Impacto Ambiental - Junho 2014

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Junho de 2014 - Distribuição Gratuita - Uma experiência em Jornalismo Ambiental

BATALHA

Rio que abastece Bauru luta contra o assoreamento

CHOVE, CHUVA! Captação de água da chuva é alternativa sustentável contra as enchentes

PRIVATIZAÇÃO Água: patrimônio universial ou mercadoria?


Editorial

junho de 2014

Terra: Planeta água! É ótimo saber que a primeira edição de 2014 do Impacto Ambiental chegou até você! Ela é considerada especial por trazer, em todas as matérias, um assunto de extrema importância para todos: a água. O tema está muito presente na mídia devido à estiagem na Grande São Paulo. Foram tomadas medidas extremas, como a retirada de água do “volume morto” do Sistema Cantareira, que abastece a região. Nós, consumidores de água, precisamos estar muito atentos ao que está acontecendo ao nosso redor, pois os problemas atuais da capital paulista podem também atingir as nossas represas, caso os governos não adotem políticas públicas adequadas e planejadas. A equipe do Impacto “mergulhou” no tema para que você possa entender todo o percurso que vai do rio (e dos poços) à torneira. Apresentaremos o Rio Batalha, que abastece grande parte de nossa cidade e que deságua no Tietê, um dos principais rios do estado. Como estamos cuidando da qualidade da água dos rios? Orientador: Angelo Sottovia Aranha É importante lembrar que a água Editor: Marcos Cardinalli não é utilizada apenas para consumo, Diagramação: João Pedro Ferreira mas que também é a principal fonte de Ilustração: Mirna Encinas energia elétrica do Brasil. Se falta água, Fotografia: Monique Nascimento também pode faltar energia, prejudi- Produção: Heloísa Kennerly e Letícia Ferreira cando a economia. Reportagem: Agnes Sofia, Ana Beatriz Este recurso natural, patrimônio Ferreira, Isabel Silva, Lucas Zanetti, do mundo, é tão necessário para a vida Marcos Cardinalli, Thales Valeriani. no planeta que pode parar nas mãos de empresas privadas. Vale tudo em nome da conservação? É certo a água se tornar um bem de algumas empresas e que elas definam como vão distribuí-la e quanto cobrarão? Mergulhe conosco nesta edição! A redação 2

Foto: Gaudencio Garcinuño

Diretor Administrativo e Marketing: Renato Delicato Zaiden Diretor Industrial e de Tecnologia: Marco Antonio C. Oliveira Diretor de Redação: João Jabbour Jornalista Responsável: Gisele Hilário Editor Executivo: João Pedro Feza Editora Multimídia: Márcia Duran Gerente Industrial: Célio Marcos Gerente Comercial e Marketing: João Carlos do Amaral Gerente de Vendas: Welber A. Pinto Gerente de Tec. Da Informação: Evandro Ferreira Campanha Coordenador do JC na Escola: Sérgio Roberto de Moura Purini

Publicação realizada por estudantes de Jornalismo e Design da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) com apoio da Pró-Reitoria de Extensão Universitária (PROEX) e o Programa JC na Escola Acesse: http://www.facebook.com/jornalimpactoambiental


Hidrelétricas

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

As duas margens do desenvolvimento Principal fonte de energia do Brasil, a força das águas ainda divide opiniões Agnes Sofia discussão em torno da construção de grandes hidrelétricas parece não ter fim, ganhando grande repercussão com a Usina de Belo Monte. As hidrelétricas funcionam a partir da força das águas mantidas em reservatórios. Após serem liberadas pelas barragens, elas percorrem longos canais até chegarem nas turbinas, que começam a girar com a sua chegada, e cujas lâminas contém geradores responsáveis pela transformação da força gerada pela sua rotação em energia elétrica.

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A partir daí, a corrente produzida passa por transformadores, onde recebe a voltagem adequada e fica armazenada para consumo, enquanto a água volta para os reservatórios. Esses reservatórios, permanecem cheios durante todo o ano, mas são esvaziados durante a época das cheias, para que possam receber as águas das chuvas de verão. “Assim, evitamos inundações que possam atingir as comunidades locais e prejudicar plantações”, afirma Antônio Carlos Garcia. Garcia é gerente de operações da central de Bauru

da AES Tietê, que é uma das maiores empresas privadas de geração de energia no Brasil. A central coordena as operações de usinas da empresa no estado de São Paulo, como as de Bariri e de Barra Bonita. Explicando sobre seu trabalho, Antônio Carlos conta que trabalha com painéis que mostram a situação de cada região do estado. Os funcionários permanecem em contato constante com as unidades e com o operador central, técnico que monitora o que ocorre em todos os estados e decide quais usinas devem estar ativas para

o abastecimento de energia. “Ao contrário do que muita gente pensa, não é porque há uma usina em Bariri que ela é responsável por aquela região. O operador nacional serve justamente para determinar quais usinas estarão operando em nível nacional e para quais regiões”, diz. Ele alega que a demanda por região oscila, principalmente, por causa das vendas de energia que ocorrem entre as indústrias e as distribuidoras. É como se a luz fosse vendida em cotas, que quando são saturadas, demandam novas compras, o que aumenIlustração: Mirna Encinas

