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“Escrevo para que nossas conquistas não sejam levadas pelo vento”

Arquivo Pessoal

(Re)lembrança

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na literatura. Sou editora do Núcleo poético de divulgação feminina “Sociedade Carolina” e colunista do blog “Feminário Conexões”, que são projetos feministas que divulgam e incentivam a escrita de mulheres”, declara.

A escrita na pandemia - A pandemia proporcionou a muitos escritores mais tempo de produzir textos e livros, e fez com que o consumo de livros fosse maior. Ao longo do isolamento, foram publicadas mais de mil obras por mês, quantidade muito acima do ano de 2019, cuja média era de 30 livros. Os dados são do Clube dos Autores, plataforma de autopublicação e mostra um aumento de 30% no número desse tipo de produção em 2020.

Um olhar atento e empático são características dos escritos de Gabriela Lages. Durante a pandemia seu olhar se voltou não só para o sofrimento, perigos, dificuldades e preconceitos enfrentados pela população, mas também foi percebido por ela o negacionismo de muitas pessoas o que a motivou a escrever criticamente sobre isso.

Hoje falo em nome de todas as mulheres do passado, presente e futuro. Escrevo para que tudo que minhas ancestrais viveram não seja apagado. Escrevo porque acredito que somos todos iguais, independente de cor, gênero ou fé. Escrevo para que nossas conquistas não sejam levadas pelo vento.

Pôr do sol Dia. Noite. Caminho entre a luz e a sombra. Excesso. Ausência. Procuro o entrelugar. Direita. Esquerda. Habito a terceira margem. Vivo na linha tênue do horizonte. Nem isto, nem aquilo.

Macabéa

“Me descobri escritora”, conta Gabriela Lages Veloso. A escritora, 24 anos, é formada em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e Mestranda do PPGLetras, na linha de pesquisa em “Estudos Teóricos e Críticos em Literatura”. Atualmente, é colunista da Revista Sucuru e do “Feminário Conexões”, editora do núcleo poético “Sociedade Carolina” e membro do projeto Entre “Vasos y Versos”, que conta com a participação de escritores de diversas nacionalidades.

Foi a partir de um olhar atento às mazelas sociais de São Bernardo, bairro próximo à Cidade Operária, localizado na capital maranhense, que Gabriela sentiu a necessidade de escrever seu primeiro texto.“No percurso que eu fazia de casa para a universidade, sempre passava por um lugar periférico que enfrentava graves problemas sociais, chamado São Bernardo. Problemas como esgoto e lixo a céu aberto, iluminação deficitária à noite, ruas estreitas, pessoas em situação de rua, entre outros”.

Apesar de sentir que precisava escrever sobre aquele local, Gabriela esperou um pouco para tornar, de fato, seu texto existente. O tempo foi passando e, em 2019, Gabriela teve a oportunidade de iniciar a investigação científica na área de Literatura

Escrever ...

Escrever é libertar-se de si mesmo.

É poder recriar o mundo com o poder da palavra.

Brasileira Contemporânea, pesquisando sobre o romance “Passageiro do fim do dia”, de Rubens Figueiredo.

“Ao estudar esse autor contemporâneo, eu pude perceber que além de analisar, eu poderia também escrever Literatura. E somente dois anos depois de seguir o mesmo caminho, eu soube como descrevê-lo literariamente. Assim, escrevi o meu primeiro texto literário: a crônica ‘Insight’, que, posteriormente, foi finalista do Prêmio Literário AMEI 2020”.

“Eu nunca tinha escrito nenhum texto literário, mas sentia que precisava escrever sobre aquele lugar, ele me chamava”

Gabriela iniciou seus escritos com crônicas, seguido de contos e agora está no meio poético, visto que escrever poesia pode demandar menos tempo. “Eu continuo escrevendo prosa, mas, atualmente, por conta das demandas do Mestrado, tenho tido menos tempo para a escrita literária. Por isso, tenho optado pela escrita da poesia. Mas, eu costumo trazer elementos da prosa para a poesia, e elementos da poesia para a prosa”, comenta.

A entrada da escritora no meio literário se deu através da internet. Todos os seus textos foram publicados, inicialmente, em formato digital. Para Gabriela, as redes sociais facilitam muitas coisas e tendem a favorecer os novos escritores.

Escrever é dar asas à imaginação. É contemplar o mundo com outros olhos.

“Através das redes sociais, eu tenho conhecido novos(as) escritores(as), bem como espaços voltados diretamente para a literatura, tais como concursos, podcasts, revistas, editoras, canais no YouTube, entre outros meios de publicação/divulgação, tanto de prosa, quanto de poesia. Sem dúvida, seria muito complicado divulgar minha escrita sem o auxílio da Internet. Com ela, mesmo sem sair, fisicamente, do Nordeste, meus textos já circularam todo o Brasil e até mesmo alguns outros países, tais como Portugal, Espanha, Argentina, Peru, México e Colômbia”. Embora nova no ramo da literatura, Gabriela já é reconhecida pelo seu belo trabalho, inclusive coleciona alguns prêmios. Mas, antes de ser escritora e poeta, Gabriela Lages Veloso é mulher e ser mulher é símbolo de resistência. Não foi fácil chegar onde ela chegou.

“O preconceito é renitente. Então, eu poderia dizer que ser escritora é uma forma de resistência. A literatura é uma importante arma de combate contra as desigualdades de gênero, ao dar voz e poder às mulheres. Por isso, além de escrever, eu luto pela democratização do espaço da mulher

Escrever é ora um alento, ora um desconsolo. É transitar entre mundos, eras e seres.

“A maior parte da minha produção literária aconteceu no período da pandemia, pois eu comecei a escrever no segundo semestre de 2019 e a pandemia iniciou no primeiro semestre de 2020. Por isso, a pandemia teve vários impactos sobre a minha escrita, muitos, incrivelmente, positivos. Com a tristeza pelas mortes ocasionadas pela COVID-19, me tornei ainda mais atenta às dores alheias, valorizei ainda mais a vida e suas possibilidades. Consegui observar, também, o negacionismo e falta de empatia de muitas pessoas, o que me motivou a escrever, criticamente, a respeito. Porque escrever também é denunciar, resistir e, quem sabe, provocar mudanças nos leitores”.

O objetivo da escrita literária é na maioria das vezes causar reflexões aos leitores e promover mudanças no meio social. A escrita é tão importante quanto a leitura, mas o Brasil ainda é um país com poucos leitores. Segundo dados de um estudo do Instituto Pró-Livro, 44% da população não lê e 30% disse nunca ter comprado um livro. Outro dado interessante é a quantidade de horas investidas em leitura semanalmente. No país são investidas 5,2 horas semanais. Já a Índia, considerado o país que mais lê por uma pesquisa do NOP World, as pessoas investem 10,5 horas por semana à leitura.

Com quantas Macabéas se faz o mundo? Mulheres pacatas, desajeitadas, silenciadas, que quase não deixam marcadas suas imagens no espelho. Macabéa, até quando aceitarás o destino que te impuseram? Até quando permanecerás invisível?

Sobre viver Minha casa é o mundo. Navio sem porto. Minha comida é esmola. Chuva no deserto. Invisível, que sou, Ando para sempre e nunca.

Literatura Feminina

A luta antes era para ter o direito de ler e escrever. Agora, o desafio da escrita insurgente e insubmissa feminina é para que as autoras possam ser vistas e valorizadas