Primeiro texto abril 2016 - Unisanta

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SANTOS ABRIL 2016

Primeiro Texto Jornal Laboratório do 3° semestre de Jornalismo da FaAC Universidade Santa Cecília

educação

Estágio, oportunidade com responsabilidade O estágio é importante ferramenta para a vida acadêmica, mas alguns cuidados devem ser tomados

FÁBIO PERES

Fábio Peres O começo da vida acadêmica é, para muitos, o início da vida profissional. A tendência é que grande parte dos alunos já comece a se preocupar com a prática da profissão escolhida. Ainda que cercado de laboratórios e de atividades que simulem o dia a dia do ofício, nada substitui o contato com o mundo real. E isso mora no imaginário de quase todo estudante nos corredores das faculdades, já que um bom estágio é privilégio para poucos. Diante dessa realidade, em 2008 foi promulgada a Lei 11.788, que define o estágio como “o ato educativo escolar que seja supervisionado pela instituição de ensino, desde que desenvolvido no ambiente de trabalho, visando a preparação do estagiário para a vida profissional futura”. Essa lei foi editada com o intuito de cobrir uma série de lacunas deixadas pela legislação antiga, de 1977, que causava desde pequenas fraudes até vínculos empregatícios mascarados. Os estagiários acabavam quase sempre se tornando auxiliares administrativos: os famosos meninos e meninas da xerox. Com a conjuntura econômica do novo milênio, o estágio virou febre entre as empresas, que mesmo sob a égide da nova lei, deturpam a verdadeira finalidade do processo incorrendo em dois problemas: não recolher os impostos devidos e não pagar o salário-base legal para cada atividade profissional. O estágio não caracteriza vínculo empregatício e por isso mesmo não deve ter ares de emprego. É uma extensão prática da sala de aula, onde o orientado tem contato com as tarefas cotidianas do ofício escolhido, sempre dividindo a responsabilidade com o orientador.

A redação da TV Santa Cecília e do Santa Portal tem participação ativa de estagiários da universidade

O que rege a relação entre estagiário e empresa é o termo de compromisso firmado entre as partes, que muitas vezes é lido desatentamente pelo estudante no afã de conseguir a sonhada vaga. Caso o concedente do estágio não respeite a legislação ou o termo de compromisso, este gerará vínculo empregatício, tornando oficiais todos os encargos da legislação trabalhista e previdenciária, além da penalidade de não poder receber novos estagiários por dois anos. Na visão do professor universitário Carlos Castro Andrade, diretor do Centro de Prática Empresa Escola, o estágio é “uma forma de aliar o ímpeto do estudante à experiência dos que já estão na área”. E completou: ”Se essas forças forem bem administradas, no final, todos saem ganhando”. O advogado Richard Ramos, 29 anos, conta que grande parte da sua preparação profissional veio do estágio. “Comecei ainda no terceiro (ano de faculdade)

e fui até o quinto. Os estagiários fazem tudo que os já formados fazem, então é uma escola de verdade. De escritórios a repartições públicas, a figura do aprendiz sempre está lá. Inclusive, talvez se aprenda mais na prática do que na teoria”. Para o jornalista Ricardo Peres, o estagiário é uma figura necessária, o próprio mercado já conta com ele e está adaptado à sua presença. A exigência e a cobrança devem estar dentro dos limites do conhecimento e da prática que ele possui. Quem estagia não é profissional e seria um absurdo cobrá-lo como se assim fosse. Peres arremata que “o dia-a-dia de uma empresa pode até contar com o estagiário, mas nunca depender dessa ajuda para funcionar”. O estudante Alex Ramos, 33 anos, também do terceiro semestre de jornalismo, diz que suas experiências com estagio variam. “Comecei no Cineclube da Universidade e, além de os horários serem compatíveis com minha necessidade, meu orienta-

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dor dava liberdade para que eu atuasse em áreas que tinham a ver com meu perfil. Agora, estou na redação de TV. Recomendo, sim, o estágio, mas é bom analisar o perfil que mais se enquadra com você”. Já um aluno que não quis se identificar disse que a produção de muitos lugares depende diretamente do estagiário. “Se a gente não vier, o trabalho não sai. E se somos tão imprescindíveis, somos empregados e não estagiários. As broncas são iguais, o trabalho é igual, não há muita abertura para tirar as dúvidas. O que nos difere de quem tem carteira assinada?”, reclama. Para fugir desse tipo de realidade, há uma importante dica a ser seguida: avaliar com muito critério o contrato do estágio e, de preferência, envolver uma agência integradora - como é o caso do Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE - no processo. Estágio não é sinônimo de mão de obra barata. Na UNISANTA, todo o processo é dirigido com

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bastante cuidado pelo professor Luiz Vidal de Negreiros, que coordena um departamento chamado Universidade Empresa Estágios. Nele, há estreita ligação com empresas de diversos segmentos, que vão da Baixada Santista, passando pelo ABC, até a Grande São Paulo. Inclusive, para que o processo seja ainda mais seguro, há parceria firmada com entidades integradoras de estágio bastante reconhecidas, como o já citado Centro de Integração Empresa e Escola – CIEE, Associação Brasileira de Emprego e Estágio – ABRE, Nube Estágios, entre outros. O estágio, se feito com seriedade e rigidez, pode contribuir para o dia a dia da empresa e para o futuro do orientado. Mas, como a relação de forças entre ambos é desproporcional, cabe ao estagiário estar sempre atento, fiscalizando a própria rotina de trabalho e, como uma esponja intelectual, absorver tudo o que possa lhe ser útil.

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Educação

Escola Total completa 10 anos e avança com esporte e cultura A educação integral da Cidade é considerada a segunda melhor do Brasil Beatriz Hurtado

Beatriz Hurtado Com uma década de funcionamento, o Programa Escola Total está crescendo cada vez mais. No começo, o principal desafio era incluir a Educação Integral em Santos. Para conseguir o desenvolvimento do aluno, não basta apenas mantê-lo na escola, é preciso criar projetos educativos e sociais para conseguir alcançar o objetivo. O trabalho busca desenvolver a criança dentro dos núcleos, com oficinas, esportes, arte e cultura, vivência pedagógica e línguas para melhorar seu rendimento escolar e ocupar seu tempo construtivamente. “Eu acho que o governo poderia investir mais na educação integral. Todo nós sabemos o quanto isso, influencia na vida de crianças carentes. A mãe trabalha, o pai não é conhecido, ou até mesmo ocorreram abusos. Todos sabemos o quanto esse programa ajuda no desenvolvimento e na autonomia para os mais jovens”, comenta Edcarlos Rodrigues Ferreira, coordenador-geral de Esportes do Programa. Somente alunos que estão matriculados na Rede Municipal podem participar do Escola Total, e 25% deles fazem parte do programa. Existem dois horários para frequentar os núcleos, no período da manhã ou tarde, no contra-turno do horário que o aluno está na escola. A educação integral da Cidade é considerada a segun-

Em atividade há uma década, o programa beneficia alunos da rede municipal de ensino

da melhor do Brasil, ficando atrás apenas de Belo Horizonte. Como 2016 é o ano das Olimpíadas no Brasil, o principal foco do Escola Total é desenvolver o Atletismo. “Com o avanço do programa, nosso maior objetivo, depois de dar uma ótima infraestrutura para os núcleos, é dar a opção para as crianças escolherem as atividades que querem praticar. Assim mostramos que todo mundo é bom em algum esporte. Só

precisamos achar qual”, explica Edcarlos. Jailza Marques de Albuquerque, coordenadora do núcleo Sambódromo, que fica na Zona Noroeste, está há três anos envolvida no programa e conta que, nesses 10 anos de existência, a Escola Total se desenvolveu muito. Mas ainda existem alguns problemas, como a deficiência de estrutura, a falta de ar condicionado nas salas, um espaço de informática e uma

quadra de esporte coberta. “Eu amo a minha profissão e amo trabalhar aqui, sinto um afeto enorme desenvolvendo essas crianças. Apesar de todas as dificuldades que passamos, alcançar o nosso objetivo é gratificante”. Em relação aos alunos, todos comentam animados sobre o projeto. Natalle, de nove anos, diz: “Eu gosto daqui porque eu fiz amigos e não fico em casa”. João Pedro, de dez anos, fala que

gosta de ler os gibis e da aula de dança. “Os professores aqui são bem legais”. “Eu queria ter aula de piscina e ir mais para o cinema”, declara Wesley Lucas, nove anos. “Apesar da grandeza do programa, ainda precisamos melhorar muito em várias questões. Estamos no caminho certo, mas temos coisas pela frente”, conclui Gabrielle Santos Jesus, educadora referência do núcleo.

EXPEDIENTE Diretor da FaAC:

Prof. Humberto Iafullo Challoub

Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Dr. Robson Bastos

Professores: Texto

Prof. Luiz Carlos Bezerra Prof. Me. Fernando De Maria dos Santos

Foto

Prof. Luiz Carlos Nascimento

Diagramação e Design Gráfico

Prod. Fernando Claudio Peel Furtado de Oliveira

Plataformas Digitais Prof. Valéria Vargas

Redação, fotos, edição e diagramação Alunos do 2° ano de Jornalismo: Alex Eulalio Neves Ilek Alex Ramos Silva Alline Miranda Calandrini de Azevedo Andrei Zacharkow Paternostro Axel Rodrigues de Arruda Junior Beatriz Hurtado de Mendonça Beatriz Monteiro Martins Beatriz Pereira da Silva Beatriz Rosa Ferreira Bruna Marina Pinheiro da Silva Bruno Altmann Calherani Camilla Jandaia Aloi Lopes Carolina Larios Soldan Jorge Diego Santos Kassai Eliane Baptista Greco Ilario Fabio Silva Peres Gabriel Chiconi Lins Gabriel Mansano Pupo Gabriela Vanessa Arante Brino Giovanna Francisca Moraes Teixeira Henrique Guedes da Silva Isabela de Morais Ribeiro Isabella Chiaradia Lope

Jhessica Paixão Sousa Josiane Alves Rodrigues Kelvyn Henrique de Sousa Pedro Larissa Pinto Pedroso Larissa Rodrigues de Arruda Lorenzo – Maria Julia Nogueira Bortolotti e Nogueira Marcel Caldeira dos Santos Marcela Cunha Montini Marcelo Trindade Lopes Marcos Vinicius da Rosa Assunção Mariana Patrícia de Souza Silva Matheus Antunes Matheus Fogaça da Silva Natalia Lellis Nathalia Cristina Affonso Nathalia Fraga Santos Francisco Noelle Isidoro Neves Paloma de Souza Amaral Paola Bossan Bianchini Paulo Fernando Reis dos Santos Pedro de Oliveira Jacinto Pedro Vitor Fernandes Venchiarutti Priscila Pereira Denami Raquel Pinheiro de Sousa Raquel Silva Vasconcelos Renan Petronilio Costa do Espírito Santo Silvania Maria de Souza Thayná Soares Gomes

Tiago Colella Mendes Silva Vânia Lucia Revheim Cunha Vitor Pontes da Cunha Vitoria Aparecida dos Santos Silva Wilker José Damasceno de Lima

As matérias e artigos contidos nesse jornal são de responsabilidade de seus autores. Não representam, portanto, a opinião da instituição mantenedora UNISANTA - Universidade Santa Cecília Rua Oswaldo Cruz, n° 266, Boqueirão, Santos (SP) Telefone: (13) 3202-7100, Ramal 191 - CEP 11045 - 101 E-mail: jornalpi@gmail.com


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educação

Sem idade para voltar a estudar Pessoas que deixaram a escola na infância ou adolescência voltam à sala de aula por meio do EJA SILVÂNIA SOUZA

Turma do 3‘ e 4‘ anos do Ensino Fundamental da Escola Giusfredo Santini. No centro, a professora Ivete Fontes, que leciona para Dinete Pereira dos Santos

Silvânia Souza

da de serviços gerais Dirnete Pereira dos Santos, de 38 anos, moradora da cidade de Bertioga, que depois de anos longe dos estudos retornou à escola para conclui-los. O dia a dia de Dinerte é como o de milhões de brasileiros. A encarregada conta que sai de casa às 6 horas da manhã para trabalhar e volta somente às 22 horas, depois de ir para a aula na Emeif Guisfredo Santini, que fica na periferia de Guarujá.

Mãe solteira, Dinerte conta que esse foi um dos motivos que a fez desistir de estudar ainda na adolescência. Outro fator que também contribuiu foi a falta de incentivo dos pais para que ela continuasse estudando. Hoje, depois de criar os quatro filhos e com o incentivo dos mesmos e da empresa onde trabalha, a encarregada voltou à sala de aula. Ela conta que tem dificuldade na formação de pa-

lavras e ainda se confunde na hora de ler, mas, mesmo com todas as barreiras que enfrenta, não vai desistir e fala que voltar a estudar mudou sua forma de ver a vida e encarar os problemas. Perguntada se tem planos para depois que concluir os estudos, a aluna diz que sonha em entrar na faculdade. O curso escolhido é Administração de Empresas. Em 2016, mais de 205 mil pessoas voltaram a estudar

no estado de São Paulo, segundo a Secretaria de Educação. As classes da EJA que atendem alunos do Ensino Fundamental e Médio. Os interessados em se inscrever devem procurar uma escola que possua o programa, levando a documentação necessária para fazer a matrícula. Os documentos são: RG, comprovante de residência (contas de água luz, telefone) e comprovante de escolaridade, caso possua.

A EJA se consolidou de fato no ano de 2003 com a criação do programa Brasil Alfabetizado. Mas antes existiram outros projetos de incentivo à educação de jovens e adultos. Um deles foi o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização).Criado em 1967 durante a ditadura militar, o Mobral tinha como objetivo ensinar pessoas que não soubessem ler e escrever. Não havia critério em relação a quem ensinava, nem era exigido qualquer tipo de grau de instrução. O Mobral foi extinto em 1985, dando lugar à Fundação Educar, que primava pela formação do educador e pelo processo de aprendizagem.O proA tecnologia ajuda aprendizagem dos alunos da EJA, cuja média de idade varia de 30 a 50 anos jeto durou pouco e foi extinto nos anos 90 pelo então presi-

dente Fernando Collor de Melo. De 1990 a 2003 não houve qualquer programa educacional direcionado à educação de jovens e adultos no Brasil. Até que na gestão do ex presidente Luís Inácio Lula da Silva, foi criado o atual programa, Brasil Alfabetizado, que é direcionado não só à alfabetização, mas também contribui na capacitação dos alunos para a vida profissional. Para Ivete Fontes de Sá 42 anos, professora da EJA, o programa é importante e desafiador, pois devolve as pessoas que deixaram a escola na infância e adolescência a possibilidade de aprender e melhorar de vida e é desafiador porque dar aula para esse público não é algo simples, pois esses alunos já possuem ideias formadas.

O programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) vem mudando a vida de milhares de brasileiros que por algum motivo na infância ou adolescência deixaram de estudar e agora têm a oportunidade de voltar para a escola. Com o objetivo de alfabetizar e ensinar jovens e adultos, a EJA tem motivado pessoas como a encarrega-

EJA se modificou ao longo dos anos SILVÂNIA SOUZA


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IMPRENSA

Paulo H. Amorim lança livro O Quarto Poder na UNISANTA O livro revela segredos colhidos por Amorim durante sua trajetória e foram revelados ao público Roberto Mascaro A Universidade Santa Cecília (Unisanta) recebeu no mês de março o jornalista Paulo Henrique Amorim, que deu uma palestra e autógrafos no relançamento de seu livro O Quarto Poder – Uma outra história, da Editora Hedra. Paulo Henrique tem um currículo invejável. Ao longo de sua trajetória de 50 anos, ocupou várias funções, como correspondente internacional, editor, redator e âncora dos principais veículos do País. Com isso, conseguiu reunir dados e histórias que jamais foram divulgadas, e assim mostrar o lado obscuro do Jornalismo. Em sua palestra, Amorim

falou sobre um fato que foi destaque na quarta-feira, 14 de março, ou seja, o pedido de prisão do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. O Ministério Público de SP pediu a detenção de Lula no caso do tríplex do Guarujá. Amorim também criticou fortemente o juiz federal Sérgio Moro, dizendo que, “como se sabe, Moro sequestrou Lula, numa situação de cárcere privado”. Ele afirmou que “se o Brasil fosse uma democracia, Moro seria destituído e processado”. O livro retrata uma história nunca lida e citada sobre os meios de comunicação do País. Inicia em Getúlio Vargas, passa pela fundação e mono-

pólio da Rede Globo, pelo governo militar, e inclui bastidores de momentos históricos, como a ditadura, período de transição, governo de José Sarney, Collor de Melo, FHC e o anterior e atual governo petista. Também cita encontros secretos com nomes importantes da mídia e do poder que marcaram a história do Brasil, assim como episódios decisivos, como o Plano Cruzado, Plano Real, negociação da dívida externa de 1988, Plano Collor e o debate marcante de Collor e Lula, chegando nos dias atuais. Outros jornalistas têm sido convidados para palestras na Unisanta, assim como escritores e outras lideranças da sociedade.

ROBERTO MASCARO

Amorim lançou o livro que trata dos abusos da Imprensa

EDUCAçÃO

Caminhos nem sempre compartilhados por todos MARIANA SILVA

Mariana Silva Em vigor desde 2011, o decreto presidencial 7.611 tem como diretriz a garantia de que alunos que estão dentro do processo de inclusão educacional, de qualquer nível, tenham direito ao ensino regular. No entanto, na prática, a situação não é tão simples assim. A perspectiva da educação inclusiva não busca focar na deficiência e limitações do aluno, mas na ambientação dele em um sistema de ensino regular. A princípio, as escolas deveriam se adaptar às necessidades de cada aluno específico, com todos os materiais pedagógicos e adaptações estruturais para receber aquele indivíduo. No entanto, diante de tantas exigências, a rede pública de ensino é a que mais tem se adequado à legislação em razão dos custos elevados para o atendimento de alunos especiais. Viviane Passos é mãe do Cauã, de cinco anos, e portador do autismo. Segundo ela, a escolha do tipo de instituição de ensino para seu filho foi feita por conta da inclusão social oferecida pelas escolas e também analisando qual seria a evolução do filho no contato com alunos de escola de ensino regular. “Se eu o matriculasse na escola para crianças especiais, ele não teria evolução porque ele imitaria as outras crianças especiais, e não estaria evoluindo, ficando estagnado”, acredita Viviane, cujo filho estuda em uma escola particular. Em Santos, desde de 1960,

Escolas se adaptam para atender a nova demanda de alunos

funciona a Escola Especializada Professora Maria Carmelita Proost Vilaça, na Ponta da Praia. Segundo a pedagoga de Educação Especial com habilitação em deficiência mental e professora na instituição, Ana Paula Martins, a educação especial é uma modalidade de ensino diferenciada, tendo o trabalho feito individualmente

com cada aluno, respeitando a fase e as condições que ele apresenta. A escola busca estimular e proporcionar o crescimento nas habilidades individuais de cada um, não se prendendo a conteúdos e gráficos administrativos. Com 25 anos de profissão, a pedagoga já presenciou avanços e retrocessos, e mui-

tas vezes recebe alunos com uma defasagem de aprendizado maior em relação aos que já estudam na escola. “Não acredito na forma como é feita a inclusão”, afirma Ana Paula, e diz que professores que lecionam em escolas de ensino regular, no meio de tantas cobranças de conteúdo, dificilmente dariam àquela crian-

ça a mesma atenção que ela receberia caso estudasse em uma escola especializada. A professora destaca a importância deste tipo de instituição. “Hoje na escola atendemos no contraturno alunos das escolas regulares, e quando os pais começam a ver os resultados, eles percebem quanto tempo perderam”. Ensino particular Segundo as coordenadoras pedagógicas do Colégio Renovação, Fátima Vasconcelos e Luciana Melo, quando a escola é procurada para receber casos específicos de inclusão social, é feita uma entrevista com os pais do aluno, avaliando se aquela criança possui um laudo ou acompanhamento especial, e principalmente para entender qual o nível de limitação que aquele aluno possui. O processo de integração do aluno começa diretamente na sala de aula, com a ambientação dele a um cenário de escola regular, recebendo os mesmos livros e conteúdo que os demais. O único diferencial, na maioria das vezes, é o método de avaliação, sendo professores orientados a compreender a necessidade de cada um, e assim buscam a melhor forma para avaliá-lo. Juntamente com psicólogos e especialistas, os professores são orientados e devidamente instruídos a lidar com as necessidades do indivíduo.

“Existem casos difíceis, que dificultam que eles sejam matriculados em escola regular, pois eles podem não ter o mesmo atendimento”, lamenta Fátima.


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protestos

Liberação de shorts causa polêmica entre estudantes Escolas do País querem vetar alunas que utilizam shorts considerados curtos PRISCILA DENAMI

Priscila Denami Uma polêmica em Porto Alegre causada por alunas do Colégio Anchieta, que querem usar shorts curto dentro da escola, virou notícia nacional. Tudo começou após uma delas ter sido retirada da aula por estar usando a peça. O fato causou repersussão em outros lugares. A estudante, Giulia Morschbacher, de 15 anos, aluna do Ensino Médio do Colégio Anchieta, um dos mais tradicionais de Porto Alegre, é autora do texto de um abaixo-assinado que reivindica uma mudanças nas regras de vestuário e na postura machista perpetuada da escola. O documento já conta com mais de 13 mil apoiadores. Em um trecho, reforça: “Nós somos adolescentes de 13 a 17 anos de idade. Se você está sexualizando o nosso corpo, você é o problema“.

