Hell Divine Nº 24 - Outubro 2015

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E lá se vão quase cinco anos de atividades desde o lançamento da Hell Divine Nº 1. Após milhares de resenhas, centenas de entrevistas, matérias especiais, coletâneas, vídeos, adesivos, camisetas, festivais, é hora de dizer até logo. Sim, estamos pausando nossas atividades por tempo indeterminado. Deixamos esse legado de cabeça erguida, sabendo que demos o nosso sangue para fazer sempre o melhor, sempre naquilo que acreditávamos que era o correto. Conquistamos muitos amigos nessa batalha, acreditamos que fizemos um trabalho relevante para esse cenário carente que é o Heavy Metal no Brasil. Não há um verdadeiro motivo para pararmos, apenas sentimos que era o momento. Iremos reunir forças para quem sabe futuramente voltar, seja na forma digital (como de costume), seja na forma física, como tanto sonhamos. Aos fãs do nosso trabalho, iremos continuar as atividades no blog da revista e nas redes sociais, mantendo a publicação de notícias relevantes, resenhas, entrevistas e matérias. Gostaria de agradecer, em nome de toda a equipe da Hell Divine, a todos vocês que fizeram parte disso, seja interagindo conosco, seja lendo a revista. Agradecer aos grandes parceiros de imprensa, assessorias, lojistas e bandas. Vocês fizeram e continuam fazendo nossos dias melhores! Uma mistura de tristeza e orgulho toma conta de nós, mas a sensação de dever cumprido é a que fica. Até breve e GO TO HELL!!

Pedro Humangous.

ÍNDICE

“A despedida”

ENTREVISTAS • Evil Invaders...........................................03 • Kiske....................................................06 • Satiricon...............................................10 • Pray For Mercy........................................13 • Bloody Violence......................................16 • Lost In Hate............................................19 • In Torment.............................................22 • Tá no Sangue..........................................25 ESPECIAL • O que transforma um disco em um clássico do gênero?.............................................28 • Um caminho para resenhar discos......................................29 • nuclear assault......................................30 COVERING SICKNESS • Andreas Marschall..................................34 RESENHAS.................................................37 LIVE SHIT...................................................46 OLD SKULL.................................................52 RASCUNHO DO INFERNO..............................57

EQUIPE

EDITORIAL

Editor Chefe: Pedro Humangous Redator: Maicon Leite Designer: Ricardo Thomaz Revisão: Marcela Zaccari e Flávia Pais Colaboradores: Augusto Hunter, Junior Frascá, Luiz Ribeiro, João Messias Jr., Thiago Rahal e Marcos Garcia. Web Designer: William Vilela Colaboraram nessa edição: Virginia Pezzolo, Erick Tedesco e Marcelo Val.


E N T R E V I S T A

O Heavy Metal é uma caixinha de surpresas. De vez em quando somos literalmente abençoados com o surgimento de novas bandas, dispostas a levar o Metal adiante e com grande responsabilidade. No caso do Evil Invaders, além de terem lançado um álbum de respeito, o insano “Fast, Loud ‘n’ Rude”, ao vivo também mantém a loucura toda em profusão, com turnês incendiárias e doses absurdas de adrenalina. É só conferir alguns vídeos da banda no Youtube e seus vídeo clipes, autênticas demonstrações de loucura. Conversamos com o guitarrista e vocalista Johannes Van Audenhove, mais conhecido como Jon, que revelou para a HELL DIVINE um pouco mais do que está acontecendo com a banda no momento. Lançado pela Napalm Records, “Fast, Loud ‘n’ Rude” entra fácil na lista dos apreciadores de Speed/Thrash Metal. Caso ainda não tenha ouvido o petardo ainda, sugiro uma audição imediata! Aumente o som e boa leitura! Por Maicon Leite Tradução: Daniel Seimetz HELL DIVINE - É quase uma raridade encontrar uma banda belga tocando Heavy Metal, ainda mais de um gênero como o Speed Metal. O Ostrogoth foi um dos grandes desbravadores do Metal em seu país, assim como o Ancient Rites, Enthroned e o Aborted, mais recentemente. Como é ser um dos poucos representantes do Metal na Bélgica? Joe: É um sentimento grandioso ser parte importante da cena Belga de Metal. Não há muitas bandas aqui na Bélgica que chegam a obter as chances que nós obtivemos e nós chegamos ao ponto de nos tornarmos uma das maiores bandas Belgas de Metal da nova geração. Nós temos muitos fãs que sempre comparecem às nossas apresentações na Bélgica e as coisas também estão funcionando muito bem para nós fora do país!

NO T DO SPEE MUN

HELL DIVINE - A história do Evil Invaders remonta ao ano de 2007, e de lá pra cá, apenas você permanece na banda. Até chegar ao lançamento do EP “Evil Invaders”, em 2013, o grupo passou por várias mudanças. Até este momento em particular, quais foram os principais acontecimentos que envolveram esta trajetória? Joe: Bom, na verdade foi apenas a partir do lançamento do EP que nós começamos a levar a banda a sério. Nós começamos a tocar fora do país com muito mais frequência e participamos de uma caralhada de festivais desde 2013 por toda a Europa. Se eu tivesse que escolher os eventos mais importantes para a banda, eu definitivamente mencionaria o Keep It True Festival em 2013, as duas apresentações que fizemos no Graspop Metal Meeting (2014/2015), nossa turnê com o Destruction e o Lost Society, nossos dois shows no True Thrash Festival no Japão e as insanas e abarrotadas festas de lançamento de nosso full length! Obviamente, obter um contrato de gravação decente com a Napalm Records foi um grande negócio para a banda e nossa turnê europeia anterior com o Skull Fist foi também uma experiência maravilhosa! O fato de termos enfrentado muitas mudanças de formação no passado também teve uma grande influência sobre mim... Ao lado de todos os grandes momentos que tivemos, também houve muitas frustrações se acumulando em minha vida nos últimos dois anos e isso tornou a música mais violenta, suponho. 2


TOPO L A T E M ED NDIAL

HELL DIVINE - O EP já nos deu uma boa ideia da sonoridade do Evil Invaders, mas parece que “Pulses of Pleasure” atingiu um nível ainda maior de insanidade! A própria faixa-título prova isso, composta de doses cavalares de velocidade e níveis estratosféricos de energia e empolgação. A intenção era essa, pegar todos em cheio? Joe: Não havia intenção alguma para tal. Este álbum é uma mistura musical de coisas que aconteceram ao nosso redor nos últimos poucos anos. Eu realmente usei as letras para lidar com o ódio que havia dentro de mim. É uma expressão de agressão. Nós apenas queremos trazer de volta a energia das bandas antigas! Picture, Exodus, Overkill, Mercyful Fate, Exciter, Savatage, Motörhead, Judas Priest, Iron Maiden... Todas estas misturadas e cuspidas na sua cara! LOUD AS FUCK! É assim que uma banda deve ser se você quer saber! (risos) Nós adoramos enlouquecer e dar 100% de nós quando tocamos ao vivo, e nós sugerimos que os fãs façam a mesma coisa. No fim das contas, o que há de errado em um pouco de diversão amigável e VIOLENTA? HELL DIVINE - Os clipes lançados até agora (para “Pulses of Pleasure” e “Fast, Loud ‘n’ Rude”) também não deixam a desejar, mostrando como é um show da banda. De onde sai todo este pique animalesco? Joe: É apenas a música que bombeia nossa adrenalina, eu acho. Nós realmente vivemos para essa merda e é tudo o que queremos fazer. Nós nos sentimos muito bem em deixar tudo do lado de fora e explodir as bolas de todo mundo! (risos) HELL DIVINE - Falando em vídeos, achei fantástica a ideia de lançar um VHS, algo bem original para os dias de hoje… “Live At Biebob 2014” ficará restrito apenas a este formato? Joe: Exato! Nós jamais tivemos a intenção de lança-lo em DVD. É apenas para os fãs verdadeiros, die hard e old school de Metal. E está limitado a apenas 200 cópias.

HELL DIVINE - Seria até clichê falar isso, mas a sonoridade de “Pulses of Pleasure” é cortante como uma navalha… A influência dos canadenses do Razor, tanto no nome da banda, quanto na sonoridade, me parece uma escolha bem acertada. Além da cena canadense, quais seriam suas outras influências? Joe: Na verdade o Razor nem sequer é uma de nossas principais influências. É uma banda legal que todos gostamos, porém eu vejo nossas influências calcadas com mais força em bandas como Black Sabbath, Iron Maiden, Savatage, Exodus, Flotsam and Jetsam, Mercyful Fate, Motörhead, Judas Priest, etc. Na verdade, todas as grandes bandas dos anos 80 ou anteriores a esta década, variando entre Hard Rock, Heavy Metal e o puro Thrash! HELL DIVINE - O trabalho de gravação e mixagem ficou à cargo da própria banda, e o resultado ficou muito acima do esperado! Comandar os botões foi uma tarefa fácil? Lidar com a própria música pode parecer fácil, mas a pressão interna pode deixar o ambiente estressante… Repetirão a dose? Joe: Nosso engenheiro ao vivo (Koen Keijers) nos ajudou com todo o processo de gravação. Nós sabíamos exatamente o que queríamos e ele foi a pessoa que nos ajudou a chegar ao ponto desejado! Nós levamos dois dias até ajustarmos os microfones na posição que desejávamos para 3


obter exatamente o som de guitarra que estávamos procurando. Eu fiz todo o processo de mixagem pessoalmente junto de Koen e tive a sorte de os outros caras da banda confiarem na gente para isto. E nós estamos todos muito satisfeitos com o resultado! Eu prefiro manter tudo em minhas mãos e não nas de algum produtor extravagante. Eu não diria que eu nunca consideraria trabalhar com um produtor no futuro, mas eu jamais deixaria ele mudar o som ou a vibe desta banda. HELL DIVINE - Um detalhe interessante é que as guitarras acústicas de “Eclipse Of The Mind” foram gravadas em uma igreja. De quem foi esta ideia? Ficou excelente! O final da música também merece destaque, com aquelas batidas de bateria num clima decrescente... Joe: Obrigado! Foi Koen que apareceu com a ideia. Ele vive em uma cidade pequena e ele disse que a igreja local tinha uma boa acústica. Eu queria fazer aquilo soar o mais sinistro possível, ainda que soando natural, portanto eu concordei imediatamente! “Eclipse of the Mind” é provavelmente a canção mais estranha do álbum, mas definitivamente uma de minhas favoritas! Obrigado por menciona-la! HELL DIVINE - A arte gráfica é de autoria do jovem Mario López, que tem trabalhado com outras bandas igualmente novas, como o Agitator, Evil Offering e Game Over e que agora volta a assinar uma capa do Evil Invaders. No EP já pudemos ter uma prova de sua capacidade, mas agora ele se superou… Arrisco dizer que o desenho de “Pulses of Pleasure” está no nível de artistas como Ed Repka e Andreas Marschall, concorda? Joe: Eu sou um grande fã do trabalho dele! Do contrário, jamais teríamos decidido trabalhar com ele! Esse cara é sensacional. Ele realmente fez com que o conceito que havíamos descrito a ele ganhasse vida! A verdade é que nós passamos muito tempo trabalhando na arte do disco, pois é sempre legal olhar para a capa enquanto você está ouvindo ele. Há muita coisa acontecendo na capa do novo álbum, e se você quiser entender mais sobre o que lá consta você deve conferir as letras e as músicas do disco. Há muitas referências bem sutis na arte do álbum sobre o que está sendo falado nas letras. É uma espécie de quebracabeças e nós adoramos a ideia de ter uma capa que possui diversas histórias em andamento, então é legal ouvir o disco com o encarte nas mãos e seguir as músicas e letras enquanto mantém os olhos na arte. Eu penso que desta forma é possível sentir uma vibe extra de um disco. Nós não curtimos muito a ideia de downloads digitais, então nós estamos muito felizes por termos feito algo extra com a parte visual. HELL DIVINE - Nos últimos cerca de 10 anos, talvez um pouco mais, o mundo se viu diante de dois movimentos que até então estavam 4

meio relegados ao mais profundo subterrâneo: o Thrash Metal à la anos 80 e o Heavy Metal tradicional/Speed Metal, agora ressurgindo sob o movimento New Wave of Traditional Heavy Metal. Desta safra, em geral, surgiram Municipal Waste, Gama Bomb, Enforcer, Skull Fist, Ranger, etc. Até que ponto vocês se encaixam nestes movimentos? Joe: Eu diria que nós na verdade não nos encaixamos em apenas um destes movimentos. Há muito de Thrash Metal em nossa música, mas nós também temos muitas partes melódicas! Nós tentamos manter nossa música o mais interessante possível, e é por isso que temos muitas variações acontecendo. Eu acho que talvez nem façamos parte desses movimentos. Se você ouvir nossa música, tanto no disco, mas especialmente ao vivo, e você entender do que se trata o Evil Invaders, então eu penso que você concordará com o fato de que somos diferentes. De qualquer forma nós apoiamos todas as bandas que você mencionou e nós já dividimos o palco com quase todas elas! Grandes momentos! HELL DIVINE - Desde 2013 o Evil Invaders tem feito turnês com diversas bandas, dentre elas Destruction, Skull Fist, Lost Society e Destruction. Em tão pouco tempo a banda conquistou muitos territórios. Normalmente há muita farra no tour bus. Compartilhe um pouco destas experiências com os leitores. Joe: É definitivamente uma experiência maravilhosa dividir seu tour bus e festas com lendas old school como o Destruction. Nós nos divertimos demais em nossas turnês passadas e esperamos que haja muitas mais por vir! Eu me lembro do pós-festa do primeiro dia do fim de semana que tivemos no Japão! Bebida liberada, uma cacetada de gente e quantidades absurdas de pizza. Nós tivemos uma noite fantástica, porém tínhamos que estar no local do show na manhã seguinte às 11 horas e estávamos todos sofrendo de uma jetlag terrível, pois havíamos chegado apenas um dia antes. Eu não lembro que horas fomos para a cama, mas eu certamente lembro-me de ser acordado pelo meu despertador naquela manhã. Nós batemos à porta do Senne (baterista), mas não houve resposta. Uma vez que ele é o único que realmente tinha facilidade em acordar cedo pela manhã, nós nos dirigimos à área do café da manhã para encontra-lo lá. Nenhum sinal de Senne... hummm... Eu voltei pelas escadas e comecei a bater na porta para acorda-lo. Após dois minutos eu finalmente ouvi algo saindo do quarto. Algo que soava como “UUUUAAAAArrghhgauuueaahhhh”. Nós o encontramos no chão próximo de sua cama. Ainda vestindo as roupas dele. Ainda bêbado. Ele não conseguiu chegar à cama dele (risos). Ainda estou surpreso com o fato de que ele foi bem sucedido em ter um desempenho incrivelmente preciso naquela noite... Eu também me lembro de subir no teto do barco/balsa durante a noite quando estávamos em turnê com o Destruction e


o Lost Society. Nós fomos pegos pela segurança após 15 minutos, mas foi uma experiência legal estar no meio do mar sob um céu negro e límpido e tomando algumas cervejas na plataforma de helicóptero de um barco. A regra número um na cartilha da turnê com Destruction e Lost Society era a seguinte: NÃO CAGUE NO TOUR BUS! Nós tínhamos um banheiro, mas uma vez que estava sempre faltando água para dar a descarga, nós só podíamos usa-lo para dar uma mijada. Porém, num dos últimos dias, nosso baixista Nico simplesmente não conseguia mais segurar e eu me lembro de acordar em meu beliche, e a primeira coisa que ouvi foi Nico dizer “Hey caras, eu dei uma cagada! Mas não se preocupem, eu caguei dentro de uma sacola!”. Então eu olhei para cima e o vi lá parado com este saco de merda em suas mãos como se fosse a coisa mais normal do mundo. Todos estavam olhando para ele com uma cara de “Que porra é essa”, então ele começou a procurar uma janela para atirar a sacola fora. Porém, o ônibus era tão estreito que ele tinha que passar muito perto de todos que estavam de pé, e foi aí que o caos se instaurou. Eu me lembro do Schmier dizendo algo como “Tira essa merda perto de mim! Leve pro motorista!” Nico estava indo e voltando com sua sacola de merda no ônibus em movimento, balançando aquilo pra esquerda e pra direita, quando de repente o ônibus fez uma curva e todos começaram a gritar pra que ele mantivesse aquela merda longe deles! No fim das contas o motorista conseguiu parar no acostamento e nós nos livramos daquela bosta (risos). Esta realmente foi uma cena de filme de comédia! Há poucas coisas que me vem à mente neste instante, mas há tanta coisa acontecendo nesse curto espaço de tempo dos últimos anos que é difícil de lembrar-se de tudo. HELL DIVINE - Como nem tudo é perfeito, recentemente foi anunciada a saída do guitarrista Sam Lemmens. Foi uma notícia que me causou espanto, mas a banda seguiu firme e agora o até então baixista Max assumiu as seis cordas ao seu lado, e ao vivo estão tocando com baixistas provisórios. O que pretendem fazer?

Joe: Sim, foi algo que definitivamente não esperávamos, mas como já havia assinalado antes, toda essa questão de estar em turnê e longe de casa parece ser difícil de lidar para muitas pessoas. Nós tivemos apenas três ensaios com Max na guitarra e Joeri no baixo antes de sairmos em uma turnê de seis semanas com o Skull Fist, portanto foi algo bastante duro. Porém, uma vez que Joeri fez um excelente trabalho e nos demos muito bem, nós decidimos manter ele como um membro sólido do grupo. Nós já estamos trabalhando em coisas novas e eu tenho ótimas expectativas com relação a esta formação. Eu passei de membro mais novo para mais velho nesta banda e isso me faz sentir muito bem, pois tenho apenas 24 anos de idade. Há uma brisa fresca entrando pela porta e eu penso que isso será muito bom e inspirador para o futuro! HELL DIVINE - Não sei o que você conhece da cena brasileira, mas eu gostaria de lhe indicar pelo menos duas bandas de destaque: JackDevil e Fist Banger. Ambas estão inseridas no mesmo contexto do Evil Invaders: seus integrantes são jovens, estão em ascensão e possuem a mesma paixão pelo estilo. Uma turnê com eles no Brasil seria uma boa pedida. Já houve contatos a respeito de shows por aqui? Joe: Eu conheço algumas bandas do Brasil, como o Violator e o Nervosa, mas eu jamais ouvi falar destas duas bandas que você mencionou. Vou ouvir elas, certamente! Para o momento não temos nenhum plano para o Brasil! Porém, nós ouvimos histórias insanas sobre o país e esperamos ter a oportunidade de pintar por aí no futuro e enlouquecer com vocês, caras! Hell Divine - Joe, antes de me despedir, gostaria de dizer que suas linhas vocais são insanas! Deixe o tradicional recado aos leitores e espero vê-los em breve! Joe: Um salve a todos os maníacos brasileiros! Confiram nosso som e deixem uma mensagem em nossa página do Facebook se gostarem! Eu espero que possamos bater cabeça juntos aí no Brasil um dia! ‘Keep on rockin’’, desgraçados!

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E N T R E V I S T A

DE BEM A D I V A M CO

Em todos estes anos de carreira, sempre fiz questão de tirar o lado do fã de Heavy Metal quando ia entrevistar algum artista. Neste caso, em especifico, foi muito complicado e me dei de presente esta matéria. Desde que me conheço por gente, o Hellloween sempre esteve presente na minha vida. Portanto, ter a chance de entrevistar o vocalista Michael Kiske, o cara que sempre idolatrei e em que me espelhei como pessoa foi algo muito importante. Perguntei algumas coisas que somente um fã perguntaria e supri todas as minhas curiosidades. Em certo momento da entrevista, o vocalista cantou trecho bem pequeno de “Eagle Fly Free” do Helloween, o que fez com que eu ganhasse o ano e zerasse a vida. Agora eu posso falar para os amigos, futuros filhos e esposa que eu consegui. Na entrevista a seguir, Kiske fala tudo que está acontecendo em sua carreira, algumas passagens do seu passado e comenta sobre o Helloween. Confira!

Por Thiago Rahal Mauro

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que a Amanda entrou. Eu gosto muito dela como pessoa e cantora, ela é uma mulher magnifica. Fizemos o convite e ela aceitou logo de cara, o que me deixou muito feliz. Foi algo que nunca tinha realizado antes e acho que fizemos um grande trabalho até então.

