Roberto Burle Marx e o Parque do Flamengo – Projeto Paisagístico – 1º bimestre 2022/1
Latorre, Heloisa; Centro Universitário Belas Artes, heloisalatorre@hotmail.com1
Resumo: O artigo tem como objetivo apresentar a concepção utilizada no paisagismo de Roberto Burle Marx, focando na criação do Parque do Flamengo e analisando a contribuição de seus projetos de uma maneira geral no período modernista.
Palavras chave: Roberto Burle Marx; Projeto paisagístico; Parque do Flamengo
Abstract: The article has as objective to show the concept used in the landscape design of Roberto Burle Marx, focusing on the creation of the “Parque do Flamengo” and analyzing the contribution of his projects in general in the modernist period.
Keywords: Roberto Burle Marx; Landscape design; Parque do Flamengo. 1
Estudante de Arquitetura e Urbanismo do 5° semestreIntrodução
A partir de Burle Marx, o jardim moderno nasce com a proposta de construir um caráter nacional, rompendo com influências estrangeiras e tornando-se um espaço democratizado. O paisagista exerceu em seus trabalhos uma prática multidisciplinar, devido ao contexto de sua vida, no qual o mesmo estudava diversos campos. Assim, suas obras reúnem, por exemplo, tanto a harmonia de músicas quanto qualidades plásticas na utilização de cores e formas abstratas. Além disso, Marx articula a arborização de espaços públicos, pensando sempre nas características e potencialidades de cada espécie, e distribuindo-as de maneira a organizar o desenho urbano. Como objeto de pesquisa, está presente no artigo uma análise acerca do Parque do Flamengo, um de seus principais projetos no Rio de Janeiro.
O paisagista brasileiro Roberto Burle Marx nasceu em São Paulo, no dia 4 de agosto de 1909 e faleceu no Rio de Janeiro em 4 de junho de 1994.Era o quarto filho do casal Wilhelm Marx e Cecília Burle, sendo o pai descendente de Karl Marx. Durante sua infância, Burle Marx viveu em uma casa na Avenida Paulista, e desde jovem teve contato com diversas espécies de plantas que cultivava em seu jardim. Por causa dessa proximidade com a vegetação, aos poucos ele aprendeu a preparar canteiros e a observar o processo da germinação das sementes em seu quintal.
Entretanto, em 1913, quando os negócios de seu pai começaram a ir mal em São Paulo, a família resolveu mudar-se para o Rio de Janeiro, local que Burle Marx passou grande parte de sua vida. Em 1928, vai com a família para a Alemanha, com o objetivo de encontrar um tratamento para seus problemas nos olhos. Durante esse período, Marx teve contato com vanguardas artísticas e começou a estudar pintura, além de ter sido frequentador do Jardim Botânico de Dahlem, em Berlim, onde ficou encantado com a vegetação brasileira presente no local. Assim sendo, essa passagem pela capital alemã foi um período marcante na vida do mesmo.
Voltou ao Brasil em 1929, onde estudou pintura e arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes entre 1930 e 1934, no Rio de Janeiro. e onde estão localizados seus principais trabalhos
Em 1932, realizou seu primeiro projeto paisagístico para a residência da família Schwartz, no Rio de Janeiro, a convite do arquiteto Lucio Costa (19021998), e Gregory Warchavchik (1896 - 1972) A partir dessa experiência, não parou mais de projetar paisagens, pintar e desenhar e esse jardim, motivou Lima Cavalcanti, governador de Pernambuco, a contratá-lo para a Direção de Parques do Recife. Com isso, o paisagista iniciou sua trajetória profissional e foi nesse momento em que o mesmo definiu os princípios que guiavam o processo dos projetos.
Em 1949, Burle Marx comprou uma área de 365.000 m², localizada em Barra de Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, onde começou a organizar sua coleção de plantas e funcionar como seu “laboratório” .
Autor de mais de 3 mil projetos de paisagismo em 20 países, Burle Marx demonstrou conhecimento profundo em todas as fases do projeto paisagístico. O arquiteto dominava a botânica e fazia constantes experimentos para entender o comportamento das plantas, portanto, sabia prever todas as fases do jardim: desde o nascimento até o amadurecimento. Hoje em dia pode-se encontrar jardins ou estufas projetados por Burle Marx, em várias partes do mundo, como Filadélfia, Califórnia, Venezuela, entre outros.
Em 1955, ele formalizou sua prática e fundou o Burle Marx Escritório de Paisagismo, que segue em funcionamento até os dias atuais.
