Impacto Ambiental - Junho 2015

Page 1

Junho de 2015 Distribuição Gratuita

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

Como fazer um mundo melhor? + PLANTAÇÃO? + PRESERVAÇÃO! Página 11

VOU DE BICICLETA! Página 8

DESPERDIÇOU. PAGOU! Página 6

QUE TAL UMA CARONA? Página 3


Editorial

Junho de 2015

É hora de iluminar a nossa consciência

Ilustração: Mirna Encinas

Com muito entusiasmo trazemos até você a primeira edição do Jornal Impacto Ambiental de 2015. Mais um ano passou, e as questões ambientais estão longe de serem resolvidas, como a escassez de água no mundo e a urgência em se preservar os recursos do planeta. Ainda há muito para se discutir e mudar no modo como consumimos os recursos. A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2015 como o Ano Internacional da Luz, e esperamos que a humanidade seja iluminada com a luz da consciência ambiental. Se esperarmos muito para mudar nossas atitudes, a luz no fim do túnel poderá se apagar. No jornal você poderá encontrar matérias que nos fazem refletir sobre como o comportamento humano atinge diretamente a natureza. Para evitar perdas, algumas cidades brasileiras passaram a multar quem desperdiça água. Porém, mais que ações punitivas, é necessário incentivar outros hábitos responsáveis de consumo, como o reuso de água e o consumo consciente. Não adianta somente utilizar a água com responsabilidade. O consumismo também deve ser evitado. Com o aumento da população mundial, a produção de alimentos, por exemplo, precisa se adaptar a essa realidade, aumentando a oferta de comida. Mas como produzir e preservar a natureza ao mesmo tempo? Sobre isso, uma das matérias traz uma discussão sobre o agronegócio. Também preparamos reportagens bem legais sobre boas iniciativas, benéficas tanto para o meio ambiente quanto para a sociedade. A construção de ciclovias, a prática da carona e o ecoturismo estão na pauta do Impacto. Pegue uma carona com a gente e venha descobrir como podemos transformar a nossa cidade e o meio em que vivemos. Boa Leitura, 2

A redação

Orientação: Angelo Sottovia Aranha Edição: Marcos Cardinalli Diagramação: João Pedro Ferreira Arte: Mirna Encinas e Giuli Ferrero (capa) Fotografia: Lara Pires Produção: Ana Beatriz Ferreira e Maria Victória Reportagem: Érika Alfaro, Fabio Toledo, Heloísa Kennerly, Isabel Silva, Jorge Salhani, Lara Pires, Lucas Mendes e Naiara Teixeira.

Diretor Administrativo e Marketing: Renato Delicato Zaiden Diretor Industrial e de Tecnologia: Marco Antonio C. Oliveira Diretor de Redação: João Jabbour Jornalista Responsável: Gisele Hilário Editor Executivo: João Pedro Feza Editora Multimídia: Márcia Duran Gerente Comercial e Marketing: João Carlos do Amaral Gerente de Vendas: Welber A. Pinto Coordenador do JC na Escola: Sérgio Roberto de Moura Purini Tiragem: 2.000 exemplares Impressão: Fullgraphics

Publicação realizada por estudantes de Jornalismo e Design da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) com apoio da Pró-Reitoria de Extensão Universitária (PROEX) e o Programa JC na Escola Acesse: http://www.facebook.com/jornalimpactoambiental


Sociedade

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

Um é pouco, dois é bom, três é melhor ainda Estimulada pelas redes e aplicativos, a carona é um modo de transporte eficaz para minimizar os efeitos negativos do trânsito ao meio ambiente, além de proporcionar outros benefícios Isabel Silva

H

á alguns anos, a ideia de dividir o carro para ir à escola ou ao trabalho não era tão comum, principalmente com alguém desconhecido. Talvez, há dez anos não houvesse tanta conscientização a respeito dos danos que a queima de combustíveis fósseis pode causar à atmosfera e, por isso, a ideia

de compartilhar o automóvel não fosse facilmente difundida na sociedade. Com o desenvolvimento da tecnologia e o surgimento de aplicativos e redes sociais, tornou-se muito mais comum a prática da carona. Diversas cidades do mundo têm adotado projetos que incentivam a carona solidária, visando re-

duzir os congestionamentos causados pela grande quantidade de veículos nas ruas e as emissões de gases poluentes, advindos da queima de combustível, como o dióxido de carbono (CO2). Segundo Antonia Marino, representante da plataforma online Tripda, que atua como mediadora na busca por caro-

nas entre motoristas e passageiros, a carona é uma opção mais econômica e já é comum em muitos países europeus. “Hoje, em muitos países na Europa, essa forma de viajar já foi difundida na sociedade e, mesmo com uma malha de transportes muito mais desenvolvida que a do Brasil, europeus optam pela carona”.

