Jornal Voz Saúde - 60

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VOZ SAÚDE HOSPITAIS HUMANITÁRIOS DO PARANÁ M A R Ç O / A B R I L 2 0 11 . N . 6 0

25 anos: uma história de

lutas e conquistas para os filantrópicos PÁG 3

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| POLÍTICA E SAÚDE

Parcerias com Organizações Sociais mostram-se eficazes no atendimento às demandas de hospitais públicos e são modelo em vários países da Europa e América do Sul. PÁG 6

| ENTREVISTA

A presidente da mesa diretora do Conselho Estadual de Saúde e diretora da Femipa, Rosita Márcia Wilner, fala a respeito das responsabilidades que assume a partir de agora. PÁG 8

| HOSPITAIS EM AÇÃO

Santa Casa de Irati se consolida como hospital regional com investimentos para ampliação das instalações, implantação de novos serviços e aquisição de equipamentos.


OPINIÃO

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mês de março marca um momento importante para a Femipa: 25 anos de fundação. A longevidade de uma instituição representativa se mede pelas lutas enfrentadas e vitórias atingidas. Pelo respeito conquistado e pela confiança nela depositada por seus pares. A Federação evoluiu nesse período, com mudanças estruturais, aperfeiçoamento das posições defendidas e melhorias do atendimento aos afiliados. Mais recentemente, a aposta em um conceito mais moderno, sem desprezar a tradição centenária das filantrópicas, conferiu à marca da Femipa uma nova identidade. Com isso, vieram transformações na Comunicação – do aspecto visual ao conteúdo, na forma de se relacionar com os afiliados, no posicionamento junto à sociedade e aos gestores públicos. Uma conquista de todo o segmento, que se renova, sem perder características fundamentais como o respeito ao próximo e à dignidade humana. Essa data tão significativa para o setor coincide com a quebra de paradigma no relacionamento com o Governo do Estado do Paraná. Ao ser chamada a participar das discussões de temas que afetam diretamente os hospitais filantrópicos e das proposições de novos projetos que contribuirão para a melhoria do sistema de saúde no Estado, a Femipa avança em representatividade e, com isso, crescem também os afiliados. Esse trabalho conjunto deve viabilizar para os hospitais filantrópicos novas oportunidades como o acesso a capacitação profissional e, até mesmo, a possibilidade de eventuais incentivos financeiros. Cada vez mais, o poder público deseja estreitar a parceria com as santas casas e hospitais filantrópicos para a manutenção e o sucesso do Sistema Único de Saúde. A diretoria da Femipa almeja que os próximos 25 anos sejam de mais momentos de prosperidade.

André Teixeira Vice-diretor administrativo financeiro do Hospital Pequeno Príncipe “As dificuldades são muitas. Uma delas é que, nos últimos anos, os hospitais vêm tendo muita dificuldade em reajustar os valores da tabela de diárias e taxas. Aqui no Hospital Pequeno Príncipe o problema não é diferente. Os atuais valores efetivamente não cobrem os custos operacionais de funcionamento. Outro ponto a ser destacado é o fato de que os convênios solicitam que materiais especiais, como órteses, próteses e medicamentos de alto custo, sejam comprados e fornecidos diretamente. Conduta que pode trazer diversos riscos ao paciente e, consequentemente, ao hospital, que não tem controle de rastreabilidade, conservação e integridade biológica dos itens fornecidos por outras fontes. Ainda é necessário driblar freqüentes tentativas de transferência de responsabilidade na gestão de gastos dos pacientes – os convênios solicitam que diversos procedimentos sejam previamente autorizados, gerando grande demanda de trabalho operacional e criação de controles administrativos por parte do hospital. Esta rotina conduziu os hospitais a ter significativo aumento nos gastos com tecnologia da informação, recursos humanos e equipamentos. Eventuais informações não enviadas para o convênio geram glosas relevantes. Por fim, gostaria de citar outro problema que são os constantes recebimentos com atrasos e sem o pagamento de multa ou juros.”

