revista Oiticica - A Pureza É um Mito

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Objeto de madeirite Entre, de Amália Giacomini, 2006-2008 | foto: arquivo da artista

Magic Square N. 5 – De Luxe, 1978, de Hélio Oiticica | Foto: André Mantelli/Acervo Instituto Inhotim

Depois de ter estabelecido, pela primeira vez, uma aproximação entre Lucio Costa e Hélio Oiticica, por meio do projeto para o pavilhão do Brasil na Trienal de Milão de 1964 – Riposatevi – e da Tropicália (1967), permaneci instigado a especular outras conexões entre os dois, justamente porque eles sempre são tomados em campos distintos e com problematizações próprias. Ocorre que, além da rede de dormir, do uso sensível das texturas, da preocupação com a materialidade das obras, do tratamento das superfícies e do chão, da organização das ambiências, do uso dos dispositivos ou valores da cultura de massa, a questão da participação e da ação sobre o espaço e da ação no espaço pode emergir como um novo nexo entre Lucio Costa e Hélio Oiticica. Enquanto para Hélio Oiticica o corpo se revela como vetor experimental da existência da obra no espaço, para Lucio Costa o corpo se revigora por meio da ação de caminhar para viver o espaço. Mais do que cumprir a expectativa do passeio modernista, da deambulação como fator conceitual para a concepção do projeto, Lucio Costa toma esse valor e articula a percepção de seu espaço urbano mais importante – Brasília, nossa capital – justamente por meio da percepção que o corpo em movimento pode proporcionar. Embora Brasília permaneça sendo ainda hoje estigmatizada como uma “cidade para o automóvel” – como se isso fosse exclusivo dela –, o Plano Piloto da cidade revela-se como ambiência, como paisagem urbana e como lugar, mais intensamente para aquele que caminha.

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