4 folha da rua larga
maio – junho de 2014
história baú da rua larga
Café, omelete, livros e panamás no Centro do Rio Apesar do “progresso”, estabelecimentos tradicionais resistem na Rua Larga Divulgação
No quarteirão que se inicia após o muro do Colégio Pedro II e segue até a Rua dos Andradas, encontra-se um belo conjunto remanescente de sobrados antigos da Rua Larga. O estado de conservação é razoável e o passante pode observar as cantarias e gradis de ferro que compõem alguns dos imóveis. Assim é a Avenida Marechal Floriano nos dias atuais. Um burburinho sonoro de gentes, máquinas e automóveis. São apitos, buzinas, gritos, sirenes e o som altíssimo de britadeira. Entretanto, se o transeunte se abstiver da barulheira e ativar outros sentidos poderá se surpreender. Do outro lado da histórica rua, na esquina da Uruguaiana, está a centenária Casa Paladino. O ambiente é pequeno para o comércio de mercearia e bar, mas é acolhedor e simpático. Fantásticas omeletes e sanduíches, ótimas sardinhas portuguesas e um bom chope, tudo servido por garçons diligentes e bem humorados. Omelete! Ah! Um prato simples que, segundo alguns, é de origem persa e foi adaptado ao paladar francês. Alguns ovos, ervas, ou presunto e temos um banquete mag-
Com mais de um século de história, a Casa Paladino oferece aos fregueses omeletes e sanduíches que valem por uma refeição Divulgação
A Elizart Livros, fundada em 1972 por Manoel Mattos, tem rica oferta de obras antigas e raras para seus clientes
nífico, acompanhado de um bom vinho e rodelas finas de pão. Terminada a refeição, irresistível é se deparar, ao sair do Paladino, com o delicioso cheiro de café moído que vem da casa ao lado, Café Capital. Para os amantes da bebida, a cafeteria é ponto certo para o aperitivo. De quebra, ainda se pode levar o precioso grão moído na hora e saboreá-lo em casa. No número 63 está a Eli-
zart Livros, fundada em 1972, por Manoel Mattos, que propicia ao consumidor de livros antigos e raros uma ótima opção. Para os iniciantes, existem pilhas de gravuras antigas, fotografias raras e coleções de revistas do século passado. Para o sol e a chuva, não nos esqueçamos de completar o passeio e comprar um bom chapéu ou um guarda-chuva. Na Chapelaria Porto, logo ali na Rua Senador Pompeu, 134, o acessório é fabricado, desde 1880, com máquinas de costura e formas de madeiras usadas há pelo menos 120 anos. Hoje, Vanusa, filha do Sr. Almir Romão Damaso, que fabricou chapéus por mais de 60 anos, administra o local. A técnica e o apuro artesanal continuam inigualáveis. Sugestão: numa cidade solar como a nossa, o uso de chapéus panamás deveria ser obrigatório. Costumo dizer que o Centro de uma cidade, por sua agitação e variedade de acontecimentos, é a melhor visita que um turista pode fazer. Nele tudo acontece, pois é possível estar ao mesmo tempo ocorrendo um incêndio, um assalto, uma passeata, negócios, um namoro,
uma inundação ou um papo de esquina. Múltiplas manifestações da natureza e demonstrações humanas boas ou ruins. A Rua Larga perdeu suas coberturas de ferro e zinco que acompanhavam grande parte de suas calçadas. O tempo e a falta de manutenção se encarregaram de retirá-las. Para muitos, o remédio aplicado se chama “progresso”. E, por falar em remédio, recentemente estive na Aldeia Sapukai, em Angra dos Reis, que é um atrativo cultural importante da região da Costa Verde. O cacique João, com mais de 100 anos, solenemente afirmou: “Quando o índio está doente, vai ao mato, colhe a planta e faz a infusão. Reza e toma quando quiser. Fica curado. Remédio de branco, só na hora certa, e às vezes não cura”. O Rhum Chreosotado, que nossos avós e belos tipos faceiros tomavam, desapareceu. Biotônicos à parte, esperamos todos que as obras do alcaide transformem o Centro do Rio de Janeiro em um lugar prazeroso e feliz, usando do remédio certo, na hora certa.
aloysio clemente breves soubreves@yahoo.com.br