Impacto Ambiental - Setembro 2014

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Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

ESPECIAL

ENERGIA AS ALTERNATIVAS PARA O BRASIL SUPERAR OS DESAFIOS DO SETOR ENERGÉTICO • Agropecuária • Tecnologia • Reciclagem • Dados sobre a distribuição elétrica no país • Como a crise hídrica afeta o preço da sua conta de energia?

Setembro de 2014 Distribuição Gratuita


Editorial

setembro de 2014

Da discussão, nasce a luz!

Foto: Isabel Silva

A segund a edição deste ano do jor nal Impac to Ambiental chega até você em um momento histór ico e de discussão política . Estamos nas vésperas d as eleições que decidirão o caminho que o Brasil tomará para os próximos anos. É nossa obr igação conhecer bem as propostas dos candid atos que dis putam os cargos políticos, e olharmos com car inho para as questões ambientais. Nesta edição abord aremos a energ ia . Sem ela , o universo não existir ia , pois foi através dela que o universo surg iu, seg undo a Teor ia do Big B ang. E é por meio dela que o universo perdura : está presente em tudo na natureza . Gerad a por meio dos fenômenos naturais, a energ ia pode ser dividid a em três tipos: tér mica , mecânica e elétr ica . O homem aprendeu a proDiretor Administrativo e Marketing: Orientação: Ângelo Sottovia Aranha duzi-la e controlá-la e, a par tir de reRenato Delicato Zaiden Edição: Marcos Cardinalli cursos como água , car vão e petróleo, Diretor Industrial e de Tecnologia: Diagramação: João Pedro Ferreira transfor mou-a em produtos como a Marco Antonio C. Oliveira Arte: Mirna Encinas e Wilson Wenceslau Jornalista Responsável: Gisele Hilário gasolina e a eletr icid ade. Editor Executivo: João Pedro Feza No Brasil, as pr incipais fontes Produção: Ana Beatriz Ferreira e Maria Victória Editora Multimídia: Márcia Duran de energ ia elétr ica são as hidrelétr i- Reportagem: Agnes Sofia, André Magalhães, Gerente Comercial e Marketing: Heloísa Kennerly, João Pedro Ferreira, cas, devido a grande quantid ade de João Carlos do Amaral r ios que o país possui. Mas em temLucas Mendes e Lucas Zanetti Gerente de Vendas: Welber A. Pinto pos de grandes secas, como a do atual Gerente de Tec. da Informação: Evandro F. Campanha momento, será que as hidrelétr icas Coordenador do JC na Escola: garantir iam o for necimento de enerSérgio Roberto de Moura Purini g ia necessár ia para o Brasil? Não é o Tiragem: 2.000 exemplares que parece acontecer. Impressão: Fullgraphics Felizmente, o Brasil tem pensado em outras for mas de geração de energ ia , e está realizando leilões Publicação realizada por estudantes de Jornalismo, Artes e Design para as usinas solares, eólicas e de da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) biomassa . Estas também são fontes limpas e renováveis de energ ia , além com apoio da Pró-Reitoria de Extensão Universitária (PROEX) disso, diversificam a matr iz energée o Programa JC na Escola tica brasileira . B oa L eitura , 2

Acesse: http://www.facebook.com/jornalimpactoambiental A redação


Tecnologia

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

Carros começam a usar ar comprimido como combustível Tecnologia promete reduzir em até 45% o uso dos combustíveis derivados do petróleo Lucas Zanetti

Ilustração: Wilson Wenceslau

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ma nova tecnolo g ia desenvolvid a pela montadora francesa P SA tenta solucionar um velho problema no meio automobilístico: a poluição. Atualmente, circulam nas r uas car ros movidos pr incipalmente a combus tíveis fósseis, emissores de grande quantid ade de CO2 e outros gases poluentes na atmosfera . A tecnolo g ia Hybr id Air usa ar compr imido como pr incipal fonte de energ ia , reduzindo o consumo dos der ivados do petróleo. Dessa for ma , além de diminuir a emissão dos gases poluentes, também é mais vanta joso economicamente, já que o consumo de gasolina e óleo diesel, e também do álcool, passa a ser bem menor. Por se tratar de uma tecnologia híbrida, o novo modelo não é movido somente a ar. É um veículo em que o motor convencional funciona em conjunto com tanques de hidrogênio, pois não existe tecnologia para mover um veículo apenas com a força do ar. A par tir disso, a redução do uso do combustível fóssil pode chegar a 80%. Segundo d ados divulgados pela P SA , um modelo C3 convencional pode emitir até 107g/km de CO2 na at-

mosfera , enquanto um com a tecnolo g ia Hybr id Air emite apenas 69g/km em sua capacid ade máxima . Como funcionará? A tecnologia consiste no do uso do motor convencional movido a gasolina, dois tanques de hidrogênio e uma bomba hidráulica. Através da bomba hidráulica, o hidrogênio preso ao tanque fica mantido sob alta pressão. Quando o ar é liberado, a bomba passa a atuar no sentido inverso e funciona como um motor, mandando o f luído hidráuli-

co que enviará forças para as rodas. Em seguida, o f luído retorna para o tanque para uso posterior. O carro também possui o motor movido a gasolina, que entra em ação sempre que necessário, principalmente em caso de grandes acelerações. O doutor em engenharia mecânica Franco Dedini explica que “o mecanismo de comprimir o ar pode ser originado pelo movimento do próprio veículo”. Segundo Dedini, a tecnologia já é estudada há muito tempo, mas somente agora foi possível desenvolvê-la de maneira viável. ‘’Carros mo-

vidos a ar são pesquisados a mais de cem anos, mas somente com a pesquisa de novos processos de fabricação e novos materiais é possível fazer depósitos de ar comprimido com peso, volume e segurança compatíveis com veículos comerciais’ ’, afirma. Segundo a empresa que está desenvolvendo o modelo, o carro estará disponível para o mercado somente em 2016. Franco expõe os motivos pela demora da implementação: “há muito fatores ainda não resolvidos como a segurança de operação, confiabilidade e disponibilidade”. 3


