Folha da Rua Larga Ed.16

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Um tour virtual pelo Morro da Conceição

Jovens da região explicam por que não se relacionam com o entorno

O artista Guenther Leyen registra, em CD interativo, os principais pontos do lugar.

Estudantes do Pedro II e São Bento costumam conhecer monumentos depois de formados. Eles falam da falta de estímulo a andar pelas ruas do Centro.

folha da rua larga

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folha da rua larga RIO DE JANEIRO | DEZEMBRO DE 2009

entrevista

Presidente do TRF2 fala sobre a segurança na Rua Acre O desembargador federal Paulo Espírito Santo fala sobre a importância do TRF2, há 20 anos, na Rua Acre como representação do poder judiciário. A segurança seria um problema de todo grande centro urbano.

Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 16 ANO 2009

Eletronuclear comenta apagão e analisa energia para 2010 Divulgação

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lazer

Memórias do Dragão

A história da loja que patrocinava um programa de rádio apresentado por Ademar Casé. “O Dragão da Rua Larga” foi tema de um jingle de Noel Rosa e motivou Carlos Heitor Cony a escrever uma crônica. Leia na nova seção “Baú da Rua Larga”. página 15

gastronomia

Málaga saúda a tradição página 14

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Othon Pinheiro da Silva defende a necessidade de investimentos no setor elétrico e diz que é necessário ter um projeto energético sustentável. O presidente comenta também sobre a ideia de revitalizar a região da Rua Larga. página 7

Subprefeitura afirma que o Centro é o único bairro com coleta diária A Subprefeitura do Centro comenta as questões mais apontadas na seção “Se essa rua fosse minha”, da FOLHA DA RUA LARGA, em que o tratamento de calçadas, do asfalto e a limpeza urbana foram citados como pontos críticos. O ex-subprefeito, Marcus Vinícius, analisa projetos de conscientização da população como o Super Gari e o Lixômetro. página 13

Lielzo Azambuja


2 dezembro de 2009

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nossa rua

Se essa Rua fosse minha

cartas dos leitores Além de um balcão de negócios

Sacha Leite

“Iluminava mais, policiava, melhoraria a limpeza e podaria as árvores: ontem à noite caiu um galho em cima de um carro. Essa rua é muito abandonada. Quando chove alaga tudo. Na Visconde de Inhaúma e Alcântara Machado é ainda pior” Sérgio Júnior comerciante

Sacha Leite

“Eu acertava a dinâmica da limpeza urbana e entraria em contato com a Comlurb para que ela fizesse coleta seletiva na rua. Não sei se o contato foi feito, mas acho fundamental, senão ficam esses lixões a céu aberto” Liliane Maciel autônoma

Sacha Leite

“Trataria as calçadas, taparia os buracos e nivelaria as ruas. Eu quase caí uma vez, com salto fino, por causa da calçada. Estava faltando uma pedra portuguesa e eu quase “fui”. É difícil ser mulher em uma rua assim” Fernanda Cristina corretora de imóveis

folha da rua larga Conselho Editorial - André Figueiredo, Carlos Pousa, Francis Miszputen, João Carlos Ventura, Mário Margutti, Mozart Vitor Serra Direção Executiva - Fernando Portella Editora e Jornalista Responsável - Sacha Leite Colaboradores - Carolina Portella, Lielzo Azambuja, Teresa Speridião, Karina Howlett, Ranti Ferraz, Nilton Ramalho, Bruna Leão Rua, Antônio Agenor, Juliana Costa, Natale Onofre Projeto gráfico - Henrique Pontual e Adriana Lins

Designer assistente - Jade Mariane e Mariana Valente Diagramação - Suzy Terra Revisão Tipográfica - Raquel Terra Produção Gráfica - Paulo Batista dos Santos Impressão - Mávi Artes Gráficas Ltda. Equipe Comercial - Natale Onofre e Carlos Lyra Tiragem desta edição: 5.000 exemplares Anúncios - comercial@folhadarualarga.com.br

Redação do jornal Rua São Bento, 9 - 1º andar - Centro Rio de Janeiro RJ - CEP 20090-010 - Tel.: (21) 2233-3690 www.folhadarualarga.com.br redacao@folhadarualarga.com.br comercial@folhadarualarga.com.br

Acredito que as suspeitas levantadas pelo urbanista Antônio Agenor com relação às consequências da implementação do projeto Porto Maravilha, do Instituto Pereira Passos, para o Morro da Conceição devem ser estendidas também a outras áreas do Centro do Rio de Janeiro que se encontram no meio termo entre o abandono e a preservação. Se por um lado, a distância do poder público para com os problemas relacionados a essas áreas fez com que se mantivesse um “modo de vida” característico de um centro histórico, também fez com que esses locais de inestimável valor fossem evitados por muitos, seja por causa da insegurança ou pela falta de infraestrutura. E agora, com a procura de novos locais de expansão para novos negócios, “redescobre-se” o Centro, a Zona Portuária, aparentemente sem se levar em conta as histórias, as relações dos que moram ali há tempos independentemente da revitalização econômica destes locais. Será que os moradores da Rua Larga poderão arcar com os custos de viver em uma zona “revitalizada”? Serão consultados sobre as possibilidades dos novos projetos ou apenas “informados” de seu destino em uma reunião informal com os planejadores dessa empreitada? Espero que os empresários e gestores responsáveis por esses e tantos outros projetos possam ler jornais como a Folha da Rua Larga , para que vejam esses lugares como algo além de um “balcão de negócios”. Mais do que da história do Rio de Janeiro, é da história de pessoas reais que estamos tratando, que vivem, sonham e ganham suas vidas aqui, no Morro da Conceição e em

qualquer outro lugar que representa as raízes da cidade do Rio de Janeiro, mas que só são lembradas quando o local onde moram representa alguma possibilidade de lucro. Rodrigo Ribeiro Sociólogo

Onde encontrar o jornal Acompanho o desenvolvimento da Folha da Rua Larga há um ano e posso dizer que mudou para melhor. Matérias bem boladas e variadas. Acho ótimo termos um jornal de qualidade aqui no Centro. O problema é a distribuição. Todo mês fico sem saber onde encontrar o jornal. Às vezes vou ao Paladino, à Light e ao restaurante Málaga à procura, sem sucesso. Proponho, para 2010, que o jornal estabeleça alguns pontos fixos onde os leitores possam encontrá-lo, ou até mesmo estar disponível em algumas bancas de jornal. Núbia Ricca Comerciante

Cultura na região da Rua Larga

Tenho certeza que os estúdios de dança fazem apresentações, museus e centros culturais desconhecidos fazem suas mostras. Sei que a Folha da Rua Larga divulga parte do circuito, mas vai aqui a minha crítica: gostaria de ter mais informações sobre a ampla produção cultural da área que não é divulgada, como, por exemplo, a programação dos sambas na Pedra do Sal. Sérgio Roberto Torres Estudante

leitor@folhadarualarga.com.br


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Lar, Doce Larga Hóspedes permanentes consideram a Marechal Floriano um lugar tranquilo para se morar Sacha Leite

Seu Manel na varanda de seu quarto

Funcionário de uma grá- interior de São Paulo, seu fica na Rua Visconde de Manel morou no Méier asInhaúma, seu Manel vive há sim que chegou ao Rio de quase uma década em um Janeiro e se empregou como sobrado de 3 m² no Largo gerente de uma gráfica. de Santa Rita. Quando perApesar de gostar de haguntado se pretende deixar bitar a região, seu Manel a região, responde de pron- é crítico em dois aspectos. tidão: “Desde que me sepa- Ele reivindica uma reforma rei da minha na rede de esposa, vivo esgoto e nos aqui. Meus canais plufilhos falam viais: “Por para eu me ser muito mudar, mas antigo, basta não saio por chover um nada” — pouquinho defende o e já alaga”. comerciante Para Manel, — “Como outro quesitrabalho o to que precidia todo, sa ser revispara mim, to é o lazer: morar aqui Seu Manel, “De vez em produtor gráfico quando vou é ótimo. E o fim de seao CCBB, mana é tranquilíssimo”. ao Panteão... Mas aqui falta No casario típico do iní- diversão”. Ele confidencia cio do século XX, os pas- que, quando tem tempo lisantes podem ler: “Quartos vre, costuma ir à praia, aos a R$10”. Seu Manel escla- museus, ao Maracanã e, rarece que o dele é mais caro, ramente, ao cinema. ele paga R$ 12 por habitar Como sugestão de lazer um quarto mais ventilado, para a região, seu Manel e explica que tem gente que propõe ações esportivas fica apenas uma noite, mas e culturais simples, como há os que como ele ficam corridas de bicicleta, campor muitos anos. peonatos de skate e músiSeu Manel conta que du- ca ao vivo. Segundo ele, a rante o final de semana cos- falta de opções em diversão tuma descansar, lavar peças nas proximidades da Praça de roupa e fazer refeições Mauá é o que mais deixa a na rua: “Como em um res- desejar na região. taurante na Rua Acre, que Quando questionado pela fica aberto aos sábados e reportagem se seria possível domingos”. Nascido no fotografá-lo no interior do

“Se eu tivesse uma namorada, levaria para um motel. Lá em casa não é muito apresentável.”

seu apartamento, seu Manel esclarece: “Lá não entra mulher. É uma hospedaria masculina”. O paulistano contou que foi dificílimo encontrar um local adequado para hospedar uma amiga que virá de São Paulo para o Natal, já que, segundo ele, na Avenida Marechal Floriano só há pensionatos masculinos ou prostíbulos. Ele afirma que pretende continuar na Rua Larga até se aposentar. Quanto ao problema de não poder receber mulheres na hospedaria onde vive, ele explica: “Se eu tivesse uma namorada, levaria para um motel. Lá em casa não é muito apresentável” — explica — “Por duas vezes conheci mulheres pela internet. Durou pouco, mas foi bom”. A loja Biscoitolândia costumava contratar Ivy Lima para dançar e chamar a clientela A chegada “da” hóspede Ivy Lima, há três anos, problematizou a restrição às mulheres. Nascido em Vila Kennedy, o criador da personagem Xoxa, que anima pedestres e motoristas de diferentes partes da cidade do Rio de Janeiro, levou a dona do negócio a repensar antigos conceitos. Registrado desde o nascimento com o nome unissex Ivy Amista Lima, o autor da Xoxa mistura gêneros masculino e