Quais as dificuldades enfrentadas pelo hospital na negociação dos contratos com as operadoras de plano de saúde?

Mônica M. de Miranda Magnani Gestora administrativa Santa Casa de Cambé “A negociação com as operadoras de saúde em quesitos éticos, baseada na busca de acordos ganha-ganha é a resposta mais atual e a busca constante das entidades hospitalares, mas não é a real situação. Hoje encontramos dificuldades principalmente no quesito negociação de tabelas, a maioria dos contratos são elaborados para reajuste anual, mas a maioria quando reajusta não segue o proposto pela entidade, reajustando a um percentual irrisório. Outro ponto bastante critico é o atraso nos pagamentos, glosas indevidas e dificuldades de autorização de procedimentos e exames.”

Boa leitura! O Jornal VOZ Saúde é uma publicação bimestral da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná - FEMIPA Produção e redação | INTERACT Comunicação Empresarial www.interactcomunicacao.com.br Jornalista responsável | Juliane Ferreira - MTb 04881 DRT/PR Projeto gráfico e diagramação | Brandesign - www.brandesignstudio.com.br Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião da Femipa.

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CAPA

25 anos: uma história de lutas

e conquistas para os filantrópicos

Ao longo desse período, a entidade esteve à frente de importantes mobilizações políticas de interesse dos hospitais filantrópicos e é a principal voz do setor.

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Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa) completou no dia 12 de março 25 anos. Ao longo desse período, a entidade esteve à frente de importantes mobilizações políticas de interesse dos hospitais filantrópicos e é a principal voz do setor. Da criação do Programa de Reestruturação e Contratualização dos Hospitais Filantrópicos no Sistema Único de Saúde, que permitiu o planejamento das instituições em relação aos recursos financeiros, passando pela mobilização do movimento SOS Santas Casas, à luta pelo pagamento retroativo dos recursos do incentivo à contratualização de 2007, os presidentes que passaram pela Federação construíram uma história de conquistas. O administrador do Hospital Bom Jesus, de Ponta Grossa, Moacir Aparecido dos Santos, lembra que apesar das dificuldades, a Federação tem conseguido cumprir o seu papel como representante das santas casas e hospitais filantrópicos. “Nos momentos mais difíceis pelos quais o segmento passou, a Femipa sempre esteve presente junto aos gestores por meio de suas lideranças, nunca deixando a unilateralidade prevalecer, a exemplo da importante intervenção na formatação do contrato padrão da Contratualização”, afirma.

A participação efetiva da Federação em negociações políticas decisivas para o segmento tem sido um dos destaques dos paranaenses.

Para o diretor do Hospital Evangélico de Londrina, Luiz Soares Koury, qualquer instituição que tenha sobrevivido tanto tempo funcionando já é vencedora, mas para ele, tudo o que foi feito faz parte do passado e para continuar vivo, é preciso sonhar e trabalhar por um futuro melhor. “Atuando de forma profissional e transparente acredito que será possível envolver e aumentar o quadro associativo, o que aumentaria também a nossa força, não simplesmente para pressionar, mas para demonstrar com clareza a importância das entidades filantrópicas na assistência à saúde com qualidade no Paraná. Além da função de representar a nossa categoria espero que a Femipa continue incentivando, cada vez mais, a profissionalização da gestão também nos nossos hospitais”, afirma o diretor. Na opinião de Koury, o principal desafio para a Femipa é ser percebida pelos associados e pelo público externo como uma entidade verdadeiramente importante na representação dos hospitais filantrópicos no Estado.

Política Em 25 anos de história, a Femipa sempre procurou estabelecer um diálogo aberto com o poder público. Mas, de acordo com o presidente, poucas foram as vezes em que projetos, que permitiriam o avanço do segmento do Estado, saíram do papel. “Apenas recentemente, com a mudança de governo, encontramos um ambiente mais propício para a discussão de novas ideias e profissionais dispostos a ouvir os prestadores. Estamos confiantes que os próximos quatro anos possam ser de mudanças positivas para o setor filantrópico no Paraná”, avalia Niwa.