Alunas fizeram abaixo-assinado para usar shorts na escola

Tudo indica que as manifestações surgiram após a conquista das estudantes do Colégio Etapa, em São Paulo. Em outubro de 2015, elas criaram um abaixo-assinado online que reuniu mais de 4 mil assinaturas pelo direito das meninas da escola de

usar shortinho. Em menos de um mês, as estudantes conquistaram o direito de usar as roupas que queriam nas dependências da escola. Paula Trevisan, pedagoga e diretora da Escola Celestin Freinet, localizada em Praia Grande, disse que

não é a favor da manifestação. “Ao matricular o aluno, os pais assinam termos de convivência e responsabilidade. E neles, está listado o código de conduta para as dependências escolares. Pais, ao apoiar esse processo, estão aprovando o fato de que crianças de 12 a 16 anos possam ir contra não só às normas, mas também contra o aval que os pais deram ao realizar a matrícula”. Ela comentou também que mesmo com a convivência, não consegue entender por qual motivo têm tanta necessidade de irem as aulas com shorts curtos. A aluna Gabriella Freitas, de 14 anos, apoia a campanha e concorda com as manifestações que têm ocorrido, alem de ter o apoio de sua mãe, Jaqueline Freitas, 34, que diz achar “normal” e entende o que as garotas sentem, pois já passou por isso

também. “Quando eu tinha a idade da Gabi, estudava em um colégio muito rigido, que o uniforme era apenas calça comprida. Eu e minhas amigas sofremos muito por nao poder usar sequer um shorts de tamanho maior. Hoje em dia, acho que é um direito das meninas decidirem o que querem usar e qual tamanho adequado para elas”. O fato de o short ser proibido em algumas escolas é porque existe um código de vestimenta. Por que pode atrapalhar os homens? Não. É porque a peça transmite uma mensagem. Por isso, quando alguém vai a um, não usa um vestido colado com glitter (brilho), pois a mensagem que se quer passar não é de glamour e sensualidade, mas de luto e seriedade. Já em um casamento, o traje não é de regata e chinelo, assim como não se vai à praia de smoking. DIEGO KASSAI

DIFICULDADES

Alunos de Peruíbe enfrentam problemas para estudar Diego Kassai Entre os muitos problemas encontrados por moradores do Jardim Márcia II, em Peruíbe, um vem chamando atenção: a dificuldade para estudar. Estar num lugar afastado do centro, próximo a um aterro sanitário e ao lado de uma Fundação Casa não são os maiores problemas que as pessoas têm de enfrentar no bairro. Sem escola próxima, muitos pais passam por verdadeiras aventuras para que seus filhos possam estudar. É o caso de Valéria Alves, 38 anos, mãe de três meninos que fazem parte da rede de ensino municipal de Peruíbe. Os filhos, que estão no Ensino Fundamental II (que vai do 6° ao 9° ano) estudam no centro da cidade (cerca de 7 quilômetros de onde moram). Sem transporte escolar que passe nas ruas do bairro, ela e os filhos precisam caminhar até uma estrada próxima, onde apenas um ônibus passa todos os dias. Como estudam de manhã, eles precisam acordar bem cedo para não perder o coletivo. “Todo dia é uma aventura. Às vezes, quando

chove, fica impossível, pois enche tudo de água e não dá para andar nessas ruas de terra”, desabafa Valéria. Os dois únicos transportes escolares (um passa durante a manhã e outro na parte da tarde) só foram possíveis graças à Associação dos Moradores do Jd. Márcia II, que conseguiu junto a uma vereadora o acesso a eles. Nivaldo Ivo Alves (conhecido por Biro Biro), presidente da entidade, conta que antes não havia ônibus que levasse as crianças. Todo ano, os pais precisam fazer a rematrícula do ônibus, o que não é uma tarefa fácil pois existem muitas crianças que dependem dele para poder estudar. “No começo do ano, temos que fazer a matrícula assim que elas são abertas, e quem não consegue tem que arrumar outros meios, como levar os filhos para a escola de bicicleta”, conta Valéria. Os pais, preocupados com o futuro de seus filhos, lamentam o abandono da Prefeitura. “É um direito nosso o estudo. É um absurdo o bairro não ter pelo menos uma escola”, reclama uma mãe que não quis se identificar. “Quando meu

filho terminar a escola e quiser começar uma faculdade, vai ser impossível para ele ir até lá. O único lugar onde passa ônibus universitário fica muito longe daqui”, disse Valéria. O bairro, que fica entre a Serra do Mar e a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, abriga cerca de 40 famílias, das quais quase todas têm ao menos uma criança que precisa estudar. Alguns projetos para construção de escolas já foram feitos, mas nenhum saiu do papel. O local, inclusive, já foi alvo de tentativa de demolição das casas por causa da proximidade com o aterro sanitário. Educação em Peruíbe O município de Peruíbe possui cerca de 60 unidades escolares, das quais 32 são municipais, 11 estaduais e outras 17 particulares. A cidade conta também com uma faculdade (Unisepe), Centros de Cursos Profissionalizantes e de educação à distância. A maioria delas se localiza no centro da cidade e nos bairros próximos. Os mais afastados (perto da zona rural), como o Jd. Márcia II, não possuem escolas, o que

Estudantes percorrem quase 7 quilômetros para estudar

torna a vida das crianças complicada, além de dar a sensação de serem lugares esquecidos pela Prefeitura. A cidade conta também com a Associação dos Estudantes de Peruíbe (AEP), que é uma organização que auxilia e busca soluções para problemas estudantis e educacionais da cidade. Além disso, promove diversas atividades sociais e culturais voltadas a ajudar a população. Jardim Márcia II O bairro é conhecido por estar localizado próximo a um aterro sanitário numa área mais afastada da cidade. Com pouco mais de 40 famílias, o Jd. Márcia II passou por grandes dificul-

dades nos últimos anos, com tentativa de demolição das casas, e principalmente com o problema do lixo. Além disso, uma Fundação Casa também está em funcionamento no bairro. O local conta com a ajuda da Associação de Moradores, presidido por Nivaldo Ivo Alves. Com o apoio de outros grupos da cidade, a associação promove eventos para ajudar os habitantes. Mesmo com os problemas aparentes, os moradores demonstram alegria e união uns com os outros. “Apesar de todas as dificuldades, temos um grande carinho pelo lugar”, conta um morador.


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variedades

Internet causa a queda das revistas Após anos sendo as fiéis companheiras dos adolescentes, publicações são trocadas cada vez mais pela internet

Nathália Affonso Desde que surgiram em 1663 na Alemanha, e desde que chegaram ao Brasil, em 1812, as revistas assumiram um papel muito importante e distinto na história da comunicação, que se intensificou ainda mais no século 20 em todos os cantos do mundo. Mas, esse caminho de ascensão tem entrado em decadência, recentemente. Com o “boom” da Internet e a facilidade de acesso a informações gratuitas, cada vez mais as pessoas deixaram de comprar revistas e, com isso, muitas delas, para não ficarem para trás e correr o risco de perderem território, viram-se obrigadas a lançar suas versões online.

Essa expansão foi eficaz no campo digital, mas mesmo assim não foi o suficiente em relação às versões impressas. Em uma pesquisa realizada pelo IBOPE, em 2014, as revistas na sua forma física aparecem em último lugar na lista de preferência dos leitores brasileiros, ficando bem distante da própria Internet. Como se a falta de rotatividade já não fosse problema suficiente, a credibilidade das revistas também entrou em declínio. Muitos dos que foram questionados, categorizaram a confiabilidade em cerca de 40%, que é um percentual muito baixo quando comparado aos demais veículos de comunicação. Quando o foco é direcioNATHÁLIA AFFONSO

Jovens trocam papel pela internet

nado ao público jovem, a situação das revistas impressas torna-se bem mais crítica, 85% revelam que não lêem revistas. Por terem nascido na era tecnológica e saberem fazer um bom uso da Internet, a maioria dos entrevistados afirmam não comprar, pois conseguem achar tudo na web. Kaique Agostini, 19 anos, lê revistas onlines mensalmente, e diz que acha mais prático, pois pode ver matérias antigas, que muitas vezes já sairam de circulação. Já uma parte deles, em sua grande maioria meninas, afirmam comprar revistas quando têm alguma matéria sobre um artista de seu interesse, apenas 8% dos jovens dizem comprar e ler revistas regularmente. Dentre os consumidores mais assíduos muitos contam que só lêem com regularidade porque as recebem em suas casas, devido às assinaturas. Isabella Mattos, 20 anos, tem assinatura de três revistas diferentes e diz que isso facilita muito porque não precisa ir às bancas para comprar e, quando está sem Internet, pode continuar a ler. Com base no fato de que o número de revistas impressas que são vendidas avulsas vem diminuindo gra-

NATHÁLIA AFFONSO

Cada vez menos jovens são atraídos às bancas

dativamente, edição após edição, fica claro que o que mantém as publicações para o público jovem em circulação são as assinaturas, que conseguem se manter estáveis, mas com uma sutil evolução. Entre os jovens consumidores, as meninas são as que mais adquirem as revistas impressas, visto que a variedade de editoriais voltados prioritariamente para elas é bem maior. Mas os garotos não ficam muito atrás, eles compõe em média 43% dos adolescentes que vão às bancas para comprar revistas. O surgimento das revistas online não foram a única tentativa das editoras de reconquistar seu público alvo. Muitas delas começaram a incluir nas publi-

cações brindes, que variam entre brinquedos, adesivos, cards, pôsteres especiais, acessórios e itens de maquiagem. Por muito tempo, essa estratégia foi eficaz e ainda faz com que o número de exemplares aumente significativamente, quando esses pequenos presentes vêm junto com as revistas. E no meio de tantas estratégias de marketing e gigabytes de Internet, a principal dúvida que prevalece é por quanto tempo as revistas impressas vão continuar se mantendo entre os jovens, levadas para todos os cantos, compartilhadas com os amigos, como vêm sendo a gerações, ou se elas simplesmente vão travar na barreira invisível da web e desmoronar em pixels.

Cultura

As diferenças da arte de rua O litoral paulista é marcado por trabalhos privados da arte de rua

MARCOS VINICIUS

Aerografia realizada por Daniel Alves, uma das artes espalhadas por Santos e caracterizada pelas cores fortes

Marcos da Rosa Em Santos, no litoral paulista, existem diversos trabalhos de grafites autorizados, incluindo em um dos marcos da cidade, como a área de uso do quebra mar. Após a reinauguração, foram feitas obras de diversos artistas. A pichação ainda existe, só que em proporções menores em relação aos anos 90, quando ocorreu seu ápice no Estado de São Paulo. E aerografia, você conhece? É uma técnica bem antiga. O que difere esse método dos outros é as ferramentas usadas. Enquanto

o grafite e a pichação são feitos com spray a aerografia é feita por pistolas e aerógrafos, isso permite um fino acabamento na arte final, que a outra opção não consegue dar. Em tempos em que a cultura underground, principalmente entre os jovens, está em alta, a arte do grafite cresce gradativamente e já é consolidada no cenário mundial. Não só da arte de rua, mas também da arte em si. Isso é comprovado nos depoimentos dados por universitários. Como o exemplo da estudante de Relações Públicas da Universidade Católica Unisan-

tos, Giulia Andrade: “Eu acho muito massa e essencial em alguns lugares para dar alegria, para contar uma história daquele lugar. É um jeito da galera se comunicar através de desenho. Muita gente confunde com pichação, mas, coitados, não sabem o que é arte”. Mariana Silva, estudante de Jornalismo na Universidade Santa Cecília, falou sobre os prós e contras da pichação: “A pichação, quando feita em fachadas de prédios, casas, lojas, pelo simples fato de protestar ou sem nenhuma finalidade

artística, acaba prejudicando pessoas que não têm nada a ver. Acredito que a pichação ou o grafite são ótimas maneiras de liberdade de expressão, por isso devem ser feitos mediante a autorização dos proprietários do local, para que sejam vistos como arte e não vandalismo”. Aerografia pode não ser conhecida em seu termo, mas está presente amplamente em nossas vidas. Além de dar vida aos muros privados, são produzidas em pinturas de bicicletas, motos, capacetes, móveis, etc. Daniel Alves, 36, é um aerografista que tem trabalhos ex-

postos em diferentes áreas da cidade de Santos e já exerce a arte há 18 anos, fazendo da técnica sua profissão. “Desenho desde pequeno e, na adolescência experimentei vários tipos de arte, mas foi em 1998 que conheci a aerografia.” Decreto de Lei Em 25 de maio de 2011, no seu primeiro mandato, a Presidente da República Dilma Rousseff sancionou a Lei 12.408, que descriminalizou o ato de grafitar e tratou da proibição do comércio de tintas de sprays.


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NEGÓCIOS

Com a crise, trabalhar por conta própria é alternativa mais viável Pessoas vendem doces caseiros e alimentos em geral para conseguir uma renda extra

Marcel Caldeira Ter bastante dinheiro atualmente não parece ser uma tarefa fácil na Baixada Santista, ainda mais com a crise econômica e o desemprego em alta. No ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país registrou o número em torno de 9,1 milhões de pessoas desempregadas no Brasil. A crise afetou, e continua afetando, qualquer área das indústrias nacionais, inclusive as alimentícias. Os preços dos alimentos subiram (conforme o IPCA, a inflação apenas dos alimentos e bebidas cresceu 2,28% em janeiro e 1,06% em fevereiro) e os ovos de Páscoa não poderiam ficar de fora. Em algumas lojas, os preços passaram de R$ 70,00 um modelo de 540 gramas. Mesmo assim, muitas pessoas estão criando seu próprio negócio empreendendo ou migrando de profissão para o ramo de alimentos. Inovação Um exemplo de empreendedorismo individual é o de Bruno Caldeira Mendes. Ele, que é barman, mixologista e consultor de bebidas e cardápios para bares e restaurantes, faz, desde 2014, ovos de Páscoa de chocolate misturados com bebidas alcoólicas, que fazem sucesso nesta época do ano. O mixologista, profissão onde se aplicam técnicas de gastronomia no preparo de bebidas, sempre gostou do

ramo alimentício devido à sua mãe, com quem trabalhou em um quiosque na infância. Com 33 anos, ele, que se formou em Turismo, sempre quis trabalhar como chef de cozinha. Mas com tanta experiência em bebida e vontade de fazer algo gastronômico, Bruno teve a ideia, em 2013, de fazer brigadeiros de cerveja. O morador de São Vicente conseguiu uma respectiva fama entre familiares e amigos com a ideia inovadora que rendeu até uma reportagem na imprensa. Logo depois de lançar os brigadeiros com cerveja, Bruno começou a fazer Ovos de Páscoa com bacons crocantes. Vendo que tinha uma certa habilidade em ideias inovadores, o calunga inovou mais uma vez, e incluiu dois tipos de bebidas para fazer os Ovos de Páscoa alcoólicos. Com sabores de caipirinha e uísque – de marcas diferentes -, o barman diz que não pretende continuar vendendo as guloseimas. “É mais um passatempo. Tenho outros projetos futuros envolvendo bebidas alcoólicas”, completa Caldeira, dizendo que o valor recebido serve para complementar a renda. Na faculdade Ao contrário de Bruno, que náo pretende expandir o negócio, o estudante de Educação Física, Marcelo Cunha, pensa em um dia conseguir viver apenas da venda de seus doces. O itanhaense vende bolos em caixinhas nos corredores da Universidade Santa Cecí-

Mulheres investem no

MARCEL CALDEIRA

Com muito esforço, Marcelo Cunha vende seus bolos

lia (UNISANTA), onde estuda. Graças à cunhada, que fazia bolos de aniversários, ele teve a ideia de vendê-los em potinhos que facilita a consumação dentro da faculdade. Os sabores variam entre o Sensação (chocolate e morango) e Negresco (biscoito) até Prestígio (coco e chocolate) e Beijinho (coco).

No seu primeiro dia, Marcelo levou 14 potes de bolo e conseguiu vendê-los. “No segundo dia, levei 25 e vendi quase tudo. Depois já não dava mais. Então passei a levar 50, que também não dava mais conta. Hoje levo 72, pois é o que cabe nas duas bolsas térmicas”, explica Marcelo, que sempre sobe carregado

para as aulas com suas guloseimas. Atualmente, ele reside em Itanhaém, e mesmo chegando atrasado nas aulas por vender tanto na saída como na entrada, ele tem que pegar uma van e diz que com a renda obtida com a venda dos bolos, ele consegue pagar as mensalidade do meio de transporte e suas contas domésticas. Quando se formar, Marcelo pretende expandir seu negócio e comprar um carro utilitário para vender os seus bolos em frente às universidades. Expansão Enquanto alguns sonham em expandir seu negócio, outros já chegaram lá. É o exemplo das amigas Fernanda Moura e Karla Cavalcanti. As duas são amantes de comida e nasceram com o dom de fazer doce. Juntas, elas criaram na rede social a Nhac Doces, e já começaram a vender. As sócias e amigas vendem ovos de Páscoa, panetones, trufas, bolos e doces. São diversos sabores e todos recheados. Fernanda diz que gosta de inovar e fazer muitas variedades, “Já fiz até uma ceia de Natal para um amigo”, completa a doceira de 27 anos. Além de vender por encomendas na internet, a loja virtual já expôs no Bazar Cafofo e também no bar Casa Velha, no Gonzaga. As amigas esperam que consigam, futuramente, abrir sua loja física para expandir seu negócio e começar a vender mais atingindo novos públicos. VITOR PONTES

empreendedorismo

Vitor Pontes As mulheres vêm conquistando cada vez mais espaço no mercado empreendedor. De acordo com estudo realizado pela Serasa Experian, 43% dos empreendedores no Brasil são mulheres. Existem 5.693.694 proprietárias de negócios no País, 8% da população feminina brasileira. Pelas facilidades apresentadas, o mercado digital tem se tornado uma das principais opções de investimento. Segundo a cartilha Empreendedorismo Digital do Sebrae, 33% dos que atuam na área são mulheres. Entre elas, estão a jornalista Flávia Saad, 33 anos, que, ao lado da sócia Ludmilla Rossi, 34 anos, criou em 2011 o Juicy Santos, site que tem como objetivo destacar cultura, gastronomia e o estilo de vida da Cidade. Para ela, a empreendedora precisa “en-

tender minimamente o que deseja e onde quer chegar”. Os motivos que mais levam mulheres ao mercado são o desejo de terem o próprio negócio, de ganhar mais dinheiro e ter um horário flexível. Quanto ao último, Flávia alerta para a necessidade de dedicação: “O empreendedor acaba trabalhando muito mais, porque se ele não der o sangue, o projeto não vai para frente”. Além disso, ela destaca a importância da periodicidade: “Não adianta abrir um blog e postar a cada duas semanas. No caso do Juicy Santos, as pessoas esquecem que foram cinco anos de construção de um trabalho de qualidade”. Encontrar um nicho também é essencial para quem deseja crescer no meio. “Por que dá certo um youtuber que fale só de Minecraft? Porque ele está falando a um

Flávia Saad em palestra sobre empreendedorismo digital feminino

público muito específico sobre algo que eles amam.” Levantamento realizado com 303 empreendedoras digitais da plataforma Loja Integrada, empresa que trabalha na criação e desenvolvimento de lojas virtuais, mostrou que 43% das donas de e-commerce têm entre 20 e 29 anos, além de que 53% delas possuem superior completo e 52% começaram o investimento há menos de

um ano. A pesquisa afirma que 56% começaram o negócio com cerca de R$ 1 mil. Quanto ao custo, Flávia afirma que “o investimento inicial do empreendedor online é menos de dinheiro e mais de energia e tempo”, destacando a existência de ferramentas e cursos online gratuitos disponíveis na internet. Sobre o preconceito com as mulheres no mercado, a jornalista afirma que o

apoio da família é importante e critica. “A mulher nunca consegue estar certa. Se você tem um filho e o deixa na creche, você é desnaturada; se resolve ficar com ele em casa, é criticada por não estar trabalhando”. Apesar do preconceito, a pesquisa da Loja Integrada diz que 71% delas afirmaram se sentirem mais felizes na área, sempre destacando a liberdade e o tempo ganhos.