Sacha Leite

estudos: “Faltou um aninho. No terceiro ano eu comecei a querer ir de palhaço ou de Xoxa mesmo para a escola. Deu muita confusão, daí saí da escola e de casa”. Quando indagado sobre a reação das pessoas à sua figura, ele explica: “Se eu estiver de bobeira e me provocarem, não ligo. Mas quando estou trabalhando no sinal e me xingam, xingo de volta. Acho um absurdo isso, as pessoas têm que respeitar o trabalho dos outros”, critica. Ivy conta que não há maneira de folgar, já que toda a Ivy com a performanse de Xoxa na escadaria do sobrado sua receita vem de apresentações nos sinais e, segundo feminino quando se refere mente em um programa de ele, nos fins de semana as a ele próprio. Ao ser ques- televisão, na Rede Globo, e pessoas estão a lazer, menos tionado se houve precon- ficou ainda mais conhecida. estressadas, e então costuceito por parte da direção Durante a entrevista no Beco mam se distrair e colaborar da hospedaria ao fazer o das Sardinhas, os passantes com mais facilidade. check-in pela primeira vez, comentavam: “Aê, Xoxa, tá Ivy diz que terá uma peIvy esclarece: “Com o tem- famosa!”, ou ainda: “ Te vi quena participação em um po viram que sou um rapaz na televisão!” No progra- filme cuja protagonista é honesto, trabalhador, bom ma perguntaram a ele se a a atriz Ingrid Guimarães e pagador, enfim, um cliente Xoxa seria espera que e hóspede normal”. um deboche no próximo Assim como seu Manel, com a apreano consiga Ivy também viu a tranqui- s e n t a d o r a entrar mais lidade como ponto positivo de TV Mana mídia: de morar na região: “Nunca ria da Graça “Em 2010 presenciei situação de vio- Xuxa Mevou lançar lência por aqui, não sei se foi neghel. Ivy outro persorte. Fim de semana é mais r e s p o n d e u sonagem, o sossegado ainda”. Além prontamenZipper, exdesse aspecto, Ivy elogia os te: “Criei plorando a funcionários e hóspedes da a Xoxa minha voz pensão: “São todos muito por amor a masculina”, Ivy Lima, criador gente fina e me respeitam”. Xuxa. Eu da personagem Xoxa ousa. O arO ponto fraco de residir na nunca vou tista explica hospedaria, segundo o ator, ser ‘lindona’ que mora está no tamanho do quarto como ela, sozinho e e na falta de privacidade. então eu brinco”, relata Ivy, que, não tendo com quem Além do fato, segundo ele, que se define um profissio- conversar, acaba não se de ter que lavar as roupas à nal do humor. expressando com sua voz mão na pia do banheiro e de Ivy se mudou há cinco natural: “Às vezes esquenão ter como cozinhar. meses para Jacarépaguá, ço de como é minha voz Todos os dias, de domin- e informa que, apesar de masculina”. De antemão, o go a domingo, Ivy repete guardar boas recordações multimídia compartilha que o mesmo ritual ao acor- da Rua Larga, agora vem já está gravando o CD, cujo dar. Aplica a maquiagem e ao Centro somente quando estilo é pop rock, e será diveste o figurino de Xoxa: precisa resolver algum pro- vulgado assim que for fina“Digo que sou apresentado- blema. E foi esse o caso: lizado, pela internet: “Pode ra de sinal.” A loja de doces estariam imitando a perso- ser que eu queira atingir um Biscoitolândia costumava nagem Xoxa na TV Record. público gay ou emo. Concontratá-lo para dançar e Então Ivy está buscando um fesso, não sou bonito, então chamar a clientela. A gerên- respaldo legal, já que ele é o tenho que caprichar no figucia confirma que, de fato, as verdadeiro criador dela. rino”, ironiza Ivy. vendas aumentavam quanA Rua Larga foi onde Ivy do havia performance da veio morar assim que saiu “dançarina”. da casa dos pais. Ele diz que sacha leite Xoxa apareceu recente- não concluiu, por pouco, os sacha@folhadarualarga.com.br

“Nunca presenciei situação de violência por aqui, não sei se foi sorte.


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dezembro de 2009

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boca no trombone

Cliques Rua Larga Sacha Leite

O Apagão Não falo deste último apagão da Zona Sul, que parece ter sido causado pela cachorrinha poodle de uma senhorinha de sobrenome Ataulfo de Paiva Guinle Gouveia Vieira Souto Batista Eike. Ela, coitadinha, entrou num bueiro da Rua Vinícius de Moraes, sua correntinha agarrou num fio e gerou um grande curto-circuito. Há outras versões, mas essa é a que corre na Academia da Cachaça. Falo do grande apagão nacional, causado pelos bastidores da política nacional. A nota oficial informou que o problema foi causado por três “raios que os parta” que atacaram simultaneamente, apelidados de: Sarney Power, Delúbio Dilúvio e Arruda Daninha. Realmente, um poder enorme de destruição. Não achei a conta, só a do telefone. Olhamos pela janela e toda a cidade estava às escuras. Será que ninguém pagou a conta de luz? O que fazer? “Existe uma vela em casa?”, perguntei à minha mulher. “Não! A última acendemos para Santa Rita no dia da sua festa”. “Eu acho que vi uma caixa de velas de aniversário numa gaveta da cozinha”, lembrou meu filho. Não tínhamos um rádio de pilha para saber das notícias. Isso é coisa do passado. Ligamos para um amigo – todo o Rio de Janeiro estava às escuras e mais outros tantos estados. Será que foi sabotagem? É o fim do mundo! Descer na rua, nem pensar, nesses momentos os assaltantes “nadam de costas”, os policiais se escondem... A rua estava completamente vazia. Havia apenas um torcedor do Flamengo, bêbado, com uma grande bandeira, gritando: “Vocês

vão ver! O Flamengo vai ser campeão brasileiro!”. O que fazer num apagão? Meu filho achou a caixa de velas de aniversário. Sentamos à mesa da sala, televisão desligada, computador desligado, o telefone sem bateria, nenhum falatório na rua... Podíamos sentir cada minuto passar. Uma sensação nova, incrível! Silêncio total, escuridão total. Acendemos algumas velas em cima de um bolo de laranja já comido pela metade, e o colocamos sobre um prato no centro da mesa. Servimos aquele final de guaraná sem gás, com o gelo que saiu fácil da cumbuquinha do congelador, que degelava. Cantamos Parabéns para você sem que ninguém fizesse aniversário. Ficamos ali, em silêncio por alguns instantes, um olhando a sombra do outro. Até que veio aquela vontade de falar algumas coisas que há muito tempo não comentávamos. Meu filho falou de como estava indo nos estudos, da sua namorada que nem sabíamos. Minha mulher contou das suas dificuldades no trabalho, que não estava aguentando mais, e eu disse da minha alegria em ter aquela bela família, que, embora a ausência de diálogo no dia a dia, permanecia junta, unida, cuidadosa um com os outro, honesta na vida, rica de qualidades humanas. Falamos por três horas seguidas, como há muito tempo não falávamos. E fizemos um pacto: uma vez por semana, vamos desligar a chave geral, jantar à luz de velas e falar livremente da vida. Naquela madrugada eu e a minha mulher namoramos muito ao som de gritos de prazer vindos de toda a cidade. Era o único ruído que se acendia no maravilhoso apagão daquela noite. gabriel, o provocador gabriel@folhadarualarga.com.br

Nildice Neves de Matos dá as boas vindas a 2010. A carioca, que trabalha há 20 anos com flores, espera que seja um ano de realizações e boas energias. Para a troca de presentes de fim de ano, ela recomenda rosas diversas, palmeiras e ráfias, que, segundo ela, trazem felicidade e alegria, e brinca: “Rosas mistas são aconselháveis para amizades coloridas”. Sacha Leite

Beco das Sardinhas em uma sexta no final da tarde: trabalhadores, funcionários ou simplesmente simpatizantes da região dão o ar da graça e degustam chope ao ar livre. O lugar, propício para conversas descontraídas depois do expediente, apresenta as famosas sardinhas fritas que dão título ao lugar, apelidadas carinhosamente de “frango marítimo”.


5 dezembro de 2009

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entrevista

A maior representação da Lei no Rio está na Rua Acre O presidente do Tribunal Regional Federal fala sobre o resgate do prestígio na região Sacha Leite

O desembargador federal Paulo Espírito Santo, presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio de Janeiro e Espírito Santo), fala para a FOLHA DA RUA LARGA sobre a situação de segurança na Rua Acre, onde se situa há 20 anos a maior representação do poder judiciário no estado do Rio de Janeiro. O presidente do TRF2 analisa ainda a proposta da prefeitura para a revitalização da região e o respaldo legal para a modernização dos casarios tombados.

Também penso ser alvissareiro o fato de que o projeto envolve uma parceria entre os três níveis do Poder Executivo e a iniciativa privada, assim como inclui medidas para desafogar o trânsito, com a construção de um novo acesso ao Porto do Rio, que deve ser dragado para aumentar a sua capacidade de operação em até 30%, segundo tem sido noticiado. Também esperamos que saia do papel a construção da Pinacoteca do Rio, e que a Praça Mauá ganhe um novo fôlego no cenário turístico e artístico do Rio, com a instalação de quiosques, do espaço multiuso e do anfiteatro.

FRL: Como o senhor se sente diante da insegurança instaurada na Rua Acre, onde se sedia o TRF2? De que forma essa situação poderia ser contornada? Paulo Espírito Santo: Os problemas de segurança pública não estão restritos à região do entorno da Rua Larga. A situação aqui não pode, com justiça, ser taxada de mais ou menos grave do que a que se verifica em qualquer ponto do Centro ou nos bairros residenciais do Rio de Janeiro, cidade que, por outro aspecto, sofre com uma questão que não é “privilégio” seu: a criminalidade é inerente ao grande centro urbano e não é a única geradora de insegurança da população. É preciso lembrar que o Brasil vive em estado de paz política, livre de guerras e da ação de grupos extremistas. Naturalmente, isso não quer dizer que se possa fechar os olhos para o desequilíbrio social, que está na raiz do problema, e, sobretudo, para a urgência de o Poder Público enfrentar com políticas e ações consistentes a situação aflitiva imposta pelas facções criminosas, já que é onde e quando o Estado falta que o crime domina.

Desembargador Paulo Espirito Santo, presidente do Tribunal Regional da 2ª Região

Mas apesar das críticas, não tenho dúvidas de que o Judiciário, com todas as suas dificuldades e limitações, vem se aperfeiçoando e buscando fazer a sua parte, punindo com o rigor da lei, por um lado, e assegurando os direitos da cidadania, por outro. É nessas duas frentes que vamos achar a melhor forma de atuação para dar a resposta que a sociedade exige. FRL: Como o Tribunal Regional Federal se insere no contexto da revitalização da região da Rua Larga e Zona Portuária? De que maneira o TRF2 já contribui ou poderia contribuir nesse processo? Paulo Espírito Santo: O TRF2 foi instalado na Rua do Acre no dia 30 de março de 1989. Nesses 20 anos, a corte tem funcionado como agente de revitaliza-

ção econômica e cultural da região. É fácil verificar que isso tem sido um efeito colateral da própria presença da instituição, que ocupa o prédio onde outrora funcionara o extinto Instituto Brasileiro do Café. A circulação de advogados, magistrados e servidores contribuiu para o desenvolvimento do comércio local e para o resgate do prestígio da área próxima à Zona Portuária, que por décadas foi olvidada nos projetos urbanísticos oficiais. FRL: O projeto Porto Maravilha, proposto pela Prefeitura do Rio/ Instituto Pereira Passos prevê um investimento da ordem de três bilhões de reais para a região através de uma Operação Urbana Consorciada. O precedente estaria na experiência de São Paulo com Faria Lima. Como o

senhor analisa essa proposta? Paulo Espírito Santo: O projeto de revitalização coloca o Rio de Janeiro na mesma linha das experiências bem-sucedidas de outras importantes metrópoles, como Roterdam, Barcelona e Buenos Aires, que há anos entenderam o potencial turístico e, consequentemente, econômico, cultural e social das suas zonas portuárias. No caso do Rio, ainda é preciso lembrar que a região beneficiada tem importância para a memória do país. Aqui está, por exemplo, o Morro da Conceição, que ainda conta com um conjunto arquitetônico histórico significativo e que compunha, com os morros do Castelo, de Santo Antônio e de São Bento, o quadrilátero onde se instalaram os primeiros núcleos da colonização da cidade, a partir de 1565.

FRL: De que maneira o senhor vê a proposta de modernização da área? Como ficaria a questão dos tombamentos e preservação do casario antigo? Existe algum respaldo ou limite do ponto de vista legal para essa ação? Paulo Espírito Santo: É preciso levar em conta os vários aspectos envolvidos quando se discute o assunto. O tombamento se dá em razão da relevância histórica, artística, cultural e mesmo social do bem, quando tem significância para a preservação dos costumes e da identidade de uma comunidade. Ele decorre de lei ou decreto, e, portanto, possui um valor jurídico a ser tutelado. A modernização da área é promovida pelo juízo de oportunidade da Administração Pública. Nos dois casos, o que se considera é o interesse da coletividade. Naturalmente, mesmo quando o imóvel é tombado, as restrições a alterações e obras são escalonadas em níveis, fixados pela lei. Ou seja: cada caso é um caso e deve ser analisado em todas as suas

particularidades. Penso que a prefeitura é a maior interessada em assegurar a salvaguarda do patrimônio da cidade e saberá ser criteriosa na escolha das mudanças que serão realizadas durante o projeto. FRL: O braço cultural do TRF2 é o CCJF. Há alguma ação cultural prevista para a região da Rua Larga ou Zona Portuária? Paulo Espírito Santo: Desde que foi inaugurado em 2001, o CCJF vem se firmando no panorama artístico e cultural da cidade, com suas três salas de exposição, teatro e biblioteca, bem como vem atuando na promoção da cidadania, com projetos focados, principalmente, nas crianças e nos adolescentes. Sendo tão importante para a história e para a cultura do Rio de Janeiro, a Avenida Marechal Floriano, onde está o Palácio do Itamaraty, para citar só um exemplo disso, não poderia ficar de fora da programação do centro cultural. De fato, a Rua Larga foi tema de uma bela exposição realizada entre julho e agosto deste ano, que contou com a participação de cinco fotógrafos brasileiros consagrados: Custódio Coimbra, Henrique Pontual, Mabel Feres, Rogério Reis e Walter Firmo. A mostra, patrocinada pela Light e pela Secretaria Estadual de Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura, foi um sucesso de público e incluiu mais de 30 painéis, além da projeção de imagens em telão. Esperamos que, em breve, possamos brindar o público carioca com outros eventos sobre o tema.

