IFG Faz Ciência 3 e 4 - A Mulher na música sertaneja e Financiamento de esporte e lazer

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RE PO R T AGE M 3

A MULHER NA MÚSICA SERTANEJA

RE PO R T AGE M 4

FINANCIAMENTO DE ESPORTE E LAZER

A MULHER NA MÚSICA SERTANEJA

ANÁLISE DE CONTEÚDO DAS LETRAS COMPROVA MACHISMO AO LONGO DO TEMPO E PESQUISA REVELA SENSO CRÍTICO DOS ESTUDANTES

Ouvir música, cantar em alto e bom som, dançar livremente, são práticas do cotidiano aparentemente banais. A música, como forma de expressão cultural, entretanto, pode mostrar coisas essenciais da sociedade em que está inserida. A partir dessa premissa, uma professora e três estudantes do Câmpus Goiânia do Instituto Federal de Goiás (IFG) decidiram se debruçar sobre a música sertaneja e analisar como a mulher é retratada nela.

O caminho percorrido foi longo, mas a professora Lídia Milhomem, doutora encontrar estudantes interessadas no projeto. Já nas conversas iniciais Marília Santana Lima e Isadora Coutinho da Costa, na época alunas do curso técnico integrado de Controle Ambiental, e Géssika Fernandes da Silva, aluna do curso técnico de Instrumento Musical, demonstraram empolgação.

Coube à professora, inicialmente, mostrar como a pesquisa sobre a retratação da mulher na música sertaneja inseria-se que abarca práticas do cotidiano. Com a música sertaneja presente e reverenciada

no estado de Goiás, a pertinência da proposta estava evidente.

O projeto de pesquisa “Do Mato ao Batom Cereja: a evolução e retrocesso do retrato das mulheres nas músicas sertanejas” foi aprovado dentro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação (Pibic-EM), em 2021. Isadora e Géssika projeto como voluntária.

Depois do projeto elaborado, foram três frentes de trabalho. A primeira análise das letras de uma seleção de questionário junto a um grupo de cerca de 120 estudantes do IFG, para aferição da visão deles sobre a música sertaneja.

Mesmo considerando uma diferenciação e o sertanejo universitário, já na pesquisa como desfavoráveis à mulher.

a equipe da IFG partisse do pressuposto que “esse estilo é responsável por disseminar preconceitos evidentes

dentro de suas composições, como o machismo, a apologia à violência contra a mulher, a visão domesticada feminina”.

As pesquisadoras chegaram à compreensão de que “o rebaixamento da imagem da mulher nas músicas sertanejas cantadas por homens segue

inconsciente das relações de poder entre homens e mulheres”.

sertanejo universitário, mas que, nesta última modalidade, a mulher aparece com mais liberdade, alguém sensual, que frequenta festas, que é “fácil” e causa sofrimento para o homem.

“Estudamos muito e cada texto que a gente lia e debatia aumentava o nosso senso crítico. As leituras abriram minha mente. Depois, comecei a analisar as letras das músicas e fui entendendo o real

Santana Lima, atualmente com 20 anos e cursando faculdade de Enfermagem.

Segundo ela, a música sertaneja dissemina o machismo e muitos preconceitos contra mas também aparece sutilmente, indiretamente, como quando coloca a mulher como dependente emocional do homem”, alertou.

Já a professora Lídia Milhomem chama a atenção para o aspecto lúdico da música sertaneja e que leva a maioria a não prestar atenção nas letras, muitas delas machistas e apresentando situações violentas, de relações abusivas.

REBAIXAMENTO E OBJETIFICAÇÃO DA MULHER

Na análise das letras das músicas sertanejas, as pesquisadoras constaram que o machismo está de maneiras diferentes no sertanejo por serem muito emblemáticas.

Na música Franguinho na panela , de Craveiro e Cravinho, lançada no ano 2000, por exemplo, o modelo patriarcal de família, na qual o homem é o provedor e a mulher é a cuidadora, aparece claramente:

“Eu levanto quando bate o sininho da capela e lá vou eu pro roçado, tenho Deus em sentinela. Tem dia que meu almoço é o pão com mortadela, mais lá no meu ranchinho a mulher e os filhinhos têm franguinho na panela.”

