11-04-11 Indústria&Comércio

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Nacional Curitiba, segunda-feira, 11 de abril de 2011 | B3 | Indústria&Comércio livros@induscom.com.br

IMPOSTO

Para lojistas, IOF maior não muda a pressão dos preços Entidade diz que inflação é decorrente do aumento do consumo Daniel Lima

A

s novas medidas anunciadas pelo governo para restringir o acesso ao crédito terão um forte impacto no comércio varejista, mas não vão resolver o problema da inflação, acredita o presidente da Confederação Nacional dos Diretores Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior. Segundo ele, se a justificativa for apenas o controle de preços, a medida será inócua. Pellizzaro Junior destacou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março (0,79%), divulgado na quinta-feira (07/04), foi mais pressionado por

Emprego na indústria cresce 0,5% Cristiane Ribeiro

Depois de ficar praticamente estável nos últimos seis meses de 2010, o nível de emprego na indústria brasileira cresceu 0,5% em fevereiro na comparação com janeiro. Em relação a fevereiro de 2010, o número de contratações no setor teve alta de 2,9%, o 13º resultado positivo consecutivo nesse indicador. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes) de fevereiro, divulgada na sexta-feira (08/04) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda na comparação com fevereiro do ano passado, a pesquisa aponta que houve aumento de contratações em 13 dos 14 locais investigados.

que a pressão inflacionária é decorrente do sucesso da própria política econômica do governo, que aumentou o consumo. Além disso, com a definição do salário mínimo em R$ 545, mais R$ 40 bilhões serão injetados na economia. “Isso sim vai gerar pressão inflacionária. Não tenho uma bola de cristal para saber qual a medida mais adequada, mas tenho a convicção de que o aumento de IOF como medida restritiva de crédito não vai segurar isso”, advertiu. O ministro da Fazenda justificou a elevação do IOF como uma forma de restringir o consumo, que aumentou por causa do maior aces-

so ao crédito. Para o presidente da CNDL, os setores que sentirão mais o impacto da medida são os de automóveis e eletrodomésticos de grande porte. Ele disse, no entanto, que o aumento do imposto não terá impacto sobre a inflação nas vendas dos setores de alimentação, vestuário e calçados. Pellizaro Junior orienta o consumidor a calcular bem o impacto das compras no orçamento. “Na verdade, ele vai ter que dar uma segurada. Vai ter que avaliar e procurar prazos menores para poder pagar menos juros e menos impostos. Na verdade, para o consumidor, o IOF tem o mesmo impacto dos juros”, disse.

Governo federal prepara programa de qualificação de mão de obra

Inflação mantém alta e registra 0,89%

to aumentou muito nos últimos anos. Para o ministro, eles ainda não surtiram o resultado esperado pois partiram de um patamar muito baixo. Em palestra durante seminário sobre o futuro da economia nacional, em São Paulo, Mantega ressaltou ainda que a falta de mão de obra qualificada é um efeito colateral do crescimento econômico do país. Ele disse que esse problema é melhor do que o do desemprego, enfrentado pelo Brasil anos atrás. Sobre a inflação, Mantega afirmou que o governo continuará tomando medidas para conter a alta dos preços e a queda do dólar.

O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) teve alta de 0,89%, na primeira prévia de abril, o que significa um avanço de 0,18 ponto percentual sobre o resultado apurado no fechamento de março (0,71%). Essa foi a quinta elevação seguida e foi puxada pelos alimentos cujos preços aumentaram em média 1,50% ante 0,98%. As hortaliças e os legumes, que já vinham pressionando a taxa, ficaram 8,86% mais caros. No encerramento de março, esses produtos tinham subido 7,03%. Outro destaque foi o grupo das carnes bovinas que continuam em queda (-0,66%), mas em nível menos acentuado do que na medição passada.

produtos e serviços “não afetos” à restrição de crédito, como alimentação, transporte e aluguel. “Não acredito que isso vá servir como uma maneira de brecar essa pressão inflacionária que está acontecendo”, enfatizou. Na quinta à noite, em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que, a partir de sextafeira (08/04), a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para operações de crédito de pessoa física passaria de 1,5% para 3% ao ano, como forma de tentar frear a inflação. O decreto com a elevação foi publicado no Diário Oficial da União de sexta. Pellizzaro Junior destacou

Vinicius Konchinski

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse na sexta-feira (08/04) que o governo federal está preparando um programa de formação profissional. Segundo ele, o programa de qualificação de trabalhadores vai ser anunciado nas próximas semanas. Segundo o ministro, a falta de mão de obra qualificada é um dos entraves da economia do país. Ele disse que o governo federal espera minimizar o problema investindo em formação universitária e também em ensino profissionalizante. Mantega afirmou também que esse tipo de investimen-