Evento Na opinião do atual presidente, Maçazumi Furtado Niwa, a participação efetiva da Federação em negociações políticas decisivas para o segmento, tem sido um dos destaques dos paranaenses. “Participamos, por exemplo, da aprovação do projeto de Lei das filantrópicas, para o qual foram apresentadas sugestões de alterações propostas pela Femipa. Outra conquista política na qual tivemos atuação importante foi na inclusão das Santas Casas e hospitais filantrópicos na Lei que criou a Timemania, em 2007”, conta Niwa. Segundo ele, a Federação se tornou uma entidade representativa forte e respeitada, inclusive entre as outras Federações do país. “Agimos em defesa de interesses comuns, contribuindo na definição de políticas de saúde e interagindo com instituições públicas e privadas que visam melhorias na saúde da população”, completa.

Um café da manhã e o lançamento de uma revista comemorativa marcam os 25 anos da Femipa. O evento será no dia 29 de abril, no salão Rosa do Clube Curitibano, em Curitiba, e contará com a presença de autoridades e representantes dos hospitais afiliados. Os ex-presidentes Ivo Arzua Pereira, Paulo Roberto Franzon, Carlos Alberto Grolli, Jerônimo Antonio Fortunato Júnior e Charles London; e o secretário estadual de Saúde, Michele Caputo Neto, serão homenageados com um troféu pela dedicação ao segmento e contribuição para a melhoria da Saúde no Paraná. O evento, fechado para convidados, conta com o patrocínio do banco HSBC.

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POLÍTICA E SAÚDE

Bons exemplos de gestão hospitalar Parcerias com Organizações Sociais mostram-se eficazes no atendimento às demandas de hospitais públicos e são modelo em vários países da Europa e América do Sul.

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mbora o Paraná ainda não tenha uma lei que regulamente a prestação de serviços públicos de saúde por terceiros, essas parcerias têm se mostrado uma alternativa eficaz para a gestão dos hospitais públicos. Um estudo detalhado desse modelo no Brasil e no mundo, realizado pelos autores do livro “Desempenho Hospitalar no Brasil: Em busca da excelência”, destaca que a gestão de hospitais feita por Organização Social de Saúde são mais eficazes, flexíveis e econômicas que a gestão de hospitais realizada por entes públicos. No Brasil, a parceria com instituições privadas para a prestação de serviços públicos de saúde está prevista no artigo 197 da Constituição Federal. O Paraná, assim como a maioria dos estados brasileiros, ainda não possui uma lei que regulamente essas parcerias. “Mais do que oficializar esta parceria, permitida pela Constituição Federal, seria necessária a aprovação de uma lei, que regulamente as formalidades e os critérios de escolha das instituições”, exemplifica o advogado e doutor em Direito pela USP, Fernando Mânica, autor do livro “O Setor privado nos Serviços Públicos de Saúde”.

“Em dois anos, conseguimos estruturar nossos processos e nos tornar o primeiro hospital público do Paraná, com 100% de atendimento pelo SUS” Danilo Oliveira da Silva Diretor geral do Hospital Municipal de Araucária

Mesmo assim, alguns hospitais públicos já trabalham em parceria com organizações sociais e têm obtidos resultados significativos. O Hospital Municipal de Araucária é um dos exemplos. Desde sua inauguração, em setembro de 2008, o hospital é administrado pela Pró-Saúde, organização social sem fins lucrativos. O modelo de gestão, considerado pioneiro no Estado, é feito por meio de um contrato, firmado entre a Pró-Saúde e o município de Araucária. Segundo o secretário municipal de Saúde de Araucária, doutor Haroldo Ferreira, este modelo se mostrou mais eficaz para Hospital Municipal de Araucária, administrado pela Pró-Saúde, tem 97% de satisfação do usuário

