Folha da Rua Larga Ed.18

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Divulgação

Amaga inaugura sede na Sacadura Cabral

História da escravidão brasileira escondida embaixo da própria casa

Associação de Moradores da Gamboa reúne vizinhança, líderes comunitários e novo subprefeito.

Merced Guimarães revela como a família lidou com a descoberta de um cemitério de pretos novos debaixo da própria residência, na Rua Pedro Ernesto.

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folha da rua larga RIO DE JANEIRO | FEVEREIRO DE 2010

cidade

Lava-pés de Pixinguinha na Travessa do Ouvidor A Livraria da Travessa promoveu lava-pés da estátua de Pixinguinha e debate sobre cultura no Centro. A proposta foi estimular maior integração com a praça, frequentada outrora pelo mestre da MPB, e onde funcionou a Academia Brasileira de Letras.

Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 18 ANO III

Bloco da Rua Larga abre alas do carnaval 2010 na Avenida

Sacha Leite

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lazer

Divulgue-se e siga os amigos no Twitter Os números mostram que o microblog é cada vez mais utilizado pelos estabelecimentos para divulgar suas atividades e ações diárias. Felipe Neto, autor do blog Controle Remoto, comenta sobre as possibilidades de uso da ferramenta web. página 15

gastronomia

Bistrô do Beco pede passagem página 14

Os pré-carnavalescos Bloco da Rua Larga e É Pequeno, Mas Vai Crescer esquentaram a Avenida Marechal Floriano com trio elétrico, lindas sambistas, concursos de marchinhas e de musa do carnaval carioca. Saiba mais sobre a folia que esquentou a região página 16 Publius Vergilius

entrevista

A maior protetora dos blocos do Rio de Janeiro Rita Fernandes, presidente da Associação Independente de Blocos (Sebastiana) comenta sobre a origem do carnaval de rua carioca e sua importância como patrimônio imaterial da humanidade. A liga, que protege e divulga 12 blocos do Rio, possui regulamento, características em comum e é fechada, mas estimula o surgimento de novas associações. página 5


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nossa rua

Se essa Rua fosse minha

cartas dos leitores Caos no cruzamento

Sacha Leite

“Criaria soluções para organizar o trânsito, que está caótico. No quesito segurança, aumentaria o número de policiais e patrulhamento na área. E com relação à limpeza urbana, conferiria como evitar alagamentos e bueiros entupidos” Marco Aurélio da Silva Inspetor conferente

Sacha Leite

“Verificaria o que está tombado e o que não está. Criaria projetos de lei para obrigar as pessoas a cuidar de suas propriedades e respectivas calçadas. O patrimônio histórico conservado atrai turistas e fortalece mais o comércio” Sandra Helena Vendedora

Sacha Leite

“Eu reveria a questão das galerias pluviais e redes de esgoto, pois, nos dias de chuva, as pessoas ficam ilhadas, sem poder se locomover. Isso aqui fica uma área fétida, não combina com as tradições culturais e históricas da Rua Larga” Luiz Fernando Pinto Martins Analista de recursos

folha da rua larga Conselho Editorial - André Figueiredo, Carlos Pousa, Francis Miszputen, João Carlos Ventura, Mário Margutti, Mozart Vitor Serra Direção Executiva - Fernando Portella Editora e Jornalista Responsável - Sacha Leite Colaboradores - Ana Carolina Portella, André G. Melo, Carolina Calvente Ribeiro, Fábio Nin, Juliana Costa, Karina Martin, Miguel Sá, Publius Vergilius, Rodrigo Brisolla, Teresa Speridião

Projeto gráfico - Henrique Pontual e Adriana Lins Designer assistente - Jade Mariane e Mariana Valente Diagramação - Suzy Terra Revisão Tipográfica - Raquel Terra Produção Gráfica - Paulo Batista dos Santos Impressão - Mávi Artes Gráficas Ltda. Contato comercial - Juliana Costa Tiragem desta edição: 5.000 exemplares Anúncios - comercial@folhadarualarga.com.br

Redação do jornal Rua São Bento, 9 - 1º andar - Centro Rio de Janeiro RJ - CEP 20090-010 - Tel.: (21) 2233-3690 www.folhadarualarga.com.br redacao@folhadarualarga.com.br

Todos os dias, nos horários de fim de expediente, o cruzamento das ruas Camerino e Marechal Floriano fica uma loucura. Os motoristas que vêm da Rua Camerino não respeitam o cruzamento e fecham a Avenida Marechal Floriano nos dois sentidos. Sem um guarda de trânsito para coibir essa ação, o problema não será solucionado. O desrespeito é total, principalmente da parte dos motoristas de ônibus. Agora fica a pergunta: como podemos sediar as Olimpíadas se nossa comunidade não tem educação? Natália Resino de Freitas da Costa

A crise da água no Centro I A crise da água na Saúde e Gamboa completa mais um triste dia. Com a Cedae mais uma vez não tendo cumprido o que havia sido informado ao telefone (que o abastecimento seria normalizado finalmente), os moradores da Ladeira do Livramento completaram dias sem abastecimento regular de água, enquanto os moradores da Rua do Monte completaram o sexto dia sem abastecimento. Isso é um absurdo, somado ao fato de que água limpa escorre livremente pelos paralelepípedos da ladeira. O local onde os técnicos da Cedae costumam fechar o abastecimento da localidade, situado na esquina da Ladeira do Livramento com a Rua do Monte, está cheio de água e sujeira (já que o local não tem uma tampa para proteger o registro dos danos causados pela chuva e afins), impossibilitando que se enxergue o registro e, enquanto a Cedae continua

negando o que todos os moradores já presenciaram (técnicos fechando o abastecimento de água local), a água continua sendo desperdiçada por vazamentos na rua e a população continua sofrendo com a falta de abastecimento deixando crianças, doentes e idosos em uma situação precária. José Roberto Medeiros

A crise da água no Centro II Há mais de uma semana, os moradores da Rua do Riachuelo e adjacências não têm água, e, quando ligam para a Cedae, são informados que o abastecimento está normal. Mariana Magro Cerqueira

Chafariz desregulado Trabalho no Centro e, há algumas semanas, notei que religaram o chafariz da Praça da Candelária. Após meses sendo utilizado como banheiro por moradores de rua, suas águas estão desreguladas e os jatos ultrapassam a borda do chafariz, molhando os passantes. Não bastasse isso, o vento ainda espalha as gotículas pela praça toda, bem similar ao “cuca fresca” da praia, porém com um cheirinho especialmente nojento. É curioso observar as manobras que todos fazem para não passar pela água e também ver os corajosos que atravessam sendo atingidos. Bianca Menezes Moura Cruz

leitor@folhadarualarga.com.br


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Associação de Moradores da Gamboa inaugura sede Moradores e amigos da Gamboa, Centro, Saúde e Santo Cristo já têm onde se reunir No dia 19 de janeiro, foi o bairro estaria abandonado inaugurada a sede da Associa- por 49 anos, sem o cuidado ção de Moradores e Amigos do poder público, e agora teda Gamboa (Amaga). O gru- ria chegado o momento da repo já estava formado desde aproximação: “Aqui era onde 2003, mas não possuía um es- ficava o Moinho Inglês, o Porpaço físico para receber a vizi- to e muito comércio. Houve nhança e suas reivindicações. uma evasão muito grande por Segundo os organizadores, o aqui, e hoje muitos moradores objetivo da instituição está em abandonaram a Gamboa, que, representar os interesses dos atualmente, deve comportar moradores da Zona Portuá- entre 10 e 15 mil habitantes”, ria e comerciantes locais. “É analisa o estivador, nascido preciso que a comunidade, os e criado na Rua Conselheiro empresários e o poder público Zaccarias. Segundo o representante da estejam juntos nessa vitória da Gamboa”, disse o presidente Comunicação Social da entiEduardo de Souza Pedro, o dade, Gabriel Catarino RodriPapu. O evento contou com a gues, os principais objetivos presença do vigário paroquial da Amaga são os seguintes: 1) promover Jacob, da paa integração róquia da Saparticipativa grada Famíentre os podelia, da Rua do res públicos e Livramento, a iniciativa de crianças privada, 2) do projeto gerar desenJardineiros volvimento do Bairro, resocioeconôalizado pela mico na Zona ONG Viva Portuária, 3) Rio, e do Garantir a subprefeito preservação do Centro do e conservaRio, Thiago ção do acerBarcellos. vo histórico De acordo Eduardo Papu, e cultural, 4) com o presipresidente da Amaga criar mecadente Eduarnismos para a do de Souza conscientizaPedro, havia um elo partido entre os mo- ção da importância do resgate radores e a prefeitura, que foi da cidadania e 5) defender e suprido com a inauguração da apoiar os interesses dos assosede da Amaga: “A comuni- ciados da Amaga no bairro da dade vai para cima da associa- Gamboa. Gabriel Catarino é ção, que entra em contato com bancário aposentado e autor a prefeitura”, sintetiza Papu. do blog Amaga Rio (amagaAinda segundo o presidente, rio.blogspot.com).

Sacha Leite

Padre Jacob discursa e benze a sede da Amaga, na Rua Sacadura Cabral Sacha Leite

“A comunidade vai para cima da Associação, que entra em contato com a prefeitura”

O subprefeito do Centro, Thiago Barcellos, recebe homenagem de Eduardo Papu

jo sorte e sucesso para os moradores”, incentivou. Na mesma ocasião, o subprefeito foi agraciado com uma placa da Amaga: “Esta é a minha primeira homenagem neste novo cargo”, revelou Thiago. Dona Rosinha da Saúde, conhecida como Dona Prefeitinha, também demonstrou satisfação: “Sempre que tínhamos que fazer alguma solicitação, reivindicação, reclamação, ou buscar ajuda, ficava difícil. Não tinha computador para, por exemplo, ajudar a gente a fazer o imposto de renda”, lembra Dona Prefeitinha, alegre com a inauguração. Ela conta que costuma interagir com o bairro: “Limpo porta de hospital, a minha calçada, a minha rua, o jardim, arrumo o canteiro em frente ao Hospital dos Servidores... O pé de Pata de

Na inauguração, o subprefeito do Centro, Thiago Barcellos disse que estava nervoso já que se tratava da primeira vez em que falaria

em público desde que foi transferido da Barra da Tijuca para o Centro: “Quem dita as demandas são vocês”, provocou Thiago, “Dese-

TB: Chamei todos os músicos de rua aqui. Dividi-os em grupos de pintura, música, escultura e estátua. Tem uns que são turistas... Vamos privilegiar os que têm comprometimento com a área ou bairro. Vamos fazer uma espécie de pedestal, fundar um corredor das artes e, uma vez por mês, promover um evento com os artistas de rua. Além disso, pretendemos fazer um

mapinha estilizado para divulgar os pontos onde podem ser encontrados estes, aproximadamente, 100 artistas de rua. Vamos definir os pontos autorizados e os artistas trabalharão em parceria com a prefeitura, funcionando como síndicos.

TB: Tem que ter um horário fixo para os donos de restaurantes colocarem o lixo. Esse lixo extraordinário é recolhido por empresas especializadas.

FRL: Terá alguma mudança na política de limpeza urbana do Centro?

