1º diretor de Assistência Estudantil: João Pedro de Paula
Diretora de Políticas Educacionais: Paula Lorrane Rodrigues da Silva
Diretora de Relações Internacionais: Victória Ellen Almeida Pinheiro
Diretora de Movimentos Sociais: Marina Amaral Nascimento
Diretora de Universidades Particulares: Victoria Mattos
Diretor de Ciência e Tecnologia: Caio Guilherme da Silva
Diretora de Direitos Humanos: Emanuelle Kisse dos Santos Pereira
Diretora de Universidades Públicas: Clara Maria Gonzaga
1º Políticas Públicas para Juventude: Gutemberg Rodrigues da Silva
1º diretor de Políticas Educacionais: Diego Carlos Ferreira
O Nossa Voz é uma publicação da União Nacional dos Estudantes.
Jornalista responsável: Cristiane Tada (MTB 6956/PR)
Redação: Cristiane Tada
Projeto Gráfico: Junior Lima
Fotos: Karla Boughoff, Junior Lima e Enzo Ferraro
EDITORIAL
A tarefa de hoje é derrotar a extrema direita nos municípios
A tarefa de hoje é derrotar a extrema direita nos municípios e eleger aqueles e aquelas que defendem a educação e a democracia em cada canto deste país.
Este encontro geral das entidades de base da UNE é estratégico: estamos nos preparando para as eleições municipais. Assim como demonstramos nossa capacidade de derrotar Bolsonaro nas ruas e nas urnas, o desafio agora é varrer o bolsonarismo de nossas cidades.
Faltando poucos meses para o pleito de outubro, já observamos projetos de privatização e militarização das escolas ganharem terreno em São Paulo, Pernambuco e Paraná. A velha ideia de cobrar mensalidades nas universidades públicas também ronda como um fantasma.
Com o legado de 87 anos da UNE, construindo DCEs, CAs e DAs, devemos estar ativos e vigilantes em nossas comunidades, estados, bairros e cidades. Como movimento estudantil, precisamos estar comprometidos com a eleição de projetos que defendam uma educação pública de qualidade, crítica e libertadora.
É necessário pensar em uma cidade que acolha os estudantes com assistência estudantil, garantindo passe livre e restaurantes universitários.
Por isso, apresentaremos uma plataforma eleitoral pensada pela e para a juventude. As cidades que queremos nos garantem o direito de viver, estudar e ter momentos de lazer com segurança. Além disso, não existe planeta B: é urgente que sejam implementadas políticas públicas de enfrentamento às mudanças climáticas.
Do 70º Coneg, nas nossas entidades e nas nossas salas de aula, estamos em luta para reconstruir a educação e a nossa nação.
Manuella Mirella Presidenta da UNE
Por um Plano Nacional de Educação do tamanho dos nossos sonhos
Planejamento das diretrizes da educação até 2034 está em discussão no Congresso
No que diz respeito ao ensino
superior, o texto do novo PNE traz como metas:
- Garantir a qualidade e a adequação da formação ao mercado de trabalho e às diversidades de populações e seus territórios na educação profissional e tecnológica;
- Ampliar o acesso, a permanência e a conclusão na graduação, promovendo a inclusão e a redução de desigualdades;
- Assegurar a qualidade dos cursos de graduação e das instituições de ensino superior;
- Expandir a formação de mestres e doutores, de forma equitativa e inclusiva, com foco na prospecção e solução dos problemas da sociedade.
No fim de junho, o governo federal encaminhou ao Congresso Nacional o projeto de lei do novo Plano Nacional da Educação (PNE) 2024-2034, que estabelece 18 objetivos para o sistema educacional brasileiro.
O PNE é o principal instrumento de planejamento de políticas públicas para a educação no Brasil, abrangendo desde o ensino básico até o superior. Ele norteará os rumos educacionais pelos próximos dez anos.
“Vamos precisar de muita mobilização nas universidades e escolas para pressionar o Congresso Nacional a aprovar este PNE com metas que sejam perseguidas e cumpridas objetivamente”, destacou a presidenta da UNE, Manuella Mirella.
