manias deles, trouxeram cultura e religião, o que era muito bom para as terras começarem a expandir. E, assim foi feito.
Entretanto, os portugueses utilizaram o poder monetário e do fogo contra os nativos. Para a mão de obra, forçou indígenas e africanos a trabalharem até a exaustão. Isso foi o que aconteceu para que o território conhecido como Brasil fosse como é hoje.
Wayaré
Histórias do amanhã
Kaianan Waiãpi, filha de Thamilly e Kerumin, nascida na aldeia Kafumu, criada e educada como uma indígena desde que nasceu, até os dias de hoje, acorda bem cedo, treina seu corpo, toma café da manhã, estuda, ajuda a todos na aldeia. Quando vai à cidade, faz o que bem entende. Aos olhos das outras pessoas, é muito estranho e incomum uma indígena vagar pelas cidades usando roupas e fazendo coisas de “gente branca”.IssofazKaianan rir muito.
É claro que ela não gosta nem um pouco dos olhares e comentários que recebe, mas não deixa isso a afetar. Ela sabe o lugar dela: onde ela quiser.
Não é sempre que Kaianan recebe comentários maldosos, muito pelo contrário, ela recebe muitos elogios e perguntas de pessoas curiosas sobre o povo e a cultura dela. Geralmente, quando isso acontece, ela reúne as pessoas numa roda e ali
começa o momento mágico: a horada história.
Ela conta histórias antigas e recentes, histórias repassadas por seus antepassados e, principalmente, histórias sobre ela mesma. É nesse momento que sente orgulho de si e orgulho de seu povo. Ela se sente incrivelmente feliz ao compartilhar um pouco de seu dia a dia, da cultura de seu povo, mesmo queseja apenas através das histórias.
Kaianan tem o sonho de ser médica, ela estuda muito para isso, mas também sonha em ser escritora, que estranho, não?
Não para ela. Ao mesmo tempo que é uma guerreira, é também uma estudante. Ao mesmo tempo que é uma colega de classe, é uma filha, uma irmã. Nada a impede de realizar seus
sonhos. Assim como “pessoas brancas”, ela é gente como a gente. Kaianan pode mostrar a todos a sua vida incrível na aldeia e suasabedoria aoajudar os outros. Hoje ela é apenas uma estudante com muito potencial, amanhã pode ser escritora, médica, advogada, quem sabe... O amanhã pode ser tudo para Kaianan.
Cauê Guarapuava
Caminhos de descoberta: uma aventura pelos saberes indígenas
Tudo começa quando uma jovem adolescente tem um sonho com sua história de desenho favorita, Pocahontas. Ela parecia estar tão feliz no sonho que, ao acordar, despertou nela também um interesse em conhecer a cultura dessa personagem.
Por coincidência, ou não, a escola onde ela estudava estava preparando um projeto para conhecer várias culturas indígenas. Quando soube disso, ficou tão ansiosa que contava os minutos para esse diachegar.
Quando chegou o tão esperado dia. Logo de manhã, ela preparou suas coisas e foi toda felizpara a escola.
Uma das pessoas que iria ajudar no passeio estava distribuindo livros indígenas para os alunos, um para cada aluno, com histórias diferentes. Quando entregaram para ela, recebeu o livro: “Parece que foi ontem”, de Daniel Munduruku. No momento em que recebeu ela já iniciou a leitura, leu em uma velocidade impressionante.
Assim que chegaram ao local, foram recebidos pelos povos indígenas daquele lugar. Eles contaram histórias, fizeram danças e muito mais. Além disso, também trouxeram comida nativa para os alunos experimentarem. O dia passou bem rápido, mas no final a jovem adolescente ficou extremamente felizem conhecer uma cultura nova.
Matoaka
O sábio
Dentro de certa aldeia existia um sábio cacique. Todos paravam para ouvir suas histórias, crianças e adultos, recebiam seus ensinamentos através dos contos.
Quando cheguei a essa aldeia, lembro-me de que fui recebida com olhares desconfiados. Muitos não aprovaram que uma descendente distante entrasse em sua aldeia. Porém, mesmo com muita rejeição, resolvi ignorar e continuar minha jornada em busca de conhecer meus ancestrais.
Alguns indígenas mais jovens me acolheram e, com paciência, me mostraram sua cultura e seu dia a dia. Não fui muito acolhida pelos mais velhos, mas, mesmo assim, me alimentaram e mostraram as tradições.
Certo dia, Kapusu, um amigo que fiz, disse que o cacique ia contar algumas histórias na fogueira. Fiquei animada, essa seria uma ótima oportunidade de ouvir sobre as histórias de meus ancestrais.
