Folha da Rua Larga Ed.44

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Tiago M. Souza

Arte para todos no Morro da Conceição

Artistas plásticos residentes no Morro ofereceram oficinas gratuitas a moradores da região portuária. Foram realizados 11 cursos práticos de atividades como bordado, pintura e cerâmica. Acompanhamos a cerimônia de encerramento desse importante trabalho.

Por uma nova representação do Porto do Rio de Janeiro

folha da rua larga

Projeto Viajantes do Território reúne interessados na região portuária para pesquisar novas formas de representação e registro da cartografia e da história dessa área da cidade. cultura e cidadania - páginas C4 e C5

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folha da rua larga RIO DE JANEIRO | MARÇO – ABRIL DE 2014

nossa rua

Bate-papo traz luz a frequentadores do Centro

Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 44 ANO VII

FIM volta à região com missão de lotar o Centro no final de semana Divulgação

Debate promovido em março pela Folha da Rua Larga reuniu público interessado no Centro do Rio e Zona Portuária, para debate despretensioso. A conversa gerou soluções imediatas. Confira quem esteve presente e saiba o que foi falado. página 2

cultura e cidadania

Imagens para relembrar a Igreja de S. F. da Prainha A Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Rio de Janeiro (Cdurp) convoca moradores da área portuária a compartilharem fotos antigas da Igreja de São Francisco da Prainha. Imagens de casamentos, batizados e procissões são bem-vindas. capa

gastronomia

Sabor especial no charmoso Beco do Bragança página 14 Yuri Maia

cultura e cidadania I página C8 Pedro Gigante

cultura e cidadania

Aloysio Clemente Breves diz que o carioca costuma esquecer da proximidade do Porto com o mar. No entanto, aves marítimas como gaivotas e andorinhas ainda marcam presença no local, bem como o perfume de maresia. O texto é um convite a relembrar o passado escravocrata da região, identificado pelo autor, da Rua Larga à Costa Verde fluminense.

Noca da Portela é a grande atração da Festa de São Jorge, homenagem ao santo guerreiro programada para o dia 20 de abril, às 14h, na Praça da Harmonia, bairro da Gamboa. Evoé!

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A memória afrobrasileira na cadência das ondas do mar


2 folha da rua larga

março – abril de 2014

nossa rua

Folha da Rua Larga promove café da manhã cultural Encontro gerou troca de ideias entre investidores e produtores culturais Carolina Monteiro

A primeira edição do Conexão Folha da Rua Larga foi um sucesso. O café da manhã foi realizado no dia 24 de março de 2014, das 10h às 12h, na sede do Instituto Cultural Cidade Viva, localizada à Rua São Bento, 09, 1º andar. Estiveram presentes 34 profissionais interessados na área portuária do Rio de Janeiro, dentre eles produtores culturais, artistas, empreendedores e representantes de empresas que investem na região. Os trabalhos foram abertos pelo diretor do Instituto Cultural Cidade Viva e da Folha da Rua Larga, Fernando Portella, que deu as boas-vindas aos presentes e pediu que todos se apresentassem. Em seguida, Sacha Leite, editora da Folha da Rua Larga desde 2009, convidou Maria Eugênia Duque Estrada para fazer uso da palavra. A presidente do Polo Região Portuária lembrou o contexto da criação do Polo Nova Rua Larga, em 2008, e a ampliação de sua área de abrangência, expressa na alteração do nome da organização. Além disso, Eugênia citou a importância de a organização estar associada ao programa Polos do Rio. Por último, mencionou o recebimento do prêmio Porto Maravilha Cultural, que alocou recursos ao Polo para a

realização de um festival gastronômico na região. Flávia Samel, do setor de Responsabilidade Social da Nissan, falou da necessidade de se pensar no bem-estar social de quem circula no Centro do Rio. Ela explicou que a montadora japonesa chegou há pouco na região e, portanto, está em fase de interação com os agentes locais e consequente construção de seus programas de responsabilidade social. Com relação à galeria de arte da Nissan, instalada no prédio Porto Brasilis, na Rua São Bento, ela disse que, no momento, o local está sendo usado somente para fins corporativos. Apesar disso, ela acredita que futuramente o espaço será aberto ao público. Flávia ressaltou a importância desse encontro promovido pela Folha da Rua Larga e manifestou a intenção de, havendo con-

tinuidade, comparecer também nas próximas reuniões, a fim de acompanhar as questões locais e conhecer pessoas que atuam na Zona Portuária carioca. Casos expostos e soluções geradas coletivamente Daniela Beier, sócia da loja Multicoisas, recentemente instalada na Rua São Bento, Praça Mauá, elogiou a iniciativa do encontro e compartilhou com os presentes uma grande dificuldade: localizar pessoas residentes na região com capacitação para trabalhar nos novos negócios que ali se estabelecem. Egeu Laus, do projeto Viajantes do Território, sugeriu que se fizesse um mural virtual de oportunidades, que seria compartilhado e replicado por diversas organizações interessadas na região. A Cdurp informou que possui um

balcão de empregos situado no Morro da Providência, porém ressaltou que recebem currículos para oportunidades de emprego nas obras do Porto. Cogitou-se a possibilidade, no entanto, de utilizarem o espaço para captar currículos de moradores na região para oportunidades mais gerais. Em seguida, os representantes das artes plásticas no Morro da Conceição, Cláudio Aun, Teresa Speridião e Renato Sant’Ana, contaram a história do Projeto Mauá, coletivo de artistas que, desde 2000, abrem as portas de seus ateliês para visitação pública na época do Dia da Conceição, em dezembro. Cláudio Aun expôs uma situação de dificuldade financeira enfrentada pelos artistas atualmente. Maria Eugênia, do Polo Região Portuária, disse que o Polo poderia funcionar como um articulador entre

folha da rua larga Conselho editorial - Alberto Silva, Fernando Portella,

Projeto gráfico - Henrique Pontual

Francis Miszputen, Maria Eugênia Duque Estrada,

e Adriana Lins

Mário Margutti, Mozart Vitor Serra, Roberta Abreu,

Diagramação - Suzy Terra

Sacha Leite, Teresa Serra e Teresa Speridião

Revisão ortográfica - Raquel Terra

Direção executiva - Fernando Portella

Produção gráfica - Suzy Terra

Editora e jornalista responsável - Sacha Leite

Produtora Executiva - Roberta Abreu

Colaboradores - Aloysio Clemente Breves, Ana

Impressão - Maví Artes Gráficas Ltda.