TB: A nossa ação é muito primária com relação à segurança. Concentramos em

Vaca, em frente ao hospital, fui eu que plantei”, se orgulha Rosinha. O evento contou ainda com café da manhã comunitário, homilia e bênção do padre Jacob, além da presença de dezenas de representantes da vizinhança gamboense. No entanto, o calor estava intenso e os aparelhos de ar-condicionado não funcionavam, gerando um ambiente muito quente e abafado. Outro ponto crítico observado na nova sede por um dos habitantes da comunidade foi a ausência de ferramentas de acesso a portadores de deficiência, um exemplo disso é o fato de que o representante de Comunicação Social e um dos líderes da Amaga, Gabriel Catarino, que é cadeirante, não entrou no espaço durante a cerimônia de abertura. Em meados de dezembro do ano passado, Thiago Barcellos, de 29 anos, deixou seu gabinete na Barra da Tijuca para atender as demandas do Centro do Rio, que abrange os bairros de Benfica, Caju, São Cristóvão, Rio Comprido, Estácio, Cidade Nova, Centro, Glória, Santa Teresa, e Zona Portuária (Saúde, Gamboa e Santo Cristo). O jovem subprefeito afirmou que está buscando o máximo de informações sobre o Centro, um dos lugares mais densos de história do município. Quando questionado pela Folha da Rua Larga sobre a construção de novos prédios na região, respondeu: “Tudo o que é novo eu sou a favor”.

entrevista FRL: Qual a diferença entre a Barra da Tijuca e o Centro, em termos de demanda? TB: No Centro, as pessoas usam. Não é a casa das pessoas, é “só” lugar de trabalho, então não se dá tanta importância ao cuidado. Na Barra, os moradores ligavam direto para o meu celular. Aqui é diferente, a dinâmica é outra.

Quem se importa com o Centro do Rio são as associações de moradores e os polos empresariais. Aqui temos problema de carga e descarga e características mais de “dia de semana” do que na Barra. FRL: A prefeitura vai realizar processo de catalogação e apoio aos artistas de rua, conforme anunciado?

FRL: Há alguma nova ação prevista para a segurança?

ações como poda de árvores e iluminação. Uma rua mais iluminada é mais segura. Em junho ou julho, vamos aumentar o efetivo da guarda municipal, garantindo mais subsídio ao setor.

sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br


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boca no trombone

Cliques Rua Larga Sacha Leite

Ave Maria Ave Maria, Santa Rita de Cássia, Rua Larga, cheia de graça nos casarios dos seus sobrados, que se debruçam sobre uma multidão de sessenta mil fiéis trabalhadores que passam todos os dias pelo seu corpo malcuidado de buracos e esgoto a céu aberto. Apita o trem na Leopoldina, ergue a Bandeira Nacional no Palácio Duque de Caxias. É mês de carnaval! Ave Maria cheia de graça, o Senhor está conosco nesta esperança de revitalização da Rua Larga, neste sonho de uma maior consciência, de uma grande paciência e espera, até o dia em que as pessoas acordem por descobrir que só juntas podem mudar os contextos sociais. Rezemos pelas vítimas do Haiti e pelas vítimas dos ais daqui. Glória a vós, Senhor! Bendita sois vós entre as mulheres, bendita mãe de todos os comerciantes, funcionários, moradores, passantes do cotidiano. Mãe Larga de afeto, querida senhora, berço de presidentes no Itamaraty de outrora. Parte o bloco do Valongo, observatório da alegria e aquece o bloco da Rua Larga, liderado pelo Milton San Román Maçã Pera, que assumiu o abacaxi de unir consciências para montagem do Polo da Rua Larga. Sai o bloco dos alunos do Pedro II, batucando em cadernos com a cara da Xuxa, seguindo seus caminhos para o futuro. Lá vão eles fantasiados de uniforme, como se o presente fosse apenas uma Sapucaí, um espiral, papel pautado, caneta BIC e um coração desenhado na primeira página com o nome dele e dela. O resto de folhas brancas a gente escreve amanhã. Bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus – esteja conosco, peço-Lhe

a lucidez, proteja-nos do mau-olhado dos Arrudas, das sarnas dos senadores, das impunidades deste tempo “Lulático”, das leis descumpridas e das burocracias infindáveis. Acordai, Senhor, as pessoas neste ano eleitoral, de Copa do Mundo, onde a “Cozinha do Mundo” – só Deus sabe em que estado está. Avatar! Evitai encontrar a Dilma na Serra. Evitem os coliformes fecais, passem protetor, não peguem sol, fiquem branquelos de olhos azuis porque o mundo mudou. Proteja-se no ar-condicionado em 48 prestações, deitado no berço esplêndido da televisão da sala e encha a cara perto de casa. Ao beber, não dirija, siga os Escravos da Mauá, cante, dance, amanhã, depois do carnaval, vai dar Bola Preta e tudo vai melhorar. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por todos nós que temos um carinho especial por esta Zona Portuária, meretrícia desde outrora, entre Vargas presidente, hoje avenida, e o cais dos navios que chegam apinhados de dólares para a festa do carnaval, embora o caos da violência que ainda perdura na Cidade Maravilhosa ao calor de 42º de aquecimento global. Rogai, finalmente, por nós, pecadores, por nossas omissões, pelo medo de lutar por tudo que está errado, agora e até a hora da nossa morte. Amém! Nota: Segundo a índia tupinambá Lívia Carioca Cocar Pena Amarela (a cor de pele mais linda da cidade): “O Brasil é o único país do mundo que tem o nome de uma árvore e um povo deitado à sua sombra”. Aproveitem! Mas cuidado com os raios.

gabriel provocador gabriel@folhadarualarga.com.br

Detalhes como este marcaram a nova proposta de estética da Folha da Rua Larga, inaugurada em dezembro do ano passado. A luminária estilo Rio Antigo, ainda presente em ruas transversais à Avenida Marechal Floriano, oferece à região uma lembrança de outros tempos, enquanto elementos do século XXI se associam, fazendo o casamento perfeito com a modernidade. Sacha Leite

Manoel Mattos Filho, dono da livraria Elizart, lê um dos mais de seis mil títulos da livraria. A loja está há 38 anos na antiga Rua Larga. Já o livreiro frequenta a região há mais tempo: foi aluno da escola Rivadávia Correia e é ex-morador da Zona Portuária. A Elizart abriga coleção ilustrada do La Fontaine e 1ª edição do livro A semana, de Machado de Assis.


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entrevista

Uma década de folia com Sebastiana Associação une principais blocos do Rio, resgata carnaval de rua e discute políticas culturais Publius Vergilius

Um bloco de rua, no conceito da Sebastiana, é um tipo de cortejo carnavalesco em que pessoas de todas as idades seguem cantando e dançando ao som de um samba e no ritmo da bateria, por um trajeto previamente definido. Totalmente livres, os blocos têm suas características individuais, sua bandeira, suas cores, sua temática, sua camisa. Mas não exigem, em hipótese alguma, que os foliões vistam sua camisa ou qualquer outra fantasia para desfilar. Para os integrantes da Sebastiana, os blocos de rua do Rio precisam manter as características originais do carnaval da cidade: democracia, participação popular e de todos, ausência de cordas e áreas VIP para foliões, abadás ou exigência de fantasias. Rita Fernandes, presidente da Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, fala a Folha da Rua Larga sobre a importância dos blocos de carnaval para a cultura nacional. FRL - A Sebastiana representa os blocos da Zona Sul, Centro e Santa Teresa. Em que contexto surgiu a associação? Surgiu em 2000 para reivindicar demandas junto ao poder público nas questões de trânsito e segurança enfrentadas pelos blocos. A ditadura bem que tentou calar o samba que de marginalizado passou a estar presente em todas as classes sociais e mídias. O Rio de Janeiro foi um dos locais de maior luta e resistência à ditadura. Os blocos resistiram também. O primeiro a ser criado, em 1965, foi a Banda de Ipanema idealizada por Albino Pinheiro. Nos anos 80, durante o período de abertura que marcou o fim

cravos, que faz com que a região tenha agora especial atenção da prefeitura e dos próprios moradores, que veem sua área revitalizada através do movimento cultural espontâneo provocado pelo bloco. FRL - Qual a maior carência observada por você, no carnaval de rua carioca?

Desfile do bloco Gigantes da Lira no carnaval 2009

do regime autoritário, outros blocos surgiram, como Simpatia É Quase Amor, Suvaco do Cristo, Bloco de Segunda e Barbas. A partir de 2000, os blocos cariocas têm a maior popularidade de sua história. Doze dos mais tradicionais blocos do Rio se associaram e, em 2000, nasceu a Sebastiana – Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Unindo forças, os ensaios já fazem parte do calendário pré-carnavalesco da cidade. FRL - A liga está aberta para novos blocos se inscreverem? A associação é fechada, mas estimulamos a criação de novas associações. FRL - Há alguma diferença ou peculiaridade entre os blocos que brincam na Zona Sul e os que desfilam no Centro do Rio? Não, a natureza dos blocos é exatamente a mesma.

FRL – Qual é a origem histórica do carnaval de rua carioca? Os primeiros registros de blocos licenciados pela polícia no Rio de Janeiro datam de 1889. Alguns deles: Grupo Carnavalesco São Cristóvão, Bumba meu Boi, Estrela da Mocidade, Corações de Ouro, Recreio dos Inocentes, Um Grupo de Máscaras, Novo Clube Terpsícoro, Guarani, Piratas do Amor, Bondengó, Zé Pereira, Lanceiros, Guaranis da Cidade Nova, Prazer da Providência, Teimosos do Catete, Prazer do Livramento, Filhos de Satã e Crianças de Família. Na década de 60, surgiram Cacique de Ramos, Bafo da Onça e outros tantos que reuniam milhares de cariocas fantasiados, ao som de sambas curtos e fáceis. FRL - A seu ver, o carnaval de rua tem participação no processo de revitalização do Centro do Rio e Zona Portuária? Caso sim, de que forma? Acho que sim, como de outras áreas da cidade tam-

bém. O bloco Escravos da Mauá, por exemplo, foi responsável pela revitalização da região do Largo da Prainha e criou estreita relação com os moradores e comunidade do Morro da Conceição. O Largo da Prainha é ocupado, pelo menos uma vez por mês, pela roda de samba do Es-

A maior carência era quanto à infraestrutura, mas parece que, a partir deste ano, os problemas serão reduzidos com maior participação da prefeitura. De tudo, a organização do trânsito era o mais urgente. FRL – Em sua opinião, quais são os personagens essenciais do carnaval de rua? Quais elementos não podem faltar? O ingrediente mais importante dos blocos de carnaval do Rio não está em nada material. O que envolve mais de 10, 20, 30 mil pessoas da cidade e do exterior que acompanham