A Conferência Nacional de Educação apresentou em janeiro deste ano um documento de referência para a elaboração deste novo plano. A UNE participou de cada etapa, reivindicando a destinação de 10% do PIB para o financiamento da educação, conforme o desejo dos estudantes.
“Será uma batalha dura contra parlamentares ideologicamente contrários a uma educação pública e gratuita de qualidade. Por isso, precisamos conscientizar a sociedade”, finalizou.
Lutar vale a pena! Política Nacional de Assistência Estudantil agora é lei
Mobilização segue para garantir piso mínimo das bolsas e mais orçamento
Logo no início desta gestão da UNE, eleita em julho de 2023, transformar o Decreto 7.234/10 do PNAES em lei e realizar uma ampla Reforma Universitária foram eleitas as principais bandeiras desta geração.
Depois de muita luta e várias batalhas aguerridas, no último dia 04 de julho, o presidente Lula sancionou a Lei do PNAES (14.914/2024).
A nova legislação amplia a política de assistência estudantil de forma mais abrangente, beneficiando estudantes de baixa renda nas instituições federais de ensino superior e nas instituições da rede federal de educação profissional, científica e tecnológica. Para isso, ela estende auxílios para moradia estudantil, alimentação, transporte, saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche e apoio pedagógico, com prioridade para quilombolas, indígenas, comunidades tradicionais e estudantes estrangeiros em condição de vulnerabilidade socioeconômica, especialmente refugiados.
Apesar do avanço em transformar o que antes era um benefício em um direito estudantil, a luta continua. Durante a sanção da lei, o presidente fez vetos que podem comprometer a efetivação da lei com qualidade. “Como por exemplo, sobre o piso mínimo em relação ao valor da bolsa permanência. Nós defendemos que o piso mínimo seja de R$700, e que sejam equiparados os valores das bolsas do CNPq e Capes quando forem reajustadas”, explicou a presidenta da UNE, Manuella Mirella.
Outros vetos foram feitos em relação ao orçamento da assistência estudantil, como no artigo que garantia que as instituições federais de ensino superior recebessem recursos proporcionais ao número de estudantes cotistas admitidos em cada instituição.
Manu foi categórica: “Não dá para falar de assistência estudantil sem destinar um orçamento robusto para garantir a permanência dos estudantes com qualidade. Por isso, estaremos mobilizados nas ruas e no Congresso para derrubar esses vetos.”
O que muda?
A legislação abrange dez programas e um benefício, e será articulada com outras políticas sociais da União, especialmente as de transferência de renda. Com isso, o Poder Executivo ficará autorizado a instituir e conceder Benefício Permanência na Educação Superior a famílias de baixa renda cadastradas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) que tenham dependentes matriculados em cursos de graduação das instituições de ensino superior. Entre os programas abrangidos pelo PNAES está a Bolsa Permanência, a ser concedida a estudantes do ensino superior que não recebam bolsa de estudos de órgãos governamentais. O novo PNAES poderá atender também estudantes de mestrado e doutorado dessas instituições federais e, caso tenha recursos adicionais, poderá abranger estudantes de instituições de ensino superior públicas gratuitas de estados, municípios e do Distrito Federal.
Uma década de lutas
O projeto de lei PL 1434, da deputada Professora Dorinha (DEM-GO), tramitava desde 2011 no Congresso Nacional. Com a relatoria da deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), em agosto de 2023 a UNE mobilizou para que fosse aprovado o regime de urgência da votação do projeto na Câmara dos Deputados. Na época, a entidade organizou um abaixo-assinado para pressionar sobre a importância da pauta.
Em setembro de 2023, a presidenta da UNE participou de uma audiência pública no Senado sobre a permanência estudantil e a necessidade de aprovar o PNAES como lei.
No final de outubro, mais mobilização pela votação na Câmara e finalmente a vitória. A luta da UNE garantiu que fosse incluída no texto a garantia de que as IFES recebessem recursos do PNAES proporcionais ao número de cotistas. O projeto seguiu para o Senado, onde os estudantes tiveram uma atuação fundamental para garantir sua aprovação.