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MONGAGUÁ

Para moradores, administração inverte prioridades na cidade Moradores reclamam que prefeito não prioriza problemas da cidade PALOMA AMARAL

Paloma Amaral

A Prefeitura de Mongaguá, no Litoral Sul de São Paulo,gastou em torno de R$2 milhões em fogos de artifícios para festas de final de ano e shows de verão na cidade. E está sendo acusada de não dar atenção à Saúde, Educação, avenidas esburacadas e falta de saneamento básico no Bairro da Vila Atlântica, mais conhecido como CDHU (nome da companhia que construiu o conjunto). As obras iniciadas na Unidade de Saúde da Família (USF), pela antiga administração, no CDHU, abandonada há pouco mais de três anos, já se tornou ponto de uso de drogas devido à falta de iluminação, segundo moradores. Os trabalhos voltaram a ser realizados no final de março, nove meses para o próximo mandato. “Com o Posto da Vila Atlântica fechado, a população tem que ir para unidades distantes, e se tiver chovendo, precisa ir ‘nadando’ porque tudo fica alagado. Um dos muros da estrutura que dá acesso ao fundo da Unidade de Saúde está aberto, o que acaba servindo de motel para a garotada, e ponto de consumo de drogas, pois as luzes da rua estão queimadas”, denuncia a moradora Cintia Costa. Outros que moram no mesmo bairro contam que vão para o Posto de Saúde do Jardim Praia Grande marcar exames, porém a consulta só é agendada para o próximo ano. Uma delas foi até o postinho porque seu filho, que tem bronquite,precisa de acompanhamento e tratamentos, e a médica solicitou o atendimento para o mês de setembro. Mesmo com todos esses problemas, tudo leva a crer, conforme as denúncias, que a administração do atual prefeito, Artur Parada Prócida, PSDB, deu prioridades à compra de fogos de artifício e shows de verão, ao invés de ter resolvido problemas emergentes. “Hoje, as pessoas vão ao Pronto Socorro Central e ao que fica no bairro Agenor de Campos, mas não há médicos nos dois, não tem medicação, não tem o básico. Então, o que eu vejo na nossa cidade é uma inversão de prioridades”, acusa o vereador Jacob Koukdjian Neto (PP). Outro obstáculo enfrentado pelos munícipes é o transtorno na mobilidade. A Av. Monteiro Lobato, uma das principais de Mongaguá, está toda esburacada, e quando a situação é resolvida, não demora muito para se formarem novas crateras. A

Unidade de Saúde da Família na Vila Atlântica volta com as obras, da Administração antiga, depois de três anos parada

orla da praia, Av. Governador M. Covas Junior, inaugurada no final de 2015, além de buracos, apresenta pontos com falta de iluminação. Fora do padrão Mais conhecido como Jacó Neto pela população, o vereador explica que qualquer cidade que tenha uma orla de praia, tem um padrão de calçada, de coqueiro, de iluminação. De acordo com ele, Mongaguá não segue o padrão porque a cada bairro há um tipo de calçamento diferente. E mais: não somente a Av. Gov. Mário Covas, mas todas as avenidas da cidade são uma “colcha de retalhos”. “Cada administração que entra não mantém o padrão de pavimentação antigo. Por isso, a cidade vai ficando uma colcha de retalhos. Estou para pedir uma cópia da licitação do asfalto na cidade, pois tenho quase certeza de que o que está sendo colocado não está de acordo com as especificações da mesma”, acredita. Jacó brinca por ter criado um novo nome para uma avenida. Antes era Monteiro Lobato, agora passou a ser “Monteiro Buraco”. A moradora Juliana Alves, 44 anos, há 25 residente na cidade, reclamou dos buracos das avenidas e disse que já teve prejuízo mais de uma vez

com seu carro, por conta das ruas esburacadas, e retalhadas pela prefeitura. Em um vídeo antigo publicado na internet, o atual prefeito de Mongaguá diz ter projetos em relação às enchentes. Prometeu que faria a implantação de canais de escoamento de água, dando prioridade aos bairros que mais sofriam com as enxurradas, como Vila Atlântica e Agenor de Campos. Mas, até agora, faltando nove meses para acabar seu mandato, isso não foi cumprido, conforme as queixas. De acordo com Jacó, no bairro da V. Atlântica, na altura da escola Casimiro Correa, em 20 minutos de chuva as crianças não conseguem ir à aula. “Eles sempre dão desculpas dizendo ser por causa de atrasos com a licitação. Entretanto, a dos fogos, dos shows, essas, não atrasam. Depois pedem mais um mandato, o quinto, no caso, para continuar com os planos. Eu acho que o único quinto que eles devem ter é o quinto dos infernos”, desabafa. O vereador afirmou ainda que os gastos com shows e fogos de artifício foram em torno de R$2 milhões, pagos à vista. “E Prócida empenhou com os fogos R$745 mil, gastando R$400 mil no Reveillon 2015 e guardando o restante para comemorar sua suposta vitória nas eleições”, diz.

Ele ainda ironiza o fato de se gastar dinheiro com fogos, sendo que há mais de um ano e meio três moças caíram no rio, perto da feira de artesanatos, porque se encostaram na mureta de proteção, feita de madeira e que estava podre. Uma delas teve trauma na cervical. Apesar do acontecimento dramático, a Prefeitura se limitou a passar uma fita preta e amarela para isolar o local que se encontra assim até os dias de hoje. “Por esses dias até brinquei num discurso na Câmara, falei que talvez existisse um plano de extermínio para acabar com Mongaguá. Porque há dinheiro em caixa e não se faz. Estamos contando nos dedos o tempo restante do mandato dessa administração. E independentemente de quem for sentar na cadeira, tomara que tenha muito mais responsabilidade do que eles, pois acabaram com Mongaguá”, acusa mais uma vez, Jacó Neto. O outro lado da “bronca” Em nota, a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Mongaguá informou que as obras da USF foram retomadas após as regularizações documentais necessárias, conforme solicitações dos órgãos de fiscalização. E que é hábito da administração do prefeito Artur Parada Prócida manter em ordem es-

ses detalhes burocráticos, que exigem também a disponibilidade de verbas. Informou, ainda, que todos os gastos em shows foram previstos e auditados, bem como os investimentos na área de saúde. Estes são contínuos, incluindo a ampliação da rede de unidades básicas, que está ganhando três novos postos, além da ampliação de outros. A nota diz também que a iluminação pública tem recebido reforço na atuação das equipes de trabalho, que mantém todas as luminárias funcionando e dezenas de novos conjuntos instalados. Continua informando que a administração vem realizando etapas de recuperação da Avenida Monteiro Lobato e, além disso, mantém um trabalho constante de reparos e tapa-buraco, ao longo do ano. Alguns locais da orla da praia, devido às fortes chuvas, apresentam problemas de erosão na pavimentação, entretanto, estão sendo tomadas providências. No caso da iluminação, a Prefeitura se esforça para manter os sistemas funcionando, pois a mesma sofre com vandalismo, segundo a assessoria. Os prontos socorros da cidade passaram por obras de revitalização e adequações e mantém os serviços, normalmente, com a presença de médicos, concluiu a nota.


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estádio

Antônio Fernandes aguarda homenagem em campo Estádio de Guarujá, com nome do atleta, é mais uma vítima da Copa VITÓRIA APARECIDA

Vitória Aparecida Antônio Fernandes, ídolo do Santos Futebol Clube, conhecido como “Arquiteto da bola”, marcou 145 gols em 400 partidas. Faleceu em 1973, vítima de um acidente de carro. Estádio Antônio Fernandes, sub-sede da Copa de 2014. A reforma estrutural custou R$12 milhões ao Estado de São Paulo, porém, o local não receba jogos oficiais e não possibilita que o time realize treinamentos para competições. Uma arquitetura que ainda espera atingir a principal finalidade, assim como outros projetos inacabados pelo Brasil, que não digeriu os 7x1. Com 33 anos de existência, o Antônio Fernandes está situado em um bairro residencial de Guarujá. No entorno, há novas ruas pavimentadas e iluminadas, facilitando o acesso à construção. A rampa, reconstruída durante a reforma, conta agora com portão de ferro. Mas, a realidade portões adentro é diferente. Atualmente, o campo do estádio não é utilizado. A Associação Desportiva Guarujá (AD Guarujá), time local que competiria na segunda divisão do Campeo-

Reformado para a Copa 2014, Estádio Municipal Antônio Fernandes não sedia jogos de futebol

nato Estadual, está impedida de participar do torneio por falta de área para treinamento, uma vez que não foi feita a instalação de pára-raios, exigidos para a realização de partidas de futebol. A Prefeitura justifica que a não expedição do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros

Outros espaços são usados No andar térreo ficam as salas de musculação, fisioterapia, centro de artes marciais, sala de mídia e aparelhagem administrativa, utilizadas pela Polícia Militar, Bombeiros, Guarda-Municipal, cidadãos e atletas da cidade. Cerca de 550 pessoas da comunidade fazem uso da academia no local. O profissional Marco Antônio Ferreira Alves, cotado para integrar a equipe técnica para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, presta atendimento de fisioterapia a 300 pessoas. A pista de atletismo que circunda o gramado tem 400 metros e está em boas condições, sendo usada por atletas da cidade para treinos. O Ministério do Esporte investiu cerca de R$ 4,5 milhões para equipar essas salas. Ao portão que daria acesso ao estacionamento interno do estádio foi derrubado pela ação do vento e o mato está alto no local, mas um outro espaço, que está em condições de ser utilizado para guardar veículos, tem capacidade para 50 carros. Uma cra-

tera se abriu próxima ao banco de reservas, possivelmente pela umidade do solo, que fica a três quilômetros da Praia das Pitangueiras. O transformador do estádio, cedido pelo Governo Federal, estava queimado desde Março. O gerador, usado durante as 12 primeiras horas após o incidente, consumiu 280 litros de diesel. Sete holofotes movidos por gerador o substituirão, temporariamente, até que o equipamento seja substituído. As arquibancadas ficam no primeiro andar. Foram calculados pela reportagem 3.632 assentos. Segundo o coordenador do Estádio, a capacidade é de 5 mil pessoas. Uma área no segundo andar atende mil assistindo de pé. Ainda no primeiro andar ficam três lanchonetes e refeitório para funcionários. Todos os banheiros somam 90 vasos sanitários, além de mictórios. No segundo andar ficam, além da área aos torcedores, cinco cabines para transmissão de jogos. Nas paredes de uma delas são perceptíveis os vestígios de infiltração.

(AVCB) é motivada pelos pára-raios dependerem do Sistema de Proteção contra Descargas Elétricas (SPDA), que precisou ser redimensionado para ampliar a proteção do estádio. Há um ano, o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista (Condesb) homologou projeto

aprovado pelo Conselho de Orientação do Fundo para a implantação do SPDA no Antônio Fernandes. A obra estaria orçada em R$ 185.652,24. Segundo a Secretaria de Esportes e Lazer, o processo de licitação só será aberto em duas semanas. O Santos FC estaria interes-

sado em treinar com a equipe feminina e o time masculino sub-23 no campo principal do estádio, poupando o gramado da Vila Belmiro. Segundo nota, o atual vencedor da Copa do Brasil não arcará com a despesa. Na Copa do Mundo de Futebol de 2014, a equipe da Bósnia e Herzegovina treinou no estádio, mesmo sem os pára-raios, uma vez que naquele período não havia incidência de raios. O Corpo de Bombeiros autorizou o uso por 90 dias. A reforma estrutural no estádio, orçada inicialmente em R$ 8 milhões, custou ao Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias (DADE), aproximadamente, R$ 4 milhões a mais. A completa reestruturação do estádio objetivava, segundo o coordenador do local, “deixar algo para a comunidade”. A AD Guarujá só começou a utilizar o Estádio a partir de 1992, quase uma década depois de ser inaugurado. Tendo se passado dois anos desde a reforma para a Copa, a primeira grande obra em 30 anos de existência, a cidade de Guarujá aguarda, na prática, a justa honraria ao “Arquiteto da Bola”. VITÓRIA APARECIDA

Equipamentos de musculação são utilizados pela população de Guarujá para treinos

Existem quatro vestiários, divididos igualmente para equipes masculinas e femininas. Neles ficam duas banheiras e uma sala privativa para a realização de rápidas consultas. As piscinas para banho de imersão dos jogadores são abastecidas por uma máquina de fazer gelo doada pela Fe-

deração Internacional de Futebol (FIFA). Restou da reforma o superávit de R$ 1,050 milhão, que segundo a Prefeitura será inteiramente utilizado para a instalação de sistema de monitoramento. No mês passado, o Diário Oficial de Guarujá publicou que a quantia também se-

ria utilizada para a promoção de práticas esportivas. As obras foram iniciadas em 2013, pela construtora Beiramar. O Estádio está com 95% da reforma concluída. De acordo com a Prefeitura, apenas está faltando parte do estacionamento principal e laterais do campo auxiliar.


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POLÍTICA

Salários atrasados prejudicam professorado vicentino Funcionários têm pagamentos atrasados há mais de três meses

SINDSERV SV

Gabriel Pupo São Vicente vêm sofrendo com a grave crise financeira que ocorre em todo o País. Além de problemas na Saúde e Transporte Público, a Educação é a principal área afetada. A inadimplência existente na cidade – cerca de 57% dos munícipes não pagam o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), segundo o prefeito Luis Claudio Bili – e a falta de repasses ao município acarretam problemas que afetam a todos. O Sindicato dos Servidores Públicos de São Vicente se mobilizou e realizou diversas manifestações sobre os atrasos nos pagamentos salariais em 2015. Entre agosto e dezembro do ano passado, três grandes paralisações foram realizadas, que reivindicaram o pagamento de salários atrasados e melhores condições trabalhistas. De acordo com o professor Wagner Bessa Teixeira, 53 anos, docente em São Vicente há pouco mais de cinco anos e que esteve presente em todas as paralisações e greves dos servidores, por conta da crise, o professorado vicentino sofreu duros golpes nos últimos anos. “Algo que acreditávamos ser, ainda no ano de 2013, um período de transição entre governos, tornou-se uma sucessiva série de equívocos e intervenções inadequadas, que culminaram no aumento da crise política-administrativa e financeira da municipalidade”. De todo o período governamental do atual prefeito, o ano de 2015 foi o mais difícil para os servidores vicentinos, pois, segundo Teixeira, “houveram seis greves deflagradas por conta de dificuldades encontradas na negociação da campanha salarial. E também por sucessivos atrasos no pagamento de salários e benefícios, além de escalonamento salarial das diversas categorias do funcionalismo. Isso feriu o

Servidores públicos protestam em frente à Prefeitura de São Vicente em novembro de 2015

Acordo Coletivo estabelecido há muitos anos, entre administração pública e a entidade sindical que representa os servidores”. A Educação esteve como segunda prioridade do plano de governo do atual prefeito. Segundo documento registrado no Tribunal Superior Eleitoral, há a promessa de instalação de curso profissionalizante voltado para o Ensino Médio – estágio cuja responsabilidade é do Governo do Estado. A principal proposta para o setor consiste na “preparação e formação do aluno para a vida – tendo a família como base”. Com a volta às aulas na segunda semana de fevereiro, a situação da crise educacional

ficou ainda mais evidente. De acordo com reportagem do Jornal A Tribuna, pelo menos seis escolas de Ensino Fundamental tiveram de dispensar seus alunos mais cedo ao longo da semana: Augusto de Saint Hilarie, Raul Rocha do Amaral, Luis Beneditino, Edmundo Capellari, José Meirelles e Professor Luciano Constant Houlmont. Além da greve dos professores, a falta de merenda escolar foi outro motivo para as dispensas dos alunos. Para Teixeira, a falta de alimentação escolar, o atraso na entrega de alimentos e, ainda, a situação de muitas creches são frutos da junção do despreparo e falta de vontade política de competência das partes GABRIEL PUPO

Hospital CREI passou por modernização mas continua com problemas internos

envolvidas. “O grande recurso recebido pelo FUNDEB, somado aos repasses das outras esferas, como Governo Federal e da própria municipalidade, deveria, se bem empenhado, suprir as necessidades para a manutenção e as melhorias na Educação, como um todo. Mas, infelizmente, não é o que vemos por aqui”, desabafou. A Prefeitura mantém pendências com os profissionais contratados pelas entidades conveniadas que atendem as creches e com as Associações de Pais e Mestres (APMs), o que resultou na sequência da greve de profissionais, como auxiliares de classe, auxiliares de desenvolvimento infantil, serventes de limpeza, inspeto-

res, monitores, copeiras, cozinheiras e merendeiras. A expectativa do professor de Educação Física é a de que a recente história política vivida por São Vicente deixe aprendizados em sua população e nos servidores. “O voto tem consequências seríssimas, cabe a cada um analisar técnica e friamente suas escolhas. Precisamos trabalhar em prol de uma cultura de conscientização e melhor politização das pessoas em todas as comunidades. Um pacto de cooperação deve ser pensado e proposto, entre todas as partes ou partidos, para que, quem sabe, sejamos finalmente beneficiados com a política, em seu mais real e amplo significado”, finalizou.

Problemas na saúde O plano de governo, registrado pelo prefeito Luís Cláudio Bili junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tinha como prioridade de governo a área da Saúde. Durante os três anos de mandato de Bili, quatro diferentes secretários tiveram posse naquela Secretaria. Entre greves de médicos, falta de equipamentos e obras inacabadas, a população sofre com a atual situação de postos e hospitais. Segundo a do-

méstica Maria Rocha da Silva, o tempo de espera e a falta de profissionais são os principais problemas da saúde pública na cidade. “A situação é crítica, não há atendimento básico nos hospitais. Passamos horas na fila de espera, na esperança de sermos atendidos. Às vezes, nem essa sorte temos, nos falam que não é possível acontecer o atendimento pela falta de médicos no hospital”, denunciou.


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economia

Aplicativo santista ajuda consumidor a economizar Recurso compara preços de supermercados em tempo real

Andrei Paternostro Cerca de cinco mil usuários e quase tres mil downloads do aplicativo para dispositivos móveis em cinco meses. Estes são alguns números do crescimento do PagPouco.com, ferramenta criada por santistas que compara preços em tempo real de supermercados, com a finalidade de ajudar o consumidor a diminuir os gastos. A ideia surgiu em 2014, quando os sócios da agência de marketing 10 FC, Bruno Fernandes, 26 anos, e Ricardo Forte, 36 anos, estavam comparando valores para organizar um churrasco. Bruno explica como funciona a plataforma: “A gente tem os coletores de campo que vão de mercado em mercado, com um roteiro pré-definido. Com um smartphone, eles vão ao terminal de preços e puxam os valores dali. É bem rápido, a gente consegue coletar em torno de mil preços a cada uma hora e automaticamente essas informações já vão para a plataforma, em tempo real”. No momento, 24 supermercados de Santos, atacadista e varejista, estão listados. No Google Play Store, o aplicativo tem conceito médio de 4,2

(de um total de 5), com 36 avaliações. De forma geral, o retorno é positivo e as críticas referem-se à ausência em outras localidades, como Recife, Porto Alegre e Maringá. Por sua vez, a empresa responde os questionamentos informando que pretende atender no futuro tais locais. O conceito de comparar preços em tempo real já era disponibilizado por outras empresas, como o Buscapé, exemplo que, de acordo com Fernandes, incentivou a criação do recurso. “O sucesso do Buscapé nos motivou. Primeiro, ele é um sucesso na comparação de produtos online (lojas virtuais), mas se você ver nas pesquisas, as vendas de produtos offlines (lojas físicas) representam ainda cerca de 90% da economia. Então, identificamos a necessidade nas compras presenciais também”. O recurso apresenta algumas funcionalidades para o usuário, como o Alerta de Preços e a Lista de Compras. No primeiro, o consumidor seleciona um produto e qual o valor máximo ele pagaria por este. Então, no momento em que um dos supermercados apresentar este preço, ou menor, a pessoa recebe um alerta. Já na segunda opção, é feita

ANDREI PATERNOSTRO

Bruno Fernandes (à direita), 6 anos, e sua equipe da Agência FC gerenciam o PagPouco.com

uma lista de compras e a ferramenta informa qual estabelecimento tem a alternativa mais barata. Segundo Bruno, se a pessoa seguir o que for recomendado pelo PagPouco.com, ela pode economizar até 70% na sua compra. No futuro, vendas online O próximo passo do recurso é funcionar como uma espécie de marketplace. “A gente quer que as pessoas possam comprar os

Política

produtos pelo nosso aplicativo. Então, além de comparar, ela vai poder comprar a mercadoria e receber do supermercado em casa”, afirma Bruno Fernandes. O PagPouco atua desde novembro de 2015 em Santos e desde janeiro de 2016 em São Paulo, com pesquisa de preços em 19 supermercados da Capital. A próxima cidade a ser atingida pelo sistema deverá ser o Rio de Janeiro.

No fim de janeiro, o recurso foi apresentado na Campus Party Brasil, a maior feira de tecnologia do Brasil realizada no Anhembi, em São Paulo e, ainda de acordo com o idealizador, atraiu olhares de investidores e consumidores. O processo para tirar a invenção do papel demandou oito meses e aproximadamente R$ 60 mil, contando as despesas com o desenvolvimento e os coletores de campo. LARISSA ARRUDA

A condução coercitiva de Lula foi legal? Larissa Arruda O recente episódio de condução coercitiva, ocorrido com o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, chamou a atenção e gerou polêmica, principalmente entre juristas, que discutiram sua validade. A condução coercitiva prevê a competência do agente policial de conduzir pessoas para prestar depoimentos, respeitando-se garantias legais e constitucionais. Está prevista no Código de Processo Penal, que legitima a autoridade a tomar todas as providências necessárias para o esclarecimento de um delito. Este dispositivo é antecipado para casos em que o acusado não atende a uma intimação anterior. O caso envolvendo Lula, que foi levado para depor no Aeroporto de Congonhas, em março último, incluiu o cumprimento de 11 mandados de condução coercitiva. Em coletiva na sede do Partido dos Trabalhadores (PT), o ex-presidente disse que jamais se recusou a dar depoimentos à Polícia Federal nas investigações da Operação Lava Jato. "A minha bronca é com o Ministério Público Estadual. Não precisaria levar uma coerção à minha casa e dos meus filhos. Não precisava, era só ter me comunicado. Antes dele, já fazíamos a coisa correta nesse País. A gente já lutava para fazer a coisa certa. Lamentavelmente, preferiu-se usar a prepotência e a arrogância. É lamentável que

uma parte do Judiciário esteja trabalhando com a Imprensa", declarou Lula. Em nota divulgada, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos inquéritos da Operação Lava Jato na primeira instância, disse que a condução coercitiva de Lula não significa "antecipação de culpa do ex-presidente". Moro afirmou que acatou, a pedido do Ministério Público Federal (MPF), a condução coercitiva do ex-presidente, tomando o cuidado de “preservar, durante a diligência, a imagem do ex-presidente”, e visando a evitar possíveis tumultos. Tendo em vista a maneira como este caso foi exposto, ocorreram várias dúvidas, e a principal delas é saber se foi legal ou ilegal o modo como o ex-presidente Lula foi convocado para depor, e se a decisão do juiz Sérgio Moro foi precipitada ou totalmente circunstancial. Ao ser questionado sobre a condução coercitiva envolvendo o ex-presidente Lula defende: “A condução coercitiva realizada no último dia 4 de março para oitiva do ex-presidente Lula na Polícia Federal foi equivocada, senão vejamos. Primeiramente, cumpre esclarecer o conceito de condução coercitiva. O Código de Processo Penal estabelece em seu artigo 260, o conceito legal da condução coercitiva, bem como a hipótese de seu cabimento. Com efeito, a condução coercitiva é ato por meio do qual a autoridade judiciária determina a condução de pessoa que não atender

à intimação para depoimento, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado. Para seu cumprimento, deve ser expedido um mandado de condução coercitiva” A meu ver, a condução coercitiva realizada no caso concreto foi totalmente irregular, pois há clara violação ao artigo 260 do Código de Processo Penal. Ademais, pelo que foi noticiado pela própria mídia inclusive, em nenhum momento o ex-presidente Lula deixou de comparecer a qualquer ato quando intimado. E ao que diz respeito a postura do Juiz Sérgio Moro ele diz: “A postura do juiz Sérgio Moro no caso da operação Lava-Jato é digna de grande reconhecimento. Não há dúvidas de que a atuação daquele magistrado tem causado grande repercussão nacional e internacional devido ao caso de corrupção envolvendo grandes políticos, empresários e uma das maiores estatais do país, no caso a Petrobrás. Entretanto, a atuação do citado juiz vem sendo questionada inclusive por outros juízes e operadores do direito que discordaram da irregular condução coercitiva do ex-presidente Lula, bem como da divulgação das interceptações telefônicas envolvendo a Presidente da República Dilma Rousseff. Sob o meu ponto de vista, todo o trabalho realizado pelo juiz Moro pode ser maculado caso ele continue agir acima dos rigores da Lei, como citado anteriormente. Todos devem se pautar pela lei,

Sandra Pedroso na manifestação que ocorreu em Santos, na Av. Ana Costa

sobretudo um juiz que é a boca da lei.” Rousseff falou sobre o assunto. Em seu discurso, ela afirmou que não tem Outras opiniões o menor sentido conduzir Lula” sob Sandra Regina da Silva Pedroso, 49 vara para prestar depoimento. A peanos, é oficial administrativa da Prefei- tista disse também que seu padrinho tura de Santos e também participante político "nunca se julgou melhor do de eventos político-partidários. Na opi- que ninguém" e sempre aceitou presnião dela, Lula está mais que envolvido tar depoimento quando foi convidado. em qualquer uma das fases da Lava“O povo brasileiro, cansado e indig-Jato. “O juiz Sérgio Moro agiu na hora nado, quer dar um basta nisso. Pagacerta, pois o ele poderia fugir do Brasil mos impostos a fundo perdido. Impostos a qualquer momento. E claro que con- que não voltam à sociedade na forma cordo com a declaração dada por Moro, de serviços básicos de qualidade. Tribuele é a pessoa certa, no lugar certo”. tos, que deveriam servir aos interesses Já na visão do estudante de Biologia e necessidades do povo, principalmente José Felipe Nascimento, de 18 anos, a dos mais carentes e necessitados, são condução coercitiva envolvendo o ex- desviados, via corrupção, para enrique-presidente foi totalmente precipitada, cimento próprio, para o populismo, para pois ele jamais deixou o Brasil e estava a conquista e manutenção de poder. O disposto a depor a qualquer momento. que resta agora é lutar para a melhoria do Ao participar de um evento em Ca- país e o fim da corrupção”, declarou Isabxias do Sul (RS), a presidente Dilma ela Machado, 21 anos, opositora política.


