Maio, 2015
Ocupação Dona Ivone Lara
O bordado dos encontros 1a
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Silas de Oliveira Apelidado de Viga Mestra do Império Serrano, nasceu em Vaz Lobo, na região de Madureira. Negro, esguio e calado, o filho de um pastor protestante (para quem samba era coisa do demônio) foi levado às rodas do Prazer da Serrinha pelo filho do presidente da escola, Oscar Costa. Considerado o maior compositor de samba-enredo de todos os tempos, Silas viveu o seu auge entre 1964 e 1969, ao compor “Aquarela Brasileira” (1964), “Glória e Graça da Bahia” (1966), “São Paulo, Chapadão de Glórias” (1967), “Pernambuco, Leão do Norte” (1968) e “Heróis da Liberdade” (1969). Em 1965, ele e Dona Ivone Lara se tornaram parceiros quando ela ajudou Silas e Antônio Bacalhau a terminar o consagrado “Os Cinco Bailes da História do Rio”.
Décio Antônio Carlos (Mano Décio da Viola) Outro gigante da história do samba-enredo, foi um dos nomes mais importantes da Serrinha e do Império Serrano. Assim como Silas, compôs inúmeros sambas de terreiro. As suas parcerias com Ivone Lara, “Sem Cavaco, Não” e “Agradeço a Deus”, têm grande valor na trajetória da compositora e são as primeiras músicas gravadas pela artista em um disco, Sargentelli e o Sambão – Ao Vivo – o Botequim da Pesada, em 1970.
Antônio dos Santos (Mestre Fuleiro) Primo de Dona Ivone, ficou conhecido como Fuleiro, apelido que ganhou na infância, em peladas de futebol no subúrbio carioca. Estivador do cais do Rio de Janeiro e grande pandeirista, foi o primeiro diretor de harmonia do Império Serrano, função que recebeu das mãos de Delfino Coelho, diretor do mesmo cargo no Prazer da Serrinha. Além de “Tiê” (Ivone Lara/Hélio/Fuleiro), Ivone gravou outros sambas do primo, como “Por Querer Liberdade” e “Vejo em Teus Lábios Risos”.
Hélio dos Santos (Tio Hélio) Irmão de Mestre Fuleiro e também primo de Ivone. Quando a prima tinha apenas 12 anos, ele e Fuleiro compuseram com ela aquela que se tornaria uma das canções mais famosas da carreira da artista, o partido-alto “Tiê”, em homenagem ao pássaro tiê-sangue, que fazia as vezes de uma boneca para a menina de origem simples. Compositor muito respeitado, Hélio é autor de outros sambas gravados por Ivone, entre eles os clássicos “Prazer da Serrinha” e “Cantei Só pra Distrair”.
Nelson Sargento Nascido em 1924, o autor do clássico “Agoniza, mas Não Morre” serviu o Exército, em que conquistou alta patente e o sobrenome artístico. Um dos patrimônios da Estação Primeira de Mangueira, é contemporâneo de Dona Ivone Lara, mas só se tornaram parceiros em 2001, quando ela gravou o samba “Nas Asas da Canção”, feito pelos dois. Onze anos depois, no disco Baú da Dona Ivone, Nelson interpretou “Vento da Tarde” (Ivone/Delcio Carvalho/André Lara). Na introdução, ele mesmo dimensionou a importância da compositora: “Se a música tivesse forma humana, seria Dona Ivone Lara”.
Jorge Aragão
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Delcio Carvalho Ao longo de toda a carreira, Dona Ivone gravou 63 composições (contando regravações) com Delcio Carvalho, o seu parceiro mais importante. Os dois fizeram a primeira canção juntos em 1972, “Derradeira Melodia”, no dia da morte de Silas de Oliveira. Ao lado do compositor nascido em Campos dos Goytacazes (RJ), Ivone conseguiu sucessos como “Sonho Meu”, “Acreditar”, “Liberdade”, “Alvorecer”, “Nasci pra Sonhar e Cantar” e “Candeeiro da Vovó”. A afinidade musical com Delcio, um dos maiores letristas da música brasileira, era tamanha que ele definia o encontro dos dois como uma “parceria mediúnica”.
Hermínio Bello de Carvalho O encontro entre Dona Ivone e esse poeta da música brasileira se deu na década de 1980, quando os dois já eram consagrados. Ela gozava de enorme sucesso nacional, e ele também com trabalhos ao lado de Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Clementina de Jesus, entre outros nomes. A primeira parceria dos dois, “Unhas”, de 1981, não chamou muita atenção. Logo depois, compuseram um dos clássicos da carreira de Ivone, “Mas Quem Disse que Eu Te Esqueço”, com gravação antológica de Paulinho da Viola no disco Prisma Luminoso, de 1983.
