22/4/2014
Estudo do Ipea que diz que mulher merece ser estuprada tem falha metodológica, dizem especialistas - Notícias - R7 Cidades
3/4/2014 às 00h15 (Atualizado em 4/4/2014 às 18h24)
Estudo do Ipea que diz que mulher merece ser estuprada tem falha metodológica, dizem especialistas Amostra do levantamento e perguntas mal formuladas foram os pontos mais criticados Ivan Martínez, especial para o R7
A pesquisa de percepção sobre a violência contra a mulher divulgada recentemente pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) gerou grande repercussão ao concluir, por exemplo, que 63% dos brasileiros concordavam com a frase “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Em reação aos resultados do estudo, ganhou força nas redes sociais o movimento Não Mereço ser Estuprada, em que mulheres posam em fotos sem roupa ou seminuas com cartazes de protesto contra a violência sofrida por mulheres no Brasil. Até mesmo celebridades como Valesca Popozuda e Geisy Arruda aderiram à campanha. Mas, segundo especialistas ouvidos pelo R7, o levantamento do Ipea tem uma série de problemas na sua realização e não reflete, necessariamente, o pensamento do brasileiro médio. Ipea admite erro em pesquisa e diz que 70% discordam que mulher tem culpa por estupro Leia mais notícias de Cidades Para o economista Adolfo Sachsida, que já trabalhou na realização desse tipo de estudo para o Ipea, o primeiro e mais grave dos problemas é a amostra da pesquisa. O instituto ouviu 3810 pessoas em todo o Brasil, 66,5% dessas, mulheres, 15 pontos percentuais a mais do que a proporção de mulheres na população geral, de acordo com o último censo, realizado em 2010 pelo IBGE. Pesquisa provocou reação na internet Repr odução/Facebook
— Essa amostra não pode ser usada para fazer inferências para a população brasileira porque ela não tem as características da população brasileira. Isso aconteceu com a pesquisa porque foram entrevistadas pessoas que estavam
em suas casas em horário comercial. O economista Marcos Fernandes, da FGV (Fundação Getulio Vargas), questiona também a formulação de boa parte das perguntas da pesquisa. Para ele, o levantamento do Ipea tem valor ao estudar a percepção da violência, mas não tem valor científico. Segundo ele, é um erro aferir a opinião das pessoas usando ditos populares como “a roupa suja deve ser lavada em casa”, afirmação com a qual 89% dos entrevistados concordaram e “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, com 82% de aprovação entre os ouvidos pelo Ipea. — Quando você pergunta se a pessoa concorda que em briga de marido e mulher não se mete a colher, não está sendo específico, é um dito popular. A pessoa dizer sim não significa que não denunciaria se o homem espanca a mulher. Existem problemas na formulação das perguntas que podem enviesar a resposta. No caso da pergunta que motivou a campanha Não Mereço Ser estuprada, Fernandes afirma que não é possível afirmar que, de fato 65,1% dos entrevistados defendam que mulheres que usam roupas curtas devam ser estupradas. “O termo usado na pergunta, o “atacadas”, também gera margem para outras interpretações.” http://noticias.r7.com/cidades/estudo-do-ipea-que-diz-que-mulher-merece-ser-estuprada-tem-falha-metodologica-dizem-especialistas-04042014
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