Em maio deste ano, foi a vez de marcar presença na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e garantir sua aprovação. A mobilização continuou na Casa, desta vez na Comissão de Educação, e o projeto seguiu para o plenário. A UNE assegurou que estudantes de todo o país ajudassem na pressão dos parlamentares para conseguir a aprovação.
Em junho, depois de muita mobilização no Senado pedindo apoio dos senadores, foi aprovada no plenário a Lei do PNAES.
“Agora ela foi sancionada pelo presidente Lula e vamos pressionar por orçamento. Assim, vamos combater a evasão, promover a inclusão com o pagamento de bolsas, garantir diversidade e permanência dos estudantes nas universidades, melhorar o desempenho acadêmico e contribuir para o desenvolvimento social, científico e tecnológico do Brasil”, finalizou Manu.
Afinal, o que é essa tal de reforma universitária?
Entenda do que se trata a principal bandeira da Caravana Clima de Futuro de 2024
Atualizar a universidade brasileira ouvindo as necessidades dos estudantes brasileiros foi a motivação já na primeira caravana da entidade, a UNE Volante de 1962.
Inspirada na centenária Reforma de Córdoba, a grande responsável pelo surgimento do movimento estudantil, que em 1918 rompeu os grilhões de uma estrutura de universidade engessada, elitista, pouco democrática e sem autonomia, onde não havia espaço para o diálogo com a comunidade ou participação dos estudantes.
De acordo com o diretor de Políticas Educacionais da UNE, Diego Ferreira, foi assim, mirando em um ensino superior que servisse ao povo e aos trabalhadores, como o exemplo da Argentina, que a UNE se lançou na estrada realizando assembleias, reuniões com as lideranças estudantis e apresentações de peças do Centro Popular de Cultura, o CPC, propondo uma arte engajada como instrumento de conscientização da população.
“Há pelo menos seis décadas a UNE vem construindo e debatendo um projeto de educação superior, e infelizmente, pouca coisa mudou nas reivindicações de lá pra cá, não por falta de renovação das pautas dos estudantes, mas por falta de mudanças mais radicais”, explica.
Apesar de tantos anos lutando por essa pauta, a UNE tem a certeza de que está no caminho certo. Algumas conquistas, como a expansão e interiorização da rede federal
de ensino, a política de cotas e o decreto do Plano Nacional de Assistência Estudantil, foram verdadeiras revoluções. “Nós avançamos muito na democratização do ensino superior. Hoje, os filhos da classe trabalhadora estão nas universidades. Mulheres, negros, indígenas e quilombolas atualmente podem mudar o ensino superior estando inseridos. Portanto, não há com o que desanimar, o futuro é promissor”, enfatiza.
Em 2024, a caravana da UNE quer reunir um tratado, através de documentos, grandes debates e resoluções, que serão entregues ao final ao Ministério da Educação e ao governo federal, apontando as mudanças que a juventude quer ver na universidade brasileira.
Dentre as discussões que o movimento estudantil quer levantar sobre as mudanças na universidade brasileira estão:
- Os currículos precisam valorizar as ciências e os temas do Sul Global, bem como a multiplicidade das formas de saber e fazer científicos existentes nos territórios.
- Uma política contundente e efetiva de assistência estudantil através da transformação do PNAES em lei, assim como o cumprimento dos 10% do PIB para a educação.
- Legislação de prevenção e combate à violência de gênero dentro das universidades, com a implementação de órgãos de controle dos casos.
- Revogação da portaria dos 40% de EaD no ensino presencial.
- Garantia da autonomia universitária com o fim da lista tríplice e com paridade nas eleições para Reitoria e conselhos e câmaras da Universidade.
- Criação de um recurso especial destinado ao investimento em infraestrutura dessas instituições, finalização de obras inacabadas e construção de novos prédios.
- A elaboração e aplicação de uma lei que garanta que, mesmo com investimento do setor privado, a patente e exclusividade de uso do que é produzido nas universidades seja de propriedade intelectual delas.
