Folha da Rua Larga Ed.53

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19 folha da rua larga

setembro – outubro de 2015

cidade

A importância histórica da Vila Operária da Gamboa Conjunto habitacional é exemplo de arquitetura brasileira moderna Reprodução

O lançamento, pela Prefeitura do Rio de Janeiro, de um Plano de Habitação de Interesse Social para a Região Portuária, destinado a atender famílias na faixa de renda entre um e dois salários mínimos, é uma proposta que traz à luz a importância patrimonial da Vila Operária da Gamboa, construída no início dos anos 20 na Rua Barão da Gamboa, nos números pares que vão de 150 a 160, no bairro Santo Cristo. A partir de 1920, os artistas e intelectuais estavam mais que prontos para romper com os cânones criativos do passado. E a oportunidade de celebrar os 100 anos da independência política do país surgia aos olhos de todos como a melhor maneira de provar, que uma outra independência, a cultural, já podia também ser conquistada. No campo da arquitetura, esboçou-se um movimento moderno por excelência, na linha racionalista, lógica e essencialmente mecanicista, preconizada pelo arquiteto francês Le Corbusier, que considerava qualquer residência como uma “máquina de morar”. Seus conceitos e seus escritos ganharam prestígio no Brasil e fundamentaram a corrente moderna da arquitetura brasileira. As casas começaram a

Reprodução

Vila Operária da Gamboa: projeto de Lúcio Costa e Gregori Warchavchik construída em 1933 Reprodução

A vila após 50 anos, já bastante deteriorada

se geometrizar, divididas em espaços funcionais e equipamentos úteis. Na esteira desse processo, o arquiteto brasi-

leiro Lúcio Costa, trabalhando junto com o arquiteto ucraniano Gregori Warchavchik, formado na Itália, projetaram a

segunda vila operária do país, que foi construída em 1933 em Santo Cristo. Uma proposta de habitação multifamiliar e de

interesse social, que foi tombada pela Secretaria Extraordinária de Promoção, Defesa, Desenvolvimento e Revitalização do Patrimônio e da Memória Histórico Cultural da Cidade do Rio de Janeiro (Sedrepach), através do Decreto 6057/86 de 23 de agosto de 1986. O projeto de Costa e Warchavchik é bastante racionalista, pois cada casa foi projetada como um quadrado dividido em quatro cômodos iguais e intercomunicantes.Warchavchik já expressava suas preocupações com a qualidade de vida das camadas populares, através da imprensa, como neste texto datado de 1928: “O que se está fazendo agora, em arquitetura, é experiência conscienciosa e metódica. O ideal dos arquitetos modernos, bem como dos urbanistas e dos sociólogos, que não esquecem que estão vivendo no século XX, é conseguir a diretriz prática para orientar a fabricação de casas em grande escala, a fim de proporcionar, com um mínimo de preço, um máximo de conforto, principalmente às classes menos abastadas. Tal diretriz não foi encontrada ainda; mas as experiências provam e convencem que ela não está longe de ser uma realidade generosa em consequências úteis”. Nos anos 80, o Projeto

Sagas propôs uma nova legislação que preserva o uso residencial e o patrimônio arquitetônico e cultural dos bairros Saúde, Gamboa e Santo Cristo na Zona Portuária, classificando a Vila como uma edificação com interesse à preservação e fazendo o tombamento municipal provisório. O tombamento definitivo do imóvel efetuou-se em 1986. A despeito do tombamento, a Vila se deteriorou, tendo passado apenas por reformas feitas pelos seus moradores. De acordo com as novas legislações cariocas para edificações, ainda faltam algumas adaptações para garantir habitabilidade e segurança aos residentes. O que se espera é que a preservação deste bem patrimonial seja feita com ampla participação comunitária, evitando os malefícios da especulação, da espetacularização e da gentrificação. Em poucas palavras, a Vila Operária da Gamboa precisa de um projeto de conservação e reapropriação da residência moderna pelos seus usuários de modo sustentável.

da redação redacao@folhadarualarga.com.br


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