4 folha da rua larga
julho – agosto de 2015
história baú da rua larga
Sinhô: a irreverência e o carisma do Rei do Samba A biografia de um músico vaidoso, conquistador e boêmio Reprodução
Com o título de “Sinhô, o Rei do Samba, já não canta mais”, o jornal Correio da Manhã de agosto de 1930 anunciou a morte do genial sambista José Barbosa da Silva, mais conhecido como Sinhô. Morreu numa tarde linda, sobre o mar, embalado pelas ondas na barca da Cantareira vindo de Niterói, no dia 4 de agosto. Antes de atracar no Cais Pharoux, da Praça XV, a hemoptise decorrente da tuberculose o levou. O compositor, pianista e flautista nasceu na casa de nº 90 da Rua Riachuelo, no Centro do Rio de Janeiro. Filho do pintor de paredes de botequins e clubes dançantes, Ernesto Barbosa da Silva e de Graciliana Silva, Sinhô se apaixonou, aos 17 anos, pela portuguesa Henriqueta Ferreira que, apesar de casada, não criou empecilho para que vivessem juntos. Durval, Odalis e Ida foram os filhos deste relacionamento, que durou pouco. Henriqueta faleceu em 1914 e Sinhô ficou viúvo com apenas 26 anos. O sambista que compunha marchas para as casas de espetáculos da época, como Kananga do Japão, Flor dos Mares e Zuavos, deixou uma mística em torno de seu nome. O título de “Rei do Samba”, que a princípio deveria ser de Donga, João da Baiana, Pixinguinha ou Heitor dos Prazeres, lhe caiu como uma luva, apesar dos inúmeros críticos dessa homenagem. A fama de vaidoso, sentimental, conquistador e boêmio, além de vestir-se com apuro, não o impedia de afirmar sua condição de caboclo. Mulherengo, teve muitos outros amores: Cecília, uma pianista da Casa Bethoven, que foi sua grande incentivadora; Carmen, uma mercadora do amor; e Nair, apelidada de Francesa, com quem viveu 10 anos. Dizem alguns que, após sua morte, Francesa vendeu seu inestimável violão de madrepérola presenteado pela Viúva Guerreiro, e ateou fogo ao seu arquivo de músicas inéditas e fotografias. Na sua curta existência, Sinhô foi estafe-
Sinhô não perdia a roda de samba da Tia Ciata Reprodução
O sambista em caricatura de Calixto: capa da partitura musical da música Casino-Maxixe
ta dos Correios e Telégrafos, mas as idas às rodas de samba eram em maior número que a entrega de cartas. O dinheiro curto, gasto em noitadas, não lhe permitiu deixar fortuna. No dia de seu enterro, André Vasseur e amigos arrecadaram três contos de réis para que baixasse no Cemitério São Francisco Xavier. O poeta Manuel Bandeira escreveu uma crônica sobre o velório e o cortejo até sua morada definitiva, onde amigos, admiradores, malandros, macumbeiros, soldados, prostitutas, seresteiros e chorões do Catumbi e da Cidade Nova, baianas vendedoras de doces, artistas de teatro e músicos, puderam prantear a perda do amigo. Foi inimitável na irreverência, em canções satíricas e políticas, compondo até mesmo músicas regionais como o Sonho gaúcho, na qual ele fala das cavalgadas, da garoa e de saudades do Rio Grande do Sul. O Diário da Noite de 7 de agosto de 1930 tratou da vida sentimental de Sinhô. Escreveu o articulista que, mesmo com o aspecto de boêmio impertinente, havia em Sinhô um sentimentalismo exagerado, talvez um sentimento religioso profundo, uma fé bem sincera, que estava explícita no seu grande sucesso, Jura: “Jura, jura, jura, pelo Senhor, jura, pela imagem da Santa Cruz, do Redentor, para ter valor a sua jura”. Também era vingativo e não perdoava quem lhe fizesse uma desfeita. Através das letras de seus sambas atacava o adversário, como no duelo com Pixinguinha: “Um sou eu / o outro eu sei quem é / ele sofreu / por usar colarinho em pé”. De outra feita, investiu contra Freire Júnior, por ter feito uma alusão jocosa ao fato de ter nascido no Catumbi. Compôs então Cabeça de promessa, que foi grande sucesso no Carnaval. A fama de brigão se espalhou: “Samba é como passarinho / é de quem pegar”, dizia Sinhô, quando contestado nas suas composições.
Sua ironia e sátira iam longe. Em Burro de carga, carga de burro, dizia: “Deus fez o homem e disse num sussurro / Tu serás burro de carga e a mulher carga do burro”. E para completar o quadro, temos a admiração do poeta Bandeira que traduziu em sua crônica a carioquice de Sinhô: “Que língua desgraçada! Que vaidade! Mas a gente não podia deixar de gostar dele desde logo, pelo menos os que são sensíveis ao sabor da qualidade carioca. O que há de mais povo e de mais carioca tinha em Sinhô a sua personificação mais típica, mais genuína e mais profunda”. Nunca abandonou as rodas de malandros e o samba, mas soube cultivar grandes amigos, como José do Patrocínio, Luiz Peixoto, Villa Lobos, Manuel Bandeira, Mário Reis, Augusto Vasseur e Álvaro Moreira. Certa vez, foi solicitado para tocar uma peça erudita ao piano. Segundo Almirante, sambista e radialista, contemporâneo de Sinhô, o “Rei do Samba” era incapaz de ler uma nota musical. Respondeu para a insistente senhora que não poderia atender seu pedido, pois realmente não se dava com o autor. Dizem alguns que, na marchinha Fala baixo, quando se refere à Rolinha, estava alfinetando o presidente Arthur Bernardes, que governou com o chicote na mão, impondo estado de sítio à nação. Por conta disso, Sinhô, sumiu por uns tempos do Rio de Janeiro. Em 1952, a vida e obra de Sinhô foram tema de uma cinebiografia, com direção de Luiz de Barros e produção de Carmen Santos, estrelado por Bené Nunes, Zé Trindade e Elizete Cardoso. Uma homenagem póstuma ao famoso “Rei do Samba”.
aloysio clemente breves pesquisador de história soubreves@yahoo.com.br
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