- Programa de expansão de universidades estaduais, considerando aspectos atuais da conjuntura econômica, social e geográfica, com a criação de cursos que atendam às demandas locais.
- Modelo tripartite de investimento em universidades estaduais (Federação, estado e município).
- Regulamentação do ensino superior privado, buscando qualidade de ensino e requisitos de formação que sirvam aos interesses do país.
A hora e a vez da regulamentação do ensino privado
Tubarões do ensino aproveitaram a pandemia para mercantilizar ainda mais a educação
Os dados do último ENADE ilustraram a baixa qualidade na educação superior privada. Nas instituições com fins lucrativos, mais de 853 mil matrículas alcançaram o conceito 2, que caracteriza um desempenho ruim e rendimento abaixo da expectativa no exame, em uma escala que vai até 5. Entre as 6.360 universidades privadas participantes, apenas 1,4% obtiveram a avaliação máxima.
A regulamentação do ensino superior particular, por meio de fiscalização do Estado, é uma reivindicação histórica da UNE, uma luta que vem de muitas gestões e gerações.
Programas como o FIES e o Prouni ampliaram o acesso de milhares de jovens à universidade, e justamente por serem programas sociais, é
necessário uma maior fiscalização do Governo Federal no que se refere à qualidade ofertada pelas IES particulares.
“Temos acompanhado que, depois da pandemia, a mercantilização do ensino piorou muito nas faculdades dos grandes conglomerados”, destacou a diretora de Universidades Privadas, Vick Matos.
Falta transparência nas planilhas das mantenedoras de ensino que não justificam os baixos salários dos professores, falta investimento em tecnologia de ensino e sobram aumentos de mensalidades.
“Sempre denunciamos a precarização da docência; o endividamento da juventude; a falta
As IES privadas são responsáveis por abarcar mais de 75% do corpo estudantil do país. “Para a UNE, é urgente avançarmos na implementação de mais políticas de permanência estudantil. Grande parte desses estudantes são trabalhadores com inúmeras limitações para se manterem estudando e concluírem sua graduação”, destaca Vick.
Em 2019, o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, autorizou a oferta de até 40% de ensino a distância (EAD) em cursos presenciais, com exceção da medicina, sem considerar a qualidade do ensino oferecido.
A portaria nº 2.117 permitiu essa flexibilização sem exigir um Conceito Institucional (CI) com nota igual ou superior a 4 para que as instituições pudessem implementar a nova modalidade conforme as diretrizes do MEC.
Durante a pandemia, a União Nacional dos Estudantes (UNE) denunciou e organizou protestos contra diversos problemas decorrentes dessa medida. Foram relatados casos de aulas online superlotadas, uso de “robôs” para ministrar aulas, demissões em massa de professores e aumentos nas mensalidades.
Estudantes de cursos 100% presenciais viram quase metade de suas aulas migrar para o formato online, muitas vezes comparecendo à universidade apenas uma vez por semana, sem redução nas mensalidades e com reajustes sem justificativa a cada semestre. Disciplinas fundamentais foram transferidas para o ambiente virtual, com salas de aula superlotadas e sem a devida preocupação com a qualidade do ensino. Em algumas universidades, até se cobra à parte pelo acesso ao material didático.
“É urgente revogar a portaria nº 2.117 e debater uma regulamentação do ensino superior privado, que inclua o ‘ensino híbrido’”, destacou a diretora de Universidades Privadas.
de investimento em pesquisa, extensão e assistência estudantil”, enumera Vick.
No final do ano passado, o MEC anunciou a criação de uma agência para supervisionar o ensino superior privado.
Desde 2013, tramita no Congresso Nacional o projeto para a criação do Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação do Ensino Superior – INSAES. A nova autarquia, ligada ao MEC, estaria atualizada com a política educacional vigente no país e poderia barrar a desnacionalização e mercantilização do setor.
