E N T R E V I S TA
Das sombras Sou eu esta mulher que anda comigo…? Sonetos que não são
A Casa do Sol, onde Hilda Hilst vive desde 1966, é cercada de sombras. Algumas, explícitas, externas, escurecem os visitantes que atravessam o portão do condomínio em que a moradia está plantada, a 11 quilômetros de Campinas, no interior de São Paulo. Resultam das copas entrelaçadas em trama densa de um vasto renque de árvores, figueiras centenárias, palmeiras, dracenas, sombrões naturais para a temperatura em geral elevada, capaz de inquietar as dezenas de cachorros condôminos, rústicos e domésticos, quase todos vira-latas que, com seus olhos de cães assestados nos estranhos, assustando-os antes de recepcioná-los com sua ruidosa curiosidade. Outras, íntimas, internas, aclaram os visitantes, como a equipe dos
CADERNOS
que na
manhã do dia 13 de setembro atravessou o sistema solar literal e literariamente ensombreado, pronta a entrevistar Hilda Hilst (mais de cem perguntas próprias e alheias), fotografá-la (mais de cem imagens próximas e alhures), antes que os olhos vermelhos, de lágrimas e vinhos (mar de memórias, o Porto), apagassem a conversa – três horas de loucos, livros, amores, mortes, o pai, o pai, o pai, a mãe, Wittgenstein, Jorge de Lima, Catulo, Joyce, Beckett, Kazantzakis, Deus, Eros, extraterrestres, os cães (psicopompos) e o silêncio, o silêncio, o silêncio – acendendo todas as suas sombras.
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