Ideias Verdes

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Futuro Garantido

Renováveis e inesgotáveis, energias alternativas garantem o fornecimento de eletricidade e a preservação do meio ambiente

André Magalhães tualmente, há uma demanda imensa de energia. Essa demanda energética, no entanto, é suprida, na maioria das vezes, com recursos não renováveis, ou seja, que podem acabar um dia. Os combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão, são os recursos não renováveis mais utilizados no mundo todo, e a queima deles é uma grande fonte de poluição. A fim de diminuir a poluição emitida pelos combustíveis fósseis, cada vez mais são desenvolvidas pesquisas sobre energias sustentáveis, que consistem em atender às necessidades energéticas evitando ao máximo prejudicar o meio ambiente. Existem diversos tipos de energia limpa e renovável, como as de marés, de biomassa, do sol, dos ventos e da força das águas. Esta última, é a mais utilizada no nosso país. “O Brasil tem mais de 80% de sua matriz energética embasada em hidroeletricidade, o que o transforma em um país com matriz energética limpa”, afirma Letícia Hoppe, doutora em engenharia de materiais e novas tecnologias pela PUC-RS e Universidade de Utrecht. Um impasse para as matrizes energéticas sustentáveis está nos custos e também na formação de resíduos do processo de implantação. Porém, para Hoppe, isso deve

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ser apenas um problema de curta duração. “Sabe-se que, no longo prazo, estes quesitos como alto custo e absorção dos resíduos pelos processos serão sanados, principalmente pela elevação da escala de produção de fontes alternativas de energia. Do ponto de vista econômico, a larga escala na produção permite redução de custos e assim uma maior aceitação do mercado, gerando uma maior demanda e consequentemente elevando a sua utilização”. Cada um destes tipos de energia possui suas próprias vantagens e desvantagens. De acordo com Jair Urbanetz, doutor em engenharia

civil pela UFSC, “a hidráulica é a mais viável, desde que as bacias hidrográficas permitam, e o Brasil é bem servido neste sentido. A principal desvantagem é o alagamento de grandes áreas para formação dos reservatórios; A Eólica é também bem vantajosa, mas o recurso concentra-se principalmente nas regiões litorâneas do Brasil; a Solar está em um momento de franca expansão no Brasil e no mundo, aqui ainda muito pouco comparado ao cenário mundial, mas apresenta excelente potencial para a geração distribuída, com painéis fotovoltaicos instalados diretamente sobre os telhados

das edificações, sejam residenciais ou comercias. É uma maneira de gerar energia elétrica sem a necessidade de área adicional, e junto ao ponto de consumo, fato que é muito vantajoso”. Esterco: uma boa alternativa

O uso de esterco de gados e suínos para produção de energia é um procedimento em potencial no mundo. Através de um biodigestor anaeróbico, o esterco é fermentado e transformado em gás metano, chamado de biogás, gerando energia elétrica e térmica. De acordo com um estudo feito por pesquisadoFoto: Marcos Cardinalli res do estado de Vermont, nos Estados Unidos, o esterco produzido por uma vaca – em torno de 30kg por dia – é suficiente para alimentar duas lâmpadas de 100 watts por 24 horas. Os biodigestores também são uma alternativa para o destino e reaproveitamento dos dejetos, tendo em vista que muitas vezes estes são despejados nas esterqueiras, sem utilização nenhuma e podendo poluir o meio ambiente. De acordo com entrevista do pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Paulo Armando Victória de Oliveira, para o site oeco.org.br, este método Biodigestores instalados na UNESP de Jaboticabal geram de produção de energia ainda gás metano para fins experimentais é fraco no Brasil,pois mesmo


Crise Hídrica

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

possuindo 2500 biodigestores em seu território, apenas 5% destes geram energia. Doutor em agronomia pela UNESP e especialista em energia, Jorge de Lucas Junior possui um projeto de pesquisa na UNESP de Jaboticabal. Biodigestores instalados no campus convertem esterco animal em gás metano para fins experimentais. Segundo De Lucas, o esterco produzido no campus, se convertido em

O Brasil tem mais de 80% de sua matriz energética embasada em hidroeletricidade, o que o transforma em um país com matriz energética limpa’’

energia, tornaria a fazenda da universidade totalmente sustentável energeticamente. Há pecuaristas brasileiros, como é o caso do ator

Letícia Hoppe, economista Tarcísio Meira, que utilizam dos biodigestores para tornar suas fazendas autossuficientes em energia elétrica e ainda conseguem vender o

excedente. Além de economizar com a conta de energia, é possível adquirir receitas pela venda da energia produzida com o esterco.

Dependente da água, energia brasileira se torna mais cara Falta de chuvas compromete a geração de energia e necessidade de fontes alternativas se mostra evidente

Lucas Mendes Brasil sofre com uma histórica estiagem que afetou o sistema de distribuição de água e de energia. O motivo, além da falta de chuva, foi o mal planejamento do governo. Os reservatórios de água chegaram a níveis muito abaixo da média, fazendo com que as represas perdessem uma grande quantidade do seu volume no período de seca. De acordo com boletim do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP (IAG), o último verão paulistano “foi caracterizado por um total de 352,5mm de chuva, total bem abaixo da média climatológica que é de 634,8mm. Em outras palavras, choveu apenas 55,5% do esperado”. Ainda segundo o boletim, foi o segundo verão mais seco da série histórica, sendo superado apenas pelo de 1940/1941.

