Arte, necessidade vital & arte, fluido vital. Mais de 70 anos unem e separam essas duas frases. Ainda que a convergência de ambas tenha como âncora o Museu de Imagens do Inconsciente (MII); no arco temporal entre 1947 e 2017, lá e cá, os estados contextuais das
A R T E , N E C E S S I DA D E V I TA L & A R T E , F LU I D O V I TA L
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MICHELLE SOMMER
produções artísticas modernas e contemporâneas são distintos.
Arte, Necessidade Vital é o título da conferência pronunciada por Mário Pedrosa (1900-1981) na ocasião do encerramento da exposição de pintura dos pacientes do Hospital Psiquiátrico de Engenho de Dentro, realizada em 1947, no salão do Ministério de Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, e publicada no mês seguinte no jornal Correio da Manhã. “Arte, fluido vital” é uma frase dita por um cliente – para utilizar o termo de Nise da Silveira (1905-1999) ao referir-se aos pacientes do hospital – que escutei enquanto uma tela era pintada entre os corredores adjacentes da exposição Museu Vivo, em cartaz no MII, em setembro de 2017, para comemorar os 70 anos dos ateliês do museu, suas principais coleções e a produção atual. Lá, em 1947, no contexto do moderno, Mário Pedrosa impulsionou a discussão para uma arte não reduzida a um fato histórico submetido a adaptações e distorções temporais, mas expandida a uma “necessidade vital” que residiria na condição absoluta de todo ser vivo. Naquilo que designou como “arte virgem” – na qual incorporou a arte das crianças, a arte dos pacientes psiquiátricos e a arte popular – estaria uma produção duplamente avessa: tanto às operações industriais capitalistas que restringiriam os artistas à condição de “bichos-da-seda da produção em massa” quanto às vertentes tradicionais plásticas modernas.