Foto: Lara Pires

3


Sociedade

Junho de 2015 Ilustração: Giuli Ferrero

A carona solidária gratuita, sem o intuito de obter lucro, é uma prática legal que deve ser incentivada. “É um meio eficaz de minimizar os efeitos negativos causados pelo pesado tráfego enfrentado hoje em dia, bem como de reduzir o volume da poluição presente na atmosfera, dentre outros benefícios”, destaca Diogo Moraes, procurador federal junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). De acordo com o levantamento do Departamento Nacio4

nal de Trânsito (DENATRAN), em dezembro de 2014, havia cerca de 86,7 milhões de veículos circulando no Brasil, que tem mais de 202 milhões de habitantes. Esses dados representam 2,3 pessoas para cada veículo. Em Bauru, o número de pessoas/carro se aproxima do índice da capital paulista – 2,3 pessoas/carro. O IBGE estima que, em 2014, Bauru tinha 364.562 habitantes e uma frota de aproximadamente 257 mil veículos, totalizando 161.541 automóveis. A proporção em Bauru é de 2,25

habitantes por automóvel, e a cada ano, cresce a frota de veículos da cidade. Entre janeiro e dezembro de 2014, a cidade ganhou 6.758 novos automóveis. Segundo dados do site Sun Earth Tools, para cada litro de gasolina consumido por um veículo, são produzidos cerca de 2,3 kg de CO2, dependendo do motor e da mistura de hidrocarbonetos.

de pessoas por carro incentivando as que fazem o mesmo percurso a compartilhar o mesmo veículo e a dividir os custos da viagem. As vantagens de dividir o carro não se resumem apenas à proteção do meio ambiente. O compartilhamento do transporte privado oferece benefícios tanto para o dono do veículo quanto para os pasAs vantagens da carona sageiros, como a economia de despesas e a diminuição de O objetivo da carona soli- congestionamentos. Marídária é aumentar a quantidade lia Scarpelini, administradora


Sociedade

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

k epi

Fre

Muitos grupos de carona no Facebook são formados por estudantes universitários que precisam mudar de cidade para estudar. Eles utilizam as caronas para baratearem os custos das viagens entre suas cidades de origem e as cidades onde se concentram os polos universitários. Geralmente, as pessoas que oferecem carona cobram um valor suficiente para cobrir as despesas da viagem e abaixo

Constituições Estaduais”, explica. É importante pontuar que a legislação não acompanha o ritmo acelerado em que se desenvolvem hoje as tecnologias com as quais entramos em contato. “A Tripda enfrenta hoje essa situação, que outros países - onde aplicativos de carona já estão difundidos - enfrentaram anos atrás, até que a lei fosse moldada aos novos padrões culturais. No entanto, mesmo que a passos mais lentos, a lei acompanhará as mudanças que as tecnologias promoverão em nossa cultura”, comenta Antonia Marino. As caronas remuneradas dividem opiniões e levantam a questão a respeito de mudanças de costumes e as novas relações promovidas pelo surgimento das redes sociais. “Entendemos que existem dois extremos: quando a carona, de fato, é gratuita e quando há troca de valores. Por vezes, os limites entre essas duas dimensões confundem-se e temos que analisar cada caso isolad amente ”, explica o coordenador do Laboratório de Inovação Digital da ANT T, Beto Aquino Agra.

: res

O que diz a legislação?

do valor cobrado pelas empresas de transporte privado. Entretanto, esse tipo de transporte é proibido pelo artigo 231 do Código de Trânsito Brasileiro, que diz ser infração e punível com multa “efetuar transporte remunerado de pessoas ou bens, quando não for licenciado para esse fim, salvo casos de força maior ou com permissão da autoridade competente”. Marília Scarpelini acredita que a divisão de custos na carona não deveria se enquadrar na infração descrita pelo código. “Assim como dividimos a conta do restaurante, podemos dividir os custos de uma viagem. Teoricamente, como isso não se dá através de contratos, a pessoa que pega carona não é obrigada a pagar. A contribuição nos gastos se dá como uma ‘camaradagem’, troca de favores ou coisa do tipo. E na prática funciona muito bem devido o bom senso de cada um e a cultura já incorporada”. O Coordenador da Comissão de Trânsito de Veículos e Pedestres em Vias Públicas da OAB Bauru, Ruy Polini, diz que a carona remunerada, mesmo que cobrando apenas o custo da viagem, é proibida pela legislação brasileira. “No Brasil existem atividades que só podem ser exercidas mediante autorização prévia por parte da União, Estados e Municípios. Esse é o caso do transporte de pessoas e coisas. Esta é uma determinação da Constituição Federal, o que também é previsto nas