As pesquisadoras concluem: “Nesse trecho da canção é perceptível a ideia do homem provedor, a ideia de sacrifício pelo bemestar da família [...] vale analisar que o

na representatividade da vida rural das campo, mas não se sustenta ao representar

feminina, que são excluídas das estatísticas, na agricultura familiar as mulheres dedicam 21,3 horas por dia ao trabalho doméstico

ideia central de que a mulher nasceu para o papel da maternidade.”

Já na canção Maria Chiquinha, lançada em mais tarde cantada pela dupla infantil Sandy

“Que c'ocê foi fazer no mato, Maria Chiquinha?

Que c'ocê foi fazer no mato?

Eu precisava cortar lenha, Genaro, meu bem. Eu precisava cortar lenha.

Quem é que tava lá com você, Maria Chiquinha?

Quem é que tava lá com você?”

E mais, ao analisar outro trecho da letra, as pesquisadoras constataram que há apologia

“Os passarinhos comeram tudo, Genaro, meu bem

Os passarinhos comeram tudo

Então eu vou te cortar a cabeça, Maria Chiquinha

Então eu vou te cortar a cabeça

Que c'ocê vai fazer com o resto, Genaro, meu bem?

Que c'ocê vai fazer com o resto?

O resto? pode deixar que eu aproveito.”

“No ano de 1992, no programa Clube do Bolinha, Sandy & Junior ainda crianças interpretaram a música ao vivo, cuja repercussão foi alta. A composição, mesmo contendo explícita apologia, foi interpretada em teor gentil e amigável pelo visão da mulher domesticada, reclusa ao lar,

impedida de conhecer o mundo afora exceto para a agricultura familiar, não sendo vista

Dando um salto para o sertanejo universitário, o grupo das pesquisadoras do IFG analisou a música Vidinha de balada , interpretada pela dupla Henrique e Juliano, lançada em 2017.

“A gente ficou, o coração gostou não deu pra esquecer. Desculpa a visita, eu só vim te falar

Tô afim de você e se você não tiver ‘cê vai ter que ficar Eu vim acabar com essa sua vidinha de balada.

[...] Vai namorar comigo sim, vai por mim igual nós dois não tem.

Se reclamar ‘cê vai casar também.”

“Observamos que a figura feminina continua sem autonomia de escolha [...] colocada como figura passiva assim como Maria Chiquinha no passado. O verso

abusivos e representa que, mesmo décadas depois, a liberdade feminina ainda é questionada por um homem [...]

embasada necessitam de uma cara-metade e são feitas para outros homens”.

Na canção que deu nome à pesquisa: Batom de Cereja, lançada em 2021 pela dupla Israel de sofrimento para o homem. No trecho:

“[...] Será que eu vou ficar de boa, pegando outra e vendo você ficar com outra pessoa

Não vou não, já dispensei a gata que eu tava [...] [...] Eu vim aqui foi pra beber e passar raiva, Tô solteiro na night, ‘cê’ tá batendo muito mais que um grave Enquanto o som do paredão toca

Cê gasta o seu batom de cereja

Eu bebo, ‘cê beija, eu bebo, ‘cê beija [...]”

FEMINEJO: SERÁ MESMO EMPODERAMENTO?

Um aspecto das mudanças ocorridas na música sertaneja, em especial do sertanejo universitário, não poderia passar despercebido pela pesquisadoras do IFG: o crescimento do número de mulheres cantoras e do sucesso delas junto ao público. Até mesmo o neologismo “feminejo” foi criado para designar a música composta e cantada por mulheres e voltada para o público feminino.

No “feminejo” as mulheres deixam o papel do lar e assumem comportamentos associados ao masculino, como beber e se divertir. A pesquisa cita a música Nem te culpo , que há um empoderamento feminino na forma como a mulher traída lida com a traição e como se liberta da dominação sexual masculina:

“Sua maior frustração não

É eu tá tirando você da minha vida

É saber que me traiu

Só pra alimentar a sua autoestima

Que de alta não tem nada

Você só dá conta de uma madrugada [...]

É, no fundo, lá no fundo

Eu nem te culpo

Você não soube o que fazer com isso tudo

Que eu coloquei de baby doll na sua cama

Eu tive que aprender a me satisfazer sozinha”

SERTANEJO RAIZ X SERTANEJO UNIVERSITÁRIO

Aintimamente ligada ao processo de como marca a viola, instrumento que chegou presentes. Dessa forma, à medida que o interior do Brasil foi sendo ocupado, os povos residentes nestas regiões passaram a ser conhecidos como caipiras e levaram consigo a viola que era tocada como forma

Assim, Goiás se destaca na musicalidade sertaneja por ser um estado pertencente ao interior do Brasil, no qual as atividades pouco tempo atrás e as características desse modo de vida estão presentes na essência goiana até os dias atuais.