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o atendimento à população. “Escolhemos este formato visando um melhor serviço para a população e temos obtidos resultados eficientes. Além disso, ele possibilita a contratação de funcionários em regime de CLT, que traz mais flexibilidade ao sistema”, explica. No contrato entre a Pró-Saúde e o Hospital de Araucária, o órgão público atua como co-gestor, acompanhando, fiscalizando e definindo as políticas de saúde a serem seguidas. “É importante destacar que o Hospital Municipal de Araucária e todo seu patrimônio continuam sendo públicos”, explica Danilo Oliveira da Silva, administrador Hospitalar e Diretor Geral do Hospital Municipal de Araucária. Danilo ressalta que a gestão realizada por uma Organização Social de Saúde apresenta mais agilidade nos processos e resolução de novas demandas do que a gestão realizada por entes públicos. Ele destaca como exemplo a recente estruturação do serviço de mamografia do hospital. “O município tinha um aparelho e necessitava do serviço. Após aprovação do projeto pela Secretaria Municipal de Saúde foi possível iniciar o serviço em menos de 20 dias, com custo 50% menor para o ente público, em relação ao comprado em serviços externos”, explica. O diretor também cita números que comprovam a efetividade da parceria. “Temos 97% de satisfação do usuário, nosso índice de resolução ultrapassa aos 90% e, com apenas dois anos em funcionamento, conseguimos estruturar nossos processos e nos tornar o primeiro hospital público do Paraná, com 100% de atendimento pelo Sistema Único de Saúde, e 100% de financiamento por recursos públicos, acreditado pela Organização Nacional de Acreditação (ONA)”, explica.


ENTREVISTA

Rosita Márcia Wilner Bióloga e mestre em Genética Humana pela UFPR, presidente do Conselho Estadual de Saúde do Paraná, diretora da Femipa.

Como representante da Femipa, você participa ativamente do Conselho Estadual de Saúde do Paraná (CES/PR) há alguns anos. O que muda ao assumir a presidência da mesa diretora? Para a Femipa, temos a possibilidade de ampliar a visibilidade e a oportunidade de demonstrar qual é o nosso papel na construção do Sistema Único de Saúde e a importância que damos ao controle social. No entanto, aumenta também a responsabilidade. Como presidente da mesa diretora, cabe a mim representar o Conselho Estadual de Saúde do Paraná junto aos órgãos públicos municipais, estaduais e federais e sociedade civil; coordenar as reuniões do plenário, emitir resoluções, deliberações, recomendações ou moções das decisões tomadas pelo Plenário. Sou responsável ainda pela supervisão geral das ações do CES/PR, entre outras atividades. Continuo tendo direito a voto, pois o presidente também é um conselheiro.

Em ano de conferências, qual a missão e os desafios do Conselho? O papel do CES/PR em relação à Conferência Estadual de Saúde é o de organizar e elaborar o temário, que este ano será “SUS, Patrimônio do Povo Brasileiro - Construindo as Redes de Atenção à Saúde no Paraná”. Além disso, temos que contribuir e propiciar

condições para que o relatório final da conferência resulte em uma avaliação da situação da Saúde do Estado, formulado e fixado as diretrizes gerais da Política Estadual de Saúde, eleger entidades que irão compor o CES/PR para a gestão 2012 a 2015 e os delegados para a 14ª Conferência Nacional de Saúde. Também acompanhamos e orientamos aos Conselhos Municipais de Saúde na realização de suas conferências. Este ano, por exemplo, uma webconferência com as 22 regionais de saúde esclareceu as dúvidas de cada local, mobilizou os municípios e foi uma oportunidade para a troca de informações e a preparação para as plenárias que virão.

O Conselho tem por obrigação atuar na promoção do processo de controle social em toda a sua amplitude, no âmbito dos setores públicos e privados, em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. Ouvir o Conselho depende de uma vontade política do Governo, mas, historicamente, o CES/PR tem um papel importante dentro da esfera pública pelo trabalho sério realizado pelos conselheiros. Quando uma decisão do Conselho não é homologada pelo Secretário de Estado da Saúde, o Ministério Público é acionado. Essa instituição, assim como o Tribunal de Contas do Estado, são importantes parceiros do CES/PR.