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A Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) consideraram as chuvas do período como “insuficientes” para recuperar e manter os reservatórios no período da seca. O Sistema Cantareira, principal sistema de abastecimento de São Paulo, atende cerca de 8,5 milhões de pessoas. Por ele foi sentido o maior reflexo da crise hídrica. O Sistema Alto Tietê, passou a socorrer parte dos moradores que antes eram atendidos pelo Cantareira. O chefe do Departamento de Recursos Hídricos da Universidade de Campinas (Unicamp), o professor Antônio Carlos Zuffo, afirma que o Alto Tietê também está com problemas em suas reservas, perdendo volume nas mesmas proporções.

“O problema que causou a crise foi a superexploração do sistema”, afirma Zuffo. Crise energética Com a estiagem, o fornecimento de energia elétrica também fica comprometido, em consequência da matriz energética brasileira se basear nas hidrelétricas. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica Aneel, cerca de 80% da capacidade instalada de energia do país provêm das águas. Com um volume reduzido dos rios e represas, a energia gerada pelas hidrelétricas fica comprometida. Devido a este problema, as distribuidoras precisam comprar energia das termelétricas. A energia gerada pelas termelétricas é bem mais cara, resultando em um au-

mento no custo final. Segundo a Aneel, a compra desta energia é responsável por dois terços deste aumento, repassado aos consumidores no reajuste anual. Parte do aumento está sendo bancado pelo governo e concessionárias, mas será cobrado dos consumidores. As contas de energia virão mais altas para os cidadãos nos reajustes dos próximos dois anos. A demanda por energia continua crescendo, mas o nível de armazenamento das hidrelétricas continua o mesmo, pois praticamente todo o seu potencial já foi usado. Os caminhos apontam para a necessidade de fontes alternativas e renováveis. Energia eólica, solar e a biomassa se tornam protagonistas em suprir o Brasil na urgência por energia e na tarefa de diversificar a sua matriz energética. 5


Infográfico

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CHOQUE

DE REALIDADE

A MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA TEM PREDOMÍNIO DAS HIDRELÉTRICAS, O QUE PODE TORNAR O SISTEMA VULNERÁVEL EM CASOS DE ESTIAGEM PROLONGADA

ATUAL CAPACIDADE BRASILEIRA DE

PRODUÇÃO X UTILIZAÇÃO DA ENERGIA NO SISTEMA NACIONAL

Infográfico: Mirna Encinas e João Pedro Ferreira 6


Brasil

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Brasil: potência energética

País tem capacidade de vencer os desafios de geração de energia com recursos da biomassa se investir corretamente em pesquisa e incetivos

João Pedro Ferreira iante de períodos de seca com que parte do país vem sofrendo, quanto menos chove mais se coloca em dúvida o preparo brasileiro para passar por crises energéticas de forma limpa ambientalmente e positiva para economia. Para socorrer a demanda de energia, o governo tem solicitado que as termelétricas funcionem em sua capacidade máxima, o que traz custos questionáveis comparandose com outras fontes, por se utilizarem da queima de combustíveis, que são caros. Além disso, o processo pode trazer grande prejuízo ambiental. Após o apagão de 2001, para evitar que falte energia novamente, foram criados novos sistemas de leilão de usinas, para planejamento e preenchimento das lacunas do setor. Também surgiram os leilões exclusivos de energia alternativa, na qual se incluem conjuntamente a eólica, biomassa e energia proveniente de Pequenas Centrais Hidrelétricas. Como medida para evoluir a diversificação da matriz energética com fontes limpas e alternativas, estão previstos, ainda para 2014, leilões dedicados a projetos de energia solar, além de aumentar o número de eólicas e de termelétricas movidas a biomassa. Segundo o Ministério de Minas e Energia, existem quatro

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tipos de contratação de energia no país através dos leilões: A-5, A-3, A-1 e Leilão de Ajuste. Os três primeiros correspondem ao tempo para o início de suprimento de energia do vencedor. Por exemplo, o A-5 indica que serão cinco anos até o início da utilização. Isso é necessário para que se façam as obras e que sejam no tempo adequado. Já o leilão de ajuste “tem por objetivo complementar a carga de energia necessária ao atendimento do mercado consumidor dos agentes de distribuição”. O doutor em Engenharia Elétrica José Marangon Lima

esteve presente em discussões sobre o novo modelo do setor energético brasileiro e foi assessor da diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Ele diz que os leilões criados em 2004 dão segurança aos geradores e foi uma saída para o governo incrementar a expansão do parque gerador. Entretanto, esse sistema deixa toda a responsabilidade nas mãos do estado. Os custos e riscos acabam caindo na mão do consumidor: “Para que os leilões não acabem em vazio, o governo burla a tarifa de transmis-

são, fornece empréstimos a juros subsidiados e até isenta de tributos. Ao final ele ‘consegue’ um preço baixo para a energia comprada. A pergunta é: quem vai pagar a conta? O modelo de leilões está se exaurindo, mostrando que a centralização total pode levar a decisões equivocadas, pois os sinais de preço estão todos errados”, comenta Marangon. O atraso das obras tem trazido desconforto para o governo. No início de 2014, havia usinas eólicas já prontas que não estavam em operação por faltas de linhas de transmissão.