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Hidrelétricas ta a necessidade de consumo na região em que a empresa está localizada. Assim, o operador precisa verificar em todo território qual usina está disponível naquele momento, o que não significa que seja aquela localizada na região da indústria. Ainda segundo Garcia, o impacto ambiental das usinas ocorre a partir da sua construção. Depois disso, o uso de desníveis naturais para produção de energia garantiria uma produção praticamente isenta de problemas como poluição atmosférica e contaminação do solo nas margens dos rios, já que a empresa possui equipes que fiscalizam, constantemente, a situação das margens dos lagos artificiais e dos reservatórios de água das usinas, para evitar a acumulação de resíduos provenientes da manutenção dos equipamentos usados. Sebastião Amorim, professor da Unicamp, criou, com alguns alunos, o Movimento Tempestade em Copo D ´Água, em resposta a um vídeo realizado por atores da Rede Globo, em que criticavam a construção da Usina. Para o professor, o impacto da construção da hidrelétrica não é nada comparado ao desmatamento da floresta amazônica: “A inundação total provocada pela represa corresponde a apenas duas semanas do que o desmatamento clandestino provoca, com uma diferença: enquanto o desmatamento clandestino geralmente abre novas brechas na floresta virgem, a área coberta por Belo Monte não é de floresta virgem, sen4

junho de 2014 Foto: Diego Cavichiolli Carbone

do em grande parte de pastagens”, explica. Entretanto, Rodnei Vecchia, especialista em economia sustentável, em seu artigo “Impactos provocados por usinas hidrelétricas” discorre que “um rio não é um simples canal de água, é um rico ecossistema moldado ao longo de milhões de anos” e que “toda obra de grande porte provoca inúmeros impactos ambientais, sociais, econômicos e culturais que transformam as regiões onde se instalam”. Ele defende a ideia de um planejamento ambiental, antes da decisão de se construir tais obras, como uma solução para o entrave. “Determinados impactos são irreversíveis, outros a capacidade A construção de Belo Monte causa protestos de movimentos sociais e de resiliência da natureza ambientalistas. O investimento aplicado na Usina é de R$29,8 bilhões em conjunto com ações antrópicas positivas se encar- no rio Paranapanema. Hoje, cessid ade. I remo s p erder regam de corrigir e/ou res- o trecho que corta Itatinga três mil he c tares de áre a taurar ”, afirma ainda. disponibiliza energia para a pro dut iva , o que si g nif i cidade de Botucatu graças à c a um a renúnc i a f is c al de Energia limpa? PCH Distrito do Lobo, mas trez e milhõ es de re ais p or há três outras centrais que ano, com p erd a d a forç a de E quando não são cons- poderão ser construídas em tra balho de s e tenta e c inco truídas usinas hidrelétricas outros trechos do rio, prin- mil homens ano do c amp o nos rios, há a opção pelas PCHS cipalmente na região da para a s c id ades ”, aler ta . (Pequenas Centrais Hidrelé- cidade de Ourinhos. É lá, A revista National tricas). Geralmente, elas são inclusive, que Luiz Carlos Geographic, em sua edição construídas em rios de médio Cavalchuki, técnico admi- especial sobre energia, veie pequeno portes e dispensam nistrativo da Sabesp, coor- culada em junho de 2012, de reservatórios, pois a força dena a ONG Pardo Vivo. aponta, na repor tagem de das águas dos rios seriam suO pr inc ipal ob j e t ivo Fabiane Stefano, que até ficientes para movimentar as do pro j e to é con s c ient i - 2020 deve haver a inauguturbinas. É o caso do Rio Par- z ar a p op ul aç ão a res p e i to ração de 24 usinas, sendo do, que passa por cidades pró- do s problem a s do r io, para que atualmente 73 projetos ximas a Bauru(como Itatinga). que h a j a um a mobil iz aç ão estão em construção, inCom pouco mais de du- para pres er vá- lo. S obre a s cluindo PCHs. São números zentos e sessenta e quatro P C HS , C avalch uk i lembra que demonstram que o poquilômetros de extensão, que el a s n ão traz em ga - tencial hidrelétrico do país ele nasce na cidade de Par- n ho s e conômico s d ire to s anda está muito longe de dinho, atravessando cator- para a comun id ade lo c al: acabar, assim como a luta ze municípios até chegar a “No c a s o d a s P C HS no r io entre ambientalistas e emSalto Grande, onde deságua é um ne go c io n ão um a ne- preendedores das águas.


Rio Tietê

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

O lento curso da recuperação Os anos de descaso com as águas do principal rio paulista já deveriam ser passado Isabel Silva Colaborou: Isabela Romitelli om sua nascente localizada no pequeno município paulista de Salesópolis, a 22 km do mar, o Rio Tietê atravessa o estado de São Paulo no sentido leste - oeste, desaguando no Rio Paraná, na divisa entre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. O Rio Tietê se difere dos outros rios por não desaguar no mar, contrariando os princípios naturais. Isso acontece devido à presença de picos rochosos que impedem a passagem do rio em direção ao litoral, fazendo com que ele siga rumo ao interior do estado. O Tietê possui mais de mil quilômetros de extensão e percorre 56 municípios paulistas, recebendo água de 149 rios e córregos. Entre estes, o Rio Batalha, que abastece a cidade de Bauru. O Rio Tietê nem sempre foi um esgoto a céu aberto. Teve grande importância para o país no século XVIII, quando era utilizado como rota para os bandeirantes, ajudando na fundação de várias cidades. Posteriormente, o rio se tornou tanto um fator importante para o desenvolvimento econômico do estado, sendo utilizado no transporte fluvial, quanto um espaço de lazer para a capital paulista. Atualmente, é difícil imaginar alguém nadando