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PERIGO

Calçadas de Santos apresentam más condições e riscos Moradores reclamam do descaso da fiscalização precária da Prefeitura Alex Ilek As más condições das calçadas no Bairro do Boqueirão em Santos têm causado incômodos para os moradores. Após diversas reclamações, em agosto do ano passado, foi enviado à Câmara um projeto de lei para implementar o ‘Calçada para Todos’, com finalidade de dar acessibilidade e segurança aos pedestres.

A proposta não se concretizou como deveria, e o descaso em diversos pontos da cidade permanece o mesmo. Um exemplo é a Rua Frei Francisco Sampaio, próximo à Universidade Santa Cecília. Romilson Allison, aluno de jornalismo da Universidade e deficiente visual, crítica as passagens próximas ao local: “As calçadas estão em péssimas condições para

se caminhar. Isso dificulta muito a passagem, não só do deficiente, mas dos idosos, das gestantes e dos demais pedestres”,denunciou. Em outubro do ano passado, a Prefeitura declarou que calçadas com buracos, cerâmicas soltas e rampas com desnível poderiam gerar multa para os proprietários dos respectivos imóveis, no valor de até R$ 2.500, com um prazo de

até 30 dias. Mas nenhuma mudança significativa foi notada. “Manter a cidade em boas condições deveria ser uma obrigação do Governo de Santos. Pagamos impostos, taxas altíssimas. Isso é, no mínimo, dever deles, não nosso” , desabafou a estudante Marcella Querino,de 18 anos. Em 24 de fevereiro, o Boqueirão recebeu agentes da Ouvidoria Municipal, no Pro-

jeto Viva o Bairro Móvel, e 52 pessoas tiveram suas solicitações e reivindicações registradas. A maior parte das reclamações foi sobre melhorias nas calçadas. A Ouvidoria tem o prazo de 30 dias para responder à solicitação. A Prefeitura de Santos, pela Secretaria de Comunicação Social, foi procurada para dar algum parecer a respeito da situação, mas não se manifestou. Alex Ilek

Quem precisa passar nesta calçada enfrenta diversas dificuldades. Idosos, cadeirantes, mães comcarrinhos de bebê e deficientes sofrem com o problema

Feiras

Moradores de Guarujá aguardam redução no IPTU

Bruno Altmann Uma lei aprovada em maio de 2015, que permitiria um desconto de 50% no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) a moradores de Guarujá que têm de conviver todas as semanas

com as 17 feiras livres em frente às suas casas, ainda não foi colocada em prática. A dona de casa Esther de Araújo, residente da rua Alameda das Palmas, cuja feira ocorre todas as sextas, citou que desde 2015, quando a lei foi aprovada, ela espera a re-

dução em seu IPTU. “Até hoje veio sempre igual”, queixou-se. Os maiores problemas de ter de conviver com as feiras são os bloqueios feitos às garagens, o barulho provocado pelos feirantes na madrugada e a sujeira deixada pelos mesmos. André dos Santos, gerente

do supermercado Jóia,no Jardim Santo Antônio, enumerou os problemas que têm de enfrentar todas as semanas com as feiras. “O maior problema é o estacionamento que não dá para usar, além dos caminhões de carregamento que bloqueiam as ruas e a sujei-

ra que eles fazem”, reclama. Segundo a Prefeitura de Finanças da cidade, os moradores de ruas de feiras livres terão seu IPTU reduzido até maio. Conforme o órgão, quem já realizou o pagamento de alguma parcela será feito o abatimento do que já foi pago. bruno Altmann

Barulho logo de madrugada é um dos inúmeros problemas que os moradores têm de enfrentar semanalmente em razão das feiras-livres


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saneamento

Tratamento de esgoto em ritmo de tartaruga

Onda Limpa eleva número de domicílios atendidos na região, mas atrasos atrapalham a meta de entrega Josiane Rodrigues O tratamento de esgoto na Baixada Santista que em 2007 era de 54% subiu para 80% nos domicílios situados em áreas legalizadas graças ao Programa Onda Limpa. A região conta com 18 estações responsáveis pelo monitoramento dos dejetos. As obras, porém, estão atrasadas. A previsão é que em dezembro de 2011 a região fosse contemplada com 95% de coleta de esgoto. Em Itanhaém, o atendimento de esgotamento sanitário em 2010 era de 24,4%, segundo levantamento feito pelo SEADE- Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. Para ampliação do sistema no município, R$ 267,8 milhões foram destinados pela Sabesp. O site da prefeitura informa que nos próximos três anos quase 10 mil domicílios serão beneficiados com a destinação correta dos esgotos às estações de tratamento locais. Aproximadamente 45 mil moradores divididos entre 44 bairros serão atendidos. Entretanto, nem tudo são flores e obras sempre geram transtornos. Os moradores da Avenida Cabuçu, no bairro do mesmo nome, reclamam dos problemas causados. A balconista Bianca de Fátima Simões, 27 anos, afirma que quando chove as ruas alagam e a água de esgoto retorna para dentro da casa pelos ralos com forte odor. Além disso, ferros foram deixados expostos e algumas pessoas já caíram nos buracos. “Eles refazem o mesmo trabalho e canos já foram trocados mais de três vezes”, relata. A moradora preocupa-se com o fato das crianças que estudam em uma escola próxima da área terem de atravessar poças de esgoto. A comerciante Claudinéia de Oliveira Simões, 47 anos, é mãe de Bianca e conta que numa noite tropeçou em um dos ferros na calçada torcendo e cortando o dedo do pé. O mau cheiro e os desvios que ela tem que fazer para entrar em casa também a incomodam. Já para o motorista Francisco Raimundo de Araújo, 63 anos, morador do bairro há 14 anos, os transtornos da obra serão para melhoria e valorização dos imóveis. Ele percebeu que no lado da avenida onde as intervenções foram finalizadas, os alagamentos pararam. A Sabesp informa que para

JOSIANE RODRIGUES

Em Itanhaém, quase 10 mil domicílios serão beneficiados com o tratamento de esgoto e cerca de 45 mil moradores atendidos JOSIANE RODRIGUES

cobrada quando as obras em cada trecho são concluídas.

Terceirizada Contrariando informações levantadas pela Reportagem, onde se se constatou uma terceirizada trabalhando, por meio de nota, a assessoria de imprensa da Sabesp afirmou que a companhia não está executando as obras na avenida e não é responsável pelos materiais mencionados. Os avanços na rede de esgoto já foram realizados. Por sua vez, a auxiliar técnica de Saneamento Mayara Alves Santos, da Trix Engenharia – terceirizada que executa Na Av. Cabuçu, no bairro de mesmo nome, alguns acidentes já ocorreram por conta das obras obras no local - disse que a resJOSIANE RODRIGUES ponsabilidade é da Sabesp.

Obras ocorrem em ritmo lento, prejudicando moradores e comerciantes

a realização das ligações é necessário que as moradias destinem separadamente as águas pluviais dos esgotos domésticos. Nos imóveis que nunca tiveram ligação de esgoto, as instalações são feitas sem custos ao proprietá-

rio - da porta do imóvel à rede coletora. A reforma interna é por conta do dono do imóvel. O trabalho é realizado em parceria com as prefeituras e Ministério Público. Nos casos das moradias que ainda não fizeram o procedimen-

to, a companhia comunica à prefeitura local e ela notifica o responsável. Se o morador recusar-se a providenciar as adaptações estará sujeito à multa por parte da prefeitura e intimação do Ministério Público. A taxa de esgoto só é

Onda Limpa Com investimento estimado em R$ 4,6 bilhões, o programa foi criado pelo Governo do Estado de São Paulo e é um dos maiores da América Latina. Ele visa a recuperação das praias litorâneas reduzindo os danos causados ao meio ambiente com a retomada da balneabilidade, além da diminuição da mortalidade e de doenças causadas pela falta de saneamento, de acordo com a Sabesp. O projeto inicial do governo era que até 2011 todas as obras fossem concluídas e 100% do esgoto da região fosse tratado. No entanto, esse prazo não foi cumprido e o programa dividiu-se em etapas. Um relatório da Sabesp de 2014 prevê a conclusão dessa etapa atual em 2018, porém a assessoria de imprensa da empresa não confirmou datas.


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aÇÃO

ISABELLA CHIARADIA

Dor e superação transformadas em atitudes Com novo projeto, a cidade de Santos ganha esperança após uma perda Isabella Chiaradia O pior cego é aquele que não quer ver, já diz o ditado popular. A frase ilustra também o atual momento da sociedade brasileira. Afinal, não é de hoje que o brasileiro convive com a Lei do Gerson, ou seja, a mania de querer levar vantagem em tudo: aquela bicicleta que você adquire por quase nada ou o celular de última geração, sem nota fiscal, que é caro na loja, mas você compra por uma pechincha. Enfim, objetos que podem ser frutos de roubos ou até latrocínios (roubos seguidos de morte), resultando na morte de alguém e na dor de seus familiares. A constatação fica ainda mais evidente com a proporção dos casos de violência que se sucedem perto de você. E que, infelizmente, atitudes contra esse ato não são tomadas. Até

que o problema ocorre em sua casa ou na de alguém próximo. Nos primeiros dois meses desse ano foram registradas pela Secretaria da Segurança Pública do Estado cinco vítimas de latrocínio em Santos. No ano passado, foram 345 casos apenas no Estado de São Paulo (média de quase um por dia). Entre as ocorrências fatais na Cidade, sucedeu o caso do jovem Luann Oshiro. O estudante de 18 anos saiu de casa para uma festa no dia 19 de outubro de 2015 e não nunca mais voltou. Luann, que se preparava para fazer ENEM e tinha sonhos, gostava da natureza e se preocupava com o bem estar social, foi vítima de latrocínio quando esperava um coletivo na Avenida Francisco Glicério, no Gonzaga. Inicialmente, os bandidos queriam o seu celular. Ao fazer men-

Projeto Luann Vive na campanha para o fim da receptação de objetos roubados

ção de entregá-lo, um deles disparou a arma atingindo-o no pescoço. Os dois suspeitos de terem cometido o crime foram presos. Um deles era um adolescente de 16 anos. A tragédia poderia ter revoltado e desestruturado a família - que ao menos pode se despedir de uma pessoa admirável. Uma vida que acreditava em uma sociedade melhor e menos desigual, sobre o qual teve um futuro interrompido -. Ao invés disso, a dor foi transformada em força e vontade de mudança para seus familiares e amigos que decidiram lutar e se unir ainda mais para que outras famílias não passem pela mesma situação. “Nada que eu faça hoje vai trazer o meu filho de volta. Mas, nós

podemos fazer com que outras famílias não passem pelo o que eu estou passando hoje”, declara o comerciante Paulo Oshiro, pai do garoto, que idealizou e criou o projeto Luann Vive em homenagem ao filho. Luann Vive O intuito do projeto é colocar em prática o que Luann esperava, uma transformação na sociedade para melhorá-la. Dividida em quatro partes, a proposta se estrutura entre assistencialismo, no qual já foram realizadas ações e doações de sangue, alimentos, roupas e brinquedos. A parte esportiva, iniciada em março. A cultural, envolvendo doações de livros, palestras escolares e peças teatrais. E por fim, mas não me-

nos importante, as campanhas. Em fevereiro foi lançada a mais recente campanha pelo fim da receptação, em parceria com a Prefeitura de Santos e apoiadores “A Receptação é Crime tem como objetivo conscientizar a população que a receptação é tão maligna quanto quem rouba! Por trás de um celular pode ter a vida de alguém, como a do meu irmão”, protesta Noah Oshiro, 17 anos. A campanha do projeto já iniciou nas ruas com a voz, atitude, cartazes e panfletos informativos que almejam mais que um alerta, uma evolução. Quem quiser pode acompanhar o projeto e a campanha pelas redes sociais e mídias locais. O telefone para denúncias de receptação é o 197.

Site oficial da campanha

cAMPANHA

Fazer o bem faz bem Natália Lellis O impacto da vinda de uma criança com microcefalia é transformador. É necessária atenção dobrada, terapias, estímulos desde o nascimento, alimentação adequada, paciência e muito amor. São mais de 3 mil casos até agora, e esse número aumenta a cada dia. Esse quadro, em especial a situação das mães de bebês com microcefalia, balançou o coração de quatro mães na Baixada Santista que, por intermédio de uma campanha, vão provar que o amor pode e deve superar o perímetro cefálico desses bebês, e que ‘fazer bem faz bem’. Juntas, Cauana Donat, Erika Domingues, Mayara Perez e Thais Oliveira deram início à campanha “Seu amor é macro”. O projeto não tem fins lucrativos e tem como objetivo ajudar essas vítimas da epidemia de duas formas distintas, porém complementares: dar suporte, tanto material, quanto financeiramente, para essas crianças e famílias. Além de buscar por profissionais da saúde que, por meio de uma assistência especializada, possam melhorar a qualidade de vida e prognóstico das crianças, para que assim se desenvolvam da melhor forma possível.

“Foi pelas redes sociais que o projeto atende cinco famílias as quatro mulheres se uniram de bebês entre três e sete meses de idade, sendo duas de “É recompensador poder Santos e três de São Vicente. saber que uma criança, “Segundo a Casa da Esperanque não tinha uma lata de ça, são nove famílias a serem leite em um dia, no outro auxiliadas. Nossa intenção é tem quatro ou cinco. Não conversar com elas para que estamos ali porque há um todos recebam estas doabebê com microcefalia. O ções”, complementa. amor é macro porque ele abraça uma mãe, uma faAs doações mília e um bebê que preHá quatro locais de arrecadacisam de apoio”, explica ção das doações e é tudo diviThais, uma das idealizadoras do e distribuído de forma igual do projeto. para as famílias. Porém, o item para arrecadar doações de lei- que mais preocupa é o leite, te, produtos de higiene, roupas, segundo Erika. “As pessoas brinquedos e alimentos não costumam doar o que têm em perecíveis. Segundo Cauana, casa. O que também é ótimo, a campanha foi inspirada em mas o leite neste momento é um outro projeto nacional via fundamental para que estas Facebook, denominado Ca- crianças tenham uma alimenbeça e Coração. “O trabalho tação adequada”, alerta. O identifica as famílias que pre- custo das fórmulas de leite é cisam de apoio e fornece da- alto. Em média, cada lata tem dos, como endereço e conta o valor de R$ 50 e dura em torcorrente para a ajuda. Então, no de 15 dias, gerando uma nos reunimos e pensamos em despesa de R$ 100, mensalregionalizar essa proposta sob mente. uma nova ótica, de forma que essas mães não sejam expos- Corrente do Bem tas e recebam apoio”, explica “Um dos objetivos principais é ela. acolher. As mães estão assusErika conta que uma das tadas, sofrendo preconceito e crianças, que estava com três ouvindo coisas negativas someses, tomava só suco e chá. bre seus filhos. Queremos tra“A mãe não tem condições de balhar a cabeça dessas mães comprar o leite. Essas crian- e incluir socialmente essas ças apresentam uma dificul- crianças”, ressalta Thais. dade maior de mamar”. Hoje, A campanha não visa ape-

Logo da campanha ‘Seu amor é macro’

nas doar, mas, sim, criar uma rede de apoio para as mães que, no momento, se encontram fragilizadas, já que muitas delas são de ‘primeira viagem’. “É aterrorizante você estar grávida e projetar em sua mente que terá um filho que vai se desenvolver, crescer e realizar os sonhos dele, e os seus, como mãe, e por uma questão de falta de cooperação social uma vez que o Aedes aegypti é um problema nosso - isso se tornar difícil”, afirma Cauana. Com isso, a procura por ajuda de profissionais de saúde que queiram colaborar com informações é tão importante quanto as doações em si, pois tudo colabora para melhorar a qualidade de vida da crianças. Erika ainda destaca, “é importante que a sociedade se prepare para receber estas crianças que vão crescer. O número de casos por conta da Zika tende a aumentar. Precisamos pensar na questão de forma mais ampla e a longo

prazo também”. Ajude você também! Toda ajuda é bem-vinda, porém os artigos mais necessitados são leite em pó, roupas, fraldas, brinquedos e produtos de higiene. Para que as doações cheguem às famílias é preciso entregar os itens nos postos de arrecadação: Corte e Brinque Espaço de Beleza, na Rua Castro Alves, 64, Embaré, Santos. Na Unidade CNA Ponta da Praia, localizada à Avenida dos Bancários,104, Ponta da Praia. Na Unidade CNA Boqueirão, Avenida Conselheiro Nébias, 614, Boqueirão. E no Shopping Pátio Iporanga, na Avenida Ana Costa, 465, Gonzaga. Para ajudar, entre em contato com as organizadoras, maiores dúvidas,sobre doações, ou sobre a conta bancária. Telefone celular e Whatsapp: Cauana: (013) 99201.8669; Erika: (013) 98802.4188; Mayara: (013) 99135.8448.


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Lei obriga cobrança por horário fracionado nos estacionamentos Texto prevê valor tabelado por 15 minutos e relógio na frente do estabelecimento para o motorista ALEX RAMOS

Alex Ramos Um projeto de lei sancionado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckimin (PSDB), muda a forma como os estacionamentos irão cobrar o período. De acordo com a Lei 16.127/2016, publicada no Diário Oficial do Estado em fevereiro, os donos dessas áreas deverão receber por períodos fracionados de 15 em 15 minutos, ficando assim proibida a cobrança por hora cheia. De acordo com o deputado estadual Afonso Lobato (PV), criador da medida, ela veio ajudar os consumidores que pagam preços abusivos nesse tipo de serviço: “Essa lei vem para combater o contrassenso aplicado nestes estabelecimentos comerciais, pois o modo como atualmente são cobradas essas tarifas é visivelmente prejudicial”, declarou o político em seu site. Em Santos, alguns donos de estacionamentos são favoráveis à regra, mas fazem uma ressalva dizendo que isso pode prejudicar os que usam por longos períodos, como conta o comerciante Antônio Marco do Estacionamento e Lava Rápido Canal 4. De acordo com ele, os clientes que fazem compras rápidas ou pagam contas nos bancos é ótimo, porém, para aqueles

Na cidade de Santos alguns estabelecientos ainda continuam cobrando pela hora cheia

que ficam mais tempo, o valor será maior. “Hoje, por exemplo, nós cobramos R$ 10,00 por duas horas, mas quando a lei entrar em vigor vamos cobrar R$ 16,00 porque o preço será fracionado e serão cobrados R$ 2,00 a cada 15 minutos. Isso será bem ruim para eles”, conclui Marco. Na visão de outro comerciante, Roberto Carlos Sato, todos saem ganhando, mas acredita ser difícil alguém ficar somente 15 minutos no lu-

gar. “Na minha opinião, todos saem ganhando com essa lei, mas eu acho que o tempo ideal deveria ser de pelo menos trinta minutos, pois dificilmente você vai ver alguém que vai entrar e ficar menos de 15 minutos no estacionamento”. Em contrapartida, para Conceição de Lurdes, que atua à 23 anos no ramo, essa nova regra vai prejudicá-la e trazer ainda mais despesas. “Eu mandei fazer boletos para anotar os dados dos carros.