Para a UNE, é importante que essa regulação seja feita por um órgão de Estado, sem terceirização dessa tarefa. “O risco é que uma agência sem ligação direta ao MEC seja cooptada pelos grandes conglomerados de ensino que obedecem apenas a interesses do mercado”, explicou Vick.
“O INSAES teria a capacidade de fiscalizar e oferecer mecanismos que garantam padrões de qualidade dos cursos ofertados e uma produção de conhecimento e ciência que sirva ao povo brasileiro”, completou.
Cinco instituições particulares concentram 27% de todos os alunos do ensino superior na federação. Juntas, elas detêm mais alunos do que as 312 instituições públicas de ensino superior do país, que possuem ao todo 2,07 milhões de estudantes. Os dados são do Datafolha. É a maior concentração de matrículas em poucas instituições já registrada, segundo dados do Censo do Ensino Superior de 2022.
Contra 40% de EAD nos cursos presenciais
A universidade brasileira NÃO cabe na sala de aula
Cuca quer regulamentação das festas e calouradas universitárias
A Reforma Universitária que a UNE propõe como tema principal da Caravana Clima de Futuro percebe a cultura como um dos pilares que constituem a Universidade.
Se é por meio do Tripé Ensino, Pesquisa e Extensão que a prática universitária é exercida, para a UNE a cultura é um dos elementos que a atravessa e, por isso, não é possível pensar em uma universidade na qual a cultura não esteja presente em seus aspectos sociais e políticos.
“Temos o desafio de coletar ideias durante todo esse ano, pelos doze estados do Brasil que a caravana tem percorrido, e sistematizar uma proposta que regulamente as festas, calouradas e a realização das atividades culturais nas universidades”, afirmou o coordenador geral do Cuca da UNE, Tel Guajajara.
Para ele, é importante assegurar que essa proposta, a ser apresentada na Bienal da UNE em 2025, que acontecerá em Recife, possibilite à comunidade acessar e desfrutar da estrutura do espaço público da universidade. Além disso, dar à cultura ali produzida o status de ciência, com a ampliação de bolsas de pesquisa e extensão relacionadas à temática.
“A universidade é um território cultural. Socialmente, são as festas e calouradas que permitem que as comunidades nos arredores da universidade ocupem e acessem os espaços acadêmicos. Ao privar a realização desses eventos culturais, o povo é distanciado da universidade, além de ser um ataque direto ao movimento estudantil”, explica Tel. Ele aponta que as portarias universitárias que restringem o uso do espaço público para a realização de calouradas e festas do movimento estudantil são motivadas por problemas de infraestrutura e segurança nos campi estudantis, inviabilizando o fortalecimento cultural e financeiro de CAs, DAs e DCEs.
O Cuca propõe que todas as universidades do país tenham uma Resolução de Festas que norteie e especifique as competências necessárias para organizar esses eventos no espaço público, delegando a responsabilidade às instituições e aos organizadores.
“Queremos desburocratizar e democratizar os espaços públicos da universidade para a realização das atividades culturais, que também contribuem movimentando a economia da comunidade dos arredores da universidade”, afirma Tel.
A diretora de cultura e coordenadora de projetos e finanças do Cuca da UNE, Paula Coutinho, também destaca que é dever dos estudantes incluir neste debate a segurança das mulheres. “Infelizmente, tivemos alguns casos terríveis este último ano, por isso é imprescindível construir, junto com a comunidade, medidas para prevenir e combater a cultura do estupro, do assédio e de qualquer forma de violência, nas calouradas ou no dia a dia das universitárias”, afirma Paula.
O orçamento das federais pede reforma
Financiamento das universidades é a chave para desenvolvimento do país
Em junho, após muita cobrança do movimento estudantil e educacional, o governo anunciou R$ 5,5 bilhões em investimentos para o ensino superior, por meio de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (o novo PAC).
Além desses investimentos do PAC Universidades, o MEC anunciou R$ 400 milhões para custeio de universidades (R$ 279,2 milhões) e institutos federais (R$ 120,7 milhões).
Segundo o órgão, o orçamento das universidades será de R$ 6,38 bilhões em 2024, e dos institutos federais será de R$ 2,72 bilhões, após a recomposição. Esse montante supera o orçamento de 2017 até 2023.