Carolina Portella, Carolina Monteiro, Egeu Laus,

Contato comercial - Teresa Speridião

Fernando Portella, Raphael Vidal, Roberta Abreu

Tiragem desta edição: 10.000 exemplares

e Teresa Speridião

Anúncios - comercial@folhadarualarga.com.br

Redação do jornal Rua São Bento, 9 - 1º andar - Centro Rio de Janeiro RJ - CEP 20090-010 - Tel.: (21) 2233-3690 www.folhadarualarga.com.br redacao@folhadarualarga.com.br

Carolina Monteiro

os artistas e possíveis clientes compradores de arte na região. Daniel Lima, do Porto Maravilha Cultural, afirmou que a Cdurp pode oferecer apoio institucional para demandas específicas, tais como material de divulgação, equipamento de som, entre outros, e Ronnie Arosa Carril, empresário do ramo hoteleiro, demonstrou interesse em decorar os ambientes internos dos hotéis administrados por ele com obras dos artistas da região. Fernando Portella pediu a palavra para lembrar a importância do encontro, em que é possível ouvir as dificuldades e propor soluções. Em sua opinião, o artista deve encarar a questão da captação de recursos com alegria, como algo que faz parte da rotina de trabalho e que precisa ser feito como uma atividade profissional que deve ser cotidiana e feliz. Já Daniel Lima, do projeto Porto Maravilha Cultural, avaliou o prêmio entregue por eles em fevereiro deste ano – Prêmio Porto Maravilha Cultural – a 34 iniciativas culturais na região como uma primeira edição de sucesso. Ele alegou que a iniciativa surgiu para uniformizar a política de patrocínio cultural da Cdurp. Então projetos realizados por pessoas físicas e jurídicas foram se-

lecionados para receberem recursos com os mesmos critérios. Daniel também respondeu às questões dos presentes referentes às dificuldades que os moradores estão vivenciando por conta das obras, dúvidas com relação a realização e metodologia escolhida para implementar as intervenções urbanas. O objeto desse encontro foi aproximar quem realiza de quem investe, em um momento de troca oportuno. Consideramos o evento um sucesso, pois, além de trocar cartões de visita, usufruir do gostoso café da manhã e colocar o papo em dia, conseguimos conhecer histórias de quem mora, frequenta ou trabalha na região e como cada qual encontra seu método particular para driblar desafios e encontrar soluções. Agradecemos a todos os interessados na Região Portuária e aproveitamos para lembrar mais uma vez a importância de se enviar sugestões de pauta e notícias ao nosso jornal.

da redação redacao@folhadarualarga.com.br Curta: facebook.com/folhadarua larga Visite: folhadarualarga.com.br Ligue: (21) 2233-3690 Escreva: redacao@folhadarualarga. com.br


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4 folha da rua larga

março – abril de 2014

história baú da rua larga

Louças, vapores e peixe com abóbora no Bracuí Da Rua Larga à Costa Verde, colunista nos brinda com a degustação de preciosas memórias regionais Aloysio Clemente Breves

Nas adjacências da velha Rua Larga, da Prainha, Gamboa, Saúde e Santo Cristo, o espírito coletivo africano, com sabedoria e esperteza, entoava um antigo ponto de jongo: “O pinto com o galo dorme junto no puleiro. Se o galo facilitá... O pinto canta primeiro”. Estamos em 16 de janeiro de 1848. O Correio Mercantil anuncia que às quatro horas da tarde, no estaleiro da praia da Saúde, número 24, será lançado ao mar o brigue nacional Maria Izabel, construído por José Francisco de Castro, de propriedade do comendador Joaquim Breves. A embarcação com 230 toneladas tinha como mestre o marinheiro João Dias Cardoso e 14 tripulantes. Os irmãos Breves, José e Joaquim, mantiveram durante pelo menos 40 anos a atividade náutica em função da atividade do comércio de café, tráfico de escravos e transporte de passageiros. Para este fim, se associaram e financiaram parentes e prepostos, e constituíram uma formidável frota naval com base nas baías de Sepetiba, Angra, Paraty e Guanabara: os vapores Pirahy, Marambaia e Emiliana; o Brigue Maria Izabel, e outras embarcações arrendadas de terceiros como a sumaca União Feliz, a Escuna Flor dos Ma-

Sede do quilombo do Bracuí, em Angra dos Reis - RJ Aloysio Clemente Breves

Interior do quilombo do Bracuí, em Angra dos Reis - RJ

res, Januária, Leopoldina e Triumpho da Inveja, fizeram triplicar sua fortuna. O uso de nomes de algumas donzelas do Paço Imperial, em barcos negreiros valeu aos irmãos Breves uma reprimenda do imperador Pedro II. Usar em negócio tão sujo o nome de moças de fino trato não era adequado. Brigues e escunas eram barcos rápidos com dois ou três mastros à vela. Os vapores, com cerca de 40 metros,

possuíam grandes chaminés, casco de madeira e propulsão que acionava as pás de rodas. Sumacas e patachos eram pequenos barcos à vela com dois mastros, usados em cabotagem. A partir de 1855, o vapor Marambaia, de 66 toneladas, foi a embarcação que navegou mais tempo nas águas da Baía de Sepetiba. Pertenceu ao “rei do café” e foi durante longo tempo administrado por seu filho José Frazão de Sou-

za Breves. O vapor Pirahy pertenceu ao barão de Piraí, José Gonçalves de Moraes, sogro do comendador Breves. Em sociedade com um genro, da família Oliveira Roxo, a embarcação de 109 toneladas fazia a rota Rio, Mangaratiba, Angra dos Reis e Santos. As passagens podiam ser compradas na Rua de São Bento, 07, no Centro do Rio. Foi muito utilizado por passageiros com destino a São Paulo e levava também café e gêneros alimentícios. Hoje, o carioca que trabalha no Centro por vezes se esquece que reside numa cidade marítima. Outro dia, passando pelo Largo da São Francisco da Prainha, indo em direção à Avenida Rio Branco, um desavisado olhando para o céu, espantado, pergunta: “Que aves são essas?” Respondi: “Aves marítimas! Gaivotões, gaivotas, andorinhas do mar. O mar está muito próximo daqui, e em alguns dias dá para sentir a maresia.” Entretanto, falando de café, escravos e de rotas marítimas, o passado e o presente às vezes se misturam, e o inusitado quase sempre é intempestivo. Por conta de um trabalho de campo para elaboração do Guia Cultural da Costa Verde, estivemos visitando a região de Paraty