Gastei R$ 280,00 e agora, por 15 minutos, vou ter que ficar dando esses papéis, é horrível”. Conceição ainda comenta que cobra o preço justo e que a fiscalização deveria ir a lugares onde essa prática é abusiva. “Eu nunca abusei dos preços e sempre cobrei o justo. A primeira hora é R$ 8,00 e a seguinte é R$ 4,00. A fiscalização deveria procurar aquelas pessoa que exageram no valor”, desabafa Conceição, que ainda tem que pagar o

aluguel do estabelecimento. Já os clientes comemoram a nova regra e consideram correta essa forma de cobrança, conta a vendedora Marlene Costa. “A gente vai pagar pelo que usou. Se usamos 15, 30, vamos pagar por esse horário e não pela hora toda”. A mesma opinião é do técnico em eletrônica Gilmar Cavalcante, que vê como interessante e correta essa nova forma de pagamento. “Acho uma injustiça você pagar por uma hora, duas horas, se você ficou apenas 15 ou 20 minutos no local”. O Sindicato dos Donos de Estacionamentos e Garagens do Estado informa que vai entrar com uma ação na Justiça, porque a nova regra restringe o livre direito à atividade econômica, e porque o que é cobrado na hora cheia é para custear seguros e outras despesas. De acordo com a lei, também será exigida uma placa em local visível informando os valores praticados e um relógio para avisar ao motorista o horário correto da entrada e saída. O estabelecimento que não cumprir a medida será notificado, e caso haja reincidência será multado. Essa legislação também levou a Prefeitura de Santos a adotar a nova cobrança para o estacionamento regulamentado em vias públicas.

Benefícios

Licença Paternidade tem nova regra

Larissa Pedroso As empresas vão poder ampliar de cinco para 20 dias a duração da licença paternidade, segundo a lei sancionada pela presidente Dilma Rousseff. A regra que possibilita que o pai tenha mais 15 dias, além dos cinco já estabelecidos, só vale para funcionários das firmas que fazem parte do Programa Empresa Cidadã, que já estende a licença maternidade para seis meses. O Programa Empresa Cidadã permite a empresa deduzir do Imposto de Renda o salário pago ao funcionário nos 15 dias extras que estiver fora. A regra só vale para as empresas que têm tributação sobre lucro real. Ao todo, menos de 10% se enquadram neste perfil. Por meio desse programa, as empresas que declaram imposto de renda sobre o lucro real podem se inscrever, a fim de proporcionar às funcionárias a ampliação da licença maternidade de quatro para seis meses e,

agora, aos funcionários, a licença paternidade 20 dias. José Marques, com sua esposa no oitavo mês de gestação, trabalha na SABESP e ficou muito feliz ao saber que a empresa faz parte do programa, e que terá esse tempo maior em casa ajudando a esposa e curtindo os primeiros dias do filho. Já Vinicius Gomes, que trabalha numa empresa que não participa do programa, diz que a lei deveria favorecer todos os pais, pois será um tempo muito curto que ele terá em casa nos primeiros dias do recém-nascido. “Embora a Constituição assegure que todos são iguais perante a lei, a legislação que introduziu a ampliação da licença paternidade determina quem são os beneficiários, então só serão favorecidos os pais que trabalham em empresas que participam desse programa”, explica a advogada Maria de Lourdes Passos Hurtado Sierra. As novas regras também valem para pais ado-

LARISSA PEDROSO

A nova lei permite que agora os pais tenham mais 15 dias, além dos 05 já estabelecidos

tivos que têm guarda judicial para adoção. E o pai que tirar licença receberá seu salário de forma integral, assim como a mãe na licença maternidade. Em termos práticos, o pai pode auxiliar a mãe nos cuidados primários ao

bebê, como trocar fraldas, dar banho e viver um momento mais intenso de criação de vínculo, ressalta a psicóloga Joana Ferreira. “A adequação à nova configuração será facilmente alcançada se o pai puder viver de forma mais intensa

esses primeiros dias de vida do bebê. A criação de um vínculo forte e precoce certamente será favorável não apenas ao pai, mas também ao bebê, para o qual a figura paterna será fundamental na sua formação e desenvolvimento”, enfatiza.


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SAÚDE

Invisível nos exames, doença neurológica causada pela Zika e outros vírus preocupa

Relacionada à Zika Vírus, Guillain-Barré já atacou 1.868 brasileiros no ano passado, média 30% superior a 2014

Isabel Franson Abril de 2013. Ana Lucia Rosa, 42 anos, se levantou e foi trabalhar. A moradora de Praia Grande era tosadora de cães e trabalhava em Santos, das 13h às 22h. Naquele dia, amanheceu com muita dor de cabeça e uma dormência incomum nas pernas. No meio da tarde, falta de ar: era a traqueia fechando. Foi levada ao posto de saúde e atestada com virose. No dia seguinte, acordou com o rosto travado – especialmente o lado esquerdo. Só mexia os olhos. Dessa vez, procurou a Beneficência Portuguesa de Santos. Ataque vascular cardíaco (AVC) era uma das possibilidades, mas o exame deu negativo. Preocupada, voltou para casa. Em outra consulta, os médicos cogitaram outras doenças, como lúpus e esclerose múltipla, entre outras que a tosadora nem se lembra mais, mas nada se confirmava. Entre idas e vindas ao hospital, foram 15 dias de dores e incertezas. Ana viu músculos e membros enrijecerem, perdeu sensibilidade de parte da língua. Até que o irmão, desconfiado do julgamento dos médicos, buscou na internet os sintomas. Encontrou uma paralisia muscular causada por falhas nas terminações nervosas. “O médico debochou do meu irmão. Perguntou se ele queria saber mais que doutores formados na área. Disse a ele que não acreditava, mas que faria o exame. E que, se fosse detectada Guillain-Barré, que rezasse”. Horas depois, um pedido de desculpa e o triste diagnóstico: Ana Lucia Rosa tinha a doença. Autoimune A polirradiculoneurite aguda, ou Síndrome de Guillain-Barré, é uma doença autoimune. Isso quer dizer que, respondendo a determinado estímulo, o sistema imunológico passa a atacar o próprio organismo. No caso da doença descoberta em Paris no início do século XX, o estímulo pode partir de diferentes causas. As mais comuns são a bactéria Campylobacter jejuni – responsável por infecções no intestino –, assim como os vírus da gripe, hepatite, herpes, entre outros, e até doenças oncológicas, tratamentos quimioterápicos e vacinas. Nos últimos anos, a doença também foi atribuída ao Zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde, o Bra-

ISABEL FRANSON

Ana Lúcia Rosa luta até hoje contra as sequelas da Síndrome de Guillain Barré sil registrou 1.868 casos em 2015, média de cinco internações por dia, um crescimento de 29,8% em relação ao ano anterior. Não contagiosa Entretanto, de acordo com o médico especialista em Neurologia e professor da Unimes, Joseph Brooks, nem todos correm risco de contrair a doença. Ele explica que há uma predisposição genética nos organismos afetados. Pela evolução aguda (geralmente em torno de três dias, mas existem casos confirmados de 24 horas), os sintomas podem progredir em pouco tempo apresentando déficit de sensibilidade, formigamento e fraqueza até a impotência respiratória, levando o paciente a respirar por aparelhos. O sistema imunológico passa a considerar que a bainha de mielina (espécie de proteção das raízes do neurônio) não faz parte do próprio corpo e começa a atacá-la. Dessa forma, cérebro e músculos perdem transmissão de informações, portanto os membros deixam de responder a comandos de movimento ou informações táteis. Por ser causada por diferentes vetores, o diagnóstico não é fácil. Apenas exames específicos, como de líquor e a eletroneuromiografia, permitem chegar à conclusão. E, às vezes, nem sempre isso é o suficiente. No primeiro, é retirada amostra do líquido da medula para verificar se há in-

“O médico debochou do meu irmão. Perguntou se ele queria saber mais que doutores formados na área. Disse a ele que não acreditava, mas que faria o exame. E que, se fosse detectada GuillainBarré, que rezasse.” dícios da síndrome; no outro são choques elétricos provocados por pequenas agulhas para testar sensibilidade à dor. A ciência já descobriu quatro formas diferentes da doença. O mais comum é o AIDP – no qual a doença parte de baixo para cima no corpo –, que corresponde a 90% dos casos. A Síndrome de Miller Fischer é detectada em 5% dos pacientes e inicia na cabeça, atingindo primeiro os músculos da face e garganta. Os tipos AMAN e AMSAN são bem específicos e raros. Juntos, somam 5%. Tratamento As falhas no sistema imunológico são recuperadas pela filtragem do sangue, chamada Plasmapheresis, reeducando assim as defesas do corpo, ou pela aplicação de novos glóbulos brancos congelados,

conhecida como imunoglobulina. Ambos os processos são feitos por meio de internação no hospital e o tempo varia de acordo com a gravidade do caso. Depois de concluída esta recomposição do sistema neurológico, o paciente passa a fazer sessões de fisioterapia, hidroterapia e até fonoaudiologia, conforme o grau de necessidade. De acordo com a fisioterapeuta especialista em neurologia infantil e professora da Unisanta, Vivian Vargas, os músculos atingidos por último são os primeiros que começam a ser recuperados. O processo de reeducação muscular é feito por meio de atividades diárias como trocar de roupa, comer e escovar os dentes, além de equipamentos fisioterápicos. A taxa de mortalidade é considerada baixa: cerca de 5%. É resultado da paralisia permanente do diafragma, músculo responsável pela respiração. Para os que recuperam, os resultados são diferentes em cada paciente. Casos graves correspondem a 20% e podem deixar grandes sequelas motoras ou de sensibilidade. Cerca de 80% dos casos são mais brandos: apresentam melhoras em poucas semanas e recuperação significativa em meses, mas nunca completa. Quem teve Síndrome de Guillain-Barré enfrenta dificuldades todos os dias, desde cãibras nos músculos

afetados a desequilíbrio e movimentação limitada. Futuro Segundo dados do Instituto Nacional de Desordens Neurológicas e Derrame dos EUA, 30% das pessoas apresentam fraqueza wresidual após três anos e aproximadamente 3% podem sofrer uma recaída da fraqueza muscular e formigamento muitos anos depois da primeira crise. Ana, depois de 3 anos, ainda sente muitas dores e anda com auxílio de bengala. Entrou com pedido na Justiça e recentemente se aposentou por invalidez, pois não conseguia mais trabalhar como tosadora. Hoje, ela e a irmã tem em casa um hotel para cachorros. Ana se encarrega da parte administrativa por não ter condição de lidar com os animais, enquanto a irmã cuida dos cães. Determinada, a moradora de Praia Grande vê falta de informação quanto à doença e luta para sua divulgação. Ela e amigos que conheceu pela internet, também vítimas da doença, planejam uma campanha com depoimentos e mensagens positivas para quem procurar saber mais sobre a síndrome. “Precisamos usar nosso poder de informação e ajudar as pessoas a entenderem a gravidade da doença, mas que há tratamento. Quanto antes for dado o diagnóstico, mais chances existem de recuperação”, diz.


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Vida e meio ambiente

Verde que te quero ver Mesmo desacelerado em 71%, desmatamento da Mata Atlântica ainda é preocupante

Beatriz Pereira Quando se fala em natureza a mente nos remete a uma área afastada da zona urbana, repleta de animais exóticos, e vegetação densa. Entretanto, ela não está em um lugar tão remoto. Afinal, quem reside na Baixada Santista pode usufruir do que sobrou da Mata Atlântica, visto que a maior parte dos 7% restantes encontram-se em território paulista, especialmente ao longo do litoral. A última pesquisa do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em parceria com a ONG SOS Mata Atlântica, realizada no período de 2013-2014, mostrou que apesar do desaceleramento em 71% da desflorestação, foram degradadas 95.066 hectares em todo o País (o equivalente a 95 mil campos de futebol do tamanho do Maracanã). Em São Paulo, esse número atingiu a marca de 61 hectares, a mais elevada da região Sudeste. Unidades de conservação e leis como a da Mata Atlântica, criada em 2006, juntamente com outros projetos e campanhas, vem batalhando para diminuir os impactos econômicos no meio ambiente. A conscientização da população sobre o potencial dessas áreas, seja em relação à qualidade de vida dos moradores locais ou sobre o desenvolvimento econômico agregado ao turismo, é fundamental

BEATRIZ PEREIRA

Vista do Morro do Voturuá, em São Vicente, um dos roteiros procurados pelos praticantes de atividades ecológicas e esportivas

para especialistas que trabalham na área do ecoturismo. Na região, existem agências que atuam neste mercado, unindo os fatores preservação e lazer. “Apesar da crise, a procura é crescente na Baixada Santista”, explica Renato Marchesini, dono da Caiçara Expedições, atuando neste segmento desde 1999, com mais de cem projetos disponíveis. Com o intuito não só de proporcionar momentos de diversão e atividades como também de aproximar os participantes da natureza, e

informar sobre os cuidados fundamentais para a perpetuação do bioma, os roteiros ecológicos são procurados por empresas, grupos, embaixadas e, principalmente, escolas, que buscam integração com o meio natural. “As escolas, hoje, não querem dar somente aula em sala, pois não é mais suficiente. É preciso vivenciar as atividades”, diz Renato. “Até um tempo atrás, era algo a mais, porém hoje é obrigação. Os pais procuram por escolas com essa didática, porque é a chance do filho conhecer

e aprender mais”, ressalta. Este pensamento é compartilhado por praticantes das atividades, como a funcionária pública Erika Hatsusegawa, que reforça a importância da conscientização das pessoas sobre o ecossistema. “Resolvi participar do ecoturismo, porque é uma forma de estar na natureza apreciando-a, conhecendo lugares novos, aprendendo a cada passeio e repondo energia perdida no meio urbano, sempre ciente de não danificar algo por onde passamos. Isso, além do propósito de lazer,

proporciona a conscientização das pessoas”, reflete Erika. “Na Baixada, não existem apenas as praias para brincar. Do lado oposto, há uma exuberante Mata Atlântica, o restinho que sobrou de todo o País e se não for protegida, será extinta”. Ensinamentos como este são transmitidos para as crianças, por meio de trilhas e roteiros educacionais, que difundem os ideais ecológicos. “A criançada é o futuro do País. É preciso conhecer para preservar e a partir dessa consciência, tornar-se um agente da causa”, afirma.

localidade”, afirma a voluntária. Entretanto, a conscientização é ainda carente na sociedade atual. Segundo Cinthia, as pessoas, em principal os adultos, têm o hábito de transferir a responsabilidade para terceiros. “Quando você anda e não vê uma lata de lixo perto, o que você faz? Joga o papel no chão. Isso é algo que costumamos mostrar. Se não há uma lata de lixo, enfia-o no bolso. Segure-o até você achar um lugar adequado para jogar. Então, a maioria dos pais contribui para não ter educação. Eles não colaboram”. E complementa. “Nós temos como ajudar, mas é um trabalho em conjunto. Cada pai pode contribuir de várias formas e é fundamental o apoio de todos.” Outra problemática é a tecnologia, que vem afastando os jovens cada vez mais, não só do convívio social, como da ligação com a natureza. “Eu convido muitas amigas para participar e elas dizem preferir ficar em casa, sair

ou ficar na internet”, conta a escoteira Maryani Alves, 15 anos. “No escotismo a gente participa muito com o ambiente. Adoro esse contato, e acampar”, complementa. Já para a chefe Cinthia, é cômodo aos pais deixarem seus filhos conectados no computador, pois assim não estão se envolvendo com práticas ruins. “Esquecem-se, também, que não estarão envolvendo-se com coisas boas, pois pode ter um pedófilo do outro lado da tela ou um traficante de drogas, indicando onde comprar, além de outras coisas erradas, que aparecem na internet”. Mas para jovens como Gabriela Santos, 14, o escotismo é parte importante da vida dela. “Seria bom se todos os adolescentes pudessem ter acesso ao grupo de escoteiro”. A participação dos pais na rotina do grupo também é outro ponto reforçado pela amiga Maryani. “É legal para se fazer em família. Pois, assim, todo mundo pode participar desse movimento”, destaca.

Construindo um mundo melhor BEATRIZ PEREIRA

Beatriz Pereira

O grupo de escoteiros é o lugar certo, em se tratando de formar cidadãos ativos, na luta a favor do meio ambiente. Sempre em contato com a natureza, mostrando a necessidade de proteção e respeito, o trabalho realizado com as crianças e adolescentes é uma maneira de ensinar preceitos básicos para a nova geração. “Isso faz parte do movimento escoteiro. Qualquer acampamento ou atividade, se nós estragamos ou precisamos mudar alguma coisa de lugar, vamos arrumar e deixar melhor do que estava antes”, relata a chefe e voluntária, Cinthia Miranda, uma das responsáveis do Grupo Escoteiros do Ar, de São Vicente. “Fazemos isso para eles entenderem que esse mundo depende deles.” Buscando integrar os jovens ao ecossistema, roteiros e atividades ecológicas são a aposta da instituição. Seja por intermédio de jornais, noticiários ou pelo boca-a-boca, o

Atividades reforçam o cuidado das crianças com a natureza

destino é averiguado e se as condições e segurança estiverem em ordem, os passeios são realizados.“O escoteiro

nunca entra numa mata desconhecida. Eles têm que conhecer o local antes, ver os caminhos, o que tem ou não na


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MEIO AMBIENTE

Cooperativas não recolhem produtos para reciclagem Como consequência, há aumento do lixo ao longo das praias da cidade

Isabela Ribeiro

Isabela Ribeiro A quantidade de lixo e a poluição têm crescido nas praias de Santos, litoral de São Paulo. A maioria dos redídos é reciclável, como garrafas de plástico, papéis, sacolas e embalagens de salgadinho. Sujeira que chega ao mar, poluindo e trazendo consequências para o ecossistema. Na cidade, existe a coleta de lixo limpo nos bairros, que recolhe cerca de 450 toneladas. A questão é a importância e atenção dada aos detritos lançados na praia. Segundo a secretária do Meio Ambiente, Debora Blanco, a coleta de recicláveis na orla segue o mesmo cronograma dos demais bairros da cidade. Os quiosques e carrinhos que ficam situados na praia são maiores produtores de lixo limpo, mas não fazem a separação apropriada. Isso ocorre porque a lei municipal não obriga, apenas incentiva a separação e a entrega ao serviço público de reciclagem. Para Debora, é necessário alinhar a legislação municipal com a legislação estadual e federal, que disciplinam a matéria para que seja feita uma fiscalização mais eficiente do ponto de vista legal. Visando a melhoria das

Lixeiras da Prefeitura nas praias de Santos facilitam a separação de lixo reciclável e orgânico.

praias de Santos, a Prefeitura colocou duas lixeiras próximas a cada poste de luz na areia, uma verde para orgânicos e outra laranja para lixo limpo. Observa-se também que a população não faz o uso correto, descartando todo tipo de lixo em ambas. Para a secretária, o mau uso não é devido à má sinalização, porque nas duas está escrito que tipo de resíduo deve ser depositado, mas, sim á população, que não faz uso correto das ferramentas disponibilizadas para melhoria do meio ambiente.

Quando questionada porque não há cooperativas que façam uma varredura exclusivamente de recicláveis, a secretária disse que, infelizmente, em Santos existem apenas duas cooperativas e uma Ong que trabalham com esse tipo de resíduo. E nenhuma delas está em condições financeiras de assumir os custos operacionais que um serviço desta natureza representa. Reciclagem de cocos Muitas cidades do litoral têm quiosques e carrinhos de coco, que é uma matéria pri-

ma reciclável. Recentemente, na Praia do Itararé, em São Vicente, foi instalado um coletor para esse descarte exclusivo. O contêines tem capacidade para uma tonelada. O projeto é experimental, a Codesavi espera a adesão da população e de visitantes para a implantação de outros pontos de coleta. Segundo a empresa municipal, após a desativação do lixão Sambaiatuba, o projeto do centro de reciclagem de coco parou de funcionar. A ideia do centro era que todas as cidades da Baixada

tivessem acesso à unidade, reciclando e diminuindo o lixo da região. Mas, isso nunca chegou a se concretizar. Segundo José Costa dos Santos, mais conhecido como “Zé do Coco”, os cocos de Santos são recolhidos pela Terracom. A Prefeitura está sempre fiscalizando para saber se o lixo está todo em ordem, mas eles ainda não tiveram uma ideia melhor a respeito do destino do coco. Zé chegou a procurar alternativas para começar a reciclar, mas não encontrou nenhuma medida a ser tomada.

Lowsumerism: tendência ou consciência? Paola Bossan Consumir menos, viver apenas com o necessário e buscar alternativas para o consumo tradicional: essas são as premissas do Lowsumerism – ou consumo consciente. A tendência, que consiste em consumir de forma responsável, pensando nas consequências dos atos de compra no equilibro ambiental e nas futuras gerações, tem ganhado força durante os últimos anos. Os hábitos de consumo moderno começaram a ser moldados há mais de um século, após a Revolução Industrial. Para que a industrialização funcionasse, não bastava que fossem produzidos muitos produtos, era preciso que houvesse uma demanda correspondente. Portanto, as pessoas foram incentivadas por meio de propagandas e crédito fácil a comprar mais do que precisavam. Com o surgimento do “sonho

de consumo americano” na década de 50, foi firmada a mentalidade de que possuir mais era sinônimo de viver melhor. A partir 1990, surgiram novas técnicas de produção e a mão de obra se tornou mais barata, fazendo com o que o volume produzido aumentasse de maneira exponencial. Além disso, a tecnologia se desenvolvia a cada dia e ter os produtos mais modernos se tornou símbolo de status e sucesso. Desde então, o consumo se transformou em consumismo. Com o consumismo desenfreado, vieram os problemas. Somente nas últimas três décadas, um terço dos recursos naturais da Terra foram consumidos. Fábricas se instalaram em países pobres, e têm mantido trabalhadores em regime de escravidão para obter mais lucro. Toneladas de poluentes foram lançados na atmosfera. Contudo, o consumo consciente surgiu como uma alternativa

sustentável à maneira tradicional de consumir, que repensa se a satisfação em adquirir um novo produto compensa os danos que sua produção causa. Pessoas como Cristal Muniz, autora do blog Um ano sem lixo, têm demonstrado que essa alternativa pode ser mais simples do que parece. A ideia de mudar seu estilo de vida foi inspirada na blogueira americana Lauren Singer, que escreve o blog Trash is for Toosers, e guarda todo o lixo que produziu em três anos dentro de um pote de vidro. “Ela mora em Nova York, no Brooklyn, é descolada, chique, veste preto e não tem cara de hippie. Não faz o estereótipo de natureba. Me encantei por isso, porque não sabia se conseguiria abrir mão do meu estilo”, explica Cristal. Segundo ela, viver produzindo o mínimo de lixo possível é similar a viver produzindo o máximo. “Minha rotina, em si,

não mudou quase nada. Antes de sair de casa eu confiro se estou levando um guardanapo e uma sacola de pano, caso saiba que vou comprar algo e só. Tenho sempre talheres e um copo na bolsa, que nunca saem dali. Para fazer compras, eu vou uma vez por semana na feira e, se preciso, vou em alguma loja a granel”. Com a transição, ela passou a gastar menos tempo fazendo compras, e menos dinheiro também, pois começou a usar o que tinha em casa até o final e produzir seus próprios produtos de limpeza, beleza e higiene pessoal. O que é supérfluo e não pode ser adaptado à sua maneira de viver é deixado de lado, e coisas necessárias como lâmpadas e eletrônicos são descartados no local certo em mercados. “Primeiro é mais difícil mudar o modus operandi que temos ao fazer compras, ter coisas e o que usamos. Depois é ter informação coerente para

questionar o que é exposto nos mercados, lojas e farmácias como solução segura. É preciso muita pesquisa e conversa para descobrir caminhos novos e passar a trocar todas as coisas que você tem por opções feitas em casa, naturais ou até deixar de usar certas coisas”. A sociedade já reflete essa tendência. Como exemplo disso, é possível citar a economia compartilhada, os aplicativos de troca, e as lojas com novos conceitos de produção que englobam pagamento justo a quem faz as roupas e o uso de materiais naturais de qualidade. As pessoas, jovens em especial, tem levantado questionamentos e relacionado as atitudes de hoje com o futuro do planeta. Tudo isso leva pesquisadores comportamentais, como a empresa BOX 1284, a crer que uma onda de consumo consciente pode começar nos próximos anos.


