Observatório 21 - Política, Transformações Econômicas e Identidades Culturais

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OBSERVATÓRIO ITAÚ CULTURAL

destes em prol da abolição da escravatura. eterna proscrição ou invisibilidade em sua Trata-se de criatividade e liberdade, inven- própria sociedade como no século XIX Retividade e criação artística, mudança social bouças, e no século XX o bailarino Ismael e revolta tecnológica. Ivo, o músico Nana Vasconcelos, o compoAs tarefas de uma intelectualidade sitor ­Moacyr ­Santos, o sociólogo Guerreiro negra contemporânea politicamente com- Ramos e o performer e compositor Satranga prometida são urgentes e variadas. Ainda de Lima e sua poética homoafetiva. estamos por mapear e considerar histórica Acima de tudo, devemos nos preparar e culturalmente como válidos os indícios melhor para receber verdadeiros bombardeixados pelos viajantes baianos e flumi- deios supostamente fraternos e interraciais nenses que faziam comércio de todos os lados, como no de artigos religiosos entre Rio Podemos também passado receberam Guerreide Janeiro-Salvador e Golfo preparar nosso espírito ro Ramos, Abdias e Maria do Benim nos séculos XIX e e sensibilidade para Nascimento, do grupo ligado suportar a leitura labial XX. Como também podemos ao sociólogo Luis Aguiar da interpretar as relações, visi- de feições vincadas Costa Pinto37. Ou estarmos pela perda, distância e tas e correspondências duatentos também aos embaradouras de ativistas negrxs profunda melancolia, tes profundamente desiguais, vozes plasmadas por brasileirxs de São Paulo e Rio como aqueles travados pelos lábios, textos e criações de Janeiro, por exemplo, do membros da Frente Negra artísticas e intelectuais de poeta cubano Nicolas Guil- homens e mulheres negras Brasileira contra a intelectualén com membros da Frente enviados para outros lidade paternalista e racista Negra Brasileira, da bailari- exílios, novas diásporas. dos anos 193038. Ou ainda na estadunidense Katherine aquela travada por Peter Fry Dunhan com os ativistas do Teatro Experi- nos anos 1970 contra os ativistas, fundadores mental do Negro, e os constantes laços do do Movimento Negro Unificado em São Pauprofessor e coreógrafo estadunidense-baiano lo, por ocasião de sua pesquisa sobre Cafundó Cleyde Morgan com a geração de Firmino ao lado de Carlos Vogt e ­Robert Slenes39. Pitanga e Mário Gusmão, a partir de Salvador Nossa questão aqui é pensar: Como desde a década de 1970. ativistas e intelectuais, artistas e criadores Podemos também preparar nosso es- culturais negrxs têm experimentado e inpírito e sensibilidade para suportar a lei- terpretado esse modernismo reacionário no tura labial de feições vincadas pela perda, Brasil? Em tudo vamos desconstruindo ou distância e profunda melancolia, vozes parcialmente confirmando percepções mais plasmadas por lábios, textos e criações ar- ou menos conflitantes sobre a presença netísticas e intelectuais de homens e mulheres gra em São Paulo. negras enviados para outros exílios, novas Florestan Fernandes (2010) fez uma diásporas. Diásporas negras autoimpostas, trajetória acadêmica e política admiravelou não, emigração a ter que viver a dor da mente comprometida com a desconstrução


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