Chegou a hora. Crianças, jovens e adultos sentaram-se ao redor de uma grande fogueira. Atentos, todos estavam prestando atenção às histórias que um senhor, com um cigarro de palha da árvore tauarina boca, estava contando.
O som que ecoava da mata, feito pelas árvores, pelo vento e pelos animais da noite, fazia parte daquela noite estrelada.
Os olhos permaneceram vidrados durante todo o tempo em uma só pessoa, naquele velho cacique. Os ouvidos ficaram atentos e, por fim, o sábio, prestes a se levantar, deixa seu último ensinamentodo dia.
― Os velhos são sábios, não porque ensinam através de
palavras, mas porque sabem silenciar, e no silêncio mora a sabedoria. ― Disse o cacique, apagando o cigarro no chão, próximo ao seu pé.
Fiquei admirando como todos o respeitavam, apreciavam suas histórias e refletiam sobre seus ensinamentos. Pude ver como ele era sábio. Tive a oportunidade de receber esses ensinamentos deperto.
Tempos depois voltei para minha casa, só me restavam as lembranças.
Hoje este sábio cacique não está mais entre nós, mas seus ensinamentos ficaram marcados em nossas memórias, como tatuagens em nossas peles.
Mayara
Uma aventura com Tainá
Em uma pequena aldeia, no coração da floresta amazônica, vivia uma comunidade indígena. Nessa aldeia havia um velho sábio chamado Tainá, que adorava contar histórias para as crianças.
Um dia Tainá decidiu compartilhar com os jovens a narrativa chamada “Parece que foi ontem”. Ele começou a contar sobre dois amigos inseparáveis, Juk e Aco’i, que cresceram juntos naaldeia.
Juk era um menino curioso e aventureiro, sempre em busca de novas descobertas na floresta. Aco'i, por outro lado, era mais tranquilo e observador, vivia apreciando a beleza da natureza ao seu redor.
Os dois amigos passavam horas explorando a floresta juntos, aprendendo sobre as plantas medicinais e os segredos da fauna local. Eles compartilhavam risadas e histórias enquanto caminhavam pelos caminhos conhecidos apenas por eles.
À medida que cresciam, Juk e Aco'i, começaram a se envolver mais nas atividades da aldeia. Juk mostrou interesse na arte da cerâmica e começou a moldar belas peças de argila.
Aco'i descobriu sua paixão pela música e aprendeu a tocar instrumentos indígenas tradicionais.
Anos se passaram e os dois amigos seguiram caminhos diferentes. Juk tornou-se um renomado ceramista, exibindo suas obras em exposições ao redor do mundo. Aco'i formou uma banda com outros músicos talentosos e viajou pelo país, compartilhando a músicaindígena com um públicodiversificado.
Apesar das suas realizações individuais, Juk e Aco'i
nunca se esqueceram de sua amizade e das aventuras que viveram juntos na floresta. Eles sempre encontravam tempo para se reunir na aldeia, relembrar as histórias antigas e criar novas memórias.
A narrativa de Tainá encantou as crianças da aldeia, que se inspiraram na história de Juk e Aco'i. Elas aprenderam que a amizade verdadeira pode resistir ao tempo e às distâncias, e que cada um pode seguir seu próprio caminho e, ainda assim, valorizar as raízes e as culturas compartilhadas.
Assim, a pequena aldeia continuou a florescer com histórias de amizade, coragem e respeito pela natureza. E a narrativa “Parece que foi ontem” tornou-se uma parte importante do legado cultural da comunidade indígena, transmitidade geração em geração.
Flora
A roda do fogo
O fogo fica mais “raivoso” liberando várias faíscas. O vento soprando-o suavemente, vem inspirando e trazendo histórias do fundo da memória. Waiury entra na roda, tem pegadas suaves, parece não deixar rastros. Os elementos da natureza ficam animados. Então ele começa a narrar os contos.
Todos ao redor da fogueira ficam vidrados em suas palavras, seus olhos brilham como a lua no céu. As crianças respiram suave como o vento que paira em volta da fogueira. A água do rio que corre ao lado da roda fica agitada como se estivessedançando.
Enquanto Waiury joga fumaça sobre as cabeças das pessoas, um cheiro maravilhoso se espalha pelo terreiro. Todos levantam e, de mãos dadas, iniciam um bailado harmônico e preciso. Depois, soltos, dançam e festejam ao redor daquele lindo fogo agitado, todos estão muito animados e Waiury dança com o povo como se nãohouvesse amanhã.