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CULTURA

Concha Acústica apresenta restrição a certos intrumentos musicais A reforma no valor de R$ 1,2 milhão, trouxe insatisfação aos músicos da região Gabriela Brino A reinauguração de um dos principais pontos culturais da cidade de Santos, a Concha Acústica, localizada na orla do bairro Gonzaga, canal 3, recebeu controle de som para preservar a comodidade dos moradores vizinhos e o ambiente à sua volta. Porém, o local enfrenta problemas, já que os limites impostos pelo Termo de ajustamento de conduta (TAC) impedem instrumentos de percussão, guitarra, bateria, baixo, os sinfônicos, além de caixas de retorno para o palco, reprodutores e amplificadores. O produtor musical e visual Victor Panchorra, 38, participante do Conselho

de Cultura (Concult), frequentou as reuniões relacionadas à concha e relatou que a pessoa que criou o TAC simplesmente excluiu toda a parte rítmica do gênero, Tornando-a um lugar antidemocrático, já que restringe o uso de percussionistas e bateristas. Segundo ele, um equipamento apenas para instrumentos que praticamente não têm pressão sonora não precisa ser isolado. “Foi reaberta de qualquer jeito. Banda de rock e de samba não podem se apresentar com os instrumentos originais do estilo. Não é democrático. É a concha que sofre com o problema do barulho. O trânsito aumentou demais, consequentemente o ruído

ambém. A reformulação não mudou em nada a decisão da Justiça, porque proibiram qualquer tipo de show que tenha percussão, já que bateria, tambor, entre outros, são os de maior pressão sonora. Agora é permitido violão, piano, tudo que se liga diretamente “a mesa”de som. Os vidros se aliaram à concha para proteger o show, já que a sonora é tão baixa, que o barulho da rua atrapalha a apresentação” conclui. O produtor ainda faz uma observação de que os vidros fizeram a concha perder sua essência, porque passa a imagem de um local privado. As pessoas passam enquanto o show acontece e não se sentem 100% à vontade para entrar e conhecer o tipo de cultura

Academia Peruibense de Letras comemora 12 anos de atividades Kelvyn Henrique A Academia Peruibense de Letras (APLetras) vêm há 12 anos realizando trabalhos de cunho cultural em Peruíbe, por meio da escrita de livros, contos e poesias. “Procuramos preservar a literatura nacional, local e a Língua Portuguesa em geral”, define a presidente em exercício, Eugenia Flavian, que também informa a realização de um concurso de contos em maio. Com um total de 40 cadeiras, 23 delas ocupadas, a entidade foi fundada em novembro de 2004 Conta com oito acadêmicos correspondentes,pessoas que não moram mais na cidade, mas que continuam a contribuir encaminhando textos, que divulgam-na onde residem. A APLetras publica a cada dois anos uma coletânea com textos inéditos dos acadêmicos, intitulada “Ofícios e Artifícios da Academia Peruibense de Letras”. O quinto volume, com o título complementar de “Dez anos depois”, publicado em 2014, foi o último da série. Após dez anos de publicação, fechou-se um ciclo e iniciou-se outro e por isso a direção decidiu trocar o nome a partir do volume seis, que saiu em 2015 e que se chama “Letrando”.

Diferentemente do que ocorria com as outras edições, a partir de agora a publicação será anual. Outra possível mudança, segundo Eugenia, será no nome. Ao invés de “Letrando volume dois, três”, a denominação passará a mudar a cada edição. “Mas o espírito é o mesmo. Reunir o que cada um escreveu”. Semana de Artes e Cultura (SEMAC) Durante seus primeiros anos, a APLetras organizava a Semana de Artes e Cultura (SEMAC). Eram noites de diversas apresentações culturais de teatro, música, dança, palestras, jograis, entre outros. Como na época a academia não possuía uma sede própria, acabavam dependendo da cessão de um espaço para as atividades durante a semana. Isso, somado ao trabalho que dava para montar e desmontar cada cenário, acabou tornando o projeto muito trabalhoso e ele teve que ser encerrado. “Era uma delícia. Cada dia um evento, cada dia uma atividade. Era muito gostoso”, relembra Eugenia. Como entrar na APLetras Todos os anos são abertas inscrições para as cadeiras vagas, mas, para preenchê-las, os candidatos devem cumprir alguns requisitos:

ser brasileiro nato ou naturalizado, ter mais de 30 anos, residir em Peruíbe há mais de três anos e ter alguma obra literária (publicada ou não). É necessário ser morador da cidade, para que o ocupante não deixe a cadeira vaga, se mudando, e também é necessário que saiba da história da cidade e seus problemas. Quanto a ter uma obra literária, é para se ter uma noção do tipo de escrita do candidato. Este ano haverá uma reforma nas regras da academia, que tem como base os estatutos da Academia Paulista e da Academia Brasileira de Letras, para readequá-la à realidade da cidade. Entre as regras que deverão ser revistas está a de idade mínima de 30 anos para ingressar como acadêmico. “Para nós, faria muito bem ver gente com novas visões, com perspectivas atuais. E para quem é mais jovem, ter contato com pessoas de mais experiência é poder enriquecer. Seria um enriquecimento mútuo”. Ainda não está definida a nova idade mínima, já que, talvez, alguém muito jovem poderia não ter muita paciência para as reuniões realizadas pelos acadêmicos. O diretor cultural da APLetras, Jorge Braga da Silva, também acredita que escritores mais novos renovariam a academia, pro-

que a banda oferece. Victor fez um vídeo registrando o volume do evento Arena Praia e Cia, do jornal A Tribuna, ocorrido ao lado da Concha Acústica, que superava qualquer som ambiente do local. A Prefeitura foi questionada, porém resumiu a situação informando não haver denúncia ou reclamação na Ouvidoria Municipal sobre barulho ou irregularidade na tenda. Milton Medusa, guitarrista e professor, comenta que em dezembro de 2012, ao saber que a bateria acústica não seria permitida, questionou a Prefeitura, argumentando que quase nenhuma banda possuía bateria eletrônica. Na época ficaram de pensar no que fariam a respeito. ”O valor da reforma chegou a

R$ 1,2 milhão para que a vedação correta fosse feita. A PREFEITURA Em nota, a Secretária de Cultura de Santos explica que a Concha Acústica opera com limitações previstas após testes de som feitos por técnicos do Ministério Público, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e Prefeitura de Santos, e que não tem como objetivo proibir a reprodução de gêneros que dependam de grandes instrumentos de percussão. O secretário de cultura da Cidade, Fábio Nunes, o Professor Fabião, foi procurado pela reportagem, mas não retornou as ligações.

KELVYN HENRIQUE

Presidente da APLetras, Eugênia Flavian

Antes, os eventos da moveriam discussões e atraiAPLetras eram divulgados riam outros mais jovens. por meio de jornal feito pelos Próximos eventos, meios próprios acadêmicos. Atualde divulgação e localiza- mente, a divulgação é realizada pelo blog apeletras.bloção da academia O próximo evento a ser re- gspot.com.br/ e pela página alizado pela academia será do Facebook www.facebook. um concurso de contos, com com/apeletras/ A sede da APLetras o tema “Casamento”, que ocorrerá até o final de maio f i c a n a Av. P a d r e A n em conjunto com a TV local, c h i e t a , n º 4 2 9 7 , n o C e n Vale das Artes. Será aberto t r o d e P e r u í b e , e m u m a ao público e os textos po- s a l a c e d i d a p e l a T V Va l e dem ser enviados via email d a s A r t e s . A s r e u n i õ e s ou carta. O primeiro coloca- o c o r r e m m e n s a l m e n t e , do receberá um tablet como n a ú l t i m a q u i n t a - f e i r a d o mês, das 20h às 22h. prêmio.


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CULTURA E VARIEDADES

Redes sociais influenciam comportamento Trazendo rapidez e inovação, a Internet ajuda no cotidiano. Mas, será que ela pode nos prejudicar? CRÉDITO DA FOTO: BEATRIZ MONTEIRO

Internet e seus meios estão na rotina dos jovens hoje em dia para diversos objetivos

Beatriz Monteiro

A

Internet surgiu na vida das pessoas na década de 80, mas ninguém imaginava a revolução que ela traria até os dias de hoje. Ligada a uma ampla variedade de tecnologias de rede eletrônica, ela está em - praticamente - todos os lugares e facilitando o dia a dia das pessoas. A rede permitiu e acelerou a criação de novas formas de interações humanas por meio de mensagens instantâneas, fóruns de discussões, redes sociais e abrangência do mundo inteiro. Porém, a relevância que as pessoas dão à ela em suas vidas é benéfica? Isso altera o comportamento e modo de agir de crian-

ças, adolescentes e adultos? A psicopedagoga Rosa Lopes Coelho analisa duas vertentes: a social e a comportamental, e como professora percebe como há interferência na parte pedagógica diante dos jovens, pela facilidade à informação, e a abertura e acesso a tudo em tempo real. “A Internet veio para agregar, muito mais rápido e fácil de trabalhar. Porém, vemos crianças, jovens e adultos se perdendo num vício. Vemos como diminuíram ciclos sociais”, avalia. A profissional afirma que este é agora comportamento dessa geração, e não tem como voltar atrás e comparar com a realidade de algumas décadas: “A realidade hoje é outra”. Rosa destaca que, por con-

ta do convívio mútuo com as redes, a sociedade não está objetiva, nem facilitadora, deixando alguns hábitos importantes de lado. “Comportamento de educação e respeito, comportamento em sala de aula na parte pedagógica, que afeta o aprendizado, porque não desenvolve corretamente o raciocínio lógico. Nós temos a questão do comportamento social fora da escola e dentro dela”, constata. Doenças ocupacionais, funcionais, psiquiátricas, psicológicas e psicossociais, distúrbios e transtornos podem ser iniciados pela mudança de comportamento. Questionada se tudo isso pode ser causado por pessoas que disseminam informações por meio da Internet, onde todos podem expor suas idéias e modos de pensar, ela opina: “Existe uma influência, sim. Há muita coisa

boa como também ruim. Existem pessoas bem e mal intencionadas em qualquer lugar”. A profissional ainda criticou a “adultização” de crianças, que não se desenvolvem na sua faixa etária adequada, principalmente garotas inspiradas em it girls – mulheres, geralmente muito jovens, que, mesmo sem querer, criam tendências, despertam o interesse das pessoas em relação ao seu modo de vestir, de andar, pensar ou ser. Mas, ressalta que a internet veio para agregar coisas boas para quem visualiza, produz e dissemina informação. “Você vê artistas, você vê pessoas fazendo coisas para a sociedade, pessoas querendo ajudar de alguma forma, seja psicológica ou na prática, defendendo alguma causa, e isso é muito bom, como uma via de mão dupla”, completa Rosa. CRÉDITO DA FOTO: BEATRIZ MONTEIRO

A psicopedagoga Rosa Lopes opina sobre o comportamento por intermédio da internet

E também geram renda O que a Internet pode interferir na vida de alguns, abre porta na vida de outros. Hoje em dia, trabalhar na Internet é um dos empregos mais eficazes e atuais no cotidiano moderno. Além da grande visibilidade, disseminar idéias e opiniões sobre o mundo acaba sendo uma forma de informação. O publicitário Leonardo Bacci, 23 anos, criador do canal “Bom dia Léo”, no YouTube, com mais de 500 mil inscritos, considera “o melhor trabalho que poderia ter”. Léo, como é chamado por seus fãs, admite que, como qualquer trabalho, tem seu lado bom e ruim: “o bom é ter seus próprios horários, liberdade criativa, conhecer muitas pessoas que

nunca iria conhecer, e o lado ruim é que se sente sozinho” Adquirindo sucesso em apenas três anos, Léo acha importante e essencial o tipo de comunicação entre profissional da Internet e seguidores.E admite não vê-los como fãs e nem se vê como criador de opinião, mas sim como se fossem todos amigos. “O retorno é muito legal. Eles me dão dicas do que está dando certo, me ajudam com temas e é muito legal ver que em alguns casos eu os ajudo de verdade. Recebo e-mails de gente que estava mal, doente ou com depressão, e que meus vídeos ajudaram a passar por isso. Eu me sinto parte da vida de cada um dos que me assistem, assim

como eles da minha”, afirma. O publicitário comenta que sofreu certa influência de comportamento, pelo lado positivo, do youtuber PC Siqueira. “Com certeza, ele me influenciou a ter uma visão das coisas que, até então, eu não tinha porque estava na minha bolha”, frisa, analisando a vantagem que a Internet traz. “Eu fiz o canal em uma época em que as pessoas reclamavam muito na Internet, então queria algo que fosse diferente e que trouxesse um pouco de humor no dia das pessoas, porque ninguém merece ter um dia cheio e ver alguém reclamando. E se eu puder levar algo para os internautas, um tempinho no seu dia corrido para

se distrair e dar umas risadas, já alcancei meu objetivo”. Léo não imaginava a proporção que isso tomaria, porém sempre pensou e quis que desse certo. Imaginava-se produzindo conteúdo com seus vídeos, apostou sem saber se seria possível, se iriam gostar dele, e até hoje, colhe bons frutos. Viagens, parcerias, amizades e até mesmo o lançamento de seu livro. As histórias contadas em seus vídeos tornaram-se crônicas no “Bom dia Leo - O Livro”, lançado em 2015, com muito bom humor e suas famosas frases e histórias que conquistaram fãs no Brasil inteiro. Sobre a inspiração que esses ídolos trazem nos jovens,

o youtuber analisa que sempre foi assim. Jovens se inspirarem em atores, cantores e escritores, e como qualquer produtor de conteúdo, ele crê que pode afetar a personalidade, porém não acha arriscada a influência. “O problema é seguir alguém cegamente”, adverte. Apesar de seus milhares de fãs em redes sociais - Twitter 116 mil, Instagram 223 mil, Facebook 60 mil, Snapchat 20 mil visualizações -, Léo não se sente um influenciador na nova geração: “Mas, cada um é afetado de um modo diferente pelo que eu faço, e como atinjo muitas pessoas, influenciar algumas delas acaba sendo uma consequência”, conclui.


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pROJETO

TAMTAM é exemplo de inclusão e cidadania

Com quase 30 anos de existência, o projeto proporciona atividades de interação social e é referência no Brasil e no mundo BEATRIZ FERREIRA

Beatriz R. Ferreira Em meio aos considerados loucos, da extinta Casa de Saúde Anchieta, nasceu o Projeto TAMTAM, depois de uma ação pública instalada no antigo hospício. Denunciada por maus tratos, a chamada “Casa dos Horrores” sofreu uma intervenção em 1989, pela Prefeitura de Santos, em nome da dignidade humana. A equipe designada pelo governo santista para realizar o trabalho conta com o arte educador e pedagogo Renato Di Renzo, que apresenta por meio da arte e interação uma maneira diferente de tratar a saúde mental. Para humanizar o tratamento, alguns pacientes começaram a freqüentar oficinas de teatro, pintura e dança. Renato conta que conseguiu reunir um grupo de artistas e que, com eles, pintou as paredes do Anchieta. O lugar que um dia foi chamado de “Casa dos Horrores” contava agora com paredes coloridas que encantavam os moradores e pacientes. As ações dentro do Anchieta tornaram-se motivo de matérias em jornais de grande repercussão, como Washington Post, Rádio BBC de Londres, Folha de São Paulo, Revista Veja, Isto É, e programas de TV, como Fantástico e Jô Soares. Invasão de lares santistas Renato ajudou a criar formas, por meio dos meios de comunicação, em que os pacientes começaram a se ocupar com a criação. Os exemplos citados por Di Renzo são a TV TAMTAM, o Jornal TAMTAM e a Rádio TAMTAM, o último reconhecido por vários santistas da época. Com o pedagogo como roteirista, a rádio teve seu início dentro da Casa Anchieta, e seus locutores eram os próprios “loucos”. Por intermédio de cooperação, eles construíram o estúdio de onde as notícias eram transmitidas. Inicialmente, a programação contava com 30 minutos de duração. Di Renzo percebeu o potencial da Rádio TAMTAM e conseguiu com que o grupo fosse parar nas casas da Baixada por meio de uma estação AM. “A primeira emissora no mundo com “loucos” foi a rádio TAMTAM”, enfatiza. Considerada uma rádio diferenciada, a TAMTAM conseguiu entrevistas importantes. Chegou a ocupar o primeiro lugar de audiência na Baixada Santista e conseguiu com que

Alunos participam da oficina de Livre Expressão - Leitura e Convivência, onde abordam temas literários

o grupo de pacientes fosse reconhecido por todo o Brasil, não por sua loucura, mas pela maneira inovadora de se fazer uma rádio, que ficou no ar por nove anos.

zo dirija o grupo Orgone (fundado por ela há algum tempo). Com uma nova linguagem, na qual dança e teatro se unem para criar cenas, festivais em todo o país reconheceram o

Claudia Alonso como líderes, colaboradores e voluntários e o projeto decide que é neces- atualmente atende 180 pessosária a criação de uma ONG as (de 7 a 70 anos). para que, independentemente O projeto tenta parceria com do governo naquele período, a Prefeitura, mas, no momena filosofia e estética do projeto to, arrecada fundos por meio fossem mantidos. Então, em das noites de festa no Rolidei, BEATRIZ FERREIRA 1992, é fundada a ONG Asso- que conta com a participação ciação Projeto TAMTAM. de voluntários e bandas ao Depois de ocupar diversos vivo. É permitida a entrada lugares diferentes, o projeto se para todas as idades. manteve vivo e hoje tem o seu ponto fixo (desde 2003) no Café Comemoração Teatro Rolidei, espaço dentro No mês de maio é comemorado Teatro Municipal de Santos, do o Dia da Luta Antimanicoonde ocorrem oficinas de tea- mial e o Projeto TAMTAM, em tro, dança (jazz, balé clássico parceria com a Secretaria de e contemporâneo), literatura e Cultura de Santos (Secult) repoesia, com lançamento de li- alizará uma semana de palesvro dos alunos, musicalização, tras, debates, oficinas, aprefotografia, artesanato etc. sentações teatrais, exposições Reconhecido por sua luta fotográficas, instalações de antimanicomial e revolucio- vídeo, feiras de artesanato e Renato Di Renzo e Cláudia Alonso, fundadores do TAMTAM nário no tratamento de saú- talento. de mental, o TAMTAM atenA abertura oficial desta seEscola de Dança Orgone trabalho e o premiaram. de pessoas com diferentes mana será no dia 14 de maio, A psicóloga e bailarina Clausíndromes (Down, Asperger, um sábado, às 20h, na Av. Sedia Alonso, por intermédio do Anos 90 Williams) e qualquer tipo de nador Pinheiro Machado, 48, médico e ex-prefeito Davi Ca- Tendo Renato Di Renzo e condição especial. Conta com 3º piso. A entrada é gratuita. BEATRIZ FERREIRA pistrano, conheceu Renato Di Renzo nos anos 80. Nessa época, a intervenção já havia acontecido na Casa de Saúde Anchieta e foi onde Claudia teve sua carteira de trabalho assinada como educadora de dança. Ao se deparar com a realidade dos alunos/pacientes, Claudia diz que tirou “a sapatilha do pé, no sentido real e simbólico”, para dançar com aqueles que – muitas vezes debilitados – precisavam se expressar sem a necessidade da exigência de uma coreografia complexa. Passados alguns anos, Oficina Jazz para quem não dança é uma das atividades do Grupo Claudia pede para que Di Ren-


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CULTURA

Muretas viram xodó dos santistas

Geometria de aros tangenciados por travessões caiu no imaginário caiçara e tornou-se referência cultural Alyson Gonçalo Em Paris, a Torre Eiffel. Em Nova York, a Estátua da Liberdade. Em Londres, o Big Ben. É notório que Santos, nem de perto, se compara a essas megalópoles citadas, mas carrega consigo algo em comum: um símbolo arquitetônico e cultural. Espalhada na orla da praia, canais, nos bancos de praça, em peças de artesanato e por todo o Município, a representação das muretas de Santos se tornou uma das principais referências simbólicas da Cidade. Com um metro de largura e 60 centímetros de altura, a geometria com aros tangenciados por travessões faz parte da história de Santos há 72 anos. Não existem registros históricos que apontem o “criador” das muretas. Ela foi inserida pela Prefeitura entre os anos de 1942 e 1943, na Ponta da Praia, e ao passar dos anos caiu na graça do imaginário caiçara. Hoje, a produção do ícone fica por conta do Departamento de Serviços Públicos (Deserp) da Prefeitura. Nos últimos anos, a administração municipal decidiu deixar de lado fornecedores e passou a produzir os próprios moldes da peça. Como forma de adoção simbólica, assim como os tradicionais bondes, eles seguem sendo espalhados em diversas localidades públicas. “Este tipo de símbolo começou a ser amplamente usado em todos os cantos da região há algum tempo. Isso se deve pela facilidade de entendimento das formas. Ou seja, ele é simples, graficamente fácil de ser reproduzido e, o principal, foi espalhado em todos os cantos”, disse a professora da Universidade Santa Cecília e designer gráfica, Márcia Okida. “As muretas de Santos não apenas fazem parte da iconografia da Cidade, mas têm um apelo emocional muito forte. Elas são um símbolo afetivo. O desenho das muretas em si é realmente muito bonito graficamente. Ele tem referências claras do estilo Art Déco, que foi muito utilizado na arquitetura, decoração, ilustração e joalheria a partir dos anos 1910, na França”, completou Sandra Ceolin, designer de moda e uma das grandes apaixonadas pelas muretas.