HELL DIVINE: Antes de começar esta entrevista, gostaria de agradecer pelo seu tempo e dedicação ao Heavy Metal em todos estes anos e também por esta nova fase. Eu o escuto e a todos os seus projetos, principalmente o Helloween, desde criança, há mais de 20 anos. Esta conversa, consequentemente, acaba sendo um ciclo que se fecha para mim. Muito obrigado por tudo que você fez em sua carreira. Michael Kiske: Obrigado, obrigado mesmo. Fico feliz com isso, muito gentil de sua parte e espero corresponder às suas expectativas. HELL DIVINE: Vamos falar sobre um de seus últimos lançamentos, “City of Heroes”, do Kiske/Somerville. Você se lembra como e quando começou o projeto Kiske/Somerville? Michael Kiske: Sim, claro, me lembro muito bem! Muito antes de eu ter o Unisonic ou até mesmo o Place Vendome, comecei a participar de alguns projetos, como o Avantasia, o que deixou as pessoas mais confortáveis comigo e minha personalidade. Gostei da ideia de cantar com algumas vocalistas e isso ficou em minha cabeça. Sou bastante amigo do presidente da Frontiers Records, Serafino Perugino, que me fez uma oferta por e-mail anos atrás perguntando se eu gostaria de fazer um álbum em dueto com uma mulher. Pensei muito e achei a ideia genial, pois era algo que nunca tinha feito antes. No começo do projeto, era para ser outra vocalista, não lembro exatamente o nome dela, enfim, a banda que ela estava na época ficou com ciúmes e ela acabou ficando de fora do projeto. Foi aí

HELL DIVINE: Como você vê o processo de composição deste projeto? Michael Kiske: É basicamente como acontece em todos estes projetos da atualidade. Não é como no Unisonic, por exemplo, onde vamos coletando ideias e depois juntamos as melhores opções para uma música. Lá nós trabalhamos como uma banda mesmo, com todo mundo compondo e ajudando para a melhor composição possível para a banda. Neste projeto, em especial, eu não escrevi nada. Quem fez a maioria das músicas destes dois álbuns foi o baixista e produtor Mat Sinner (Primal Fear, Sinner) e também o guitarrista Magnus Karlsson. Apenas fiz minha produção vocal e ajudei Amanda em algumas coisas. Não costumo escrever muitas composições, mas quando faço procuro guardar para o Unisonic. Então, basicamente sigo o que os produtores pedem e apenas crio minhas linhas melódicas. HELL DIVINE: Minha próxima pergunta é nessa linha do que você disse. Como é trabalhar com Matt Sinner e Magnus Karlsson? Michael Kiske: Gosto de trabalhar com ambos, são meus amigos, excelentes compositores e músicos. Conheço Matt Sinner há muito tempo; na verdade, em 1987 participei de um festival com o Helloween e a banda de Matt, no caso o Sinner, também tocou no mesmo dia. Acho que ele não se lembra desse fato, mas o conheço desde então. Sempre soube de sua habilidade como compositor e produtor. Já com o Magnus é mais recente e basicamente nos conhecemos neste projeto, mas nos tornamos bons amigos. HELL DIVINE: Como você vê esse tipo de trabalho da Frontiers Records onde eles escolhem os artistas e o gênero do projeto, por exemplo? Michael Kiske: Para mim, funciona legal. No caso do Place Vendome o Serafino me perguntou se 7


eu gostava de AOR, Melodic Rock, coisas como Journey, Foreigner, etc, então, com nunca tinha feito nada desse porte resolvi aceitar o desafio e achei legal a proposta. Ele gosta muito desse gênero musical e funciona bastante para ele e a gravadora. No lado artístico não vejo muito problema, até porque sempre gostei de novas alternativas. HELL DIVINE: Mudemos o foco um pouco para o Unisonic. Como você vê o sucesso atual da banda. Está onde você esperava chegar? Michael Kiske: Realmente, a banda está em um nível muito alto. Os fãs são maravilhosos e estamos crescendo como grupo. Estamos compondo bastante coisa para o novo álbum e acredito que no primeiro semestre de 2016 devemos soltar este trabalho. Fizemos boas composições até agora e queremos mais do que conquistamos. Não temos limite para compor e acho isso muito saudável. Todos os músicos do Unisonic são grandes artistas e muito talentosos.

HELL DIVINE: O que você gosta mais no Unisonic? Michael Kiske: Que pergunta difícil! Gosto bastante das variações que as músicas da banda possuem. Quando eu era adolescente, antes mesmo de entrar para o Hellloween, sempre gostei bastante de bandas clássicas do Metal como Judas Priest, Iron Maiden, Queensryche, Metallica, entre outras, e todas elas formaram minha cabeça por muito tempo. Ao mesmo tempo, quando criança, sempre gostei de Elvis, depois Kate Bush, U2, música clássica, ou seja, sempre fui aquele cara mais cabeça aberta, sem preconceitos. E é isso que gosto bastante no Unisonic. Tem aquelas músicas mais rápidas, ou Power Metal, ou lentas, é bem variado o que torna bem interessante.

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HELL DIVINE: Como está seu relacionamento com Kai Hansen hoje em dia? Michael Kiske: Sempre fomos amigos e muito próximos, mesmo quando ele saiu do Helloween, apesar de eu não ter gostado, pois sou amigo dele. Conversávamos sempre que possível. Depois, quando eu saí do Helloween, sempre que nos encontrávamos era algo amistoso, divertido. Nunca nos odiamos, como muitas pessoas diziam por aí, pelo contrário! Voltamos a conversar mais quando fizemos uma turnê com o Avantasia onde eu cantava uma música e ele tocava guitarra junto. Foi bem divertido. Agora no Unisonic nossa relação está cada vez melhor e me sinto muito bem ao seu lado. HELL DIVINE: Você se considera um artista ou apenas um cantor? Como você classificaria sua voz? Michael Kiske: Baseado no que você disse, me considero um artista mais completo. Se fosse classificar minha voz, diria que sou um tenor clássico, mas apenas na parte técnica, pois não faço igual aos cantores de ópera, por exemplo. Sei cantar como eles, estudei e consigo fazer, mas o meu gênero musical não necessita de toda a técnica, então acabo não usando. Admiro muito cantores de ópera e, se tivesse uma oportunidade, acho faria algo nesse sentido, principalmente para satisfação pessoal minha. HELL DIVINE: E você prefere aquele tipo de cantor que interpreta mais ao vivo ou aquele que somente canta no palco? Michael Kiske: Depende da personalidade de cada músico. Há aqueles vocalistas que brincam com a plateia e são bem extrovertidos, gosto bastante, mas há aqueles que somente cantam e fazem seu papel. Acho válidas as duas maneiras de ser no palco, apenas penso que cada um deve impor sua própria característica e ir em frente sempre. HELL DIVINE: Voltemos um pouco no tempo. O disco que mais gosto de sua carreira solo se chama “Instant Clarity” (1996). Você lembra dessa época? Michael Kiske: Sim, claro! Gosto bastante desse álbum também. Lembro que gravamos o trabalho em uma fazenda, onde havia algumas vacas e outros bichos que não me recordo. Um pouco


antes, estava na Inglaterra com Adrian Smith (Iron Maiden) e escrevemos algumas músicas juntos que acabaram saindo no álbum. Depois, me juntei com Kai Hansen novamente. Foi bem legal, uma época bastante prolifera e criativa. HELL DIVINE: Você tem planos de um novo álbum solo? Michael Kiske: Sem dúvida alguma, mas não no momento. Estou focado no Unisonic e nos projetos e não vejo algum tempo para isso agora, mas é claro que se tiver alguma oportunidade irei fazer e com certeza será diferente de tudo que fiz em minha carreira. HELL DIVINE: Nos anos noventa, você se afastou do Heavy Metal por diversos motivos, mas por causa do Avantasia, principalmente, viu que não era exatamente o que achava e acabou voltando, aos poucos, ao palco e no Heavy Metal. Conte como foi essa transição? Michael Kiske: É verdade! Na época, fiquei bastante desapontado com tudo que envolvia o Heavy Metal. Como artista, sempre buscava algo diferente e as pessoas acabavam esperando que eu fizesse sempre a mesma coisa; acabei me cansando disso. Eu nunca gostei de algumas temáticas satânicas ou de bandas que falavam sobre diabo, por exemplo. Porém, quando comecei a fazer turnês com o Avantasia, Place Vendome, etc, percebi que não eram todas as pessoas que tinham esse pensamento e vi como muita coisa tinha melhorado. Hoje em dia, consigo conviver muito bem com essa dualidade. Estou muito contente com o que tenho conquistado e o modo como as coisas estão se saindo principalmente com o Heavy Metal.

produtor, o que ajudou bastante nesta mudança de sonoridade. De certa maneira, não estávamos agindo mais com uma banda realmente, apenas fazíamos as músicas e os shows. HELL DIVINE: Você tem algum tipo de contato com os músicos do Helloween? Michael Kiske: Por muitos anos, não tive contato nenhum. Com as turnês recentes que fiz com o Avantasia, ocorreram alguns fatos curiosos. Certa vez, o Avantasia se apresentou no festival “Sweden Rock Festival” e o camarim do Helloween era bem na frente do nosso. Que coincidência! Fiquei bem relaxado, diga-se de passagem, e tive uma conversa bem amistosa com Michael Weikath. Ele foi muito legal comigo e bastante positivo em conversar. Foi uma experiência interessante. No momento, digamos que estamos em paz. Tudo aconteceu há mais de 20 anos; não gosto e nem quero remoer o passado. Essa conversa foi bem interessante e gostei muito. HELL DIVINE: Por fim, você se vê cantando em algum show ou gravando novamente com o Helloween? Michael Kiske: No momento não. Estou focado no Unisonic e em todos os meus projetos, mas nunca sabemos o que o futuro nos reserva. Alguns anos atrás, diria que não, como sempre disse, porém estamos mais velhos, queremos mais tranquilidade e trabalho, sem brigas ou ressentimentos. Hoje em dia, não sou totalmente contra esta reunião, só que não seria interessante para o momento. Quem sabe lá na frente algo mude e aconteça. Somente o futuro dirá o que acontecerá comigo e na minha carreira.

HELL DIVINE: Você chegou a ficar desapontado com a péssima repercussão dos álbuns “Chameleon” e “Pink Bubbles Go Ape”? Michael Kiske: Os álbuns foram ‘okay’ para mim, apenas não estávamos trabalhando mais como uma banda de fato. Depois da saída de Kai Hansen, todo o espirito do verdadeiro Helloween havia se perdido. Tentamos e fizemos o melhor que podíamos na época, mas mudamos bastante o som e não foi algo legal, o que desapontou muitos fãs e a mídia. Também mudamos de 9


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Trazer a música clássica para qualquer estilo que seja é algo bem desafiador, algo que uma das clássicas e principais bandas do Black Metal norueguês tirou de letra, fazendo um álbum ao vivo, de respeito. Nesse pequeno bate papo, Frost nos conta como foi gravar o maravilhoso “Live At The Opera” e os planos futuros da banda. Confiram! Por Luiz Ribeiro

O A Ç A T P A D A , O A S EXPAN O A Ç A M R O F S N A R T E


HELL DIVINE: A partir de quando a banda teve a ideia de se apresentar com a Norwegian National Opera Chorus? Frost: Essa idéia surgiu em 2012, logo após a banda ter sido convidada para tocar apenas uma música em um evento fechado. Tocamos “To The Mountains” e foi espetacular! Desde esse dia sabíamos que seria muito importante para nossa carreira fazer ao menos um show completo acompanhados deles. HELL DIVINE: Em relação a Norwegian National Opera Chorus, eles toparam na hora participar desse projeto com vocês? Frost: Eles ficaram entusiasmados com a ideia logo de cara! Disseram que para eles também foi muito importante aquela participação em 2012 e que seria extremamente positivo para todos uma apresentação num show completo. HELL DIVINE: Para a banda foi algo muito desafiador fazer um álbum ao vivo dessa magnitude? Como chegaram na escolha desse setlist? Frost: Escolhemos as músicas quais sentimos que poderiam realmente beneficiar os arranjos do coral. Já em relação à banda, foi sim, muito desafiador, pois sabíamos que não poderíamos errar em nada.

mas e a qualidade sonora, te agrada? Frost: Na verdade nos preocupamos apenas em fazer o melhor no nosso trabalho, não em outras bandas. Até porque fazendo esse tipo de avaliação voltaríamos um pouco no tempo e também nos grandes desentendimentos que todos já conhecem dentro do Black Metal. Porém é muito bom ver o estilo crescendo. HELL DIVINE: A Napalm Records, nos dois últimos anos tem formado um cast de respeito, trazendo grandes bandas do metal. A ida dessas bandas influenciou na escolha de vocês para fazerem parte desse time? Frost: Não necessariamente! Acabamos entrando para Napalm Records simplesmente porque eles nos ofereceram o melhor negócio no momento. Notamos que a empresa começou a mostrar um grande crescimento ultimamente, indicando que fizemos o negócio certo.

HELL DIVINE: Alguns meses atrás o baterista da banda deu indícios de que vocês estariam preparando um álbum de covers a ser lançado no fim desse ano. Como está o andamento desse álbum e já poderia citar quais músicas estarão presentes? Frost: Esse projeto é algo que ainda estamos trabalhando, mas vamos deixá-lo um pouco de lado agora, justamente para dar mais importância ao “Live At The Opera” e talvez conseguir levar essa apresentação para outras partes do mundo, mas o que posso adiantar é que provavelmente haverá um álbum de covers e um novo álbum de estúdio a ser lançado pelo Satyricon em 2016. HELL DIVINE: Como você vê a cena do Black Metal hoje em dia? A gente tem uma grande quantidade de bandas desenvolvendo esse estilo,

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HELL DIVINE: Outro fato curioso foi a demora para ser lançado “Live At The Opera”. Todos esperavam seu lançamento no início de 2014, já que a apresentação foi gravada há dois anos. Por que ocorreu esse atraso? Frost: Ficamos na estrada por um longo tempo e isso acabou atrapalhando um pouco. Além disso, tivemos a troca de gravadora e vários outros problemas que logo foram sanados. A partir daí, resolvemos lançar em 2015 mesmo até porque era um ano que ficaria em branco, sem nada novo da banda, acho que foi a melhor maneira de mostrar aos fãs que a banda estava viva.

HELL DIVINE: Phoenix merece grande destaque não só por ser a música de divulgação de “Live At The Opera”, mas também pela participação de Sivert Hoyem. Você concorda que ele elevou a música a outro patamar? Frost: A música funciona muito, muito bem e eu concordo que ele definitivamente se destaca, não necessariamente em outro nível, mas diferente, de fato. Na verdade Phoenix, nos ensaios da gravação do álbum Satyricon, já nos mostrava uma grande composição e quando adicionamos os vocais de Sivert, tudo se encaixou perfeitamente.

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HELL DIVINE: Quando bandas de Black Metal fazem algo um pouco diferente do que o estilo recomenda, elas acabam recebendo muitas críticas negativas. Como está sendo a repercussão de “Live At The Opera” para o Satyricon? Frost: Acho que o público do Metal já mudou um pouco; não está tão cheio de radicalismo. Até agora só recebemos críticas positivas e isso só leva a banda a crescer. Nossos fãs sempre compartilham do nosso entusiasmo em cada álbum e com Live At The Opera não é diferente. HELL DIVINE: Vocês já têm planos para um novo álbum de estúdio? E o Brasil está na rota da banda para uma futura apresentação? Frost: Estamos, atualmente, trabalhando em material para um novo álbum de estúdio sim. Temos, definitivamente, esperança de voltar para o Brasil. Seria incrível tocar na América do Sul. Esperamos que isso aconteça em breve!


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L IA C N E R E IF D U E S O BUSCAND A ousadia em trabalhos musicais, seja qual estilo for, é uma faca de dois gumes. No caso do Metal, se não consegue captar ingredientes como brutalidade, coesão e energia, tem grandes possibilidades de soar a algo chato e enfadonho. Só que para o nosso bem esse não é o caso de “In Absentia”, novo trabalho da banda paulista Pray For Mercy. Tendo elementos que abrangem, desde o Metal extremo a passagens atmosféricas e climas caóticos de teclado, o septeto formado por Otávio Augusto (voz), Bruno Tortorello (voz), Hebberty Santos (guitarra), Isadora Sartor (guitarra), André Soares (baixo), Lucas Gomes (baixo) e Gustavo Oliveira) tem em mãos um trabalho que transpira ares de renovação, em meio a tanta repetição, que faz do disco uma obra de arte. Como aquele filme que você assiste diversas vezes para reparar os mínimos detalhes que, muitas vezes, podem passar despercebidos. Em entrevista feita com o guitarrista Hebberty Santos, o músico nos contou sobre a concepção de “In Absentia”, a repercussão do mesmo e muito mais! Por João Messias Jr.

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HELL DIVINE: A banda soltou em 2014 seu segundo álbum, chamado “In Absentia”. Passados mais de seis meses do lançamento, o que estão achando da repercussão? Hebberty: A repercussão do nosso novo disco está sendo uma das melhores possíveis. Apesar do novo disco nos trazer certas limitações, em termos de performance (pela questão estrutural na maioria das casas de show em que atuamos e o número de integrantes da banda), mas ainda sim, entramos em um campo de visão maior aos olhos do público. Hoje conseguimos entrar nos ouvidos de vários tipos de fãs, desde o fã de Death/Black Metal ao fã de uma HELL DIVINE: Musicalmente, vocês criaram um conceito técnico, instigante, brutal e que une momentos de brutalidade e introspecção. Como foi desenvolver a sonoridade apresentada no trabalho? Chegou um momento em que disseram: estamos ficando malucos? Hebberty: Desde o lançamento do nosso primeiro disco, Olhos Sem Vida (2012), já estávamos ansiosos por entrar em estúdio novamente e compor um novo disco. Isso tomou um outro rumo, muito além do que nós esperávamos, com a entrada do tecladista, Gustavo Oliveira. Costumamos dizer que ele foi “a cereja do bolo” que buscávamos pra esse novo trabalho e com a grande musicalidade que o mesmo nos trouxe, conseguimos atingir um patamar de sonoridade muito além das nossas expectativas, nesse conceito técnico, instigante e introspectivo, como você mesmo disse. Com certeza esse novo trabalho representa 98% do que nós almejamos musicalmente daqui pra frente, nossa real identidade, mesclando o que nós realmente queremos mostrar com a Pray For Mercy, buscando nosso diferencial dentro de um cenário onde renovação, profissionalismo e destaque fazem a total diferença. HELL DIVINE: Outro aspecto presente no trabalho é um clima apocalíptico/teatral, presentes em faixas como “Anexo I – Cárcere” e “Anexo VI - Cegueira do Verdadeiro Mal”. Queria que nos contasse como surgiram as inspirações para essas passagens? Hebberty: Nos preocupamos em manter uma temática muito mais artística/profissional nesse 14

disco, incluindo alguns trabalhos que ainda estão sendo desenvolvidos e serão lançados pra melhor compreensão de todas as faixas, como o uso dos uniformes/símbolos, falamos de um álbum totalmente conceitual. As inspirações pra esse conceito vieram desde o que nós escutamos, por exemplo, Behemoth, Dimmu Borgir, Whitechapel, até a ideologia e pensamentos de cada membro. Com isso formamos uma historia/conceito que será compreendido por completo em breve. HELL DIVINE: Ainda falando de “Anexo VI”, a faixa conta com a participação de Caio Mac Beserra (Project 46). Como surgiu o convite e o que acharam do resultado? Hebberty: Surgiu no processo das gravações. Tínhamos algumas ideias e elas bateram exatamente com o trabalho que o Caio apresenta no Project46. Além da participação do Felipe Eregion (Unearthly) em “Anexo IV - Exilio Manchado de Sangue”, a participação do Caio acrescentou MUITO e o resultado foi sensacional. Caio é um monstro dos HELL DIVINE: O álbum é dono de um layout caprichado e um tipo de arte que não é muito usado aqui. Como chegaram nesse trabalho de design? Hebberty: A ideia foi contrariar o que a maioria das bandas vem apresentando em seus trabalhos. Optamos por uma arte com padrão de cores claras e sem muita montagem, algo mais natural e suave que, por sinal, casou muito bem com a história que existe por trás das letras do nosso disco e pra que isso chegasse no que esperávamos, a arte foi feita pelo Hugo Silva (Abacrombie Ink). O cara tem um estilo único e sabe muito bem o que faz. HELL DIVINE: Além da venda do material físico, “In Absentia” está presente em plataformas digitais como iTunes, Deezer e Spotify. O que estão achando das vendas nesses formatos e qual tem tido mais saída? Com um belo álbum no bolso, quais os planos para uma tour no Brasil e exterior? Em especial para este último? Hebberty: Todas as plataformas tiveram um resultado interessante e instigante, pois temos uma visibilidade pequena e restrita ao Brasil, até por trabalharmos com letras em português, e por incrível que pareça, tivemos um indicie de venda


fora do Brasil consideravelmente bom, levando em consideração este fato. Em 2015 estamos visando um trabalho forte no Brasil, uma tour é possível, mas nada concreto até o momento. E estamos sim viabilizando uma tour pela Europa ou America do Sul ao menos. Ainda não podemos afirmar qualquer detalhe, mas é algo que com certeza será possível até o primeiro bimestre de 2016. Aguardem-nos!

lembrado nessa cena mais pesada. O Baroness e Neurosis são bandas que não acompanhamos tanto, mas sabemos que eles investem em misturas e diferenciais interessantes, com certeza renovando o cenário que nós temos. E não só a Project46, mas todas essas bandas fazem um trabalho de profissionalismo inigualável e devem ser cada vez mais valorizadas.