Blocos que compõem a Sebastiana Bloco da Ansiedade (Laranjeiras) Bloco do Barbas (Botafogo) Bloco das Carmelitas (Santa Teresa) Bloco de Segunda (Botafogo) Bloco Virtual (Ipanema) Escravos da Mauá (Centro) Gigantes da Lira (Laranjeiras) Imprensa Que Eu Gamo (Laranjeiras) Meu Bem,Volto Já! (Leme) Que Merda é Essa? (Ipanema) Simpatia é Quase Amor (Ipanema) Suvaco do Cristo (Jardim Botânico) O que é comum entre os componentes • Bateria com cerca de 50 componentes fixos • Bandeira / estandarte • Porta-bandeira e mestre-sala • Música amplificada por um carro de som • Camiseta temática, ano a ano, com ilustração ou charge • Um samba autoral, que muda ano a ano • Ausência de cordas e áreas VIP: livre para qualquer folião

os blocos é a irreverência e a alegria do povo carioca. Sem cordas de isolamento e sem a exigência de compra de fantasias e camisetas, brinca quem quiser, como quiser e com quem quiser. Hoje, o Rio tem mais de 500 blocos de rua, nos mais diversos bairros da cidade. Vai atrás quem é feliz e quer viver. FRL - Quais foram os principais frutos do ciclo dos debates realizado em maio do ano passado, no IAB? Um novo olhar para o carnaval de rua, que agora está mais valorizado como patrimônio da cidade, a participação efetiva do poder público, prefeitura e estado, nas ações de infraestrutura do carnaval, e a possibilidade de diálogo da sociedade civil e organizadores de blocos com os órgãos do estado. FRL - Haverá algum desdobramento desse evento? Em 2010, será realizada mais uma edição do “Desenrolando a serpentina” depois do carnaval, em maio. FRL - Na Bahia, é comum cobrar caro pelo abadá, mas aqui no Rio é diferente. Qual é a especificidade da cultura carioca no preparo e desfile dos blocos? Os blocos desfilam com dinheiro de patrocínios ou mesmo com dinheiro da venda de camisetas e livros de ouro, passados entre comerciantes locais. Os blocos do Rio não cobram e não vão cobrar abadás. Não é da natureza do nosso carnaval

da redação redacao@folhadarualarga.com.br


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opinião

Carnaval na rua, uma necessidade Publius Vergilius

Renovar para ressignificar a história

Mandamentos da casa, inscritos em placa de madeira

Bloco dos Barbas: há 25 anos marcando presença no carnaval carioca

Quando eu era criança, lá pelos anos 1970, o carnaval de rua dessa velha cidade andava em baixa. Não se falava muito da folia – exceção feita ao desfile das escolas – naquele longínquo tempo em que não existia Praça da Apoteose, nem Globeleza. Era comum também pegar a estrada e curtir o feriado prolongado, turbinado pelos nossos arraigados hábitos festivos, que, ano após ano, esticam o período momesco para muito além dos regulamentares quatro dias. Pois bem, acho que por isso tudo, e por ter sido adolescente no período do auge do Rock Brasil – um movimento, que também virou uma grife, e que durante bom tempo dominou a mídia – não me sentia tão ligado à folia. Muitas vezes, viajei com meus pais para um desses lugares-pra-fugirde-bagunça, geralmente um desses paraísos onde a

festa era em conta-gotas, “Vamos na cidade para as crianças verem o carnaval”, diziam-nos, num acesso de bondade e compreensão. Ficávamos ali, vendo aquela folia algo raquítica, nos punham fantasias, e depois voltávamos ao paraíso, o que, justiça seja feita, até que não era nada mal para uma criança. Um carnaval em janelas. Mas eu, adulto, acho que carnaval de verdade tem que ter gente, muita gente, calor, muito calor, cerveja e boa música. E não se pode ter hora para voltar, não senhor. Sem esses ingredientes, a folia perde força. Felizmente, a maioria pensa como eu. Hoje, o carnaval de rua voltou com força total, a um ponto que, inclusive, já se tornou lugar-comum dizer “voltou com força total”. Novos blocos pipocam a cada dia, e todos eles estão superlotados. Quase mais ninguém via-

ja, pelo menos no meu círculo de amizades. As pessoas querem ficar aqui, celebrar, pular, criar blocos. Fico impressionado como criar um bloco é algo que dá certo ultimamente, como aplicar em ouro. Até mesmo o meu próprio, que foi criado por nós para não ser visto, para não fazer sucesso, ganhou uma dimensão totalmente inesperada. As meninas me chamaram para ajudá-las a organizar e escolher músicas de bichos para um novo bloco, que fora idealizado para ser uma brincadeira; no primeiro encontro, que incluiu muito de cerveja e gargalhadas, divididos em porções iguais, ninguém ali presente poderia imaginar que fosse durar tanto tempo. E, tampouco, que fosse ficar conhecido. Atribuo o fato ao momento atual, ao estado de espírito do carioca de hoje. As pessoas querem a cidade andando pra frente, que-

rem a cidade menos partida, mais misturada, mais integrada. Mais colorida, ou, pelo menos, em muitos tons de cinza. Os únicos autorizados a ser preto-ebranco aqui são o Botafogo, o Vasco e o Bola Preta. O resto está intimado a se misturar. É o samba, jongo, velhas e novas marchinhas, funk, maracatu e frevo. Tem bicho, bicha, fortões, gordões, luxo e lixo. Qual manifestação poderia ser melhor do que o carnaval – na rua! – para catalisar esse estado de espírito? Sim, o mundo mudou e está mudando. Sair pelas ruas do Centro da minha cidade me traz sentimentos de alegria nesta época do ano. “Aqui sambaram nossos ancestrais”, como disse o Chico. Não, não sinto saudade do carnaval de Visconde de Mauá...

fábio nin fabionin@gmail.com

A revitalização tem seus caminhos, debates e impasses. Ações como a inauguração da sede da associação de moradores da Gamboa são exemplos contundentes de que o associativismo entre os moradores, o terceiro setor e o poder público é saudável e benéfico para todas as partes. Existente desde 2003, a entidade acaba de ganhar espaço físico para abrigar reuniões, cursos, pessoas, além de computadores, impressoras, telefones e toda a infraestrutura necessária para auxiliar a comunidade em tarefas aparentemente simples, como, por exemplo, preencher o formulário do imposto de renda. O recém-chegado subprefeito, Thiago Barcellos, demonstrou estar disposto a conhecer a história, estrutura e conjuntura do Centro, apesar de sua experiência política estar associada à Barra da Tijuca. Além disso, comentou que está buscando maneiras de avaliar o que por aqui se passou e os temas mais relevantes que circundam a região. Quando questionado sobre a possível instalação de grandes prédios no Centro histórico da cidade, afirma que é a favor de tudo o que é novo. É preciso que essa energia jovem, que pode ser propícia à ideia de revitalizar, esteja atenta à preservação do patrimônio histórico. No entanto, fazer ressurgir o que a princípio não interessa às autoridades também é um resultado possível da revitalização. Foi o que ocorreu com a moradora da Zona Portuária do Rio, Merced Guimarães. Ela contratou mestres de obra para expandir a sua casa, em 1996, que localizaram quilos de ossos de afrodescendentes, mortos antes de serem vendidos como escravos. Sempre se soube que havia um

cemitério na região, mas nunca houve preocupação com o resguardo dessa memória. Ana Maria Merced e Petrúcio Guimarães decidiram comprar a briga e se dedicar à pesquisa e preservação das reminiscências encontradas abaixo da estrutura de sua residência, apesar de não terem inicialmente nenhuma preocupação específica com o resgate da cultura afro-brasileira. Chamaram as autoridades competentes, o Departamento Geral de Patrimônio Cultural da prefeitura e o Instituto de Arqueologia do Brasil. Investiram recursos próprios e, como propõe coluna deste jornal, colocaram a boca no trombone. O pesquisador Júlio César Medeiros soube da descoberta de Merced e Petrúcio em uma nota de rodapé de um jornal e se juntou à família Guimarães nessa luta. “Durante quatro meses, eu e minhas filhas adolescentes peneiramos terra dos buracos e separamos ossos”, conta Merced, que criou o Instituto Pretos Novos para promover a documentação e pesquisa desse capítulo da história do Brasil. O envolvimento levou uma mulher católica, descendente de espanhóis, que, à primeira vista, não teria nenhum interesse especial a respeito da cultura negra, a se envolver de forma visceral com a causa. Hoje, o acesso ao site do IPN é bastante numeroso e feito, em sua maioria, por usuários de outros países. Ou seja, a revitalização do Centro do Rio também pode ressignificar o mundo tal como o vemos e passar a limpo capítulos até então ocultos na história do país.

sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br


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empresa

Empresa investe na reparação e tratamento de encostas Há 20 anos, monitoração na região da central nuclear Almirante Barreto garante estabilidade Hilton Faria de Moura

Com o objetivo de garantir a integridade e a segurança do sítio onde está instalada a Central Nuclear Almirante Álvaro Aberto (CNAAA), a Eletronuclear desenvolve uma extensa monitoração e análise de dados e implementa uma série de ações de estabilização das encostas da região de Itaorna, Angra dos Reis. Um estudo geológicogeotécnico da região foi solicitado à Coppetec/ UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de PósGraduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), que identificou as encostas no trecho compreendido entre Piraquara e Ponta Grande que deveriam ser monitoradas. A partir de 1991, essas encostas foram instrumentadas com a instalação de 15 inclinômetros, 46 piezômetros, 24 células de carga e 32 pinos de deslocamento. Mensalmente, os dados dessa monito-

Eletronuclear monitora as encostas do Morro da Carioca, em Angra dos Reis

ração são analisados por técnicos especializados e engenheiros geotécnicos da Eletronuclear, e relatórios técnicos são emitidos

periodicamente para o Ibama e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Algumas das ações to-

madas pela Eletronuclear desde então incluem a execução de obras de drenagem em todos os talvegues (área mais profunda

de um vale, onde correm as águas da chuva, dos rios e riachos) dessas encostas, canalizando, aproximadamente, 2,8 mil metros dos

córregos localizados a montante e a jusante da BR-101, reduzindo significantemente a infiltração d’água no terreno e, consequentemente, aumentando a estabilidade das encostas. Além disso, para garantir o escoamento das águas pluviais, a Eletronuclear realiza periodicamente a limpeza de bueiros, canaletas de drenagem e drenos profundos das encostas. Com base nos dados de monitoração das encostas, a Eletronuclear realizou várias obras de reforço, destacando-se a estabilização do corte do km 520,1, o reforço das cortinas atirantadas junto à subestação 138 kV, e nos km 520 (convênio com DNIT) e km 520,2 da BR-101. A estabilização da encosta próxima ao km 519,9 da BR-101 está em andamento.

carolina calvente ribeiro redacao@folhadarualarga.com.br

Apoio à população local Eletronuclear mobiliza funcionários e equipamentos para atender estado de calamidade em Angra A Eletronuclear, inserida que está na sociedade de Angra dos Reis, tem dado total apoio aos órgãos municipais, estaduais e federais que atuam na recuperação dos danos decorrentes da tragédia que

se abateu sobre a região, desde o último dia do ano passado. Suas equipes de plantão estão colaborando ativamente com a Defesa Civil municipal e estadual, com demais órgãos da Prefei-

tura de Angra dos Reis, o Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro e com o Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT) federal no atendimento às vítimas e na desobstrução das vias

de acesso terrestre. O Hospital de Praia Brava foi mantido de sobreaviso para atender todas as chamadas de emergência e uma equipe de funcionários voluntários da Eletronuclear está colaborando

em várias áreas necessitadas de apoio. Foi montada uma Central de Emergência para coordenar todas as ações. As usinas Angra 1 e Angra 2 estão funcionando normalmente, fornecendo energia

a plena carga, não tendo sido em nada afetadas pelos eventos ocorridos.

