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Escritor, intelectual e amigo: Adalberto Franklin sob o olhar de seus afetos

Adalberto, além de escritor, era um ótimo amigo e sabia bem como preservar suas amizades. Para contar a história de Adalberto, nos apoiamos na memória de dois de seus grandes amigos. Na reportagem que abre a homenagem ao escritor, trouxemos as lembranças de Ribamar Silva sobre a amizade vivida entre os dois. Na entrevista que segue, Siney Ferraz é quem rememora as contribuições e o legado do escritor. Siney, doutor em história, era amigo de longas datas de Adalberto Franklin. A amizade dos dois se deu devido a identificação com a escrita e trabalhos regionais. Ele concedeu uma entrevista ao Jornal Arrocha para falar sobre a vida e obra de Adalberto Franklin.

KAYLANE FREIRE

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Jornal Arrocha (JA) Gostaria que você me contasse: como conheceu Adalberto Franklin? E como surgiu essa amizade?

Siney Ferraz (SF): Quando eu cheguei em 1992 para trabalhar, eu já recebi algumas informações que Adalberto tinha iniciado o curso de história e não tinha concluído. Mas todos sabiam e falavam que ele tinha uma paixão secreta pela história e ele fazia umas pesquisas pessoais e não institucionais. Ele tinha um curso de diagramação, e seu grande projeto seria montar uma editora, e ele conseguiu, transformou ela em um ícone de publicações a nível regional. O pessoal do Tocantins, do Pará, do Maranhão publicou livros pela Editora Ética, e eu acompanhei essa editora desde o início, pelo fato das publicações e escrita. Eu e ele conseguimos fazer essa amizade pela identidade da escrita e pelo fato de eu estar escrevendo e ele engajado e comprometido com o ramo da escrita e da publicação regional de trabalhos.

JA Quais os trabalhos vocês já realizaram juntos?

SF: Um dos grandes trabalhos que realizamos juntos foi a publicação do meu livro, que foi um dos primeiros a ser publicado pela Editora Ética. Além disso, ele formatou e fez todas as correções do meu trabalho de mestrado, desde o início. Todos os meus trabalhos para entregar, como resenha, textos que os professores cobravam para mim, eu escrevia e levava para ele formatar e eu encaminhar para os professores. Naquela época, poucas pessoas tinham computador, e eu era uma das que não tinham, então eu levava tudo manuscrito e ele organizada. Ele e a Editora Ética eram referência na formatação de trabalhos.

JA: Como se dava a busca pelas fontes de pesquisa de Adalberto? Por exemplo as Referências bibliográficas, entrevistados e etc.

SF: Ele tinha acesso a alguns arquivos históricos. Com a questão da internet, ele tinha uma capacidade nessa questão de trabalhar com a informática, ele pesquisava muito os arquivos de Pernambuco, de São Luís, e também com o professor João Renôr, (um amigo e pesquisador regional). Eles iam pessoalmente nos arquivos na biblioteca pública de São Luís, onde tem arquivos históricos. Adalberto também tinha um acervo muito grande de livros de História.

JA: Na sua opinião, a produção de Adalberto superou as barreiras regionais? E como foi esse processo?

SF: Sim, foram publicados livros na região do Sul do Pará, na região do Tocantins e muitas pessoas de São Luís publicaram trabalhos pela editora dele. O trabalho de Carlota

Carvalho, 1924 - que é um livro muito conhecido publicado pela Editora Ética -, é um exemplo da superação de barreiras. O professor João Renôr encontrou uma forma de publicar esse trabalho pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, uma edição grande e muito legal, na qual foi republicada a terceira tiragem de Carlota Carvalho. A primeira edição do livro foi publicada em 1924 e, em 2000, eles republicaram pela Ética com o acréscimo de comentários, tanto de Adalberto quanto de João Renôr, e esse mesmo trabalho comentado foi publicado pela Federal do Piauí. Quanto ao processo, se deu durante alguns anos, quando as produções da Editora e de Adalberto começaram a ganhar destaque, e, graças às parcerias e conhecimento do Adalberto deu tudo certo.

JA: Você acha que a história dele pode ter incentivado outras pessoas?

SF: Sim, Adalberto era um profissional excelente, muita gente se espelha em sua história e seus trabalhos e, procuram recuperar essa dinâmica para nossa cidade. A partida de Adalberto foi uma perda muito grande, tanto para o lado emocional da cidade como para o lado intelectual.

JA: Um dos primeiros livros lançados pela editora Ética foi “Movimento Camponês no Bico do papagaio: sete barracas em busca de um elo”, de sua autoria. Poderia nos contar um pouco sobre essa obra e como Adalberto ajudou para que ela fosse publicada?

SF: Cheguei em Imperatriz no ano de 1992. Em 1994, entrei entrei no mestrado e durante meus trabalhos de mestrado era ele que me ajudava a formatar. No ano de 1997, eu defendi minha dissertação e a gente já vinha negociando essa questão da publicação. Esse meu livro juntamente com o de Carlota Carvalho e o de Francisco de Paula Ribeiro, foram os livros de maior peso e de mais movimentação e divulgação da editora dele. O meu trabalho vendeu em média uns cinco mil exemplares e levei ele para vários lugares. Em algumas universidades eles podem ser encontrados, alguns professores também compraram e tem alguns exemplares na França e na Alemanha. Ele me ajudou com ideias, com a parte da digitalização e formatação do livro, depois, fez as cópias e ficou com algumas para vender também.

JA: Para finalizar, quais as contribuições dos trabalhos de Adalberto para a cidade?

SF: Os seus trabalhos pessoais são utilizados em monografias, artigos e pesquisas. Eles contribuíram e ainda contribuem muito, pois, eles são importantes para a leitura, para a literatura e para a história de Imperatriz e toda nossa região.

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