HELL DIVINE: Citarei algumas bandas que, assim como vocês, fugiram do óbvio e mostraram uma sonoridade renovada e queria a opinião de vocês sobre elas: Project 46, Baroness, Dynahead e Neurosis. Hebberty: Somos suspeitos em falar qualquer coisa da Project46. Os caras são quase nossos padrinhos, somos fãs não só da musica, mas também do profissionalismo que eles vêm mostrando; os caras fazem show de tirar o chapéu. O Dynahead eu (Hebberty) gosto bastante também, é uma banda que soa muito interessante pelo fato de ser pesada, mas não deixar a essência do Heavy/Metal Melódico, que hoje está sendo pouco

HELL DIVINE: Muito obrigado pela entrevista! Deixem uma mensagem aos leitores da Hell Divine! Hebberty: Gostaríamos de agradecer primeiramente a vocês, da Hell Divine, pelo espaço e ótimo trabalho que sempre apresentaram. E para os fãs e leitores: MUITO OBRIGADO pela força, apoio e reconhecimento! Com certeza esses são os principais pontos que nos fazem continuar e trabalhar duro pra apresentar o nosso melhor. Podem esperar por novidades; 2015 só está começando e ainda tem muito por vir. Um grande abraço!


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O M E R T X E E T N EXTREMAME Que o Brasil é famoso sim no underground, meus caros amigos, em especial pela qualidade de suas músicas extremas, todo mundo já sabe, mas mesmo assim e cada vez mais, o estilo, em nossa terra natal, é capaz de nos surpreender. E uma das maiores provas disso é o BLOODY VIOLENCE que, sem dúvida, é uma das formações mais técnicas que o Death Metal nacional já produziu. Para falar sobre a banda, que acaba de lançar seu debut “Divine Vermifuge”, falamos com o guitarrista e líder da banda, Igor Dornelles. Confiram: Por Junior Frascá HELL DIVINE: O Death Metal já é um dos estilos mais inacessíveis da música pesada, por sua brutalidade e agressividade latentes. E o Technical Death Metal é uma vertente ainda mais inacessível dentro dele, indicado para poucos. Porque resolveram seguir por esse caminho sonoro e como tem sido para vocês tocar esse estilo no Brasil, onde as dificuldades aumentam ainda mais? Igor: Em primeiro lugar, muito obrigado pelo espaço concedido a Bloody Violence para esta entrevista. Ouço o estilo há muito tempo

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e tenho uma outra banda chamada The Jokke, que também toca Death Metal, porém de uma forma um pouco diferente da Bloody Violence. Quando estava inativo com a The Jokke, pensei em formar uma banda que tivesse riffs de guitarras onde eu pudesse mostrar tudo aquilo que estava praticando e sabia fazer com o meu instrumento. Os outros membros escutam há muito tempo também as mais variadas vertentes do metal extremo, logo conseguimos tocar de maneira natural a nossa música, independente do estilo qual a mesma seja classificada.


HELL DIVINE: Aliás, ouvindo o novo álbum, “Divine Vermifuge”, fiquei com uma dúvida: vocês pretendem ser a banda mais técnica do Death Metal mundial (risos)? Pergunto isso porque, cara, as faixas são todas bem intrincadas, complexas e trabalhadas, em um nível bem acima do padrão do estilo. Igor: Não temos essa pretensão (risos). Na verdade, fazemos o que fazemos e da forma que gostamos. Simples assim! A formação da Bloody Violence sempre foi competente quanto às capacidades técnicas individuais como músicos e isso facilita muito para a nossa música soe complexa. Ensaiamos muito também, mantendo assim nossa prática musical em dia. E tudo isso reflete nas nossas composições. Cada trecho de cada instrumento é natural para nós e temos em mente que trabalhamos a favor da nossa música, não do próprio ego. Nada é forçado, do tipo “vamos fazer algo complexo porque temos de soar complexos aqui” (risos). HELL DIVINE: Quando ouvi o EP “Obliterate”, já havia achado aquilo um absurdo, mas no álbum completo é perceptível uma evolução ainda maior da banda. A que fatores você credita isso? Igor: Bem, o EP tem mais a minha cara. As composições são minhas e como a banda ainda era muito nova (tínhamos apenas três meses de banda quando entramos em estúdio para gravar), os rapazes mantiveram as ideias que eu já tinha escrito ou até mesmo criado com eles. O Eduardo (baterista) ainda não tinha tocado numa banda do estilo e o Israel (baixista) nunca tinha tocado baixo em nenhuma banda. E mesmo assim fomos para um estúdio! Já no “Divine Vermifuge” a banda trabalhou como um grupo mesmo, onde todos davam opiniões muito pertinentes sobre as composições; e a habilidade técnica pessoal também já tinha evoluído bastante, assim como nosso entrosamento. HELL DIVINE: No álbum consta que todas as faixas foram compostas por você. Como funciona esse processo de criação das músicas do Bloody Violence, e quais são suas principais inspirações? Igor: Geralmente gravo o esqueleto das composições e envio para o restante da banda. Depois de muito ouvi-las e, às vezes, até mesmo criando algumas linhas para

seus próprios instrumentos, os rapazes dão sugestões de algum riff e até mesmo da quantidade de vezes que cada riff deve repetir. Isso torna o processo mais fácil para mim, já que não preciso cuidar de tudo isso sozinho e mais interessante para eles, porque acredito firmemente que todo membro da banda deve ter voz ativa nas músicas, visto que eles também fazem parte do grupo e todos temos a mesma importância para o conjunto da obra. Quanto as minhas inspirações, é difícil dizer porque procuro ouvir de tudo um pouco, sem exageros. Do Rock ao Blues. Do Jazz à música erudita. Do Metal à música brasileira. Tento fazer o mínimo de distinção possível entre uma música outra e o que me importa é simplesmente se ela soa bem ou não para meus ouvidos. HELL DIVINE: O processo de gravação de vocês também deve ser bem complexo, tanto na fase de produção como de mixagem e masterização, tendo em vista o nível técnico de cada faixa. Conte-nos um pouco a respeito das gravações do novo álbum. Igor: Somos exigentes conosco mesmos e isso torna o processo trabalhoso, pois queremos o melhor para a banda. Não aceitamos menos que o máximo de cada um e gostamos de trabalhar com quem pensa igual. Novamente gravamos no Estúdio Hurricane porque gostamos muito do trabalho do Sebastian Carsin. Depois que encontramos o timbre que julgamos ideal para cada instrumento, todo o disco segue a mesma linha, assim como o resultado sonoro para cada música no momento da mixagem. Logo, é mais trabalhoso no início do processo, quando ainda estamos experimentando as possibilidades. Porém, temos o som que queremos já na nossa cabeça desde que entramos no estúdio. HELL DIVINE: Dentre todas as faixas de “Divine Vermifuge”, qual você considera sua obra-prima, aquela que você mostraria como referência para alguém que nunca ouviu o som da banda anteriormente? Igor: Gosto muito das onze faixas que gravamos (três faixas do nosso EP “Obliterate e oito faixas do full lenght “Divine Vermifuge”) e tenho muito orgulho de cada uma delas, mas como devo falar apenas uma, destacaria “Lethal Nuclear Evil (Dyatlov Pass)”. Ela é longa, tem mais de sete minutos! Contém pesos cadenciados, guitarras agudas e insanas, baterias rápidas, 17


baixos extremamente pesados e uma forma de composição bem complexa. A estruturamos para ser difícil de ouvir e creio que deu certo. Acho que ela é um bom resumo do que a Bloody Violence se propõe a fazer com sua sonoridade. HELL DIVINE: O trabalho tem tido boa repercussão no exterior? Há previsão para uma tour fora do país? Igor: Recentemente viajamos para a Europa, participando da “Abusing Europe Tour 2015”, ao lado das bandas Vulvectomy (Itália) In Torment (Rio Grande do Sul) e o resultado dessa viagem foi excelente. Pudemos ter uma real visão de como é tocar fora do país e como é estar 100% focado na banda por um período de tempo. Fizemos contatos e amigos de vários países que estivemos (ao todo, foram dez países) e isso é algo muito positivo para a gente. Vendemos muitas camisetas, CD’s e EP’s; então pode se dizer que a aceitação está sendo bem interessante por lá! E por aqui no Brasil também não está diferente! Já conseguimos vender quase todo o material prensado e as camisetas estão se esgotando

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rapidamente também. Estamos muito felizes com todo o resultado que alcançamos. HELL DIVINE: E quais os planos da banda para o futuro próximo? Igor: Estamos com nova formação. O antigo vocalista saiu, de forma amigável, para trabalhar fora do país. Assim, queremos gravar algum material com a nova formação e já estamos trabalhando para isso! Além do mais, estamos divulgando nosso full lenght com shows em diversas regiões do nosso estado. HELL DIVINE: Obrigado pela entrevista, Igor! Por favor, deixe seu recado final para nossos leitores. Igor: Gostaria de agradecer novamente pelo espaço aqui na Hell Divine. É um enorme prazer poder participar de uma edição dessa revista! Quem quiser conhecer um pouco mais do nosso trabalho, aqui está o link da banda no Facebook https://www.facebook.com/ BloodyViolenceOfficial, assim você pode entrar em contato diretamente conosco e adquirir nosso material. Forte abraço!


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A D A R T S E A N A D A VIDA DE UMA BAN Quando observamos a rotina de uma banda, seja por sites ou redes sociais, pensamos que, devido ao fato de a mesma estar gravando ou excursionando está tudo bem. Na verdade, muitas vezes não está, pois, para estar nessa vida é necessário abrir mão de muita coisa, como estar com a família por exemplo. Nesta fase, muitas bandas acabam e só as fortes permanecem, como o Lost in Hate. Com oito anos de vida e formada hoje por Guigows (voz), Raphael Kenji (guitarra), Wellington Mota (guitarra), Fabio Alexandre (baixo) e Bruno Duarte (bateria), comemora o lançamento do novo trabalho “Contra Tudo e Contra Todos...” nos palcos, com shows pela região de Brasilia. Nesta entrevista feita com o guitarrista Raphael Kenji, o músico nos conta um pouco da história da banda, o atual momento e muito mais! Por João Messias Jr. HELL DIVINE: Com oito anos de vida, o grupo possui uma carreira bem movimentada, com shows por diversos estados, álbuns lançados e participações em documentários, histórias que destrincharemos no decorrer desta entrevista. Para começar o papo, como enxergam esse período de estrada e como classificam a trajetória do grupo? Kenji: Esse ano completamos oito anos de banda, o que já é um tempo considerável pra cena underground atual. Olhando pra nossa história a gente vê quantas bandas

que tocavam conosco, acabaram no meio do caminho e nós ainda estamos aqui; então acho que um é caminho de persistência e muita força de vontade em continuar fazendo o que a gente gosta, de coração. HELL DIVINE: Uma das bandas que levaram o straight para pessoas fora do nicho foi o Shelter. O que acham do som deles? Kenji: Shelter é uma banda fantástica que eu vim a apreciar depois de mais velho, mas eu era mais pilhado nas bandas mais pesadas 19


tipo o Maroon, Heaven Shall Burn e as nacionais como Point of No Return, Confronto, Children of Gaia e etc. HELL DIVINE: Tempo em que tocaram com grupos dos mais variados estilos. Dos thrashers do Korzus, Los Hermanos Mostomalta até os mineiros do Pato Fu. Como é tocar com grupos tão distintos musicalmente e qual o aprendizado destas experiências? Kenji: Essas experiências tão incomuns se deram em festivais e acho que tudo isso sempre é muito válido. Acho que todas as bandas e pessoas sempre tem algo a acrescentar. Às vezes, até uma postura do que não se deve fazer a gente aprende e o legal de tocar pra públicos tão distintos é que a gente alcança um público que talvez nunca fosse nos conhecer se não tivéssemos tocado com o Pato Fu, por exemplo. HELL DIVINE: E o grupo não se restringe “apenas” em fazer música. Adeptos da filosofia straight edge, vocês chegaram a participar de um documentário explicando essa cultura. Queria que nos contasse um pouco da ligação de vocês com o straight quão importante ela é. Kenji: Nunca quisemos fazer música por fazer! Sempre quisemos passar uma ideia por acreditar que a música é a arma mais forte de propagação em massa. Costumo dizer que eu tenho muita coisa pra falar e aquela hora em que a gente toca, seja gravando ou ao vivo, é a hora em que as pessoas param pra nos escutar e a ideia é basicamente essa. Nossa relação com o Straight Edge é completa, todos os integrantes são adeptos da vida livre de drogas e isso é algo completamente pessoal em busca do nosso melhor. Sempre dizemos isso no show e é algo que é bem importante: a gente não está lá pra “pregar” nada pra ninguém, acho só fala sobre o que a gente vive e acredita. HELL DIVINE: Experiência que gerou dois trabalhos “full”, “Cultura da Autodestruição” (2012) e “Contra Tudo e Contra Todos” (2015). Em comparação com o debut mais recente, trabalho aposta em músicas mais fortes, pesadas e que ao mesmo tempo apresentam

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grande intensidade, formando uma conexão entre elas. Queria a opinião do grupo sobre isso e se enxergam essas mudanças? Kenji: Acho que no primeiro trabalho a gente estava em fase de amadurecimento, tentando encontrar nossa identidade, passando por uma fase de autoafirmação e alguns conflitos dentro da banda, como mudança de integrantes. Acho que isso refletiu muito no trabalho como um todo. Já no nosso segundo albúm a gente já estava um pouco mais consciente do que queríamos contextual e musicalmente; acho que todos nós enxergamos isso de forma bem clara. HELL DIVINE: Em Frutos da Igualdade, o que chamou a atenção foram alguns dados estatísticos e a inserção de várias manifestações ocorridas no Brasil e exterior. Como foi criar um vídeo com essas características sem cair num lance panfletário? Kenji: Acho que pra qualquer tipo de banda ou grupo hoje em dia, o audiovisual conta muito, levando em consideração que a maioria das pessoas procura por músicas no YouTube. Se você não tem um clipe ou lyric video de qualidade legal pra apresentar, acaba perdendo público; sempre sem tentar cair na mesmice e se tornar algo genérico ou massante, como foi o caso de tentar passar as informações sem perder a ideia principal da música em Frutos de Desigualdade, em que colocamos essas informações no decorrer do vídeo. HELL DIVINE: Além dos vídeos, vemos que o lance da banda é tocar, tocar e tocar. Após uma tour com os costarriquenhos do Billy The Kid e farão parte do União Underground Festival, que contará com nomes como Aurora Rules. Podemos dizer que independentemente das condições de cada show, o palco é indispensável na carreira de uma banda? Kenji: A gente acredita que é nos palcos onde conquistamos mais público. Ali você tem aquele contato direto com as pessoas que estão escutando as suas músicas. Acho que estar fazendo shows é uma das coisas mais importantes pra uma banda.


HELL DIVINE: A banda é de Brasília, estado que contou com a presença da banda Scalene num reality show musical na TV aberta. O que acharam da inclusão do grupo e o que pensam da banda não ter vencido a batalha de grupos? Kenji: Particularmente, achei muito bom o fato de eles estarem ali e mostrarem que nem só de funk e sertanejo vive o Brasil e que em Brasília não tem só Capital Inicial, Legião Urbana, Raimundos e etc. Tem muita coisa boa acontecendo aqui e parece que o público fica esperando quando teremos o próximo Legião Urbana, o próximo Raimundos e isso é chato sabe? Acho que isso foi uma ótima oportunidade pra chamar atenção ao que vem acontecendo aqui. O fato de eles não terem vencido foi um detalhe em tudo que está acontecendo pra eles. Pra mim eles já cumpriram sua missão lá, tocando somente músicas autorais e chegando a final do programa como uma das bandas favoritas. HELL DIVINE: Ainda falando no Scalene, vocês criaram uma parceria para a música “Do It Yourself”. Como surgiu a ideia da canção e como foi encaixar estilos tão distintos?

Kenji: Somos todos amigos de longa data e eu sempre fui fã do Gustavo cantando. Sempre quis chamá-lo a participar em uma música nossa. Quando decidimos gravar essa single, já falamos com ele e a experiência toda foi muito boa; mesmo que eles toquem músicas “leve”. Temos muitas coisas musicais em comum, tanto de bandas pesadas quanto das mais leves e tudo saiu de forma natural. HELL DIVINE: Obrigado pela entrevista! O espaço é de vocês! Keinji: Nós que agradecemos pelo espaço e oportunidade dados. Gostaríamos de agradecer a todos que nos apoiam e ajudam de alguma forma, seja indo aos shows, comprando merch ou simplesmente mandando uma mensagem de apoio no facebook; isso com certeza nos dá forças pra seguir em frente com o que acreditamos, continuar fazendo o que tanto gostamos e procurar sempre o nosso melhor. Continuem apoiando e valorizando as bandas da cena independente nacional!


