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ANCESTRAL SUA OBRA

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Washington

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É de extrema importância, contextualizar sua história ancestral para alcançar e enxergar suas obras, para além de seu delírio Seu passado, origem, memória e missão, dão vazão à sua poética Seu processo ultrapassou a criação como um artista, pois, tinha um tempo limitado para representar e registrar a sua passagem na terra

Bispo nasce em uma época sob pressão da cultura, com o sobrenome de seu pai, carregando designações católicas, Arthur Bispo do Rosário. Os vestígios de parentes desapareceram como os dos milhares de negros anônimos que engrossavam a massa dos homens nos engenhos de Japaratuba, no início do século. Entende-se que a sua vida, história e histórico ancestral, determinou sua arte Arthur, viveu parte de sua história no Nordeste, onde a tradição tem grande influência, determinando sua formação

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As comemorações de origem nordestina, começam com semanas de antecedência nos dedos ágeis de costureiras remendando vestidos de festa Os bordados são uma tradução perfeita da cultura do Nordeste e de Japaratuba (sua cidade natal), uma fusão de várias tradições, vindas da cultura africana e indígena, onde desenhos, brilhos e bordados eram celebrados em uma procissão com rainhas coroadas com cetros na mão ao lado do rei e guardas reais, ele cresce em meio a riqueza folclórica. Bispo então, protagoniza sua própria fé através de tradições recebidas por gerações de sua família, como de sua mãe, tias e avós e por toda vivência dentro de sua cidade, sua costura e bordado tem origem.

Bispo conseguiu em meio de sua arte, transitar racionalmente em três territórios que fizeram parte de sua memória: o folclore nordestino, sua passagem pela marinha e a sua fé cristã. No entanto, uma área maior pode ser encontrada em sua base visual, nos materiais e metodologia técnica, a sua ressonância na produção sergipana.Produzia seus objetos artísticos a partir do que encontrava pela sua frente, os fios azuis vindos das fardas de outros pacientes, lençóis para virar seus estandartes, pedaços de pano, pedaços de madeira, chinelos, canecas de alumínio, talheres, lonas e etc. E nesse universo, contando e quantificando objetos do mundo ao seu redor, sentia-se Jesus, o rei negro enviado por Deus.

Nesse sentido, o conjunto de trabalhos de Bispo de Rosário que engloba um mapa da África, um veleiro, uma vitrine com objetos como guias, imagens de santos, ciganas e de Iemanjá, ou sua obra "A Capa de Exu", estão diretamente em diálogo com a sua ancestralidade. Bispo cria um espaço de pertencimento dentro de suas obras, tornando sua arte não somente como algo de libertação, mas enxergando a cultura dos povos negros como potência, ele aponta para si e para seu grupo social, para que exista um reconhecimento, e assim, possa existir dignidade em suas existências. Apresenta-se, uma genialidade ressignificando esse universo íntimo em questões que colidem com esta urgência do revisionismo histórico, transformando "as vozes que lhe diziam que chegara o tempo de representar todas as coisas existentes na terra para apresentação no dia do juízo" nos apontando que esse momento é o aqui e o agora.

É visto que, em suas obras, em que aponta profundidade em sua ancestralidade, tem a existência de um embranquecimento de suas raízes, colocando o olhar apenas em sua loucura, sem uma contextualização de sua origem, dando então lugar a algo fantasioso, tirando-se a evidência de sua negritude ou presença da cultura de origem africana em suas produções.

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