o Vet

do grupo “Carona Bauru” no Facebook, explica como funciona o grupo popular entre universitários que residem na região de Bauru: “O objetivo é ajudar quem precisa de carona e quem quer dar carona. Pra quem pega carona é bom, pois não precisa pegar ônibus (mais caro e mais demorada a viagem). Pra quem dá carona também é bom, pois pode dividir os gastos e ter uma companhia na viagem. Ou seja, é vantajoso para ambos os lados”. Além dos benefícios ambientais e econômicos, a carona pode ter outras vantagens. Segundo Antonia, “viajar com outras pessoas, que na maioria dos casos nunca vimos antes, é incrível para conhecer novas culturas, trocar experiências e conhecimentos, e abrir a cabeça até para novas formas de pensar”. Ela conta que se apaixonou pela carona ao fazer um intercâmbio pela Europa, e a troca de vivências entre as pessoas que conheceu nesse modo de transporte foi um dos benefícios mais engrandecedores da viagem.

5


Cidades

Junho de 2015

Multa para quem desperdiça água Para controlar o uso insustentável de água, municípios criam lei que proíbe lavar calçada Lara Pires m meio à crise hídrica generalizada, vários municípios adotaram uma medida para controlar o desperdício de água: é proibido lavar calçada. Iacanga, localizada a 45 km de

E

Bauru, aprovou a lei em julho do ano passado. Com a exceção de supermercados, açougues, bares, lanchonetes, restaurantes, padarias e hotéis, a população Foto: Lara Pires

iacanguense estará sujeita à multa de 100% no valor da fatura do mês em que for constatada a infração. Em caso de reincidência, a multa tem seu valor dobrado. Segundo o Secretário Geral de Saneamento, Hélio Borba, Iacanga sofreu com problemas crônicos de falta d’água até 1996. Atualmente, houve apenas algumas ocorrências, mas resolvidas em até no máximo 48 horas após o ocorrido. A criação da lei tem como objetivo barrar o aumento do consumo de água e provocar uma mudança nos hábitos da população a longo prazo. “O ideal seria que a conscientização fosse fruto de um processo educacional que privilegiasse temas como consumo racional e preservação do meio ambiente. Infelizmente, essa não é nossa realidade. Então, por vezes, o poder público tem que se valer de ações coercitivas visando sempre o bem comum”, diz o secretário. Para o cumprimento da medida adotada, a inspeção é feita de forma esporádica, em dias e horários alternados, a partir do registro fotográfico feito por um fiscal. Notou-se que os horários de maior ocorrência da infração são antes das oito da

manhã e após as cinco da tarde, e também aos fins de semana. O valor de uma multa já chegou a quatrocentos reais. Em Bauru, também foi aprovada a multa por desperdício de água em novembro de 2014. A lei, criada pelo prefeito Rodrigo Agostinho, tem como principal foco aqueles que lavam calçadas ou molham ruas continuamente, e mantém torneiras, canos, reservatórios ou mangueiras eliminando água, e também os que lavam carros em vias públicas. A lei contra o desperdício, em Bauru, é voltada apenas para o uso contínuo da água e, de acordo com o Departamento de Água e Esgoto de Bauru, o DAE, até agora não houve multas, mas apenas notificações. O valor da multa no município, em caso de reincidência após o aviso do fiscal, é de 50% do valor da conta do mês anterior. A população bauruense está convocada a denunciar casos de desperdício, via telefone. Como é necessário o flagrante, a fiscalização depende da participação popular. Questionado, o DAE apontou que, após a interrupção do recente rodízio de água captada do Rio Batalha, a participação dos bauruenses com a fiscalização diminuiu significativamente.

Alternativas para o quintal e a calçada

DISK DENÚNCIA DE DESPERDÍCIO - DAE 0800 77 10 195 6

Para evitar o desperdício e não ser multado, uma das alternativas é a reutilização da água da máquina de lavar. A água que sai da máquina muitas vezes está em perfeitas condições para limpeza, mas acaba sendo desperdiçada.