Foto: Fernando Mafra

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Parte do rio na passagem pela capital paulista. Há muitos anos atrás, o cenário era diferente: o Tietê já foi palco de competições aquáticas

no Rio Tietê, mas relatos e fotografias contam nostalgicamente da época em que o paulistano frequentava os clubes de esportes náuticos. Apenas a partir de 1950, devido ao crescimento industrial e populacional da cidade de São Paulo, os governantes decidiram despejar os dejetos da cidade no rio, utilizando-o como transportador de esgoto além de fonte de produção de energia. A construção das vias marginais contribuiu ainda mais para o aumento da contaminação do rio e o aparecimento de enchentes. O as-

faltamento do solo em suas marginais impede a penetração da água da chuva e toda ela se dirige para o rio, carregando consigo o lixo jogado nas proximidades de seu leito. O acumulo das águas, somado ao lixo, aumenta o nível do Rio Tietê, provocando seu transbordamento e inundações. Hoje, a qualidade da água do Rio Tietê é boa no percurso de Salesópolis até a região de Biritiba – Mirim. Em Suzano, o rio adentra a Região Metropolitana, onde se encontra o trecho de seu trajeto mais poluído, se-

guindo com qualidade péssima até Santana do Parnaíba. Após este trecho o rio volta a melhorar sua qualidade em alguns trechos. Projeto Tietê Em 1992, o governo do Estado de São Paulo e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), iniciaram o Projeto Tietê, o qual desenvolve o trabalho de recuperação das áreas poluídas do rio. O Projeto é realizado em três fases, e atualmente se encontra na fase três do 5


Rio Tietê processo. “Ao longo dos vinte anos de criação do projeto já foram investidos cerca de US$ 3 bilhões”, informa Gustavo Veronesi, coordenador do Projeto “Observando o Tietê” da ONG SOS Mata Atlântica. A terceira fase do Projeto Tietê, iniciada em 2009, visa beneficiar 21 munícipios até 2015, com investimento de US$ 1,05 bilhão, de acordo com Sabesp. Entre as cidades beneficiadas está a cidade de São Paulo, na qual está prevista o aumento da coleta de esgoto de 84% para 87% e de tratamento de 70% para 84%. Carlos Eduardo Carrela, superintendente de projetos especiais da Sabesp e responsável pelo Projeto Tietê, afir-

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ma que o objetivo é resolver o problema de tratamento de esgoto despejado no rio. Entretanto, há outro problema que pode dificultar a sua limpeza: a tendência de que a poluição nas áreas urbanas e os dejetos despejados nas ruas aumentem. Já foram tratados 160 km do percurso poluído do Rio Tietê e, em 2008, o volume de esgoto tratado passou de 24% para 70%. Contudo, é preciso manter a manutenção do tratamento de esgoto nas cidades em que a mancha de poluição já diminuiu. Deve-se considerar, ainda, que apesar do fornecimento da rede de tratamento de esgoto, em algumas regiões, há residências que não

estão ligadas a essas redes, devido ao alto custo necessário para isso. De acordo com o Governo do Estado, para tentar solucionar este problema, surgiu o programa “Se Liga na Rede”, no qual o governo paga integralmente a ligação da rede de esgoto em residências de famílias com renda de até três salários mínimos. Em 2012, o Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckimin, previu que em 2015 o Rio Tietê não teria odores e seriam possíveis passeios de barco. Entretanto, há um ano para a data prevista, muitas discussões ainda cercam a possibilidade de recuperação total do Rio Tietê ao final do projeto. Em contrapartida, o mu-

nicípio de Barra Bonita, no oeste paulista, é um exemplo de resultados concretos do Projeto Tietê. Com a finalização da segunda fase do programa de despoluição, o rio que estava morto na região, distante 260 km da capital, agora já está limpo e disponível para atividades de lazer. “Barra é referencia regional no tratamento do rio, basta comparar com os trechos que passam por São Paulo e outras cidades. Lá o rio é praticamente morto, aqui há até várias espécies de peixes. Isso, além de ser bom para o meio ambiente, também impulsiona a economia local, com a prática da pescaria”, comenta Ana Raquel Mangili, moradora de Barra Bonita. Foto: Daniel Souza Lima

Para quem está acostumado com o Rio Tietê na cidade de São Paulo é dificil imaginá-lo limpo e cheio de vida. Em Barra Bonita, ele é o principal atrativo turístico, sendo possível a navegação e a pescaria 6


Rio Batalha

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

Às margens da cidade, onde as águas se deitam Embora seu curso corra longe de muitos bauruenses, o Rio Batalha tem importância – e história - no abastecimento da cidade Foto: Monique Nascimento

Com anos de esforços, surgem novos retratos das águas do Batalha

Ana Beatriz Ferreira m um lugar afastado do centro de Bauru, próximo à divisa com Piratininga, se tem a impressão de que a vida segue seu curso de forma tranquila, como em vila pequena de interior. Quem vê hoje o Rio Batalha sereno e cercado de mata naquele trecho, não imagina que há 15 anos a imagem era completamente diferente: a de águas assoreadas. Problema comum em rios de cidades grandes e médias, como o Tietê em São Paulo, o assoreamento nada mais é que o acúmulo de lixo no fundo de