Marli Moreira

LIVROS

DE NEGÓCIOS Isabel F. Furini

RESENHA: O espelho e a miragem. Em 1996, o jovem historiador Marcelo Saldanha Sutil defendeu sua tese de mestrado intitulada O espelho e a miragem, que tratava de Ecletismo, Moradia e Modernidade na Curitiba do início do século XX. O assunto escolhido foi considerado ousado, pois um historiador falava de arquitetura – fato pouco comum. Marcelo Saldanha Sutil atuou durante muito tempo na Fundação Cultural de Curitiba. Esse trabalho lhe proporcionou ferramentas tanto de ordem metodológica, quanto de ordem conceitual para abordar esse difícil assunto. A arquitetura que aparece em sua obra não é aquela oficialesca elaborada a partir de uma História da Arquitetura, que se imagina disciplina autônoma. O livro revela uma história viva que, além de trazer nomes de arquitetos como Ernesto Guaita, Augusto Huebel, ou Carlos Thaty, permite entender as mudanças da arquitetura em Curitiba na virada entre os séculos XIX e XX. O Espelho e a Miragem (Travessa dos editores, 168 páginas) conta múltiplas histórias. Surgem no livro várias visões da cidade. A Curitiba de casas baixas, de telhas goivas, com janelas de cores sombrias que as destacavam desagradavelmente, e a Curitiba que acompanha as mudanças arquitetônicas do mundo.

CRÔNICA LÍRICA: SAUDADE Chuva intensa. Volto a Curitiba depois de 30 anos. Os relógios pararam no tempo. Meu coração se espalha pelas ruas e pula sobre os edifícios modernos procurando o passado. O passado morreu. Só ficaram lembranças. Meu coração persistente, achatado, esticado, dilacerado, busca as pessoas que conheci, a cidade que foi minha... Procuro até meu próprio rosto no espelho. O espelho mostra a verdade: os cabelos brancos. Cabelos não mentem, podem ser pintados, mas voltam a crescer e a mostrar o passo do tempo. Tempo rápido, vagaroso, intenso, morno, indeciso. Tempo que cresce com as árvores e decresce com os prédios que envelhecem. Tempo que se esgota a si mesmo, que avança sem pressa, porém que é impossível deter. Meu coração de homem aventureiro estica seu olho vermelho pelas praças: Tiradentes, Osório, Rui Barbosa. Espreita nos shopping e nos cafés inaugurados há pouco tempo e se reencontra no Largo da Ordem e no Passeio Público. Tenho 51 anos, nasci nesta cidade num mês de setembro e também chovia. A chuva de Curitiba lava as casas, limpa as ruas, purifica as almas, grita nos telhados, ri espalhando-se pelos vidros dos carros. É uma chuva sapeca, como meus anos de criança. Já se foram os anos das alegrias simples. Sinto-me velho, acho que tenho mais anos que a cidade. Onde está Taisha, meu grande amor? Onde está Taisha com seus olhos de amêndoas orientais e seu olhar tranqüilo de japonês sábio que olha o monte Fuji? Onde está minha linda namoradinha filha de brasileira e japonês, que estudava no Belas Artes e sonhava com renovar a pintura moderna? Uma manhã, enquanto pintava uma tela do Relógio das Flores, disse: – Roberto... Gosto de Renoir, gosto de Monet, gosto de Picasso, mas acho que posso ser igual a qualquer deles, igual a quem eu quiser... Fez uma pausa. – Até posso ser igual a mim mesma! – exclamou deixando de lado o pincel. Colocou as mãos na cintura e levantou a cabeça de forma arrogante, mas com um sorriso sapeca para mostrar que era brincadeira. Menina de coração de mel e roupa preta, nunca te esqueci. Teu riso iluminava as cores de teus quadros. Nunca esqueci tua atitude numa exposição de um pintor questionado – pois com seu modernismo chocava a moral provinciana da Curitiba dos anos 70. Você, num gesto de desafio, abriu a bolsa preta, pegou o batom vermelho e escreveu em português: “Exposição para loucos”. Eu gostei. Assinou Taisha em caracteres japoneses. Era essa mistura de Oriente e Ocidente que fazia de você uma flor exótica e delicada. Taisha, teus olhos orientais sempre me seguiram pelo mundo afora. Estiveram diante de mim em Paris observando a torre Eiffel, descobriram comigo os mistérios celtas em Stonehenge, contemplaram o ocaso em Machu Picchu. Teus olhos negros, orientais, navegaram comigo pelos oceanos Atlântico e Pacífico. Doe a saudade. Onde estará minha menina sensível e rebelde? Minha flor de cerejeira. Sento-me sob uma árvore nas ruínas de São Francisco. Abro minha mala de viagem, pego uma folha de papel e com lápis de cores, desenho o relógio das Flores com o encanto de teu sorriso. Isabel Furini é escritora e palestrante. Autora de O Livro do Escritor, a venda nas livrarias Cultura Online, Curitiba, JM, FNAC e Chain.


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