Fonte: https://www.saopauloinfoco.com.br/pintor-paisagista-burle-marx/

Considerado o maior paisagista do século XX, Burle Marx foi o criador do jardim tropical moderno, paradigma no paisagismo mundial integrado ao movimento modernista no campo das artes, da arquitetura e do urbanismo Essa experimentação formal e o interesse cada vez maior em compor a partir da flora tropical, fez com que seus jardins rapidamente adquirissem reconhecimento internacional.
A forte paixão de Marx pela arte, fortaleceu sua capacidade de projetar paisagens O paisagista tratava seus projetos paisagísticos como obras de arte, a partir de combinações de materiais, grande diversidade de espécies de plantas e padrões coloridos de pavimentação orgânica como sua paleta. É conhecido por sua preocupação pelo meio ambiente e pela preocupação com a preservação da flora brasileira, o mesmo inovou ao usar plantas nativas do Brasil em suas criações e isso se tornou sua característica marcante de todos os projetos. Marx criticava fortemente o desconhecimento das plantas indígenas e a falta de atenção ao potencial de utilização desses elementos em áreas urbanas
Como já citado, seus jardins configuram lugares geográficos que fluem organicamente, ou seja, não existem pontos fixos, o jardim não inicia ou não termina em um lugar definido. Pode-se parar em qualquer ponto e o jardim continuará com suas curvas, cores, texturas, estando tudo relacionado
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A partirde 1938, Roberto Burle MarxvoltoudeRecife,e permaneceu no Rio de Janeiro, momento que foi contratado para inicia os projetos paisagísticos que futuramente, iriam configurar o Complexo do Parque do Flamengo.
O “aterro”, como os cariocas se referem ao Parque do Flamengo, é considerado um marco no urbanismo e no paisagismo brasileiro. Localizado entre o Aeroporto Santos Dumont e a Praia de Botafogo, é considerado o maior parque urbano do mundo e a maior área de lazer ao ar livre da cidade, com seus 1.251.244,20 m² de área total. O local tinha como objetivos preservar um dos cenários mais singulares do Rio de Janeiro, protegendo e embelezando a orla
marítima, e construir um grande parque, no qual pudessem incluir elementos que dessem à população com menos renda a possibilidade de frequentá-lo nas horas de descanso e lazer
O local conta com um jardim onde você contemplar variada flora, fauna e a bela paisagem da Baía de Guanabara, com diversos equipamentos culturais, de recreação e esportes (como pistas de skate, patinação, ciclovia, futsal, playground, postos de salvamento, o Museu de Arte Moderna, o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, o Teatro de Marionetes, o Teatro de Arena, pavilhões recreativos, o Monumento a Estácio de Sá, além de diversos quiosques de alimentação e restaurantes.

Fonte: http://institutoparquedoflamengo.org/mapas/
O processo de fragmentação do Morro de Santo Antônio, no início da década de 1950, gerou o material para a área do aterro, que restou desocupada durante alguns anos. O local se tornou um parque público devido, principalmente à Maria Carlota de Macedo Soares (arquiteta, paisagista e urbanista autodidata brasileira), com apoio político do recém-eleito Governador Carlos Lacerda Lota, como era conhecida, indicou os profissionais para composição de equipe de projeto, formada, entre outros, por Affonso Eduardo Reidy e o responsável pela área da botânica, Luiz Emygdio de Mello Filho. O projeto, iniciado em 1961, finalizou-se em 1965, e incluiu uma obra anterior – o Museu de Arte Moderna –, de autoria de Reidy, localizado no extremo norte do parque, com jardins também projetados por Burle Marx (1954-1958).
Figura 2: Mapa Lúdico do Parque do FlamengoConsiderado o primeiro parque de linhas modernas no Brasil, o projeto representou uma inovação no desenho de espaços livres públicos. Em termos de tipologia urbana, possui características de Parkway em função da presença de pistas expressas, que cortam áreas verdes destinadas ao lazer da população, ligando a zona sul ao centro da cidade. O cruzamento das circulações de pedestre e veículos foi projetado e resolvido a partir de desníveis: momentos com passagens subterrâneas para pedestres, e outros, com passarelas. O projeto tira partido da localização, junto com a vegetação, ambientes para a apreciação da vista da Baía de Guanabara.

O projeto paisagístico do Parque do Flamengo é um dos mais significativos exemplos de exploração da diversidade de espécies vegetais em área urbana. Burle Marx produziu uma paisagem com ordem e harmonia, a partir da concepção de composições que conciliam diferenças O paisagista compõe seu projeto a partir do agrupamento de indivíduos da mesma espécie e pela composição delas entre si, articulando formas, volumes e cores.