Da redação


6 dezembro de 2009

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opinião

Pensão alimentícia Sacha Leite

O antigo e o novo para brindar 2010

Mandamentos da casa, inscritos em placa de madeira Não pense o leitor que aqui vai se falar exatamente sobre o assunto que o título acima, numa rápida olhada, pode sugerir. A pensão aqui em questão é a Luso Brasileira, situada ali na Rua Barão de São Félix, nº 88, no caminho para a Central do Brasil. A portinha estreita, ao ser aberta, nos revela um imenso salão com paredes azulejadas em branco e azul e com grandes mesas que, sem lugares marcados, fazem com que possamos compartilhar o espaço e sentarmos ao lado de vidraceiros da Vidraçaria Caxiense, policiais militares – que chegam ao recinto sempre fortemente armados – que fazem a ronda pelas redondezas, ou mesmo funcionários das empresas por ali sediadas, tais como Embratel, Supervia e tantas outras. Fomos lá ao início da tarde de uma terça-feira,

quando pudemos saborear uma suculenta sopa de ervilha de entrada, um pargo grelhado absolutamente indescritível e fartos acompanhamentos, como farofa, purê de batatas e um feijão maravilha que, assim como as sopas servidas de entrada, passa de mesa em mesa. No mundo cada vez mais dominado pela comida a quilo e pelo fast food, é impressionante e confortante poder ir almoçar, calmamente, com amigos num ambiente tão acolhedor como é o caso desta Pensão Luso Brasileira, pela módica quantia de R$ 9,50. Mas atenção, caro leitor. Tudo na vida tem seu preço e lá imperam algumas regras de ouro que valem a pena serem passadas aos marinheiros de primeira viagem. Vamos a elas: Não se pode, em hipótese nenhuma, dividir o prato que chega à mesa. Isto significa dizer, em bom

português, que cada um pede o seu respectivo prato lá descrito no quadronegro ao fundo do salão de almoço.Também não peça para levar a comida que sobrou para casa embalada numa quentinha para viagem. Está lá escrito em letras garrafais que é “proibido levar refeições embaladas para viagem”. É muito comum nessa pensão, que não hospeda ninguém nas suas dependências, ver a Dona Elza passar apressadinha pela sua mesa e dizer: “Fala logo o que você quer que eu estou muito atarefada hoje, tem muita gente para atender”, ou ainda o Russo – um português vindo do Porto que já viajou por mais de 15 países e diz que o Brasil é o melhor lugar do mundo – abrir uma cerveja para ele e, gentilmente, oferecer aos clientes que estão ali no salão: “Quem quer dividir

esta gelada aqui comigo?” Volto à Dona Elza para dizer que, quando ela passar rapidinha por você, peça imediatamente uma jarra de limonada suíça que você verá, caro leitor, que mão precisa ela tem para dar conta dessa tarefa. O ambiente da pensão nos faz sentir como se estivéssemos almoçando na casa da nossa avó naqueles grandes almoços de família que, aos domingos, diante de uma mesa grande e farta, fazia com que a família parecesse, ao menos durante as refeições, feliz por estar ali reunida. Já são mais de três décadas de um bom e sincero atendimento que essa Pensão Alimentícia presta aos sortudos e privilegiados cariocas que têm a oportunidade de conhecer seu variado e caseiro cardápio.

antônio agenor barbosa antonioagenor@terra.com.br

A Folha da Rua Larga adentra 2010 de cara nova. A reforma gráfica, assinada pelo fotógrafo e designer Henrique Pontual, partiu da premissa que a região da Rua Larga traduz a mistura do moderno com o antigo. A conclusão pertinente foi respaldada pelo estudo feito para o livro Rua Larga, organizado por Mozart Vitor Serra e Carlos Rabaça, que reuniu tanto registros do próprio Pontual como também fotografias de Custódio Coimbra, Mabel Feres, Rogério Reis e Walter Firmo. Além do formato tablóide europeu e das páginas todas em cor, os elementos que compõem a região, como gradis, janelas e luminárias, se transformaram nos símbolos gráficos do jornal, delimitando e caracterizando cada seção. No entanto, o propósito do periódico continua o mesmo: dialogar com moradores, trabalhadores e frequentadores da região da Rua Larga (Avenida Marechal Floriano e entorno), ouvindo e registrando todos os seus anseios, difundindo esse produto, e, enfim, gerando um debate crítico e participativo em torno de uma possível revitalização na área. Outro objetivo claro é o resgate e a valorização da cultura regional, explícita, por exemplo, na matéria desta edição sobre o Centro Cultural Pequena África. O Centro do Rio, onde nasceu Machado de Assis, considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos, que abriga a Pedra do Sal, berço do samba carioca, o Morro da Conceição, com seus ateliês, ruas estreitas, casario do início do século XX, e a Avenida Marechal Floriano, com toda a sua diversidade, beleza e degradação, exalam uma história que precisa ser resgatada e preservada. Existem pes-

quisadores e especialistas debruçados sobre o tema, que precisam de espaço para veicular essas memórias e conectar o passado com o presente. Nesta edição ouvimos também os jovens que frequentam a região. Seja pela falta de estímulo, ou por uma forte preocupação com questões de segurança, o fato é que os estudantes não se relacionam com o entorno. Mário Gangeia, ex-aluno do Colégio São Bento, confessou que só veio a conhecer a Igreja de Santa Rita e o Morro da Conceição quando já havia concluído o ensino médio. Alunos do Colégio Pedro II criticaram a limpeza da rua e afirmaram que “passam batido” no caminho de casa para o colégio e do colégio para casa. A reportagem da Folha da Rua Larga ouviu também quem reside na Avenida Marechal Floriano. A hospedaria masculina localizada no Largo de Santa Rita abriga histórias de vida diversas, como as de seu Manel, que trabalha em uma gráfica em frente ao Beco das Sardinhas, e Ivy, humorista que criou a personagem “Xoxa” e se classifica como “apresentadora de sinal”. Buscamos registrar o perfil desses moradores e a observação deles sobre a rua. Como se fala ou escreve o nome das ruas, uma antiga marchinha de carnaval, a lenda urbana que não sabemos se de fato aconteceu. A seção Baú da Rua Larga foi criada com o intuito de trazer à tona curiosidades e respostas às dúvidas históricas dos leitores. Envie mensagens ou sugestões para redacao@ folhadarualarga.com.br e feliz ano novo.

sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br


7 dezembro de 2009

folha da rua larga

empresa

Em tempo de apagão Othon Pinheiro da Silva afirma que energia nuclear é uma alternativa segura e acessível Divulgação

Othon Pinheiro da Silva, presidente da Eletronuclear

Para o presidente da Eletronuclear, Othon Pinheiro da Silva, estamos no momento ideal para repensar o planejamento e a utilização das matrizes energéticas. Nesse contexto, argumenta que as usinas nucleares geram toda a sua disponibilidade desde o início de sua operação, gerando economia de energia e recursos, ao contrário das usinas hidroelétricas, que levariam um longo tempo na fase de motorização. Além disso, o presidente afirma que as usinas de Angra produzem energia limpa, não emitindo gases estufa, e vê com bons olhos os projetos de revitalização do Centro do Rio. FRL: O que representa para a Região Sudeste e para o país a nova Usina de Angra 3? Em quanto ela aumenta na capacidade atual brasileira, dando maior segurança de que a energia não vai faltar para o crescimento nacional? Othon Pinheiro da Silva: Desde que a Usina Angra 2 entrou em operação comercial, em fevereiro de 2001, a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA) passou a ter capacidade para atender

a cerca de 50% do consumo de energia elétrica do Estado do Rio de Janeiro. São 657 MW de Angra 1 e 1.350 MW de Angra 2, fundamentais para a melhoria da confiabilidade no fornecimento de energia elétrica para o sistema da Região Sudeste. Particularmente, no que diz respeito ao Estado do Rio de Janeiro, a energia nuclear respondeu, em 2008, a um terço do consumo total de energia elétrica. No ano passado, a produção de energia elétrica de Angra 1 e Angra 2 juntas foi de 14.003.775 MWh, o que representa 3,12% do mercado de energia elétrica nacional. Segundo dados divulgados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a energia nuclear foi a terceira maior fonte de geração elétrica do país, só ficando

atrás das hidroelétricas e do gás, conforme mostrado no gráfico. Vale destacar que, nos anos de 2006 e 2007, a produção nuclear foi a segunda maior fonte, liderando a geração térmica no Brasil. Angra 3 acrescentará outro bloco de energia similar ao de Angra 2. Com as três usinas em operação, o complexo nuclear de Angra dos Reis terá uma capacidade semelhante ao potencial de geração total da Cemig (aproximadamente 26 milhões de MWh por ano), sendo capaz de atender a cerca de 58% da demanda energética do Estado do Rio de Janeiro, se considerarmos os dados de 2008. Há algumas vantagens que tornam o projeto Angra 3 um dos mais importantes investimentos do setor elétrico brasileiro, como por exemplo a alta taxa de geração de energia elétrica com confiabilidade: aproximadamente 10 TWh/ ano e o aumento da base térmica do sistema elétrico interligado, contribuindo para a diversificação da matriz energética nacional e reduzindo riscos de déficit de energia elétrica, principalmente por ocasião de regimes hidrológicos menos favoráveis. Também é um fator positivo a ampliação da capacidade de geração do Sudeste, uma região historicamente importadora

“Em apenas 30 anos, a participação da energia nuclear na produção de energia elétrica chegou a 17%, tornando-se a 3ª fonte mais utilizada do mundo”

de energia elétrica, com consequente redução da necessidade de investimentos em transmissão. O aumento do porte do parque gerador local acarretou um melhor desempenho do sistema interligado de transmissão de energia elétrica, com a redução do seu carregamento; a localização privilegiada, próxima a grandes centros consumidores (cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) também é favorável; a melhoria da confiabilidade do suprimento para as regiões do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Além disso, vale destacar que a usina gera toda a sua disponibilidade desde o início de sua operação, ao contrário das usinas hidroelétricas, que levam um longo tempo na fase de motorização, quando o número de unidades geradoras é elevado. FRL: A energia nuclear é uma energia limpa. Como contribui para o desenvolvimento sustentável? Othon Pinheiro da Silva: Os aspectos ambientais da indústria nuclear como um todo, incluindo a produção de energia elétrica e toda a indústria do ciclo de combustível associada, comparam-se, favoravelmente, com as alternativas existentes para a produção de energia elétrica em grandes quantidades. No Brasil, como também em outros países, as hidroelétricas já tiveram grande parte do seu potencial economicamente aproveitável esgotada. A construção de novas usinas ocasionaria inundação de grandes áreas, arruinando-as e destituindo o local da flora e da fauna originais, o que causaria a perda da biodiversidade e de terras culti-

váveis, provocando danos ambientais irreparáveis e influenciando diretamente o clima da região. No caso das usinas térmicas convencionais, como o carvão, o óleo (petróleo) e o gás, a emissão de muitas toneladas de gases tóxicos na atmosfera altera o clima do globo terrestre, causando o efeito estufa e as chuvas ácidas. Em apenas 30 anos, a participação da energia nuclear na produção de energia elétrica chegou a 17%, tornandose a 3ª fonte mais utilizada do mundo. A vantagem da utilização desse tipo de energia é que não emite gases que contribuem para a chuva ácida (óxidos de enxofre e nitrogênio). Além disso, não emite substâncias que contribuem para o efeito estufa (CO2, metano etc.), não emite metais cancerígenos, mutagênicos e teratogênicos (arsênio, mercúrio, chumbo, cádmio etc.); não emite material particulado poluente, não produz cinzas e não produz escória e gesso (rejeitos sólidos produzidos em usinas a carvão mineral). Tratase de uma forma de energia barata, já que requer uma pequena área para sua construção, podendo ser instalada próximo aos grandes centros, com água em abundância para sua refrigeração, além de ser capaz de extrair uma enorme quantidade de energia de um volume pequeno de combustível. FRL: Quais as principais contrapartidas no âmbito da cultura, do meio ambiente, da saúde, da educação e outros benefícios que a Eletronuclear dará à região de Angra, Paraty e Rio Claro pela construção de Angra 3? Quanto será investido?