Turismo

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

Ecoturismo: uma interação entre homem e natureza Benéfico para o meio ambiente e também para quem pratica, o turismo ambiental vem crescendo no Brasil

O

Ecoturismo é uma ramificação turística que utiliza o patrimônio natural de maneira sustentável, preservando a integridade cultural, a diversidade biológica e estimulando a consciência ambiental. Tal prática é caracterizada pelo contato do homem com a natureza, pela observação participativa e interativa com o meio natural. De acordo com a Organização Mundial de Turismo (OMT), as viagens de ecoturismo crescem de 15% a 25% ao ano, e o faturamento mundial anual chega a US$ 260 bilhões. No Brasil, o ecoturismo emprega milhares de pessoas em cerca de 10 mil instituições privadas. Mauro Castex, assessor de diretoria do Núcleo de Novos Negócios e Parcerias para Sustentabilidade da empresa Fundação Florestal, explica que a preservação das áreas utilizadas é condição básica para a existência do ecoturismo: quanto maior a conservação dos atributos naturais e culturais, maior a atratividade do destino, e com isso sua rentabilidade. A prática da atividade de ecoturismo, segundo seus critérios, é uma das formas para garantir a preservação das áreas ambientais e também a sustentabilidade da atividade.

A participação das comunidades locais no processo de desenvolvimento do ecoturismo, associada às atividades de educação ambiental, fiscalização e controle da capacidade de suporte, que é o número máximo de visitantes que uma área pode receber, são as principais ações para preservação e conservação dos destinos ecoturísticos. O turismo ambiental conta com legislação específica. No Rio de Janeiro, por exemplo, no Artigo 1 da Lei nº 4.616 estão previstos a garantia ao respeito à comunidade local, a integração sem agressão ao meio ambiente, e o respeito e preservação dos ecossistemas, bem como o estudo e a divulgação dos mesmos aos seus visitantes. O Estado de São Paulo também ampara o turismo ecológico na legislação. A lei n° 10.892. define política de desenvolvimento do turismo sustentável como sendo os programas voltados à implementação de visitação controlada e responsável às áreas naturais ou culturais, visando a interação entre o crescimento econômico-social e a preservação do ecossistema. Além disso, o Corpo de Bombeiros determina uma série de regras para que o ecoturismo possa ser praticado, como procurar apenas agências autori-

zadas e com guias experientes, possuir material de primeiros socorros e usar vestimentas e calçados apropriados. O Ministério do Turismo constatou que 46,8% dos turistas que vêm para o Brasil pelo lazer, estão em busca de contato com a natureza. O Brasil oferece destinos deslumbrantes, tais como Foz do Iguaçu (PR), Bonito (MS), Chapada dos Veadeiros (GO), Chapada Diamantina (BA), Lençóis Maranhenses (MA), dentre tantos outros no país, que é reconhecido pelas suas belezas naturais. Em tais lugares pode-se encontrar atividades como arborismo, trilhas, canoagem, cicloturismo, rapel, mergulho, exploração de cavernas e tirolesa. Essas atividades são exercidas em cachoeiras, praias, montanhas, cavernas e grutas. O Brasil é um país rico em diversidade natural, e conhecer os seus diferentes biomas, como Pantanal, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica, pode proporcionar momentos inesquecíveis e belíssimos.

Foto: Flickr/Creative Commons

Érika Alfaro

7


Transporte

Junho de 2015

Bicicletas: inimigas do trânsito? Melhoras na infraestrutura e a reeducação no trânsito são fundamentais para a aprovação da malha cicloviária Jorge Salhani

U

ma ida de bicicleta do Ginásio Panela de Pressão até a UNESP faz uma pessoa queimar, aproximadamente, 411 calorias e, além disso, poupa a atmosfera de ganhar quase dois quilogramas a mais de monóxido de carbono, quantidade que seria emitida se fizesse o mesmo caminho de carro. O trajeto de mais de nove quilômetros e meio conta, entretanto, com poucas ciclovias e ciclofaixas, além de avenidas onde o trânsito é intenso, dificultando o uso da bicicleta. Ciclista em Bauru, a empresária Gleise Keller Assumpção utiliza frequentemente as ciclovias e ciclofaixas da cidade. Mesmo assim, ela relata que somente as já existentes não são o suficiente. “Na maioria das vezes, os motoristas não respeitam os ciclistas. Precisamos pedalar no asfalto, onde há carros buzinando e pessoas nos xingando”, conta Gleise. A estudante de psicologia Raquel Pires, de 26 anos, não