“Foi uma vitória, mas ainda estamos longe do financiamento que a educação precisa para fazer o Brasil crescer. Garantir um orçamento adequado para as IFES segue sendo nosso objetivo”, destacou a presidenta da UNE, Manuella Mirella.
A retomada do orçamento e a reestruturação das IFES eram prioridades neste novo ciclo de governo. Foram anos de retrocessos, heranças nefastas de governos neoliberais; uma PEC do Teto que limitou o investimento em saúde e educação; e um projeto de sucateamento do governo Bolsonaro que escolheu as universidades como inimigo número um.
De acordo com um estudo do Sou Ciência da Unifesp, o orçamento das universidades federais brasileiras caiu 14,4% nos últimos quatro anos e atingiu, em 2022, patamares inferiores aos de 2013. A assistência estudantil também foi prejudicada pelos cortes no
orçamento e, no mesmo período, os repasses caíram 23,2%, de R$ 1,1 bilhão para R$ 844,9 milhões.
No ano passado, o governo Lula recompôs parte do que foi tirado, mas grande parte do mal já tinha sido feito. A desvalorização dos técnicos administrativos, a maior categoria do serviço público federal, levou à greve. “Entendemos os motivos da greve e a necessidade de valorização desses trabalhadores. Esse sucateamento gera uma alta taxa de evasão do serviço público, o que prejudica diretamente os estudantes”, destacou a diretora de Universidades Públicas, Clara Maria.
Para a UNE, é imperativo que o Ministério da Educação apresente à sociedade um projeto que posicione as universidades brasileiras no centro do projeto de reconstrução nacional, com financiamento adequado para a responsabilidade na formação dos futuros trabalhadores brasileiros.
“Somos contra a política do Déficit Zero e o Arcabouço Fiscal, e entendemos que o investimento público para educação, saúde, ciência e tecnologia e demais áreas sociais não deve estar atrelado ao aumento de receita da União, em virtude dessa defasagem orçamentária histórica do Brasil”, destacou Manu.
Os estudantes também não aceitam o sequestro de 20% do Orçamento da União pelo Congresso Nacional através de emendas de relator (RP-8) e das altas taxas de juros, que impedem e atrasam a reconstrução do país.
“Parecem só números, mas por trás deles vemos sonhos interrompidos. Menos orçamento significa estudantes que deixam de receber uma bolsa e têm que optar entre comer ou estudar, entre ajudar a família ou se formar, entre fazer uma refeição ou pegar um ônibus para a universidade”, destacou a presidenta.
Lei do Pnaes e Reforma Universitária
Atualmente, mais de 60% dos estudantes das federais são de baixa renda, graças a um ciclo vitorioso de políticas de acesso ao ensino superior no nosso país que a UNE ajudou a construir.
Para garantir que esses jovens tenham condições de permanecer estudando, depois da aprovação da Lei do PNAES, a entidade segue na luta por um orçamento suficiente que garanta efetivamente a permanência dos estudantes na universidade e combata a evasão.
“Não abrimos mão da prioridade orçamentária para a educação. É preciso um plano estratégico de reforma para enfrentar os desafios da atualidade e maior investimento e autonomia financeira para as universidades”, elencou Clara Maria.
A entidade também defende o cumprimento da destinação de 10% do PIB para a educação, uma bandeira histórica da UNE, que ficou de fora do novo texto do PNE.
“Tudo isso só será garantido com uma reforma universitária que possibilite acesso à educação de qualidade para todos os brasileiros, impulsionando o desenvolvimento social e tecnológico do país. Na Caravana estamos repassando esse entendimento de que as universidades brasileiras são nosso maior trunfo para a economia voltar a crescer”, finalizou Manu.
PAC Universidades prevê:
R$ 3,17 bilhões na consolidação de estruturas já existentes; R$ 600 milhões para expansão; R$ 1,75 bilhão para hospitais universitários.