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S O D E T N E M A INVADINDO E I R E S M E S O ASSASSIN Veteranos da cena underground nacional, os gaúchos de São Leopoldo do In Torment estão na estrada há 17 anos, e chegam agora ao seu terceiro álbum, que sem dúvida é o melhor dos caras até o momento, mostrando uma grande evolução em sua sonoridade, que continua brutal e extrema como poucas. Conversamos com o líder Alex Zuchi, que nos fala sobre a atual fase da banda e sobre o novo álbum. Confiram: Por Júnior Frascá

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HELL DIVINE: Alex, o IN TORMENT já está na estrada há 17 anos. Para você, o que mudou no sentido de ter uma banda de metal extremo na época em que começaram e hoje, com a facilidade de divulgação de seu trabalho pela internet? Alex Zuchi: Na verdade, esse ano nós completamos 18 anos de trajetória. Com certeza hoje é muito mais fácil divulgar uma banda, uma vez que as mídias sociais contam com milhões de usuários permanentemente conectados em tudo que acontece (até demais para o meu gosto); o YouTube permanece como um grande canal de divulgação, dentre outros. Na contramão, sinto um pouco a falta dos velhos tempos, das trocas de cartas e demos. Viver com a expectativa da chegada da revista mensal, dos zines. Atualmente é muito fácil montar uma banda e divulgá-la. Talvez esse seja um dos motivos pelos quais estamos com uma cena saturada de bandas (e muitas genéricas). HELL DIVINE: Você acha que essa facilidade de acesso a tudo que a internet proporciona acaba prejudicando um pouco a correta percepção de obras mais apuradas e tecnicamente complexas, como o novo álbum de vocês, “SphereofMetaphysicalIncarnations”, pois as pessoas acabam “consumindo” tudo de forma bem superficial, sem a concentração necessária? Alex Zuchi: Pelo que observo, hoje muitos ouvintes focam-se em baixar dezenas de álbuns diariamente, montando um grande acervo em seus computadores pessoais. Fazendo isso, o ouvinte comum acaba deixando de analisar, de forma mais crítica e com dedicação, cada obra lançada, pois as opções são ilimitadas. Para mim, apreciar um álbum é uma experiência demorada e prazerosa, cada vez mais relegada à extinção. Colocar o CD para rolar, acompanhar e interpretar as letras, tentar entender o conceito explorado em todo o material. Para ser sincero, não acredito que muitas pessoas pararam para explorar os conceitos dos álbuns do IN TORMENT. É uma pena, pois tentei criar uma narrativa pouco usual em álbuns de metal extremo. HELL DIVINE: Na minha opinião o novo álbum do IN TORMENT é o melhor da carreira da banda. O que você pensa a respeito? Alex Zuchi: Concordo com a sua opinião. Esse novo álbum engloba tudo o que criamos nos álbuns anteriores, porém é um álbum melhor

executado e com composições bastante diversas. Em termos de produção, da mesma maneira, “Sphere” apresenta uma qualidade muito superior. Na verdade, não vemos a hora de começar a compor e tentar superar o que foi realizado nesse álbum. O desafio será interessante, contudo. HELL DIVINE: Esse lado mais técnico, mas ao mesmo tempo, mantendo a pegada “oldschool” do Death Metal, é algo que vocês buscaram ao compor o novo disco, ou foi algo natural durante o processo de composição? Alex Zuchi: Acredito que mesclar o “old school” com toques de um Death Metal mais técnico e atual é a essência na sonoridade do IN TORMENT. Desde a concepção da banda nos vemos como uma espécie de elo entre o antigo e o corrente. Na hora de compor, essa característica se manifesta naturalmente, pois é o reflexo de quem somos e dos nossos gostos individuais. Queremos manter essa forma de encarar o metal extremo intacta para os próximos álbuns e até mesmo tentar levar essas características ainda mais para os extremos. HELL DIVINE: Outro fato que me chamou muito a atenção foi o excelente trabalho de guitarras, com ótimas melodias, mesmo diante do caos sonoro característico do estilo e do clima obscuro que permeia todo o material. Como foi o trabalho de composição de vocês neste ponto? Alex Zuchi: Tentamos nos ater aos detalhes de cada composição, assim como decidimos incluir o que cada uma dessas composições parecia “pedir”. Somos uma banda essencialmente de Death Metal, mas somos abertos à inclusão de partes melódicas, mais lentas ou com uma pegada mais Thrash. Nosso objetivo final sempre é a tentativa de criação de um material que nós mesmos gostaríamos de escutar. Creio que somos os nossos maiores críticos, portanto nos cobramos muito nesse aspecto. Não somos adeptos desse radicalismo limitador que algumas bandas gostam de seguir, assim podemos incluir elementos diferentes que possam agregar qualidade a música. HELL DIVINE: Em relação à parte lírica do material, quais são as principais influências de vocês ao compô-la? Há um conceito comum entre as faixas do disco? Alex Zuchi: Na hora de compor as letras, tento me afastar o máximo possível do que as outras

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bandas escrevem, embora eu respeite suas visões, obviamente. Minha meta foi a de fundir, assim como no álbum anterior, alguns conceitos de filosofia, religião, bem como alguns conceitos científicos numa estória linear. Questões relativas aos mistérios da mente e do universo, a condição humana frente ao sofrimento e a busca pela capacidade de compreensão de eventos que estão acima do nosso conhecimento se mistura em um álbum conceitual. HELL DIVINE: Fale-nos um pouco sobre o conceito por trás da bela arte gráfica de “Sphere of Metaphysical Incarnations”. Alex Zuchi: “SPHERE” é um álbum conceitual que descreve o nascimento de um novo Deus, encarnado por uma esfera de poder. Uma esfera que cresce pelo fluxo contínuo da ascendência de energia espiritual (desvinculada da carne) tornando-se um organismo vivo que passa a ser a configuração de todos os universos. O derradeiro deus. Consequentemente, as músicas vão narrando, de forma cronológica, o desenrolar dessa narrativa. HELL DIVINE: E quais os planos da banda para o futuro próximo? Podemos esperar uma tour pelo Brasil? Como foi a tour de vocês pelo exterior?

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Alex Zuchi: Realizamos, no mês de julho, nossa segunda turnê européia intitulada “The Metaphysical Incarnated Euro Tour” juntamente com as bandas Vulvectomy da Itália e Bloody Violence do Brasil. Passamos por diversos países como Alemanha, Itália, Holanda, França, Bélgica, República Tcheca, Hungria e Sérvia. Foram 12 shows no total. Temos também, desejo de realizar o maior número de shows no Brasil, em suporte ao novo álbum. Temos algumas conversas em andamento e esperamos que se concretizem. Ainda em 2015, temos a intenção de iniciar o processo de composição do nosso 4° álbum. HELL DIVINE: Obrigado pela entrevista Alex! Por favor, deixe seu recado final para nossos leitores. Alex Zuchi: Muito obrigado pela entrevista e pela oportunidade de divulgar o IN TORMENT em suas páginas! Mantenham o excelente trabalho em prol do metal nacional. Aqueles que quiserem obter informações mais detalhadas sobre a banda não hesitem em mandar um e-mail para alexzuchi@hotmail.com. Vocês também podem conferir nossa página no Facebook (www. facebook.com/intormentbr). Stay brutal!


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QUANDO O ROCK PESADO CORRE NAS VEIAS Um verdadeiro guerreiro, que luta há anos pelo Metal no Brasil. Um dos membros mais antigos da Hell Divine, que sempre promoveu conteúdo de qualidade para os amantes da música pesada. E agora não é diferente! Maicon Leite, juntamente à Luis Augusto Aguiar e Douglas Torraca, está lançando um excelente registro histórico: o livro “Tá No Sangue! A História do Rock Pesado Gaúcho”, leitura obrigatória e item que merece estar em toda e qualquer coleção que se preze. Conversamos então com nosso amigo Maicon para saber mais detalhes desse trabalho. Confiram! Por Pedro Humangous HELL DIVINE: O livro “Tá no Sangue! - A História do Rock Pesado Gaúcho” cumpre aquilo que promete: entrega aos leitores uma verdadeira enciclopédia do som pesado do Rio Grande do Sul, focando não apenas no Metal, mas também no Punk e Progressivo. Deve ter sido gratificante chegar ao resultado final com tantas coisas para contar, não é mesmo? Maicon Leite: Olha, se fôssemos contar tudo o que aconteceu nos primórdios da cena pesada gaúcha, teríamos uma bíblia nas mãos. Obviamente tivemos que dar destaque para o que teve mais impacto seja em relação às bandas ou aos principais shows ou lugares, mas faltou espaço para tanta informação. Mesmo depois do lançamento do livro, em novembro do ano passado, mais e mais materiais começaram a surgir e que, infelizmente não chegaram antes do lançamento, já que havia muitas fotos interessantes, por exemplo. Lógico que depois de lançado há aquele pensamento de que poderíamos ter melhorado isso ou aquilo, mas creio que seja normal.

HELL DIVINE: Além do livro em si, há centenas de músicas disponibilizadas no Soundcloud do projeto. Foi uma ideia bastante original, auxiliando os leitores nesta jornada rumo ao passado. Quais dificuldades encontradas para colocar este material no ar? Maicon Leite: A dificuldade maior foi financeira. Para “upar” todas estas músicas no Soundcloud, foi necessária a criação de uma conta de acesso ilimitada, com tudo pago em dólares. Como mantenho um verdadeiro arsenal de músicas aqui, foi só começar a fazer o upload e editar os playlists, além de pegar as artes das capas e tudo mais. Com o tempo surgiram mais MP3 raros, que as próprias bandas mandavam, ou que eu mesmo ripava de antigos CDs. Há algumas bandas que não liberaram materiais (agora tente me explicar a razão disso?), mas no geral foi tranquilo conseguir as liberações. O foco inicial era divulgar material dos anos 70 e 80, mas automaticamente fui inserindo sons de todas as décadas. A tendência é ultrapassar mil 25


músicas em breve. Os acessos, felizmente, tem sido satisfatórios, com cerca de 100 plays por dia. Ao mesmo tempo em que o fã saudosista vai lá e ouve de novo sua demo ou CD favorito, abre espaço para novos garimpadores, mantendo o círculo vicioso sempre bem alimentado (risos). É muito importante manter este acervo musical disponível em um local, pois muitas bandas sequer têm suas músicas no Youtube, quando mais no Soundcloud. HELL DIVINE: Falando em círculo vicioso, qual foi a proposta inicial deste projeto? Maicon Leite: Foi, de certa forma, prestar um tributo aos desbravadores do som pesado gaúcho, aqueles que deram o pontapé inicial, numa época de tantas dificuldades e adversidades. Porém, também queremos fortalecer a cena atual e dar um chute na bunda de quem está parado, esperando as coisas caírem do céu (ou subirem do inferno). Para manter uma cena viva e atuante é preciso mais que palavras; é preciso que todos ponham a mão na massa, sem medo de sujá-las! Ficar em frente à um PC falando mil abobrinhas é fácil; quero ver organizar um festival, editar um zine, manter um site, gravar um disco e, porque não, escrever um livro? Os fiscais da cena estão por aí, apenas criando intrigas e inveja. Sempre foi assim e sempre será, mas cabe a cada um colocar a mão na consciência e ver de que forma pode contribuir. Ninguém é obrigado ir a shows ou comprar alguma coisa, mas ficar reclamando e não fazer nada é pior. Então, ao mesmo tempo que fazemos esta homenagem, queremos ajudar a construir alguma estrada para o futuro, fortalecendo o presente. HELL DIVINE: E como é vender um livro voltado ao som pesado no Brasil? Possuímos um grande público, ótimas bandas, mas publicações do gênero são raras. Levando em consideração a falta de interesse em leitura no país, como tem sido as vendas e a receptividade? Maicon Leite: O percentual de leitores no Brasil realmente é muito baixo. Tendo como base a tiragem de 1900 livros que fizemos, ainda estamos longe de vender tudo. Tenho notado que 26

o livro tem saído mais fora do RS que dentro. O Acre, por exemplo, tem se revelado um grande consumidor do “Tá no Sangue!”, o que me deixa muito feliz, mas fico um pouco decepcionado com as pessoas da própria cena gaúcha, que, às vezes, parecem estar mais preocupadas em descobrir se suas bandas estão ou estarão no livro (haverá mais duas partes), que realmente apreciar o trabalho, porém ainda bem que não é a maioria. Só tenho a agradecer a quem adquiriu o livro até agora, e àqueles que têm nos ajudado a vender e divulgar pelo Brasil! O apoio destas pessoas é fundamental! De qualquer forma, a receptividade tem sido incrível, não só pela qualidade física do livro, obviamente, mas pelo conteúdo completo e detalhado. Fica a dica para conferirem também o livro “Pesado”, de meu amigo Wilfred, que aborda a cena pernambucana. No final das contas, compra quem quer. HELL DIVINE: Foram cinco anos até chegar nesta primeira parte da trilogia. De 2009 pra cá, muita água rolou, culminando no lançamento do trabalho na Feira do Livro de Porto Alegre. Foi o ponto alto de toda esta trajetória? Maicon Leite: Dentre os pontos altos, como conhecer pessoalmente alguns ícones do Metal gaúcho, com certeza foi a coroação do trabalho que eu e o Luis Augusto Aguiar iniciamos lá em 2009. Depois, com a adição do Douglas Torraca e ajuda de outras pessoas, chegamos a este destino final. A 60º Feira do Livro de Porto Alegre nunca mais foi a mesma depois de ser invadida por um exército de camisetas pretas! Espero que na próxima não seja diferente. HELL DIVINE: E como estão os trabalhos para a segunda parte do livro, que abordará somente os fatos da década de 90? E fazendo uma comparação entre as décadas anteriores com esta a ser abordada, quais as principais diferenças? Maicon Leite: O material já está sendo escrito, mas ainda há muito que fazer. Só para ter uma ideia, a década de 90 foi, assim como em outros lugares do mundo, invadida pelo movimento Death Metal, sendo que hoje poderíamos dizer que estávamos numa escala interessante de


importância dentro deste estilo. Ora, se nos EUA a Flórida dominou, na Suécia, Gotemburgo, por que não o Rio Grande do Sul se destacar pela qualidade e vanguardismo de suas bandas? Krisiun, Nephast, Rebaelliun, Mental Horror, Abominattion, dentre tantas outras foram responsáveis por este crescimento. Apontar diferenças entre as décadas é meio complicado, afinal, são lados totalmente opostos, mas foi a partir da década de 90 que as bandas puderam ter mais qualidade e acesso a gravações e instrumentos, ao contrário da anterior, onde poucas bandas conseguiram lançar um bolachão. Nem vamos entrar no lado político, senão iríamos longe. Se a ditadura atrapalhou os planos de vários jovens até 1985, foi com o Plano Collor que o mercado dos instrumentos musicais abriu suas portas. O contraste mesmo aparecerá entre o final da década de 90 e começo de 2000, com a internet começando a dominar. São fases bem diferentes e que são devidamente dissecadas no livro. Encontramos dificuldades até hoje e sempre haverá, em maior ou menor grau. Resta a nós sabermos enfrentá-las! HELL DIVINE: Além do livro e do Soundcloud, há mais projetos envolvendo o Tá no Sangue? Maicon Leite: Sim! Há debates mensais sendo realizados na livraria Sapere Aude! em Porto Alegre, envolvendo os mais diversos assuntos acerca do som pesado gaúcho. Em nossa primeira edição o foco foi a cena Death Metal gaúcha da década de 90, e na próxima, que será realizada no dia 25/07, abordará os shows ocorridos nesta mesma época, em especial o projeto 10.0001 Noites que marcou de forma profunda a cena gaúcha. Então, para quem quiser ir bater um papo e debater sobre estes assuntos, fica o convite! Já em outubro haverá a estreia do “Tá no Sangue! - Live Sessions”, na Openstage, loja de instrumentos musicais localizada na Zona Sul de Porto Alegre. Serão dois shows e um bate papo sobre o livro/bandas gaúchas. Ambos os projetos, da livraria e do festival, são gratuitos.

HELL DIVINE: Para finalizarmos: o que falta, em termos de mídia, para ajudar a promover o Metal gaúcho? Mesmo com a força da internet, me parece que as pessoas se concentram mais em redes sociais como o Facebook do que em busca de sites voltados a divulgação. Qual sua opinião? Maicon Leite: Antigamente, há cerca de dez anos, o Rio Grande do Sul dispunha de alguns sites voltados à divulgação específica do Metal gaúcho, como o HeavyRS, MetalRS, dentre outros, além do Metal Attack, que englobava a cena mundial, mas com grande foco aqui no estado. Entretanto, com o passar do tempo e da falta de apoio, principalmente, todos os sites encerraram atividades. Ninguém ganha dinheiro com isso no Brasil e não há apoio em massa dos headbangers. Portanto, não há sentido em continuar algo que não é prestigiado como deveria. Quem quer investir seu tempo em algo que as pessoas não dão valor? Tive a honra de participar do HeavyRS e do Metal Attack, além de editar meu próprio fanzine nas décadas de 90/2000 e hoje o que vejo é um emaranhado de gente dando mais valor para besteiras que para algo realmente sério. E são estes mesmos que reclamam da cena, etc. Enfim, vivemos em uma época de incógnitas. HELL DIVINE: Maicon, obrigado pela entrevista. Geralmente você está do lado de cá, entrevistando, portanto, dê suas considerações finais. Maicon Leite: É um tanto quanto estranho estar do lado de cá, mas já estou me acostumando (risos). É um prazer estar nas páginas da nossa querida Hell Divine, divulgando nosso trabalho, esperamos que os leitores apreciem o “Tá no Sangue!” e que não apenas leiam o livro, mas, participem de nossos debates e shows. Para mais informações, acesse: www.tanosangue.net; lá tem uma lista dos locais que comercializam o livro. Um grande abraço!

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O QUE TRANSFORMA UM DISCO EM UM CLÁSSICO DO GÊNERO? Por Marcos “Big Daddy” Garcia

e ignorados pelos fãs de seu tempo. Mas alguém em sã consciência pode negar o quanto clássicos como “Overdose”, “TNT”, “Let There Be Rock” e outros foram importantes para bandas que conhecemos? O próprio Steve “Zetro” Souza fala que moldou o jeito de cantar ao de Bon Scott.

E S P E C I A L

Outra questão é o quanto o disco molda o gênero após o seu lançamento.

Em um debate com o editor-chefe da Hell Divine há algum tempo, uma reflexão tomou a mente do Pai Marcão aqui: o que torna um disco um clássico, especificamente, dentro do Metal? Depois de algum tempo de muita queimação de neurônios, aproveitei e quis partilhar algumas conclusões com todos os leitores da Hell Divine. Se não concorda, tudo bem, mas vá encher a paciência do Pedro Humangous, não a minha! Pensei em discos e bandas que, pelo senso comum, são consideradas bandas clássicas, e tive como primeiro parâmetro o tempo. Sim, o tempo, pois não existem clássicos instantâneos. Pensemos, primeiramente, no clássico “Black Sabbath”, primeiro disco dos pais da coisa toda. Antes de tudo, ele foi lançado em 1970, ou seja, 45 anos atrás. Execrado pela mídia especializada (permitamme mencionar a crítica de uma grande revista da época, onde o autor massacrou o Black Sabbath sem dó). Mas é nesse disco que passamos a conhecer como o Heavy Metal realmente surge e se consolida. Tudo bem que existiam evidências anteriores que algo iria acontecer, mas Ozzy, Tony, Geezer e Bill fizeram o primeiro disco do gênero. Ainda sobre a questão tempo: todos os discos do AC/DC anteriores ao “Highway to Hell” foram surrados e execrados pela imprensa

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Quanto a isso, podemos afirmar que “Overkill” e “Ace of Spades” do Motorhead são importantes. Sem desmerecer os outros, neles estão as sementes do que seria o Metal extremo, graças ao mix entre a força e melodia do Metal com a adrenalina e despojo do Punk Rock. E diga-se de passagem, esses discos do Motorhead formam a espinha dorsal, são quase que um be-a-bá do gênero. Venom, Bathory e tantos outros vieram beber dessa fonte. Outro, sem sombra de dúvidas, é “The Number of the Beast”, do Iron Maiden. Além de catapultar o quinteto inglês para o estrelato, esse disco serve quase como um modelo do que muitos esperam das bandas da NWOBHM. Talvez seja o disco mais importante do movimento (sem desmerecer as outras bandas, óbvio). O maior legado dele é aliar uma técnica mais refinada ao peso do Metal que ressurgira no Reino Unido no final dos anos 70. Outro: Metallica, mas com o “Master of Puppets”. Explico: mesmo que não seja seu disco favorito da banda (como também não é o deste autor) é no “Master...” que o Thrash Metal, enfim, ganha corpo e sonoridade bem definidos, onde o caos de se gravar de uma forma similar ao Hardcore (ou seja, bem seco e sem muito refinamento) ou ao Metal tradicional (como o próprio Metallica fez em “Ride the


Lightning”). Dali por diante, basicamente todas as bandas de Thrash Metal seguiram essa tendência de sonoridade. O Slayer é um caso à parte. E já que falamos deles, o Slayer também entra nesse grupo com “Reign in Blood”, que podemos aferir como a bíblia sagrada do Death Metal americano. Poucas bandas fogem daquela produção mais “gordurosa”, suja e agressiva. Até mesmo o jeito de se tocar riffs como um ataque de vespas (me perdoem, mas é a melhor analogia que alguns riffs do disco me trazem à mente)provêm dele. Terceiro parâmetro: quando o disco nos concede uma nova forma de se fazer Metal. Nisso, um exemplo clássico vem do Ministry. Em “The Land of Rape and Honey”, as experiências eletrônicas de Al Jourgensen e Paul Barker ganham uma incorporação mais pesada e “azeda”, voltada ao Rock, que vai amadurecer e criar um apocalipse sonoro chamado “Psalm 69: The Way to Succeed and the Way to Suck Eggs”, que define de uma vez só a raiz do Metal Industrial, e mais tarde, será uma das influências de gêneros como New Metal e Metalcore. Talvez mesmo gêneros como Djent tenham recebido ecos desse disco. Outro ainda: Mayhem com “De Mysteriis Dom Sathanas”. Podemos dizer que Euronymous cria uma forma de fazer riffs de guitarra diferente (baseadas no Bathory do “Under the Sign of the Black Mark” e no “I.N.R.I” do Sarcófago) e que irá se disseminar dentro do gênero de tal forma que podemos dizer que existe o pré-Black Metal (que na maioria das vezes, era apenas uma sonoridade à la Motorhead, só que mais suja) e o Black Metal após Euronymous. O estilo dele de tocar riffs e de abolir solos de guitarra se disseminaram de tal forma que o Black Metal nunca mais foi o mesmo. O ÚLTIMO: O QUANTO UM DISCO VENDE. Sim, pode parecer estranho, mas vendagens de disco acabam transformando um álbum em um clássico, pois muitas bandas se moldam a ter aquela sonoridade em busca do sucesso. Nada errado, pois muitas vezes somos presenteados com obras maravilhosas dessa forma. Imagine o que seria do AOR sem bandas como Bon Jovi com “Slippery When Wet” ou Journey com “Escape”,

ou do Hard Rock sem “Destroyer” do Kiss, “Dr. Feelgood” do Motley Crue ou “Flesh and Blood” do Poison... E ainda lembro que em termos de Metal extremo, “Metallica” vendeu tanto que quase todas as bandas de Thrash americanas buscaram aquele mesmo padrão (músicas mais melodiosas e menos agressivas, andamentos não tão velozes, algo mais limpo). Não viso me estender mais que isso, nem ficar tentando reescrever a história. No fundo, que fique claro que não existem clássicos instantâneos no Metal. Não procure por isso, mas faça como a minha geração, aquela mesma que teve o prazer de ver muitos clássicos que citei acima surgirem, fazia: curta a música sem se prender tanto a padrões.