O projeto conta com uma variedade vegetal tanto no número de espécies como na distribuição delas Em 1992, foi realizado um levantamento que contava com 240 espécies, sendo elas árvores, arbustos, forrações e aquáticas. Além disso, o conjunto possui tanto espécies nativas como de outros países, sendo aproximadamente 42% de espécies originárias do Brasil. Acredita-se que essa porcentagem é devido a dificuldade de obtenção das mudas.
Figura 3: Parque do FlamengoConsiderações Finais
As obras paisagísticas de Burle Marx aparecem associadas com as transformações urbanas mais importantes da cidade, conjugando e associando modernidade com paisagem e arte na cidade.

A preocupação em transmitir as características culturais do país e de sua população se manteve sempre, em toda sua produção, sem distinção do suporte utilizado. Aliás, pode‐se dizer que é considerada a característica principal de sua obra. Além disso, seus jardins, assim como seus quadros, procuram servir a população de experiências sensoriais, reflexivas e de contemplação
Todos esses projetos, além de se identificarem por estarem assentados sobre áreas de aterro, possuem outro ponto em comum: estão associados a novas formas de se apreender a paisagem da cidade. Todos incluem em sua vizinhança pistas de alta velocidade, que alteram sobremaneira a contemplação de uma obra paisagística. Embora esses espaços possuam áreas de permanência, suas matrizes estão relacionadas ao movimento, à velocidade, à fluidez, mudando também a relação com o tempo de apreensão do espaço.
Atravésdo conhecimento daprodução dasobraspaisagísticasde BurleMarx para a cidade do Rio de Janeiro, produção esta que inclui também os projetos não
Figura 4: Jardim do Parque do Flamengo Fonte: http://casaaocubo.com.br/aterro-do-flamengo/executados,podemosresgatarhistoricamenteocontatoqueexistiuentreBurleMarx e a administração da cidade que, em vários momentos pode contar com a genialidade do artista.
Os projetos executados alteraram de maneira significativa a paisagem da cidadeedevemserprotegidoscomoumlegadocoletivo.Aperenidadedessasobras está associada à qualidade extraordinária das mesmas e principalmente à marca imprimida por seu autor criando uma indissociável ligação entre a paisagem cultural da cidade do Rio de Janeiro e Roberto Burle Marx.
Todas as suas obras podem ser consideradas como a figura final desses espaços na cidade, representando o ideal da cidade moderna. Assim também são os projetos não executados, que demonstram uma ideia e uma intenção e, portanto, devem ser guardados enquanto acervo. Além disso, todos os projetos adquiriram significado histórico, artístico e cultural para o Rio de Janeiro, ou seja, proteger esse patrimônio constitui uma importante ação de preservação do registro da formação da cidade moderna.
Por fim, vendo atualmente o papel que o Parque do Flamengo ocupa nas representações da cidade, fica clara a intenção de Burle Marx em projetar a composição do local, no qual o mesmo afirmava que o valor das plantas não se apresenta isoladamente, e sim relacionado com o todo, na interação entre as cores da vegetação e seus ciclos de floração. Assim, esses locais provocariam experiências sensoriais e estéticas nos frequentadores.
Referências
FARAH, Ivete Mello Calil Arborização pública e desenho urbano na cidade do Rio de Janeiro: a contribuição de Roberto Burle Marx 1997.
Roberto Burle Marx: Um mestre muito além do paisagista modernista ArchDaily 2016. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/792669/roberto-burle-marxum-mestre-muito-alem-do-paisagista-modernista>. Acesso em: 21 mar. 2022
Bourlemarx ou Burle Marx?. Por Ana Rosa de Oliveira Vitruvius 2001. Disponivel em: < https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.013/876>. Acesso em: 22 mar. 2022
LEMOS, Paulo, SCHWARZTEIN, Eduardo C. Roberto Burle Marx. São Paulo: Lemos, 1996.
COSTA, Lucia. Burle Marx e o Paisagismo no Brasil Contemporâneo. In: Revista Municipal de Engenharia. Prefeitura do Distrito Federal. Edição eletrônica. Disponível em http://obras.rio.rj.gov.br/rmen/eletronica_burle/eletronica_html/32.htm. A cesso em 22 mar. 2022
FARAH, Ivete. Arborização Pública e Desenho Urbano: a contribuição de Roberto Burle Marx. 1997. Dissertação (Mestrado em Urbanismo) - Programa de Pós-graduação em Urbanismo - FAU/UFRJ, Rio de Janeiro. 1997.
ONO, Fernando Pedro de Carvalho. A abstração informal de Roberto Burle Marx: uma reflexão sobre imagens possíveis. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2015.
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