e Angra dos Reis. No quilombo de Santa Rita do Bracuí, com o barulho da cachoeira ao fundo, perguntei ao Sr. Geraldo se os peixes colocados no telhado ao sol não estragavam. Ele sorriu e disse: “Mulato velho, para cozinhar com abóbora!” O quilombola oferece água de mina, fresca, tirada da moringa. Bebo com prazer para refrescar a garganta e tirar a poeira. Ele mostra orgulhoso sua criação de galinhas e patos, e a dúzia de cachos de banana colhidos recentemente. Ágil, sobe o morro e mostra as pedras que compunham a casa maior e onde ficava o alambique de cachaça da antiga fazenda do Bracuí. Mas há tristeza em seu olhar. Dona Marilda que gentilmente nos ajuda na visita, também quilombola, às margens do rio, olha para o chão e recolhe minúsculas peças coloridas. Diz sorrindo: “São louças da casa grande. Vou fazer um mosaico!” Coloca em minhas mãos um minúsculo pedaço de louça branca com desenhos azuis. Tento achar alguma, mas a vista falha. Ela acha graça e diz que tem que apurar o olhar. Dona Marilda também está triste. Descendo a rua de terra, depois da capelinha de Santa Rita, chegamos ao centro

de reuniões do Quilombo de Santa Rita do Bracuí. Estava esclarecido o motivo de tanta tristeza. A construção tão esperada e sonhada havia desabado. Uma catástrofe! Felizmente ninguém se acidentou! Falo para ela: “Caveira de burro dos Breves enterrada na região!”. Acha graça e concorda comigo. Pois é, a história familiar me persegue e me acompanha. Faço o registro. Um close na bela santa negra que compunha o painel principal da construção redonda, feita de eucaliptos, palha e barro jogado no trançado de bambu. Mas a esperança é a última que morre, pois sim. Vão reconstruir tudo. Dessa vez, sob o olhar atento dos velhos griôs, jongueiros de fibra, como os Srs. Manoel Moraes, José Adriano e tantos outros. As imagens de Santa Rita e São José estão restauradas. Foram oferecidas pelo comendador José Breves para as respectivas capelas no século XIX. Atualmente estão sob a guarda do Museu Sacro da Igreja da Lapa, em Angra dos Reis. Uma boa notícia!

aloysio clemente breves beiler soubreves@yahoo.com.br


cultura e cidadania

• Casa Porto sedia curso de formação de agentes culturais com vistas

a criar uma nova cartografia da Região Portuária. A iniciativa é do designer e gestor cultural Egeu Laus.

• FIM acontecerá em maio: o idealizador Raphael Vidal planeja

incentivar a leitura em ambiente lúdico, que remeta à história da região, com poesia, música e teatro nas ruas.

Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio

março – abril de 2014

Edição Especial

Mutirão para trazer de volta a Igreja de São Francisco da Prainha População é convocada a contribuir com imagens que mostrem detalhes da construção Divulgação

Yara Lopes

Carolina Monteiro

IInterior da Igreja de SF da Prainha, em processo de reforma Yara Lopes

Detalhe da decoração interna da Igreja de Sf da Prainha

Igreja de São Francisco da Prainha: em maio, Cdurp começa os trabalhos de recuperação

A partir do mês de maio, visitas guiadas trarão detalhes de todo o processo de recuperação da Igreja de São Francisco da Prainha, na Saúde. É o que promete a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp). Nos fins de semana, a Igreja de São Francisco da Prainha, em restauração pelo programa Porto Maravilha Cultural, abrirá as portas para que curiosos possam acompanhar as in-

nos moldes da construção original de 1969. “Esperamos receber fotografias e registros de casamentos, batizados, missas e procissões. Aceitamos todos os tipos de objetos que tenham alguma relação com o local. Para manter viva a história da Igreja de São Francisco da Prainha e seu entorno, nada melhor do que a memória dos próprios fiéis”, incentiva Néia Fávero, assessora de Desenvolvimento Econô-

tervenções de perto. Moradores e frequentadores podem colaborar na apresentação de fotos, arquivos pessoais e objetos para complementar a exposição no canteiro de obras e, no futuro, compor um livro sobre o restauro e a história de uma das mais antigas igrejas do Rio de Janeiro. De acordo com a Cdurp, o imóvel, fechado desde 2004 pela Defesa Civil por problemas de conservação, será entregue à população

mico e Social da Cdurp, uma das responsáveis por mobilizar a população para reunir o material. A Construtora Biapó, empresa contratada pela Cdurp via licitação para as obras de restauro, irá produzir cópias do material apresentado e devolvê-los aos proprietários. “Além do valor para a exposição, essas lembranças podem nos ajudar nos retoques finais da obra. É interessante receber fotos antigas que nos permitam,

por exemplo, acompanhar a transformação do altar ao longo dos anos, as cores do interior da igreja e detalhes ornamentais”, explica Thathiane Heloise de Moraes, arquiteta responsável pela obra. Como colaborar As “memórias da igreja” – fotos, registros religiosos e de festas, boletim de missas, por exemplo – devem ser entregues na sede da

Cdurp (Rua Sacadura Cabral, 133, Saúde) durante a semana, das 9h às 18h, para a assessoria de comunicação. Caso o colaborador tenha dificuldades em levar pessoalmente, é possível enviar um e-mail (cdurp@ cdurp.com.br) ou ligar (2153-1405) para combinar a retirada do material.