UM CAMINHO PARA RESENHAR DISCOS Por João Messias Jr. Como você busca conhecer novas bandas? Indicação de amigos? Redes como Youtube, Soundcloud ou Spotify? Resenhas de portais, blogs e revistas? Se o amigo/leitor busca novidades pela terceira opção, se identificou comigo. Não, não julgo ser a melhor forma, mas a forma mais natural para este que digita estas linhas. Sou da geração dos anos 80/90, em que a busca por conteúdo não era tão fácil. Não havia internet e a forma de conhecimento era por meio de revistas, fanzines e jornais. Depois de mais de duas décadas escrevendo sobre o estilo que tanto amamos, me fez refletir a seguinte questão: será que os leitores sabem como resenhamos os discos? Que critérios são usados? Eles escrevem o que vem na mente? Pois bem, longe de criar um manual ou impor goela abaixo uma metodologia, resolvi fazer esse texto descrevendo a minha forma de resenhar discos, explicando os passos que sigo para que num curto espaço de caracteres eu consiga explicar fielmente o conceito do grupo/artista. 29


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NUCLEAR ASSAULT

Histórias da estrada e a cerveja de Dan Lilker Por: Virginia Pezzolo Edição: Erick Tedesco A capital da Suécia foi o lugar escolhido pelo baixista para divulgar sua biografia e a cerveja inspirada em uma de suas bandas, o Nuclear Assault. Na ensolarada terça-feira de 9 de junho, a célebre loja de discos Sound Pollution, em Estocolmo, capital da Suécia, recebeu o icônico Dan Lilker no lançamento de um livro sobre sua carreira, intitulado “Perpetual Conversion”. O nome do músico dispensa grandes apresentações, são trinta anos de estrada, passando por bandas de grande êxito como S.O.D., Nuclear Assault e Brutal Truth, citando só as mais famosas.

Foto: Robban Becirovic/Close-Up Magazine

O primeiro passo consiste em fazer a lição de casa: no caso de um trabalho em versão física, veja todos os detalhes da ficha técnica (formação do grupo, quem produziu, quem fez as letras, artista gráfico) e se for virtual, busque no “oráculo” (também chamado internet), pois fatalmente encontrará as informações que necessita. Ouça com a merecida atenção e carinho. Recomendável escutar das duas formas, com e sem fones, pois muitos trabalhos possuem vibrações diferentes, alguns soam bem “ao vivo” e outros guardados com você. Pegue um bloquinho ou rascunho e escreva o que achou de cada faixa (estilo, linha vocal adotada, o que achou dos solos...). Fazendo isso, você encerra a fase embrionária (ou criativa) e entra no módulo prático, ou seja, vai começar a resenhar de fato. Tão importante quanto as suas anotações é algo que não está presente em nenhum disco que irá resenhar. É necessário ter a mente aberta, um repertório amplo (conhecer filmes, peças de teatro, cultura e entretenimento). Daí que surgem as grandes sacadas de como associar determinada música a um conceito. Exemplo: uma banda de Hardcore, cujo estilo soa como a trilha perfeita de uma luta de MMA ou as músicas são tão progressivas e calmas que temos a impressão de estarmos numa biblioteca e por aí vai. Esse conhecimento fora da casinha é muito importante para que seu texto não saia igual e engessado. Claro que muitas coisas que pegas não serão usadas, até por uma questão de espaço, mas sempre procure colocar nos textos a formação, produtor, músicas de destaque e o estilo que o grupo segue. Dessa forma, você faz um caminho (como o lead, técnica usada por jornalistas) e assim prende o leitor com mais facilidade, fazendo com que ele leia o que escreveu, independentemente se gostará ou não. E terá aquela pergunta pertinente: “para onde vou escrever?” Não pense nisso num primeiro momento, faça essas linhas para você mesmo. Seja no caderno ou no computador, vá treinando. Se um dia sentir que é hora de voar mais alto, vá em frente, sempre tendo em mente o seguinte: não faça isso para agradar aos outros (bandas, principalmente, pois elas percebem quando o cara descreveu de fato ou está fazendo média), faça para agradar a você mesmo!

O livro, escrito por Dave Hofer, é como uma longa entrevista com o músico, seus familiares e amigos, incluindo membros de bandas, está escrito de uma maneira cronológica: desde o começo como membro fundador do Anthrax, até o fim do Brutal Truth, uma de suas bandas mais radicais. As histórias sobre o Thrash Metal nos anos 80 e a ascensão do Death Metal nos anos 90 agradam qualquer fã de música extrema. Não é apenas o talento e a influência de Dan Lilker que percebemos no livro, mas também a sua vontade incansável de descobrir novos rumos. Uma mente precursora em momentos em que estilos como o Crossover e o Grindcore procuravam espaço no hall da música pesada. Há


depoimentos e histórias interessantes de Barney Greenway (Napalm Death), Gene Hoglan (Dark Angel, Death), Fenriz (Darkthrone), entre outros, que fazem do livro uma leitura muito prazerosa. “Perpetual Conversion” tem fotos e flyers raros, letras não usadas e passes de turnês antigas. Toda memorábilia cedida pelo músico veio direto de sua residência, em Nova Iorque.

Pezzolo / Edição: Erick Tedesco

Foi um final de tarde extremamente agradável. Todos puderam comprar o livro com calma, ganhando o autógrafo do baixista como brinde. Dan Lilker é modesto e atencioso, fazendo questão de convidar a todos para o evento seguinte do seu D-Days, parte um.

O bar em Estocolmo dos irmãos Olsson já está acostumado a ter um público apreciador de Rock. Há um restaurante de comida rápida no andar de cima e um tipo de porão no andar de baixo, bem propício até para apresentações “relâmpago”. Em todos os petiscos servidos há muito alho, até mesmo nos shots alcoólicos, daí se tem o nome do local. O restaurante tem filiais em Londres e Palma. É também um lugar para se ir para uma saideira depois de shows, já que fica aberto até mais tarde. Dan Lilker e sua esposa Heather foram os DJs daquela noite. O evento foi bem casual. Basicamente, beber, comer e tirar fotos. Não teve grandes arroubos de headbanging e o setlist da pick-up continha bandas mais clássicas, como Macabre, Napalm Death, Suicidal Tendencies e D.R.I. LANÇAMENTO DA CERVEJA A microcervejaria Mikkeller foi fundada em Copenhague, na Dinamarca, em 2006. Desde então, foram abertos vários bares pelo mundo – com esta, na Suécia – para difundir cervejas com sabores mais inusitados e que vão contra as convenções. Dan Lilker é um entusiasta da cerveja e dessa parceria curiosa surgiu a Nuclear Hop Assault. A bebida foi vendida no beer tap e também em garrafas pequenas, o que fez a alegria das pessoas presentes. O rótulo lembra as cores do álbum Game Over, sem contar que muitos pediram para o músico autografá-lo. Uma bela lembrança para levar para casa!

Foto: Virginia

BAR BORDENA OLSSON GARLIC & SHOTS

A cerveja é uma Imperial India Pale Ale, feita na Bélgica, com lúpulo híbrido. A definição parece complexa, mas a bebida desceu bem garganta abaixo. Gostosa mesmo! Refrescante, porém densa. Logo você se vê pedindo a segunda. É aí que se percebe a graduação alcoólica; 8%, não veio para brincar, é forte como a banda. Depois de algumas horas, já se podia ver a alegria etílica dos presentes. Dan Lilker provavelmente teve a sensação de dever cumprido. Os dois dias de música, conversas e cerveja entusiasmaram ainda mais as pessoas para a turnê que o Nuclear Assault que estava prestes a começar pela Europa. COPENHELL Rápida, pesa e avassaladora apresentação na Dinamarca O assalto nuclear tomou conta do Copenhell, o maior festival de Metal da Dinamarca. No final da tarde de 20 de junho, um sábado, uma multidão se formou na frente do palco Pandeamonium para ver uma das maiores bandas de Thrash Metal americano. O show começou forte, logo de cara mandaram “Rise From The Ashes”, emendado com “Brainwashed”, do segundo disco “Survive”. 31


Pezzolo Foto: Virginia

Do primeiro álbum, Game Over, tocaram “Sin, Betrayal” e as famigeradas bobagens nonsense “Hang The Pope” e “My America”. O refrão de “When Freedom Dies”, com coro do baixista Dan Lilker, foi cantado em uníssono pelos presentes. Já em “Wake Up”, os seguranças tentavam conter os destemidos que avançavam o palco. A plateia acabou levando uma leve bronca do vocalista, que pediu para que todos se divertissem com segurança. O show não teve defeitos, o som estava excelente e a banda parecia de bom humor. A única ressalva é que foi um set muito curto para uma banda desse porte. Do novo EP “Pounder” tocaram a pândega “Analog Man in a Digital World”, uma homenagem ao vocalista, que se recusa a se render ao mundo digital. Também teve a lenta “Died In Your Arms”, notificada prontamente pelo baixista que não era uma canção de amor.

Não teve nem tempo para muita conversa, o vocalista John Connelly apenas anunciou a banda e a próxima música, “New Song”, do excelente lançamento de 1989, “Handle With Care”. O público veio abaixo. O setlist foi obviamente encurtado pela banda por tocar em um festival com muitas outras atrações. Percebia-se, pelo programa, que eles teriam menos de uma hora de apresentação. Não tem nem como destacar clássicos, porque todas as músicas eram reconhecidas imediatamente pela plateia.

O fim veio direto com “Trail Of Tears”. Não deu tempo de pedir outra música e não teve bis, o palco tinha que ser arrumado para a banda seguinte. A decepção de uma apresentação tão sucinta foi embora rapidamente quando o vocalista John Connelly desceu do palco para dar autógrafos e tirar fotos com os fãs.

Foto: Virginia

Pezzolo

“Pounder”, o último fôlego do Nuclear Assault? Por Virginia Pezzolo

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Com cinco músicas em menos de 14 minutos, o EP da clássica banda de Thrash/Crossover remete o ouvinte ao debute “Game Over”. Depois de dez anos de hiato, os nova-iorquinos do Nuclear Assault se lançam novamente em turnê mundial com um novo EP na bagagem - o lançamento de Pounder comemora 30 anos de atividades. Formada em 1984 pelo baixista Dan Lilker e vocalista/guitarrista John Connelly, marcaram uma época com um ímpar Thrash Metal/Crossover com letras de cunho político e social. Com Glenn Evans na bateria, os três da formação original continuaram, o “novato” guitarrista Erik Burke entrou em 2002 e está até os dias atuais. O que dizer de “Pounder”? Em uma rápida comparação, é melhor que o último lançamento de 2005, o fraco “Third World Genocide”. Contudo, fica bem aquém dos clássicos produzidos até o final dos anos 80. São quatro faixas que não alcançam 14


minutos no total, o que deixa qualquer ouvinte um pouco frustrado. A primeira música, homônima do EP, começa bem ao estilo que os fizeram famosos, o velho e amado Thrash Metal. O interresante de “Pounder” é, sobretudo, uma pitada do disco “Game Over”, primeiro álbum da banda. A voz de John Connelly continua igual ao passado, o que é um excelente sinal. Inconfundível, daquele tipo

que se ama ou se odeia; mas que faz o grupo, junto com o célebre baixo de Dan Lilker, facilmente detectável. Há consistência e honestidade em todo o EP, porém fica um sentimento de “baixo orçamento” na gravação dos instrumentos. “Pounder” certamente funciona muito melhor ao vivo. Em “Lies”, a mesma pegada continua, com vigor e velocidade que aumentam no percurso da breve faixa. Sem dúvida, o ápice desse trabalho, um dos momentos mais divertidos, é na sarcástica “Analog Man In A Digital World”. Um verdadeiro pedido às pessoas para desligarem suas maquininhas eletrônicas e irem viver suas vidas. Tem energia e um excelente e pegajoso refrão. Não à toa saiu como o primeiro som a ser divulgado e teve até videoclipe lançado. “Died In Your Arms” começa lenta e pesada, um som sinistro com uma letra perturbante, que conta a história de uma invasão domiciliar que termina em tragédia - talvez não seja exatamente a melhor maneira de terminar um EP. No cômputo geral da obra, “Pounder” é agradável aos ouvidos, mas de modo algum deveria ser o último lançamento da banda.

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S I C K N E S S C O V E R I N G

O que seria do Heavy Metal sem as fantásticas obras de arte do alemão Andreas Marschall? Considerado um dos grandes artistas dedicados ao estilo de todos os tempos, Andreas coleciona uma série de trabalhos memoráveis, imprimindo vida em cada capa que assina, bem como seus trabalhos relacionados à HQs de terror e filmes. Nascido em 1961, Andreas entrou no mundo do Metal em 1988 e desde então trabalhou com dezenas de bandas de todos os estilos, criando um estilo único e de impacto. Na entrevista a seguir, Andreas nos deu mais detalhes sobre seu trabalho e falou também sobre seu mais recente filme, “German Angst”. Confira! Por: Maicon Leite Tradução: Pedro Humangous

s a e r Andrschall a M ESTILO ÚNICO E MARCANTE

HELL DIVINE: Entre o final da década de 80 e durante toda a década de 90 você praticamente dominou as capas dos álbuns de Metal, do Heavy ao Death. O que fazia Andreas Marschall antes de se dedicar a este trabalho? Quais foram suas principais influências? Andreas: Eu comecei fazendo arte para quadrinhos. Trabalhei na edição europeia de “Heavy Metal (Metal Hurlant)” entre outras revistas, fazendo pequenos trabalhos aqui e ali. Acabei largando essa carreira logo no início, pois meu estilo muito detalhista (fotorrealismo) demandava muito tempo para ser executado para o modelo dos quadrinhos. Eu realmente adoro histórias com imagens, mas acredito que era o meio errado para eu expor minha arte. HELL DIVINE: Algumas das suas primeiras criações foram capas do D.A.M., Grinder, Mordred, Pariah, Sodom e Kreator. Com o Thrash Metal em alta naquela época, creio que não tenha sido difícil encontrar clientes. Você e Ed Repka parecem ter dominado este

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mercado. Como você analisa a importância do seu trabalho para estas bandas? Andreas: Na era dos vinis, a arte era um elemento bastante importante na mensagem que a banda queria transmitir artisticamente – as capas desempenhavam um importante papel na imagem e na história do disco. Algumas de minhas artes foram extremamente importantes. É quase impossível falar de Kreator sem ter em mente a capa do “Coma Of Souls” ou falar do Sodom sem pensar no “Agent Orange”. Essas capas felizmente se tornaram verdadeiros ícones do gênero. HELL DIVINE: Seu estilo é bem peculiar, composto de cores vivas e desenhos bem detalhados. Para cada banda, você criou características únicas e muitas vezes com personagens marcantes, como o Hector, mascote do Hammerfall. Sua forma de criação é baseada em dicas e músicas das bandas ou é de livre inspiração? Andreas: Há sempre uma comunicação bem detalhada com as bandas. Algumas vezes os


personagens já existem, como foi o caso do soldado mascarado do Sodom ou do guardião cego do Blind Guardian. Em outros casos pude sugerir algumas coisas para as bandas e chegamos em um consenso. Certamente ter uma mascote é bastante importante para uma banda de Metal. Ele simboliza a filosofia da banda e é o elemento principal quando se trabalha bem o merchandising. Sobre minha forma de criação, isso depende muito de cada banda. Algumas tem uma visão bem detalhada do que querem, outras apenas me passam o nome do álbum e batemos um papo sobre o conceito do mesmo. É um processo criativo de ambas as partes, colocamos as ideias na mesa e criamos uma base do que virá a ser a arte e vamos moldando até chegar no resultado final. HELL DIVINE: King Diamond, Helloween, Dimmu Borgir, Obituary, Blind Guardian, Hammerfall, Running Wild e Grave Digger estão entre algumas das bandas mais conhecidas que você trabalhou. De que forma era o relacionamento com seus integrantes? Havia pressão das gravadoras? Andreas: Conheço vários desses artistas pessoalmente, assim como algumas pessoas das gravadoras. Foram pouquíssimos projetos em que as ideias das gravadoras eram muito diferentes daquilo que as bandas realmente queriam. Na verdade, só me lembro de apenas um caso onde a banda queria uma capa bem específica, mas a gravadora disse “não podemos vender isso, queremos algo diferente”. É difícil para mim como artista, pois quero que meus clientes (os músicos) saiam satisfeitos, é a visão deles, é a materialização de suas músicas. HELL DIVINE: Aliás, a Nuclear Blast parece ter sido um de seus principais clientes. O fato de vocês serem alemães e terem uma maior proximidade impactou numa carta de clientes tão grande? Andreas: A Nuclear Blast sempre foi um cliente bastante importante para minha carreira, mas isso não impactou na nacionalidade dos meus clientes. Trabalhei bastante com bandas americanas, espanholas e gregas também. HELL DIVINE: O aspecto visual faz do Heavy Metal algo ainda mais

único do que qualquer estilo. Esta combinação, no seu ponto de vista, é algo essencial? Bandas como Blind Guardian poderiam ter capas mais simples e causariam o mesmo efeito em seus admiradores? Andreas: Eu acho que faltaria um elemento importante se não tivessem uma capa elaborada. Especialmente dentro do Heavy Metal, durante a época do vinil, era comum ter álbuns conceituais onde a arte fazia parte da história. Lembro bem das incríveis artes de bandas como Uriah Heep e da maravilhosa capa do Yes, feita por Roger Dean. O projeto artístico de “Imaginations From The Other Side”, do Blind Guardian, foi desenvolvido para ser um tipo de livro para ler e acompanhar enquanto ouvia as músicas. Existem muitos detalhes nessas artes que se tornam quase impossíveis de ver no formato de CD. É mais uma forma de se contar uma história, viajar nas imagens, viver um mundo de fantasia. HELL DIVINE: Fora da música, seu nome também se tornou conhecido no meio cinematográfico e em HQs de terror. Além dos filmes “Tears of Kali” (2004), “Masks” (2011) e o recém lançado “German Angst” (2015), há produções suas na área de clipes, para as bandas Rage, Kreator e Sodom. Do que se trata “German Angst”? Pelo trailer nota-se uma boa quantidade de sangue e sexo. Andreas: É um filme antológico onde três diretores alemães contam histórias horripilantes que ocorrem em Berlim. Meu episódio, “Alraune”, fala de um jovem que descobre uma boate erótica onde se pode conseguir o “melhor sexo de sua vida” ao consumir uma droga feita da raiz de mandrágora. Após ter alguns delírios com fantasias e experiências sexuais, ele descobre os terríveis efeitos colaterais da droga. “Alraune” é um conto vívido e surreal com pitadas de horror. HELL DIVINE: Durante um bom tempo quase não tivemos o prazer de ver seus trabalhos nas capas de discos, pelo menos não com tanta frequência. Mais recentemente podemos destacar as artes de álbuns do Hammerfall, Obituary, Deathblow e Orden Ogan. É um retorno definitivo ou trabalhos esporádicos? 35


Andreas: No ano passado houve uma exibição do meu trabalho no Rock And Pop Museum, em Gronau (cidade na Alemanha). Esse ano está sendo bem produtivo para mim, parece que voltaram a curtir arte feita à mão. As pessoas se cansaram um pouco dessa arte digitalizada o tempo todo. Qualquer um pode fazer esse tipo de arte e acaba se tornando algo chato. As capas feitas à mão são mais especiais, você sente que é algo mais exclusivo e precioso. HELL DIVINE: Sei que você gosta bastante dos discos “Nexus Polaris”, do Covenant, e de “Nightfall In Middle Earth” do Blind Guardian. Mas, pelo que lembro, há alguma relação do desenho de “Nexus Polaris” com uma exnamorada sua. Qual é a história por trás disso? Andreas: Na verdade não (risos)! Mas eu realmente gostava de garotas góticas, era um prazer desenhar uma em uma capa de Metal. No passado eu não usava muito desse artifício, não sei porque. Hoje em dia parece ser mais comum. Fiz recentemente uma capa para uma banda de Israel chamada Hammercult e nela contém uma mulher super sexy. Essa capa gerou reações controversas, algumas resenhas do disco inclusive detalharam bem o aspecto da capa. HELL DIVINE: Gostaria que você fizesse uma análise de algumas capas, ok? São artes muito interessantes e que chamam a atenção pela riqueza de detalhes. SODOM - AGENT ORANGE Andreas: Fiz essa capa baseada em várias fotografias sobre guerra que o Tom Angelripper me mandou. Ele é um expert quando os assuntos são sobre guerras. A arte te dá a impressão de estar dentro do avião, perto da ação que está acontecendo. A morte e o massacre estão bem longe, no chão, e os soldados simplesmente ignoram tal fato, apenas fazem o seu trabalho, frio e sem coração. STRATOVARIUS – VISIONS Andreas: Uma arte que apresenta um positivismo espiritual, ilustrando as visões de Nostradamus. A banda me passou bastante instruções detalhadas 36

do que queriam. Aquelas mãos que vocês veem na capa, na verdade são as minhas (risos)! UDO – HOLY Andreas: Essa é a ideia de uma “igreja do Metal”, onde as músicas sacras seriam tocadas nas guitarras ao invés do piano. E claro, um padre nessa igreja deveria parecer mais “insano” que o normal. Esse personagem foi ideia da gravadora, eles queriam algo mais provocativo. Li uma entrevista que fizeram com o Udo e ele afirmou que havia ficado chocado com a capa e me acusou de ser maluco... MESSIAH - CHOIR OF HORRORS Andreas: Uma arte bem maléfica e obscura sobre o regente demoníaco. Fiz essa pintura em um tamanho maior que as de costume, com algumas pinceladas irregulares, dando essa aparência mais “suja”. Gosto da sensação de loucura do personagem principal, me lembra filmes clássicos de terror dos anos 60 como no filme “The Masque Of The Red Death” (A Orgia Da Morte) de Roger Corman.


