Ocupação Conceição Evaristo

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Pensando nas histórias de mulheres que carrego comigo, lembrei-me de Celina Bragança, que há dez anos numa formação perguntou: “Por que as pessoas escrevem?”. Em meio a diversas hipóteses levantadas, a resposta dela foi simples: “Nós escrevemos para sermos maiores que o tempo e o espaço”. Essa fala me atravessou e me atravessa até hoje. Hoje conheço e reverencio a importância dos passos que vêm de longe, muito longe e agora são registros de memória e vida que renascem para a continuidade. Somos e seremos maiores que o tempo e o espaço! Certo como o cheiro de feijão de minha mãe, nosso

(re)encontro não é mero acaso, é um legado trazido na travessia, uma determinação incansável de nos fazer resistir para existir, embora haja o cansaço, embora a solidão se

faça presente, embora o sol não venha nos acalentar, embora o silêncio pareça ausência e o tempo siga seu curso, sem responder os porquês. É uma dádiva ter o privilégio de ler e ouvir umas às outras. A sagacidade, o despertar e a dança dos movimentos são estratégias que funcionam melhor quando a gente se olha, se reconhece e celebra a nós. Quando isso acontece, muita força se movimenta no universo e criamos nossa própria atmosfera de modo que presente, passado e futuro são religados.


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