da redação recacao@folhadarualarga.com.br


C2 Edição Especial

março – abril de 2014

cultura e cidadania boca no trombone

Cliques Rua Larga

Divulgação

CAMINHADA SANTA Ela caminha pela Rua Larga, antigamente chamada de Estreita, cruza a Avenida Passos (rápidos), atravessa o semáforo, sem perceber os sinais da vida que mudam os trajetos, os trajes da moda e os trágicos e bons momentos da história contada entre vírgulas, pontos de parada de ônibus e de trem. Desliza maravilhosa pela zona de obras portuárias, fazendo subir a poeira no cenário urbano, escondendo as casas tombadas e as casas de vida fácil (nem sempre). Engenheiro “Pereira Eduardo Passos de Paz” (mudou, está mudando) o centro do Rio de Janeiro a dezembro. Hoje, engarrafa o tráfego e continua o tráfico de drogarias na região do Beco das Sardinhas. Lá vai ela para o trabalho, carteira assinada, assassinada a moça arrastada no camburão, houve arrastão na praia, rolezinhos de carne e osso no restaurante adiante. E o Amarildo da Roça pequena, esquina com a Rua Acre, fora do mapa do Brasil – onde está a viga dessa situação? Passa em frente da Igreja de Santa Rita: “Ave Maria, cheia de graça”– é ela menina que vem e que passa a caminho do Arsenal da Marinha, tal qual um cisne branco em noite de lua. São os novos tempos de sol ardente. Ele caminha de terno sem ternura na face, avança engravatado, engarrafado PET de gente no Metrô, até chegar ao cenário da sala condicionada pelo ar que “computa a dor”. Dor de um país desigual, Petrobrás (que pena!), Venezuela governada por um fruto “maduro” que não alimenta a população. Espanador que não resolve. É sempre assim: você manda pra mim seus restos de poeira, eu lhe devolvo outros grãos. “Todos os dias ela faz tudo sempre igual...” – limpamos nossas casas justificando que temos muito trabalho para fazer. “O Senhor é convosco”, invisível são os anjos da guarda que apitam de laranja em cada esquina da Rua Nossa Senhora de todas as santas de proteção. Lá vai a mocinha na moda, corpo moldado, sem silicone, passando pelos cones que dividem a Marechal Floriano e se confunde com as flores vendidas na banca. No alto, as favelas tremulam bandeiras UPPs, polícia e sirene, bandidos banidos, corre o menino sem enxergar o futuro, violência (ausência de cultura), com ou sem ciência. “Bendita sois vós entre as mulheres”, homens e crianças, que cheiram cola na cerimônia de colação de grau dos formandos em abandono público e omissão da população. Lá vai o homem engomado, fone no ouvido, sem olhos pros fatos, tirando fotos no celular. Avança o conhecimento, células-tronco, galhos, folhas de papel reciclado, frutos do que se plantou ontem no jardim das possibilidades sem chances. É cada um por si, por dó, na marcha ré, sem mea culpa, muito lá sol, sem água e saneamento. “Bendito é o fruto do vosso ventre” que nos pariu para a terceira idade. Atravessa a rua a beldade, buzina o táxi, freia o ônibus, entala a cachaça no bar da praça, é papo sobre futebol, quem venceu, quem perdeu, situação difícil, sobe ladeira desce escada, é a vida – que mulherão! – sem vergonha de ser feliz, que acredita na cegonha, no Papai Noel e nas melhorias dos hospitais “para todos” (hoje que bicho deu?). “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós” pescadores de chances para vencer na vida. Vem a senhora de idade devagar, vagando para chegar ao banco, carregando sua bolsa família, preocupada com o saldo errado e com o dinheiro para pagar suas promessas parceladas nas contas rezadas no terço dos remédios caros “agora fernando portella até a hora da nossa morte. cottaportella@globo.com Amém”.

O Museu de Arte do Rio (MAR) foi eleito a Melhor Construção de 2013 na categoria Museu, pelo voto popular do Architizer A+ Awards, o maior prêmio de arquitetura do mundo. Carolina Monteiro

Inaugurado há um ano, o MAR lançou uma campanha para o envio de selfies no espaço interno do museu e expôs na página principal do seu site www.museudeartedorio.org.br.


Veículo Leve sobre Trilhos Novos caminhos para a mobilidade urbana

• Meio de transporte não poluente • Integrado ao Bilhete Único Carioca • Conexão entre barcas, aeroporto, trens, metrô, teleférico, ônibus convencionais e BRT’s • Capacidade para transportar 285 mil pessoas diariamente • 24 horas por dia • Seis linhas e 42 estações • 28 km de percurso no Centro e Região Portuária

Conheça o futuro do transporte público. Visite o protótipo do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) nos Galpões da Gamboa, entre 9h e 20h, todos os dias da semana. Rua da Gamboa, s/n (em frente à Cidade do Samba e ao lado da Vila Olímpica da Gamboa)

PortoMaravilha.com.br/VLT facebook.com/PortoMaravilha


C4 Edição Especial

março – abril de 2014

cultura e cidadania

Viajantes do Território estudam novas maneiras de representar a Zona Portuária Projeto de cartografia colaborativa se propõe a contar a história cultural da região Egeu Laus

O desenvolvimento hoje não pode estar ancorado apenas no tripé meio ambiente, sociedade e economia. Ele precisa cada vez mais, como diz a coreógrafa e gestora cultural Regina Miranda, de um quarto pilar: a cultura. Com o objetivo de ativar esse elemento, um grupo de 30 pesquisadores, geógrafos, historiadores, produtores culturais e moradores da região portuária, uniram-se para escrever uma nova história do Porto do Rio, onde os “viajantes” são agora os próprios moradores. Tudo isso através de uma cartografia afetiva, centrada nos valores culturais da região portuária da cidade. Liderados pelo designer e gestor cultural Egeu Laus, eles buscam responder a perguntas como “O que fomos? O que somos? O que sonhamos?”. Em formato de curso para a formação de agentes culturais ligados à região, o Viajantes do Território realiza uma cartografia colaborativa orientada, a partir de pesquisas. Assim, constroem os seus percursos e, de acordo com Egeu Laus, autor do artigo publicado abaixo, várias iniciativas já estão sendo gestadas, transformando-se em projetos. Como tudo começou O que é conhecido hoje como “globalização” se iniciou com o período das Grandes Navegações e teve como um de seus destaques o que foi chamado, pela mídia posterior, de “Descobrimento da América”. 1492 era o ano. Um ponto de destaque na globalização é a impressão da compilação de 70 mapas de todo o mundo, que recebeu o nome de Theatrum Orbis Terrarum (Teatro do Globo Terrestre). Editado em 1570 na Antuérpia, Bélgica, é considerado pela cartografia o primeiro Atlas com os padrões modernos. A cartografia passava a ser uma ferramenta vital para as comunicações da época. O Porto do Rio de Janeiro Nesse meio tempo, o Brasil já tinha sido “descoberto” e o Rio de Janeiro já tinha sido “fundado” oficialmente em primeiro de março de 1565 (alguns confundem até hoje o aniversário do Rio com o dia 20 de Janeiro, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade). Não esquecer que os franceses já moravam por aqui desde 1555 (Villegagnon) junto com os povos indígenas da