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suas águas, responsável por provocar enchentes. No caso do Batalha, o assoreamento decorreu de um processo também frequente, por fatores como má utilização do solo, implantação de monocultura, queimadas, pecuária e, acima de tudo, destruição da mata ciliar. Outro problema é o lançamento de esgoto in natura no rio. Sem estação de tratamento em Bauru, e durante muitos anos na vizinha Piratininga, o Batalha acumulou entulho em suas profundezas. O que se via na década

de 90 era um rio cheio de problemas e um longo caminho de projetos e de reeducação que vinha pela frente. Recuperação do Batalha: as conquistas e os desafios De acordo com dados do Sistema Ambiental Paulista, o Batalha conta com três APAs (áreas de preservação ambiental) no momento: Água Parada, Vargem Alegre e Rio Batalha. Mais do que elas, o trabalho de desassoreamento de suas águas se dá por um fator

elementar: a reeducação. Fundado em 1994, o Instituto Ambiental Vidágua tenta há mais de 18 anos preservar o Batalha. Além disto, participa de ações que envolvem educação ambiental. Com um projeto em andamento, o “Da mobilização à floresta”, os colaboradores do Vidágua dão palestras em escolas e empresas sobre recuperação das matas ciliares nas bacias Tietê-Batalha e Tietê-Jacaré. Auxiliado por recursos do Fehidro, Fundo Estadual de Recursos Hídricos, encon7


Rio Batalha tra, contudo, dificuldades na realização de seu trabalho, como esclareceu a assessora de imprensa da ONG, Renata Takahashi: “As dificuldades na realização dos projetos se devem principalmente a falta de recursos”. Outro fator é lidar com os proprietários de terras das margens. “Muitos proprietários não querem “abrir mão” da área, mesmo que por lei ela tenha que ser preservada. É ignorado que rios e córregos são bens comuns e têm, por garantia legal, a área de vegetação de suas margens definidas como Áreas de Preservação Permanente”, explica Takahashi. Já em 1996, com ideal semelhante, nasceu o Fórum Pró-Batalha. Protetora do rio que lhe dá nome, de sua nascente até a lagoa de captação da Estação de Tratamento de Água, a ONG busca aperfeiçoar, juntamente

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com o DAE, a produção de água para abastecer a cidade. O Fórum tem como uma de suas ações lidar com produtores rurais e já ajudou a plantar mais de 380 mil mudas às margens do Batalha ao longo de 17 anos. Os desafios para o rio “batalhador” são muitos. Mas não faltam iniciativas para a recuperação. Essa batalha é de responsabilidade de toda a cidade, e poderá, num futuro próximo, ampliar a quantidade de água que corre diariamente em direção às casas dos bauruenses. Origens Com 167 quilômetros de extensão cercados por Mata Atlântica e Cerrado, o Rio Batalha nasce na Serra da Jacutinga, em Agudos, e passa por Piratininga, Baur u, Duar tina, Gália, Avaí, Foto: Monique Nascimento

O Batalha percorre 167 quilômetros, cercados por Mata Atlântica e Cerrado, até desaguar no Tietê 8

Reginópolis, Presidente Alves, Pirajuí, Balbinos e Uru, onde deságua no Rio Tietê. “O nome Rio Batalha é devido a um conf lito entre os índios e os bandeirantes”, explica Carmen Baffi, ser vidora da Divisão de Produção de Água no DAE , durante visita ao Centro Ambiental da autarquia. Uma batalha dos dias atuais é manter o nível adequado do rio, de 2,6 metros para a distribuição de água em Bauru, já que a cidade costuma ser marcada por longos períodos sem chuva. Durante a estiagem, faz-se o possível para haver uma estabilização, mas nem sempre ela ocorre, o que leva o município a um problema crônico de falta de água. Em 2013, por exemplo, segundo o Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet), Bauru ficou mais de um mês em estiagem, entre maio e junho. Os problemas fluviais persistem, como reforça Carmen: “Quando você desmata ou queima, acontece o assoreamento”. Com o rio e seus 11 af luentes bastante assoreados - como o Córrego da Vargem Limpa e o Rio Bauru - a mata ciliar, que margeia e protege o seu o curso, e a fauna foram desaparecendo gradativamente. Nos dias atuais, com o auxílio de projetos, ONGs e da Secretaria do Meio Ambiente, a situação passou a mudar. As aves, timidamente, estão voltando a gorjear. E os animais que vivem perto do rio reaparecem aos poucos, como o macaco-prego, o

tucano e algumas espécies de papagaio, segundo o biólogo Anderson Lucindo, que pesquisa a fauna da região ciliar do Batalha. A luta pela preservação do Rio Batalha e pela recuperação de suas margens não é recente. Durante a década de 1980, existiu o Conselho Intermunicipal para Defesa e Preservação da Bacia Hidrográfica do Rio Batalha, que buscava o apoio do governo, proprietários de terra e outros parceiros para a conscientização ambiental e preservação da Bacia do Batalha. Um dos projetos elaborados pelo Conselho foi o “Batalhe pelo Batalha”. Este projeto teve um trabalho de conscientização com os proprietários rurais, para que estes apoiassem o plantio de mudas de árvores nas margens do rio, com o propósito de se recuperar a mata ciliar. O Engenheiro Francisco Monteiro, gerente aposentado da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB, era um dos membros da equipe, e conta que constantemente monitoravam o rio através de medição de oxigênio, acidez e quantidade de matéria orgânica presente em suas águas. A equipe, composta por especialistas de diversas áreas, chegou a percorrer o rio com um barco, conforme conta Monteiro, para que conhecessem o rio, suas margens, a mata ciliar e as espécies animais que ali habitavam. “O projeto era voltado também para a descontaminação e não só para a preservação”, conclui o engenheiro, afirmando que em alguns trechos o esgoto era lançado ao rio sem nenhum tratamento.