ARKONA “YAV” Shinigami Records

9

R E S E N H A S

Por Pedro Humangous É possível notar com clareza a evolução da banda russa Arkona. Disco após disco eles vem se superando, aprimorando seu Pagan/Folk Metal. Várias bandas nesse estilo têm surgido nos últimos anos, formado uma verdadeira legião de fãs/guerreiros. A sonoridade, apesar de propositalmente mais crua e orgânica, possui bastante energia e combina bem com a proposta do grupo. Incrível ver como conseguiram notoriedade mundial cantando em sua língua natal, coisa rara hoje em dia com o domínio da língua inglesa – principalmente na música. Mas para o ouvinte não ficar perdido, as letras estão em inglês no encarte. O Arkona possui seu charme especial, tem uma energia diferenciada, um climão obscuro, composições mais densas que pedem uma audição mais atenciosa e demorada. Mas assim que você assimila a mensagem passada, “Yav” torna-se um excelente álbum. Destaque para a versátil vocalista Masha Scream, com um timbre diferente, abusa nas variações dentro da mesma música. O disco transcorre de forma natural, passando por momentos mais leves e progressivos (com aqueles toques clássicos de música Folk, com flautas, gaitas, etc) e investindo em momentos mais pesados, puxando para o Black Metal. A primorosa arte da capa foi feita pelo experiente Gyula Havanczák é, sem sombra de dúvidas, uma das melhores do ano. Um belo disco, repleto de músicas honestas, extremante bem composto e bem executado. Se tivesse que resumi-lo em duas palavras, diria que é obscuro e encantador.

BLUES PILLS “BLUES PILLS” Nuclear Blast / Voice Music

9

João Messias Jr. Os elogios e as exaltações que o grupo franco-suecoamericano Blues Pills vêm recebendo não são à toa. A musicalidade do quarteto formado por Elin Larson (vocais), Dorrian Sorriaux (guitarras), Zack Anderson (baixo) e Andre Kvarnström (bateria) não se resume a emular o Rock feito na década de 60, mas sim retransmiti-lo com muita paixão, o que faz uma grande diferença no resultado final. De cara, duas coisas que chamam a atenção são a belíssima interpretação da vocalista Elin, que traz à mente divas como Janis Joplin e Aretha Franklin, cuja junção prende o ouvinte em canções, como ocorre nas duas primeiras faixas: “High Class Woman” e “Ain’t No Change”. Outro diferencial fica por conta da levada quase percussiva de bateria. Simples, eficiente e que soam diferentes em meio a tantas mudanças de andamento dos ‘progs’ de hoje. Ouvir o disco completo é uma experiência única e fantástica, que além das faixas citadas acima, possui músicas de alto gabarito, como a quase Disco Music “Jupiter” e a melancólica “No Hope Left for Me”, que mostram um formato que o grupo se supera. Um exemplo fica por conta da lindíssima “Black Smoke”, que intercala passagens psicodélicas que a tornam única. Mas tudo que se ouve aqui é de bom gosto, inclusive a recriação de “Gipsy”, de Chubby Checker (um dos pais do Twist), que deve ter deixado o “tiozão” feliz da vida! Um conselho: abra as janelas da sua casa, acenda um incenso, desligue a internet e viaje nesse baita disco!

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DARK WITCH “THE CIRCLE OF BLOOD” Arthorium Records

9

Por Pedro Humangous É colocar o disco, dar o play e voltar no tempo! Quanta nostalgia sentida ao colocar para rodar o primeiro trabalho dos santistas do Dark Witch! “The Circle Of Blood” tem a energia dos primórdios do Power Metal Tradicional, na pegada de bandas como Running Wild, Accept e Grave Digger. Os riffs característicos da escola alemã dão o tom e a potência necessária para arrancar o pescoço dos amantes do Metal! Tanta lembrança boa vem à mente ao ouvir esse disco, traz o sentimento da “inocência” que o estilo vivia no final dos anos 90, com uma enxurrada de bandas invadindo a cena na época, discos incríveis sendo lançados, tudo de forma honesta e verdadeira. A simples e bela arte da capa mostra seriedade e profissionalismo, somando pontos ao produto final e combinando perfeitamente com a proposta sonora. As faixas são extremamente potentes, empolgantes e bem estruturadas, composições fortes e grudentas, tanto nas letras, quanto nos riffs e solos. A produção acertou a mão e a qualidade de gravação é ótima, soando totalmente atual, dando clareza a cada instrumento. “Circle Of Blood” já começa o disco acelerando com tudo, seguido da pancada de “Wild Heart”. Mas é em “Master Of Fate” que a coisa fica séria, com um refrão forte e um solo de tirar o fôlego, essa é candidata a melhor do álbum! “Cauldron” não fica para trás e se mostra mais pesada que as demais, com uma roupagem fortificada, pronta para a batalha. O disco continua subindo como uma muralha, com composições fortes e interessantes, fazendo com que sua audição seja prazerosa e divertida. Vale mencionar a faixa bônus, “Voz da Consciência”, obviamente cantada em português, uma versão de um dos clássicos da banda brasileira Harppia – ficou animal! Se no primeiro registro o Dark Witch é capaz de apresentar um trabalho desses, imagine o que ainda está por vir! Entre nessa máquina do tempo, onde poderá ver o futuro sem deixar de olhar para o passado.

HATE EMBRACE “SERTÃO SAGA ” Insane Records

9

Por Junior Frascá E, novamente, os pernambucanos do Hate Embrace surpreendem. Se no disco anterior os caras já chamavam a atenção pela sonoridade diferenciada, e de muita qualidade, agora provam que o tempo de estrada fez muito bem à banda, que amadureceu e lapidou ainda mais o seu estilo. Como no disco anterior, o som do quinteto se baseia no Death Metal old school, mas que traz diversas outras influências, em especial no quesito melodias, tendo como grande diferencial a utilização de teclados, mas sem exageros. E, além do instrumental muito bem construído e arranjado, com climas mórbidos e muito peso, destacase também a inteligência da temática criada para tratar da vida do cangaceiro Lampião, um dos maiores ícones da cultura nordestina brasileira. Em virtude disso, percebe-se que todas as faixas se complementam, sendo um trabalho sistêmico, para ser ouvido como um todo, sendo impossível indicar destaques. Há ainda, aqui, a participação de diversos convidados, que abrilhantam ainda mais o trabalho, como Pedro Thomaz (vocalista do Necroholocaust em “O Começo do Fim”), Alcides Burn (vocalista do Inner Demons Rise em “Revolta”) e Adriano Forte (vocalista do Lethal Rising em “Utopia” e “Imponência”), dentre vários outros. Uma obra brilhante, que valoriza a história nacional, com muita competência e bom gosto, sendo altamente recomendada para todos os que apreciam música de qualidade! 38


IMPURITY “INTO THE RITUAL CHAMBER” Cogumelo Records

8

Por João Messias Jr. De alguns anos para cá, a Cogumelo Records vem fazendo um belo trabalho nos relançamentos de seu cast. Fato que se repete em “Into the Ritual Chamber”, segundo CD dos mineiros do Impurity. Originalmente lançado em 1996, o disquinho recebe uma versão caprichada em digipack, além de material extra, que será comentado nas linhas abaixo. Antes de comentarmos os bônus, algumas linhas são necessárias para se falar do álbum. Musicalmente, o material de seis faixas transita pelo Black Metal com climas que vão do Doom ao tétrico, o que garante variedade nas composições, fugindo daquele esquema “bate estaca”. Os destaques ficam para a ríspida “The Call”, que recebe momentos cadenciados, a arrastada “Baphomet Shield” é um momento digno de nota, assim como a climática “Mystical Woman”. Os materiais bônus mesclam demos e apresentações ao vivo, que infelizmente não contam com uma boa gravação, mas os pontos altos ficam por conta da ‘live’ “Baphomet Shield” e a versão para “Orgy of Flies” (Sarcófago). Altamente recomendado aos fãs do estilo e aos curiosos sobre a cena nacional, em especial a mineira, que não fica restrita ao Sepultura, como muitos (ainda) pensam.

JOHN WAYNE “DOIS LADOS – PARTE I” Deck Disc

9.5

Por Pedro Humangous A banda John Wayne faz parte do chamado “New Wave Of Brazilian Heavy Metal”, ou seja, essa nova onda de bandas que surgiram recentemente fazendo um som agressivo, moderno e cantado em português – entre outros nomes como Slow Bleeding, Ponto Nulo No Céu e Project46. O primeiro álbum, “Tempestade”, jaz fez um enorme barulho no cenário nacional e mostrava uma banda competente, focada e promissora (foi inclusive um dos melhores discos daquele ano, na minha opinião). Três anos depois, com muita experiência na bagagem, finalmente lançam seu segundo trabalho, “Dois Lados – Parte I”. Logo de cara, a arte que estampa a capa já impressiona, ainda mais por vir em um belo digipack. A bela produção do experiente Adair Daufembach deixou tudo em seu devido lugar, aliando com precisão a essência extrema do grupo com a energia melódica que emanam em suas composições. As guitarras estão pesadíssimas, com um bonito timbre, sujo quando deve ser e limpo quando o momento pede. Edu Garcia é um monstro e simplesmente detona seu kit de batera com umas levadas insanas e criativas. A maior diferença mesmo ficou por conta dos vocais de Fábio Figueiredo, apostando em algo mais rasgado, mais agudo e de certa forma mais confortável e seguro – sem esquecer obviamente dos guturais cavernosos, que também estão presentes, mesmo que em menor proporção. As letras são fortes e impactantes, relatam o dia a dia das pessoas e muitas servem como motivação e inspiração - esse disco, em especial, é baseado na obra “A Divina Comédia – Inferno” de Dante Alighieri. Esse novo álbum mostra uma banda evoluída, pronta para o sucesso, merecedora da posição e status que sustenta atualmente. “Dois Lados – Parte I” já tem lugar de destaque na minha coleção e me faz aguardar ansiosamente pela “Parte II”!

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MAQUINÁRIOS “INTACTO” Wikimetal

9

Por Junior Frascá Se no seu EP “Seis Milhas para o Inferno” já eram perceptíveis todas as qualidades do trio Maquinários, agora, com o lançamento desse seu primeiro full length, a coisa tomou um rumo ainda maior. Aquele rock “diretão” e visceral que caracterizava a sonoridade dos caras ainda está lá, mas com toques bem mais evidentes de Stoner Metal, Hard Rock e Blues, e até uma certa psicodelia. Isso se percebe já na ótima faixa de abertura, “Um Grito Na Noite”, com uma “rifferama” impressionante, e ótimas mudanças de andamento. Já na sequência, em “Desgovernado”, a banda mostra seu lado mais retro, com uma pegada mais cadenciada, e fortemente influenciada por Black Sabbath na fase Ozzy. Os demais destaques ficam para a obscura “Ignição”; a pesadíssima “Vulto Negro”, cheia de groove e com riffs beirando o Thrash Metal; e a faixa título, que fecha o disco com chave de ouro. O disco ainda conta com uma qualidade sonora perfeita para o estilo, graças à produção excelente da própria banda, ao lado de Marcello Pompeu e Heros Trench. Se você curte bandas atuais na linha de Red Fang, Rival Sons, Graveyard, Orchid e outras mais antigas, como COC, Patrulha Do Espaço, Down e afins, certamente irá curtir o Maquinários, que sem dúvida é a melhor banda do estilo no Brasil atualmente.

NUESTRO ÓDIO “TERRA DE SANTA CRUZ” Independente

7.5

Por João Messias Jr. Fundindo referências antigas e atuais do Thrash e Hardcore, o quarteto de Osasco faz bonito em seu debut, “Terra de Santa Cruz”. Apresentando canções coesas quanto a peso, velocidade e discurso, o quarteto, que conta hoje com Leonardo Ronqui (vocais), Denis Alvim (guitarras), Tiago Rocha (baixo) e Leandro Oliveira (bateria), possui como destaques nas variadas “Hipocrisia Hereditária” e “Alma Corrompida”, a “grooveada” “Sangue No Olho” e a brutal “Desordem e Caos”. Sabiamente o grupo inseriu algumas vinhetas como a faixa-título e alguns discursos de políticos entre as canções, fazendo com que se destoe dos lançamentos do gênero, o que faz do Nuestro Ódio uma boa aquisição aos fãs de grupos como Slayer, Pantera e Hatebreed.

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POWERWOLF “BLESSED & POSSESSED” Shinigami Records

8.5

Por Pedro Humangous “Blessed & Possessed” trata-se do meu primeiro encontro com o grupo alemão Powerwolf. Sim, eu já tinha ouvido falar neles antes, mas nunca parei para ouvi-los. Sabe aquele preconceito bobo que nos afasta de algumas bandas sem o menor motivo? Pois é, esse foi meu caso com eles. Felizmente esse mais recente trabalho serviu para me provar que eu havia perdido tempo e estava enganado. Esses caras são fantásticos! Ao colocar o disco pra rodar, já me veio um tornado de influências voando aqui e ali, me atingindo como um déjà-vu a cada minuto que passava. Impossível não pensar em Sabaton, notar certa semelhança com Grave Digger, Avantasia e Orden Ogan. Ou seja, recheado de boas referências! Temos um pouco de tudo aqui, toques de Metal Tradicional, Power Metal, Melódico e muita orquestração sinfônica – inclusive os teclados são o ponto forte das composições, sempre presentes e com importante papel no resultado final. Com masterização de Jens Bogren e mixagem de Fredrik Nordstrom, “Blesses & Possessed” ganhou identidade, potência e relevância em cada faixa tocada, sendo uma melhor que a outra. Os riffs estão muito bem trabalhados, solos interessantes, bateria nervosa e versátil e um vocalista de tirar o fôlego! A arte da capa, feita pelo próprio guitarrista Matthew Greywolf, ficou incrível e deu ainda mais poder ao álbum, fechando esse belo pacote. O mais curioso desse grupo é a utilização de corpse paint em uma banda que toca Power Metal, no mínimo inusitado, mas esteticamente muito legal! Mais um poderoso uivo desses lobos do Metal, excelente lançamento!

RAVEN “EXTERMINATION” Die Hard Records

8

Por Pedro Humangous Nem um cometa é capaz de destruir esses dinossauros do Metal mundial! São 40 anos desde a sua formação, dá para acreditar? A máquina incansável de fazer música pesada e de qualidade está de volta com seu novo álbum de inéditas, intitulado de “Extermination”. A bela arte da capa, criada por Jay Sharpe, já dá sinais de que o disco será matador! Incrível ver como esses “titios” estão em forma e apresentando um som de primeiríssima qualidade, pesado, divertido e extremamente atual. Ótima qualidade de gravação, instrumentos com timbres maravilhosos e composições de tirarem o fôlego. Na primeira audição, o trabalho me lembrou uma mistura entre Annihilator, com Judas Priest e uma pitada de Artillery. Um mix de Metal Tradicional, com Speed e Thrash, tudo transbordando feeling e agressividade, simultaneamente. É possível sim sentir o cheiro dos anos 80 nas músicas, mas nada aqui soa datado, é como ver um avô vestindo as roupas do neto. “Destroy All Monsters”, que abre o disco, já desce logo a paulada na orelha, atordoando o banger mais desavisado. Muito legal ver a velocidade que imprimem nas músicas, apostando em riffs viciantes e refrãos marcantes. A sequência das demais faixas é matadora, “Tomorrow” e “It´s Not What You Got” possuem um clima animal e empolgante – essa última lembra bastante o Megadeth em alguns momentos. Ao todo, são 14 músicas, além de mais uma bônus, totalizando pouco mais de uma hora de boa música. Para quem já era fã de longa data, esse é mais um presente de encher os olhos. Para aqueles que ainda não conheciam, vale a pena dar uma checada nessa ótima discografia, quem sabe começando de trás para frente. Por mais que não tenham tido o reconhecimento merecido, é de tirar o chapéu o trabalho desses caras! 41


SAVE OUR SOULS “THE OTHER SIDE” Shinigami Records

8.5

Por Pedro Humangous Se é para ser sincero nas resenhas, preciso começar dizendo que não sou lá grande fã de bandas com vocal feminino. Não que isso atrapalhe ou seja ruim, apenas não me agrada tanto, genericamente falando. Existem sim exceções, bandas como Nightwish e Epica, que lançaram recentemente ótimos discos. Acompanhei de perto o trabalho da Save Our Souls e posso dizer que essa é uma das bandas que fogem a minha regra citada acima. A voz de Melissa Ironn é doce, agradável aos ouvidos e se encaixa bem à proposta sonora da banda – impossível não lembrar da voz de Amy Lee, do Evanescence. “Another Life” abre o álbum de forma magnífica e grandiosa, com mais de sete minutos de duração, mostrando logo todo o potencial da banda. A carga pesada de teclados gera um clima interessante, teatral e sinfônico, contrastando com a bateria pesada, um baixo nervoso e guitarras encorpadas. A mixagem favoreceu bem os teclados, as vozes e o baixo, deixando um pouco abafados a bateria e as guitarras – essas últimas, inclusive, careceram de uma timbragem mais limpa. Apesar de bastante desgastada, a fórmula “vocal feminino limpo com o gutural masculino” funciona muito bem e deixam as composições bem interessantes, prendendo o ouvinte do início ao fim. As músicas fluem com certa naturalidade, de forma densa pelo clima que o álbum tem, mas nada muito complexo. Muito pelo contrário, a banda prezou pela simplicidade e feeling, entregando música de qualidade e com leveza. No geral, o disco ficou muito bom, bastam pequenos ajustes como dar mais peso nas guitarras, mais punch na mixagem final. Minha favorita certamente é “Web Of Lies”, com uma levada matadora de bateria, aliás, Andrêss Fontanella mandou muito bem nesse disco, qualidade absurda nas composições, muito pedal duplo e viradas insanas! Passei vários minutos apreciando (e tentando entender) a bela e enigmática arte da capa, desenvolvida pelo experiente João Duarte, que combina perfeitamente com a essência e energia desse trabalho. A banda acertou no alvo com “The Other Side” e promete ser um grande nome nesse segmento!