-privada, na gestão Eduardo Paes, coordenada pela Concessionária Porto Novo (OAS, Odebrecht e Carioca Engenharia), abrangendo cinco milhões de metros quadrados. Nesta região, que pode ser delimitada entre a Av. Francisco Bicalho e a Praça Mauá e no outro eixo pela Av. Presidente Vargas e a Av. Rodrigues Alves, vivem em torno de 30 mil pessoas, abrangendo um trecho da Praça Mauá, mais os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo e os morros da Conceição, Livramento, Saúde, Gamboa, Providência e Morro do Pinto. A região sofrerá impactos importantes e uma nova cartografia será desenhada trazendo à luz fundamentais períodos da nossa história que estavam soterrados com as sucessivas remodelações urbanísticas, como o Cais do Valongo e toda a história do tráfico dos escravos no Brasil e o Cemitério dos Pretos Novos. Isso sem contar um sambaqui milenar que foi descoberto no mesmo terreno do Cemitério. Viajantes do Território: visita ao Instituto Pretos Novos, na Gamboa

região, e voltariam depois, em 1710, com Jean-François Duclerc e, em 1711, com Duguay-Trouin. Importante é perceber que todos esses eventos estão ligados pela navegação. A ferramenta que ligava o mundo era o navio. As infovias eram marítimas. E, portanto, os portos eram o grande hub de conexão entre todos os mundos, povos, conhecimentos, culturas e costumes. O Porto do Rio de Janeiro era um dos mais importantes desse “novo mundo”, recebendo um enorme volume de navios, principalmente a partir de 1763 (quando se torna capital do Brasil), dividido em duas áreas atracadouras principais, a da Praça XV/São Bento (mais para passageiros) e a da Prainha/Saúde (mais para escravos/mercadorias). A partir do século 19, durante o Ciclo do Café do Vale do Paraíba Fluminense, a economia brasileira passava pela Prainha, ensejando inclusive o surgimento de um dos primeiros sindicatos brasileiros, a Sociedade de Resistência dos Trabalhadores em Trapiche e Café, que teve importância fundamental para a cultura carioca no ambiente de desenvolvimento do samba, dos ranchos carnavalescos e das escolas de samba.

Viajantes descrevem o Rio e o Brasil A partir da transferência da corte portuguesa, em 1808, aumenta sobremaneira o número de viajantes que chegam de navio para conhecer ou pesquisar o país. Um pouco da cultura e do imaginário do Brasil, que é percebido até hoje, principalmente na Europa, ainda passa pelos relatos, cadernos, livros e diários de viagens escritos por esses viajantes que aqui desceram. Um pouco do Rio Colonial e Pós-Colônia continua nos testemunhos de Maria Graham, Von Spix, Von Martius, Richard Francis Burton e muitos outros. Mais de 300 obras foram publicadas. Um pouco do “folklore” que ainda cerca o Brasil tem a ver com esse imaginário. Um Porto novo com novas camadas históricas surgindo Hoje, pouco mais de 100 anos após a grande reforma portuária coordenada pelo engenheiro Francisco Bicalho para a gestão Pereira Passos, outra grande reforma acontece em toda a região: o empreendimento denominado Porto Maravilha, no formato de uma parceria público-

Parceria com UFRJ contribui para o desenvolvimento das pesquisas Viajantes do Território fechou parceria com o Open Street Map para o mapeamento cartográfico e com o Instituto Tércio Pacitti de Aplicações e Pesquisas Computacionais da UFRJ para o acervo de informações. A parceria principal é com a Casa Porto, referência cultural da região e onde se realizam os encontros todas as quintas-feiras. Novos alunos podem se inscrever pela internet acessando www.CasaPorto.org/Viajantes-do-Territorio. Um dos resultados práticos do trabalho do Viajantes é também a página do Facebook, com imagens da região portuária de todos os tempos: www.Facebook. com/RegiaoPortuariaRio. Todos podem colaborar! Outra produção coletiva é a linha do tempo da região portuária, que pode ser acessada em www.dipity.com/ EgeuLaus/Linha-do-Tempo-da-Regi-o-Portuaria-do-Rio-de-Janeiro/. O curso continua aberto recebendo novos interessados, com prioridade para moradores da região. Na página seguinte, confira três exemplos de pesquisas que estão sendo desenvolvidas neste momento pelo Viajantes do Território.


cultura e cidadania C5 Edição Especial

março – abril de 2014

Percursos da cartografia colaborativa Viajantes do Território Veja alguns exemplos das pesquisas interdisciplinares em curso Tiago M. Sousa

Roteiros de fuga – Um mapa da diáspora interna

arquitetura e consultorias que se estabeleceram na região portuária.

O diretor do Museu Afro de Nova Iguaçu (Instituto de Pesquisa Afro-Cultural Odé Gbomi), Antonio Montenegro, ex-morador do Morro do Pinto, está levantando o caminho dos escravos chegados ao Cais do Valongo e sua distribuição pelo estado do Rio de Janeiro, considerando suas etnias e destinos. Conta com a colaboração da professora Denise Luz Gomes Duarte, coordenadora do Centro Comunitário Projeto Pé de Moleque, também de Nova Iguaçu. Alguns pesquisadores apontam que cerca de um milhão de escravos tenham passado pelo Porto do Valongo até 1843. Embora o tráfico tenha sido proibido em 1831, a documentação histórica dá conta de que ele permaneceu clandestino pelo menos até a chegada da imperatriz Teresa Cristina, futura consorte de D. Pedro II. É nesse ano também que o Cais do Valongo recebeu transformações consideráveis sob a coordenação do arquiteto Grandjean de Montigny e se transformou no Cais da Imperatriz, recebendo uma nova camada urbanística com novos aterros e decorações que iriam esconder o nosso passado escravista. O que o percurso de pesquisa “Roteiros de Fuga” visa investigar é parte das histórias e do destino desses homens, mulheres e crianças que ali aportaram, sendo vendidos como escravos. O projeto pretende também produzir material didático para as escolas atendendo ao que dispõe a Lei nº10.639, que determina a obrigatoriedade do ensino da cultura e história afro-brasileiras.