Foto: Anna Letícia Pighinelli/ Embrapa

O Bio-óleo é um produto resultante da pirólise, processo onde acontece a queima da biomassa. A partir de etapas de melhoramento, ele pode ser usado como combustível, químicos ou outros produtos de valor agregado 7


Brasil

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O campo no futuro energético realizou um seminário na Câmara dos Deputados onde o coordeNão é só a energia eólica nador de Campanha de Energias que sofre com os problemas do Renováveis do Greenpeace no atual panorama energético bra- Brasil, Ricardo Baitelo, pontuou a sileiro. O Brasil é reconhecida- importância do setor, explicando mente um país com enorme po- que tanto a bioeletricidade quanto tencial agrícola, conhecido como o etanol de cana-de-açúcar levam um dos maiores celeiros do mun- vantagens nos quesitos redução do. Na agricultura tem surgido de emissões de gases de efeito esdiversas opções para substituir tufa e geração de empregos. os combustíveis fósseis, que não A expectativa de que haja são renováveis. políticas públicas que estimuO setor canavieiro tem sido lem o papel do etanol na matriz um dos principais exemplos na energética é forte no setor caquestão de cogeração de energia. navieiro. A presidente da UNIDados do relatório de Informa- CA, Elizabeth Farina, afirma em ções Gerenciais da ANEEL de artigo pulicado em julho que “o junho mostraram que a energia investimento em bioeletricidaproduzida pelas 378 unidades de será impulsionado de forma integrantes tinha potência ins- consolidada novamente quando talada de geração de mais de voltarmos a expandir os cananove milhões de quilowatts, o viais. Etanol e bioeletricidade que representa sozinha 25,4% são produtos sinérgicos e, pordo potencial completo das usi- tanto, precisam de políticas púnas termelétricas, que incluem blicas concatenadas adequadas e petróleo, gás natural, carvão mi- de longo prazo”. neral e outros combustíveis. O Diretor Executivo do Os produtores, contudo, Instituto Nacional de Eficiência não veem com bons olhos a atual Energética (INEE), Pietro Erber, proporção e condições de concor- acredita na importância da rerência da cogeração. Diversos es- dução consciente e possível do pecialistas se posicionam favora- consumo, em ações que promovelmente para que haja um leilão vam a uso da energia sem desexclusivo para a biomassa e que perdícios. Para ele, “a cogeração seja o início de incentivos maior constitui importante fator de do setor por parte do governo. aumento da eficiência”. Em abril, a União da IndúsErber ainda pontua outras tria da Cana-de-Açúcar (UNICA) ações necessárias para que o se-

tor sucroenergético seja estimulado e que haja maior estabilidade dos preços, como a eliminação de subsídios à gasolina com tratamento isonômico ao etanol, motores que aproveitem as vantagens do etanol e proporcionem maiores eficiências, e condições para que a cana chegue ao mercado externo com verdadeiro patamar de commodity. Resíduos têm sua importância Durante algum tempo, criou-se o temor de que a produção maior de biocombustíveis e óleos vegetais tiraria o espaço destinado à produção alimentícia na agricultura. Porém, esse pensamento tem se mostrado sem fundamento. Anna Letícia Pighinelli, pesquisadora da Embrapa Agroenergia, considera possível a coexistência de biomassas destinadas para combustível e para alimentos, sem haver competição entre elas. O etanol e o biodiesel fazem parte da cadeia da produção do açúcar e da soja, produtos de nutrição. Além da soja, a produção de biodiesel busca diversificar suas fontes de matérias-primas, incluindo os resíduos agroindustriais. O principal é o sebo bovino. A inserção dos resíduos nas cadeias produtivas agrega valor ao que seria descartado.

Há também o bio-óleo, que é um dos produtos resultantes da pirólise, processo de queima de biomassas ou resíduos agroindustriais. A importância do bio-óleo está dentro do conceito das biorrefinarias que visam à geração integrada de produtos dentro de uma mesma estrutura: “o que é resíduo em um processo produtivo pode virar insumo em outro, como para a geração de energia, por exemplo. Nisso, podemos minimizar problemas ambientais e econômicos”, explica Pighinelli. Por ser originário de biomassas, espera-se que sua queima seja mais limpa que a de combustíveis fósseis. Mas, segundo a pesquisadora, é necessária uma avaliação mais cuidadosa, pois, dependendo da origem da biomassa, pode haver emissões de gases poluentes. Para o bio-óleo deslanchar no Brasil, ainda há a necessidade de pesquisas para consolidar a tecnologia, visando a sua inclusão como um novo combustível na matriz energética. Deve-se levar em consideração uma avaliação técnico-econômica, para analisar a produção em maior escala, o custo, a concorrência com os combustíveis comerciais já utilizados e se haverá produção para atender à demanda. Foto: Petr Kratochvil/Public Domain

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A cana-de-açúcar é a principal matéria-prima dentro da biomassa. O setor tem grandes metas a serem cumpridas para ver crescer a participação na matriz energética, mas esbarra na falta de apoio governamental


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Infográfico

AS PRINCIPAIS FONTES DE ENERGIA

ENERGIA NUCLEAR-

O urânio é um elemento químico que libera uma enorme quantidade de energia na desintegração de seu núcleo. As usinas nucleares aproveitam esta energia para gerar eletricidade. Não produz poluentes, mas o quantidade de lixo nuclear é um ponto negativo, pois representam grande perigo.

ENERGIA FÓSSIL- Formada a milhões de anos pelo acúmulo de materiais orgânicos no subsolo. A energia gerada a partir destas fontes, além de provocar poluição, contribui com o aumento do efeito estufa e aquecimento global, principalmente com os derivados de petróleo (diesel e gasolina) e do carvão mineral. No caso do gás natural, o nível de poluentes é bem menor. ENERGIA SOLAR-

ENERGIA BIOMASSA-

É a energia gerada pela decomposição de materiais orgânicos, como esterco, restos de alimentos e resíduos agrícolas. O gás metano produzido é utilizado para gerar energia.

A radiação solar é captada, gerando calor e eletricidade. Ainda é pouco explorada no mundo, por possuir elevado custo de implantação. É uma fonte limpa, pois não gera poluição e nem impactos ambientais.

ENERGIA HIDRÁULICA-

É a mais utilizada no Brasil devido à grande quantidade de rios. Numa usina hidrelétrica existem turbinas que produzem energia através da queda d'água. Apesar da implantação de uma usina hidrelétrica provocar impactos ambientais pela construção de represas, é considerada uma fonte limpa.