O sertanejo começou a sofrer alterações desde a década de 60 devido ao processo de expansão da indústria musical no país.

Contudo, o termo sertanejo universitário que de 2000 tendo como precursores os jovens que saíam do interior para estudar nas faculdades das capitais e levavam consigo a viola, inserindo nesse estilo características da vida urbana juvenil e inserindo futuramente características de outros estilos musicais para tornar as músicas mais dançantes.

A antiga imagem do caipira malvestido, banguela, com chapéu de palha foi superada. As novas duplas usam roupas de grife, cabelo bem aparado e penteado. As mudanças estilísticas têm forte apelo comercial destinado a um público ávido por novidades. Dessa forma o sertanejo universitário ganhou popularidade e reconhecimento midiático

abordando principalmente a vida de solteiro, as baladas e a sensualidade.” (texto do

ESTUDANTES DO IFG TÊM VISÃO CRÍTICA DA MÚSICA SERTANEJA

As mulheres são rebaixadas nas músicas sertanejas. Essa foi a opinião de 51,6% dos estudantes do IFG, que responderam ao questionário da pesquisa “Do mato ao batom cereja: a evolução e retrocesso do retrato das mulheres nas músicas sertanejas”. Já 48,4% acham que as mulheres são exaltadas, quando retratadas nas canções desse gênero musical.

A maioria dos estudantes considera que os temas tratados nas músicas sertanejas são regulares (40%) ou ruins (11,4%). Outros

Os estudantes também informaram se gostam mais de homens ou mulheres cantando música sertaneja: 57,1% responderam

Os questionários foram aplicados nas turmas de Licenciatura em técnicos integrados ao ensino médio em Controle Ambiental, Instrumento Musical , todos do Câmpus Goiânia. E o estudante não

A maioria dos respondentes era do sexo feminino (62,9%), nascida no estado de Goiás (91,4%) e com idade entre 15 e 17 anos (54,3%).

A OPINIÃO DOS RESPONDENTES

TRÊS PERGUNTAS DIRETAS POSSIBILITARAM AOS ESTUDANTES DO IFG OPINAREM SOBRE A MÚSICA SERTANEJA:

VOCÊ ACHA QUE AS MULHERES SÃO EXALTADAS OU REBAIXADAS NAS MÚSICAS SERTANEJAS?

Exaltadas 51,6%

Rebaixadas 48,4%

O QUE VOCÊ ACHA DOS TEMAS

ABORDADOS NAS MÚSICAS SERTANEJAS?

O PERFIL DOS RESPONDENTES

PARTICIPARAM DA PESQUISA ESTUDANTES DO CÂMPUS GOIÂNIA, DOS CURSOS SUPERIORES DE LICENCIATURA EM MÚSICA E EM HISTÓRIA E DOS CURSOS TÉCNICOS EM CONTROLE AMBIENTAL, ELETROTÉCNICA, ELETRÔNICA, INSTRUMENTO MUSICAL, MINERAÇÃO E TELECOMUNICAÇÕES

FAIXA ETÁRIA

54,3%

Entre 15 e 17 anos

37,1%

Entre 17 e 20 anos

8,6%

Abaixo de 15 ou acima de 20 anos

QUAL A SUA NATURALIDADE? 91,4% Goiano 8,6% Outros

MAIS CONHECIMENTO E MUDANÇAS PESSOAIS

As estudantes Isadora Coutinho da Costa e Marília Santana de Lima participaram do projeto de pesquisa “Do mato ao batom cereja: a evolução e retrocesso do retrato das mulheres nas músicas sertanejas” e foram muito impactadas por ele.

Marília mudou seu gosto musical e também alguns de seus hábitos. “Passei a gostar de outro tipo de música e passei a observar mais as falas e os comportamentos das minhas colegas”, conta. Isadora continuou gostando de música sertaneja, mas também adquiriu o hábito de analisar as letras das músicas.

Marília participou do projeto de pesquisa

como aluna e como pessoa. “Participar do projeto foi sair da caixinha. Como aluna, passei a entender a importância

CONHECIMENTO

Isadora, que participou do projeto como bolsista, atualmente cursa o pesquisa lhe proporcionou um salto médio, tive que aprender os aspectos como aprofundar uma temática. Isso me ajudou muito na faculdade”, comenta.