8

usufrui tanto assim das vias para bicicletas. O motivo? “As poucas ciclovias que temos não são interligadas, não conduzem aos bairros ou ao centro da cidade”, explica. Raquel comenta que em praticamente todos os lugares onde pedala não existem ciclovias ou ciclofaixas. A cidade de Bauru conta, atualmente, com 24,5 quilômetros de malha cicloviária, de acordo com a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (EMDURB). Desse total, 10,9 quilômetros são constituídos por ciclovias, 6,3 são ciclofaixas de lazer e 7,3 são ciclofaixas de trabalho. A EMDURB prevê projetos de ampliação dessas faixas, mas ainda depende de maior planejamento em conjunto com as secretarias da cidade. No ano de 2013, a Prefeitura de Bauru possuía uma verba de R$700 mil destinada à ampliação de ciclovias e ciclofaixas, proveniente de uma outorga paga por uma empresa de ônibus. Entretanto, o


Transporte

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

dinheiro foi redirecionado para o subsídio do desconto da passagem de estudante no transporte público, que passou a ser 50%, relata o arquiteto e urbanista da empresa, João Felipe Lança. Conforme mostra pesquisa sobre acidentes de trânsito do último Mapa da Violência, publicado pelo Instituto Avante Brasil em 2013, 286 ciclistas morreram em acidentes no Estado de São Paulo, 6% do total das mortes no trânsito. Em Bauru, entre janeiro de 2012 e março de 2015, ocorreram 193 acidentes envolvendo ciclistas, segundo a EMDURB. Mesmo com esses dados, é difícil saber o número exato de acidentes, pois em muitos casos não são feitos boletins de ocorrência. A cidade vista sobre pedais Ver a cidade de cima de uma bicicleta e de dentro de um automóvel pode proporcionar experiências diferentes. Para a ciclista Raquel Pires, quando a pessoa está em um carro, ela não interage muito com o ambiente urbano. A bicicleta permite maior apreciação das paisagens e conhecimento sobre a cidade por onde a pessoa está pedalando. A professora de urbanismo Dra. Emília Falcão Pires utiliza como exemplo a ciclovia de Santos, no litoral paulista, que liga a cidade a São Vicente e Guarujá:“Ao sair do trabalho, as pessoas usufruem da paisagem marítima e do jardim e entram em contato direto com

o ambiente”. Fazendo isso, as pessoas podem sentir o sol, a brisa marítima, a chuva e a temperatura, além de percorrer a cidade não tão rapidamente como se estivessem em um carro, podendo observar detalhes antes despercebidos. Entretanto, o nível de ansiedade do ciclista pode aumentar ao se locomover de bicicleta em grandes cidades. Isso acontece, de acordo com a urbanista, pelo excesso de barulho e o estresse por compartilhar as faixas com automóveis. O ciclista ainda sofre com a questão da falta de segurança, pois “precisa ter o dobro da atenção em pontos onde carros fazem conversões ou cruzamentos para evitar a ocorrência de acidentes”, diz a estudante Raquel. O estresse e o barulho, porém, são elementos que compõem a identidade das cidades. Em Bauru, os ciclistas devem prestar atenção no comportamento dos motoristas no trânsito. Tanto a urbanista Emília quanto as ciclistas Raquel e Gleise compartilham a mesma opinião: os motoristas da cidade não foram educados para conviver com as bicicletas. Raquel comenta que, além de não respeitarem a distância mínima entre o automóvel e a bicicleta, motoristas costumam passar em altas velocidades perto dos ciclistas, desestabilizando-os. Para João Felipe Lança, arquiteto e urbanista da EMDURB, o motorista “sai da autoescola sabendo fazer rampa e baliza, mas não sabe como se portar frente a um ciclista ou pedestre”.

Para ele, o motorista está acostumado a ver o ciclista como um agente que impede seu trânsito, mas, na verdade, ele muito contribui. Além de estabelecer uma harmonia com a cidade, o ciclista contribui para a qualidade de vida de todos, pois “ocupa um espaço viário menor, não polui e ainda melhora sua saúde e bem-estar”, comenta Lança. Estudo obtido pelo jornal O Globo coloca o Brasil como o terceiro maior produtor de bicicletas no mundo, mas apenas como o 22º consumidor. Isso reflete que a falta de uma cultura ciclística não ser um problema somente de Bauru, mas nacional. Segundo estudo apresentado pela rede Bicicleta para Todos, no Brasil, menos de 5% dos trajetos realizados nos grandes centros foram feitos em bicicletas, número muito inferior às viagens de carros e motocicletas, correspondentes a 30,9%. Os porquês da insatisfação Nos últimos meses, a Prefeitura de São Paulo vem investindo na ampliação das ciclovias e ciclofaixas da cidade. A capital conta com mais de 337 quilômetros de malha cicloviária definitiva, de acordo com a Companhia de