ALYSON GONÇALO

Desde a década de 40 nas praias de Santos, o famoso guarda-corpo vem despertando o imaginário dos munícipes DIVULGAÇÃO

Estúdio em Santos realizou diversas tatuagens com a forma ALYSON GONÇALO

Designer gráfica confecciona joias preciosas com a mureta

das muretas em formato de jóias. A ideia deu certo e, desde 2007, ela vem colecionando fãs que buscam presentes dos mais variados possíveis. Com ajuda de uma equipe de ourives, ela produz em seu Vale ouro A paixão é tão grande que ateliê materiais nobres, como Sandra, ao lado da colega de a prata e o ouro 18 quilates. “Muitos dos clientes que já profissão Mônica Figo, resolusavam o anel passaram a veu apostar na reprodução

me pedir outras peças. Assim, aos poucos, foram surgindo os brincos, o colar, a pulseira. Hoje, a “coleção Mureta da Praia” possui oito itens diferentes, e, provavelmente, continuará crescendo. Não paro de pensar nela nunca”, afirma. Um grande exemplo da adoção dos santistas em torno das muretas é a professora An-

dréa Alvarez. Nascida e criada na Cidade, ela vê no tão famoso guarda-corpo a geometria ideal para carregar consigo a história e representatividade regional de seu local de origem. Recentemente, recebeu do marido, o advogado Wagner Melo, um anel da coleção da designer Ceolin e utiliza-o como uma espécie de amuleto

no seu dia a dia. “Senti-me muito feliz em ser presenteada com uma jóia tão especial como essa. Ela ilustra todo um Município e, além disso, foi confeccionada por uma artista da nossa terra. Virou o meu xodó! Utilizo sempre em todos os lugares onde vou”, contou Andréa. Na pele A reprodução da forma geométrica tão conhecida atravessou as ruas e ganhou espaço também na pele dos moradores. Nos últimos anos, a procura de munícipes que desejam tatuar o corpo em homenagem à Cidade vem aumentando. No dia 26 de janeiro, aniversário de 470 anos de Santos, o estúdio Santos City Tatoo investiu na ideia e realizou um grande evento para receber todos estes apaixonados. “Fizemos uma grande produção, com diversos desenhos relacionados a Santos. Foi um enorme sucesso! Muitas pessoas vieram visitar nossa loja e saíram com sua homenagem registrada na pele. A mureta foi o grafismo que teve maior saída. Além disso, vendemos outros produtos relacionados”, informou Paulo Rodrigues, proprietário e tatuador do estúdio.

Sócia de Paulo e também tatuadora, Ivy Gabrielly vê na mistura entre o ícone caiçara e a tatuagem um contexto histórico importante para o seu empreendimento. “A logomarca conta com os traços da mureta. A proposta foi homenagear a terra onde fica o estúdio. Além disso, Santos é a Cidade natal da tatuagem no Brasil. Ela teve início aqui!”, revelou.


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Esportes

São Vicente A.C. em crise

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O clube está com o estádio interditado e realiza seletivas para formar o time para a próxima temporada

RENAN COSTA

Renan Costa

A realidade de muitos clubes brasileiros é de extrema dificuldade. Enquanto isso, vários craques buscam a glória no futebol em outros países. Assim que surge a oportunidade para um jogador evoluir na carreira fora do Brasil, a chance não é desperdiçada. A situação econômica do País não favorece o futebol nacional. A cada ano que passa, mais cedo atletas vão para o exterior e o esporte sofre decadência. O São Vicente Atlético Clube é o retrato dessa realidade. A entidade luta para pagar as despesas e seguir seu futuro no futebol. Isso fica evidente na situação atual do estádio, que se encontra interditado. Segundo José Reinaldo Cavalcanti, presidente do clube, a meta

Estádio Mansueto Pieroti, sede do São Vicente AC, está interditado o que impede o retorno da equipe à Segunda Divisão do Paulista

é adequar o espaço às normas da Federação Paulista de Futebol e buscar por meio dos patrocinadores e colaboradores a receita necessária, com a ajuda da Prefeitura. De acordo com ele, esta é uma realidade em muitos clubes do Brasil. Cavalcanti ainda sonha em ver o time em que

Santos causa boa impressão às equipes olímpicas Gabriel Chiconi Santos está sendo bem vista pelos avaliadores técnicos de delegações olímpicas de alguns países. A cidade poderá receber equipes de diferentes modalidades para o período de aclimatação das Olimpíadas de 2016. Equipes de modalidaes da Itália e Japão confirmaram presença, enquanto outros países consideram a possibilidade de treino nos centros esportivos locais. As equipes de Natação e Maratona Aquática da Itália e do Japão passarão o período de aclimatação em treino no complexo da UNISANTA. Os atletas do triatlo italiano também estarão na cidade, treinando na rodovia Rio-Santos. Representantes da delegação da Eslovênia vieram à cidade no início de março para avaliar as instalações de treinamento. Eles visitaram o Centro Esportivo Rebouças, a Arena Santos e os complexos esportivos da UNISANTA e da UNIMES. “A cidade é bem turística e tem um clima muito agradável,” afirmou Borut Kolarić, diretor de esportes do Comitê Olímpico da Eslovênia e representante da delegação no Brasil. “Estamos planejando trazer as equipes de Natação e Triatlo.” O comitê esloveno também analisou os centros de atletismo, porém Santos ainda não possui um ambiente que atenda aos requisitos. Além dessas visitas, a seleção da Bélgica de Ginástica

Artística treinou para o Evento Teste, disputado em abril no Rio de Janeiro, no ginásio dedicado à modalidade na Zona Noroeste. “Há grandes chances deles [a delegação belga] virem a Santos,” afirma o professor Vinicius Almeida, da Secretaria de Esportes do Município. Universidade olímpica Enquanto a Arena Santos teve sua quadra poliesportiva reformados recentemente, a UNISANTA teve de fazer poucas mudanças para comportar seleções nacionais de Natação. Segundo a professora Rosa do Carmo, responsável pelo complexo aquático na UNISANTA, “alteração nenhuma foi necessária”. As reformas recentes – novas raias, balizas e placar, além da cobertura retrátil – estavam planejadas independentemente das visitas olímpicas. “No Brasil só temos cinco piscinas de 50 metros cobertas, sendo que quatro delas estão no estado de São Paulo,” explica Rosa. O período de aclimatação Em um evento mundial como os Jogos Olímpicos, atletas do mundo todo se reúnem num único lugar no globo. Todos os diferentes climas e altitudes onde normalmente treinam se tornam irrelevantes: os esportistas devem se acostumar com as condições do local onde os jogos acontecerão. O período de aclimatação ocorre nos meses anteriores ao torneio. Os atletas visitam o País para treinar sob as condições

preside ter novas conquistas. No ano de 2016, o planejamento para o São Vicente A.C. é realizar várias seletivas pelo litoral do Estado de SP. A parceria será feita com clubes amadores da região para formar um elenco voltado ao estadual do próximo ano. Jogadores de futebol, atual-

mente, praticam a profissão apenas pelo dinheiro, conforme Julio Calejan, vice-presidente do São Vicente, e essa é uma das maiores dificuldades no Brasil, já que outros países possuem economia desenvolvida. “É raro, hoje em dia, ver jogadores como foram ex-goleiro Rogério Ceni e Marcos, que

eternizaram suas carreiras em uma só camisa, um só manto”, completou o vice-presidente. Hoje em dia, a audiência e o apelo público pelo futebol diminui. “Consequência do futebol mal organizado, corrupto e também por causa de uma economia que está em crise”, finalizou Calejan.

Canoagem havaiana é sucesso e se torna estilo de vida em ascensão

DIVULGAÇÃO

Vânia Revheim

A canoa havaiana é um esporte que está cada vez mais ganhando adeptos no Brasil. A história da canoa surgiu com os povos polinésios. Eles a usavam como meio de transporte para navegar pelo Oceano Pacífico. Ela apareceu pela primeira vez em Santos no ano 2000. Quem a trouxe foi Fábio Paiva, fundador da empresa Canoa Brasil na Cidade. A prática desse esporte proporciona a melhora do condicionamento físico, eleva a autoestima, tira o stress e ajuda na recuperação de pessoas que tiveram câncer. Segundo o instrutor André Gomes, a canoagem é vista como um bom exercício no auxílio da recuperação pós câncer de mama, pois diminui a hipertensão e alivia a mente pelo fato de ser o esporte que tem mais contato com a natureza. O mecânico Fabrício Augusto Silva Nunes, de 30 anos, pratica há mais de dois anos junto com sua mãe. Ele conta que o motivo de sua escolha se deu pelo fato de propiciá-lo o contato com o mar e de eliminar o stress depois de um dia cheio no trabalho. “Eu era muito ansioso. Agora diminui a ansiedade e também o ciclo de amizade aumentou. Eu acho que ajuda a combater a depressão. Às vezes, eu estava meio para baixo, e aí quando você começa a treinar e dá uma remada, fica diferente quando retorna”, ressalta o engenhei-

O instrutor André Gomes e seus alunos durante o curso

ro químico, Luciano Bianchi. Dentro da modalidade, existem diversos campeonatos, como o da Volta à Ilha de Santo Amaro, considerada a maior prova de canoa havaiana no mundo, com um percurso de 75 quilômetros. Além dela, existe o Campeonato Paulista que compreende as três cidades litorâneas: Guarujá, Peruíbe e Santos. Já o Campeonato Brasileiro envolve o Brasil todo e por último, o Campeonato Mundial, que aconteceu na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, em 2014. A advogada Rosemeire Ratzka Guedes, de 50 anos, afirma ter participado de campeonatos, um deles o Paulista. Ela evidencia a importância dessa atividade pelo fato de ser um trabalho em equipe, visando a sociabilidade, o contato com as pessoas e a superação dos seus próprios limites. Esse esporte exige o uso obrigatório do colete salva-vidas, roupas leves, bonés e óculos escuro para proteção contra o sol.

“Não é obrigatório saber nadar, nem há restrição para pessoas com problemas cardíacos. Só o médico pode afirmar. O mesmo vale para pessoas com problemas de coluna”, explica André Gomes. A Canoa Brasil oferece cursos pagos de canoagem para todas as idades. Além disso, a empresa conta com a parceria da Prefeitura de Santos, por intermédio da Semes (Secretaria de Esportes), com aulas gratuitas para pessoas a partir dos 12 anos, na Ponta da Praia. Serviço Quem tiver interessado em praticar o curso gratuito de canoa havaiana pode ir ao Complexo Rebouças, localizado à Praça Rebouças s/n°, Ponta da Praia. No momento as matrículas estão fechadas, porém estão previstas para reabrir em agosto. Já o curso pago, as inscrições são feitas na Canoa Brasil que fica à Rua Afonso Celso Paulo de Lima n° 16, Ponta da Praia. Telefone: (13) 3261-2229 ou e-mail: canoabrasil@canoahavaiana.com.br


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esporte

Eliana Greco

Desafios para transformar jovens atletas em ídolos São inúmeras as dificuldades para se tornar um jogador de futebol Eliana Greco “Na minha vida conquistei tudo com trabalho. Em nenhum momento eu deixei de trabalhar, nem achei que não poderia mais realizar meu sonho.Graças a Deus, eu soube ouvir, assimilar e tive humildade, mesmo não querendo escutar críticas construtivas que hoje, com maturidade e trabalho,vi que fizeram toda a diferença” Assim define o atleta Fernando Medeiros,jogador do Santos FC. Seu irmão gêmeo Flávio Medeiros foi dispensado e hoje é destaque no Vitória (BA). “Só quem tem irmão gêmeo sabe como é. Fazíamos muitas coisas juntas, jogávamos futebol no Santos, estudávamos na mesma escola com amigos em comum. Foi muito difícil quando meu irmão foi dispensado (do Santos),lembra Fernando Medeiros. As dificuldades para se tornar um jo-

gador de futebol não foram poucas.Ele lembra que sua mãe se emociona até hoje ao lembrar que sem ajuda ou patrocínio tinha que comprar uma chuteira de cada vez para um dos filhos e assim era com as roupas e alimentos. Sandra Medeiros diz que a dificuldade maior era a distância sempre pois morou longe. Lutou muito para conseguir um patrocínio pois eles não investem na base: “ até marmita fazia para os dois”. “Valeu muito a pena e faria tudo de novo declara. Fernando chegou ao Santos FC com 11 anos. Esteve nas categorias sub 13, 15, 17, onde treinou no futebol de base e agora no profissional. Conhecida como uma fábrica de craques, as categorias de base do Santos FC carregam consigo uma magia natural que surpreende a todos que gostam do futebol. A cada safra de jogadores o Peixe busca

garimpar os melhores para brilhar nos gramados por onde o clube joga. Não são poucos os casos de jogadores que se destacam nas categorias de base, mas quando incorporados aos profissionais não conseguem manter o mesmo nível de desempenho ou mesmo acabam abandonando a modalidade. Fernando se recorda das amizades que foram ficando pelo caminho e hoje alguns estão trabalhando em outras profissões. Ele relata que o treino é bem “puxado”. Sai de casa às 8 horas, toma café no CT- Centro de Treinamento, coloca a chuteira e vai para campo, depois faz academia e ,às vezes, tem a tarde livre. Volta para casa, assiste filme e, à noite faz academia funcional. Fernando sonha em mais oportunidades.“O Dorival Jr pode contar comigo na posição que achar melhor, até de goleiro (risos). Mas eu prefiro jogar como um se-

Tempos melhores O Santos FC sempre teve como um dos pilares de sua trajetória vitoriosa o trabalho desenvolvido nas categorias de base. Para dar sequência ao processo de revelação de novos talentos, o Alvinegro Praiano construiu o Centro de Treinamento Meninos da Vila. Destinado às categorias de base do clube, o CT foi inaugurado no dia 7 de agosto de 2006. Depois de um ano turbulento, Fernando Medeiros espera por paz no Santos em 2016. O volante foi promovido ao profissional na temporada passada e estreou na vitória por 5 a 1 contra o

Atlético-PR, na Vila Belmiro, em dezembro. O técnico Dorival Júnior já avisou que dará mais oportunidades ao jogador de 20 anos. O caminho até o time principal, porém, não foi fácil. Tido como um dos mais promissores garotos da base, Fernando foi campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2014 e já se sentia preparado para ser promovido, o que demorou mais que o previsto. A base não parecia mais suficiente para o jovem, que se sentia desanimado e em dúvida sobre a realização do sonho de chegar à equipe principal.

gundo volante que sai para o jogo”. Localizado na Avenida Martins Fontes, n° 1277, no bairro do Saboó, em Santos, o espaço homenageia os Meninos da Vila (nomenclatura utilizada para joga-

dores revelados no time da Vila Belmiro). Possui dois campos, em uma área de 25.500 metros, além de vestiários e setores administrativos, para aperfeiçoar o trabalho desenvolvido no local.

Musas da Vila Belmiro: As Alvinegras Noelle Neves Em 2008, um novo esporte chegou ao Brasil: a animação de torcida! É um esporte que usa elementos de ginástica artística e dança para animar jogos times ou competições. As Alvinegras são as animadoras do Santos Futebol Clube que aparecem em todos os jogos a mando do time em dois momentos, na entrada e no intervalo. É um grupo de 18 meninas, de 17 a 25 anos, que surgiu em 2009 e hoje, as apresentações do grupo, são um dos momentos mais esperados dos jogos. O processo seletivo pode ocorrer de duas formas, ou a convite

do coreografo Hebert Taylor ou por meio de seletiva. E os requisitos para ser uma Alvinegra são carisma, habilidade de dança, beleza física e claro, ser santista. Thatiana Marujo, 21, é cheerleader há oito meses e conta que o grupo recebe muito suporte do clube. Ganham os uniformes, têm o próprio vestiário, vans para jogos em outras cidades. “ O que eu mais amo é o convívio com as meninas e eu amo dançar! Sempre temos que dar o nosso melhor”, responde a fisioterapeuta, quando questionada sobre o que mais gosta em ser uma Alvinegra. O assédio é uma questão que é recor-

Reprodução

As meninas trocam de coreografia a cada mês e, para isso, tem três horas de ensaio todo final de semana

rente em debates atualmente, mas as meninas nunca se sentiram violadas ou acharam que algo passou dos limites. “Assediadas, eu diria que mais nos jogos mesmo, mas nada absurdo. Nas redes sociais, nunca passamos nada

constrangedor. Os torcedores elogiam muito nosso trabalho”. Wanessa Pires, 20 anos, Alvinegra há um ano, ainda completa que é um trabalho completamente profissional, que namora há 3 anos e por não ter contato nem com os

jogadores, é algo bem tranquilo. “Um dia um torcedor pediu um beijo no rosto, fiquei sem reação na hora, porque nunca tinha acontecido algo assim.”, conta Dayani Leonel, 25 anos, sobre um dos sufocos que já passou.


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ESPORTE

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O lado desconhecido das Olimpíadas Rio 2016 Atletismo, futebol, boxe... badminton? De A a Z, quais esportes você (des)conhece da lista oficial para 2016? Thayná Soares Há sete anos, na Dinamarca, foi escolhida a cidade sede dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016: Rio de Janeiro. Porém, isso já é de conhecimento popular há muito tempo. O que ainda provavelmente prevalece desconhecido para alguns brasileiros são as regras e os objetivos de certos esportes em especial. Dentre as várias modalidades listadas no site oficial http:// rio2016.com, além dos tradicionais boxe, basquetebol e natação são encontrados nomes pouco divulgados pela própria mídia. Badminton? Rugby? Hóquei sobre grama? Nem todos são populares no País, mas vão ter espaço nas competições esportivas do mês de julho. Cada um vindo de determinada cultura, diferentes países Rugby

Badminton

Hóquei sobre grama

Nascido na Inglaterra, o badminton é uma das modalidades olímpicas

e continentes - apesar de não possuírem tamanha popularidade entre a população brasileira, suas histórias são tão antigas quanto qualquer outro esporte popular atualmente. Infelizmente, segundo informado pela prefeitura de Santos, não teremos representantes da Baixada em qualquer dos três esportes. Veja mais sobre cada um nas tabelas ao lado.

RUGBY

BADMINTON

O rugby (pronuncia-se râguebi ou rúgbi) é um esporte de intenso contato físico. O desafio é avançar pelo campo para ganhar mais pontos, passando a bola sempre para trás.

É bastante parecido com o tênis tradicional. Com uma peteca no lugar da bola, ambos também se assemelham no desafio: não deixar a peteca cair e fazê-la passar pela rede até o campo adversário, algo que exige muita agilidade dos jogadores.

Essa modalidade é disputada sobre campo de grama ou material sintético. Com um taco para cada jogador, ganha o time que marcar mais pontos passando a bola com auxílio do taco até o gol adversário.

Curiosidades:

Curiosidades:

A peteca de Badminton possui 16 penas de ganso.

Utiliza-se uma bola feita de plástico e cortiça, ao contrário do hóquei no gelo, que usa um disco feito de borracha.

O número de jogadores em quadra varia entre dois a um jogador de cada lado. Curiosidades: Apesar de pouco conhecido no Brasil, rugby é o segundo esporte de equipes mais popular do mundo só perdendo para o futebol de campo. Uma das versões para a origem do rugby é que ele teria nascido de uma jogada irregular do futebol feita por um estudante chamado Willian Ellis. Achando o jogo muito “entediante”, ele teria pego a bola na mão e a levado até a linha de fundo do adversário. A bola de rúgbi é de formato oval. Seu tamanho varia de 28,0 cm a 30,0 cm, com uma circunferência total de 74,0 cm a 77,0 cm, e de seção transversal de 58,0 cm à 62,0 cm. Sua pressão deve estar entre 65,71 e 68,75 kPa (QuiloPascal, unidade de pressão), pesando entre 410 à 460 gramas. Origem: Inglaterra, meados do século XIX Estreia em jogos olímpicos: Paris, 1900 Local de competição nas Olimpíadas 2016: Estádio de Deodoro, Rio de Janeiro - RJ.

É o esporte de raquete mais rápido do mundo. A velocidade da peteca em um jogo profissional chega a 340 quilômetros por hora. O Badminton é o 2º esporte mais praticado no mundo, perdendo apenas para o futebol. Chega-se a correr aproximadamente 1,6 km em uma partida profissional. Origem: XIX.

