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Agricultura e criação de gado

A agricultura da ilha do Maio não constituiu, no início do seu povoamento, uma atividade económica de interesse para os senhores da terra, apesar dos bons terrenos agrícolas, muito embora a aridez dos solos.

Este recurso foi quase esquecido pela atenção prestada à criação de gado e à extração do sal, e possivelmente, pelo desanimo causado pelas sucessivas pragas de gafanhotos que arrasavam as culturas da ilha.

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A ilha do Maio possui potencialidades agrícolas (essencialmente de economia familiar) numa área de cerca de 1000 ha em regime de sequeiro e de regadio, que inclui a encosta de algumas das suas elevações. Produz-se milho e feijão bongolom, cebola, batata-doce, batata comum, mandioca, cana-de-açúcar e, claro está, a produção de aguardente (o famoso grogue), que se produz especialmente em Figueira Horta, pela existência do trapiche.

Esta produção agrícola, onde sobressai a cultura do milho, constitui o suporte para a gastronomia tradicional local, com destaque para os pratos típicos como a cachupa e a cachupa de chacina (tchacina), o pastel de milho, o xerém, entre outros.

A cultura do algodão foi introduzida quase desde a descoberta da ilha, principalmente entre as povoações de Morro e Morrinho. O algodão utilizado desde há muito como moeda de trocas comerciais, era muito valioso e vendido aos tecelões de Pedra Badejo (até meados do século XX), para a produção dos famosos “panos de terra”.

O gado era também consumido localmente e a pele era utilizada para a produção de utensílios de trabalho e domésticos.

Na atualidade, a criação de gado (cabras, vacas, carneiros e burros) pratica-se em quase toda a ilha, mais especialmente nas localidades de Figueira Horta, Morro, Calheta, Cascabulho, Ribeira D. João e Barreiro.

Do leite (sobretudo de cabras de raças antigas da ilha), resultante desta exploração pecuária familiar, produz-se de forma artesanal e ancestral o famoso queijo do Maio, cuja forma cilíndrica é feita e suportada por cinchos (sintxu), pequenas formas originalmente feitas de folha de coco. Também, na produção da famosa manteiga di Maio são utilizadas as cabaças (boli), para coalhar o leite de cabra. Atualmente, em Ribeira D. João, existe uma unidade de

produção do famoso queijo que associa o saber original a formas de fabrico e de conservação atuais.

Rosalina Ribeiro Silva Cardoso, conhecida por Line.

Primeiramente aprendi a fazer o queijo em casa com a minha mãe, mas desde o ano passado viemos aqui para a fábrica de queijaria. Somos uma associação de 16 mulheres, em que a União Europeia e a Câmara Municipal criaram essa queijaria de forma a ajudar as mulheres da Ribeira Dom João.

Primeiramente vamos para o campo para buscar o leite e trazer para a queijaria para fazer o “acolhimento” do leite. Depois fazse a medição do leite de cada pessoa e marcamos. Depois é coado o leite com um coador e é colocado no coalho… depois de 2 horas o leite fica pronto para se fazer o queijo…Colocamos em duas formas, uma que a união Europeia ofereceu, a redondinha e temos o comprido que é forma de pano de coco, que é desde o tempo da minha avó. Depois colocamos naquela “xinti”, vai para a geleira. No dia seguinte tiramos o queijo daquela “cintxi”, lavamo-lo, enxugamo-lo com uma toalha, secamo-lo bem e depois de pronto é colocado na embalagem com um rótulo de validade e data de produção. produzem mais leite. No ano passado produzimos pouco queijo, como houve pouca chuva, mas esse ano a situação melhorou um pouco. Com mais chuva produzíamos muito mais queijos mas mesmo assim agradecemos a Deus por nossa fábrica não ter fechado as portas. Hora que temos palha no campo, as nossas cabras dão muito mais leite.

Cada senhora tem a sua cabra e cada senhora tem um seu

coalho. Toda agente conhece a sua cabra, mas têm uma marca na orelha.

A diferença é que antigamente o queijo era feito em casa, punha-se o seu sal e colocava-se na tabua. No tempo da minha avó não tinha geleira. Agora nós temos geleiras, temos luvas, temos batas e fazem-se as embalagens.

Narrativas de memória Criação de Gado - Santos Ribeiro mais conhecido por Ineuze.

Os animais que existem em maior quantidade aqui na ilha do Maio são as cabras, vacas e os porcos…antigamente havia mais burros, agora tem poucos.

Da cabra retiramos o leite e a carne. É um animal fácil para nos governarmos. Antigamente fazia-se muito queijo com o leite da cabra e com os burros fazia-se transporte de carga.

Tenho cabras da raça antigas aqui da ilha, mas também tenho alguns de outras raças que não são nacionais. Cada família tem seu rebanho que identificamos pela cor e também colocamos marcas nas orelhas de cada cabra.