ENERGIA GRAVITACIONAL-

É gerada pelo movimento das águas oceânicas nas marés. Possui um custo muito elevado de implantação e, por isso, é pouco utilizada. Especialistas dizem que esta será uma das principais fontes de energia do planeta no futuro.

ENERGIA EÓLICA-

É gerada a partir da força do vento. São instaladas, em áreas abertas, grandes hélices que geram energia através de seu movimento. É uma fonte limpa e inesgotável, mas ainda pouco utilizada.

ENERGIA GEOTÉRMICA-

Nas profundezas da crosta terrestre existe um alto nível de calor podendo superar 5.000°C. Este calor é utilizado pelas usinas para acionar turbinas elétricas e gerar energia. Ainda é pouco utilizada.

Arte: Mirna Encinas | Texto: Marcos Cardinalli | Dados: Eletrobras 9


Agricultura

setembro de 2014

Cana-de-açúcar: a energia brasileira

Líder na produção de açúcar e etanol através da cana, Brasil tem potencial para investir na biomassa como fonte de energia elétrica para o país.

Marcos Cardinalli cana-de-açúcar é uma das principais culturas agrícolas do mundo. Cultivada em mais de 100 países, a cana é referência no Brasil, o seu maior produtor. De acordo com o Ministério da Agricultura, o Brasil também é o primeiro na produção de açúcar e etanol, produtos gerados a partir da cana. Introduzida no período colonial, a cana se tornou muito importante para a economia brasileira. Conforme explica Fernando Alonso Oliveira, gerente de produtos orgânicos da Native Alimentos, empresa vinculada à Usina São Francisco, os primeiros engenhos datam de 1530 no nordeste brasileiro. “É a primeira atividade agrícola implantada no Brasil e a primeira atividade econômica não extrativista”, expõe. O Brasil é responsável pela metade do açúcar comercializado no mundo, sendo o maior produtor e exportador, segundo a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA). Em relação ao etanol como alternativa energética, o Brasil conquista cada vez mais o mercado externo. Ainda segundo Alonso, o etanol não é produzido somente no Brasil, mas no mundo todo, a partir de diferentes matérias primas. Outro grande produtor do combustível é os Estados

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Unidos, que o produz através do milho. O etanol é um biocombustível pois é gerado a partir de matéria orgânica, podendo substituir os combustíveis fósseis como a gasolina e o diesel. Além de menos poluente, o biocombustível é renovável. De acordo com Oliveira, a produção do etanol “contribui para mitigar o problema do aquecimento global, uma vez que, durante o ciclo de produção vegetal, uma quantidade maior de CO2 é absorvida pelas plantas do que aquela gerada com a combustão”.

dito que o etanol de segunda geração vá engrenar no Brasil, principalmente por que aqui sempre existem outras prioridades.”, diz ainda. Questionada do seu pessimismo sobre a imple-

mentação deste processo no Brasil, a pesquisadora explica: “Quando o preço do açúcar está em alta na Europa, o Brasil diminui radicalmente a produção de etanol. Inverte todo o processo para produFoto: Marcos Cardinalli

O bagaço também é recurso Depois de utilizada, a cana-de-açúcar gera um resíduo que se transforma também em um produto: o bagaço! De acordo com Aline Rabonato, mestra em agronomia pela UNESP, o bagaço é utilizado como ração ou, principalmente, cogerador de energia elétrica para sustentar a indústria. Entretanto, pesquisas recentes apontam que o bagaço também pode gerar o “etanol de segunda geração”. A produção deste combustível ainda é inviável, segundo Aline. Além de caro, o processo é demorado. “Muitos estudos precisam ser realizados para viabilizar esse pro- Diversas espécies de cana-de-açúcar são cultivadas no Instituto Agronômico cesso”, afirma. “Eu não acre- de Campinas (IAC) para pesquisas de melhoramento genético das plantas


Agricultura

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

zir mais açúcar e ganhar mais dinheiro. Por isso, muitas vezes, há crises do álcool, com preço muito alto, pois sua produção é baixa nessa época. A mesma coisa acontece com o bagaço”. Para Rabonato, a energia elétrica é muito cara e, por isso, é mais econômico para a indústria queimar o bagaço em caldeiras para gerar eletricidade, sustentando a si própria e, muitas vezes, uma cidade pequena inteira com o excedente de energia produzida. Sobre a diferença de qualidade entre o etanol produzido diretamente da cana e o de segunda geração, a pesquisadora diz que a qualidade é sempre diferente, mas que não possui dados estatísticos que comprovem essa diferença. Do bagaço pra tomada Assim como citou a pesquisadora Aline Rabonato, o bagaço da cana-de-açúcar pode gerar energia elétrica. Como forma de se adquirir a autossuficiência energética e gerar economia, as usinas queimam o bagaço gerado do processo produtivo. Segundo Marcio Comin, coordenador de qualidade na Usina São Francisco, a energia elétrica gerada pelas usinas, se houver investimento, pode ser vendida para as distribuidoras, gerando lucro para as usinas, por se tornar um novo produto, e ingressar na matriz energética do país. Para ele, é uma ótima estratégia para se diversificar nos produtos oferecidos pela empresa e também nas fontes de

energia que compõem a matriz brasileira. Considerando a atual crise hídrica do Estado de São Paulo, a energia advinda da queima do bagaço poderia se tornar uma alternativa em épocas de estiagem. Atualmente, a energia no Brasil está se tornando mais cara, pois está sendo comprada de termelétricas, em função do baixo volume de água nos rios onde se encontram as hidrelétricas, maiores geradoras de energia elétrica no Brasil. De acordo com a Eletrobrás, a maioria das usinas termelétricas usa como combustível fontes não renováveis, como carvão mineral. Além de altamente poluidora e emissora de gases estufas, a energia gerada pelas termelétricas é mais cara. Segundo Fernanda Müller, do Instituto Carbono Brasil, a produção de energia através da queima de biomassa vegetal, como é a cana-de-açúcar, são consideradas nulas em emissões de gases-estufa, pois durante o processo de fotossíntese das plantações, o CO2 liberado durante a combustão é absorvido. O balanço de emissões se torna neutro. No Brasil, conforme Marcio Comin, existem 400 usinas de cana-de-açúcar, todas autossuficientes energeticamente. Entretanto, apenas 160 dessas usinas vendem o excedente de energia produzida, sendo a São Francisco uma delas. Para Comin, se todas as usinas gerassem energia para o mercado, a produção