Histórias encantadas – um circuito histórico musical

Tramas do Porto – A história do Porto bordada em roupas A professora e moradora da região portuária Silvania Lucia Lacerda da Fonseca se inscreveu na Cartografia do Viajantes do Território logo que as inscrições foram abertas e, a partir das histórias levantadas pelos outros pesquisadores, criou um projeto de roupas bordadas com temas históricos da região. A Pedra do Sal, a capoeira, os tambores, o Cais do Valongo são alguns dos temas que serão retratados nas roupas com bordados aplicados pelo grupo de integrantes do projeto. Em parceria com o projeto Bordando o

Semiramice veste saia Tramas do Porto com produção de Sandra Lima Pedro de Moraes

O lendário João da Bahiana, nascido e criado no Porto do Rio, década de 1960

Futuro, da Associação de Bordadeiras de Itaperuna, o Tramas do Porto vai envolver grupos de moradores da região portuária para dar prosseguimento à produção dos bordados. A cartografia colaborativa do Viajantes tem também o objetivo de propiciar que as pesquisas possam se transformar em projetos que beneficiem os moradores do Porto. O lançamento da coleção de roupas bordadas irá acontecer com desfile por ocasião do FIM – Fim de Semana do Livro no Porto, que tomará o Largo da Prainha, os bares

do entorno e o próprio Morro da Conceição, nos próximos 10 e 11 de maio. O projeto Tramas do Porto já envolveu fotógrafos, designers, produtores e estilistas que irão apoiar a iniciativa. A produtora e videomaker Sandra Lima, junto com o fotógrafo Tiago M. de Souza, da S.X.T. Produções, estão produzindo imagens para o material gráfico de divulgação do projeto, que recebeu também a colaboração da designer Elisa Ribeiro Ferreira, integrante do Coletivo Goma, um espaço colaborativo que conta com várias empresas de design,

Balizado pela música brasileira de compositores simpatizantes pelo Porto do Rio de Janeiro, o percurso “Histórias Encantadas”, da guia de turismo Judite dos Santos Rosário, está trazendo a público um acervo musical de alto valor cultural. O que talvez poucos saibam é que uma grande parte da música popular brasileira com raízes africanas se preservou a partir dos terreiros e locais de encontro multicultural situados no Cais do Porto do Rio de Janeiro. Antes mesmo da abertura da Av. Presidente Vargas, em 7 de setembro de 1944, que partiu o Rio em dois pedaços isolados, a região do cais do Porto já era uma área um pouco marginalizada pela cultura tradicional carioca. No entanto, ali transitavam compositores, cantores e artistas, criando os atravessamentos culturais que enriqueceram sobremaneira a música brasileira no contato com a ancestralidade negra preservada nos terreiros de matrizes africanas, bem como as dezenas de etnias colocadas à margem da nascente burguesia calcada nas influências europeias, primeiro francesas e depois inglesas. Eram árabes, ciganos, chineses e mais um sem número de variadas populações que se refugiaram na região portuária e construíram uma vasta cultura de encontros e diversidade. Um grande representante dessa cultura é João da Bahiana, compositor e liderança das tradições africanas no Brasil, um elo importante nesse percurso musical que o projeto “Histórias Encantadas” vai apresentar. Viajantes do Território Viajantes do Território é um processo contínuo e, nos próximos números da Folha da Rua Larga, iremos acompanhar os percursos que estão sendo construídos através dos bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo e os morros da Conceição, Livramento, Providência e do Pinto. Até lá!

Egeu Laus egeulaus@gmail.com


Há 64 anos servindo o melhor bacalhau de Páscoa da cidade.

O Restaurante Sentaí tem o bolinho de bacalhau mais famoso da cidade e os mais variados pratos de frutos do mar. Não há outro português como este. Venha festejar sua Páscoa conosco. Faça já sua reserva! Rua Barão de São Félix, 75 • Centro Tel (21) 2233 8358 • 22234419



C8 Edição Especial

março – abril de 2014

cultura e cidadania

FIM promete acender a cultura na região por 48h 2ª edição do Fim de Semana do Livro no Porto ocorrerá entre 10 e 11 de maio Carolina Monteiro

Os entusiastas da Zona Portuária do Rio terão um bom motivo para visitar a região no fim de semana do Dia das Mães. É que será realizada, nos dias 10 e 11 de maio, mais uma edição do FIM – Fim de Semana do Livro no Porto. De acordo com Raphael Vidal, morador da região e gestor da Casa Porto, que assina a realização do circuito de eventos com Bel Fernandes, Eduardo Rua e Zeh Gustavo, serão dois dias de atividades ininterruptas, que acontecerão entre 10h e 22h. A programação será dedicada à literatura e à cultura geral na área portuária do Rio. Segundo ele, trata-se de uma oportunidade para mães e filhos viverem momentos de lazer em meio aos livros e a toda uma ambientação criada especialmente para essa ocasião. Os fins de semana que ainda insistiam em ficar desertos, no Centro do Rio, serão preenchidos por atores que se apresentarão na Pedra do Sal, espetáculos de música e dança no Largo de São Francisco da Prainha, intervenções e abertura de ateliês dos artistas plásticos do Projeto Mauá, no Morro da Conceição e bate-papos com escritores na Casa Porto, situada no Largo de São Francisco da Prainha, 04, sobrado. Todo esse apanhado de eventos sincronizados irão

Raphael Vidal, gestor da Casa Porto, é o idealizador do FIM Carolina Monteiro

compor uma programação cultural que será pano de fundo para o essencial do projeto – o estímulo à leitura. Serão disponibilizados estandes de livros sobre assunto gerais, sobretudo temas relacionados à história do Rio de Janeiro, Região Portuária e à gastronomia. Além de publicações e dos eventos culturais interligados, a antiga área portuária da cidade, hoje parcialmente renovada, será adornada com flores e estandartes. Como planeja a

Bate-papo com autores lotado na última edição do Fim de Semana do Livro no Porto

Caderno Cultura e Cidadania Realização

Patrocínio

organização do FIM, o entorno da região será caracterizado como um ambiente onírico, com elementos do passado, que remeterá à época colonial, em que moradores tocavam violões e flautas em suas janelas e os cidadãos declamavam poesias em praça pública. A primeira edição do FIM foi realizada em outubro de 2012 no alto do Morro da Conceição e, de acordo com a organização do evento, atingiu um público que não costumava frequentar o Centro do Rio por motivos alheios a trabalho e comércio. Na ocasião, houve conversas com escritores, oficinas, feira de livros e abertura de portas dos ateliês do Morro da Conceição. Os cinco restaurantes que farão parte do circuito gastronômico receberão os escritores para um encontro com o público, no qual será possível desfrutar a companhia dos autores, em meio a comes e bebes programados especialmente para o Fim de Semana do Livro no Porto. Confira a programação detalhada do FIM, em breve, no site da Folha da Rua Larga (www.folhadarualarga. com.br). Aguarde, acesse e participe!

sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br


13 folha da rua larga

março – abril de 2014

cidade morro da conceição Bordado Carioca “O sol carioca nasce bordando o mar com linhas douradas e leva o dia por entre as montanhas, costurando o horizonte com pontos de zigue-zague.” A história do bordado origina-se com a técnica do ponto cruz e os registros históricos remontam à pré-história. O ato de tecer ou bordar, no sentido existencial, está associado à figura de dois personagens da mitologia grega: Penélope e Ariadne, ambas símbolo da pureza e da fidelidade, modelo estabelecido como parâmetro para se falar do ideal feminino. Do lado de cá da história, a maneira de bordar é a mesma, mas as Penélopes agora são empresárias, atuantes, e bem-sucedidas. Maria Rita Labanca, Silvia De Bonif, Ilda Marinho, Marilene Palmeira e Dora Firme se conheceram no Programa de Artesanato do Estado do Rio de Janeiro, em parceria com o Senac. No início eram várias pessoas no grupo, depois algumas saíram e ficaram as cinco jovens senhoras. Assim, iniciou-se a parceria. Habilidades nas mãos, linhas, tesouras, agulhas, pedaços de tecidos e muita imaginação são os ingredientes do sucesso. No silêncio do ateliê, elas constroem, desconstroem, cortam, emendam, salpicam miçangas, rendas e fitas, linha e nós. Elas bordam poesias em almofadas, bolsas e outros mimos capazes de corromper até os menos consumistas. Com o ateliê aberto diariamente, elas conseguem uma boa receita e dizem que os franceses são bons compradores. Todos os anos elas participam da Feira da Providência, no Riocentro, além de outras feiras na cidade. Dia 13 de maio, suas peças estarão expostas permanentemente no Museu do Artesanato em Petrópolis. O ateliê Bordado Carioca fica no Morro da Conceição, em uma casinha pequena que mais parece de boneca. Em suas paredes, o reconhecimento de seus trabalhos, matéria de jornais com premiações, revistas e até bolsas feitas por Marilene Palmeira para uma novela da Rede Globo, Lado a Lado. Dora Firme é a proprietária do ateliê e faz parte do Projeto Mauá, as outras quatro moram em bairros diferentes, mas todos os dias chegam no mesmo horário e passam o dia bordando. Há uma grande variedade de pontos com nomes curiosos e efeitos surpreendentes: ponto-cruz, oitinho, teia de aranha, vandike, triângulo, russo, trancado, rococó, partido, pequinês, punção, turco, mosca, nozinho, palito, caseado, margarida, matriz, tijolo e zigue-zague. O fio do tempo, o fio do destino, o fio em forma de poesia, o fio que sustenta – o fio da inexorável paciência de tecer a arte que alimenta a alma. Onde: o ateliê Bordado Carioca fica aberto de 2ª a 6ª feira, das 12h às 17 horas. O endereço é Rua Jogo da Bola, nº 140, Morro da Conceição.

teresa speridião teresa.speridiao@gmail.com

Artistas do Morro da Conceição promovem oficinas gratuitas Pintura em tecido, velas artesanais e cerâmica são sucesso entre moradores Teresa Speridião

Dia 29 de março foi realizada a festa de encerramento das oficinas de artes do Morro da Conceição realizadas entre novembro de 2013 e janeiro de 2014. Os artistas plásticos residentes na região, em parceria com a concessionária Porto Novo, realizaram uma culminância das atividades ministradas, com a exposição de obras produzidas pelos alunos. O Ateliê Gaia, situado aos pés do Morro da Conceição, cedeu gentilmente o local para o evento. A artista plástica Teresa Speridião pontua que neste terceiro ano de oficinas destinadas à população local, os alunos receberam certificados de capacitação: “Sempre optei pelo ensino de pintura em tecido – no caso, de camisetas – porque, além de pintar para uso próprio, a pessoa pode dar de presente ou comercializar. Procuro fazer algo prático, como é o caso da oficina de velas decorativas para crianças. Eles criam velas nos formatos mais variados possíveis,

Maria Labanca, Silvia de Bonif, Ilda Marinho, Marilene Palmeira e Dora Firme passaram ensinamentos de bordado Sacha Leite

como em forma de celular”. As 11 oficinas concedidas incluíram prática de bordado, cerâmica, iluminação, fotografia e até “Pintura, construção e desconstrução”. A artista Adriana Eu ofereceu curso de mosaico, em que crianças moradoras da região construíram um jogo de amarelinha, utilizando a técnica aprendida, no piso da pracinha, no alto do Morro da Conceição.

Cláudio Aun, presidente do Projeto Mauá, ensinou crianças a produzirem velas ornamentais

sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br

Confira as oficinas oferecidas: . Juan Russo - ateliê 87

“Introdução à fotografia noturna”

. Claudio Aun - ateliê 59

“Vela ornamentais”

. Osvaldo Gaia - ateliê 34

“Cerâmica artística”

. Vilmar Madruga/Bianca Madruga - ateliê 119

“Pintura construção e desconstrução”

. Ubirajara Vasconcelos - ateliê 101

“Expressão da luz”

. Ventos do Norte - ateliê 117/sobrado Oyama e Tânia

“Conservação e restauração de papéis”

. Teresa Speridião - ateliê 82

“Pintura em tecidos”

. Leandro Barboza - ateliê 76/202

“Aquarela’’

. Atelier Oficina Garagem - ateliê 68

“Joias artesanais”

. Bordado Carioca - ateliê 140 - Dora Lice

“Bordado livre”

. Adrianna Eu - ateliê 102

“Construção participativa (mosaico)”


14 folha da rua larga

março – abril de 2014

gastronomia

Becos seculares, sabores contemporâneos Centro Grill une ar caseiro com o charme do Beco do Bragança Yuri Maia

De alguns anos pra cá, tem crescido o número de restaurantes no Centro. Mesmo assim, a julgar pelo tamanho das filas, a quantidade ainda parece insuficiente. Entre ruelas e becos, o flâneur gastronômico faz a festa no horário do almoço. O Centro Grill é um desses achados que costuma surpreender até mesmo os cariocas já familiarizados com a herança arquitetônica deixada pelos colonizadores. O restaurante fica no Beco do Bragança, entre as ruas Conselheiro Saraiva e Visconde de Inhaúma. Dois coqueiros e um banco de madeira em frente ao estabelecimento são responsáveis pelo charme do local. Os empresários e sócios Marcos Melo e Luis Miguel contam que a casa já passou por algumas modificações e que a última reforma, há um ano, deixou o restaurante de cara nova, trazendo mais conforto para os clientes. A decoração ficou mais moderna, com ar condicionado possante, luminosidade maior, e os frequentadores ganharam alguns mimos como música ambiente, com destaque para o bossa lounge. Inaugurado há 15 anos, o lugar já se tornou uma tradição. A maioria dos clientes são empresários e executivos (muitos deles franceses devido à proximidade com a empresa L’Oréal), e também pessoas que fazem parte da efervescência financeira da nossa metrópole. O serviço de bufê oferece pratos para todos os gostos, que vão do churrasco de picanha, passando pelas opções vegetarianas,

receitas carol A Páscoa representa a renovação, um renascimento, tempo de comemorar a vida nova! Uma mesa farta e crianças correndo à procura dos ovos de chocolate são imagens clássicas dessa co-

memoração, sem esquecer o famoso bacalhau. Nesta edição, nós também nos lembramos dele, numa receita fácil de fazer, generosa e deliciosa. Bom apetite e boa Páscoa a todos!