Uma das descobertas de Isadora foi

na música sertaneja: “muitas pessoas pensaram a questão, o que facilitou a

Isadora também teve de apresentar a pesquisa publicamente e considera que falar para o público foi uma “experiência incrível”.

Ela continua gostando do gênero sertanejo, mas adotou a análise crítica das letras como prática corrente. “Às

estou, ouço todas, mas muitas já não

Marília recorda-se também de que, no IFG, os estudantes não gostavam muito do gênero sertanejo. Segundo ela, as músicas mais ouvidas eram pop e rap, com letras que falavam mais de estudos,

curso de Enfermagem, a presença do sertanejo é maior.

“Passei a gostar de outro tipo de música e passei a observar mais as falas e comportamentos das minhas colegas” (Marília Santana de Lima)

“Temos de estudar as práticas do cotidiano. No caso da música sertaneja, em festas, nos bares, todos dançam e não prestam atenção nas letras” (Lídia Milhomem)

aprender os aspectos formais da

aprofundar uma temática. Isso me ajudou muito na faculdade” (Isadora Coutinho da Costa)

EXPANSÃO DA PESQUISA PARA OUTRO GÊNERO MUSICAL

Conhecedora da realidade do estado de Goiás e da força da música sertaneja, a professora Lídia Milhomem continua pesquisando suas repercussões nos comportamentos e na cultura local. O enfoque continua sendo a retratação das mulheres. “Em festas, nos bares todos dançam e não prestam atenção nas letras”, observa.

A falta de criticidade da maioria em relação aos conteúdos das letras não

é uma característica somente dos amantes do gênero sertanejo. Tanto é assim que a professora Lídia abriu outra frente de pesquisa: como a mulher é retratada no funk.

o mundo acadêmico e para a sociedade, ao estudar as práticas do cotidiano.

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EDITAL n° 32/2022-PROPPG, de 27 de setembro de 2022.

FICHA TÉCNICA DA REPORTAGEM 3: “A MULHER NA MÚSICA SERTANEJA”

Texto e Revisão

MARIA JOSÉ BRAGA

Jornalista (Dicom)

ISABELA MAIA MARINHO

Capa e Diagramação

MICHELE JUSSARA BAGESTÃO

Programadora Visual (Dicom)

Revisão

ADRIANA SOUZA CAMPOS - Jornalista (Dicom)

PAOLA NUNES DE SOUZA - Redatora (Dicom)

ESPORTE E LAZER: AFINAL, COMO FUNCIONA O FINANCIAMENTO PÚBLICO NO BRASIL?

PROTAGONISMO DA ESFERA MUNICIPAL É DESTAQUE EM INVESTIGAÇÃO REALIZADA NO IFG

Você já parou para pensar como funciona o financiamento público do esporte e do lazer no Brasil?

Pois essa dúvida foi a responsável por originar no Instituto Federal de Goiás (IFG) uma pesquisa sobre a questão. O responsável é o professor Fernando Henrique Silva Carneiro, do Câmpus Inhumas. O docente, que atualmente é diretor de Ações Sociais da Pró-Reitoria de Extensão, começou a pesquisar o tema em 2014, quando entrou no doutorado na Faculdade de Educação Física, da Universidade de Brasília.

De acordo com Fernando Carneiro, o objetivo da pesquisa, que foi fomentada pelo Câmpus Inhumas do IFG, por meio do Edital nº 18/2023/Gepex/Inhumas, do esporte e lazer pela União, estados, Distrito Federal (DF) e municípios.

O que norteou o trabalho do professor foi a busca pela compreensão das implicações do federalismo do Estado brasileiro e das diferentes regiões do esporte e lazer. Além disso, a

pesquisa também procurou investigar dos estados/DF e dos municípios

pela União, pelos estados/DF e pelos pesquisa buscou analisar como se dá o

pelo Estado brasileiro nas diferentes

A coleta de dados, que teve como foco os anos de 2013 a 2022, foi realizada por meio do Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (Siconfi) e no Siga Brasil, que é um sistema criado pela Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle e pela Secretaria de Tecnologia da Informação do Senado (Prodasen), para permitir acesso amplo e facilitado aos dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) e a outras bases de dados sobre planos e orçamentos públicos de maneira integrada.