De que forma o CES participa da construção das políticas públicas de saúde?

Como os hospitais afiliados à Femipa podem contribuir com o CES/PR? É possível participar de suas regiões?

O Conselho Estadual de Saúde do Paraná é uma instância deliberativa e é o mais democrático dos Conselhos, pela sua constituição. Fiscalizamos as ações e os serviços de saúde no Estado. A cada novo ano estabelecemos uma agenda mínima e um cronograma para essas tarefas. Avaliamos, por exemplo, os instrumentos de gestão: Relatório de Gestão, Plano Plurianual e Plano Orçamentário Anual. Além disso, recebemos demandas da sociedade em geral e também do Ministério Público, acompanhamos as audiências públicas realizadas na Assembleia Legislativa para discussão das políticas de saúde.

Os hospitais devem participar das Conferências Municipais e dos seus respectivos Conselhos Municipais de Saúde, pois é a instância onde serão debatidas as necessidades locais. Os prestadores filantrópicos já têm consciência da importância desse momento para a definição das políticas públicas de saúde, mas é preciso que mais administradores hospitalares se interessem pelas discussões e participem ativamente desses processos, para sermos reconhecidos como elementos fundamentais para a garantia do funcionamento do Sistema Único de Saúde.

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ENTREVISTA

Scheila T. Mainardes Diretora geral do Hospital Regional Wallace Thadeu de Mello e Silva, economista, com MBA em Gestão Empresarial e Gestão de Serviços de Saúde pela FGV. Foi diretora administrativa da Santa Casa de Misericórdia de Ponta Grossa e compôs a diretoria da Femipa.

Qual a situação encontrada ao assumir a direção do hospital regional? O HRPG foi inaugurado em março de 2010, pelo governo anterior, com o propósito de dar suporte ao Curso de Medicina da UEPG. Tanto é verdade que o hospital foi construído no campus da universidade. A obra foi realizada em tempo recorde, resultando em várias deficiências estruturais, de dimensionamento e de fluxo. A expectativa criada com a inauguração foi enorme, momento em que existia somente a estrutura física, algum mobiliário, poucos equipamentos e funcionários. A estruturação dos serviços só iniciou posteriormente. Quando assumi, há pouco mais de dois meses, encontrei uma estrutura com capacidade de 190 leitos, porém 28 deles ativos e média de 10 internações/mês, uma lista de espera de mais de 300 cirurgias eletivas, com o funcionamento praticamente apenas do Ambulatório de Especialidades. Em todas as áreas faltavam equipamentos, mobiliário, instrumentais, serviços de apoio, além do quadro de pessoal apresentar problemas de dimensionamento, de faltarem documentos legais, haver pendências da obra, dentre outros.

Quais serão os primeiros passos para colocar o hospital em pleno funcionamento? O Plano de Governo demonstra que a estrutura da Secretaria de Estado da Saúde estará voltada para proporcionar serviços de saúde eficientes para toda a população, definindo como linhas mestras “Qualidade, Desenvolvimento e Gestão por Resultados”. Diante disso, a primeira medida foi fazer um diagnóstico situacional, definir o perfil do hospital e elaborar o planejamento estratégico. Definiram-se os serviços que serão disponibilizados à comunidade, as etapas de funcionamento, seus prazos, e, a partir daí, foram desencadeados os processos de licitação para complementação dos equipamentos, acessórios, utensílios, insumos, de redimensionamento do quadro de pessoal, de estruturação dos processos internos e de atuação na área acadêmica. A primeira etapa, com data prevista para julho deste ano, prevê o funcionamento de 88 leitos, sendo 12 de UTI adulto e 8 de UTI Neonatal.