SIRENIA “THE SEVENTH LIFE PATH” Shinigami Records

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Por Pedro Humangous Todo estilo parece ter seu auge e seu declínio. Na época de ouro do Nightwish (banda que mais fez sucesso no estilo), o chamado “Gothic/Symphonic Metal” com vocalistas femininas, trouxe uma enxurrada de novas bandas, muitas adquirindo bastante sucesso mundial. O fato é que o estilo sofre uma carência de inovação, caindo em um abismo obscuro deixado pelos fãs da música pesada – hoje cada vez mais bombardeados com novas bandas e novas músicas diariamente. E o que o Sirenia teria para oferecer em seu sétimo e novo disco de inéditas? Infelizmente nada que vá mudar nossas vidas, nada que já não tenhamos ouvido antes por aí. Não quer dizer de forma nenhuma que “The Seventh Life Path” seja um álbum ruim, ele é muito bem composto, equilibrado e com energia de sobra, mas falta aquele elemento que te prenda, que faça 42


querer ouvir repetidas vezes. O instrumental, apesar de um pouco confuso na mixagem, é brilhante, abusando de sintetizadores/teclados, uma bateria infernal repleta de bumbo duplo, guitarras com afinação baixa e um baixo encorpado. O que mais me incomodou aqui foram os vocais de Ailyn, demasiadamente juvenis, com um timbre que cansa rapidamente. O vocal gutural do guitarrista Morten Veland faz um belo contraste e ajuda a alcançar um resultado mais satisfatório nas músicas em que participa – “Serpent” e “Sons Of The North” por exemplo são ótimas faixas. Outro ponto negativo é a longa duração das músicas, sem que haja grandes variações que justificassem esse artifício. Em contrapartida, a roupagem mais moderna deixou as composições mais interessantes, principalmente com a utilização inteligente dos sintetizadores, bem evidentes. O legal da versão nacional é o belo digipack, que traz a linda arte da capa (feita pelo mestre Gyula Havancsák) e a faixa bônus “Tragica” cantada em espanhol. Aos apreciadores do estilo e principalmente aos fãs da banda, esse é um belo registro, muito bem construído!

WARSICKNESS “STAY DRUNK IN HELL” Independente

7.5

Por João Messias Jr. Músicas regadas a pogo, energia e que sugerem a companhia de uma gelada. Assim, de forma breve podemos definir o Warsickness, que em 2015 lançou o seu primeiro disco. Com o sugestivo título de “Stay Drunk In Hell”, o quinteto formado por Diogo (voz), Carlos Ferreira (guitarra), Thiago José (guitarra), Alan Magno (baixo) e Guilherme Alan (bateria), brinda o ouvinte com músicas que passeiam pelo Thrash, Hardcore, com referências aos grandes nomes do estilo como D.R.I., Nuclear Assault e S.O.D. O registro, assim como a sua curta duração, chama a atenção pela linearidade e qualidade das canções, que cada uma a seu estilo, agradará aos fãs das vertentes citadas, onde destaco a faixa que nomeia o trabalho, “Black Army” e “Do You Remember”, que mostram uma banda no caminho certo, que é fazer o som que gosta, sem a preocupação com mercado e business. Não agradará aos fãs de Machine Head e Gojira por exemplo, mas se você admira o Metal praticado na década de 80, tem tudo para curtir o Warsickness.

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L I V E

S H I T

Show: SWEDEN ROCK FEST Dias: 3, 4, 5 e 6 de Junho de 2015 Por Marcelo Val Fotos: Heloísa Melo

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De volta ao Sweden Rock Fest depois de 4 anos, não tenho como não reparar a superioridade dele em relação a, talvez, todos os outros eventos do tipo em que tive o privilégio de estar presente. O que não é demérito para os outros, apenas mostra que o festival sueco é um exemplo a ser mirado em sua preocupação para com o bem-estar do público. Nossa equipe não assistiu ao primeiro dia do festival, que contava, em sua maioria, com bandas mais “cult” em um cast reduzido. No entanto fomos até a área do festival fazer o credenciamento e ver o que rolava por ali. Diversas barracas vendendo roupas, artigos de couro e acessórios, algumas poucas vendendo alguns CDs e vinis (sintoma dos novos tempos) e muitas opções de alimentação já antes de se entrar no festival. Também havia uma loja de merchandising oficial, um minimercado, uma pequena casa de câmbio e até mesmo um pub improvisado. No momento em que chegamos vimos diversos indivíduos fantasiados de super-heróis, vikings e até mesmo um gaiato de fio dental! Circulando animadamente pela área, conversando e bebendo em quantidades épicas, alguns já se apresentavam fora de combate logo no início da tarde. Algumas dessas pessoas apenas acampam e nem mesmo chegam a comprar ingressos para o evento, preferindo festejar no próprio acampamento. Quanto aos shows, naquela hora se ouvia um cover de AC/DC, reproduzindo com muita fidelidade a fase Brian Johnson. Mais tarde haveria bandas como Quireboys e D.A.D., os veteranos do Hell e Evergrey, talvez a única atração de maior renome do dia. No dia seguinte, a história seria bem diferente: com um elenco recheado de grandes nomes, já fomos com o mapa das apresentações devidamente traçado, a fim de não perder as melhores atrações e evitar desgastes desnecessários para a maratona que se seguiria. O festival inicia os trabalhos às 11:30, mas preferimos chegar um pouco mais tarde, deixando para outras oportunidades atrações como Delain e All That Remains. Chegamos ao som de Fish, ex-vocalista do Marillion, revivendo a obra prima Misplaced Childhood integramente. Após os menos de dez minutos necessários para entrar no festival, pudemos nos posicionar próximos ao palco em que o veterano emocionava ao público com pérolas do quilate de Kayleigh, Lavender, Heart of Lothian e outras, executadas com carisma e simpatia, além da maestria da excelente banda que o acompanhava. Cantando sem fazer o menor esforço, o cantor levantava aplausos durante toda a apresentação, se comunicando muito bem com o público, algo incomum no estilo. Ao mesmo tempo, no Rock Stage, os finlandeses do Children of Bodom detonavam com seu Death Metal repleto de melodias e teclados, mostrando de cara a


diversidade e o bom gosto na escalação dos artistas do festival. Terminado o Fish (e o CoB também) era a vez do Slash e sua banda. Com um set equilibrando clássicos do Guns, Velvet Revolver e sua carreira solo, o guitarrista obteve excelentes resultados. Entrando com o novo clássico You´re a Liar, Slash desfilou hits como Nightrain e You Could Be Mine e ganhou a plateia. Com um time de primeira, tendo em Myles Kennedy um vocal com todos os requisitos que as músicas pedem e evitando solos excessivos, Slash garantiu um show dinâmico e divertido. Ao mesmo tempo que Slash brilhava no palco principal, Steve Grimmet e sua versão do Grim Reaper reviviam clássicos da banda inglesa em outro palco. Após o Slash tocaram o Airbourne e Carl Palmer com clássicos do Emerson, Lake and Palmer. Com todo o respeito a essas bandas, preferi ir almoçar (já eram 17:30) e descansar um pouco na área de imprensa. Às 19 horas os veteranos AOR do Toto entraram no palco principal para despejar competência e técnica em hits que marcaram os anos 80, como Rosanna, Africa, Hold The Line e até mesmo uma linda versão de Little Wing, de Hendrix. Toto é uma banda em que todos cantam muito, além de serem músicos de primeira linha. Steve Lukather, por exemplo, tocou guitarra em músicas que muitos nem imaginam. No entanto, após o clima mais calmo e relaxante do Toto, era vez de um dos melhores shows do festival começar. O Exodus entrava em cena desfalcado, já que Gary Holt estava em turnê com o Slayer. No entanto, apesar de ser um desfalque e tanto (seu substituto foi Kragen Lum, colega de Lee Altus no Heathen), portanto as guitarras apresentaram um entrosamento absurdo. E assistir a Steve Zetro urrando clássicos como Toxic Waltz, Pleasures of the Flesh, The Last Act of Defiance e a mais recente War is My Sheppard é um privilégio que achei que nunca teria a chance de usufruir. Falar o que mais? Tocando clássicos e músicas mais recentes com precisão e peso absurdos, Exodus mostrou mais uma vez seu lugar entre os grandes do Thrash. E depois de fritar os tímpanos com a lição de violência sonora que o Exodus nos deu, tem coisa melhor que curtir aquele showzaço de Hard? Em minutos começaria o Def Leppard, última atração da noite no palco principal (a noite ainda iria adentrar na madrugada com Michael Monroe e Ghost nos outros palcos). E os ingleses fizeram valer a colocação de atração principal do dia, com um show absurdo! Entrando com o clássico Rock! Rock! (Till You Drop), a banda desfilou os hits Animal, Let It Go e Foolin´ logo em seguida, mostrando que apesar de não ter se saído nada bem em seus últimos discos, ainda tem muita lenha nessa fogueira, pelo menos ao vivo. O guitarrista Vivian Campbell, que enfrenta o câncer há algum tempo, mostrou uma performance irretocável durante o show, apesar da aparência um pouco fragilizada. Joe Elliot, cuja voz às vezes aparenta os sinais de cansaço de quem passou décadas moendo as cordas vocais, teve uma performance bem convincente. Rick Allen continua a surpreender mantendo o motor da banda em alta rotação. Em um show recheado de hits, mesmo baladas como Love Bites, Two Steps Behind e Bringin´ On The Heartbreak não deixam o pique cair, emocionando a todos. Ao fim do show, as obrigatórias Rock of Ages e Photograph encerram o setlist com chave de ouro. Após Def Leppard, Michael Monroe e Ghost dividiriam o último horário. O cansaço, no entanto, nos venceu e voltamos para o hotel. Disseram amigos que estavam acampados no evento que o show de Michael Monroe foi excelente e cheio de energia, empolgando ao público que ainda resistia em pé. Pelo que pude notar, enquanto via o cantor de 53 anos escalando as estruturas do palco enquanto berrava as músicas, os relatos foram acurados. 47


No dia seguinte, chegamos cedo para pegar o show do Dare, banda que conta com Darrel Warthon (ex tecladista do Thin Lizzy) nos vocais. A banda apresenta um Hard muito bem tocado e carismático. Nesse mesmo horário, se apresentava em outro palco o Dark Tranquility, banda nativa da Suécia. Logo depois tocou no palco principal o Molly Hatchet, com seu Southern Rock. Hatebreed e Alestorm seriam as bandas principais no horário seguinte e após eles, as veteranas do Hard Rock Rock Goddess detonaram, enquanto o Evergrey fazia um set acústico no quinto palco do festival. Chegava a hora do Dokken, e apesar do set list contendo as grandes músicas da banda e do timaço arregimentado, o show não chegou a empolgar, em grande parte pelo fato de Don Dokken não conseguir mais cantar como antes as músicas, cuja característica principal é sua voz. Mesmo assim, músicas como The Hunter, It´s Not Love, Dream Warriors, Breaking the Chains são sempre agradáveis de assistir, mesmo em versões alteradas. É digno de nota o fato de Marc Boals (vocalista que cantou com Malmsteen e Royal Hunt) estar tocando baixo na banda, aliás em muitos momentos os “backings” de toda a banda ajudaram em muito. Após o Dokken, a maior revelação do festival para mim: Wolf. Enquanto tomávamos um café, ouvi uma voz chamativa cantando e me deparei com a banda, ostentando suas Flying V no quarto palco do festival, realmente não consegui parar de assistir e justamente enquanto o Opeth tomava o palco principal do assalto. Dava para ver a multidão se formando ao longe para assistir ao show altamente técnico do Opeth que rolava no mesmo horário, e dava para pegar alguma coisa de relance, mas não tinha jeito, Wolf foi irresistível. Os próximos eram os locais do Backyard Babies, no palco dois do festival (Rock Stage). Banda nativa muito admirada pelos locais, atraíram um público bem grande e apresentou um palco muito legal. No entanto, após cerca de meia hora rumamos para o palco principal para pegar um bom lugar para assistir aos headliners do dia: Mötley Crüe. Os americanos montaram uma espécie de palco pós-apocalíptico para o show e após o final do Backyard Babies, aquilo realmente começou a ficar infernal. De longe, o show mais disputado do festival. Era um tal de empurra daqui e de lá, que depois de garantir algumas boas fotos preferimos assistir um pouco mais de trás. Começando com a menos conhecida Saints Of Los Angeles, a partir daí foi uma sucessão de hits como Wild Side, Primal Scream, Same Ol´ Situation, Looks That Kill e tantas outras. Musicalmente, a banda é bem coesa, com Vince Neil sendo o ponto fraco, com uma performance vocal bem abaixo do que se espera ouvindo os discos. No entanto, essa é uma deficiência que o acompanha desde o começo da carreira na banda e pode ser checada mesmo nos lançamentos ao vivo da banda. Vale dizer que os veteranos do Lucifer´s Friends receberam o ingrato horário em que o Crüe tocou para fazer seu show no quarto palco do festival. Após o Mötley Crüe, as bandas que ocuparam o último horário da sexta foram os suecos do H.E.A.T., fazendo seu Melodic Hard Rock para um público que os prestigiou com empolgação, ao mesmo tempo que o Meshuggah tocava em outro palco, em um show hipnotizante. Precisão técnica, peso bruto... Realmente quando esses caras sobem em um palco é difícil não prestar atenção. Sábado, último dia do festival e também dia de uma das apresentações mais esperada por nossa equipe. Ace Frehley, ex-guitarrista do Kiss, divulgando seu mais recente disco Space Invader. Antes do ás espacial tocaram Hardcore Superstar, outro nome local, que chama a atenção no terreno do Hard Rock, é o Exciter em sua formação original. E enquanto procurávamos um bom lugar para assistir ao Ace Frehley, eis que ouço do palco oposto uma música que não ouvia há muito tempo. Era o Riot (aqui listado como Riot V) fechando seu set com o clássico Swords and Tequila, seguido por Thundersteel; antes de tocar essa dobradinha o vocalista Todd Michael Hall trouxe o case de guitarra do finado guitarrista e líder da banda Mark Reale e fez um brinde com tequila. Após o término do Riot V, era a vez do Ace adentrar o palco principal do festival ao som de Fractured Mirror, como já é tradição. Em grande forma, tanto na guitarra quanto nos vocais, Ace tocou acompanhado de uma puta banda de apoio, contando com o excelente Scott Coogan (Lynch Mob, Lita Ford) na batera e Chris Wise (The Cult) no 48


baixo, além do antigo companheiro Richie Scarlet na segunda guitarra. Despido de praticamente qualquer aparato cênico (à exceção da “smokin´ guitar” usada em Shock Me), o guitarrista recheou seu show com clássicos de sua carreira solo e de seus tempos no Kiss, e colocou alguns do “lado B” também. Assim, em um set com Love Gun (muito bem cantada por Scott Cogan), tivemos também a obscura Strange Ways (essa cantada por Chris Wyse). Ou a obscura 2 Young 2 Die (do disco Trouble Walkin´, em sua gravação original cantada pelo parceiro dos tempos de Kiss, Peter Criss) ao lado da emblemática Shock Me. Uma característica dessa banda é que Ace deixa espaço para todos, cantando em sua maioria apenas as músicas que ele mesmo registrou em estúdio (exceção de Deuce e Cold Gin). Dessa forma, a banda atingiu um nível de performance musical comparável ao próprio Kiss, onde todos cantam. Pena que a luz do dia diminuiu momentos como o solo de Ace, com sua guitarra soltando fumaça, e de New York Groove, com a guitarra adornada com várias luzes. Após o Ace, veio a decepção do festival: Nuclear Assault. Vejam bem, adoro a banda desde a minha adolescência, por isso mesmo aquele show embolado foi triste de assistir. Sei bem que o Nuclear Assault nunca primou por performances muito apuradas, mas aquilo ali foi exagero. Apesar de terem tocado grandes clássicos como Brainwashed, Critical Mass, Betrayal, Stranded in Hell e Trail of Tears, foi muito aquém do que se espera de uma banda do cacife deles. A se elogiar apenas o fato de que John Connely continua com sua voz característica intacta. Após o Nuclear Assault, tempo para descansar, comer algo e beber algumas cervejas assistindo ao classic rock dos The Angels para relaxar. Os australianos fizeram uma ótima apresentação, animando bastante o público, enquanto no palco principal o Five Finger Death Punch era a atração do momento. Às 20:45, o Extreme entrava no palco para destilar competência numa apresentação excelente, contando sempre com o virtuosismo do guitarrista Nuno Bittencourt como elemento chave. Admito que nunca fui muito fã da banda, mesmo nos anos 90, mas esse foi um dos shows que eu colocaria no meu top 5 no festival deste ano. Gary Cherone no palco continua parecendo um cruzamento de Steven Tyler com Paul Stanley, embora no nível vocal esteja muito longe desses dois. Isso não quer dizer que sua performance tenha sido ruim, pelo contrário, cantou bem. É claro que os clássicos More Than Words, Hole Hearted e Get The Funk Out foram destaques, assim como o cover the Crazy Thing Called Love (Queen). Após o Extreme, chegava a vez de ver o Judas Priest, atração principal da noite. E, assim como nos shows do Brasil, algumas semanas antes, o que se viu foi uma banda cheia de vigor, com Rob Halford cantando absurdamente. Entrando em cena com a nova Dragonaut, a banda entregou seu show tradicionalmente recheado de hits, apostando no recente Redeemer Of Souls com a inserção de quatro músicas do disco no setlist. É ótimo também ter a volta de Love Bites, assim como Jawbreaker do grande Defenders of The Faith (disco negligenciado no setlist há tempos). Além de Devil´s Child, são as surpresas que o Judas preparou, o restante são as obrigatórias Metal Gods, Breaking The Law, Eletric Eye, Painkiller e outros hits que fazem a trilha sonora da história do metal. Terminado o show do Judas, o festival ainda continuaria com Behemoth e The Darkness dividindo o horário da meia noite até as duas. Porém, para nós, o festival já estava se encerrando, no dia seguinte iniciaríamos a longa viagem de volta para a casa, recheada de lembranças de mais essa aventura em terras escandinavas

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O L D

S K U L L

O final dos anos 80 e começo dos anos 90 viu surgir uma leva maravilhosa de bandas de Death Metal, vindas de todos os cantos do globo. Não pense que apenas a cena da Flórida (EUA) viu emergir tantos nomes, a Inglaterra foi responsável pela disseminação de uma vertente um pouco diferente, bem como o estilo sueco, mas todos elevando o “Metal da Morte” a novos patamares. Vindos da terra do Black Sabbath, a cidade industrial de Birmingham, o “Benê”, como é conhecido, fez frente junto com o Napalm Death, Extreme Noise Terror, Carcass e Bolt Thrower, todos surgidos um pouco antes, porém com fortes laços de envolvimento entre si. Oficialmente foi formado em 1989, no mesmo ano em que lançaram a demo “The Dreams You Dread”, com quatro músicas, que mais tarde seriam reaproveitadas no LP “Subconscious Terror”. Bom, vamos deixar vocês viajarem conosco para essa curta, mas significante discografia. Aproveitem! Por Maicon Leite.

“Subconscious Terror” - 1990 O primeiro lançamento oficial do Benediction trouxe a banda mais madura, mas ainda assim um tanto “podrona”, pelo fato de a gravação estar muito oscilante. Independente disso, o que ouvimos aqui é um Death Metal privilegiando o peso e os vocais marcantes de Mark “Barney” Greenway, que entra para o Napalm Death em seguida. A intro macabra nos faz pensar como seria o inferno, ou como o próprio título sugere: o portal para suas fobias. É curioso ouvir Mark usando efeitos em sua voz, ainda mais em clima tão satânico. A faixa-título tem início com muito peso e andamento mais cadenciado, para depois cair numa velocidade estonteante, característica que se vê em toda a discografia da banda. Em seguida, a clássica “Artefacted Irreligion”, perfeita para rodas violentas, irrompe os alto falantes, em uma fúria incontrolável. Outro grande clássico, “Spit Forth the Dead” tem na velocidade sua arma mais eficaz. Ambas foram regravadas e lançadas no single “Wrong Side of the Grave”, cover da música homônima do The Accüsed, e logo após, incluídas como bônus em “Transcend the Rubicon”, de 1993. Com uma qualidade de gravação superior, era de se esperar que o material ficasse ainda mais mortífero. E foi o que aconteceu! No geral, o tracklist apresenta uma coesão matadora, despejando riffs cavalares, cozinha consistente e, é claro, os urros indefectíveis de Barney.