Othon Pinheiro da Silva: No dia 5 de outubro, a Eletronuclear e a Prefeitura de Angra dos Reis assinaram um termo de compromisso que trata sobre as contrapartidas socioambientais de R$ 150.444 milhões, dos R$ 317 milhões que serão investidos no município pela construção de Angra 3. Do montante acordado, a prefeitura terá ingerência sobre R$ 150.444 milhões. Os recursos serão aplicados, ao longo de seis anos, nas áreas de educação, saúde, defesa civil, ação social, obras e serviços públicos, atividades econômicas, água e esgoto, cultura e meio ambiente (veja detalhes no arquivo em anexo). O restante, R$ 166.556 milhões, será investido em projetos definidos pela Eletronuclear, em parceria com diversos órgãos, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), por exemplo. FRL: Como a empresa vê a revitalização da Zona Portuária e sua repercussão na Região da Rua Larga, Candelária, onde a empresa tem seu escritório central? Othon Pinheiro da Silva: A Eletronuclear vê com grande entusiasmo e expectativa. Os projetos que vêm sendo apresentados são de grande impacto positivo para a região. E eles serão implementados num momento em que a empresa vive uma transição na sua atuação de regional para nacional, com o projeto da Central Nuclear do Nordeste em andamento.

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8 dezembro de 2009

folha da rua larga

cultura

Memória ancestral afro-brasileira Centro Cultural Pequena África pede que seja discutida a revitalização cultural da região Sacha Leite

Comemoração pelo Dia Nacional do Samba

No Dia Nacional do Samba, em um almoço no Bar do Adão, no Largo de São Francisco da Prainha, a FOLHA DA RUA LARGA ouviu Rubem Confete e Celina Rodrigues sobre a importância do resgate da cultura negra para a região: “Estamos ao lado da Pedra do Sal, onde João da Baiana e outros bambas, como Donga e Pixinguinha, criaram o samba carioca”. O radialista, que possui um vasto conhecimento sobre a história da região, possui um problema na vista, que o faz enxergar apenas vultos nas laterais. A cegueira física não o impede de estar à frente do Centro Cultural Pequena África, ao lado da produtora Celina Rodrigues, e de ser um grande ativista na preservação da memória e renovação da autoestima afrodescendente na região. Segundo eles, o samba, por exemplo, não existiria tal como é se não fosse o envolvimento negro e mestiço. Não por acaso, o marco do nascimento desse gênero musical é também o ponto onde o sal era descarrega-

do pelos escravos. Certo dia, o radialista Rubem Confete comentou com Celina Rodrigues, hoje presidente do Centro Cultural Pequena África: “Precisamos resguardar a nossa ancestralidade”. Um ano depois de iniciados os trabalhos do Centro Cultural, Rubem e Celina fazem um balanço da importância da preservação da memória afro-brasileira na região e adiantam o que está por vir, em 2010. A produtora cultural garante que os encontros mensais vão continuar. “A melhor maneira de comunicar é através da música de raiz. Trabalhamos com a música do choro, do grito parado na garganta, da senzala... É muito libertador”, arremata Celina. A presidente do CCPA adianta que, em janeiro, realizarão um evento em que ela será a responsável pela cozinha. “Bolinho de feijoada, mocotó, angu frito... Nunca comi, não dá tempo”, se orgulha. Mas Celina esclarece que nos dias de alta recepção são servidos pratos típicos da culinária afro-brasileira, também

Sacha Leite

O radialista Rubem Confete em frente à Pedra do Sal, berço do samba

chamados de “comida de orixá”, como caruru, vatapá, omolocum e acarajé, todos preparados por ela. Rubem Confete lembra ainda de Machado de Assis, considerado um dos maiores escritores de todos os tempos, que era negro, pobre e nascido no Morro do Livramento, no Centro do Rio. “Como um homem jovem, filho de uma negra, conseguia escrever da maneira como escrevia? Ele foi o primeiro e único escritor da época a escrever sobre a alma do personagem”, analisa Rubem. E faz um apelo: “Neste momento em que se pensa na revitalização urbana da região, peço que se pense também na revitalização cultural. Não se pode deixar que essa história desapareça”. O radialista viaja ao passado e lembra que os ex-escravos prestadores de serviço de carga e descarga nos portos passaram, a partir do final do século XIX, a se unir em organizações como o Sindicato dos Estivadores e o Sindicato dos Arrumadores, para reivindicar seus direi-

tos como seres humanos livres e aptos a exercer plenamente suas respectivas cidadanias. Mas, desde então, o processo não tem sido fácil. “Quando comecei no samba, em 1965, fui preso na Rua do Lavradio por tocar o gênero”, lembra Rubem Confete, que trabalha há mais de 30 anos na Radiobrás. Enquanto Rubem contextualiza, Celina traz para os tempos atuais: “Vamos nos reunir essa semana para definir o calendário de 2010. No nosso primeiro ano de funcionamento assoviamos, chupamos cana e trabalhamos com recursos próprios... Não é fácil, nem todo mundo entende. Temos que explicar o tempo inteiro o que significa ancestralidade”, desabafa ela. Rubem Confete prossegue a aula: “A revolta dos Malês surgiu na Rua Barão de São Félix. Lá morava dom Obá II da África, que veio de Lençóis quando se deu a Guerra do Paraguai. Na época ele já era negro livre, participou da Guerra do Paraguai, veio ferido para o Rio e se tornou

amigo do Pedro II. Dizia que não adiantava abolição sem saúde, educação e trabalho” — elucida — “Ele era babalorixá, herói de guerra e jornalista”. Confete conta que, quando veio a República, dom Obá perdeu a patente e tentaram desvalorizálo. No entanto, segundo o comunicador, sua força de ancestralidade era tão grande que o pesquisador Eduardo Silva escreveu uma tese sobre ele, preservando a sua memória. Rubem ressalta ainda que, durante e após o período de escravidão, houve senhores que reconheciam a importância da sabedoria afro-brasileira. De acordo com Celina e Confete, a democracia racial não passa de uma grande hipocrisia: “Senão você anula todo um povo que veio da África e aqui se transformou em diversas cores. Essa herança ancestral difere dos princípios ocidentais. Aqui, por exemplo, se estuda para ser doutor. Nós consultamos os orixás, que nos dirão a que viemos” — esclarecem — “Com essa história de igualdade entre negros e brancos as pessoas perderam a noção do sofrimento. Ao longo de 400 anos de escravidão, morreram 12 milhões de negros. E há quem diga que é contra as cotas. Eu sou a favor de indenização”, provoca Confete. “Como você tira a pessoa da sua terra, traz para cá, a força a trabalhar, a escraviza... O Estado tem que se responsabilizar por isso”, conclui. Há três meses, o instrumentista Humberto Araújo prestigiou a reunião mensal do CCPA, como convidado especial. O músico, que estudou saxofone com Paulo Moura, Nivaldo Ornellas e flauta com Eduardo Monteiro, e gravou

com os principais ícones da MPB, faz questão de integrar o movimento iniciado pelo CCPA. Celina reforça que a expressão artística mais significativa da Pequena África é a musicalidade. “Através da música conseguimos chegar às pessoas, não só das redondezas”, afirma Celina. O Centro Cultural Pequena África homenageou, em novembro, o mês nacional da consciência negra através da promoção de debates, seminários e rodas de samba. As noites da Pequena África são comandadas por Rubem Confete e animadas pelo grupo “Toca, Canta e Dança”, liderado por Naval, que organiza a programação artístico-musical com a participação especial de convidados envolvidos com as raízes da cultura popular, como o trompetista Darcy da Cruz, os compositores Carlos Negreiros, Flávio Moreira e outros músicos. Eles contam que, a cada evento a ser iniciado, devem reverenciar os orixás e pedir permissão para a realização. “Eles conversam com a gente, interagem, dão respostas a todas as nossas perguntas” — revela Celina — “Não é à toa que em todos os eventos que fazemos aqui, comentam: ‘É uma energia tão boa...’ Eles já saem daqui imantados”, se alegra a presidente. O pesquisador Fernando Sérgio Dumas, que viaja o Brasil para estudar ervas curativas, integra a diretoria do CCPA e traz uma linhagem mais cientificista. O Centro Cultural Pequena África fica no Largo de São Francisco da Prainha, nº 4, sobrado.

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cultura

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Um passeio virtual pelo Morro da Conceição Guenther Leyen cria ferramenta que possibilita ir ao Morro sem sair de casa Sacha Leite

O rapaz anunciando o jornal, a ave-maria que toca na igreja, gritos das crianças jogando bola, o samba na Pedra do Sal e o canto do bem-te-vi embalam o primeiro passeio virtual ao Morro da Conceição, criado pelo fotógrafo e programador Guenther Leyen. O artista plástico, que faz parte do Projeto Mauá Morro da Conceição, reuniu 184 fotos, sendo cerca de 120 delas panorâmicas, e capturou fragmentos sonoros dos acessos ao Morro, ao longo de dois anos. “Eu presenteei minhas filhas com um jogo de computador chamado Myst. Ficamos vidrados, porque você não precisava matar ninguém para vencer, não havia risco ou violência. O objetivo era decifrar as charadas. Dali surgiu a inspiração para o tour virtual. Desde que vi o Morro pela primeira vez quis fazer algo do gênero”, fala Guenther. Quem conhece o Morro da Conceição sabe que as ladeiras e vielas estreitas, plenas de casinhas com fachadas do início do século XX, são ideais para um passeio a pé, mas a visita virtual vem a calhar para quem está longe ou sem tempo livre para sair. Ao longo da pesquisa o artista descobriu lugares e monumentos pouco conhecidos pela maioria dos moradores do Rio: “Tem algumas imagens que fiz questão de detalhar, como a pia da Igreja de Santa Rita, do início do século XVIII, com aplicação de

pedras coloridas e influência oriental”. Ele lembra alguns detalhes que ganharam registro no CD e já não existem mais, como, por exemplo, uma placa divulgando a história da Praça Mauá. Museus na Europa e sites de hotelaria já fazem esse tipo de visita virtual. Alguns grupos americanos costumam reunir fotos, reconstituir ambientes e fazer maquetes virtuais. O Google Maps, por exemplo, pretende criar um tour virtual pelo Rio de Janeiro. A exploração da virtualidade é um fenômeno irreversível que se expande em todo o mundo. No entanto, o trabalho de Guenther Leyen é inédito porque nunca na história alguém mapeou o Morro da Conceição e o seu entorno imediato possibilitando interatividade, mostrando o nome de todas as ruas e pontos importantes da história e arquitetura do local. O passeio começa na Avenida Rio Branco, esquina com a Rua Acre. Ao longo da viagem é possível conhecer o ateliê de artistas como o Paulo Dalier, e observar detalhadamente não apenas suas pinturas em tinta óleo, mas também a vista privilegiada para a Baía de Guanabara. Pode-se dar um giro de 360º no Jardim do Valongo e descer para a Camerino. Do Observatório do Valongo temos uma visão ampla e panorâmica de todo o Centro da cidade. Na ladeira do Pedro Antônio é mostrada

Guenther Leyen, artista plástico, faz parte do Projeto Mauá Morro da Conceição uma cena típica: crianças brincando nas ruas e lixo depositado no meio-fio. Único armazém do Morro, o Bar do Sérgio aparece em dia festivo com cadeiras e mesas nas calçadas. A Praça Major Valô figura também em circunstância alegre: enfeitada com bandeirinhas de São João e música solada por Dominguinhos: “Que falta eu sinto de um bem / Que falta me faz um xodó / Mas como eu não tenho ninguém / Eu levo a vida assim tão só / Eu só quero um amor / Que acalme o meu sofrer / Um xodó pra mim / O teu jeito assim / que alegra o meu viver”.

