HCi Jornal Conexão - Edição 11

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Cartas na Mesa

Bianca Vaz

E&P sim, sem esquecer refino e logística

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Petrobras finalmente apresentou seu Plano de Negócios 2010-2014, com investimentos totalizando US$ 224 bilhões – o que representa uma média de US$ 44,8 bilhões anuais para seus projetos, principalmente nas áreas de exploração e produção. Há quem afirme que os valores são muito altos e ainda que ela terá de rever suas projeções – o que ela faz todo ano, sempre para cima no último quinquênio. O fato é que o volume de investimentos cresceu menos de 30% em relação ao último PN, de 2009-2013, que foi de US$ 174,4 bilhões – e que teve um aumento de 60% em relação ao ano anterior, mesmo em meio a uma das piores crises econômicas das últimas décadas. Um reajuste da carteira e das projeções, com uma boa dose de conservadorismo, uma vez que os desafios pela frente são enormes. Os números mostram também que a estatal está programando melhor os novos empreendimentos em exploração e produção, uma vez que tem vários projetos já em andamento, incluindo no próprio pré-sal. E que se precaveu em separar recursos em outras áreas. No plano anterior, os novos projetos somavam US$ 47,9 bilhões, equivalente a menos de 30% dos investimentos totais. Nessa revisão, a estatal prevê US$ 31,7 bilhões para novos projetos, que equivalem a menos de 15% do total. Deste total, mais de 62% (US$ 19,7 bi) serão direcionados para exploração e produção (no anterior, os novos projetos de E&P somavam em torno de US$ 36,5 bi, equivalente a 76,4% do dos recursos previstos para esses empreen-

dimentos). Se volume de investimentos em novos projetos de E&P caiu no novo plano, os do abastecimento cresceram: representam 16%, somando US$ 5,1 bi, bem acima dos US$ 3,1 bi do plano anterior (que representava 6,5% da previsão de recursos para obras como Comperj e outros). Novos projetos na área de gás e energia, que no PN 2009-2013 ficaram 11,8% dos US$ 47,9 bilhões (US$ 5,6 bi), vão receber agora US$ 6,5 bi (21% dos US$ 31,7 bilhões previsto nesse PN para empreendimentos ainda a serem feitos nos próximos quatro anos. Ou seja, mesmo com o incremento das atividades de E&P, em áreas onde a Petrobras já fez descobertas ou tem indícios positivos de hidrocarbonetos, a estatal não pretende se aventurar muito em novos projetos de E&P. Até mesmo porque tem um portfólio de peso para assegurar, através de operações que confirmem sua viabilidade comercial (ele deverá declarar a comercialidade de várias áreas do pré-sal nesse e nos próximos três anos). Sem falar que tem ainda de acelerar os projetos já previstos no PN anterior, para monetizar suas operações em campos onde já há reservas comprovadas. O fato é que a petroleira brasileira sabe que é necessário investir em E&P sim, mas que nada disso vai funcionar se não expandir sua capacidade de refino, buscando o equilíbrio com o crescimento da produção nacional de petróleo. E se não reforçar as áreas de infraestrutura e logística, além de ampliar a utilização do petróleo nacional e monetização do gás natu-

ral na indústria gás química. Isso é visível na análise do PN como um todo. Dos US$ 224 bilhões (sendo que 95% – US$ 212,3 bi – serão investidos no Brasil), a área de E&P obviamente fica com o maior volume: US$ 118,8 bilhões. Em números absolutos, um aumento de 14% em relação à fatia que recebeu no PN 2009-2013, de US$ 104,6 bi (59%). Em termos percentuais, agora ficou com 53% do total. Deste total, nada menos que US$ 12,3 bilhões serão investidos na infra-estrutura necessária para suportar o crescimento da produção. Outra parte será usada para assegurar alguns recursos críticos: a petroleira espera ter maio disponibilidade de sondas de perfuração para águas profundas no mercado internacional, totalizando 26 sondas até 2014 e 53 até 2020 e 504 barcos de apoio até 2020. Os recursos para o E&P visam, principalmente, garantir a descoberta e apropriação de reservas, maximizar a recuperação de petróleo e gás nas concessões em produção, além de desenvolver a produção do Pré-sal da Bacia de Santos e intensificar o esforço exploratório nas outras áreas do pré-sal. Os US$ 73,6 bilhões (30%) previstos para o segmento de Refino, Transporte e Comercialização (contra US$43,3 bi no PN anterior, equivalente a 25% do total) confirmam a estratégia da empresa, já indicada na divisão do bolo de recursos para novos projetos. O novo PN prevê, além da ampliação de unidades existentes, a entrada em operação da Refinaria Abreu e Lima, da Refinaria Premium I e da primeira fase do Complexo Petroquímico do Rio de janeiro (COMPERJ) – que ganhou uma refinaria com capacidade de processar 165 mil barris de petróleo por dia (bpd) para produção principalmente de diesel. Com esses investimentos, a carga fresca processada no Brasil em 2014 será de 2,3 milhões bpd. Já o setor de Gás e Energia receberá US$ 17,8 bilhões (50% a mais que no PN anterior), para consolidar a liderança da Petrobras no mercado de gás natural – e entre os novos investimentos estão três plantas de fertilizantes para a produção de nitrogenados (Amônia e Uréia). O novo PN mostra que a companhia, efetivamente, continua mantendo seu foco no equilíbrio entre a produção e a sua capacidade de refino, para assegurar não somente sua autosuficiência em petróleo, mas também em derivados, com maior valor agregado, para garantir o superávit na sua balança comercial.

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