PESQUISA ABRANGENTE: A IMPORTÂNCIA DA DIMENSÃO DO FINANCIAMENTO PÚBLICO NO BRASIL

Opesquisador do IFG, Fernando Carneiro, afirma que faltam no Brasil investigações que façam uma análise abrangente sobre o financiamento do esporte e lazer, avaliando a participação de cada um dos entes federados em conjunto: “ter essa dimensão de totalidade é importante, pois possibilita avaliar como o pacto federativo

brasileiro reverbera nas políticas públicas; neste caso específico, as de esporte e lazer”,

De acordo com o professor, há uma concentração de pesquisas no âmbito da esfera federal: “é possível perceber que nos últimos anos tem ocorrido um aumento orçamentário municipal do esporte e lazer. Além disso, têm se ampliado os e lazer no Brasil”. Contudo, como Fernando

pontua, “essas pesquisas abordam, em sua grande maioria, apenas uma das esferas da federação. Dessa forma, é possível caracterizar que a marca dos estudos sobre é a parcialidade, isto é, a análise de apenas uma das esferas federativas”.

Fernando destaca que, “como o diferente nas três esferas federativas, isso acaba fazendo com que as investigações se concentrem em uma unidade federativa. No entanto, isso limita um olhar de conjunto brasileiro em suas diferentes esferas, ou seja, faltam pesquisas que façam uma análise abrangente sobre a totalidade do

a participação de cada um dos entes federados em conjunto”.

Pensando na importância de mapear esses dados, Fernando ressaltou que o objetivo da pesquisa era que a análise “possibilitasse conferir se de alguma

maneira o lazer pelos diferentes entes federados tem possibilitado a mitigação de desigualdades regionais”. Isso porque, segundo Fernando, com isso, “seria possível ter clareza sobre esse desvelamento da realidade e fazer dele um instrumento de luta política para que as políticas públicas de esporte e lazer materializem esses direitos”.

O PROTAGONISMO DOS MUNICÍPIOS

Falando sobre os resultados da pesquisa, Fernando destacou que o protagonismo dos municípios brasileiros no financiamento do esporte e lazer foi o que mais o surpreendeu: “a centralidade das pesquisas tem sido analisar o financiamento federal do esporte e lazer, contudo a União é o ente federado com menos gasto com a área. Os municípios foram o ente federado que mais gastaram com esporte e lazer, tanto em volume de recurso, quanto em percentual do seu orçamento público total.”

Para entender como foram organizados os gastos por ente federado, Fernando levou em consideração o gráfico a seguir. Nele, é possível ver que, em 2013, o financiamento dos estados/DF era maior. Nos anos seguintes, contudo, o maior gasto foi dos municípios.

De acordo com Fernando Carneiro, “mais de 90% dos municípios direcionaram recursos orçamentários anualmente para o esporte e lazer, demonstrando uma grande adesão por parte deles à implementação de políticas da área."

Segundo o professor, "os estados/DF, todos direcionaram recursos para esporte e lazer e também foram o segundo ente federado que mais gastou com a área. A União foi o ente federado que menos gasto teve com esporte e lazer, embora seja aquele que teve mais

recursos para serem gastos com as políticas públicas”.

possível ver como tem sido materializado o orçamento da Função Desporto e Lazer (FDL) pelos diferentes entes federados do Estado brasileiro de 2013 a 2022.

Como destaca o docente, “os dados da pesquisa revelam que os diferentes entes federados variaram significativamente o gasto com FDL no período; os municípios foram o ente federativo que mais investiu em FDL, além de mais de 90% daqueles terem aderido a destinação de recurso financeiro para a FDL; todos os estados/ Distrito Federal direcionaram recursos para a FDL no período, mas foram o segundo ente federado que mais gastou; e a União foi a que teve menor investimento”.

Municípios Estados/DF União

Fernando observa que, ao longo do período analisado, “os recursos da União, dos estados/ DF e dos municípios para FDL oscilaram consideravelmente, houve uma tendência de queda nos recursos direcionados a FDL de 2013 até 2021, com retorno do crescimento em 2022.

Segundo o docente, "essa oscilação do investimento com a FDL pelos diferentes entes federados tem sido demonstrada por diferentes estudos e indicam a descontinuidade das políticas para o setor no período analisado”.