Distintos retratos do berço do samba: Pedra do Sal ganha representações diurna e boêmia Guenther iniciou carreira como desenhista de padrões de tecido. Com formação em Arquitetura, ganhou destaque na imprensa ao desenvolver objetos cinéticos eletrônicos que permitiam a participação do espectador. No final da década de 70, veio morar no Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar com robótica e fundou a primeira companhia brasileira a desenvolver um sistema de Computer Aided Manufacturing. No fim dos anos 90, foi citado

no Dicionário de Artistas Plásticos do Rio Grande do Sul. A partir de 2000, retomou suas atividades artísticas, com intensa pesquisa em fotografia e manipulação digital. Seu ateliê está localizado na Rua do Jogo da Bola, 67. No passeio virtual, a Pedra do Sal, berço do samba carioca, ganha representação especial. O reduto boêmio é retratado tanto em noite de música, com um samba captado ao vivo pelo pequeno gravador digital de Guenther Leyen e mesinhas e cadeiras espalhadas pela calçada, como também em dia de pleno sol, sem o público cativo.

Para abrir a mídia no computador não é preciso instalar um programa específico, basta inserir o CD e iniciar automaticamente o passeio. Guenther concebeu todos os detalhes do programa: “Criei do zero”, se orgulha o artista. Quem tiver interesse em adquirir o software pode entrar em contato com o próprio autor através do endereço eletrônico:gl@unicam. com.br

Da redação


10 dezembro de 2009

folha da rua larga

social

Um olhar preventivo para a violência Existem entidades que pensam como evitar o crescimento do terror O índice de homicídios, roubos e furtos no Centro do Rio cresceu aproximadamente 20%, entre 2008 e 2009, de acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP). Apesar disso, Alberto Alvadia Filho, sociólogo e pesquisador do Centro de Estudos em Segurança e Cidadania (CESeC) afirma que vivemos hoje uma mudança de paradigma: “A polícia, pensada outrora como repressiva, passa a ser encarada como uma polícia cidadã, que deve trabalhar em conjunto com a população para a garantia e a preservação dos direitos humanos”. Alberto afirma que a instituição trabalha a perspectiva de melhorar a imagem da polícia, prejudicada com um passado histórico de ditadura militar, e encará-la como aliada, buscando também parcerias com os demais órgãos de segurança. No entanto, Alberto Alvadia lembra que a garantia de condições básicas, como alimentação, saúde e educação, são determinantes para uma sociedade saudável e, portan-

to, menos violenta. O sociólogo adverte ainda que o CESeC não apresentará soluções mágicas, mas que pretende reverter o processo com afinco e dedicação: “Acho que o problema está muito complexo. Se não houver integração e parceria, vai ficar difícil.” Nesse sentido, são promovidas, anualmente, visitas guiadas às delegacias, para que representantes das mais diversas áreas de conhecimento avaliem o ambiente e o atendimento das instituições. O órgão, situado na Universidade Cândido Mendes, elabora artigos que discutem o que ocorre hoje no âmbito da segurança, como o Blogosfera policial no Brasil – do tiro ao Twitter, em que as pesquisadoras Silvia Ramos e Anabela Paiva analisam o papel dos blogs no debate sobre segurança pública. Além disso, através do Prêmio Polícia Cidadã, o CESeC incentiva ações policiais que buscam a integração com a sociedade e a garantia do respeito aos direitos humanos. Dentre

Leitura articulada e cidadã

de São Cristovão (Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas) e a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

No dia 12 de novembro, o Ministério da Cultura publicou o resultado do edital de instalação de cinco Pontões de Livro e Leitura no Brasil. Um dos selecionados é o do Centro Cultural Ação da Cidadania, na Zona Portuária (Av. Barão de Tefé, 75). Além de articular os 150 Pontinhos de Leitura da própria Ação da Cidadania, o órgão irá também agregar as atividades dos 17 Pontos de Cultura na vertente Livro e Leitura já existentes no Estado do Rio de Janeiro. O Pontão trabalhará em parceria, por exemplo, com o Ponto de Cultura da Feira

Divulgação

Cerimônia de entrega do Prêmio Polícia Cidadã Rio

as iniciativas premiadas, esteve, por exemplo, o Curso de Aprimoramento da Prática Policial Cidadã, realizado por um grupo de sargentos da Polícia Militar, cuja descrição é “a capacitação dos policiais, apoiada nas experiências do dia a dia, poderia contribuir para humanizar e aperfeiçoar a tropa”. Para concorrer, inicialmente foram inscritas 183 ações, num total de 487 policiais. O conceito do prêmio – já realizado em São Paulo pelo Instituto Sou da Paz e agora trazido para o Rio pelo CESeC – é o de

contribuir para o reconhecimento de ações policiais que tenham reduzido a violência e colaborado para a solução de um problema de segurança pública de modo eficaz, baseadas na legalidade, na valorização da vida humana e na valorização do profissional de polícia. Trabalhos como o do CESeC mostram que é possível integrar os conceitos de cidadania e segurança. Alberto Alvadia ressaltou ainda a importância da integração de dados e informações entre as forças de segurança pública e as esfe-

ras do poder público, para a dinamização, a avaliação, o mapeamento de problemas e a melhora no planejamento de estratégias de combate à criminalidade. Com relação às Unidades de Policiamento Pacificadora (UPPs), Alberto as considera uma iniciativa importante, no entanto lembra que o Estado não poderia deixar de investir em ações sociais de longo prazo, pois, segundo ele, a ocupação militar, isoladamente, já deu mostras de que não é eficaz na mudança da realidade das comunidades. Conforme Alberto Alvadia, tivemos neste ano um importante marco no setor de segurança: o Ministério da Justiça realizou a primeira Conferência Nacional de Segurança Pública. Três mil pessoas teriam comparecido à reunião, entre trabalhadores da área, gestores públicos e sociedade civil. No encontro foi definido um conjunto de “10 princípios” e “40 diretrizes” que servirão de base para a construção de uma política de segurança públi-

Sacha Leite

Stanley Jordan no CCJB O Centro Cultural José Bonifácio receberá o guitarrista Stanley Jordan no dia 19 de dezembro. O jazzista americano, que fechou uma parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, visitará no mesmo dia o Morro da Providência. O CCJB, que foi construído em 1877 para abrigar a Escola José Bonifácio, encerrará as suas atividades letivas no dia 22 de dezembro e já no

Os dez finalistas do Prêmio Rio Sociocultural 2009

dia 3 de janeiro será comemorado o aniversário da Tia Dodô da Portela. O espaço, que funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, e sábado, das 10h às 17h, oferece oficinas gratuitas de capoeira, dança afro, caratê,

dança do ventre e coral. Todos podem se inscrever. O CCJB funciona na Rua Pedro Ernesto, 80 – Gamboa. Prêmio Rio Sociocultural No dia 3 de dezembro, hou-

ve cerimônia de entrega do Prêmio Rio Sociocultural 2009, em que os 10 finalistas receberam a chancela. Foram selecionadas dez ações socioculturais realizadas no Estado do Rio de Janeiro, das quais cinco se consa-

ca para o Brasil. A iniciativa pretende, de acordo com o pesquisador, travar diálogo entre os diferentes setores da sociedade, abrindo para a participação da sociedade civil. No entanto, Alberto afirma que o movimento deve ser visto como parte de um processo que precisa se aprofundar e se expandir continuamente. O CESeC também realizou no mês de dezembro, em conjunto com o Ministério da Justiça e o Instituto Sou da Paz, a conferência “Prevenção da violência – novas perspectivas”. O encontro foi destinado a gestores e lideranças que trabalham com jovens nos vários campos de atividade (educação, saúde, cultura, esporte, sexualidade, arte, comunicação e assistência social) para discutir a prevenção da violência a partir de novas perspectivas de segurança pública. Para saber mais sobre as ações do CESeC acesse: www.ucamcesec.com.br. Da redação

gram vencedoras. A iniciativa do Instituto Cultural Cidade Viva, apoiada pelo RIOSOLIDÁRIO, UNESCO e SEBRAE/RJ obteve um total de 283 inscrições representando 71 municípios do Estado do Rio. Além do reconhecimento e visibilidade, premiou os escolhidos com um total de R$55.000,00. A realização deste projeto demonstra o avanço e a importância que trabalhos sociais estão ganhando na sociedade, criando um grande incentivo a trabalhos excepcionais.

Da redação


11 folha da rua larga

dezembro de 2009

comercio Rua Rua Larga Larga

Remando contra a maré Empresa investe na venda de sacos plásticos reciclados Sacha Leite

É comum nas ruas do Rio de Janeiro encontrarmos sacolas em tecido com a estampa “Eu não sou de plástico”. Neste momento os estabelecimentos comerciais buscam alternativas contra as embalagens plásticas, encaradas como vilões pelos ecologistas. Os saquinhos plásticos já são considerados um grave problema ambiental, já que impermeabilizam os lixões, prejudicando a decomposição de material orgânico. Personagem protagonista do filme Plastic Planet, exibido no Festival do Rio 2009 e alvo da campanha “Saco é um saco”, do governo Federal, os saquinhos têm até 2012 para serem substituídos por sacos reutilizáveis. Países como França, China e EUA costumam cobrar taxas simbólicas pelos saquinhos plásticos em supermercados, obrigando os consumidores a rever antigos hábitos. Mary Prado, diretora da Vegas Embalagens, empresa especializada em plásticos reciclados sediada na Avenida Marechal Floriano, conta que a clientela costuma pedir o saco mais em conta: “As pessoas chegam aqui querendo o mais barato, porque ‘vai para o lixo mesmo’, mas eles não pensam que este ‘mais barato’ polui três vezes mais”. E dá uma dica aos donos de restaurantes da região: “Os estabelecimentos que produzem mais de 120 l de lixo por dia têm que pagar R$ 3,50 por cada saco que ultrapassa essa quantidade. Separando o lixo seco e limpo em sacos transparentes, em vez de pagar taxa por lixo extraordinário, iria receber dinheiro por isso, ou ajudar famílias que se sustentam pela venda de material reciclável”, recomenda Mary. Nesses tempos de ecobags, Mary Prado está segura de que a venda de sacos e sacolas plásticas recicladas é benéfica. “Retiramos a matériaprima da natureza uma vez,

Mary Prado e Tássia Pacheco da Vegas Embalagens retornamos sete. Depois disso é possível transformar em biocombustível”, argumenta Mary. No entanto, é necessária uma grande revolução comportamental para que a cidade pré-olímpica adote a coleta seletiva como forma de lidar com o lixo. É preciso informação, força de vontade e investimento: um pacote de sacos transparentes com 100 unidades custa aproximadamente R$ 46. Mary Prado conta que a sua relação com a reciclagem vem da infância: “Meu pai sempre trabalhou com reciclagem. Daí, quando eu era criança falavam: ‘olha lá a filha do lixeiro’. Eu ficava feliz quando tinha promoções de algumas empresas

do tipo ‘junte a embalagem’, pois ganhava todas”, brinca Mary, lembrando que a preocupação com o lixo deve estar embutida na educação familiar. Com relação aos custos da prática de coleta seletiva, Tássia Pacheco, vendedora da Vegan Embalagens e ex-estudante de Engenharia Ambiental alerta: “O saco transparente pode ser mais caro, mas isso é questão de consciência ecológica. No que você investe na sua casa? Quais são os seus gastos? Se vai fazer coleta seletiva, isso tem que estar previsto no seu orçamento doméstico”. Caso o lixo não esteja separado e colocado em embalagens adequadas os catadores ou

