Folha da Rua Larga Ed.54

Page 4

4 folha da rua larga

novembro – dezembro de 2015

história baú da rua larga

Paula Brito: pioneiro da imprensa livre no Brasil A tipografia nacional, a Sociedade Petalógica e o livro como difusor de ideias Reprodução

Uma livraria que misturava livros, fumo de rolo, porcas, parafusos e remédios no Centro do Rio de Janeiro era ponto de encontro de intelectuais. Ali, no ano de 1840, Paula Brito fundou a Sociedade Petalógica, cujo objetivo era promover o estudo da mentira, da lorota, da “peta”. Romancistas como Joaquim Manuel de Macedo e Teixeira de Souza, artistas como Araújo Porto Alegre e João Caetano e compositores como Francisco Manuel da Silva, se reuniam com o tipógrafo Paula Brito para tecer um aprofundamento das causas da mentira e como ela influenciava a sociedade. Acreditavam também que o fornecimento de mentiras, ditas como verdades, desmoralizariam os mentirosos de plantão. O escritor Machado de Assis foi um de seus mais ilustres frequentadores, e, em 1855, a Tipografia de Paula Brito publicou seus poemas Dona Patronilha, Ela e A palmeira na revista Marmota fluminense. O cronista Machado de Assis era grande defensor da Petalógica, dizendo, sempre que podia, que se enganavam aqueles que pensavam ser a sociedade uma brincadeira, um colóquio familiar entre amigos. Segundo ele, a seriedade na maior parte do tempo era a tônica das reuniões. Francisco de Paula Brito, nascido na Rua do Piolho, hoje Rua da Carioca, no Centro do Rio, em 2 de dezembro de 1809, um ano depois da chegada de D. João VI com a Corte Portuguesa, se ocupou de diversas funções: foi ajudante de farmácia, tipógrafo da Tipografia Nacional e trabalhou no Jornal do Commercio como diretor das pren-

Francisco de Paula Brito Reprodução

Fac-símile da edição antiga do jornal O homem de cor

sas, redator, tradutor e cronista. Trabalhador incansável, em 1831, iniciou seu negócio num pequeno estabelecimento que vendia papéis, livros e chá. Dois anos depois, já possuía duas tipografias: a Typographia Fluminense na Rua da Constituição, nº 51, e a “Imparcial”, no nº 44. Sua tipografia se engajou no movimento político discutindo as questões raciais, e Paula Brito não se furtou do compromisso de levar para as prensas obras como O mulato e o jornal O Homem de Cor. A elite, políticos, artistas e intelectuais se reuniam na livraria de Paula Brito, onde fervilhavam ideias abolicionistas e protestos contra as mazelas do governo. O negócio prosperou e, em 1850, suas tipografias possuíam seis impressoras manuais e uma mecânica, e as litografias eram feitas pelo parisiense Louis Therier. O tipógrafo pioneiro e grande incentivador da literatura nacional criou também a Typographia Dous de Dezembro, e D. Pedro II se tornou um dos acionistas, pela grande variedade de assuntos e materiais técnicos. Publicou em suas casas tipográficas mais de 350 obras, de grande diversidade: publicações médicas, poesias, romances e dramas. Num ambiente de grandes transformações, desde a vinda da família real para o Brasil, o mulato pobre ingressou na efervescência da vida cultural do Rio e encontrou seu lugar no meio de livros, tintas e papéis, desde os 15 anos, por forte influência do avô, que trabalhara com Mestre Valentim. Com o fim da censura em 1821, a imprensa toma novo rumo, e Paula Brito

inovou ao publicar o primeiro jornal dedicado à mulher, A mulher do Simplício ou A Fluminense Exaltada, que circulou até 1846. Monarquista ferrenho e amigo de José Bonifácio, sua vida foi dedicada à promoção cultural do povo, à abolição da escravatura e à eliminação do preconceito racial. Também foi poeta e contista. O Jornal do Commercio de 1839 publicou dois de seus contos: O enjeitado e A mãe-irmã. Traduziu autores como Frederic Soilié, Alexandre Dumas, Emile Silvestre e Cretineau July. Em 15 de dezembro de 1861, morreu em sua residência no Campo de Santana, e seu cortejo fúnebre foi um dos maiores já presenciados na Corte. Seus amigos intelectuais, músicos e artistas compareceram para prestar uma última homenagem, e A Marmota publicou um agradecimento de um sobrinho seu: “Basta! a gratidão é como o calor vital do sangue que gira em nossas veias, inocula-se no coração e só se extingue quando o corpo já não existe! Morreste, mas nós vos seremos gratos até os últimos instantes de nossa existência; morrestes, mas em cada um de vossos feitos, em cada uma de vossas ações, sentimos reviver o vosso nome sempre respeitado, assim como os raios precursores da luz penetram em toda a parte da terra...! E ela vos seja leve.”

aloysio clemente breves pesquisador de história soubreves@yahoo.com.br

Entregamos em domicílio no seu escritório. Aceitamos todos os tickets e cartões de crédito. Faturamos para empresa.

Ferragens, louças, tintas, utensílios domésticos e muito mais.

Planeje sua construção ou reforma e conte com a gente!

Rua Camerino, 28 - Saúde Tels.: (21) 2263-2833 / 2253-8008

De seg. a sáb. de 6h as 19h, domingos das 18h30 as 13h.

Mercadinho Pai D’égua Comestíveis Ltda. Rua Sacadura Cabral, 95 • Tel.: (21)2263-4778 / 2283-2705


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.