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O“Kc” em Paisagismo - Parte IV

José Giacoia Neto

Engenheiro Agrícola, M.Sc. em Irrigação e Drenagem (UFV) e MBA em Gestão Comercial (FGV).Gerente Internacional de Negócios Américas, Rain Bird

Dando continuidade e finalizando o nosso tema de determinação de Kc e necessidade de água de plantas em paisagismo, vamos fazer um cálculo de um mix de plantas em plantio denso e de plantio espaçado.

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Antes de iniciar vale a pena observar que cada espécie de planta possui estruturas radiculares e exploram volumes diferentes de solo. Aqui temos um problema clássico em irrigação paisagística quando utilizamos um emissor e uma taxa de descarga idêntica para todas as plantas em um projeto.

Em locais de clima com períodos de seca bem marcados podemos observar que muitas vezes a grama está verde e os arbustos e árvores começam a apresentar stress hídrico. Isso ocorre quando a irrigação está calibrada para atender a grama e as plantas de maior porte não estão recebendo água suficiente e na profundidade correta.

A Fig. 1 mostra a profundida do sistema radicular de cada planta vista por baixo do solo. Normalmente a prática comum é aumentar o tempo de irrigação para que a água percole e o arbusto, neste exemplo, receba a quantidade de água adequada, porém estaremos desperdiçando água pois o excesso aplicado na grama e na forração vegetal está drenando e também lixiviando nutrientes.

Fig. 1. Projeção da profundidade efetiva do sistema radicular para cada espécie em um projeto paisagístico (em azul), as plantas são: grama, cobertura vegetal e um arbusto.

Teremos, portanto, desperdício de água, aumento de custo de adubação e, se o sistema possui bombeamento, aumento de consumo de energia elétrica.

Baseado nisso é que o projeto de irrigação em paisagismo começa com a determinação da planta base, que é sempre a planta que necessita de menos água.

Este nosso novo projeto (Fig.2) possui três espécies de plantas: uma forração Lírio Amarelo (Hemerocallis Flava), palmeiras fênix (Phoenix Roebelenii), e arbustos ligustro (ligustrum variegata).

Fig.2. Área de jardim de 18 a 7 metros com as espécies: Lírio (forração), Palmeira Fênix e Ligustros

Fig. 3. Fotos das espécies do projeto da Fig.2.: Palmeira Fênix.

Fig. 3. Fotos das espécies do projeto da Fig.2.: Arbusto Ligustro

Fig. 3. Fotos das espécies do projeto da Fig.2.: a forração que é o Lírio Amarelo

Neste caso a planta base é o Lírio Amarelo e em plantio denso.

O solo deste projeto é argiloso e a evapotranspiração de referência é de 3 mm/dia.

O diâmetro da copa do Ligustro é de 0,80 metros e o diâmetro da copa da Palmeira Fênix é de 1,60 metros. Sendo o solo argiloso podemos especificar o mesmo tubo gotejador subterrâneo autocompensado, com escudo de cobre, com um espaçamento entre linhas de 60 cm. Elegemos o modelo de 2,3 lph por emissor e o espaçamento entre emissores de 30 cm.

Cálculo do número de linhas:

Retiramos uma bordadura de 15 cm de cada lado: 700 cm – 30 cm = 670 cm

Dividimos a largura final pelo espaçamento entre linhas: 670 cm/ 60 cm = 11,167

Ajustamos o espaçamento entre linhas arredondando o resultado e efetuando uma nova divisão: 670 / 12 = 56 cm.

Portanto na instalação teremos um espaçamento entre linhas de 56 cm. Este ajuste em um projeto de agricultura pode parecer irrisório, mas em paisagismo é muito importante pois podemos ter mais linhas que o projetado ou menos, o que afeta o orçamento e pior, podemos ter uma parte da área com espaçamento entre linhas diferente o que resulta em desuniformidade de aplicação de água gerando alturas e densidade de plantas diferentes que afetam a estética e beleza do paisagismo. Vamos iniciar os cálculos:

1. Cálculo da Taxa de descarga ou precipitação da planta base

Onde:

Tx = Taxa de descarga em mm/h

q = Descarga do emissor em lph

Ef = eficiência em decimal (0,90 para gotejamento)

s = espaçamento entre emissor (m)

L = espaçamento entre linhas (m)

Tx = 12,32 mm/h

2. Requerimento de água de cada espécie.

Recordando que o Kc é determinado por três coeficientes ou fatores:

Fc = Fe x Fd x Fm ou dependendo da literatura Kc = Ke x Kd x Km.

2.1. Planta Base: Lírio

Fator de espécie: Baixo

Fator de Densidade: Alto

Fator de Microclima: Médio

Consultando a tabela 1 (tipo de vegetação) teremos

Tabela 1. Fatores ou coeficientes por grupo de vegetação

Kc = 0,3 x 1,3 x 1,0 = 0,39

IR = Kc x Etr = 0,39 x 3 = 1,17 mm/dia. Para plantios densos sempre consideramos a IR em mm/ dia

2.2. Plantas não base

a. Palmeira Fênix

Fator de espécie: Médio = 0,5

Fator de Densidade: Médio = 1,0

Fator de Microclima: Médio = 1,0

Diâmetro da planta = 1,60 m o que nos dá uma área da copa de 2,01 m²

Para plantas isoladas temos a seguinte fórmula de IR (Irrigação)

Onde:

IR = Irrigação necessária em litros/dia

ETr = Evapotranspiração de referência

Kc = Coeficiente de cultivo

Ac = Área da copa em m²

IR = 3 l/dia

b. Ligustro

Fator de espécie: Alto = 0,7

Fator de Densidade: Baixo = 0,5

Fator de Microclima: Médio = 1,0

Diâmetro da planta = 0,80 m o que nos dá uma área da copa de 0.50 m2

IR = 0,53 l/dia

3. Cálculo do tempo de irrigação da planta base

4. Cálculo da Taxa de descarga para as plantas não base: é a vazão em lph que as outras plantas do projeto têm que receber para obterem suas respectivas IR no tempo de irrigação da planta base.

a. Palmeira Fênix

b. Arbusto Ligustro

Agora temos que buscar determinar número de emissores por planta

Para solos argilosos e diâmetro de copa o mínimo recomendado é de 2 emissores. Por uma questão de distribuição e por não existe emissores de 15 lph vamos especificar 4 gotejadores de botão autocompensado de 8 lph cada, ao redor de cada palmeira fênix.

Fig. 4. Foto de gotejadores de botão autocompensados

Para os ligustro podemos especificar apenas um emissor por planta. Como não temos um emissor de exatamente 5,3 lph, podemos especificar também um gotejador de 8 lph por planta.

A melhor maneira de instalar estes emissores é conectando o emissor no tubo de gotejamento e levando um microtubo com uma estaca até o ponto de instalação. Assim se houver algum dano ou ocorrer vandalismo não teremos uma saída livre de água.

Fig. 5. Corte transversal e esquema de uma instalação de um gotejador em uma mangueira enterrada e levando o microtubo com estaca até a planta.

Fig. 5. Corte transversal e esquema de uma instalação de um gotejador em uma mangueira enterrada e levando o microtubo com estaca até a planta.

Agora teremos a layout final de nosso projeto com os emissores.

Fig. 6. Layout de emissores do projeto. Assim finalizamos nosso artigo completo de determinação de Kc e necessidade de água de plantas em um projeto de paisagismo.

Abraços e até a próxima.

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