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cultura

Caminhos iluminados do Rio Centro é revelado em roteiros a pé guiados por geógrafos e historiadores Sacha Leite

João Mello: a prova de que uma caminhada noturna no Centro pode ser tranquila Às 20h30 em ponto, o geógrafo João Mello dá início a um dos três roteiros noturnos gratuitos pelo Centro do Rio de Janeiro. A caminhada revela a beleza, a geografia e as belas histórias da cidade. Há cinco anos é assim. “Sou apaixonado pelo Rio. Como muita gente fala mal da segurança da cidade à noite, pensei em contribuir para melhorar a autoestima carioca e realizar passeios noturnos pelo Centro para mostrar que é possível caminhar com tranquilidade aqui”, diz o professor, que começou com passeios diurnos, em 1998. Esse trabalho faz parte do projeto de extensão Roteiros Geográficos do Rio, da Faculdade de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ). Para Ivo Zenerotti, estudante de História e bolsista do projeto, os roteiros contribuem, principalmente, para que os moradores valorizem mais a cidade. “São caminhadas que conjugam cultura, religiosidade, arquitetura, história e geografia. Queremos que as pessoas descubram o Rio e passem a dar mais valor a ele”, afirma. Cariocas e turistas podem escolher dentre as seguintes opções: Roteiro do Entorno da Central do Brasil, Roteiro Noturno do Centro do Rio a Pé (da Catedral Presbiteriana à Sala Cecília Meirelles) e Caminhando entre Luzes no Centro do Rio à Noite (da Casa França-Brasil à Cinelândia). A Folha da Rua Larga acompanhou este último. Em frente à iluminada Casa França-Brasil, os participantes ficam saben-

É lei: nenhum prédio da Presidente Vargas próximo à Igreja pode ser mais alto do que a cruz da Candelária

do que este é um dos prédios mais antigos daquela região, construído pelo arquiteto francês Montigny. “O prédio foi construído para abrigar a alfândega. Depois, foi Tribunal do Júri e Praça do Comércio”, conta o professor. No Centro Cultural Banco do Brasil, edificação do século XIX, o destaque são os terceiro e quarto andares, construídos apenas no início do século XX na então agência do banco, que se tornou centro cultural em 1989. Em seguida, os olhares se voltam para a suntuosa Igreja da Candelária, construída como pagamento da graça alcançada por uma família europeia. “Eles estavam enfrentando uma tempestade no mar. Então, prometeram a Nossa Senhora da Candelária que, se conseguissem chegar a

salvo no Brasil, iriam erguer uma capela em sua homenagem. E cumpriram a promessa. Só que esta linda igreja que temos hoje é a terceira construção no mesmo lugar”, explica o geógrafo. Outra curiosidade é que, por lei, nenhum prédio da Presidente Vargas perto da Candelária pode ser mais alto do que a cruz da igreja. Deixando o chamado Centro Histórico Beira Mar – Candelária e seu entorno – seguimos pela Rua Primeiro de Março (antiga Rua Direita ou Rua da Praia), passando pelo Centro Cultural dos Correios e pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro, que já foram agências dos Correios. Uma paradinha para olhar a fachada do prédio do antigo Tribunal Eleitoral, com uma grande varanda aberta no segundo andar,

logo acima da porta. Ao apontar para o lado oposto da Rua do Rosário, João mostra a Igreja de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, antiga catedral, onde D. João VI e a família real agradeceram por terem chegado com tranquilidade no país. O roteiro segue pela Rua do Ouvidor. “Este foi o primeiro logradouro a ter iluminação a azeite, a gás e elétrica. Foi aqui que o carnaval de rua começou, em 1870. Era também o endereço da Livraria Garnier, frequentada por Machado de Assis, e da maestrina Chiquinha Gonzaga. Até os anos 60, foi uma das ruas mais importantes da cidade, mudando de nome 13 vezes”, conta João. A próxima parada é na Travessa do Comércio, número 13. “Neste sobrado moravam as estrelas Au-

rora e Carmem Miranda. Foi Aurora quem lançou a marchinha Cidade Maravilhosa. Mas antes de serem famosas, as irmãs vendiam quentinhas para ajudar a família, que tinha uma pensão no primeiro andar e morava no segundo”, explica o professor. Ao passar pelo Arco do Teles, onde em cima funcionou o Senado, o grupo chega à Praça XV de Novembro, o Paço Imperial. À direita, o convento das Carmelitas, onde Dona Maria, a louca, morou. Ela, conta João, costumava sair nua pela praça. “E não podia ser contida pelos escravos. Só um nobre poderia cobri-la”, diz o geógrafo. No Paço, o professor mostra a janela na qual a Princesa Isabel anunciou a assinatura da Lei Áurea. “Porque a assinatura mesmo foi feita no prédio onde

hoje funciona a Faculdade de Direito da UFRJ, antigo Senado. Mas isso, vemos no roteiro do entorno da Central do Brasil”, anuncia. Em frente ao iluminado Palácio Tiradentes, hoje sede da Assembleia Legislativa do Rio, vemos a grande figura do inconfidente. “Foi daqui, que era uma cadeia, que Tiradentes saiu para ser morto”, conta João. O grupo segue pela Esplanada do Castelo, passando pelos ministérios da Fazenda, do Trabalho e da Educação. “O prédio da Fazenda foi construído para mostrar a riqueza do Brasil, com as piras olímpicas, que significam glória, e as grandes colunas. O do Trabalho é mais austero, representando o labor. Já os pilotis separados do Palácio Capanema significam o livre trânsito do pensamento”, explica. Depois, destaque para a Igreja de Santa Luzia, construída em 1592 por pescadores. O outro lado da rua era mar. Foi a derrubada do Morro do Castelo que aterrou toda esta região do Centro, além da Urca, Flamengo, Glória e Lagoa. Atravessando a rua, vemos Manuel Bandeira em frente à Academia Brasileira de Letras. O passeio termina na Cinelândia e seus lindos prédios: o cinema Odeon, que fazia parte do complexo de 12 salas de projeção que já existiram ali; a Biblioteca Nacional, que recebeu o acervo da Biblioteca de Lisboa, trazido pela família real; o Museu de Belas Artes, cujo prédio é a cópia de um terço de uma das fachadas do Louvre; o Supremo Tribunal da Justiça Federal; a Câmara Municipal; o Metrô, inaugurado em 1979; o Theatro Municipal, cópia do Opéra de Paris; e o bar Amarelinho.


cultura

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quando o Rio de Janeiro era distrito federal. Finalizamos o passeio no Palácio Duque de Caxias, com seu estilo art déco, onde estão depositados os restos mortais do patrono do exército, de frente para a Central do Brasil e seu relógio que pode ser visto de diversos pontos da cidade.

Para João, este é o melhor lugar para se terminar esta caminhada noturna: “Acho que é o conjunto arquitetônico mais bonito do Rio”, diz. Para a arquiteta Rosana Oliveira, com a caminhada noturna foi possível ter outro olhar sobre o Rio. “Percebemos a dinâmica do Centro à noite. E a luz só ajuda a valorizar a beleza dos prédios”, diz ela, que já percorreu quase todos os roteiros oferecidos pelo projeto. Quem quiser fazer este ou outros passeios noturnos ou diurnos pelo Centro da cidade deve se inscrever pelo e-mail: roteirosgeorio@uol.com.br. Priscila e Raul: aula de história diurna para aproximar de tudo o que se ouvia falar, mas não se via Raul e Priscila, da empresa de turismo cultural Rios de História, guiaram também, com exclusividade, a Folha da Rua Larga ao longo da Avenida Marechal Floriano e seus muitos pontos carregados de curiosidades. O walking tour começou pela Igreja de Santa Rita, que, segundo Priscila, por pouco escapou da ação de saneamento e europeização do ex-prefeito Pereira Passos, no início do século XX. Em estilo barroco-jesuítico, com sineiro e detalhes rococó, a igreja guarda uma tela de Santa Rita antes de ser canonizada e uma pia esculpida em pedraria e detalhes orientais, datada do século XIII. De acordo com o casal, a igreja teria sido erguida em 1721 na propriedade da família portuguesa Nascentes Pinto, que trouxe o culto a Santa Rita de Cássia. A visitação partiu deste ponto e não da Avenida Rio Branco, como de

Colégio Pedro II, fundado em 1837 por Bernardo Vasconcelos, em homenagem ao imperador menino

costume, com os prédios do Banco Central e do Iphan, devido ao sol quente: começamos o passeio às 15h. Saindo da Igreja por um corredor de ofertórios em que há imagens de diversos santos, nos posicionamos de frente para o Beco das Sardinhas. Segundo Priscila, o beco possui esse nome pelo fato de dois portugueses que frequentavam o local trazerem o hábito de se comer sardinhas em lata. E, logo acima, podemos avistar o Morro da Conceição, um dos quatro morros onde foi desenvolvida a habitação no Rio de Janeiro. Até o Colégio Pedro II, caminhando no sentido Rio Branco–Central do

Brasil, havia a Rua Estreita de São Joaquim. A Igreja de São Joaquim, demolida pela reforma urbana de Pereira Passos, ficava ao lado do colégio, onde na época funcionava um orfanato. Priscila e Raul explicaram que o Pedro II foi criado em homenagem ao imperador menino e fundado por Bernardo Vasconcelos, representado por uma estátua sem placa, em frente à instituição. Os guias contaram que Capistrano de Abreu era um dos professores de lá: ele teria pedido demissão alegando que todos os alunos eram burros. Passamos em seguida pelos tradicionais Café Capital, Casa Paladino, Planalto Hotel, Impecável

Maré Mansa, Livraria Elizart, Ao Bandolim de Ouro e a Sapataria do Souza. Segundo Priscila, a maior dificuldade do Souza, dono da loja de sapatos que leva seu nome, há anos fazendo sapatos artesanais em couro, é encontrar discípulos à altura. Mais uma curiosidade sobre o comércio local: há quem diga que o fato de haver tantas lojas de material elétrico na região estaria diretamente relacionado à presença da Light na avenida. Passamos ainda pelo Cine Floriano, onde hoje funciona um estacionamento, e pela sede da Light, construída em estilo americano, com material importado. Um detalhe interessante: em dias de

muito calor é válido passar em frente à sede da Light e sentir o frescor “natural” que emana do edifício. Por incrível que pareça, o clima fresco não é gerado por aparelhos de ar-condicionado, mas por um sistema de ventilação inteligente e construção em pedras que não absorvem calor. Priscila lembrou também do acervo de Augusto Malta, um dos principais fotógrafos do Rio Antigo, que foi funcionário da Light de 1905 a 1935. Caminhando mais um pouco, passamos pelo Palácio Itamaraty, prédio do século XIX, que foi sede do Estado no governo Deodoro da Fonseca e funcionou como Ministério das Relações Exteriores

Outras noites cariocas

tário projetado nos anos 60, na época do governo Carlos Lacerda. Lá moram trabalhadores expulsos do Morro do Pinto, São Carlos e Catacumba”, conta João, que, durante duas horas e meia, mostra a geografia planejada do lugar.

O grupo vai até lá numa van que sai em frente à Catedral Metropolitana. Outra opção é andar à noite pelas ruas da Glória, Catete e Flamengo. “Nessa caminhada, mostramos onde foi Henry Ville, capital da França Antártica.

Moraram cerca de 600 franceses no Flamengo”, diz o professor. Há também o roteiro Copacabana Princesinha do Mar, que vai da Rua Princesa Isabel até o Copacabana Palace. A conferir.

O projeto Roteiros Geográficos do Rio oferece mais três roteiros noturnos. O primeiro é o da Vila Aliança, em Bangu. “Este foi um bairro prole-

Turismo cultural do ponto de vista comercial De acordo com Raul e Priscila, o número de albergues e hostels aumentou dez vezes de 1999 para 2009. Observando os números, o casal decidiu investir e abrir uma empresa de turismo cultural: “Tivemos que criar um business plan para não entrar em conflito com outras operadoras”, conta Raul. Eles explicam que os roteiros de cartão postal ficam para as outras firmas: “Trabalhamos roteiros alternativos, para gringos que procuram cultura, que são muitos, e para os turistas nacionais, cariocas e de outros estados, grupo que está em franco crescimento”, revela Priscila. Para viabilizar o negócio e facilitar a organização, Priscila e Raul criaram uma agenda fixa com programação semanal – terças-feiras, fortalezas; quartas-feiras, Petrópolis; quintas-feiras, Mosteiro de São Bento e Ilha Fiscal – e disponibilizaram no blog deles. Segundo o casal, os sábados são mais procurados por cariocas que não conhecem bem a cidade e executivos que vieram acompanhados de suas famílias. Mais informações em: riosdehistoria.blogspot.com

juliana chagas e sacha leite redacao@folhadarualarga.com.br


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social

Instituto Pretos Novos vira ponto de cultura Família descobre que a própria casa está situada sobre um cemitério e constrói museu memorial Divulgação