Para colaborar com a Coleta Seletiva bastam dois passos:

1. Separar as embalagens em: - Orgânicos (restos de comida, cascas de alimentos, rejeitos) - Inorgânicos (caixas, papéis, garrafas, latas e vidros) Obs: As baterias e pilhas devem ser dispensadas em locais apropriados, e o óleo de cozinha armazenado em garrafas pet. O material inorgânico deve ser limpo antes de descartado 2. Utilizar sacos transparentes para facilitar a visualização e a triagem dos profissionais que trabalham com a venda de recicláveis. Obs: Segundo a Companhia Municipal para Limpeza Urbana (Comlurb) e a Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), apenas 14% da população do país facilita o processo de coleta seletiva.

moradores de rua costumam romper o saco, despejando o conteúdo no chão: “Eles têm que rasgar o saco, azul ou preto, para fazer a triagem e separar aquilo que os interessa. O que fica no chão não é retirado nem pelos caminhões, que só pegam o que está na embalagem e tampouco pelos garis, que varrem somente folhas e lixos menores. Por fim, os bueiros se entopem”, conclui Mary. A Vegas Embalagens participa de todas as etapas relacionadas à coleta seletiva, desde a limpeza das embalagens, a triagem, a reciclagem propriamente dita e a venda: “Na fábrica de plástico recrutamos só mulheres para a triagem. Porque são cuidadosas, separam melhor” – explica Mary – “Além disso, um diferencial dos nossos produtos é que em geral o material reciclado apresenta mau cheiro, apesar de ser submetido a 300ºC. Já o nosso, como tem a seleção pelas mulheres, tem um bom controle de qualidade e portanto não possui cheiro desagradável”. Quando soube que os supermercados não utilizavam sacolas plásticas recicladas, Mary entrou em contato com a Anvisa para investigar se havia alguma proibição para o gênero. De acordo com o órgão fiscalizador, não há problemas na utilização de sacolas recicladas. “Eles disseram que os plásticos reciclados não devem ficar em contato direto com o alimento. O armazenamento de verduras, legumes e carnes deve ser feito com o plástico virgem de bobina. Mas, segundo eles, o plástico reciclado pode, e deve, ser utilizado para transportar alimentos já embalados”, afirmou Mary, mostrando na tela do computador a troca de e-mails com a instituição.

Da redação

dicas da região

Salgado e refresco a R$ 1 é no Bar Faustino. Carneseca com abóbora, língua com purê e feijoada são um dos pratos fixos que mudam conforme o dia. O prato feito com arroz, feijão, farofa, macarrão, salada e carne sai a R$ 6. O suco de laranja custa R$ 2. Av. Marechal Floriano, 143.

também acessórios e artigos esportivos. O tênis Bouts, que estava à venda por R$ 109, está na liquidação por R$ 59,80. A camiseta lisa básica sai por R$ 12,90, nas cores preto, branco, azul e bege. A camisa polo lisa ou listrada custa R$ 17,90 cada. Av. Marechal Floriano, 30.

Panetone e chocotone Firenze a R$ 5,25 é no Mini Mix Padaria e Delicatessen. O minimercado, que está abrindo uma lanchonete na parte da frente, vende produtos de mercearia em geral, pães variados e produtos de higiene. Av. Marechal Floriano, 87.

Manicure e pedicure, por R$ 13, é na Pérola do Centro. O salão de beleza está há apenas dois meses na região e funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h. Quem faz escova ou aplicação de tinta (a partir de R$ 10) ganha uma hidratação grátis. A casa também oferece serviços de depilação. Av. Marechal Floriano, 54.

É mês de aniversário do Viagraf. Na loja, especializada em impressão digital, off-set digital e calendários, sai a R$ 22 o cartão de visitas, R$ 20 o minicartão 4/1 e R$ 16 o minicartão 4/0. Av. Marechal Floriano, 127. A LNS Rio Copiadora agora está também na Rua Larga. A loja, que tem escritório na Visconde de Inhaúma há 20 anos, está com promoções de estreia: 1 mil cartões a R$ 60, folder 10 cm X 14 cm, 10 mil unidades a R$ 200. Impressão em cores com papel off-set, acima de 50 impressões, R$ 1,20. Alunos do Senac tem 50% de desconto. Av. Marechal Floriano, 12. Até dez impressões em A4 saem por R$ 0,15 na Tati-jet. Acima de 100 sai a 0,08. As fotocópias são o mesmo valor. Recarga de cartucho, qualquer modelo, R$ 15 e R$ 20. Av. Marechal Floriano, 56. Sapatos em couro legítimo, por R$ 47,80, são a exclusividade do Costa Nova. A loja, há 40 anos na região, especializada em artigos masculinos, vende

Sirva-se à vontade por R$ 4,99 e cheque seus e-mails no Restaurante Papa-Tudo. No térreo, funciona sistema a quilo, e na sobreloja, buffet sem balança promocional, em que é possível escolher até duas carnes e acompanhamentos sem limite. Além de saborear sua refeição, é possível acessar a internet por R$ 2 a hora. Av. Marechal Floriano, 120. Carimbos automáticos, a partir de R$ 15, são a especialidade da Carimbopam. O carimbo convencional, em PVC, é vendido por R$ 6. A caneta-carimbo personalizável, com cordão para pescoço, sai a R$ 29,50. A loja trabalha também com alguns artigos de papelaria, como o álbum em capa reciclada, peça a R$ 23. O formulário de currículo é vendido a R$ 0,10. Av. Marechal Floriano, 167.

Da redação


12 dezembro de 2009

folha da rua larga

cidade

Terreno Minado Jovens estudantes da região falam sobre a falta de entrosamento com o território Após sofrerem assaltos e sequestros relâmpago, alunos do Colégio São Bento vivem hoje uma realidade encastelada, em que o transporte é feito pelos pais ou por ônibus da escola, da porta de casa até a porta do colégio, e vice-versa. O auxiliar de educação Carlos Júlio Martins, há 20 anos na instituição, diz que quando vê um menino esperando o ônibus em um lugar pouco movimentado, automaticamente aconselha a ficar alerta. Orientados a não caminhar despreocupados pelas ruas, os alunos do São Bento acabam se formando sem conhecer as construções, monumentos, ruas e becos carregados de história, típicos do Centro do Rio. Esse é o caso do ex-aluno Mário Grangeia, que somente no sábado, dia 5 de dezembro, conheceu o Morro da Conceição. Estimulado por um curso de História do Rio de Janeiro, o jovem aproveitou a ocasião da abertura dos ateliês dos artistas plásticos do Projeto Mauá: “Do sexto ano do Fundamental até o terceiro ano do Ensino Médio, desci na Estação do Metrô Presidente Vargas, saída Marechal Floriano. Durante esses cinco anos, andei da Rua Larga até o Colégio São Bento e nunca entrei na Igreja de Santa Rita. Só anos depois de me formar conheci o monumento, quando segui um curso de História da Arte”, revelou Mário, contente com as preciosidades descobertas e lamentando-se por não ter aproveitado melhor no tempo em que, obrigatoriamente, caminhava pela área. O funcionário Paulo Dutra é o encarregado de zelar pela segurança dos alunos e passar as medidas de precaução. A orientação hoje em dia é clara: quem sai do colégio, não pode mais vol-

tar. Além disso, há alguns anos, os alunos podiam lanchar ou almoçar fora do colégio. Atualmente, nem os estudantes do último ano podem circular ou buscar outras opções de refeição. Coordenadora pedagógica do CSB há cinco anos, Maria Elisa Penna Firme diz que a exploração do entorno não acontece, ou ocorre muito pouco. “Gostaríamos de ter a tranquilidade e a segurança de caminhar por aí e circular. São tantos os aparatos e preocupações que a exploração dos monumentos e espaços públicos fica prejudicada ou inexistente”— conclui a professora — “Acabamos recomendando de virem no fim de semana com a família. Temos o desejo de interagir, mas ainda não vemos possibilidade”. O inspetor Carlos Júlio Martins, nas suas duas décadas de Colégio São Bento, está acostumado a cuidar dos meninos. Ele fala que os alunos esquecem tudo, desde aparelho de dente, meia, cueca, até celular e ipod. “Hoje mesmo um deles me ligou: ‘Julinho, esqueci meu ipod. Falei para ele que agora só segunda-feira”, sorri Júlio. É nesse clima de proteção que os funcionários do São Bento orientam os alunos a não falarem no aparelho celular ou portarem ipod nos arredores do colégio, já que houve casos de roubo desses objetos nas proximidades da instituição. Como sugestão para uma maior integração com o entorno, Maria Elisa propõe a transformação de ruas e estradas em quarteirões de pedestres, um maior policiamento e a criação de roteiros de visitação, com informações históricas, arquitetônicas e culturais. A coordenadora lembra a distinção entre a visita a esses espaços com a escola e com a família: “O profes-

Sacha Leite

Alunos do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Pedro II Sacha Leite

O jornalista Mário Grangeia é ex-aluno do Colégio São Bento

sor contextualiza a época da construção dos prédios, o estilo das fachadas, as diferentes vertentes, escolas, tendências...”. Os alunos do segundo ano do Ensino Médio do CSB possuem a disciplina História da Arte, cujo professor é funcionário do Iphan. A coordenadora pedagógica lamenta, ainda, que muitas vezes os alunos concluam o Ensino Médio sem conhecer as ruas do Rio de Janeiro. Para criticar positiva ou negativamente os transportes público e coletivo da cidade é preciso envolvimento. “Se queremos formar cidadãos e profissio-

nais para mudar o mundo, eles têm que ver as carências que existem e como podem interferir nelas. Não só teoricamente. São cuidados exagerados que temos hoje, que não são infundados”, desabafa Maria Elisa. Breno Guedes, do Colégio Pedro II – Centro, confessa que não se relaciona com o entorno: “A Avenida Marechal Floriano não é nem um pouco confortável de se caminhar – o maior estresse, a maior galera, não tem árvores. Acho que o comércio é muito concentrado nesta região”. O estudante propõe, ainda, que se diversifiquem os ramos de atividade, tor-

nando a região, além de comercial, também residencial e cultural. Luisar Villar conta que, ao ingressar no Colégio Pedro II, a família ficou preocupada: “Quando eu era mais nova, antes de estudar aqui, todo mundo falava que era perigoso. Agora que estudo aqui há sete anos e nunca aconteceu nada, fiquei bem tranquila”. Segundo ela, a região fica bastante deserta aos sábados pela manhã, e isso seria assustador, ainda assim, nunca viu nem soube de nada errado durante o período que estuda no colégio. Apesar de confessar que não caminha pelas ruas do Centro, a jovem, que cursa o terceiro ano do Ensino Médio, considera positivo frequentar a região: “Tem muitos restaurantes por perto, gráficas e coisas diversas para comprar na Uruguaiana”. Luisa considera um ponto forte a possibilidade de conexão com diferentes realidades, já que tem gente de todo o estado: “O bom daqui é que vem gente de todas as regiões do Rio de Janeiro. Daí você vê, conhece e interage com outras realidades, outros pontos de vista e essa diversidade é bem legal”.