Certamente um dos melhores dentro do seu estilo. Era apenas o início de uma grande carreira, que mesmo restrita ao underground, arrebatou milhares de fãs ao redor do mundo e continua a fazer a festa dos “deathmetallers”. Ah, não posso me esquecer de elogiar a capa, uma verdadeira obra de arte! “The Grand Leveller” - 1991 Após a estreia bem sucedida com “Subconscious Terror”, os ingleses sofreram sua primeira mudança de formação, com a saída de Mark “Barney” Greenway, dando lugar a Dave Ingram. Porém, Dave acabou dando ao Benediction uma cara própria, ainda que sua voz fosse parecida com a de Mark. Gravado depois de uma turnê com o Bolt Thrower e Nocturnus, “The Grand Leveller” revela uma banda mais entrosada e madura, o que acabou influenciando também na qualidade sonora do play, muitíssimo superior ao debut. O estilo Benê de fazer Death Metal ficou mais aprimorado, mas manteve aquele peso absurdo, velocidade animal e riffs demolidores. Poucas bandas conseguiram criar uma identidade tão forte mantendo-a intacta em todos os álbuns. “Visions in the Shroud”, e sua intro macabra dão início ao massacre, já mostrando que Dave acabou sendo a escolha certa. O instrumental, sempre coeso, transita entre o peso e a velocidade, como em “Graveworm”, certamente um dos destaques do disco, justamente por


esta característica e pelos riffs e solos marcantes, lá pelo minuto final da música. Iniciando de forma arrastada, praticamente um Doom Metal, “Jumping At Shadows” é arrasadora, seu ritmo vai acelerando aos poucos, para terminar numa porradaria infernal, com a participação especial de Karl Willetts, vocalista do Bolt Thrower, que anos mais tarde seria substituído por Dave no Bolt… No geral, o álbum é bem heterogêneo, destacando ainda a rápida e rasteira “Senile Dementia”, e o cover para “Return to the Eve” do seminal Celtic Frost, inaugurando a tradição em gravar covers. Entre as gravações e a mixagem do álbum a banda tocou com outros grandes nomes do Death Metal como Massacra e Dismember. Findando a tour, o baixista Paul Adams abandona o grupo, devido aos desgastes decorrentes da vida na estrada e problemas internos. Em seu lugar entra Frank Healy (ex-Cerebral Fix), que estreiou no EP “Dark is the Season”, de 1992. Mas daí é outro papo… “Dark is the Season” - 1992 Lançado em 13 de outubro de 1992, “Dark is the Season” é o típico EP que vale por um disco completo, tamanho o seu poder de destruição! São apenas cinco músicas, incluindo o magnífico cover para “Forged in Fire”, dos canadenses do Anvil, única música com a voz de Mark “Barney” Greenway. Dave Ingram, que já havia assumindo os vocais no disco anterior, canta em apenas três músicas, dando destaque para a participação especial de Karl Willetts, do Bolt Thrower em “Jumping At the Shadows”, retirada de “The Grand Leveller”. “Dark is the Season” é na verdade uma grande colcha de retalhos, contendo apenas “Foetus Noose” e “Dark is the Season” de músicas inéditas, inclusive a primeira chegou inclusive a ganhar um clip, contendo performances (animalescas) ao vivo. Já o cover do Anvil ficou destruidor, como assegura o próprio criador da música, em depoimento a este que vos escreve: “A versão do Benediction é ainda mais lenta e a voz é tão pesada como o próprio Satanás cantando. Eu prefiro o original, mas isso não quer dizer que a versão Benediction soa ruim ou pior, pois eu amei!”, disse Lips, guitarrista e vocalista da lenda chamada Anvil. A faixa-título tem um pique mais lento, praticamente um Doom, com excelentes arranjos, inclusive acústicos. “Jumping at the Shadows” tem aquela levada matadora no começo e depois cai na porradaria. A regravação de “Experimental Stage” fecha o trabalho, numa versão ainda mais mortal daquela encontrada em “Subconscious Terror”. Após o lançamento do EP, a banda saiu em turnê pela Europa com as bandas Asphyx e Bolt Thrower, para em seguida

começar a trabalhar em seu novo e clássico álbum, “Transcend the Rubicon”, conquistando de vez os headbangers ávidos por uma podridão bem gravada e executada. Esse será nosso próximo capítulo! “Transcend the Rubicon” - 1993 Dando sequencia na clássica discografia do Benediction, ”Transcend the Rubicon” com certeza é o disco mais comentado e apreciado entre os fãs da banda e do Death Metal em geral, ocupando lugar de destaque entre os grandes lançamentos do gênero. Ao analisarmos os discos anteriores, veremos que a banda já possuía uma sonoridade bem própria, ainda que faltasse amadurecimento técnico entre os músicos e mais cuidados na produção. A entrada do baixista Frank Heally, ocorrida durante a turnê anterior, talvez tenha influenciado o restante dos músicos, devido a sua experiência com o Cerebral Fix, já que o nível técnico de “Transcend the Rubicon” elevou-se consideravelmente, produzindo assim algumas das músicas mais marcantes de sua carreira. A capa, desenhada pelo mestre Dan Seagrave também tem seu lugar de destaque nessa obra, recheada de detalhes e, sem dúvidas, junto com o “Arise”, do Sepultura, é um dos melhores trabalhos do artista. O disco abre com “Unfound Mortality”, alternando partes mais rápidas com momentos mais lentos, característica comum de suas composições. O mais interessante nessa faixa, é que em certa parte a música é simplesmente interrompida, para em seguida, envolta em novo ritmo, dar sequência à pancadaria, voltando a sua forma original. O vocalista Dave Ingram solta berros sem dó nem piedade, assemelhando-se ao seu antecessor, Mark “Barney” Greenway. “Nightfear”, viciante, usa a velocidade como aliada, um verdadeiro arregaço de riffs cortantes e peso matador. Aliás, o serviço de Peter e Darren nesse álbum é algo fora do normal e ao que me parece, eles resolveram tirar da “sacola de riffs” um punhado de “navalhas sonoras” e jogar na sua cara! “Paradise Alley” e “I Bow to None” seguem o baile com a podreira característica, sem nunca abandonar o peso descomunal dos riffs, seja em momentos lentos ou mais velozes. “Painted Skulls” é fora do comum, seu começo trabalhado é o grande destaque, mostrando uma quebradeira muito legal, para em seguida iniciarem uma jornada mais “Doom”. Como todas as músicas são de igual valor, não preciso descrever uma por uma, creio que o ouvinte o fará ao ouvir essa obra prima, mas, não posso deixar de citar o cover para “Wrong Side of the Grave”, do The Accüsed. Tratase de um dos covers mais matadores registrados,


contando ainda com a participação especial de Karl (Bolt Thrower), Jan Chris (Gorefest) e Macka (Healer) nos vocais, fazendo aquela alternância entre as vozes que ficaram matadoras, ou seja, ao mesmo tempo em que há vocais guturais, existem os mais gritados, envoltos por esta excelente e inspirada composição. Relançado com algumas faixas bônus, “Transcend the Rubicon” está lado a lado com os grandes clássicos do Death Metal e fazendo frente ao lado do Bolt Thrower, Napalm Death e Carcass quando se fala em Death Metal vindo da terra do Iron Maiden e Judas Priest. “The Grotesque / Ashen Epitaph” 1994 Após o imenso sucesso do magnífico “Transcend the Rubicon”, o Benediction lança este EP contendo duas músicas inéditas e três ao vivo, gravadas na turnê deste último disco.. Agora estabilizados com Dave (vocal), Peter e Darren (guitarras), Frank (baixo) e Paul (bateria), o “Benê” tratou de manter a banda em evidência, preparando terreno para o próximo disco, “The Dreams You Dread”, de 1995. As músicas novas, “The Grotesque” e “Ashen Epitaph”, seguem o estilo clássico que consagrou a banda, moldado no peso e numa sonoridade bem própria, diferenciando-os dos outros medalhões do Metal extremo da época. Registradas no Rhytm Studios e produzidas pela própria banda com o auxílio de Paul Johnston, as duas faixas transbordam o mais puro e intenso Death Metal. Já as três faixas ao vivo, “Violation Domain”, “Subconscious Terror” e “Vision in the Shroud” foram gravadas alguns dias depois do Natal de 1994 para um público escolhido a dedo, numa audição especial do novo baterista, Paul Brookes, que substituía Ian Treacy. Há ainda um bônus track da música “We Are the League”, cover da clássica banda de Punk/HC inglesa AntiNowhere League, uma das grandes influências do grupo. Em suporte para a divulgação do EP, foi lançado um vídeo para “The Grotesque”. Apesar de ser um apenas um EP, “The Grotesque / Ashen Epitaph” marcou uma grande transição para a banda, que permaneceu forte em meio à década de 90. O único lado negativo é a ausência do tradicional logotipo na capa, afinal, além da música, a imagem é importante e a marca registrada de qualquer banda. Confiram este EP no volume máximo!

“The Dreams You Dread” - 1995 Chegando à metade dos anos 90, época dominada pelo Poppy Punk do Green Day e prestes a conceber o Alterna Metal (Korn e afins), o mundo do Metal se viu em uma situação complicada. No entanto, para as bandas 100% underground pouca coisa mudou, como é o caso do Death Metal e gêneros ainda mais subterrâneos. A explosão do estilo no começo dos anos 90 havia revelado centenas de bandas, muitas delas iguais entre si, mas com a ação do tempo somente as boas sobreviveram. O Benediction, que já desfrutava de grande prestigio em todo o mundo, continuou sua jornada com a Nuclear Blast, lançando o mediano “The Dreams You Dread”. Em comparação com “Transcend the Rubicon”, por exemplo, nota-se uma queda no nível das composições, mas nada alarmante. “The Dreams You Dread” marca principalmente a estabilidade da seção instrumental, com a entrada de Neil Hutton no lugar de Paul Brookes, após constantes mudanças no comando das baquetas. A partir daí Peter e Darren (guitarras), Frank (baixo) e Neil mantiveram-se unidos até “Killing Music”, de 2008. Curiosamente, “The Dreams You Dread” é o nome da primeira demo do grupo, lançada em 1989 e composta de quatro faixas, nenhuma regravada para o álbum em si (mas sim distribuída nos primeiros discos). O som característico do “Benê”, pesado e sujo, é uma constante, adicionando ainda os elementos mais rápidos (há uma grande influência de Hardcore entre os integrantes), fazendo com que músicas como “Certified...?”, “Path of the Serpent” (sacaram a leve referência à banda Amebix no começo da letra?) e a faixa-título se destaquem entre as demais. De qualquer forma, apesar de faixas um tanto quanto comuns e falta daquela pegada matadora do “Transcend the Rubicon”, onde todas as músicas eram destaque, foi bom ver a banda seguir seu caminho em meio a este conturbado período, retornando a velha forma no matador “Grind Bastard”, de 1998. “Grind Bastard” 1998 Vamos aos fatos: para quem tem acompanhado as resenhas de toda a discografia do Benê e que conhece a fundo sua história, sabe que a formação clássica da banda, com Dave Ingram nos vocais, chegara ao fim com o excelente “Grind Bastard”. Após lançar o disco


menos célebre de sua carreira, o (apenas) bom “The Dreams You Dread”, de 1995, os ingleses conseguiram dar a volta por cima na qualidade das composições e lançaram o fenomenal “Grind Bastard”, em 1998. Seria sacrilégio dizer que não se trata de um dos seus melhores álbuns! Totalmente entrosados, os músicos adicionaram doses ainda maiores de Hardcore, encaixando perfeitamente os vocais urrados de Dave com as batidas clássicas e empolgantes do estilo, resultando em faixas memoráveis. Para comprovar esse fato (não deixando de mencionar que o baixista Frank Healy veio do Cerebral Fix, grande nome do Crossover inglês!), há ainda um cover para “We Are The League”, clássico do AntiNowhere League, reproduzido aqui com a devida paixão e lançada na versão em digipack. Já a influência voltada ao Heavy Metal, já demonstrada com o cover de “Forged in Fire”, do Anvil, no EP “Dark Is The Season”, volta à tona com versões arrebatadoras de “Eletric Eye”, do Judas Priest, e “Destroyer”, do Twisted Sister, provando por A + B que o radicalismo existente na cena Metal restringia-se apenas a alguns poucos malucos… Banda de Death Metal gravando Twisted Sister? Que tal ouvir o Death tocando “God of Thunder”, do Kiss? Para algumas pessoas, tais coisas eram inconcebíveis (se bem que hoje em dia isso ainda existe, o que é uma pena). Deixando os gostos pessoais dos headbangers de lado, vamos ao álbum em si. Partindo desse princípio, o que ouvimos no restante das faixas é o estilo Benediction de fazer Death Metal somado às suas influências. Ora pesado, ora super rápido, os vocais inesquecíveis de Dave comandam a massa sonora com total aspereza e agressividade e é através dos riffs cortantes de “Deadfall”, com ótimos efeitos entre uma caixa e outra é que se dá início a um verdadeiro workshop de Metal extremo. A levada empolgante evidencia as batidas de Neil Hutton, ao passo que há muita variação envolvida, ganhando o ouvinte de imediato. “Agonised” se destaca pelos seguintes motivos: a pegada Hardcore, os bumbos duplos e a saraivada de riffs que seguem por toda a faixa. Pulando direto para “Magnificat”, onde o baixo de Frank e a batida de Neil Hutton evocam novamente o clima Hardcore, seguida da rapidíssima “Nervebomb”, o que temos é o Benediction em sua melhor forma, destacando-se substancialmente entre os lançamentos do ano em questão, ao lado de álbuns igualmente portentosos, como “The Sound of Perseverance”, do Death, e “Diabolical Conquest”, do Incantation. E após dobrarem o peso de “Eletric Eye”, clássico incontestável do Priest, disparam com a longa faixa-título do álbum, que ultrapassa 7 minutos de duração, mas que em nenhum momento cansa o ouvinte, devido à pegada cheia de garra e a interpretação única de Dave. Outra música que merece destaque é “Carcinoma Angel”, com excelentes fraseados de guitarra. “We The Freed” é praticamente rápida do início ao fim, com algumas partes mais

“grooveadas”, por assim dizer. A energia que emana da música possivelmente seria pretexto para violentíssimas rodas de pogo durante os shows. A lentíssima “Destroyer”, do Twisted Sister, apenas evidenciou seu peso nas mãos do Benê, enquanto “I” fecha o álbum da melhor maneira possível, considerada (pelo menos para este que vos escreve), um dos grandes clássicos da banda. “Grind Bastard” encerrou uma importante fase para a banda, e foi durante a turnê de promoção do CD ao lado do Death pela Europa que Dave Ingram pulou do barco, passando a bola para outro Dave, o Hunt, que deu sequência no giro e três anos depois estreou em estúdio com “Organized Chaos”, mantendo a sonoridade do Benediction intacta. Para ouvir de cabo a rabo. E vale mencionar a intrigante capa, que desde o seu lançamento ainda perturba meus pensamentos. OBS: fugindo um pouco do texto da resenha, a terceira faixa, “West of Hell” é baseada na figura do assassino em série Frederick “Fred” West, que nasceu na pequena cidade inglesa de Much Marcle, em Herefordshire. Há relatos de que ele e suas irmãs haviam sido violentados sexualmente pelos seus pais quando crianças, fato que nunca foi confirmado. Dentre os vários crimes cometidos por Fred e sua esposa estavam assassinatos e roubos. “Organised Chaos” - 2001 A então recente mudança de formação, com a troca de Dave Ingram por Dave Hunt, pode ter assustado os fãs, mas o resultado final de “Organised Chaos” ficou tão bom que esta chocante alteração foi pouco sentida. “Grind Bastard”, lançado há três anos, marcou não somente por ser a despedida, não anunciada, de Ingram, mas também pela inserção maciça das influências de Hardcore e na volta ao alto nível das composições. Agora com o antigo logotipo de volta, com arte de capa, belíssima, por sinal assinada por Kristian Wåhlin, vulgo Necrolord, o Benê continuou sua jornada entre o Death Metal e o HxCx de forma brutal e honesta, com Andy Sneap no comando dos botões, o que resultou numa excelente produção. Enfim, o caos foi organizado, com o perdão do trocadilho. Quem possivelmente falou mal do álbum não deve ter ouvido as músicas com atenção. Resenhas em diversos sites estrangeiros tendem a emitir criticas negativas, o que é inconcebível. A primeira faixa, “Suicide Rebellion” já dá provas concretas da qualidade dele, velocidade intensa e pegada assassina, com aquela batida Hardcore perceptível em vários momentos. Em relação às linhas vocais, logo se acostuma com a voz de Hunt, totalmente inserida no contexto da banda. A


segunda faixa, “Stigmata”, prima pelo andamento mais moderado, com doses cavalares de peso, já “Suffering Feeds Me” evoca aquela pegada mais veloz com riffs praticamente Hardcore, tornando-se um dos grandes destaques do CD. Outra com essa vibe é “The Temple of Set”, um arregaço em forma de música com menos de três minutos de duração. Alternando entre faixas mais cadenciadas e outras mais rápidas o Benediction soube trabalhar bem a transição de vocalistas e manteve a qualidade intacta. Enfim, “Charon” talvez seja minha preferida, perfeita para rodas de pogo, mas cabe a você ouvir e decidir a que mais lhe agrada. Indico também uma audição atenta ao belo trabalho de Neil Hutton em “I Am The Disease”, sobretudo na destreza com os bumbos. Para os mais atentos, nota-se a ausência de covers… Sim, o que já era tradição, acabou ficando para o próximo disco, e não minta para si mesmo, ouvir o Benediction tocando músicas de outras bandas é muito prazeroso, sobretudo em covers de Heavy Metal, como Anvil ou Judas Priest. No mais, ouça sem medo e tire suas próprias conclusões. Obviamente será impossível lançarem um “Transcend the Rubicon Parte 2” (meu preferido, diga-se de passagem), mas a qualidade é garantida em cada riff e batida. “Killing Music” – 2008 Chegamos ao final da discografia do Benediction com este grandioso registro. Mas, será mesmo o último? Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos! Lançado há sete anos, um tempo consideravelmente grande, se formos analisar, “Killing Music” apresentou aquilo que a banda sabe fazer de melhor: músicas pesadas, agressivas e com uma pegada transcendental de Hardcore. Um convite à insanidade. Focando em músicas de curta duração, a audição do CD transcorre de forma fácil, e a adição de covers, algo corriqueiro na carreira do Benê, apenas engrandece o conjunto da obra, afinal, Broken Bones e Amebix são nomes essenciais do Hardcore mundial. Merecida homenagem! Então, após uma intro bem simples, o caos tem início com “The Grey Man”, de grande velocidade, com algumas partes mais quebradas no seu decorrer, destacando-se a precisa bateria de Neil Hutton, com os bumbos “na cara”. “Controlopolis (Rats in the Mask)” segue na mesma pegada, esporrenta ao extremo (Dave Hunt vomita as palavras com muita classe!). A faixa-título não fica para trás, e não dá trégua até seu término, mostrando a excelente fase da banda na época. Aliás, cabe aqui um comentário bem pessoal: mesmo passando por uma boa fase, não entendo por que os caras passaram

tanto tempo sem lançar nada. O intervalo entre os lançamentos dos álbuns sempre foi de um curto espaço de tempo e nesses muitos anos que separam “Killing Music” dos dias atuais, o Benê inclusive chegou a tocar no Brasil, celebrando os vinte anos de lançamento do clássico “Transcend the Rubicon”. Voltando ao disco, “They Must Die Screaming” apresenta um ritmo mais cadenciado em seu início, para logo descambar para a velocidade extrema. Os riffs de Darren e Peter se sobressaem, mas há uma grande falta de solos, o que talvez passe aquela impressão de “estar faltando algo”. Assim como os riffs, solos são de extrema importância para criar algo marcante, mas que aqui é compensado com doses maciças de agressividade. “Burying the Hatchet”, por exemplo, possui menos de dois minutos e se você for entusiasta de transformar sua sala ou quarto em uma “academia de pogo”, essa é uma boa pedida. Dentre as quatro bônus track apresentadas na versão em digipack, estão “Seeing Through My Eyes”, do Broken Bones, com a participação especial de Markus Staiger (chefão da Nuclear Blast), Thorsten Zahn (da revista Metal Hammer) e Colin “Jock” Blyth (guitarrista do G.B.H.) nos backings vocals, e “Largactyl”, do Amebix, com Karl Willetts, vocalista do Bolt Thrower, fazendo os vocais principais, Billy Gould do Faith No More no baixo, Kelly Shaefer do Atheist e Steve Kenney (do Frost) nos backing vocals. Desde o início de sua discografia, com “Subconscious Terror”, de 1990, o que vimos foi uma banda se tornar clássica em seu estilo, com lançamentos que se tornarão itens indispensáveis aos fãs (“Transcend the Rubicon”) ou até mesmo dispensáveis (The Dreams You Dread). Há uma nova turnê sendo agendada para o Brasil em 2015, mas vamos torcer para que saia um novo disco o quanto antes. Seus admiradores agradecem.


I N F E R N O D O R A S C U N H O “Face of Terror” Por Ricardo Thomaz


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