Suflê de bacalhau ACP

Decoração moderna e confortável com destaque para a música ambiente Yuri Maia

O bufê variado satisfaz a todos os gostos Yuri Maia

Sobremesas que surpreendem qualquer paladar

além de peixes e massas. A constante substituição das travessas em pequenas quantidades garante o frescor dos alimentos durante todo o almoço.

Dessa forma, os últimos a chegarem para almoçar comem tão bem quanto os primeiros. A enorme variedade de pratos fixos já seria o suficiente para

uma boa refeição: moqueca, risotos, rocambole de tomate seco com espinafre, medalhão de filé mignon e variadíssimas saladas são alguns exemplos do que há para degustar. Diariamente novos pratos são acrescentados ao cardápio, como é o caso do bacalhau, que tem uma maneira de preparo para cada dia da semana. As sobremesas, com receitas artesanais, incluem itens como tiramisu, pavê, tortas e frutas. Pela variedade de doces, saladas, pratos quentes e grelhados, é possível comer no Centro Grill durante toda a semana sem se cansar. Confira as opções programadas para cada dia da semana no cardápio disponível no site oficial do restaurante: www.centroriogrill.com.br. O Centro Grill fica no Beco do Bragança, nº 37, lojas A, B e C – Centro. Tel: (21) 2253-1493.

teresa speridião teresa.speridiao@gmail.com.br

Ingredientes ½ kg de bacalhau dessalgado 4 folhas de louro 5 grãos de pimenta ½ kg de batata cozida, passadas no espremedor 1 xícara de cebola picada ½ xícara de leite 1 colher de chá de pasta de azeitona 3 ovos Modo de preparo Ferva o leite com as folhas de louro e os grãos de pimenta. Regue o bacalhau e deixe cozinhar por 15 minutos. Escorra o bacalhau e reserve o leite. Desfie o bacalhau em lascas. Refogue a cebola em azeite até dourar e junte o bacalhau. Misture o leite morno de bacalhau nas batatas espremidas como se fosse fazer um purê. Junte na mistura de bacalhau e cebola, acrescente a pasta de azeitonas e prove o tempero. Bata as claras em neve, quando estiverem cremosas

junte as gemas e deixe bater por mais uns 5 minutos. Junte delicadamente a mistura de bacalhau com batata. Coloque em formas untadas e polvilhadas com pó de rosca. E leve ao forno pré-aquecido a 180ºC por 30 minutos, ou até dourar. Sirva imediatamente.

ana carolina portella carolnoisette@hotmail.com Confira outras receitas da Carol no blog nacozinhacomcarol.blogspot.com


Um mar de sabores

Um toque de classe, onde comer bem não significa pagar muito Rua Miguel Couto, 121 • Centro • Tels.: 2253-0862 • 2233-3515 www.malaga.com.br • malaga@malaga.com.br


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lazer folha da rua larga

março – abril de 2014

dicas da cidade 72 horas para filmar

Di Cavalcanti no Centro Cultural Light Cinco telas do artista podem ser conferidas em galeria reaberta Acervo Light

A região portuária recebe o 72 Horas Rio, festival que propõe a produção de curtas-metragens de até 6 minutos em três dias. O evento acontecerá de 1º a 4 maio. As inscrições para os moradores da Zona Portuária estão abertas. É possível ser diretor, ator, roteirista, oferecer a casa para uma filmagem, contar histórias e muito mais. Para mais informações, visite: www.72horasrio.org. Sextas Culturais no INT Quem mora ou trabalha próximo à Praça Mauá pode curtir os eventos gratuitos em cartaz no Sextas Culturais do Instituto Nacional de Tecnologia. Sempre ao meio dia, o prédio da Av. Venezuela, 82, recebe uma gama de apresentações bem variada, passando por todos os tipos de arte e manifestações culturais. Vinícius na Parque Estadual A Biblioteca Parque Estadual foi reinaugurada em grande estilo. A exposição de abertura homenageia os 100 anos de Vinícius de Moraes e traz bate-papos e shows musicais de nomes como Toquinho, Miúcha, Paula Morelembaum e Edu Lobo. Sempre às quartas-feiras, às 19h. Senhas são distribuídas com 1 hora de antecedência. da redação redacao@folhadarualarga.com.br

O Centro Cultural Light reabriu ao público, no último 1º de abril, a sala de exposições Di Cavalcanti. No local estão expostos cinco painéis do artista (quatro originais e uma réplica) que representam a obra Composição Rio, um retrato da relação do Rio de Janeiro com a imprensa. “A reabertura desta sala homenageia um dos mais importantes artistas da cultura brasileira. Além da exposição dessa importante obra, prestamos uma merecida homenagem a um antigo colaborador da Light: no final dos anos 1920, era possível ver o talento de Di Cavalcanti em desenhos publicados na Revista Light, em que destaca passageiros, condutores e motorneiros dos antigos bondes”, declarou Paulo Bicalho, gerente do Centro Cultural

A sala dispõe de versões táteis das obras para a apreciação de deficientes visuais

Light, ao Jornal do Brasil. Os quadros foram adquiridos, em 1971, por Antonio Gallotti, presidente da Light à época, junto ao jornalista Samuel Wainer, diretor do jornal Última Hora, extinto no mesmo ano. As pinturas foram encomendadas para comemorar o primeiro ani-

versário do Última Hora, fundado em 12 de junho de 1951. A Sala Di Cavalcanti ficará aberta durante o funcionamento do Centro Cultural Light, de segunda a sexta-feira, das 11h às 17h, na Av. Marechal Floriano, 168 . No novo espaço, com

temperatura controlada para preservar as obras, ainda há um balcão com versões táteis das telas, o que permite a percepção dos traços do artista por deficientes visuais. da redação redacao@folhadarualarga.com.br


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