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Como fator fundamental para a estruturação do hospital tem-se buscado formatar uma equipe de alto desempenho. Para tanto, a parceria com a UEPG tem sido fundamental. O hospital terá abrangência macrorregional, englobando cerca de 18 municípios, com aproximadamente 750 mil habitantes, e caráter de ensino.

De que forma a experiência à frente de um hospital filantrópico, contribui para a gestão da instituição pública? Os hospitais filantrópicos sofrem com a escassez de recursos e as instituições que se destacam usam da criatividade para prestar assistência de qualidade com o menor custo possível. A visão de qualidade, do controle de custos, de otimização dos processos, de racionalização dos recursos e da profissionalização da gestão deve também ser aplicada à área pública. O conhecimento pela formação, especializações e, principalmente, experiência adquirida pelos vários anos na área hospitalar, fazem com que haja o entendimento do que exatamente o Estado espera de cada integrante da rede assistencial. Conhecer as dificuldades das filantrópicas, as lacunas e deficiências do Sistema, nos possibilita estabelecer uma relação de parceria com os hospitais filantrópicos.

Como o hospital será integrado à rede de atendimento? Haverá prejuízo aos hospitais filantrópicos que já operam na região? A Sesa pretende, através das Redes de Atenção à Saúde, reduzir as distâncias e o tempo de resposta do atendimento, organizando a Rede Assistencial nas 22 regiões do Paraná. O HRPG participará das Redes, num primeiro momento absorvendo parte da demanda de média complexidade e, numa segunda etapa, ampliando o grau de complexidade. Não há a pretensão de substituir qualquer serviço existente, mas sim, complementar a Rede Assistencial, em especial serviços estrangulados. Portanto, não haverá prejuízo algum aos hospitais filantrópicos, ao contrário, ele auxiliará na vazão à medida que amplie sua atuação, proporcionando suporte aos Hospitais de Ponta Grossa e região.


ARTIGO

O Código de Ética Médica e a construção de uma sociedade mais justa, solidária e saudável A

Medicina, como uma das profissões milenares que servem de base para a estruturação da sociedade, tem em seu pai, Hipócrates, a expressão maior que deixou conceitos para a prática da mesma, quais sejam: os princípios da beneficência, não-maleficência, respeito à vida, à privacidade e à confidencialidade. A isto chamamos os princípios da Ética Hipocrática. Dentro destes parâmetros, que permanecem atuais, outros conceitos foram acrescentados, caracterizando-se assim a Medicina como uma ciência que eticamente se dedica ao que é mais sagrado: a vida em plenitude. Ser Médico, ou seja, profissional que desenvolva a Medicina, acima de tudo tem que espelhar estas premissas, perseverar pela qualidade de vida, pela saúde em suas diversas facetas, respeitar a dignidade e a integridade dos que lhe pedem auxílio. Apesar de conceitos antigos, com o advento das grandes guerras, o mundo teve que declarar códigos de costumes, nortear o pensamento novamente e estabelecer regras de conduta ética. Com alguns ensaios anteriores, em 1944 o primeiro Código de Deontologia Médica foi oficialmente reconhecido no Brasil. Desde então, outros quatro códigos estiveram vigentes no país. Neste mês de abril, mais especificamente no dia 13, o atual Código de Ética Médica, sexto editado, completa um ano de vigência. Não devemos chamá-lo de Novo Código de Ética Médica, pois, na realidade, o que ocorreu foi uma atualização do já redemocratizado Código de 1988, especialmente utilizando-se de uma linguagem mais jurídica, buscando amparo nos Códigos Civil e Penal, bem como acompanhando os progressos científicos, como nos