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N E R G I PARA O CORPO

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O açúcar é uma fonte de energia para o organismo humano. Sem energia, o corpo não tem forças para as atividades do dia-a-dia. Essa energia contida nos alimentos é conhecida como caloria. Entretanto, o consumo de açúcar refinado deve ser moderado, conforme explica a nutricionista Fernanda Araújo: “O consumo excessivo associado ao estilo de vida sedentário contribui para o desenvolvimento de obesidade, diabetes, hipertensão e outros problemas cardiovasculares, além de causar dependência”. Uma opção é o consumo de açúcar orgânico. É produzido sem adição de agrotóxicos e suas características nutricionais assemelham-se com as do açúcar mascavo, apresentando quantidade maior de vitaminas e minerais. A nutricionista Tatyana Dias de Paula, também mestra pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, diz que a Organização Mundial pela Saúde (OMS) recomenda que apenas 5% das calorias consumidas sejam provenientes do açúcar. Essa quantidade, segundo Tatyana, corresponde a 25 gramas - aproximadamente 6 colheres de chá. Isso equivale, segundo a nutricionista, a 100 mil calorias (100 kcal). A energia necessária para o organismo, de acordo com ambas nutricionistas, pode ser obtida através de outros alimentos, como o pão, massas e frutas. total poderia ser comparada a Itaipu, maior hidrelétrica do mundo. Também concorreria com as eólicas, menos eficientes. “As eólicas têm incentivos, o que torna inválida a concorrência com as usinas de biomassa”, diz. Criticando a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, construída para suprir a demanda energética do Brasil, Marcio Comin diz que, ao contrário das usinas de cana-de-açúcar, Belo Monte é muito longe do centro con-

sumidor, necessitando de investimento em redes de conexão, gerando gastos e perdas. Marcio afirma que há falta de políticas públicas incentivando a geração de energia da biomassa, e que não há uma estrutura pronta, ficando o ônus do processo apenas para o empreendedor. Em relação às novas políticas energéticas para a contratação de geradoras limpas e alternativas, ainda não há leilões exclusivos para a biomassa. 11


Sociedade

setembro de 2014

O prazo acabou

Enquanto os governos tentam evitar penalizações por não cumprirem o prazo de aplicação da Lei de Resíduos Sólidos, iniciativas independentes oferecem um novo destino ao lixo: arquitetura e energia Agnes Sofia Lei n° 12.305, sobre a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, entrou em vigou em 10 de agosto de 2010 e deu um prazo de quatro anos para que as cidades adotassem uma série de medidas, entre elas o fim dos lixões. Mas até o final do último mês de agosto, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Municípios, das 2332 cidades brasileiras de até 300 mil habitantes, 807 ainda enviam seus resíduos para lixões. As 1.525 restantes utilizam aterros sanitários. O alerta não está restrito às prefeituras, que após o prazo deverão pagar uma série de multas ao governo federal e a responder por crimes ambientais. Movimentos populares e organizações não governamentais acompanham decisões controversas de governos que não atendem à Política Nacional dos Resíduos. O governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, por exemplo, vetou a PL 4051/2013, projeto de Lei que exigia o fim do processo de incineração do lixo, que supera a capacidade física dos aterros. Em carta aberta à sociedade, o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis discorre: “Com a clara convicção de que não se pode permitir tal retrocesso,

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depois de avanços conquistados, especialmente nas políticas de Direitos Humanos e de Resíduos Sólidos, com a inclusão de catadores de materiais recicláveis, é que os movimentos e entidades vêm lutando contra a incineração de resíduos e a favor da coleta seletiva com inclusão dos catadores e valorização da cadeia da reciclagem”. O documento também explica como a questão diz respeito não apenas ao meio ambiente, mas à saúde e à economia das pessoas direta ou indiretamente envolvidas. O Ministério do Meio Ambiente se vê dividido entre a pressão de grupos ambientalistas para que medidas severas sejam tomadas contra os go-

vernos e entre os governos municipais, que querem prorrogar o prazo para no mínimo oito anos. A Ministra Izabella Teixeira reconhece que a situação de cada realidade local deve ser investigada a fundo, e solicitou ao Legislativo que discutisse sobre o prazo. Até o fechamento da edição, nada foi definido. “Na verdade, as prefeituras até sabem que há alternativas, mas não veem como bancá-las”, opina o arquiteto Sérgio Prado. Há mais de 20 anos, ele e a arquiteta Márcia Macul estão à frente do projeto “Cuidadores da Terra”, ONG com a qual idealizaram um projeto que oferece soluções para o lixo, como a geração de energia e criação de moradias sustentáveis.