Nei Lopes Poeta do primeiro escalão da música nacional e uma das maiores autoridades em cultura afro-brasileira, fez poucos mas brilhantes sambas com Dona Ivone. A parceria dos dois se deu na década de 1970, quando ele gravou a compositora solfejando algumas melodias, com o auxílio do cavaquinho. Anos depois, Nei fez letras para aquelas melodias de Ivone, criando assim canções como “Outra Vez” e “Felicidade Segundo Eu”, samba que teve gravação primorosa de Elizeth Cardoso, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Ivone Lara e Sereno. Nei ainda é autor de uma das mais belas homenagens musicais à artista, “Senhora da Canção”.
Caetano Veloso No disco Baú da Dona Ivone, lançado em 2012, Caetano Veloso declarou à autora de “Sonho Meu”: “Dona Ivone Lara, a coisa mais linda do Brasil”. Caetano, que gravara “Alguém Me Avisou” (Ivone Lara) ao lado de Maria Bethânia e Gilberto Gil em 1980, nutria grande admiração pela compositora desde 1965. Naquele ano, o músico viu o seu primeiro Carnaval no Rio de Janeiro e se emocionou com “Os Cinco Bailes da História do Rio”, de Ivone. Ele e a artista viriam a compor apenas nos anos 1980. Na época, Beth Carvalho preparava um disco e sonhou com uma composição feita pelos dois, que toparam a ideia e fizeram “Força da Imaginação”.
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O encontro se deu em uma das idas da primeira-dama do samba à quadra do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, berço do grupo Fundo de Quintal, do qual Aragão fazia parte. A parceria entre os dois rendeu pouquíssimos sambas, mas com resultados exuberantes. Na década de 1980, a dupla escreveu dois clássicos da música brasileira: “Tendência” e “Enredo do Meu Samba”, tema de abertura da novela Partido Alto, de 1984, na voz de Sandra de Sá.
Arlindo Cruz Cria do Império Serrano, foi extremamente influenciado pelas melodias de Dona Ivone Lara desde a infância. Ex-integrante do Fundo de Quintal, tornou-se parceiro da compositora em 1985, quando fizeram com Sombrinha “Não Fique a se Torturar”, gravado no LP Ivone Lara, de 1985. Dois anos antes, ele e um parceiro cavaquinista gravaram pelo Fundo de Quintal a homenagem musical mais bonita já feita a Dona Ivone, o samba “Canto de Rainha”.
Montgomery Ferreira Nunis (Sombrinha) Nascido em São Vicente (SP), é autor de “Canto de Rainha” e “Não Fique a se Torturar”. Ao longo dos anos, ele e Ivone deram prosseguimento à parceria e escreveram sambas como “Essência de um Grande Amor” e “Receio o Amor”, além de ele ter gravado “Não Me Maltrata”, de Ivone Lara e Bruno Castro, no disco Baú da Dona Ivone, em 2012.
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Bruno Castro Nascido em 1973, portanto 51 anos depois de Dona Ivone Lara, tornou-se o último parceiro mais constante da sambista. No fim dos anos 1990, substituiu o cavaquinista Maurício Verde, que estava com a agenda cheia de compromissos com outros artistas, e passou a integrar o grupo de Dona Ivone como instrumentista. Aos poucos, passou a frequentar a casa da compositora para acompanhar com um instrumento harmônico – o cavaco – o processo de composição de Ivone e Delcio Carvalho. Anos depois, começaram a compor juntos e a artista foi gravando alguns temas da nova parceria. O ápice se deu em 2010, quando lançaram juntos o disco Nas Escritas da Vida, com 12 composições da dupla.
André Lara Neto de Dona Ivone, teve contato com a música da avó desde o berço. Além de cantar e tocar cavaquinho e banjo, tornou-se parceiro de Ivone nos anos 2000, com sambas como “Investida Fatal”, “Luta Imperiana” (ambos com Bruno Castro), “Vento da Tarde” e “Sombras na Parede”, feitos com a avó e com Delcio Carvalho.
“Espelho da Vida” O encanto que traz o desejo de amar/São lições que aprendi vendo o mar.
“Enredo do Meu Samba” Agora sei/Desfilei sob aplausos da ilusão/E hoje tenho esse samba de amor, por comissão.
Carregando os seus ancestrais, Ivone seguiu tecendo tramas com os companheiros que cruzaram o seu caminho, bordando novas rodas