Já Natash Nunes, também aluna do terceiro ano do CPII, vê necessidade de melhora na estrutura de esgoto e tubulações: “Quando chove, temos que dar a volta por fora, pela Presidente Vargas. Não dá para passar pela Marechal, que fica toda alagada”, critica . Os jovens reivindicam um espaço ciber nas proximidades do colégio: “Não frequentamos nada por aqui. Lan house aqui perto não tem”, reclama Joanna Ferraz. Eles explicitam que o percurso nas cercanias é objetivo: “Vamos até o Bob’s, ou até a ‘xerox’, e até o Metrô ou ponto de ônibus, já para ir embora”, falam em coro os estudantes do Colégio Pedro II, Luisa, Natash, Joanna e Breno. Quando perguntados se a escola propõe alguma atividade cultural de intervenção artística urbana, esclarecem: “Alguns professores de Português já cogitaram fazermos ações de poesia aqui na Praça Rio Branco, mas não chegamos a concretizar”, lamenta Joanna Ferraz. E para finalizar, os meninos, que têm entre 17 e 18 anos, sentenciam: “O entorno é meio sujo, cinza, monocromático. Carros buzinando... Isso aumenta o estresse”. Para mudar esse quadro, os alunos do Colégio Pedro II sugerem uma ação de arborização na Avenida Marechal Floriano, bem como o tratamento de fachadas das casas antigas, reconstituição de calçadas, esgoto, tubulação e uma melhor organização do trânsito. Além disso, os jovens propõem a instalação de banheiros públicos gratuitos para evitar a prática, ainda comum na região, de se urinar nas ruas.

sacha leite redacao@rualarga.com


cidade

dezembro de 2009

morro da conceição

13 folha da rua larga

Subprefeitura do Centro diz que a Comlurb varre conforme a demanda Segundo a companhia, o Centro é o único bairro por onde percorre diariamente

Festa no Morro Para deleite dos niilistas e desespero dos capitalistas, este foi um ano com um calendário repleto de feriados. E é assim que termina o ano, dias 24 e 25 de mãos dadas com sábado e domingo, bis para virar o ano. Cada um tem lá suas razões para gostar de dezembro, afinal é mais um ano que termina e ainda estamos vivos. Também é época de muitas festas, confraternizações, presentes, panetones, guloseimas, fogos e champanhe. A tradição mundial de enfeitar casas e ruas com luzes dá a sensação de que o céu deixou cair as estrelas no nosso final de ano. Apesar de todos os problemas individuais ou coletivos que vivemos, é impossível não nos deixarmos contaminar com todos esses apelos: flashes , big bang de amor, amizade e fraternidade; e quem sabe um dia todos os meses do ano se chamarão dezembro? Para o Morro da Conceição, este é o mês mais importante do ano. É nele que se comemora (dia 8) o dia da padroeira do Morro. Este ano não foi diferente. Nas primeiras horas da manhã, ouvimos os fogos dizendo: “O Morro está em festas”. No decorrer do dia, seguiram-se todas as tradições: missa e procissão em que dezenas de pessoas percorreram as ruas com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, para que ela abençoe as ruas, as casas e as pessoas. Os artistas do Projeto Mauá também expuseram

seus trabalhos na Fortaleza da Conceição, que abrigou uma seleção de obras de cada artista representativas de seus trabalhos. No mesmo local foi realizado o recital De Villa Lobos a Carmem Miranda, com Rodrigo de Marsillac nos teclados e Daniel Rion , nos sopros. Foi uma festa maravilhosa e não só isso. Nos dias em que antecederam a festa , tivemos outro evento: o Projeto Mauá – que também faz parte do calendário festivo do Morro. O Projeto Mauá, criado pelos artistas do Morro, tem como objetivo divulgar a arte do local. Este ano, os ateliês receberam mais visitantes que no ano passado. À noite, o samba correu solto apesar da chuva. Afinal, foi no Morro da Conceição que o samba começou, com Donga e João dos Prazeres. O físico e professor Carlos Rabaça, organizador do evento, foi um dos responsáveis pelo sucesso. O artista plástico, Oswaldo Gaia, presenteou as crianças com a Oficina de Argila, e ainda ganharam um pequeno livro educativo .O Morro também foi presenteado pelas pessoas que nos visitaram e nos prestigiaram. Por vários dias, as ruas do Morro foram tomadas por encantamento tamanho que João do Rio nem imagina o que perdeu! Para os que vieram, fica a boa lembrança. Para os que perderam, fica o nosso convite para 2010 e um feliz natal a todos.

teresa speridião teresasperidiao@gmail.com

Bruna Leão

O ex-subprefeito do Centro do Rio, Marcus Vinícius, afirma que a Avenida Marechal Floriano já recebeu alguns investimentos em tratamento de pedra portuguesa e que, até setembro, já havia restaurado 4.500 buracos na região. Ele afirma ainda que o tratamento das calçadas é de responsabilidade dos proprietários de estabelecimentos da região, e que iniciativas como o Lixômetro e o Super Gari são fundamentais para educar e engajar a população. Na seção intitulada Se essa rua fosse minha, a população que frequenta a Avenida Marechal Floriano, antiga Rua Larga, e entorno, costuma dizer que se fosse dono ou dona da rua, falaria com a prefeitura para tratar as calçadas e ruas esburacadas. Contato feito, como se posiciona a prefeitura sobre essa questão? A Subprefeitura do Centro realiza, desde meados de abril, o projeto De Salto Alto, que visa combater o mau estado de conservação das calçadas. De acordo com o decreto nº 29.881, de 18 de setembro de 2008, o passeio em frente ao estabelecimento é de responsabilidade do proprietário, seja público ou privado. Até meados deste ano, no Centro, 949 estabelecimentos já haviam sido notificados e cerca de 500 deles já haviam atendido à notificação e consertado a calçada. Vale lembrar que quando é área da prefeitura, ela mesma é responsável por restaurá-la. Até setembro, a Subprefeitura do Centro, através da 1ª Gerência de Conservação da Secretaria de Obras, restaurou mais de 1.000 m² de pré-moldado de concreto, cerca de 4.200 m² de pedra portuguesa e aproximadamente 1.000 m² de

Projeto De Salto Alto, visa combater o mau estado de conservação das calçadas

concreto. A Avenida Marechal Floriano já passou por algumas destas intervenções, e os estabelecimentos já foram notificados. No que diz respeito aos buracos nas ruas, a subprefeitura comunica que, até setembro, 24.164 m² de faixa de rolamento passaram por reposição asfáltica, totalizando cerca de 4.500 buracos restaurados no Centro, Zona Portuária e Paquetá. E uma área de mais de 7.300 m² teve os paralelepípedos renivelados. Ressalta-se, mais uma vez, que a tradicional e famosa Avenida Marechal Floriano esteve inclusa nas ações e, sempre que possível, estaremos atuando nela. Cabe lembrar ainda que esta avenida costuma estar nas ações diárias da subprefeitura, seja de acolhimento, de combate a atividades irregulares e/ou ocupação irregular de logradouro público, restauração asfáltica, tapa-buracos etc. Na mesma coluna, a limpeza urbana também costuma ser citada como fa-

tor crítico da região, apesar de ter sido divulgado em O Globo que a Avenida Rio Branco costuma ser varrida cinco vezes por dia. Seria o caso de elaborar uma política específica para a limpeza urbana do Centro, incentivando práticas como a coleta seletiva e alguma espécie de punição a quem joga lixo na rua? A Subprefeitura do Centro informa que a Comlurb realiza serviço de varredura todos os dias em todos os bairros do Rio. As principais ruas da cidade e também as mais movimentadas são varridas diariamente. As ruas que têm menos movimento são varridas segundo um planejamento que leva em consideração a demanda. A Avenida Rio Branco, por exemplo, é varrida seis vezes por dia, de segunda-feira a sábado, e três vezes aos domingos. A Comlurb realiza coleta domiciliar normalmente em dias alternados, mas no Centro do Rio, como a demanda é muito grande, esta

coleta é feita todos os dias. O Centro é o único bairro da cidade pelo qual a Comlurb passa diariamente fazendo esse serviço. Acontece ainda outro tipo de coleta: a seletiva, que é amparada pela Lei nº 3.273, de 06 de setembro de 2001, que estabelece responsabilidades e deveres para o município e para os cidadãos cariocas quanto aos serviços de limpeza da cidade. A Companhia Municipal de Limpeza Urbana realiza também trabalhos de conscientização da população, a fim de sensibilizar o carioca quanto à necessidade de colaborar com a manutenção da limpeza da cidade. A equipe de criação da empresa criou animações em 3D, como o Super Gari, por exemplo, e divertidos personagens que fazem refletir sobre a importância do cuidado com a limpeza e o meio ambiente, que são veiculadas nos intervalos comerciais de algumas TVs.

bruna leão rua brunaleaorua@hotmail.com


14 dezembro de 2009

folha da rua larga

gastronomia

Seu desejo é uma ordem

receitas carol

Sinta-se em casa no Málaga, saboreie um bom vinho e a sua comida preferida Para quem não dispensa um lugar com requinte, mas que seja ao mesmo tempo aconchegante e descontraído, o restaurante Málaga é uma ótima pedida. Já na porta, os clientes são recebidos por um dos sócios do estabelecimento, o Sr. Augusto Vieira. Figura bem conhecida da região por sua hospitalidade, é ele que conduz quem chega até as mesas. O restaurante, que fica em um lugar privilegiado do Centro, em frente ao Beco das Sardinhas e ao lado da Igreja de Santa Rita, existe há 12 anos. Uma adega climatizada no salão principal é a prova de que o restaurante, que possui carta com mais de 100 rótulos, é uma ótima opção para os apreciadores de bons vinhos. Apesar do nome, o restaurante não serve apenas comida típica espanhola. Há uma grande variedade de pratos e o cliente pode escolher desde comidas alemãs até brasileiras, massas, carnes e frutos do mar. O Sr. Augusto ajuda na escolha dos pratos e adéqua os pratos à vontade do freguês. “Aqui o cardápio é dispensável. Prefiro dar pessoalmente as sugestões de acordo com o gosto dos clientes. Muitos deles nem olham mais o menu, deixando os pedidos por minha conta. Gosto disso, do contato direto com minha clientela, do calor humano. Quero que sintam como se estivessem em casa” afirma. A regra da casa é atender ao desejo do cliente com a maior flexibilidade possível. Algumas entradas não constam no cardápio, mas não podem deixar de ser degustadas, como o caldinho de peixe e o salmão defumado. Como prato

Perna de cordeiro ao alecrim Chegou o final do ano! E este é o mês das comemorações, seja no trabalho, com amigos ou em família, sempre temos um evento pra lá de animado! E como não podia ser diferente, a cozinha também está em festa, com banquetes dignos de Babette. Para variar um

pouco, escolhi para este Natal uma receita de perna de cordeiro. Com sabor sem igual, essa carne de cozimento lento acompanha muito bem saladas, grãos e as famosas farofas que aparecem em toda ceia. Bom apetite e um 2010 delicioso para todos os nossos leitores!

Ingredientes: 1 perna de cordeiro inteira (aproximadamente 3 kg) 1 molho de alecrim fresco 2 a 3 cabeças de alho Azeite Sal grosso Pimenta do reino moída na hora 500 g de cebolete 500 g batatinha

Espalhe pelo tabuleiro as cabeças de alho partidas na metade, ramos de alecrim, as batatinhas e as cebolas. Cubra com papelalumínio e leve ao forno médio por 1 hora e meia. Na metade desse tempo regue o cordeiro com o molho que irá se formar no fundo do tabuleiro, e volte ao forno. Ao final, retire o papel alumínio, aumente o forno e deixe a carne dourar. Regue com o molho. Coe o molho e leve ao fogo para engrossar. Sirva com as cebolas e as batatinhas. Decore com ramos de alecrim fresco.