Captação

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

De onde vem a água? A água utilizada em casa pode vir de muitos lugares e formas diferentes. Saber de onde ela vem é importante para a conscientização do não desperdício. Marcos Cardinalli ntes de chegar aos consumidores pela torneira, a água passa por um longo e complicado processo. A primeira etapa é a captação da água superficial ou subterrânea, e é importante conhecer isso para uma melhor consciência na utilização deste recurso natural e evitar o seu desperdício. Sendo a água importante para a sobrevivência humana, a sua captação já era realizada pelas mais antigas civilizações, mas com o crescimento e evolução da sociedade, ela se desenvolveu, tornando-se mais eficaz. O modo como a água é coletada depende das condições locais e hidrogeológicas, que interferem nas estruturas construídas para este fim. As águas superficiais são as de mais fácil captação e, por isso, as mais utilizadas para o consumo. No entanto, menos de 5% da água doce do planeta se encontra na superfície, estando o restante armazenado nos aquíferos subterrâneos. De modo geral e tendo como exemplo a cidade de Bauru, funcionários do Departamento de Água e Esgoto (DAE) explicam como funciona a captação de água na cidade.

Foto: Monique Nascimento

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Captação de água superficial Segundo o químico José Brazoloto e o diretor do Serviço de Água Superficial e Tratamento, Olavo Severino Neto, ambos do DAE, o Rio Batalha abastece aproximadamente 40% da cidade

As águas captadas do Rio Batalha garantem grande parte do abastecimento bauruense

de Bauru. “O manancial que abastece a cidade é a do Rio Batalha, então nós temos uma represa no curso do rio, onde a água é captada”, diz Brazoloto. A represa possui uma profundidade de aproximadamente 3,4 metros. O Rio Batalha nasce na Serra da Jacutinga, em Agudos/SP e, de acordo com a Lei Estadual nº 997/76, é classificado como “Classe 2: águas destinadas ao abastecimento doméstico, após tratamento convencional, à irrigação de hortaliças ou plantas frutíferas e à recreação de contato primário”. Depois de represado, sua

água entra na estação de captação por uma caixa de areia que barra parte do material sólido. Conduzida ao poço de sucção, a água recebe um pré-tratamento com dióxido de cloro para oxidação de ferro, manganês e de matéria orgânica. Em seguida, é bombeada até a Estação de Tratamento de Água (ETA), superando um desnível de 140 metros. O poço de sucção conta com quatro bombas, sendo que duas delas funcionam ininterruptamente e a terceira é acionada nos horários de picos de consumo, explicam os entrevistados. De acordo com Brazoloto, estes horários correspondem das

06h às 09h, das 12h às 14h e das 17h às 21h. A quarta bomba é reservada para possíveis imprevistos. O Rio Batalha, segundo o que afirma Olavo, está localizado em uma área de preservação, passando por dentro da mata, e sua nascente está localizada à 18 quilômetros da represa. Deste modo, a água captada do rio é limpa, pois não carrega consigo o lixo da cidade, mas ainda assim é necessário o tratamento químico, pois contém impurezas naturais. Depois de represado, o Rio Batalha segue seu curso natural até desaguar no Rio Tietê. 9


Captação

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Do rio à torneira

Conheça o caminho que a água percorre até chegar ao consumidor TANQUE DE AREIA Decantação da matéria orgânica

RIO BATALHA

PRÉCLORAÇÃO POÇO DE SUCÇÃO

APLICAÇÃO DE CAL, CARVÃO ATIVADO E SULFATO DE ALUMÍNIO

FLOCULADORES

As impurezas formam flocos quando reagem com os produtos químicos

140 METROS DE ADUTORA

CALHA DE PARSHAL Medidor da vazão e misturador dos produtos aplicados

DECANTADORES Os flocos de impureza decantam para o fundo do tanque e a água limpa que está em cima vai para os filtros

RESERVAÇÃO Reservatórios de água distribuídos pela cidade

FILTROS DE AREIA A água é filtrada por várias camadas de areia e pedra

ADIÇÃO DE CLORO E FLÚOR

DISTRIBUIÇÃO

Infográfico: João Pedro Ferreira | Imagens: Monique Nascimento, SAMAE, DAE e Priscila Medeiros/Prefeitura de Bauru 10