Arquitetura Sustentável

O projeto “Lixo Zero, Arquitetura Sustentável e Energia Renovável”, criado pelo casal de arquitetos, propõe o fim dos resíduos sólidos, a realização de construções utilizando materiais feitos de compostos orgânicos e a produção de biogás com aquilo que é equivalente a 55 % dos resíduos orgânicos destinados, atualmente, aos aterros brasileiros. O projeto rendeu ao casal o prêmio internacional “Moradia Ideal: colaboração para cidades mais inclusivas e sustentáveis”, em 2011. O prêmio é promovido pela organização Changemakers (Ashoka), com apoio da Foto: Márcia Macul Fundação Rockefeller, nos Estados Unidos. Todos os elementos da construção de uma casa são elaborados com reciclagem orgânica: os tijolos e blocos são feitos com terra, sendo secados e curados naturalmente. As paredes são revestidas por embalagens PETs. Os pisos, blocos, painéis para paredes e telhas são feitos com outros resíduos urbanos e excedentes de biomassa, que inclui a resina vegetal obtida da mamona – planta oleaginosa, cuja semente produz um óleo que pode ser usado para a EnerTaipa EcoVila: A construção da escola ecológica fica na divisa gia Renovável, prevista no entre Bauru e Agudos


Sociedade

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

projeto dos arquitetos. “Um é consequência do outro. Você só pode ter lixo zero se houver um sistema de reaproveitamento total”, conclui Sérgio. Um exemplo de cidade verde Localizada no Centro-Oeste Paulista, a 320 km da capital paulista, Agudos pode passar despercebida devido ao seu tamanho (pouco mais de 36 mil habitantes), mas graças a dois trabalhos baseados no projeto de Sérgio e Márcia, a cidade pretende se tornar a primeira “Cidade Verde e Sustentável” do país. Há vinte e cinco anos, Cláudia Her tz dirige a Escola Viver, fundada por ela e por sua irmã. A pedagogia adotada é baseada na Escola Waldor f, teoria que acredita que o ensino deve envolver psicologia e sustentabilidade. “Ele (o ensino) é voltado para todos os profissionais. São cursos livres na área de educação, mas para ser completo, envolve noções do cor po, da alma e do espírito, o que abre um leque para todos os aspectos da vida”, expõe. No mesmo terreno, localizado na divisa entre Agudos e Bauru, Cláudia constrói uma ecovila, fruto da preocupação com um desenvolvimento mais sustentável: desde o asfalto até o tratamento de esgoto, tudo é inspirado em processos naturais. “Para o tratamento de esgoto, por exemplo, vamos usar o método da evapotrans-

piração, baseado no próprio sistema hídrico das plantas. Também vamos usar a água das chuvas para abastecer as casas”, explica Cláudia. “Com isso, queremos ajudar Agudos a viver um momento importante não apenas para a cidade, como para o país, já que estamos vivendo os mesmos problemas das grandes metrópoles, e estamos dando um passo à frente para resolvê-los”, finaliza. O prefeito Everton Octaviani também conheceu o trabalho dos arquitetos, e um projeto para a construção de um protótipo de “casa verde” está sendo discutido: “Já que não temos condições de bancar uma vila construída inteiramente com essas casas, com o modelo queremos mostrar à gestão federal que somos capazes e que queremos construir as casas, mas para isso precisaríamos que houvesse um investimento para nossa cidade”. A problemática do investimento O professor Aloísio Costa Sampaio estuda o manejo de sustentabilidade do maracujá na região de Bauru, desde o processamento da polpa da fruta até a transformação da casca em farinha, que reduz o colesterol. O reaproveitamento de todos os componentes da fruta após a extração da polpa é semelhante ao estudo desenvolvido por Sérgio e Márcia para o reaproveitamento dos resíduos da mamona, uma das frutas cujos resíduos orgânicos podem ser reutilizados

O QUE MUDA? Prefeituras devem apresentar propostas assumindo três compromissos: o fim dos lixões, o destino apenas de rejeitos aos aterros e a logística reversa. A logística reversa determina que os produtores do lixo devem transformá-lo em novos produtos. Por exemplo, as indústrias de refrigerantes: devem recolher dos consumidores as latinhas e as garrafas, para transformá-las em reciclagem A partir do momento em que impõe responsabilidades a empresas, consumidores e gestores públicos, o Plano ajuda o país a buscar por novas soluções em energia. Produtos como óleo deverão ser reaproveitados e já são considerados como novas matrizes energéticas para a construção de tijolos e para a produção de energia. A troca de experiências resultou no Simpósio Internacional da Unesp sobre Resíduos Sólidos, no final de 2013, no campus de Bauru. Após o evento, a universidade demonstrou interesse em estudar os materiais de construção usados no projeto dos arquitetos. Embora empolgado com o projeto, o professor acredita que o maior desafio ainda é o investimento necessário para a reversão dos resíduos: “Sustentabilidade passa pela questão ambiental, mas há sempre o viés econômico: até que ponto tais construções apresentariam uma viabilidade econômica em termos de produção?”. Essa preocupação é

compartilhada pelos arquitetos, mas para eles a preocupação maior está relacionada ao comportamento das cidades, principalmente em relação às metas da Lei de Resíduos Sólidos. “A Lei é ótima, pois dá responsabilidade àqueles que produziram os resíduos, para que saibam revertê-los em algo, mas não especifica como as indústrias devem fazê-lo. Elas nada fazem e sobram para as cidades, que não conseguiram apresentar a tempo uma solução para o problema. Nosso projeto entra na proposta da lei, pois produzimos empregos a partir da reversão de resíduos, mas as cidades sequer se interessaram ou não sabem de onde tirar o investimento”, alerta Sérgio. 13