Até o final do século XIX, mais de seis mil africanos que chegavam doentes no Brasil e morriam antes de ser vendidos, eram enterrados em valas rasas próximo ao Porto do Valongo. Esse cemitério permaneceu por muitos anos sem registros, até que Ana Maria Merced e Petrúcio Guimarães descobrissem, ao reformar a própria casa, na Gamboa, a prova cabal desse controverso capítulo da história do país. Para espanto dos pedreiros, ossos misturados a fragmentos, como miçangas de vidro, artefatos de ferro e pedaços de cerâmica, foram descobertos abaixo da residência. “A firma de engenharia que fez a sondagem do solo constatou que, de 20 cm a dois metros de profundidade, só tinha ossos”, contou Merced. Proprietários da casa nº 36 na Rua Pedro Ernesto – uma típica construção do século XVIII, sem banheiro e rede de esgoto, que abrigara famílias pobres e negros libertos – Merced e Petrúcio iniciaram, em 1996, escavações arqueológicas, mediante convênio de cooperação técnico-científica entre a prefeitura e o Instituto de Arqueologia Brasileira, e deram início ao processo de elaboração do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos e do Centro de Memória da Escravidão. Segundo Merced e PetrúAlém de ossos de escravos, foram coletados no sítio • Contas de vidro utilizadas no tráfico de escravos • Cerâmica afro-indígena europeia • Cerâmica stoneware • Louça stonechine • Pulseira de metal utilizada no tráfico de escravos

Divulgação

Fragmentos de mandíbulas coletados no sítio arqueológico

Escavações iniciadas em 1996 sob a casa de Merced e Petrúcio

cio, quando o cemitério foi descoberto, em 1996, eles se depararam com uma história que todos querem esquecer: “Há mais de dez mil africanos enterrados embaixo das casas da região. Este país ainda não tem um histórico de preservar e ajudar”, desabafou Merced, dizendo que esse descaso a motivou a manter essa história, ainda desconhecida, e lutar pela sua propagação. Merced explica a sua relação com o tema: “Sou resultado da cultura europeia, católica, descendente de espanhóis, mas estou aprendendo muito sobre a

cultura afro-brasileira”. O sítio arqueológico localizado possui grande importância no estudo relacionado à questão do escravo no Brasil. No período de 15001850, o Rio de Janeiro refletiu o sistema escravista que estava em vigor no mundo ocidental. O Cemitério dos Pretos Novos faz parte da estrutura cultural criada em torno deste sistema, sendo o destino dos escravos mortos na cidade. O projeto prevê a retomada das escavações arqueológicas, por intermédio de convênio de colaboração técnico-científica entre a

Outros cemitérios no centro do Rio

também foi amplamente utilizada como cemitério. Destinada apenas ao sepultamento de escravos, funcionou regularmente até a transferência do mercado negreiro da Rua Direita, atual Primeiro de Março, para o Valongo, em 1769. Por anos, um pequeno campo considerado santo, atrás do Hospital da Santa Casa da Misericórdia, perto do Morro do Castelo, foi utilizado como principal cemitério da re-

Em 1655, os franciscanos doaram um terreno ao redor do atual Largo da Carioca, junto ao Morro de Santo Antônio, a fim de absorver o grande número de corpos de escravos índios e negros que vinha crescendo. Já em 1709, estava completamente lotado. A área onde era localizada a Igreja de Santa Rita, construída no início do século XVIII,

prefeitura e o Instituto de Arqueologia Brasileira, e ainda a criação do Centro de Memória da Escravidão. Os 400 m² do IPN abrigarão salas multimídia e cinco oficinas gratuitas intituladas A história dos Pretos Novos, Cantando a história do samba, A história da Zona Portuária, História e arqueologia e A história do mercado de escravos no Rio de Janeiro. Todas as oficinas serão gratuitas, ministradas por profissionais qualificados e dirigidas a estudantes do ensino fundamental (8º e 9º ano), ensino médio e superior. A inauguração está prevista para 4 de março. “Queremos levar a academia

para o povo”, diz Merced. No projeto de Ponto de Cultura, aprovado pela Secretaria Estadual de Cultura, está prevista para 2013 a inauguração de uma biblioteca especializada em cultura e religião afrobrasileira e história da escravidão. “Pretendo fazer uma sala de estudos relevantes, não um circo de horrores. Apesar de ser uma história funesta, trata-se de uma memória que precisa ser investigada e existir como documento”, explica Merced, contando que já recebeu sugestões de mau gosto, como enfileirar e expor os ossos encontrados. A partir da descoberta do Cemitério

gião. Por exemplo, só no ano de 1798, aproximadamente 1.360 corpos foram sepultados no local. O cemitério, nomeado Cemitério dos Pretos Novos, também foi transferido para o Caminho da Gamboa, que depois passou a ser Rua do Cemitério e hoje é a Rua Pedro Ernesto.

flor da terra: o cemitério dos pretos novos no Rio de Janeiro (Garamond), do historiador Júlio César Medeiros, responsável pelo núcleo de pesquisa no IPN. As escavações no cemitério possibilitaram uma série de descobertas sobre as origens dos negros que aqui chegaram, as condições a que eram submetidos, como morriam e a forma com que eram sepultados. “Até mesmo o termo ‘pretos novos’, usado para negros recém-chegados,

“Pretendo fazer uma sala de estudos relevantes, não um circo de horrores”

À flor da terra Um dos estudos sobre a descoberta deu origem ao livro À

dos Pretos Novos, o Museu Nacional passou a trabalhar na delimitação do sítio arqueológico. Iniciou-se então uma série de debates, culminando na abertura do Instituto Pretos Novos, que acaba de ser qualificado como Ponto de Cultura, passando a receber recursos do governo do estado. Merced se alegrou com a notícia do apoio: “Tínhamos muita dificuldade porque tudo era do nosso bolso. Agora teremos recursos mínimos para dar continuidade ao projeto, apesar de custeios com limpeza, água e luz não estarem incluídos nos benefícios do ponto de cultura”, explica Merced, enfatizando que o instituto está buscando patrocínios, parcerias e doações para garantir a sua subsistência. “Sou brasileira, mas acho nosso povo muito pacífico, bestializado. Ele desconhece a cidadania”, critica Merced. Quando questionada sobre o porquê de investir recursos próprios na preservação da memória da escravidão, quando ela própria não tem origens afrodescendentes, Merced explica: “Continuo achando que a escravidão não acabou. Hoje, somos escravos do patrão, do salário-mínimo e nos sujeitamos a uma série de coisas nefastas para poder viver”, teoriza. era pouco conhecido dos pesquisadores antes de o cemitério ser estudado. Meu estudo se baseou nos óbitos registrados entre 1824 e 1830, os últimos anos do cemitério”, explica Pereira, que dedicou ao tema uma monografia de graduação e uma dissertação de mestrado, que originaram o livro.

da redação redacao@folhadarualarga.com.br


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comércio

Copa e cozinha em clima familiar Há 40 anos Aníbal e Baltazar vendem louças na região Sacha Leite

O patriarca Aníbal Gonzáles Garcia, fundador do Principado Louças

Proprietária do Astúrias Principado Louças e dona de sete imóveis tombados na Avenida Marechal Floriano, a família Gonzáles Garcia comercializa há quatro décadas uma rica variedade em louças e utensílios para copa e cozinha. Além disso, o grupo promove oficinas gratuitas de gastronomia e patrocina um projeto sociocultural que beneficia 1,2 mil crianças. Para 2010, eles têm em vista planos de crescimento: “Pensamos em abrir uma nova Principado Louças, com quatro pavimentos e estacionamento”, vislumbram Aníbal, pai, e Baltazar, filho. O patriarca Aníbal Gonzáles Garcia, descendente de uma tradicional família de lapidadores de cristal, chegou ao Porto do Rio de Janeiro em 1955. No Brasil, conheceu a espanhola Carmen, de Sevilha, com quem no dia 20 de fevereiro de 2010 completará 50 anos de casado. A família fundou a Cristalouças, em Botafogo, que durante 34 anos foi uma das principais lojas do gênero no Brasil e, em 1970, migrou para a região da Rua Larga. Em 1993, a loja passou a se chamar Principado Louças.

O nome Astúrias Principado Louças surgiu em homenagem ao lugar em que nasceu, no norte da Espanha. Desde então, Aníbal oferece aproximadamente 17 mil itens, no atacado ou varejo, para cozinhas industriais, hotéis e grandes redes de restaurantes. “A principado Louças não é a melhor loja do Rio de Janeiro, mas a melhor do Brasil”, defende ele, explicando que possui, dentre sua gama de clientes, a aeronáutica, o exército, hotéis, grandes empresas e redes de restaurantes como a Sodexo. “Temos uma exposição muito boa de talheres em aço inoxidável. Recebemos muita gente de fora, da região serrana, Macaé, Minas Gerais, Espírito Santo... Aqui eles encontram tudo que precisam”, orgulha-se o patriarca dos Gonzáles Garcia. Aníbal e Baltazar se alegram com o fato de funcionarem bem em uma interação profissional e familiar: “Trabalhamos eu, meu filho, minha filha e meu neto, de 21 anos”, revela Aníbal Gonzáles. Depois do carnaval a casa oferecerá um curso de drinks no espaço gourmet, no se-

gundo piso, onde acontecem degustações e oficinas abertas ao público, gratuitas, porém com número limitado de vagas. Os proprietários avisam que os interessados em se informar sobre os cursos devem se dirigir à loja e procurar Jane ou Ana Cláudia. O tradicional ponto comercial possui também vida na internet. No site www.principado.com.br é possível obter informações sobre a história da empresa, receitas, dicas sobre como manter os utensílios domésticos em perfeito estado e busca de produtos. Além disso, o portal possui uma ferramenta para cálculo de orçamento facilitando avaliação e compra pela internet. Para renovar a Rua Larga Há dois anos, quando foi criado o Polo Empresarial da Nova Rua Larga, pai e filho compareceram a algumas reuniões: “Gosto de agilidade. Se for para realizar, podem contar comigo. O que eu não gosto é de falar demais e fazer de menos”, esclarece Baltazar. Para melhorar as condições da rua, o proprietário sugeriu uma

reorganização do trânsito: “A Marechal Floriano tem que ser mão única. Nós não temos estacionamento, precisamos criar um”. Para Baltazar, há três passos essenciais para o progresso da região: 1) reorganizar o trânsito, 2) criar estacionamentos, por exemplo, na Praça Rivadávia Correia, 3) Fazer parcerias. Através dessas ações, de acordo com Baltazar, seria possível criar meios para os clientes terem acesso ao comércio da região da Rua Larga. Ele lembrou ainda do sucesso da ação do Polo do Saara, que conseguiu fechar a Presidente Vargas no sábado para estacionamento. Baltazar e Aníbal haviam sugerido também a adoção da Praça Rivadávia Correia por parte dos empresários locais. Segundo eles, o lugar anda há tempos abandonado e ocupado por moradores de rua, apesar de estar rodeado por prédios que representam instituições importantes, como Light, Itamaraty e Escola Rivadávia Correia: “Acredito que a prefeitura, representada pelo subprefeito do Centro, tenha todo o interesse em ajudar, mas a comunicação deve ser feita. Somente a partir da nossa demanda, eles podem agir”, diz Baltazar. A família Principado Louças contribui para o projeto Sociedade de Apoio e Recuperação das Artes (Sara), coordenado por Neuca Menezes. O trabalho do Sara consiste no oferecimento de atividades lúdicas e teatrais em colégios, asilos e hospitais. Aníbal e Baltazar afirmam que patrocinam o projeto porque gostam e querem ajudar, não por motivos políticos ou para fazer marketing.

sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br

Rua Rua Larga Larga

dicas da região

Vai a um aniversário, casamento ou festa? Você precisa de um sapato novo. Corra até a City Shoes que ela está em liquidação. Com 14 anos e mais de 85 lojas espalhadas pelo Brasil, a City Shoes possui fabricação própria. Sandálias a partir de R$59,90 e bolsas a partir de R$70. Av. Rio Branco, 31 – loja E. Fevereiro é o mês em que as escolas e faculdades voltam a funcionar. Sendo assim, a Lupo lançou a promoção “Volta às aulas”. Uma das empresas de meias mais tradicionais do país possui, também, pijamas, cuecas, blusas, acessórios, entre outros. As cuecas custam a partir de R$12,90, já o kit com três meias está a partir de R$15. Av. Rio Branco, 25 – loja C. Todo mundo sabe que um bom terno, além de melhorar a aparência, dá outro ar para o homem. Caso você não tenha, está na hora de adquirir um. A Cia do Terno está aí para isso! Com mais de 80 lojas distribuídas pelo país, ela é uma das maiores lojas especializadas em ternos. O clássico está saindo por R$149, o infantil custa R$98,60 e o tropical sai por R$198. Av. Rio Branco, 26 – loja B. O carnaval está chegando. Já pensou como você vai transportar todas as suas coisas? E se elas atendem as suas necessidades? Então, passe na Bagaggio! Especializada em malas, mochilas, sacolas, pastas e cases, bolsas, carteiras e acessórios para viagem, desde 1942. No momento, está acontecendo o “Festival de Mochilas”. A mochila Everlast com bolsos está saindo por R$159, a da Nike com porta-laptop

custa R$169,90 e a Army II sai por apenas R$59,90. Av. Rio Branco, 40 – loja A. Há 26 anos produzindo artigos de vestuário feminino, a Zipper-Zipper está com descontos de até 70%. As quatro lojas localizadas no Centro da cidade possuem os mais variados estilos de roupas e preços. Dê uma passadinha lá, os vestidos e os preços estão incríveis! Av. Rio Branco, 25. Precisando de um lugar para ficar? Vá para o Grande Hotel São Francisco. Fundado em 1950, ele possui adega, sala de ginástica, bar, coffee shop, restaurantes, copa 24 horas, piscina, estacionamento, sala para convenções, sala de leitura e muito mais! Diárias a partir de R$ 165 (o casal) e R$ 148 (solteiro). Ligue agora e faça a sua reserva: 2121-1212 e 2121-1260. Rua Visconde de Inhaúma, 95. Leve uma vida saudável! O Mundo Verde é especializado em produtos naturais. Com 22 anos de existência, já se tornou a maior franquia do segmento na América latina. Sucos, lanches e outros produtos são leves e fazem bem à saúde. Conhece a ração humana? É um suplemento nutricional à base de cereais integrais, que pode ser adicionado diariamente às refeições para enriquecer a quantidade e a variedade de vitaminas, proteínas e fibras. Sem glúten sai por R$18,70, integral por R$13,20 e light por R$14,40. Largo Santa Rita, 12.

da redação


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cidade

Festa cultural aos pés de Pixinguinha Manifestação na Travessa do Ouvidor une poesia, música e bambas para debater a história do Centro Em lugares como o Morro do Castelo, a Zona Portuária, a praça XV e o Estácio aconteceram as histórias que construíram a cultura da cidade. Algumas delas foram contadas por Carlos Monte e Nei Lopes em uma conversa com o público, no dia 25 de janeiro, durante a festa que marcou a nova fase da Livraria da Travessa, em que passa a privilegiar as editoras independentes e universitárias. Não por acaso, os dois são autores de livros que abordam a história do Rio de Janeiro. Carlos Monte, ex-diretor da escola de samba mais premiada do carnaval carioca, escreveu A velha-guarda da Portela. Nei Lopes, compositor e estudioso da cultura afrobrasileira, tem várias músicas que são crônicas da vida no Centro, como Ladrão de Galinha (“Foi num salão, ali no baixo Cinelândia / Perto da Espaguetelândia, na Francisco Serrador / Que eu descobri que não tem bem que sempre dure / Conhecendo a manicure Ana Luzia Eleonor, com seu jeitinho encantador...”). Além disso, Nei Lopes é autor de um livro que tem muito a ver com o Centro do Rio de Janeiro: Mandingas da Mulata Velha na Cidade Nova, uma ficção ambientada na região da Pequena África, entre os anos de 1870 e 1930. Viagem pela história do Rio O bate-papo foi apenas um dos eventos que marcou o novo momento da Livraria da Travessa da Travessa do Ouvidor, que foi a primeira das sete filiais espalhadas pela cidade. A festa começou ainda pela manhã, às 11h30, com as poesias declamadas pelos atores e poetas Betina Kopp e Mano Melo. Logo

André G. Melo

Betina Kopp declamou poesias, embalada pelo chorinho do conjunto Flor na Lapela

em seguida, uma home- e tradição no comércio em nagem a Pixinguinha com geral, particularmente, no uma lavagem da estátua do mercado livreiro”, explica músico que fica quase em Rui Campos, um dos sócios frente à livraria. O grupo de da Livraria da Travessa. chorinho Flor na Lapela fiLiana Perola Schipper, nalizou a primeira parte da gerente da livraria, destaca festa, ainda ainda a vocano início da ção literária tarde. Após da Travessa a palestra de do Ouvidor, Carlos Monte já que lá se e Nei Lopes, localiza a aconteceu a própria liapresentação vraria, uma do trio de editora e o chorinho Suprimeiro lobindo a Lacal onde foi deira. inaugurada A reinaugua ABL: “A ração prioriAcademia Nei Lopes, Brasileira de zou a relação compositor Letras teve a do comércio com o entorsua fundação no. “O Cenaqui nesta tro do Rio é ímpar. Toda rua. Tem uma placa no núa história da Colônia, Im- mero 31”, comenta Liana. pério, capital e República. Na conversa com Nei Aqui há aspectos altamente Lopes e Carlos Monte – peculiares: centro financei- que foi das 17h30 até quase ro, Saara, Castelo, Lapa, oito da noite – falou-se de Zona Portuária, enfim, uma tudo o que há de mais caregião muito rica em di- rioca: surgimento e consoversidade cultural, história lidação das escolas de sam-

“O Centro, para quem sabe olhar, é uma aula permanente de História”

ba no Estácio e Praça XI, expansão da cidade para os subúrbios e até mesmo uma história pessoal de Nei Lopes que tem tudo a ver com o Centro – a descoberta da certidão de nascimento do pai dele na Igreja de Nossa Senhora da Lampadosa, na Avenida Passos. “Meu pai, nascido em 1888, batizouse. Através dessa informação achei o registro de batismo dele e localizei lá uma parte da minha ancestralidade”, diz Nei, se referindo à descoberta de que o pai tinha irmãs mais velhas. “Toda a região da Praça Tiradentes é extremamente importante. O Centro, para quem sabe olhar, é uma aula permanente de História”, acrescenta o compositor. Ao falar sobre a constituição cultural do Centro, Carlos Monte não teve como não mencionar o carnaval. O ex-diretor da Portela detalhou a origem da festa desde os antigos entrudos até a formação da Pequena África, onde o samba se consolidou como

uma manifestação cultural carioca. Ele não deixou de falar sobre os conflitos entre a “forma popular” e a “forma civilizada” que permearam a festa até a sistematização da disputa entre escolas de samba, na época de Getúlio Vargas, na década de 1930. Carlos também destacou diversas outras manifestações culturais que ocorreram primeiro no Centro da cidade, como a música erudita, o teatro e a literatura, com os cronistas da vida carioca João do Rio e Lima Barreto. Quando Carlos Monte falou sobre a expansão do Rio de Janeiro para o subúrbio, Nei Lopes aproveitou o gancho para discorrer sobre a antiga zona rural que depois se tornou o subúrbio da cidade. Mas também não deixou de abordar a época do “Bota Abaixo” do prefeito Pereira Passos, no início do século XX. Nessa época, foi demolido o Morro do Castelo – lugar onde praticamente começou a história da cidade – e construída a Avenida Rio Branco. Nei ressaltou que, a seu ver, havia um nítido desejo de “desafricanização” no projeto do então prefeito Pereira Passos. Acupuntura urbana No fim da festa, o que fica é a contribuição que a livraria deixa para a vizinhança. A loja promete manter a programação cultural com entrada franca nos próximos meses. Um dos eventos seguintes será relacionado a um grupo de poetas paulistas e editoras independentes que publicam poesia. Haverá também uma semana dedicada à ditadura, no fim de março. Rui destaca o papel do comércio na vida de uma localidade. “A contribuição para a viabilização do

espaço urbano é enorme e imprescindível. Onde há comércio, há vida. Sem comércio a deterioração é fatal. Uma boa loja sempre desencadeia um processo de revitalização no seu entorno. É a acupuntura urbana”, finaliza o livreiro. Novo público para a livraria A festa na Livraria da Travessa aconteceu para marcar a mudança de perfil da loja, que agora pretende atender às editoras independentes e universitárias. No local desde meados da década de 1980, a livraria já era pequena para a quantidade de livros vendida por lá. O estoque então passou para uma filial maior, na Rua Sete de Setembro. Como a Travessa do Ouvidor deu o nome à livraria, foi decidido que esta primeira Livraria da Travessa continuaria aberta, só que atendendo a um perfil diferente de editoras, mais alternativo. O investimento no novo perfil é da própria Livraria da Travessa, da Liga Brasileira de Editoras (Libre) e da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (Abeu). As duas associações reúnem mais de 200 pequenas e médias editoras. “Nós radicalizamos uma proposta que a Livraria da Travessa sempre teve, que é valorizar editores independentes e universitários”, expõe Liana Perola Schipper. A filial passou, então, por uma reforma e reabriu em novembro de 2009. “Estávamos azeitando a máquina para funcionar direitinho. Hoje é uma festa para marcar a reinauguração”, reforça Liana.

miguel sá redacao@folhadarualarga.com.br


cidade

fevereiro de 2010

O Pão nosso de cada dia nos dai paz e moradia, ou... ganhar na loteria. O Morro da Conceição é mesmo incrível. Em fevereiro, quando tudo parece tão calmo, depois do carnaval, é claro, eis que surgem os artistas com exposições por toda cidade. Gustavo Speridião participa com o vídeo O Circo dos Sonhos de uma megaexposição no Paço Imperial. Com 45 artistas selecionados de vários estados pelo programa Rumos Itaú Cultural, a exposição, intitulada Trilha do Desejo, vai até 28 de fevereiro, de terça a domingo das 12h às 18h, com entrada franca. Outra oportunidade para ver os trabalhos mais recentes de Gustavo Speridião é a galeria de arte Anita Schwartz, na Gávea, Rua José Roberto Macedo Soares, 30, também com entrada gratuita. Claudio Aum, também artista plástico e morador do Morro da Conceição, comemora seus 40 anos de militância no mundo das artes com uma exposição individual de pinturas e esculturas, que poderá ser visitada no Forte de Copacabana, na Sala de Ambientação. Vale a pena conferir: de terça a domingo, das 10h às 19h. E não para por aí: de 28 de fevereiro a 11 de abril, como já acontece há vários anos, começa a exposição A Cara do Rio, no Centro Cultural dos Correios. Quatro artistas do Morro da Conceição também participam: Osvaldo Gaia, Claudio Aum, Teresa Speridião e Marcelo Frazão, que, além de ar-

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Presente de Iemanjá

morro da conceição Do topo do morro ao topo das artes

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tista, é o curador da mostra. Diversos artistas do Rio e de vários estados do Brasil participarão, bem como americanos, franceses e guatemaltecos moradores da Cidade Maravilhosa. O público terá a oportunidade de ver 115 narrativas diferentes sobre a mesma cidade, seja pela estética, seja pelo dinamismo dos acontecimentos urbanos, ou pela capacidade de recriar símbolos, como, por exemplo, o Pão de Açúcar, numa metáfora onírica. E é nessa crônica visual que cada artista mostra seu olhar sobre essa enorme roda viva que é a nossa cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, mesmo já estando em fevereiro. Divulgação

Escultura Anjo Negro

Se você ficou curioso para ver o que cada artista vai fazer sobre nossa cidade, então nos visite do dia 28 de fevereiro a 11 de abril no Centro Cultural dos Correios – de terça a domingo, das 12h às 19h, entrada franca. Rua Visconde de Itaboraí, 20 (próximo à Candelária) – Centro do Rio de Janeiro.