Captação

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

Captação de água subterrânea Para a captação de água subterrânea, é necessária a construção de poços, que podem ser rasos ou profundos. Os poços rasos captam água dos lençóis freáticos e geralmente são escavados manualmente, possuindo profundidades de até 20 metros. Já os poços profundos são obras de engenharia para captação de água dos aquíferos, atingindo profundidades de até 2 mil metros. Bauru conta com 34 poços profundos, que captam água principalmente do Aquífero Guarani,

confirma José Brazoloto. Todos os poços são monitorados e abastecem aproximadamente 60% da cidade. Diferente da água superficial, a água captada do subterrâneo não precisa de tratamento. “Água subterrânea é um outro sistema. Há poços profundos onde há tubulações com uma bomba que traz a água do lençol freático para a superfície. Como é natural, não passa por nenhum tratamento com produto químico na sua captação. Recebe apenas o cloro, para fazer a desinfecção, e o flúor, para a prevenção de cárie e para a formação óssea em

crianças e adolescentes. Nós colocamos cloro para eliminar qualquer tipo de contaminação durante todo o seu percurso até às residências.”, explica Brazoloto. “A adição de cloro e flúor são exigências da Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde”, completa. Segundo os entrevistados, a água subterrânea captada é a mesma que a água mineral comprada no mercado, entretanto, mais saudável, por possuir flúor e cloro. “Desperdiçar essa água é como comprar a mineral no mercado e jogar fora”, concordam. “Ao final

do tratamento, tanto a água captada do rio como a captada dos poços possuem a mesma qualidade”, conclui Olavo. Bauru possui ainda muitos poços particulares que captam água subterrânea, principalmente do Aquífero Bauru. Segundo dados do DAE, há mais de 325 poços cadastrados para fiscalização. No ano 2000, foi aprovada a Lei Municipal nº 4553, que permite ao DAE fiscalizar esses poços, exigindo licença de perfuração, acompanhar a vazão e analisar a qualidade da água. Foto: Monique Nascimento

Convivendo durante anos com o desmatamento da mata ciliar e com o mau uso do solo, que levam à erosão, o Rio Batalha sofre com o assoreamento. A represa, que tem uma profundidade de 3,4 metros, é influenciada no nivel de reservação para captação, principalmente nas épocas de estiagem 11


Captação

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Estoque de Chuva A captação e utilização de água da chuva é alternativa sustentável contra o desperdício Marcos Cardinalli Organização Mundial de Saúde, OMS, reconheceu, na quarta edição das Diretrizes para a Qualidade de Água Potável, em 2011, que a captação de água de chuva para uso doméstico e consumo humano é uma realidade para muitas famílias, e que as orientações apropriadas para a captação, armazenamento e consumo são necessárias. Segundo a OMS, a qualidade da água captada varia de acordo com a poluição atmosférica, limpeza da superfície de captação, método de filtração e armazenamento. Embora possa variar, a qualidade geralmente é boa e, nos países em desenvolvimento, será frequentemente igual à da água tratada, fornecida pela rede pública. Para regiões como o Semiárido Brasileiro, coletar a água da chuva é muito importante, devido às longas épocas de seca. Nesse con-

A

texto, muitas ONGs e instituições orientam a população a captar e armazenar água pluvial. Captar água da chuva é lei em Bauru Na cidade de Bauru existe uma lei municipal que obriga novas edificações a construírem reservatórios de águas pluviais. A Lei 6.110, promulgada no dia 25 de agosto de 2011, cria o Programa Municipal de Uso Racional e Reuso de Água em Edificações, que além de obrigar grandes construções a captarem água da chuva, orienta os munícipes na construção de reservatórios e na reutilização da água, incentivando o consumo racional desse importante recurso. O Engenheiro Adalberto Macedo, monitor no Interior Paulista da Sociedade do Sol, instituição sem fins lucrativos sediada no Centro de Tecnologia da USP, conta que além de se gerar economia, a captação da Foto: Monique Nascimento

Captar água da chuva pode ser uma das soluções para o problema das enchentes que ocorrem em Bauru 12

As cisternas auxiliam o armazenamento de água nas regiões onde chove pouco. Além disso, elas cooperam na economia doméstica e empresarial, substituindo a água tratada em alguns fins. água pluvial ajuda a promover a redução dos problemas de enchentes, que são frequentes em Bauru. Macedo explica que quando se retém a água durante o momento da chuva por pelo menos duas horas, evita-se que essa água se acumule nas regiões mais baixas da cidade, onde ocorrem as enchentes.

ção limpar a caixa d’água a cada seis meses”. Macedo conclui ainda que a limpeza das caixas d’água “ainda não é obrigatória no Brasil, mas que em alguns municípios está se utilizando esse procedimento para se prevenir verminoses e outras doenças”.

Construindo uma cisterna

As cisternas não precisam captar apenas água da chuva, mas também a “água-cinza”, gerando economia muito maior e menos impacto ambiental. Mas o que é água-cinza? A Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente, ANAMMA, explica que o conceito de água-cinza é a água utilizada em máquina de lavar, pia e chuveiro, que corresponde de 50 a 80% da que é utilizada e vai para o esgoto. O Programa Municipal de Uso Racional e Reuso de Água em Edificações também abrange o reuso de águas-cinza, mas que em atividades não residenciais, envolverá o tratamento e o monitoramento de sua qualidade. A Lei prevê que “sistemas de reserva e distribuição de águas da chuva e de águas-cinza deverão ser totalmente separados entre si e do sistema da água potável, conforme as normas sanitárias vigentes e as condições técnicas específicas das legislações aplicáveis”.

Qualquer pessoa que se interesse em instalar uma cisterna de água em casa não precisa esperar por uma legislação que torne isso obrigatório. A construção de uma cisterna simples não é complicada. Macedo explica que se direciona, através de calhas, a água da chuva que cai no telhado da casa para um reservatório. É possível utilizar uma simples peneira ou um filtro mais completo para obter uma qualidade melhor da água. “Pode também deixar sem filtragem nenhuma na cisterna, e depois descartar a água do fundo, pois a sujeira irá decantar com o tempo”, esclarece o engenheiro. É necessário, porém, alguns cuidados básicos com a cisterna. “Na própria legislação existe uma indicação que a cada cinco anos se faça uma limpeza na cisterna, assim como deveria ser uma obriga-

Água-cinza? O que é isso?