Cidades

setembro de 2014

Incineração fica em segundo plano nas cidades brasileiras Relatório indica que a queima do lixo para geração de energia não é a melhor solução. Apontada como outro caminho, a reciclagem só recebe 2% de todo o lixo recolhido em Bauru. Heloísa Kennerly O prazo final para a adequação à Política Nacional de Resíduos Sólidos, que prevê o fim dos lixões, terminou no dia dois de agosto e, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, 60% dos municípios ainda estão irregulares. De acordo com a nova lei, cidades devem dar destino adequado ao lixo produzido, seja incinerando ou depositando em aterros, locais preparados para receber o lixo, como é o caso de Bauru. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), aproximadamente 58% do lixo nacional produzido tem destino adequado. Ao longo dos anos, segundo o mesmo relatório, embora o índice de lixo descartado corretamente tenha crescido, o lixo descartado de forma inadequada também aumentou. De acordo com dados da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural (Emdurb) e da Secretaria do Meio Ambiente (Semma), Bauru recolhe cerca de 8.700 toneladas de lixo domiciliar por mês. Disso, cerca de 34% são recicláveis. Mas somente 2% 14

de todo o lixo recolhido vai, de fato, para a reciclagem. O principal problema ainda é a falta de consciência e de ação das pessoas. Muitos ainda não separam o lixo, como afirma Sueli Rodrigues, membro da Cooperativa dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis (Cootramat). “O pessoal ainda manda bastante lixo orgânico, embalagem molhada, fralda descartável, madeira, pedra, tudo no meio. Tem que fazer a separação em casa para chegar aqui mais limpo. Vem bastante orgânico, mais do que reciclável”, conta Sueli. Mesmo quem já separa o lixo, ainda pode estar deixando de tomar alguns cuidados que fazem diferença quando o material chega nas cooperativas. Por exemplo, segundo Sueli, as pessoas esquecem que é necessário lavar as caixinhas de leite longa vida e das garrafas pet. Isso facilita o processo de separação e de limpeza do lixo reciclável, além deacelerar o processo de reciclagem, já que as cooperativas vão perder menos tempo separando o lixo úmido do seco e limpando embalagens.

Tipos de lixo produzidos em Bauru Hospitalar: 1,2% Infectante (lixo de Banheiro): 12,1% Eletrônico e outros: 15,7% Vidro e Metal: 2,3% Papel: 16% Plástico: 15,4%

Ambiental (grama, podas): 12,2% Orgânico: 25,1% Dados: Emdurb (2012)


Cidades

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental Foto: Heloísa Kennerly

A situação na Cootramat é precária, sem cobertura e com pouco espaço. “Falta limpeza, a Emdurb tirar [o lixo] e pavimentar o local”, afirma a cooperada Sueli Rodrigues.

Queima do lixo De acordo com a Semma, o lixo que não é reciclável nem contaminante (papel higiênico, restos de comida, fraldas, absorventes e algumas embalagens) deve ir para a coleta domiciliar - ou seja, a coleta normal, que passa na rua. Esse lixo que não pode ser reciclado vai para o aterro, onde irá se decompor. O problema é que o espaço no aterro é limitado. Por isso, recentemente, uma empresa propôs a criação de uma usina para incinerar o lixo da cidade e gerar energia termoelétrica dessa queima. A proposta foi bem recebida por alguns, mas segundo um parecer técnico do Ministério Público Federal, a queima de resíduos sólidos não é uma solução eficaz, uma vez que não permite o aproveitamento de materiais recicláveis e ainda polui o ar. No Brasil, como salienta o relatório, não há a necessidade de incinerar, uma vez que o clima é quente (o que facilita a decomposição do lixo) e existe espaço para a criação de aterros sanitários. Além disso, a usina tiraria a renda de pessoas que trabalham em cooperativas e catadores de recicláveis. Para o prefeito Rodrigo Agostinho, em entrevista para o Jornal da Cidade, a energia elétrica gerada pela queima do lixo seria mais cara do que a de hidrelétricas, o que dificulta a comercialização e até mesmo o uso dela na cidade. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

(Ipea), cerca de 8 bilhões de reais em materiais recicláveis são depositados em aterros sanitários. Queimar o lixo, portanto, pode representar a perda de geração de riqueza para cidades e pessoas envolvidas no processo. Reduzir é preciso Se você separa o lixo reciclável da sua casa, você nota o quanto de material é descartado, já que a coleta seletiva passa menos vezes que a coleta domiciliar. Imagine, então, a quantidade que cada casa deve produzir e multiplique pelo número de casas do seu bairro. Impossível de imaginar tanto lixo? Pois é. Segundo a Abrelpe, no Sudeste mais de 80% dos municípios têm políticas para a coleta adequada do lixo. Mas isso ainda não muda o fato de que aumentou a produção de lixo e que essas políticas não passam de ecopontos ou coleta seletiva. Sem a conscientização da população, pouco vai mudar na situação. Mais do que reciclar, é importante reduzir a quantidade produzida. E isso é mais fácil do que se imagina. Por exemplo, usar garrafas retornáveis (que também ajudam a economizar dinheiro, já que você só paga pelo líquido), levar sacolas retornáveis ou carrinho de feira para carregar suas compras, preferir alimentos frescos e não processados e usar sacos de lixo biodegradáveis: são atitudes simples que ajudam a diminuir o lixo na nossa cidade. 15


Passatempo

setembro de 2014

Os passatempos vieram em dose dupla desta vez! O primeiro jogo é o Decifrando. Nele, cada letra é representada por um número. Para ajudar, a palavra tema da edição que o Decifrando vai formar está circulada ali embaixo. Achou? Depois que você decifrar todas as palavras, você poderá encontrá-las no Caça-Palavras. Boa diversão! Combustível feito a partir da cana-deaçúcar

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Energia que pode ser gerada a partir do urânio

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Quando fermentado produz gás metano Política Nacional de ... Sólidos (PNRS) Combustível derivado do petróleo Queima de lixo para a produção de energia Mês em que o PNRS entrou em vigor

F Á Y B U Õ Ó M Q A Á É Ã As respostas você encontra na nossa página do Facebook! D /jornalimpactoambiental X O impactoambientaljornal@gmail.com à 16

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