São investimentos em salas de aula, laboratórios, auditórios, bibliotecas, refeitórios, moradias e centros de convivência. Ao todo, serão 223 novas obras, das quais 20 estão em andamento e 95 serão retomadas.
O Clima de Futuro é a esperança que o Brasil precisa
UNE aposta na integração Amazônica para garantir soberania e defesa do meio ambiente
Não é de hoje que na UNE o meio ambiente é pauta constante na agenda dos estudantes brasileiros. No início dos anos 2000 o Projeto Rondon reeditado pelo governo federal a pedido da UNE, em uma colaboração interministerial levava a prática do tripé ensino, pesquisa e extensão à comunidades nos rincões da federação, em uma troca e construção de saberes.
Em 2021, ainda sob cuidados com a pandemia, os estudantes ousaram realizar o 1º Encontro de Estudantes da Amazônia, em São Luís, no Maranhão. O evento intensificou a centralidade dos temas ambientais para o movimento estudantil e deu voz a uma geração que está sofrendo com os efeitos das mudanças climáticas.
Este ano com a realização da Caravana Clima de Futuro os estudantes querem assumir a dianteira do debate climático no país e restaurar a esperança para as futuras gerações. “A nossa geração está pagando uma conta de uma crise que ela não causou”, destacou a diretora de Meio Ambiente da entidade, Raiane Alencar.
A resposta que a UNE quer dar ao país e ao mundo é de qual o papel das universidades brasileiras na crise climática que já está instaurada no planeta.
“Assim como as universidades foram fundamentais na pandemia, na criação de tecnologias e pesquisa para enfrentar o problema e ser esteio para a sociedade, da
mesma forma elas são fundamentais para poder direcionar o Brasil para um novo modelo de desenvolvimento sustentável”, afirmou.
Para Raiane é papel da UNE discutir a transição ecológica das universidades e do país todo, guiado por um projeto de soberania energética, econômica e social. Para isso, a entidade realizará no final do ano o 2º Encontro dos Estudantes da Amazônia.
“Voltamos ao propósito de debater com a juventude as medidas necessárias para o desenvolvimento econômico sustentável da região Amazônica, bem como refletir os dados atuais pela exploração predatória desse bioma, e de outros biomas trazendo a participação de estudantes e convidados de outras localidades”, destaca.
A estudante ressalta que o encontro, que acontecerá pré Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 25), será fundamental para a UNE aliar ideias, perspectivas, propostas, para poder ter uma intervenção efetiva e dar o tom do debate internacional.
“A COP que acontecerá em Belém, no Pará em 2025, deve ser protagonizada pelos estudantes. A UNE tem a capilaridade de reunir as vivências de dois públicos fundamentais nessa discussão: os estudantes pesquisadores, que estão na ponta de estudos e tecnologias essenciais para o enfrentamento da crise climática, bem como os estudantes mais vulneráveis que mais sofrem com as consequências do aquecimento global”.
Universidade da Integração Amazônica
No último Congresso da UNE, e recentemente na 76º Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a entidade tem reivindicado a construção de uma Universidade de Integração Amazônica. Para os estudantes, a universidade reúne o necessário para atuar como catalisadora de desenvolvimento sustentável, conservação ambiental, cooperação regional e justiça social.
De acordo com Raiane, para alcançar a verdadeira integração da América Latina, é preciso começar por uma política forte e complexa, partindo de uma epistemologia própria, com o objetivo de defender a soberania e a biodiversidade.
“Por isso, defendemos uma universidade temática e internacional, como a principal ferramenta para a construção dessa política, a partir do fomento da educação, pesquisa, ciência e tecnologia, voltadas para a Floresta Amazônica, com inclusão e participação dos povos inseridos nela e vizinhos”, explicou. E afirmou: “continuamos nessa luta. A nossa ideia é angariar cada vez mais apoio e força dessa universidade vingar”.
Vem aí a 14ª Bienal da UNE!
O maior encontro estudantil de arte e cultura da América Latina vai reunir milhares de estudantes e fazer uma curadoria do que de mais interessante tem sido produzido nas universidades brasileiras. Não fique de fora!