casos da genética e reprodução assistida. Com certeza um Código mais condizente com os dias atuais e trazendo à discussão temas bioéticos como a autonomia do paciente e do médico, ortotanásia e cuidados paliativos. A observância às regras do Código de Ética Médica é a base do que se conceitua uma Medicina de boa prática, onde direitos e deveres dos médicos estão explícitos. Não vejo, como alguns meios de comunicação chegaram a citar, como ferramenta para solucionar os graves problemas encontrados na saúde, seja pública ou privada. Quando editado e lançado, passava-se a impressão de que a saúde neste país seria dividida entre antes e depois deste Código. Por maior exposição que isto possa exercer, confesso que ele não tem e nunca teve este propósito, pois se trata de um código de conduta profissional que pouco modificou em sua essência. Se formos analisar os Princípios Fundamentais deste Código, que nada mais é do que as bases para o desempenho ético desta nobre profissão, poucas mudanças ocorreram. Ou seja, os médicos deste país já trabalhavam com estas premissas e os casos em que isso não ocorria eram analisados pelos Conselhos Regionais espalhados por este Brasil. Poder-se-ia perguntar o que modificou na prática cotidiana da classe médica desde a implantação dos conceitos trazidos nesta nova edição. No geral, muito pouco, mas como foram acrescentados temas pontuais, ampliou-se o sentido de dever do médico para com a sociedade. Administrativamente alguns ajustes tiveram que ser realizados em todas as Corregedorias dos Conselhos Regionais e Federal, no sentido de se adequar a codificação para os fatos

ocorridos a partir do dia de sua vigência. Os fatos anteriores ainda são avaliados pelo Código de 1988. Tempus regit actum (o tempo rege o ato), que impõe obediência à lei em vigor quando da ocorrência do fato. Isto faz com que, na prática, este Código vigente desde abril de 2010, seja aplicado em todas as queixas apresentadas somente daqui a alguns anos. Este período de transição está devidamente equacionado, com normas emanadas pelo Conselho Federal de Medicina e seguidas por todos os estados. Mais do que toda uma codificação, a revisão do Código de Ética Médica representou a preocupação e o respeito de toda uma classe para com aqueles que devem se beneficiar de uma saúde de qualidade, ou seja, todo o povo brasileiro. Como se diz, trata-se de um contrato de trabalho, assumido por todos nós, médicos deste país, com a população, na construção de uma sociedade mais justa, solidária e saudável.

Alexandre Gustavo Bley Vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná.

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HOSPITAIS EM AÇÃO

Investimentos na Santa Casa de Irati consolida instituição como hospital regional Ampliação das instalações, novos serviços e equipamentos. Com 75 anos de história, a Santa Casa de Irati investe na prevenção de doenças e na qualidade para se consolidar como um hospital regional. “O propósito é buscar formas para acelerar a recuperação dos doentes, oferecendo mais conforto em sua estada. Mas, mais do que isso, estamos investindo na prevenção. Com exames e diagnósticos prévios e precisos conseguiremos oferecer à população tranquilidade e segurança”, afirma o administrador da Santa Casa, Claudemir Andrighi. Para ele, a escassez financeira ainda é o maior desafio. “Por isso é importante fortalecer nossas Federações, para que tenham condições

de buscar junto aos órgãos estaduais e federais valores mais justos pelos procedimentos realizados”, defende. Uma das novidades do hospital é a construção e ampliação do novo Centro Cirúrgico e Obstétrico com Central de Material e Ambulatórios, em fase de conclusão. São mais de mil metros quadrados, com seis salas cirúrgicas, duas delas para alta complexidade. Os investimentos incluem recursos do governo do Estado, próprios e de emenda parlamentar. Com as novas instalações, a previsão é aumentar em 30% o volume de cirurgias realizadas.

Novos serviços

A N U N C I E 41

3027 5036

Recentemente a Santa Casa de Irati foi credenciada para captação de tecido ocular (globo e córneas). Uma equipe multiprofissional foi treinada para realizar a abordagem com a família e fazer a retirada do tecido. Outra novidade é o serviço de Hemodinâmica, em fase conclusiva de implantação, que irá realizar cateterismo cardíaco. O investimento será de dois milhões de reais, em parceria com uma equipe médica de Ponta Grossa e Curitiba. Segundo o administrador, o serviço trará melhorias na qualidade de vida da população da região, pois não será preciso viajar longas distâncias para ser atendido.

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