PESQUISADORES E ESTUDANTES

Ao longo da investigação sobre o financiamento público dos esportes e do lazer no Brasil, foram convidados diferentes pesquisadores de outras instituições. Fernando Mascarenhas

Lino Castellani Filho (Universidade de do Esporte) foram alguns deles. Além desses pesquisadores, estudantes do ensino médio do IFG também participaram da iniciativa e puderam ter a chance de fazer uma pesquisa científica pela primeira vez.

Fernando destacou que a participação dos estudantes foi um ponto muito importante da investigação realizada no IFG: “a pesquisa impactou diretamente a formação dos estudantes e de egressos do IFG e possibilitou que eles tivessem aproximações com o fazer de um projeto, a coleta e a análise de dados, até a sistematização de dados da pesquisa

PRIMEIRA PESQUISA: EXPERIÊNCIA ÚNICA

Foi por meio do Programa Institucional de ao ensino médio (Pibic-EM), com o projeto intitulado “A política pública de esporte e lazer estadual e municipal em Goiás: análise do orçamento público de 2021 a 2022”,

que o egresso do Curso Técnico Integrado em Informática para Internet do Câmpus Inhumas, Davi Ramos, teve a chance de fazer

estudante, que atualmente está no segundo período do curso de graduação em Educação Física da Universidade Federal de Goiás, falou um pouco sobre a época da pesquisa e da importância que ela teve em sua vida.

de Educação Física antes mesmo de iniciar a pesquisa: “eu escolhi fazer a pesquisa com o professor Fernando por conta dessa

Ao mencionar a experiência da iniciação

projeto de pesquisa e fez expandir a minha maneira de pensar sobre o estudo em si e a respeito de como projetos como esse

Ainda sobre a época da pesquisa, Davi conta:

conforto, como palestrar para uma sala lotada, onde tinham mestres e doutores me ouvindo. Isso me fez crescer como pessoa e serviu para direcionar a área de estudo que eu seguiria posteriormente na faculdade”.

Davi destacou também a importância da bolsa ponto muito importante que devo ressaltar é durante a pesquisa me ajudou bastante”.

Discorrendo sobre a importância desse fomento, Davi salientou:

“pesquisadores e estudantes de um modo geral precisam desse incentivo monetário e precisam ser estimulados pela própria Instituição de Ensino para realizar suas pesquisas científicas e terem essa experiência única.”

O estudante também chamou atenção para a importância da pesquisa na sua vida mais preparada para o mercado de trabalho e também para a faculdade”.

Davi, que está no início da graduação, já está esperando uma nova oportunidade na eu tenha a possibilidade de fazer iniciação

PUBLICAÇÕES E NOVA PESQUISA

A pesquisa do professor Fernando, que foi na publicação de três artigos. Além disso, “há a perspectiva de que novas publicações sejam realizadas com a continuidade do desenvolvimento das pesquisas”.

Como explica o docente, um novo projeto foi submetido pelo professor e terá como foco os aspectos da atuação estatal no

Egresso do Curso Técnico Integrado em Informática para Internet do Câmpus Inhumas

do esporte no Brasil: aspectos da atuação estatal” seja realizado de 2024 a 2027.

Davi Ramos

QUER SABER MAIS SOBRE ESSA PESQUISA? ACESSE OS ARTIGOS PUBLICADOS:

CASTELLANI FILHO, Lino. O desigual das políticas públicas de esporte e lazer pelas diferentes regiões brasileiras. Revista Brasileira de Estudos do Lazer, v. 8, p. 1-17, 2021.

PINTOS, Ana Elenara. Financiamento do lazer no Brasil pelos diferentes entes federados. Revista Licere, v. 24, p. 160-181, 2021.

CARNEIRO, Fernando Henrique Silva. A política de esporte e lazer em Goiás: análise do 2018. Pensar a Prática (online), v. 25, p. 1-25, 2022.

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FICHA TÉCNICA DA REPORTAGEM

“FINANCIAMENTO DE ESPORTE E LAZER”

TEXTO E REVISÃO

PAOLA NUNES DE SOUZA - Redatora (Dicom)

REVISÃO

MARIA JOSÉ BRAGA - Jornalista (Dicom)

ADRIANA SOUZA CAMPOS - Jornalista (Dicom)

PROJETO GRÁFICO

ISABELA MAIA MARINHO

CAPA E DIAGRAMAÇÃO

MICHELE JUSSARA BAGESTÃO

Programadora Visual (Dicom)

IMAGENS ILUSTRATIVAS: FREEPIK, ADOBE FIREFLY E BANCO DE IMAGENS DO IFG.

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