Economia

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

Brasil perde água por ineficiência operacional Isabel Silva

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Relatório aponta situação preocupante no país e mostra que evitar o desperdício garante lucros

Brasil perde em média 40% de sua oferta de água devido a falhas operacionais nas concessionárias de saneamento do país, aponta o Relatório Manual sobre Contratos de Performance e Eficiência para Empresas de Saneamento do Brasil, realizado pela consultora financeira GO Associados a pedido da International Finance Corporation (IFC), membro do Grupo Banco Mundial, responsável pelos financiamentos ao setor privado. Foram analisadas as 52 maiores empresas brasileiras responsáveis pela captação e distribuição da água. Os Estados do Amapá e Acre apresentam o maior volume de perda de água do Brasil, com um percentual acima de 70%. Já o Distrito Federal, Paraná e Espírito Santo, apresentaram perdas menores que 30%, estando entre as regiões brasileiras com percentuais mais baixos. Apesar do volume de perda ser grande, a média de desperdício no país ainda é menor que metade das médias da América Latina. Porém, a taxa chega a ser quatro vezes maior que a apresentada por países como Alemanha e Japão. O Brasil teria que reduzir seu índice em, pelo menos, 10% para alcançar percentuais de perda semelhante a países desenvolvidos.

As perdas de água são, em geral, causadas por fraldes, falhas operacionais e defeitos na tubulação da rede. O alto custo com energia também causa prejuízos para as empresas de saneamento. Segundo o estudo, se o nível de perda de água caísse 50%, e ocorresse aumento na eficiência energética, os ganhos com o resultado poderiam

chegar a R$ 37 bilhões até 2025. Fernando Marcato, representante da GO Associados, afirma que a redução pode significar uma diminuição dos investimentos necessários em ampliação e captação. Marcato explica que muitas empresas preferem aumentar a capacidade de tratamento de água a evitar as perdas. Foto: Mirna Encinas

O desperdício durante a captação e distribuição de água é baixo na cidade de Bauru, se comparado com outras cidades de mesmo porte no país. De acordo com José Simonetti Neto, assessor de imprensa do Departamento de Água e Esgoto de Bauru (DAE), as perdas na distribuição de água na cidade significam menos de 1% do volume produzido. Os principais problemas na captação e distribuição são causados por vazamentos, devido à baixa qualidade dos equipamentos utilizados. Os conectores dos canos, por exemplo, se rompem usualmente por causa da força da água. “Os custos do investimento na manutenção desses aparelhos são maiores para a população do que para o DAE, porque provocam falta de água nas regiões onde ocorrem as falhas. E não há como fazer uma prevenção dos vazamentos, porque as tubulações são subterrâneas. É melhor esperar vazar e consertar, do que tentar fazer uma prevenção, na qual os custos serão mais altos”, declarou o assessor José Neto. 13


Tecnologia

junho de 2014

Uma mistura que dá certo Incentivar pessoas a inovarem e ao mesmo tempo contribuírem para a preservação do meio ambiente é um dos principais desafios do Brasil Thales Valeriani

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o ano de 1995, Lito Rodriguez criou um produto que lava carro a seco. A cada lavagem, o produto economiza 316 litros de água. Quando interrogado se o que falou mais alto foi a vontade de inovar ou a responsabilidade ambiental, não pensa duas vezes: “Dentre as duas, a vontade de inovar”, afirma. Para Lito, um produto economizar água não basta para ser chamado de ecológico. “Além dos produtos de lavagem a seco, também nos preocupamos com os panos utilizados no processo. Eles são reciclados e viram revestimento de tapeçaria automotiva”, conta. Para a consolidação da sua empresa, as duas maiores dificuldades foram a falta de capital inicial, resolvido com um empréstimo em um banco privado, e o medo de algumas pessoas em riscar o carro ao usar um pano sem água. O biólogo e professor do SESC de Bauru, Guilherme Amaral, lembra que para denominar um produto de ecológico é necessário pensar em toda a sua cadeia produtiva: “quando sua fabricação não polui significativamente a água, o solo e o ar, não incentiva o desmatamento, não usa mão de obra escrava ou infantil e até mesmo quando seus resíduos ou sobras são descartados em locais próprios ou são reutilizados”. Assim como Lito, várias pessoas tentam juntar inovação com preservação ambiental. En14

Divulgação/Dry Wash

O Brasil precisa evoluir muito e estimular a indústria e seu setor produtivo a investir em inovação e pesquisa” Guiilherme Amaral, biólogo.

tretanto, esta não é uma ambição pequena em um país que há poucos anos começou a priorizar os investimentos em inovação e criação de tecnologias. Segundo o site Universia, entre os anos de 2010 e 2011, mais de 50% do dinheiro investido em inovação no Brasil vem de cofres públicos, enquanto em países como a China, Coréia do Sul, Alemanha e outros, cerca de 80% vêm do setor privado. Para o professor Guilherme Amaral, isso mostra que “o Brasil precisa evoluir muito e estimular a indústria e seu setor produtivo a investir em inovação e pesquisa”. Ainda segundo o professor, diminuir os impostos seria uma saída, já que uma carga tributária alta desestimula investimentos.