Depois de várias horas naquela animação e alegria, os indígenas ficam fadigados, mas nem todos querem ir embora, pois a energia do ambiente está maravilhosa. Algumas crianças acabam dormindo sobre as madeiras e as folhas das palmeiras. Em um sono profundo, elas sonham como se estivessem nas nuvens, chega suspiram de cansaço.
Horas depois, todos se reúnem para finalizar o que começaram. Limpam o que tinha deixado pelo caminho, pegam as crianças que estavam dormindo e se despedem da roda do fogo. Voltam para suas casas com um sorriso enorme de alegria como se esse fosse oúltimo de suas vidas.
Rudá
Numa manhã de quinta-feira
Os indígenas da aldeia Munduruku e Kapusu Aco’i Juk têm um compromisso inadiável. Eles precisam se sentar em uma roda, em volta dafogueira, para ouvir os anciõesda aldeia. Esses velhos sábios tem muito a ensinar. Eles contam histórias sobre seu povo, sobre o mundo, sobre a floresta, mas não apenas isso, também narram histórias que fazem todos viajarem pelouniversodesconhecido paralelo.
Através das histórias dos anciões também é possível conhecer muitas culturas, povos e mundos diferentes. Quando as histórias terminam, todos saem de volta da fogueira realizados.
Thamuraí
A curiosa vida de uma Makuna
Havia uma indígena chamada Ana Makuna, ela odiava a sua aldeia, seu sonho era ir para a cidadegrande.
Certo dia, Ana estava caçando à noite, sozinha, quando começou a escutar algumas vozes chamando-a e dizendo: ― Vamos, cheque mais perto. Vamos!
Ana, cheia de curiosidade e medo, foi chegando perto das vozes e, sem perceber, caiu em buraco escuro. De repente, dentro do buraco, apareceu um cacique que ela nunca tinha visto, alguém que ela não conhecia. Ele estava sentado em volta de uma fogueira. Sem pensar muito, a indígena sentou-se ao lado dele. Logo após isso, o cacique começou a contar muitas histórias, mitos e lendassobrea aldeia de Ana Makuna.
Enquanto o cacique contava as histórias, Ana teve vontade de conhecer mais sobre seu povo, ficou muito interessada, principalmente porque quanto mais o velho falava mais o fogo da fogueira ficava forte.Parecia magia.
Horas depois, Ana Makuna acordou no meio do floresta, o dia já estava claro, todos da aldeia estavam atrás dela. Ela estava bem e voltou para casa, sem dar muita explicação, pois nem ela entendia o que tinha acontecido.
Quem convivia com Ana percebeu que ela parecia estar diferente. Para ela, a aldeia já não era tão feia assim, porém ela ainda tinha o sonho de ir para a cidade grande.
O tempo passou e Ana Makuna, filha do cacique, ficou mais velha e foi para a cidade grande. Lá começou a escrever sobre sua vida na aldeia. Seus livros ficaram mundialmente conhecidos.
Mesmo com o passar do tempo, ela nunca esqueceu o cacique desconhecido que mostrou o lado interessante da sua amada aldeia.
TymissaKunama
O indígena e a onça-pintada
Há muitos anos, em uma aldeia, situada no coração da Floresta amazônica, vivia um jovem chamado Kaimi. Ele passava os dias explorando a selva, aprendendo com os anciões e ajudando seu povo asobreviver.
Um dia, enquanto caçava, ele encontrou um filhote de onça-pintada ferido. Levou-o para casa e cuidou dele. Fez remédios com as plantas medicinais, deu muita atenção a esse animal, até o dia em que ele se recuperou totalmente e pôde retornar para sua vida selvagem.
A notícia de sua ação se espalhou pela comunidade. Os anciões ficaram impressionados com a habilidade de Kaimi em compreender os segredos das plantas e dos animais. Eles perceberam que esse guardião da vida dos seres da floresta tinha muito a ensinar sobre como compreender a necessidade de um animal e os benefícios das plantas. Além disso, agir com responsabilidade e humildade.
Depois desse ocorrido, ele passou a ensinar para os outros indígenas todas as suas habilidades. Desse modo, além dele, todos podiam ajudar na preservação dos seres da floresta.
Com o tempo, Kaimi se tornou um líder respeitado e continuava a ensinar às gerações futuras a importância de viver emharmonia com aterra e com todos os seres vivos.
Sua história se tornou um legado de preservação e respeito. Seu povo prosperou, graças à sua sabedoria e amor pela natureza.
Yanopogo Kasupu