Salmão ao molho de amêndoas

Leitão com farofa e batatas

principal, a sugestão é o risoto de Parma e rúcula (R$ 28) ou o típico alemão Carré com salada de batata (R$ 31). Às quintas-feiras é servido o famoso Leitão a Bairrada (R$ 52 por pessoa), servido inteiro e cortado na mesa. Mas o maior sucesso do Málaga é a feijoada, servida às sextasfeiras e responsável pela enorme fila que se forma do lado de fora. Não é por menos: o cliente paga R$ 28 e come à vontade uma feijoada de primeiríssima qualidade. A sobremesa mais pedida é a banana flambada com sorvete (R$22 para duas pessoas), preparada na panela em frente ao cliente. Não se esqueça de pedir o cafezinho, que vem com deliciosas trufas de fabricação própria. Para os que não têm tempo suficiente para sair do escritório, o Málaga faz entregas, mas os pedidos devem ser feitos com uma hora de antecedência. Rua Miguel Couto 121, Centro. Tels.: 21- 22530862 / 21-2233-3515

Paleta de cordeiro

Da redação

Modo de preparo: Limpe a perna de cordeiro retirando apenas os nervos. Faça incisões com uma faca afiada. Coloque dentes de alho inteiros e aperte bem para que penetrem na carne. No mesmo lugar, coloque folhas de alecrim. Passe azeite espalhando com as mãos para untar toda a superfície, e polvilhe o sal e a pimenta. Coloque um pedaço de papel-alumínio no osso, para não queimar.

carolina portella carolnoisette@hotmail.com


15 dezembro de 2009

folha da rua larga

lazer

Futebol carioca clama por reestruturação

baú da rua larga

Nilton Ramalho

A mobilização precisa partir da torcida, revoltada com escândalos e gestões fraudulentas O futebol carioca há anos vem sendo associado ao atraso, ao que não traz resultado, à corrupção, à má gestão dos tempos do famigerado Eurico Miranda, e dos atuais cânceres Roberto Horcades e Kleber Leite (este último sempre com efetiva participação no comando do Flamengo). Como mudar então essa desgastante e triste realidade? O caminho mais fácil e objetivo para propor uma efetiva renovação seria criar maneiras de atrair os torcedores para se associarem aos seus clubes, elegendo profissionais sérios e comprometidos com a grandeza de suas instituições. Mas de quem seria o interesse nesse tipo de movimento? Das direções que se perpetuam locupletando-se dos seus poderes, inundadas por escândalos e sem nenhuma credibilidade? Certamente não. Essa mobilização precisa vir da torcida, revoltada com tanta falcatrua e há anos tratada como lixo por gestões fraudulentas e corruptas como estas acima mencionadas. Maurício Assumpção e Roberto Dinamite, comandantes máximos de Botafogo e Vasco da Gama, respectivamente, são esperanças de que ao menos a seriedade

O Dragão, o rei da Rua Larga

e o compromisso com seus torcedores sejam percebidos nos próximos anos. Mas isso não é muito pouco? Se formos comparar as conquistas recentes de clubes cariocas e paulistas, entraremos em profunda depressão, o Rio perde de lavada, fato que certamente preocupa a todos amantes do futebol da Cidade Maravilhosa. Não é novidade para ninguém que o Rio de Janeiro vem perdendo cada vez mais espaço no cenário do futebol brasileiro. As alegações já são velhas conhecidas e têm o poder de irritar o exausto e apaixonado torcedor: os clubes não têm estrutura, faltam centros de treinamento bem equipados e uma gestão profissional na direção dos quatro grandes cariocas. Ora, ninguém aguenta mais ouvir essa conversa, e,

objetivamente, nada muda na conjuntura dos clubes do estado que já representou a hegemonia do futebol nacional. Se essa equação é tão simples, por que não tirá-la do papel? Usando um exemplo prosaico e emblemático da nossa ultrapassada realidade, como é possível que um time como o Flamengo, com milhões de torcedores em todo o país, permaneça treinando no estádio de condições precárias como o da Gávea? Como podem Fluminense e Botafogo travar duelos históricos todo fim de ano para não caírem para a Série B? Isso não é digno da tradição futebolística de nossa cidade. Sempre lembrados como exemplos de organização e de boa gerência no Brasil estão o “papa-títulos” São Paulo e o recente campeão mundial Internacional de

Porto Alegre. Ambos são a prova clara de como uma gestão bem equilibrada traz resultados significativos. Investindo em estrutura, mantendo salários em dia e usando a profissionalização em todos os seus setores, há sim como ser competitivo em todos os campeonatos disputados. É isso que falta ao Rio de Janeiro, ter pessoas sérias, comprometidas e competentes integrando suas diretorias, e cabe à torcida, por meio de uma organizada e efetiva mobilização, modificar um quadro tão degradante como o que foi pintado nos últimos anos em nosso estado.

ranti máximo redacao@folhadarualarga.com

Existiu uma loja de utensílios domésticos muito popular, O Dragão, mais conhecido, como “O Dragão da Rua Larga”. Essa loja, precursora dos shows patrocinados, mantinha um programa de rádio apresentado por Ademar Casé. Um dos primeiros jingles do rádio – do tempo que ainda não se usava esse nome – foi feito para O Dragão, e foi Noel Rosa quem o compôs, em parceria com Vadico. A Marcha do Dragão dizia: “Você é mais conhecido / do que níquel de tostão / mas não pode ficar mais popular / do que O Dragão”. Certa vez, nesse mesmo programa, Noel Rosa transformou um de seus improvisos sobre sua composição De babado em: “Quando andei pela Bahia / Pesquei muito tubarão / Mas pesquei um peixe um dia / Que engoliu a embarcação, / Não era peixe, era O Dragão” (breque). Carlos Heitor Cony também homenageou O Dragão em uma de suas crônicas para o jornal Folha de S. Paulo: “Vendia de tudo, panelas, talheres, jarros, aquilo que antigamente se dizia ‘trem de cozinha’, ferros de engomar, escarradeiras, penicos, montava-se a casa inteira com uma visita a preceito naquele endere-

Dorival Caymmi interpretou “O que é que a baiana tem” no programa “O Dragão da Rua Larga”.

ço marcado por enorme dragão na fachada, de cuja formidável boca saíam terríveis labaredas... O Dragão, esse se foi mesmo, esquartejado em centenas de shoppings que o substituíram, bem verdade que não completamente, não mais se vendem escarradeiras e penicos.” (Trecho da crônica “O polvo e o dragão da Rua Larga”, publicada na Folha de S. Paulo em 14/12/2007).

Da redação redacao@folhadarualarga.com


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lazer

dezembro de 2009

folha da rua larga

Samba Voluntário

dicas da cidade Natal da gratidão O Museu João e Maria é um espaço de arte, música, cinema e diferentes expressões artísticas. A programação, sempre diversificada, trouxe este mês uma grande festa de encerramento: Natal da Gratidão. O evento, realizado no dia 10 de dezembro, às 18h, reuniu apresentações de corais, dança e poesia de grande qualidade agradando ao público presente. Para quem ficou de fora, fique atento à agenda do local. Situado no Centro, na Av. Marechal Floriano, 19, sobreloja, o museu oferece programas e horá-

rios alternativos. Escolha do samba Tá Pirando, Pirado, Pirou! No dia 16 de dezembro, das 14h às 19h, o Espaço Cultural Heloneida Studart, localizado no Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim), sediará a disputa pelo samba-enredo do bloco de carnaval de rua Tá Pirando, Pirado, Pirou!. O grupo é formado por servidores e usuários dos serviços de saúde mental do Instituto

Pinel - Instituto de Psiquiatria da UFRJ, além de moradores do bairro de Botafogo. O sambaenredo e as fantasias são confeccionadas pelos próprios usuários e haverá cobertura da TV Pinel. Os organizadores garantem que “vai ser uma loucura!”. O Cedim fica na Rua Camerino, 51. Mais informações pelo telefone (21) 22992004. Escorrega na Copa 2010 O bloco Escorrega Mas Não Cai escorregou em tanta chuva e ficou de fora da programação deste mês. O grupo carnavalesco tradicional da Zona Portuária, que iria ensaiar no dia 4 de dezembro, teve que adiar a programação por problemas climáticos. Mas levantem novamente, pois o bloco fará sua apresentação no dia 8 de janeiro, com o tema “Escorrega – é o Brasil na Copa”. O evento trará a competição de três sambas escritos por integrantes da Liga de Blocos e Bandas da Zona Portuária pelo título de enredo oficial de 2010. O grupo se encontrará no Largo da Prainha da Praça Mauá, a partir das 18h. Não fique fora dessa folia!

Da redação

Botequim da Rua Larga faz happy hour filantrópico e promete animar o Carnaval 2010 José Luiz, consultor na área de atendimento ao cliente e funcionário da Light há 46 anos, é um dos criadores do Botequim da Rua Larga. Segundo ele, o projeto é, em síntese, um samba voluntário, também chamado de happy hour filantrópico. A proposta acabou de ser enquadrada na Lei de Incentivo à Cultura e fará parte da programação permanente do Centro Cultural Light no próximo ano. “Resolvemos fazer um samba voluntário. Aqui nenhum de nós ganha dinheiro com música. A gente reverte as colaborações recebidas para a Casa Maria de Magdala, que trata de soropositivos, em Niterói, e a Apael, Associação de Pais e Amigos de Portadores de Deficiência Física”, esclarece José Luiz. Formado por um grupo de funcionários da Light que sempre gostou do samba de raiz, o Botequim da Rua Larga procura reviver os primórdios do gênero musical: “Não adianta chegar com um pedido no guardanapo... Toca aí um pagode qualquer... Não vamos tocar. O nosso negócio é samba tradicional”. Em contrapartida, José Luiz conta que um rapaz o abordou no CCL e falou: “Sou compositor”. Daí solfejou três músicas muito boas, que José Luiz conhecia, mas não sabia que eram dele. O consultor considera muito satisfatória essa aproximação junto à comunidade do samba. É possível conferir a próxima apresentação do Botequim no dia 22 de janeiro, quando o convidado da vez será o renomado músico Paulão Sete Cordas, arranjador do compositor e intérprete Zeca Pagodinho. A colaboração sugerida é de módicos R$ 5.

O consultor comenta o título do grupo: “Propus o nome Botequim por causa do clima de descontração. Ironicamente a maioria só toma água mineral”, chacoalha José Luiz. Ele acrescenta que o grupo toca “samba de mesa” e gosta do calor humano que “risca-tapete”. O diretor artístico Haroldo Costa já tentou colocá-los no palco, mas o grupo prefere fazer uma roda próxima ao público. “Começamos a nos apresentar nos botequins da região, como os espaços do Velho Sonho, do Milton San Román, também presidente do Polo Empresarial Nova Rua Larga, e na Churrascaria Avenida”, relembra José, mas o grupo não queria assumir compromisso com os estabelecimentos, e sim com a música. Então surgiu a iniciativa de se apresentar no Centro Cultural Light: “Somos prata da casa, daí pensamos: ‘Por que não se apresentar no CCL?’ ”, questionou José Luiz. Ele lembrou que a Light tem um histórico ligado aos carnavais cariocas, caracterizando bonde como carros alegóricos e que grandes músicos como Waldir Azevedo e Lamartine Babo fizeram parte do quadro de funcionários da instituição. O consultor explica que alguns funcionários que antes estavam em outras unidades da Light, como Jorge José, do cavaquinho, e Cleiton Vabo, agora estão na Rua Larga, facilitando o processo. Há também alguns músicos de fora da Light, como Roberto Dias, compositor do Salgueiro, da ala da bateria. O sambista busca uma maior integração com os funcionários: “Um sonho antigo é montar aqui na Light uma oficina de

Sacha Leite

José Luiz lidera o conjunto Botequim da Rua Larga, formado por funcionários da Light

percussão, violão de sete cordas e cavaquinho”. No início, o Botequim da Rua Larga se apresentava de três em três meses. Com o sucesso, o radialista Haroldo Costa e o diretor Paulo Direito enquadraram o projeto na Lei Rouanet. Mas os integrantes não irão se beneficiar dos recursos arrecadados: “Cada um tem seu cavaquinho, sua corda, etc. Até o dinheiro do transporte é do nosso bolso. Nós não somos artistas, somos funcionários da Light”, defende José Luiz, lembrando que a Secretaria de Cultura só renova os projetos de confiabilidade. De acordo com o músico, a instituição viu que se trata mesmo de um happy hour filantrópico e apoiou o projeto.

Desde novembro, o projeto visa trazer artistas renomados para o palco do Centro Cultural Light. O primeiro convidado foi o compositor Noca da Portela. A última apresentação, dia 11 de dezembro, trouxe a pastora Dorina, que vendeu todos os discos que trouxe no dia da apresentação. Há quem diga que se tivesse trazido mais, teria vendido. Os integrantes do grupo costumam entrar em contato com o convidado para acertar o repertório e os tons do artista. Dorina cantou sambas da Velha Guarda da Portela, homenagem a Paulinho da Viola, com músicas que estão sempre no repertório do Botequim.

Da redação


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