Engenharia de Tráfego (CET). Dessa extensão, 262 quilômetros são ciclovias. Apesar do grande investimento e alto índice de aprovação dos cidadãos, ainda há certo descontentamento. Entre os motivos estão a diminuição do espaço de passagem dos automóveis, a perda de vagas de estacionamento e a suposta falta de planejamento para a inserção dos trechos. Entretanto, a perda de espaço para automóveis é uma ideia falsa, de acordo com João Felipe Lança. A redução do espaço viário dos automóveis não piora o trânsito, pois muitas pessoas que utilizariam os carros migram para as bicicletas, deixando o trânsito mais fluido. A insatisfação dos paulistanos com as ciclovias não é um caso isolado. Em Nova Iorque, as faixas para bicicletas só começaram a ser aceitas seis anos após serem implantadas. Na França, o lado positivo das ciclovias e ciclofaixas de Paris só começou a ser visto depois de dez anos, comenta a Dra. Emília Falcão Pires. Para Emília, mudar a estrutura de uma cidade demanda muito tempo, pois está totalmente voltada para os veículos automotores. Falta sinalização e infraestrutura adequada, como semáforos com tempo, bicicletários, espaços reservados em ônibus e rampas. Além disso, as ci-

Fotos: Lara Pires 9


Transporte clofaixas devem ser apenas uma pequena parte da malha de uma cidade, pois são adaptações à estrutura viária, utilizada por automóveis e motocicletas. “Aumentar a segurança de quem pedala é uma boa medida, assim como a viabilização de ciclovias nos espaços e a diminuição da velocidade de automóveis em certos pontos”, comenta Raquel Pires. Se políticas voltadas para bicicletas não começarem a ser implantadas, “teremos um longo caminho a percorrer para que a cidade de Bauru possa ser considerada ‘amiga da bicicleta’”.

As ciclovias são faixas separadas das ruas e exclusivas para bicicletas. Os ciclistas não têm contato nenhum com automóveis e motocicletas, o que as torna mais seguras. As ciclofaixas, apesar de destinadas apenas a bicicletas, são implantadas no próprio pavimento da rua, separada da dos veículos por uma faixa pintada no chão. As ciclofaixas de trabalho não possuem restrição alguma de horário, já as de lazer podem ser utilizadas somente em domingos e feriados em horários pré-estabelecidos. Nos outros dias, são utilizadas normalmente por automóveis. 10

Junho de 2015 Foto: Lara Pires


Agronegócio

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

Produzir sem desmatar Preservar o planeta sem deixar de produzir alimentos é um dos grandes desafios atuais Lucas Mendes

Foto: Marcos Cardinalli

A

história da humanidade sempre esteve relacionada à agricultura. Foi o seu desenvolvimento, cerca de 12 mil anos atrás, que possibilitou ao ser humano a sua fixação em determinados locais, gerando as primeiras vilas e cidades. No século XVIII, surge na Europa um novo modelo de produção e organização da economia. A produção passava das mãos do homem para as máquinas. Essa mudança foi chamada de Revolução Industrial, e permitiu o aumento da produção e o crescimento da população nunca presenciados anteriormente. O resultado de todo esse desenvolvimento foi o mundo como é conhecido hoje: com mais de 7 bilhões de humanos sobre a Terra. Ao longo do tempo, algumas práticas como mecanização das lavouras, uso de agrotóxicos, fertilizantes e plantas geneticamente modificadas foram empregadas em larga escala. Todas elas são prejudiciais à natureza se realizadas irresponsavelmente. Sustentabilidade Com o intuito de conciliar desenvolvimento com preservação da natureza, criou-se o conceito de “sustentabilidade”. De acordo com Mayra Fernandes da Sil-

O Brasil é o primeiro exportador e produtor de café, uma de suas principais culturas agrícolas. É exportado desde a época do Império até os dias atuais. va, advogada pós graduada em Direito Ambiental e presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Bauru, “a sustentabilidade significa, principalmente, que o ser humano deve limitar seu consumo e seus projetos ao que o planeta Terra pode oferecer. A observância aos limites de nossos recursos naturais e ao poder de regeneração do planeta Terra não é mais uma opção, mas é uma necessidade”. Mayra é enfática ao en-

carar essa realidade, pois, segundo ela, “não há dúvidas de que este conceito deve ser colocado em prática, sendo certo que ignorá-lo levará o ser humano à ruína”. Muitas das práticas nocivas ao ambiente acabam alterando não só a natureza, mas também a sociedade envolvida no ambiente rural. Com a mecanização da agricultura, os trabalhadores do campo perdem o seu espaço, sendo substituídos pelas máquinas. Se por um lado isso aumenta a produtividade,

por outro causa desemprego. A saída encontrada por esses trabalhadores é a migração para as áreas urbanas, ou então uma adaptação para oferecer produtos diferenciados, como os orgânicos, ou ainda a adoção de práticas agrícolas que garantam apenas a sobrevivência, como a agricultura familiar. A doutora em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maria Flávia Tavares, afirma que “o agronegócio brasileiro tem várias realidades. No centro11