Índia,

século

Estreia em jogos olímpicos: Barcelona, 1992. Local de competição nas Olimpíadas 2016: Rio Centro - Pavilhão 4

HÓQUEI SOBRE GRAMA

O bastão utilizado é geralmente feito de madeira, que pesa entre 350g e 700g e não pode ultrapassar 5cm de diâmetro. Origem: A palavra hóquei apareceu pela primeira vez em 1527, na Inglaterra. No entanto, a versão mais próxima do esporte como o conhecemos hoje surgiu no Egito, por volta de 2000 a.C. em desenhos em baixo-relevo. Estreia em jogos olímpicos: Londres, 1908 O local de competição nas Olimpíadas 2016 ainda não foi informado.


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cultura

Santos e japão, irmãos de pais diferentes Países tão diferentes, mas com algo em comum, Santos, a cidade que recebeu ,de braços abertos, seus imigrantes Rafael Zacarias

Rafael Zacarias É difícil contar a história da cidade de Santos sem lembrar dos imigrantes japoneses, que ajudaram a construir boa parte dela. Tudo começou quando o primeiro navio, vindo do Japão no ano de 1908, ancorou no porto de Santos. Com cerca de 165 famílias, num total de 781 pessoas, a mais famosa e mais lembrada embarcação Kasato Maru trouxe, além dessas pessoas, sonhos e esperanças de uma vida melhor no Brasil. Os japoneses chegaram ao país graças ao Tratado de Amizade, Comércio e Navegação assinado entre os dois países em 1985, em Paris. Muitos dos imigrantes tinham um destino único; as plantações de café, no interior de São Paulo. Na época o tratado foi assinado devido a falta da mão-de-obra nos grandes cafezais do interior paulista. Mas tudo começou a mudar a partir da década de 1920, quando a importação cafeeira sofreu uma grave crise,

Estrela de Ouro Futebol Clube, representa a tradição culunária japonesa na cidade.

fazendo com que, muitos japoneses abdicarem da vida nas lavouras e migrar para outros ares. E foi no cultivo da banana e do arroz, que alguns japoneses encontraram, no litoral paulista, a chance de ganhar seu dinheiro, para enfim, voltar ao país de origem. Entretanto, muitos optaram por se estabelecer na cidade de Santos, por encontrarem nas chácaras

e mangues, na região da Ponta da Praia, um lugar para se chamar de lar. Graças às técnicas avançadas na agricultura e na pesca, a cidade foi se moldando aos seus costumes e hábitos. Mas com o crescente número de japoneses na cidade, um grupo de famílias se reuniu e criou a Sociedade Japonesa de Santos. A entidade buscava ajudar no ensino dos descendentes dos

imigrantes. Ela funcionava em um casarão adquirido com o apoio do governo japonês, na Rua Paraná,129, no bairro da Vila Mathias. Infelizmente, no ano de 1943 com a explosão da Segunda Guerra mundial, todos os japoneses e demais imigrantes, foram obrigados a deixar a cidade. Com isso, a entidade fechou suas portas, por não haver um número mínimo

de imigrantes em Santos. Após quase dez anos depois do fim da guerra a segunda geração de imigrantes, os nisseis, buscou reerguer as atividades sociais e por meio de clubes como a Associação Atlética Atlanta e o Estrela de Ouro Futebol Clube. E foi na Ponta da Praia, onde, o Estrela de Ouro Futebol Clube, decidiu fincar suas raízes. Fundada no ano de 1952, o clube, e também, restaurante, encontrou na comida de seus ancestrais japoneses a chance de conquistar o paladar do santistas, e consequentemente, do Brasil. Em 2008, no ano do Centenário da Imigração Japonesa, a cidade foi presenteada com a simbolica obra da artista plástica Tomie Ohtake, de 15 metros de altura, localizada no emissário submarino, mais conhecido como quebra-mar. A escultura nipônica, busca representar toda a cultura japonesa que fizeram e fazem parte da história da cidade de Santos.

Meio ambiente

Tráfico de animais aumenta Em entrevista, policiais militares ambientais alertam a população e falam sobre os animais apreendidos Lorenzo Bortolotti De acordo com o relato de dois policiais militares ambientais de Itanhaém, que preferem não divulgar seus nomes, o aumento de tráfico de aves silvestres e exóticas tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, fato que, segundo eles, deveria ser alertado a população, pois muitas delas estão entrando em extinção. Além de pássaros, a Cabo e o Segundo Sargento, que foram entrevistados, também costumam apreender os mais variados tipos de animais no dia a dia, como bichos-preguiça, jacarés, macacos, cobras, e etc. A desmatação é outro fator que contribuiu para um ambiente não favorável a fauna. Durante o expediente, os policiais militares ambientais recebem inúmeras ligações de pessoas que se deparam, tanto na rua como nos jardins de suas casas, com animais que deveriam permanecer soltos na flores-

Fonte anônima

Jacaré encontrado em frente à prefeitura de Itanhaém

ta. Um exemplo disso, foi um jacaré encontrado em frente à prefeitura de Itanhaém. “Os bombeiros contiveram o animal, e nos acionaram. Soltamos ele em um rio que havia ali perto.”, disse o Sargento. Ao ser questionada sobre as condições de trabalho, a

Cabo afirmou que são satisfatórias, e que não precisa de muito para exercer sua função. Segundo ela, o real problema vem das atitudes dos cidadãos. “É que não é divulgado, mas as pessoas não têm noção da quantidade de autuação que a gente faz referente a desmata-

mento, maus tratos... Acho que grande parte disso poderia ser evitado se houvesse investimento na educação ambiental, não só para crianças, mas também para jovens, adultos, e até pessoas mais velhas, de idade.” O segundo sargento aproveitou para mencionar a si-

tuação de Portugal. Não tem muitos anos que o governo, em parceria com diversas empresas, investem fortemente em campanhas educativas, na separação de resíduos de diversas naturezas, conscientizando, ao longo do tempo, grande parte da população portuguesa.


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Política

Partido da Mulher Brasileira tem poucas mulheres Apesar de ser comandado por uma mulher, partido tem bancada praticamente formada apenas por homens JHESSICA PAIXÃO

JHESSICA PAIXÃO Declarando-se de centro-esquerda, surgiu o recém-criado Partido da Mulher Brasileira (PMB), que, ao contrário do esperado, não é a favor dos movimentos feministas. Criado com o intuito de valorizar as mulheres brasileiras dentro e fora da política, o partido foca também na igualdade de gênero, posicionando-se contra a exclusão masculina no mundo, ressaltando a importância da igualdade de direitos para um país mais justo. Seria o partido da mulher brasileira mais um ou é apenas um caso de carência de ideologias? Em 1932, com a conquista do voto feminino, as mulheres puderam começar a fazer parte da política partidária. Hoje, na Câmara dos Deputados, são 513 deputados, mas apenas 51 mulheres. Já no Senado, das 81 cadeiras, 13 são ocupadas por mulheres. O PMB, 35º partido reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), surge com o objetivo de aumentar a quantidade de mulheres presentes no cenário político brasileiro. No entanto, ironicamente, de seus 21 deputados, apenas 2 são mulheres. Algo que, segundo o partido, não é visto como um problema. Apesar de ser um partido para as mulheres e fundado por uma mulher, Suêd Haidar, também atual presidente da sigla, o PMB tem entre seus filiados o deputado Hélio José, que em 2010, quando pertencia ao PT, foi acusado de abusar sexualmente da própria sobrinha, uma menor de idade. Além disso, seu discurso durante a filiação ao partido gerou bastante polêmica devido algumas de suas afirmações. “Eu, como homem, tenho o prazer de estar neste

Olívia Perez, pesquisadora e cientista política, dá importancia ao empoderamento feminino

partido, para lutar pelos direitos sociais de todas as pessoas que vivem nesta Terra, principalmente as mulheres. O que seria de nós, homens, se não fosse uma mulher ao nosso lado, para nos trazer alegria e prazer?”, disse o deputado. Em entrevista à Agência Pública, a presidente do PMB, Suêd Haidar, vê o partido como feminino, não feminista, assim, alega não ser do interesse do partido lutar por cau-

sas defendidas pela militância. Cita como exemplo a legalização do aborto, a discussão e estudo de gênero nas escolas públicas, a democratização dos métodos contraceptivos, o atendimento especializado para as vítimas de estupro e diversas outras pautas que, pelo menos por enquanto, não serão defendidas pela sigla. Para a professora e cientista política Olívia Perez, não é essencial que exista um único

partido que abrace as causas femininas, mas sim que hajam mais mulheres incluídas na política para que falem por elas mesmas. “É importante que as mulheres estejam em vários partidos para que levantem bandeiras que façam parte do universo feminino. Como, por exemplo, a questão da descriminalização do aborto. É uma pauta a respeito do corpo feminino, portanto deve ser decido pela mulher”, disse. Outros as-

suntos, como a questão do aumento de vagas nas creches, são de interesse feminino, então, espera-se que sejam analisados por mulheres. “Existem homens que sabem da importância dessas pautas, mas não queremos que falem por nós. Mulheres devem ter voz para reivindicar o que elas querem”, completa Olívia. Segundo ela, a inclusão das mulheres na política deve ser semeada desde cedo. “O empoderamento deve começar desde o Ensino Fundamental. É preciso conversar com as meninas a respeito do quanto é importante elas decidirem sobre a vida delas”. “O primeiro erro do PMB está na falta de representatividade. Não é possível um partido ser feito para as mulheres e não ter mulheres”, afirma a ativista feminista e graduanda em Serviço Social pela Unifesp, Juliana de Lima Vasconcelos. É contraditório um partido ter o intuito de trazer as mulheres para a política sem a presença de figuras femininas. “Já tivemos uma mulher como presidente da República, o cargo mais importante. Então, se um simples partido não tem deputadas dispostas a se impor e trazer força para as mulheres, ele não pode representá-las”, completa. Apesar de o PMB posicionar-se contra as pautas defendidas pelo feminismo, a sigla afirma que é cedo para respostas concretas a respeito de diversos assuntos, pois o partido e seus parlamentares passarão por um processo de amadurecimento. “Ainda é cedo para afirmar. Espero que até a próxima eleição nós já tenhamos solucionado algumas questões. E assim, quando perguntarem, nós já teremos as respostas definitivas”, disse a presidente Suêd Haidar, em entrevista à revista.

MÍDIA

Exposição precoce, um risco futuro WILKER DAMASCENO Os meios de comunicação estão cada vez mais fortes. Em pleno 2016, mesmo com a atual crise, eles crescem como nunca e aliados à força da internet e das novas mídias cada vez mais surgem novos nomes para agradar o público. Na TV, por exemplo, sempre surge um maior talento, não importa a idade. Sendo assim, surge uma questão antiga porém bastante interessante: qual o limite entre ta-

lento e exposição precoce? A atriz Mel Maia, hoje com 11 anos e que ficou famosa por interpretar a personagem Rita na primeira fase do sucesso mundial “Avenida Brasil” (2012), é só o exemplo mais famoso hoje em dia, assim como crianças que estrelam propagandas ou até outras novelas, como é o caso de Larissa Manoela, que apesar da pouca idade – 15 anos – já coleciona papéis e namorados, sempre fazendo questão de atrair a atenção da mídia.

Mas até que ponto isso é positivo e negativo para a criança? Para o psicólogo André Maldonado, é preciso haver um limite: “Antes de tudo, a criança precisa estar preparada e sempre é preciso ter uma dosagem. O sucesso vai ocorrer e não é a criança que precisa lidar com isso, são claramente os pais, sempre com o limite necessário”. Um caso forte aconteceu com a menina Maísa Silva, hoje atriz e adolescente com 13 anos. Quan-

do mais nova, a partir dos 5 anos, a menina apresentava programas infantis do SBT e aos domingos respondia perguntas comuns no programa de Silvio Santos. Porém, a situação perdeu o controle quando ela chorou, se descontrolou e ainda bateu a cabeça em uma câmera. A justiça proibiu sua participação e desde então o próprio trabalho com crianças no SBT é sempre motivo de polêmica. Para alguns juristas, nestes casos, o dever da jus-

tiça é realmente proibir. O advogado Caio Barreira é enfático: “Em casos como esse a justiça precisa ser informada e proibir. Uma criança não pode ser exposta de qualquer forma e todos agirem como se nada tivesse acontecendo”. Nos próximos anos, a tendência é que a pressão quanto a isso aumente. Na propaganda ou até em novelas, as crianças continuarão sendo peça chave, mas em outros ramos talvez isso não aconteça como antes.


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ABRIL/2016

Cultura

MATHEUS FOGAÇA DA SILVA

Em sua 4ª edição, Mirada terá mudanças

O festival, que costuma ocorrer em setembro, ainda não tem data confirmada Matheus Fogaça O Festival de Cultura Ibero-americano, Mirada tem um papel dentro da sociedade considerando importante, pois traz a arte latina por meio de peças e apresentações para que o público o conheça. A base das edições an-

teriores continuará nesta quarta edição. Ocorrerão apenas algumas modificações, que serão necessárias em relação às anteriores, segundo Leonardo Nicoletti, responsável pela organização do evento no Sesc. O festival continuará sendo apresentado em setembro, com duração de

10 dias, mas as datas não foram confirmadas. As alterações na programação não ocorrem por conta de crise econômica ou problemas com as atrações, segundo Nicoletti. ‘’A crise não afetou, nem afetara a edição do Mirada’’, destaca. MATHEUS FOGAÇA DA SILVA

Jéssica Monteiro, apoia o evento pelo valor cultural

Ex-atriz comenta sobre o festival bienal do Sesc Matheus Fogaça

Sesc Santos apresentará mais uma edição do Festival Ibero-americano, ainda sem data

A comunidade artística tem expectativa positiva em relação ao Mirada. Ex-atriz, Jéssica Monteiro Alves Iglesias, 19 anos, é uma das fãs do evento latino. É importante para a sociedade, pois oferece amplos espetáculos para crianças e adul-

tos, tanto de teatro, música e dança. A jovem, que hoje faz dança de rua, diz que o evento é uma oportunidade para se conhecer artistas internacionais de forma gratuita ou com preços acessíveis. ‘’ Tudo isso é uma forma de mostrar a arte e quanto as pessoas amam e se dedicam a ela’’.

música

Banda Zimbra busca espaço no cenário nacional PEDRO OLIVEIRA

Pedro Oliveira Se alguém pensa que eles estão crescendo por sorte, está muito enganado. A Banda Zimbra, formada por Rafael Costa (vocal e guitarra), Vitor Fernandes (guitarra), Guilherme Goes (baixo) e Pedro Furtado (bateria) muito lutou para alcançar o reconhecimento na região e ,agora, busca ingressar no cenário nacional. O grupo, criado em 2007, ainda com outra formação e com o nome de Panorama, vem lutando contra as dificuldades que o cenário musical apresenta. Com trabalho independente, a Zimbra tira do próprio bolso para oferecer uma música de qualidade a seus fãs. O vocalista Rafael não esconde que a banda já sofreu um desgaste pela demora do retorno desse esforço, mas ressalta que foram os fãs, em um show em tenda de Santos, em 2014, que renovou o espírito do grupo. “Naquele dia, colocamos mais fé no lance. Coisa de banda independente é difícil. Desde 2007 pagando o disco, o clipe e você não ter o retorno que espera, que demora em acontecer, dá uma desgastada, e ali houve uma renovada total na gente”, disse Rafael. Vi-

Rafael Costa e Vitor Fernandes trabalham por trás das câmeras da Santra Cecília TV

tor, guitarrista da Zimbra, revelou que o desgaste existia também para os pais dos integrantes da banda, pelo fato de ser arriscado querer viver da música, “Mas, depois desse show, eles viram que realmente estava começando a dar certo. Foi muito louco olhar para o lado e vê-los ali vibrando, felizes pelo que estava acontecendo”, relembra Vitor. Rafael e Vitor trabalham juntos por trás das câmeras em pro-

gramas transmitidos pela Santa Cecília TV. Isso mostra o quão é difícil conseguir viver totalmente da música. Para oferecer um trabalho de qualidade, Rafael revela que, muitas vezes, os integrantes deixavam de gastar o próprio dinheiro com coisas pessoais para investir na banda. “Você abdica de um monte de coisa, de comprar roupa, investir em um carro ou uma moto para apos-

tar na banda, mas sempre acreditamos no que fazemos. Nada cai do céu”, disse Rafael. Para novidades e lançamento do próximo CD, a banda entrou em um financiamento coletivo pela Internet, mas, segundo Rafael, o projeto veio no mesmo período de muita correria na vida pessoal de cada integrante. Além da gravação do disco, os integrantes tinham que lidar com entregas de TCC,

trabalhos pessoais, entre outros. Mas, mesmo após essa campanha não ter dado certo, a banda já gravou o próximo disco. “A gente conseguiu dar um jeito de gravar o disco e pagar a conta, agora estamos nos ajustes finais de estratégia de lançamento e divulgação”, afirmou Rafael. O disco contará com 12 faixas, incluindo o single ‘‘Já sei’’, e está previsto para ser lançado em julho deste ano.


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Geral

Castramóvel agiliza programa de controle de natalidade animal Veículo realiza cirurgias nos bairros com agendamento

MARCELO TRINDADE

Marcelo Trindade

Controlar o nascimento de animais, em especial de cães e gatos, tornou-se uma prioridade em qualquer cidade, como é o caso de Santos. A intenção é evitar a circulação excessiva dos bichos pelas vias e também a transmissão de doenças. De acordo com informações da Prefeitura, a Coordenadoria de Defesa da Vida Animal (Codevida) realiza cerca de 5 mil castrações e quase 10 mil atendimentos clínicos. Para isso, além do Centro de Adoção Animal, no Jabaquara, a coordenadoria conta com o Castramóvel, veículo especialmente adaptado como um centro cirúrgico, capaz de realizar de 20 a 40 castrações por dia. “Ele surgiu por conta dessa necessidade”, informa Leila Abreu, coordenadora da Codevida, órgão ligado à Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semam). A coordenadoria também possui dois veículos espe-

ra arca com tudo”, destaca. Em alguns casos, o atendimento médico é nas residências com animais doentes. As castrações são realizadas pela manhã, das 6h às 13h, de segunda a sexta. “Não atendemos pessoas que compram cachorros de raça. O foco é atendimento veterinário para quem tem animais e reside em áreas carentes”.

Serviço

O

veículo

Castramóvel

cialmente adaptados para transporte animal e conta com uma pista de agility (área para treinamento e movimentação) instalada na unidade no Bairro Chico de Paula. O trabalho móvel vem sendo feito na Vila Nova, Bom Retiro, Santa Maria, Ilhéus Baixo e Alto, Rádio Clube, Caminho São José, Caminho

também

pode

ser

São Sebastião, Caminho da Divisa, Jabaquara, Castelo, Areia Branca e Divinéia. A Castramóvel faz o controle populacional dos animais, conforme prevê a Organização Mundial da Saúde (OMS), para coibir o abandono. “Santos se adequa às leis fazendo isso”, explica Leila Abreu. Cães e gatos são

encontrado

na

Codevida

atendidos, sempre. Cirurgia é cirurgia e atendimento é atendimento. “Todos os animais são castrados. Animais de raça de, pequeno porte, usam anestesia inalatória”. Cada veículo tem capacidade para realizar 25 cirurgias agendadas por dia, o serviço é realizado por quatro médicos veterinários. “A Prefeitu-

A agenda para castração é aberta todo dia 15, valendo para o mês seguinte. Pode ser feito por telefone, mas a pessoa pode ir à Codevida, pessoalmente, para fazer agendamento. É necessário levar os seguintes documentos: RG, CPF e comprovante de residência em Santos, no nome da pessoa que estiver com o animal. A Codevida fica na Av. Francisco Manoel, s/nº, no Jabaquara. O atendimento é de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h. Telefones: 3203-5593 / 3203-5075.

meio ambiente

Problema a mbiental vai pelo ralo CRÉDITOS: AXEL JÚNIOR

ser altamente prejudicial descarta o resíduo da forao meio ambiente. No Bra- ma correta. ConsequenteO óleo de cozinha pode sil, a minoria das pessoas mente, isto acaba sendo prejudicial à natureza. De Axel Junior acordo com a Sabesp, um litro de óleo despejado em uma pia pode contaminar até 25 mil litros de água. Independentemente do volume afetado, as substâncias diminuem o oxigênio nos corpos d’água (rios e lagos), prejudicando a vida aquática. Algumas iniciativas evitam o destino irregular do produto. Há quatro anos, a Unimed Santos iniciou um projeto para coletar o óleo vegetal. Um dos responsáveis pelo projeto é o analista de responsabilidade socioambiental, Almir Nostre, 51 anos. Segundo ele, foi firmada uma parceria com o Instituto Triângulo, responsável pelo recolhimento e reciclagem do óleo. Em troca, a cada dois litros de óleo doado, a empresa entrega duas barras de sabão. De acordo com Nostre, os prejuízos ambientais atribuídos ao óleo são inúmeros e os benefícios da reciclagem influenciam diretamente na vida das pessoas. Para o profissional, o que falta Alda afirmou não conhecer os danos gerados pelo óleo. nas pessoas é a conscienAxel Junior

Almir Nostre comentou que educação é essencial na reciclagem.

tização sobre a reciclagem. Moradora em Cubatão, a dona de casa Alda Agostinho, 40 anos, confessou que despeja o óleo usado no ralo. Ela afirmou ter ciência dos danos causados ao meio ambiente, no entanto justifica a prática como um mau costume. Sua família utiliza até dois litros de óleo por mês. Alda disse que tem uma tia e algumas conhecidas que reaproveitam do produto, fabricando sabão caseiro, e que as escolas da sua cidade recebem o material usado,a dona de casa reconhece que nunca juntou óleo . Diante dos males do des-

carte incorreto do óleo de cozinha, uma diarista encontrou uma forma de ter o material descartado como aliado. Maria Rita Rabelo, 52 anos, relatou que começou a produzir sabão à base de óleo usado por causa da falta de dinheiro. Ela afirmou que a maioria das pessoas que doam o material são amigos e conhecidos de uma igreja. De acordo com a autônoma, o sabão à base de óleo é mais eficaz que o comum. Ela disse que a população só dará um fim ao problema, quando começarmos a respeitar mais o meio ambiente.


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