Capiba fez também maracatus e choros, Nem sempre frevos.Teve músicas gravadas por Chico Buarque, Maria Bethânia, Nelson Gonçalves e João Gilberto, além de Junio Barreto e Maria Rita.
Aceleração e desaceleração musical é a proposta do show
As “fitas de rolo” com gravações de poemas e músicas e narrações de jogos de futebol
dos, famílias, catadores de latas, pescadores de mangues e crianças de todas as idades. Essa história começa ainda no período colonial, num momento em que assalariados e escravos não eram exatamente bem-vindos às festas carnavalescas, reservadas apenas à burguesia. A partir de 1870, no entanto, começaram a chegar na Zona da Mata de Pernambuco – região de solo fértil onde crescia (e ainda cresce) a cana-de-açúcar, então principal produto da economia do estado – novas tecnologias agrícolas que substituíram a mão de obra. Por outro lado, o Recife, que via crescer uma indústria têxtil e de produção de bens de consumo, atraía trabalhadores, em sua maioria negros ou mulatos. Eles eram operários da cana, habituados ao trabalho manual e artesanal, que migravam para a cidade e começavam a se organizar em categorias cada vez mais atentas a seus direitos.
Juntou-se a esse momento o fato de existirem grupos chamados de capoeiras – o nome derivava do jogo capoeira, que eles gostavam de brincar quando saiam às ruas. Durante o Carnaval, com movimentos firmes, os capoeiras abriam alas e faziam a defesa das bandas, que por sua vez eram acompanhadas pelo povo da rua ou do mangue, que se sentia contagiado quando um clube ou bloco passava – muito embora não fossem convidados a participar da festa.
Barbosa, era orquestrador, arranjador, professor, clarinetista, violinista e maestro de banda, como consta na coletânea Compositores Pernambucanos, 100 Anos de História, organizada por Renato Phaelante (Cepe Editora, 2010). Refinou canções de frevo de bloco e de rua, sutis derivações do ritmo, e trouxe poesia. Hoje, não há um carnavalesco que, estando nas ruas do Recife, não entoe Madeira que Cupim Não Rói nos dias de Momo [festa de Carnaval].
Eram essas pessoas, como escreveu Rita de Cássia, que ao longo dos anos incorporavam o ritmo vibrante das músicas, ao mesmo tempo que faziam surgir os passos de um novo estilo musical, até então em construção. Os movimentos eram feitos individualmente, com traços de agressividade, uma forma de domínio de espaço – e também de defesa. “Os movimentos ágeis e definidos dos corpos, por sua vez, retornavam aos músicos e inspiravam novos acordes, num processo incessante de troca, improvisação e criação coletivas.” E assim foi nascendo o frevo. “Quando menos se viu, a música tinha ganhado, ano a ano, características próprias, inconfundíveis e, do mesmo modo, a dança, que já não se parecia com nenhuma outra”, sentenciou Valdemar de Oliveira.
Capiba fez também maracatus e choros, nem sempre frevos. Reuniu, portanto, um vasto repertório. Teve músicas gravadas por Chico Buarque, Maria Bethânia, Nelson Gonçalves e João Gilberto, além de Junio Barreto e Maria Rita. Os manuscritos, as partituras, as fotografias e todos os objetos que contam essa história revelam quem foi esse artista. Alguém que compôs músicas que representam um lugar e seguem sob a guarda de Zezita. À frente da Associação Cultural Capiba, ela se articula para que o acervo seja inventariado e ganhe um destino onde seja possível a consulta pública. Por ora, Zezita espanta os gatos e mantém limpos e iluminados os dois cômodos de sua nova casa. Lá, onde as coisas do marido se misturam às suas, se entrelaçam e cruzam o tempo para chegar até nós.
Filho de músico, Capiba escreveu as notas dessa história. Seu pai, Severino Anastásio de Souza
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As festas populares, como o Carnaval, celebradas em momentos de pausa das obrigações e ocupações diárias, não eram antítese do trabalho ou a negação do cotidiano. “Emergiam das práticas e das relações que os indivíduos estabeleciam em seu próprio lidar durante o dia”, escreveu Rita de Cássia Barbosa de Araújo em seu livro Festas: Máscaras do Tempo: Entrudo, Mascarada e Frevo no Carnaval do Recife (Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 1996).
O piano decorado com a bandeira do time de coração de Capiba, o Santa Cruz