teresa speridião teresasperidiao@gmail.com

Evento ecumênico reuniu religiosos e turistas em cortejo, da Cinelândia à Praça XV Sacha Leite

A exemplo do que acontece em Salvador, na Bahia, onde uma multidão se reúne todo ano para levar oferendas e pedidos a Iemanjá, a Associação Cultural Recreativa Afoxé Filhos de Gandhi do Rio de Janeiro promoveu, no dia 2 de fevereiro, o 44º Presente de Iemanjá , com concentração na Cinelândia e saída em cortejo por várias ruas do Centro do Rio, até a Praça XV. O Presente de Iemanjá 2010 reuniu fiéis, amantes da cultura afro-brasileira e turistas. Sempre no dia 2 de fevereiro são entregues oferendas para Iemanjá, “mãe de todas as cabeças”, representada, na Igreja Católica, por Nossa Senhora dos Navegantes, também chamada de Candelária ou Candeia. Desde 1967, o Afoxé Filhos de Gandhi organiza o evento, que hoje atrai aproximadamente 5 mil pessoas. O objetivo está em entregar em águas limpas e profundas presentes para a “rainha do mar”. A Praça XV foi ocupada por inúmeras pessoas vestidas de branco, stands de comidas afro-brasileiras como acarajé, vatapá e um palco sobre rodas com fulejo, mistura de diversos ritmos e músicas consagradas como “Toda cidade é d’oxum...” O Presente de Iemanjá, do Afoxé Filhos de Gandhi do Rio de Janeiro, está incluído no calendário de festas oficiais do Estado do Rio de Janeiro, através da lei nº 1017 de 17 de julho de 1986, como evento religioso e turístico. O Presente contou com o apoio das secretarias de Cultura, Transportes e Assistência Social e Direitos Humanos do estado, além do Conselho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine). Mais de mil pessoas cantaram, dançaram e pediram proteção para o ano

O Presente de Iemanjá 2010 reuniu fiéis, amantes da cultura afro-brasileira e turistas Sacha Leite

de 2010 à regente dos lares e protetora da família na tradição iorubá. Oferendas das mais variadas, como perfumes, lavandas, brincos, pentes e colares, além de frutas e bebidas, foram colocadas em balaios e jogadas ao mar. A festa Presente de Iemanjá teve concentração em frente ao Theatro Municipal, por volta das 9h. O cortejo chegou à Praça XV após o meio-dia, onde devotos se organizaram para entrar na barca, na Baía de Guanabara e dispensar balaios no mar, contendo alimentos como canjica, arroz, uva verde e rosada, pêra, obi (o fruto da vida) e flores. Segundo explicado por um fiel, as oferendas devem ser cobertas com flores para que os leigos não saibam o que tem dentro. Carlos Machado, presidente do Afoxé Filhos de Gandhi, falou sobre a importância da celebração: “É necessário fortalecer cada vez mais esse dia para que a identidade afro-brasileira seja sustentada”. A Associação Cultural completará 60 anos de existência em 2011 e tem uma sede em

Mais de mil pessoas participaram do evento

ruínas, no Centro do Rio de Janeiro. Como o espaço não possui teto, Carlos Machado esclarece que só há ensaio “quando São Pedro ajuda”. No Rio de Janeiro, o primeiro Presente de Iemanjá aconteceu em 1967, na Marina da Glória. A partir dos anos 1970 o “presente” passou a ser entregue na Praça XV e permanece

assim até hoje. Carlos Machado fala sobre a peculiaridade da festa: “O Presente é o primeiro movimento popular religioso do estado do Rio de Janeiro e também o mais duradouro, já que é comemorado há mais de 40 anos”, sintetiza.

da redação redacao@folhadarualarga.com.br


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gastronomia

Um lugar a ser descoberto

receitas carol

Bistrô reúne requinte, comida de qualidade e sossego no Beco das Sardinhas Divulgação

O Beco das Sardinhas, tradicional recanto na Rua Miguel Couto, é conhecido por seus bares e restaurantes animados e pelas famosas sardinhas fritas. Mas essa agitação toda abriga também um oásis de tranquilidade: Bistrô do Beco. O restaurante é um refúgio para quem quer sossego e uma gastronomia mais requintada na hora do almoço. Inaugurado em março do ano passado, o Bistrô fica no segundo andar de um sobrado, o que faz com que muitas vezes passe despercebido aos olhares mais distraídos. “Quisemos fazer um negócio para um público diferenciado, diferente daquele que frequenta os bares aqui do Beco das Sardinhas. O fato de estarmos no segundo andar faz com que o restaurante não seja muito visível, mas, ao mesmo tempo, confere mais discrição e privacidade ao Bistrô, o que agrada nossa clientela”, afirma a gerente Maria das Dores. A fachada é discreta e, além de um quadro negro com itens do cardápio, pouco há na entrada que chame atenção. O Bistrô, que ocupa um casarão tombado de 1906, conseguiu só agora autorização da prefeitura para instalar um toldo com o nome da casa, o que facilitará a vida dos que procuram o restaurante, que merece, e muito, ser descoberto. Na porta de entrada, uma grande escada de madeira leva as pessoas ao segundo andar do sobrado. O restaurante, pequeno e aconchegante, tem uma decoração legitimamente carioca. Os quadros enfileirados remetem a paisagens da cidade. O ambiente é uma mistura de história e contemporaneidade. A parede de tijolos em tom

pastel contrasta com as janelas de vitrais vermelhos, que refletem a luz do dia e dão um tom colorido ao lugar. Já as grandes luminárias moderninhas no teto caracterizam um ar despojado e ao mesmo tempo clássico. O restaurante é comandado pelos sócios Wagner Neves – também sócio do Café Prefácio, em Botafogo – e Renato dos Santos – dono de outros restaurantes na cidade. O chef Erasmo Rodrigues, que já trabalhou no Zazá Bistrô, é quem comanda a cozinha. O carro-chefe da casa é a costeleta de cordeiro com risoto de açafrão e molho de alho-poró (R$ 42). Outros pratos muito procurados são a bem servida chuleta com batatas e cebola (R$ 23) e, entre os peixes, o namorado com purê de banana da terra e sauté de palmito (R$ 35). As massas são opções mais em conta. Uma boa pedida é o farfalle de quatro queijos com nozes (R$ 20). Para o inverno, o menu conta também com sopas cremosas, como o creme de palmito com redução de vinho do porto e o creme de cebola à francesa (R$17 cada). É bom guardar um espaço para as sobremesas, que são de dar água na boca, desde o tradicional brownie de chocolate com sorvete (R$ 7) ao bolo de laranja com amêndoas (R$ 5). A carta de bebidas também é bem variada. O cliente pode escolher entre drinques dos mais diversos, espumantes, vinhos e cervejas, nacionais (Devassa) e importadas, como a Eisenbahn. Às sextas-feiras, um happy hour dançante lota a casa. Grupos de samba e pagode se apresentam a partir das 18h e são responsáveis por transformar o pacato Bistrô em um lugar tão animado quanto o Beco

Fevereiro lembra logo carnaval, samba no pé, fantasias engraçadas e muita diversão. Animação é o que não falta! Neste calor que está fazendo na Cidade Maravilhosa, não é possível pensar em outra coisa senão em uma salada como prato oficial do verão. Es-

colhemos uma receita bem simples, que vai repor toda a energia necessária para curtir a folia que este mês nos oferece! E de lambuja, uma receita de bolo deliciosa e super fácil da minha amiga Juliana. Bon apetit e divirtam-se!

Salada Verão

Paleta de cordeiro, carro-chefe do Bistrô do Beco

Ingredientes: ½ xícara de caldo de limão 1 kg de maçã com casca em cubos 1 kg de abobrinha verde em cubos 2 colheres de chá de sal 100 g de macadâmia tostada 1800 g de talos de aipo picado 1 xícara de maionese 2 xícaras de iogurte 1 colher de chá de sal ½ colher de sopa de açúcar

Modo de preparo: Regue as maçãs com o limão e misture bem para que não escureçam. Polvilhe a abobrinha com as 2 colheres de sal, deixe por 10 minutos para que sorem bem. Escorra a água numa peneira e esprema levemente. Misture os ingredientes do molho. Acrescente a maçã, a abobrinha, o aipo e a macadâmia. Conserve na geladeira até a hora de servir.

Bolo Carnaval

Namorado com purê de banana da terra

Quiche com salada

das Sardinhas. “Nos dias de happy hour, nós não saímos daqui antes das 2h da manhã. É impressionante como a casa fica lotada. Foi uma ótima ideia trazer esses grupos para tocar aqui”, diz, feliz, a gerente. Tratase de mais uma opção nesta região para se comer bem, relaxar ou, para os mais animados, dançar e escutar um bom samba de raiz.

Rua Miguel Couto, 139, Centro. Fone: (21) 22233970. 2ª a 4ª, das 11h30 às 16h; 5ª e 6ª, das 11h30 às 22h. Não abre em dias de feriados. Cartões de crédito: Diners Club, MasterCard e Visa.

karina howlett karina.martin@light.com.br

Ingredientes: 4 ovos 4 laranjas 1/2 copo de óleo 2 xícaras de farinha 2 xícaras de açúcar 1 colher de sopa de fermento Modo de preparo: Pré-aqueça o forno. Esprema as laranjas, colocando um copo para a massa e outro para a calda. Separe as gemas e bata as claras até obter consistência. Junte gemas, óleo,

suco de laranja, farinha, açúcar e fermento. Continue mexendo até que a mistura esteja homogênea. Unte a fôrma e despeje a mistura. Leve ao forno por 30 minutos em fogo médio. Retire da fôrma e regue com o suco. Decore com açúcar, granulado ou confetes.

carolina portella e juliana costa redacao@folhadarualarga.com.br


15 fevereiro de 2010

folha da rua larga

lazer

Entre na onda, siga os amigos O tuiteiro Felipe Neto explica as diversas possibilidades de uso do microblog Divulgação

O Centro do Rio de Janeiro está repleto de prédios históricos e construções antigas que fazem parte da história do país. No entanto, a região não deixa de ser moderna e atual. Ruas, empresas e bairros inteiros dessa área da cidade estão presentes, também, no mundo virtual e coincidem na escolha da ferramenta de comunicação: o Twitter. O site, um dos mais acessados e comentados do mundo, deu origem a um novo verbo na língua portuguesa: tuitar, que significa, segundo o Dicionário Informal, participar do Twitter compartilhando informações e “entrar na onda, seguir os amigos”. O Twitter é um microblog, isto é, uma versão reduzida do tradicional blog, espaço na internet onde o usuário coloca seus textos, fotos e vídeos. No blog, não há limite de espaço, portanto o usuário fica livre para escrever o quanto quiser. Já no Twitter, as mensagens são limitadas a 140 caracteres, o que significa, em geral, aproximadamente duas frases. Esse detalhe caracteriza a agilidade da ferramenta, que não requer muito tempo para a produção

Felipe Neto, autor do blog Controle Remoto

do seu conteúdo. A ideia é ser rápido e objetivo. Felipe Neto, de 22 anos, é exemplo de usuário fiel e defensor do Twitter. Autor do blog Controle Remoto, administra também o portal LinkLog e possui uma conta no Twitter (@felipeneto), com 4338 seguidores. O “ciberempreendedor” dá sua opinião sobre o site: “A limitação de caracteres do Twitter sem dúvida tem um aspecto negativo, que é a pregação do costume de escrever menos e abreviar cada vez mais.” “Eu utilizo o Twitter de uma forma não muito ortodoxa. Extravaso pensamentos, falo sem pudor, utilizo-o como local para falar o que eu quiser sem me preocupar com a linguagem necessária, como para uma publicação oficial no blog, por exemplo. Dessa forma, crio uma conexão com muitos dos meus leitores de uma forma divertida. Além disso, é claro, serve para tirar muitas dúvidas e

passar um conteúdo interessante para quem me segue”, explica Neto. O site pode ser usado para diversão, comunicação pessoal, ler notícias, curiosidades e várias outras funções. O twitter @rioDJaneiro, por exemplo, possui 18.219 seguidores e, em seus últimos posts, pode-se encontrar anúncio de show, blocos carnavalescos, amostras de teatro de animação, notícias da cidade, curiosidades sobre o Rio e informações sobre o carnaval. “Utilizo de forma profissional e pessoal. Falo, sim, de coisas do meu dia a dia, mas evito as bobagens. Ainda esta semana recebi uma compra eletrônica em casa, tirei foto, tuitei e ficamos conversando sobre o produto. Twitter é isso, impossível deixar o pessoal de lado quando se é, de fato, uma pessoa a utilizá-lo”, completa Felipe, referindose ao fato de que há alguns falsos usuários.