Agronegócio -oeste, o agronegócio é empresarial, mais mecanizado e com mão de obra mais especializada. Nos estados do sul, como Paraná e Santa Catarina, predomina a agricultura familiar, onde toda a família trabalha na propriedade. No agronegócio empresarial, a mão de obra existente está sendo treinada para traba-

Junho de 2015

lhar nas máquinas, mas a tendência é muitos perderem o emprego no campo e migrarem para as cidades”. O Agronegócio A agricultura, por movimentar dinheiro e recursos financeiros, torna-se um negócio. O agronegócio é um ramo

Foto: Marcos Cardinalli

da economia que movimenta muito capital: Só no Brasil, as exportações de produtos do agronegócio, em 2014, chegaram a 96,7 bilhões de dólares, sendo que em dezembro o setor respondeu por 38,7% das exportações totais do país, segundo dados do Ministério da Agricultura. Todo esse montante gera renda, movimenta a economia e contribui para o país, pois mesmo em épocas de crise, como no ano de 2014, quando a Indústria brasileira pouco cresceu, o agronegócio pôde se destacar e manter as exportações do país em alta. Entretanto, esses dados também mostram que as culturas produzidas no Brasil foram vendidas para outros países, ou seja, esses alimentos não foram direcionados para o mercado interno, mas para o exterior. Quando esses produtos são exportados, tornam-se mercadorias chamadas de “commodities”. “Para alimentar a população como um todo é necessário produzir commodities. Na produção de commodities, é preciso ter escala de produção e muito investimento em tecnologia, enquanto na agricultura familiar deve se investir na qualidade do produto, na marca e na distribuição regional”, afirma Maria Flávia. Ambientalistas X Ruralistas

Segundo o Ministério da Agricultura, no ano de 2014, a exportação de café rendeu ao Brasil 5,98 bilhões de dólares 12

Se por um lado estão ambientalistas radicais ou interesseiros junto àqueles empenhados na defesa do planeta, de outro estão fazendeiros buscando ampliar

o agronegócio, muitas vezes com grupos poderosos no governo, como no caso da bancada ruralista do Congresso Nacional. A força do agronegócio é tamanha que, no início de 2015, a presidente Dilma Rousseff nomeou a senadora Kátia Abreu (PMDB) para o Ministério da Agricultura. Conhecida como “rainha da moto-serra”, ela é uma das porta-vozes dos ruralistas no governo e crítica do ambientalismo. “Concordo que é neces sár io ad aptar as técnicas produtivas às limitações impostas pelo ambiente. Não apenas como questão ideoló g ica , ou de mercado, mas de sobrevivência no longo-prazo. O processo produtivo como está não per mite que o meio ambiente se recupere. A questão não é se par tes d a socied ade vão dialo gar, a conversa é entre a humanid ade e o ambiente. Se pretendemos manter nossa existência na Ter ra , temos que repensar a for ma de consumo e de produção”, aponta Daniel K inpara , doutor pela Universid ade de Brasília no pro grama de Psicolo g ia Social, do Trabalho e d as Organizações e pesquisador d a Embrapa Cer rados. Como afirma Kinpara, por mais que seja sustentável, ao se tratar de uma “prática humana”, a agricultura sempre irá agredir a natureza. “A questão é diminuir a agressão ao meio ambiente, de maneira a se permitir a recuperação das áreas”, aponta o pesquisador.


Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

Infográfico Texto: Fabio Toledo | Ilustrações: Mirna Encinas

13


Crônica

Junho de 2015

Panfletos ao vento Papéis de propaganda não são exclusividade das eleições e podem se tornar um problema ambiental Heloísa Kennerly

E

m cada caixa de correio e portão dos bairros de Bauru encontramos panf letos. Veja o carro da sua mãe ou de seu pai: provavelmente tem uma sacolinha somente para descartar os papéis que são distribuídos nos semáforos. Apesar disso, só se fala nesse assunto na época das eleições, que é quando o problema fica mais grave. Nas campanhas eleitorais é quando vemos santinhos de candidatos jogados nas ruas e todo tipo de papel com propaganda partidária entupindo a caixa do correio. Segundo o Tribunal Superior