Segundo o diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e doutor em Desenvolvimento Sustentável, José Mota, uma das principais dificuldades são “os entraves burocráticos - os quais são traduzidos em excesso de papel - como exigência para dar entrada no projeto”. De acordo com o diretor, outra característica é o pouco monitoramento que se tem depois de tanta exigência. Isso faz com que algumas empresas abandonem, aos poucos, o compromisso ambiental, sem perder o “selo verde”. Além da inovação e da renda gerada, as novas tecnologias devem ter reflexos no âmbito social, contribuindo, de alguma forma, para a sociedade.

Porém, se a inovação ainda é um caminho árduo, o seu reflexo no âmbito social é quase nulo. Para Amaral, isso deve-se à pouca divulgação de informação. “Existe uma lacuna muito grande entre pesquisa e sua divulgação, de modo que tais informações e tecnologias possam chegar ao público em geral”, afirma. José Mota lembra que, no inicio, “os projetos precisam definir, claramente, o que desejam atingir do ponto de vista econômico, ambiental e social”. Portanto, desde o começo de um projeto inovador, deve ser calculado a sua influência no âmbito social, bem como a forma que ela ocorrerá.


Economia

Uma Experiência em Jornalismo Ambiental

A privatização evitará a falta d’água? Empresários defendem a privatização dos recursos hídricos para evitar o desperdício de água pela população

Lucas Zanetti núncios constantes lembram da importância da água para todos os seres vivos, e que esta deve ser preservada, devido a falta d’água ser uma realidade e um problema mundial. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), atualmente 40% das pessoas no mundo são afetadas pela falta do recurso, e em 2025 cerca de 1,8 bilhões de pessoas viverão em locais com escassez absoluta de água. No Brasil, segundo dados do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS), em 2011 o acesso à água atingiu 82,4% da população. Entretanto, o índice de perda no processo de tratamento e distribuição chegou a alarmantes 38,8%.

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Com esse desperdício, seria possível abastecer os 17,6% que não possuem água encanada. Como solução para o problema do desperdício, que é um problema mundial, o presidente da Nestlé, Peter Brabeck-Letmathe, defende a privatização dos recursos hídricos, em vídeo na internet. Ele considera que a água deva ser tratada como qualquer outro bem alimentício, regulada pela lei da oferta e da procura. Desta forma, as pessoas sentiriam no bolso e evitariam o desperdício. ‘’Só assim empreenderíamos ações para limitar o consumo excessivo da água, como ocorre no momento’’, afirma. Contudo, de acordo com dados do Fundo das Nações

Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), os cidadãos são os menos culpados em relação ao desperdício da água. Segundo o FAO, 70% do consumo de água doce no mundo é destinado à agricultura, sendo que há desperdício de 50% de toda água usada. As indústrias utilizam 22% e apenas 8% da água é consumida diretamente pelos cidadãos. Além disso, a Nestlé é líder mundial do mercado de águas engarrafadas, segundo a própria empresa. Nos últimos anos, algumas reservas brasileiras foram vendidas à Nestlé, como é caso do Parque das Águas em São Lourenço - MG. A água da cidade é famosa pelas suas propriedades medicinais, que são usadas no tratamento de Ilustração: Mirna Encinas

anemia. Neste local, a empresa é acusada de purificar a água e adicionar sais com sua patente, o que é proibido por constituição. Por esse tipo de atitude das empresas privadas, que colocam o lucro acima de fatores sociais, existem os que são totalmente contrários a privatização. Estes defendem que o governo deve oferecer acesso universal à água, considerando que a água é um patrimônio público. O economista e cientista político Riccardo Petrella, em entrevista concedida ao site do Instituto Humanitas Unisinos, afirma que ‘’a água é um bem essencial e insubstituível à vida, e não se pode, por isso, confiar o poder de decisão a seu respeito a indivíduos privados.’’ O especialista em recursos hídricos, Mauri Pereira defende que a privatização só irá restringir o acesso ao recurso. ‘’Creio ser descaso com os mais desfavorecidos afirmar que a água deve ser mais limitada do que já é pelas características naturais de algumas regiões que não contam com água em quantidade suficiente para as comunidades’’, afirma. Mauri Pereira, explica ainda, que não se deve confundir a privatização da água natural com a privatização dos serviços prestados: ‘’uma coisa é privatizar a água bruta que estão nos rios, lagos e aquíferos, outra é o serviço prestado mediante uma autorização dada pelo Estado para a captação, tratamento e distribuição da água.” 15


Passatempo

junho de 2014

CRUZADINHA

VERTICAL

HORIZONTAL

1. Local onde se encontram armazenadas naturalmente as águas subterrâneas

7. Cidade que é exemplo na recuperação do principal rio paulista

2. Construção que transforma a força das águas em energia elétrica

9. Carga tributária alta que desistimula investimentos na inovação com produtos ecológicos

3. A etapa do tratamento de água onde é medida a vazão e se misturam os produtos utilizados é a calha de...

10. Processo no qual um recurso ou bem passa a pertencer a empresas privadas

4. Sistema que abastece a região da Grande São Paulo 5. Vegetação que protege os rios 6. Principal causa de desperdício de água em Bauru

As respostas você encontra na nossa página no Facebook! Lá você fica sabendo de todas as novidades do Impacto Ambiental! Fique ligado!

7. Rio que abastece a cidade de Bauru

/jornalimpactoambiental

8. Reservatório que armazena água da chuva ou água-cinza

impactoambientaljornal@gmail.com

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