O bê-a-bá do Twitter • Home é a primeira página que aparece quando o usuário faz login no site • Post é tudo aquilo que é enviado para o Twitter • Caractere é cada letra, pontuação ou espaço entre as palavras • No Twitter, há um máximo de 124 caracteres por post • Se o endereço da página for www.twitter.com/fulano, escreve-se @fulano • O replie é quando um usuário comenta ou retruca o post de outro usuário • Direct message é a mensagem direta e pessoal. Somente o destinatário irá recebê-la e visualizá-la • Retweet é postar novamente o que outro usuário escreveu. Quanto mais pessoas o fizerem, mais propagada será a mensagem

LIGUE. ACESSE. ANUNCIE.

Essa ferramenta pode ser muito útil para quem quer ficar sabendo dos programas culturais que acontecem pela cidade, ex: @lanalapa, @ parada_da_lapa, @lapaRJ, @CCBB_RJ, @samba_carioca e @ BlocosCarnaval. Para isso, basta criar um twitter, localizá-los e seguilos. A partir daí, todas as mensagens que forem postadas nesses twitters que estão sendo seguidos irão aparecer na home. Não há necessidade de entrar em cada página quando se deseja ler as atualizações. “Logicamente, eles (leitores do blog) preferem o recurso de comentários do blog, mas muitos se comunicam comigo por e-mail e, ainda em maior número, pelo Twitter, através de replies e direct messages. No final, o Twitter passa a ser não apenas um hobby e uma forma de extravasar. Tornase também uma ferramenta de trabalho”, diz Felipe. Não há regulação ou censura para a ferramenta. O twitter @centro_rj, por exemplo, publica somente dicas de lojas, estabelecimentos e serviços da região central da cidade. É como se fosse um outdoor virtual, onde se anuncia o nome das lojas ou locais, telefones e endereço. Até o dia da produção desta matéria, o microblog possuía 1.555 seguidores.

rodrigo brisolla redacao@folhadarualarga.com.br

baú da rua larga Papa-tudo para animar o carnaval O carnaval vem chegando e a Rua Larga tem seu nome gravado na história da folia. Em 1928, os passageiros do bonde da linha São Januário promoveram uma batalha de confetes para homenagear o veterano motorneiro Ivo Costa. Nascia, então, o carnaval no bonde.

Na década de 50, o carnaval no bonde já era sucesso nos festejos carnavalescos da cidade. Também, naquela época, muitos artistas da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, participavam dos shows realizados no antigo salão de recreio da sede da Light. Acervo Light

A partir daí, os funcionários da Light, companhia responsável pelos bondes e com sede na Rua Larga, passaram a fantasiar os veículos, organizando diversos blocos que saíam da rua e percorriam a cidade. Um dos primeiros blocos de empregados da Light foi fundado pelo compositor Lamartine Babo, funcionário da empresa de 1920 a 24. Este bloco, o Papa-Tudo, saía da Rua Larga no sábado de carnaval e se dirigia até a Galeria Cruzeiro, do Hotel Avenida, no Centro, hoje Edifício Avenida Central.

Essas e outras curiosidades estarão no livro Almanaque da Marechal, um resgate de histórias, de Elizabeth Mattos Dias, designer gráfica e autora de livros sobre a cidade do Rio de Janeiro, como A centenária confeitaria Colombo e Onde morou. Ela também criou e desenvolve o blog Rio Que Mora No Mar: rioquemoranomar.blogspot.com.

da redação redacao@folhadarualarga.com.br

(21) 2233 36900 www.folhadarualarga.com.br

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Caindo na folia

dicas da cidade Chorando com Jacob O chorão Jacob do Bandolim será lembrado pelo Alcantilado, duo formado por Fábio Nin (violão) e Paulo Sá (bandolim). A dupla montou o show Naquela Mesa em Tempos Modernos, em homenagem ao mestre bandolinista, fundador do conjunto Época de Ouro, em quatro dias de apresentação. Dia 25/2, receberão Silvério Pontes, 26/2, Gabriel Grossi, 27/2, Vitor Gonçalves e 28/2, Nicolas Krassik. Direção e arranjos de Fábio Nin e Paulo Sá. Sempre às 19h e ingressos a R$ 10. O Centro Cultural dos Correios fica na Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro.

por onze integrantes que desempenham flauta, clarineta, violão 6, violão 7 e cavaquinho. A apresentação pode ser conferida no Museu João e Maria (Av. Marechal Floriano, 19, sobreloja), com entrada franca. Fantasias reinventadas Ao desconstruir fantasias já utilizadas por foliões nos desfiles das escolas, Luzia Veloso cria suas obras repetindo os gestos de colar, unir, costurar e bordar, tal como ocorre nos barracões das escolas de samba. A exposição conta com doze obras realizadas em técnica mista, a partir de elementos usados em fantasias de carnaval.

Paulo Sá e Fábio Nin homenageiam Jacob do Bandolim

Villa-Lobos 0800 O grupo Chorando Baixinho, formado por jovens estudantes do curso de música Villa-Lobos, apresenta repertório eclético que abrange tanto Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Ernesto Nazareth e Waldir Azevedo quanto peças de autores clássicos como Bach, Beethoven, Carlos Gomes e Heitor Villa-Lobos. O conjunto, dirigido pelo professor Genivaldo Soares, é composto

Suas criações não remetem a nenhum tipo de figuração ou simbolismo. São modelagens de matérias brilhantes e coloridas, coletadas em fantasias de foliões e que, agora transfiguradas, reencarnam as seduções e fetiches do carnaval. O Centro Cultural Justiça Federal fica na Avenida Rio Branco, 241.

da redação redacao@folhadarualarga.com.br

Bloco da Rua Larga e É Pequeno aquecem as turbinas para o carnaval Sacha Leite

Sexta-feira, fim de expediente, ainda sol quente. Dali a pouco começam a chegar, caminhando pela rua, seminuas, as mulatas que iriam animar os foliões do Bloco da Rua Larga. Dois quarteirões ao lado, outro ponto fervilhando: o bloco É Pequeno, Mas Vai Crescer, que lotou o restaurante Velho Sonho com baile de máscaras e o concurso Musa do Carnaval 2010. Ambos realizaram competição para a escolha da marchinha tema do bloco. A cerimônia de entrega do Troféu Jamelão, que coroou o samba vencedor do 2º Concurso de Samba de Quadra, promovido pela Light, cuja canção vencedora seria tema do Bloco da Rua Larga, aconteceu no Circo Voador, no dia 28 de janeiro. Subiram ao pódio os renomados Noca da Portela e Monarco. No entanto, o primeiro lugar foi para Juan Espanhol e Sylvio Paulo pelo samba Luiz, luz da Vila, em homenagem ao importante compositor e exfuncionário da Light Luiz Carlos da Vila. Os produtores culturais Haroldo Costa e Paulo Roberto Direito estavam presentes no Bloco da Rua Larga, que começou seguido por 50 pessoas e foi ganhando novos adeptos ao longo do caminho. Os passantes se juntaram ao bloco para cantar marchinhas como Cidade Maravilhosa, Cabeleira do Zezé e Rema remador, puxados por Espanhol, Sylvio Paulo e pelas mulatas sambistas dançando e cantando sobre o trio elétrico. Para delírio do bloco, no momento em que o trio elétrico entrava nas ruelas paralelas à Avenida Marechal Floriano, as mulatas precisavam se abaixar, porque a fantasia de penas e plumas era muito alta para a fiação que perpassa a rua: “Para não enroscar, elas têm que rebolar”, comentou um bemhumorado folião. Apesar de o Bloco da Rua Larga estar entre os blocos autorizados pela prefeitura, não houve fechamento do

Porta-bandeira e mestre-sala, Tânia e o Roberto, sustentam o estandarte do bloco

trânsito. O trio elétrico vinha acompanhado por um casal de mestre-sala e porta-bandeira, seguidos pelos foliões e por carros, motos e caminhões: “Mandamos o ofício para a prefeitura, mas não houve fechamento do trânsito”, disse um dos organizadores que tentava formar um cordão de isolamento para o bloco, em plena Presidente Vargas na hora do rush.

Dissidentes do Escravos da Mauá

O É Pequeno, Mas Vai Crescer, formado em sua maioria por funcionários da Embratel, optou por fazer a festa do bloco em um lugar fechado, o restaurante Velho Sonho, do presidente do Polo Empresarial Nova Rua Larga, Milton San Román. Cobrando R$ 5 pela entrada, ou gratuita para quem fosse vestido com a camisa do bloco, o É PequeMarchinhas eleitas tema no se destacou pela do carnaval 2010 animação dos muitos foliões, embalados É Pequeno, Mas Vai Crescer pela Banda Rio: “SoTrecho de De volta ao Perigoso mos dissidentes do Autor: Guilherme Wesley Escravos da Mauá. Íamos sempre, até “Salve o Livramento, que começamos a Camerino e a mesa do bar formar nosso próprio Menina chega mais perto grupo”, explicou Que hoje é dia de se soltar! o diretor-adjunto e De volta ao Perigoso, puxador Marco SalTudo está em seu lugar gado. De volta ao Perigoso, Segundo Marco Todo mundo ao Deus dará” Salgado, em 2005, o grupo de amigos Bloco da Rua Larga começou a frequenTrecho de Luiz, luz da Vila tar o bloco Escravos Autores: Espanhol e Sylvio Paulo da Mauá. Dois anos depois, os colegas “Luiz, o teu nome é a luz de trabalho se deram Que um “i” disfarçou e conduz conta de que eram O brilho da chama que te clareia muitos, e, pelo amor No céu um coral a cantar, ao carnaval, decidiO show tem que continuar ram criar o EscraE pra te recepcionar, Candeia” vos do Século XXI, fazendo menção à

companhia telefônica em que a maioria do grupo trabalha. Segundo Marco, em 2007, eles decidiram “se libertar da escravidão” e criaram o É Pequeno, Mas Vai Crescer. Pelo terceiro ano consecutivo, o bloco realiza o concurso de Musa do Carnaval do É Pequeno. Este ano, seis funcionárias da Embratel e da Brasil Center se candidataram ao título. As voluntárias tinham a oportunidade de improvisar o solo de samba acompanhadas pela Banda Rio. Foram eleitas as três beldades mais aplaudidas pelas cerca de 200 pessoas presentes. O tesoureiro Felipe das Neves contou que a diretoria do bloco é formada por 20 pessoas que se reúnem pelo quinto ano consecutivo: “O enredo desse ano é ‘A volta do Perigoso’, o bar que costumamos frequentar e andou fechado por um tempo”. Segundo Felipe, o É Pequeno desfila toda quinta-feira que precede o carnaval: “Este ano, desfilaremos no dia 11/2, concentrando às 18h30, entre a Rua Senador Pompeu e a Alexandre Mackenzie, convida Felipe.

da redação redacao@folhadarualarga.com.br


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