Eleitoral, durante as eleições de 2012, estimou-se que, para produzir todo o material impresso, foi necessária a derrubada de 603 mil árvores e o uso de 3 bilhões de litros de água. Durante todo o ano, porém, recebemos propaganda impressa em casa e na rua. Isso porque os panf letos são uma ótima forma de divulgar ser viços, empresas, promoções de supermercados e ações sociais. O uso do papel para difundir informações ainda é muito forte em nossa cultura. As revistas e jornais (inclusive este que você está lendo), são exem-

plos disso. É o baixo custo aliado ao grande alcance. A panf letagem, porém, não é o pr incipal problema . A penas 5% do lixo reciclável de B aur u é de fato reciclado, segundo d ados d a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural, a EMDURB. O u se ja , mesmo sendo reciclável esse monte de papel que é espalhado pela cid ade inteira , quase nad a é recolhido pela coleta seletiva . Essa situação pode ser atenuada quando o cidadão adquire consciência ambiental. Se pensarmos nos panf letos como uma forma

de poluição e destruição da natureza, então teremos que assumir a responsabilidade pelo destino que damos a eles. Ou seja, separar todo jornal e folheto para a coleta seletiva e incentivar a família, amigos e vizinhos a fazerem o mesmo. Também é nosso dever cobrar as empresas produtoras de papel e as gráficas para que respeitem a natureza, ref lorestem as matas e usem a madeira com cuidado. Com um pouco de c o n s c i ê n c i a e re s p e i t o , talvez os panf letos deixe m d e s e r u m p ro b l e m a p a ra o m e i o a m b i e n t e . Foto: Pedro França/Agência Senado

Existe um acúmulo discreto e contínuo de panfletos na cidade, mas só pensamos nisso durante as eleições. 14


Dicas Culturais

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

As aventuras de Marcinho

Acompanhe o garoto em uma jornada pela prersevação da Terra! Naiara Teixeira

L

ançado pela editora Giostri, o livro infantil “Planeta Água” fala sobre a importância da água e sobre o uso consciente. O jovem leitor passa a ter contato com a personagem de Marcinho, que se aventura descobrindo os mistérios do Planeta Terra. A autora Valentine Cirano, professora de Inglês, acredita que a escrita para o público infantil é um desafio. “A linguagem tem que ser adaptada para o entendimento da criança

Foto: Divulgação

ou jovem para que ele se interaja na leitura, senão fica cansativa e frustrante. É para mim uma grande ventura.”, explica. Valentine afirma que o novo livro pode ser usado como ferramenta na sala de aula, ajudando os professores a trabalhar com o tema da escassez hídrica do país. “Quando escrevi o livro ainda nem havia esse problema que estamos vivendo em São Paulo da escassez de água, mas felizmente o livro está aí para ajudar essa ‘galerinha’ jo-

vem a entender que nossa água não é um recurso inesgotável e que se não cuidarmos bem dela, em pouco tempo teremos problemas ainda mais sérios no nosso planeta. É uma ótima dica para as escolas, pois se conscientizarmos as crianças hoje, quem sabe ainda dá tempo de salvar o planeta?”, destaca a escritora. Como tantos outros jovens, Valentine Cirano, sempre sonhou ser escritora, mas só publicou o primeiro livro aos

36 anos: “Deveria ter acreditado no meu sonho e feito acontecer. Somente agora eu me dei conta de que os sonhos são mais tangíveis do que imaginamos e que eles podem acontecer sim, depende de nossa força de vontade e do nosso empenho. Se o jovem gosta de escrever, ele deve acreditar que é possível e se esforçar para que o seu sonho se torne realidade. Se acreditarmos e nos esforçarmos para atingir algo, tudo é possível”. 15


Passatempo

junho de 2015

Os passatempos estão em dose dupla novamente!O primeiro é a clássica Cruzadinha. Cada linha é uma palavra das dicas. Para ajudar, a palavra-chave destacada em vermelho a ser formada está circulada ali embaixo. Achou? Depois que você descobrir todas as palavras, você poderá encontrá-las no Caça-Palavras. Boa diversão!

As respostas você encontra na nossa página do Facebook!

/jornalimpactoambiental impactoambientaljornal@gmail.com 1 - Cidade que, no ano passado, adotou uma lei que multa quem desperdiça água lavando a calçada 2 - Uma das atividades esportistas que podem ser realizadas com o ecoturismo 3 - Principal conteúdo dos panfletos entregues nas ruas 4 - Produto que rendeu ao Brasil quase 6 bilhões de dólares com sua exportação 5 - Faixas separadas das ruas e exclusivas para bicicletas 6 - Tipo de garrafa da qual se pode trocar, depois de consumido seu líquido interno, por outra nos supermercados 7- Forma de transporte em que o motorista oferece lugares disponíveis em seu automóvel 16


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.