GYM FACTORY PORTUGAL | Instrutores Nº11

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2. Porque o treino propriocetivo está associado ao desafio em superfícies instáveis? 3. Se após uma lesão os tecidos estão debilitados, será prudente adicionar instabilidade externa com o intuito de estimular a propriocepção? 4. As melhorias percecionadas não poderão dever-se à aquisição da habilidade técnica necessária a muitos desses exercícios? Num estudo publicado no Journal of Strength and Conditioning Research, comparou-se o efeito de 7 semanas de treino com exercícios realizados em

superfícies instáveis e estáveis num grupo de indivíduos sem experiência de treino. Os autores referem que ambas as formas de treino promoveram o mesmo tipo de adaptações. Por outro lado, citam outro investigador que refere que o melhor método para promover melhorias no equilíbrio, na propriocepção e na estabilidade do core para qualquer desporto é praticando a habilidade específica dessa mesma atividade (Behm, D, Kibele, A. Seven Weeks of Instability and Traditional Resistance Training Effects on Strength, Balance and Functional Performance, 2009). Aproveitando o exposto, penso poder partilhar com o leitor que, em meu entendimento, qualquer forma de exercício é propriocetivo e que uma multiplicidade de fatores se relaciona para que possamos afirmar que a melhoria de aspetos aparentes da motricidade se deve a algum método em particular. A aprendizagem motora é um campo de conhecimento muitas vezes desconhecido e que pode mascarar muitos aspetos

tidos como de melhorias induzidas. O aparecimento de equipamentos e métodos que requerem uma grande habilidade motora pode confundir o profissional que não reflita de forma ativa acerca da sua prática – Estará o cliente a melhorar efetivamente a sua capacidade neuro-músculo-articular, ou estará a melhorar o skill técnico de uma nova habilidade que lhe pedem para executar em cima de uma superfície instável ou outro equipamento? Em outra publicação no Journal of Strength and Conditioning Research, os autores revelaram que a activação electromiográfica do multifidus lombar em exercícios com peso livre era maior quando comparado com os realizados em bola suíça. Sugerem também que, o risco inerente às tarefas executadas em cima da bola suiça e a sua pouca aplicabilidade para o recrutamento muscular a tornam desnecessária (Martuscello, J. et al. Systematic Review of Core Muscle Activity During Physical Fitness Exercises, 2013). Um profissional deverá pautar a sua prática por uma reflexão constante, colocando em causa o aparente e entrando com a profundidade devida nos assuntos que, não raras vezes, se assumem como verdades absolutas. Não afirmo que treinar em superfícies instáveis seja mau, no entanto, gostaria de despertar no leitor a noção de que o corpo humano, quando está a ser estimulado sob a forma de exercício físico está a interpretar as forças que lhe chegam e a encontrar a melhor resposta possível com os mecanismos biológicos que possui na circunstância. Se não se conhecer o seu potencial e as suas limitações poder-se-á, de forma perigosa, hipotecar o carácter aquisitivo e adaptativo que o exercício deveria transportar.

O treino da “propriocepção” que sugiro assenta em algumas premissas: • Compreender o Corpo Humano – Anatomia e Fisiologia Articular, Muscular e Neural • Compreender a Mecânica do Exercício – Leis da física que pautam qualquer forma de exercício. • Articular a Mecânica do Exercício com o conhecimento do Corpo, portanto, compreender a Biomecânica de qualquer forma de exercício para um dado Corpo. • A humildade de assumir que por detrás da motricidade está um complexo sistema biológico extremamente sensível às condições iniciais onde qualquer alteração provoca uma reorganização das partes que o constituem tornando altamente imprevisível um resultado pré-determinado. Deste modo, novos olhos e perspetiva nascerão para o profissional do exercício e da reabilitação que deverá procurar, uma construção, prescrição, monitorização e reconfiguração da construção idealizada tão específica e aberta às possibilidades de resposta quanto a complexidade do sistema motor o permita. Assumir que a propriocetividade é um sentido, tal como o paladar, audição, visão e olfato, será abrir portas para o seu conhecimento fisiológico e, consequentemente, para um melhor entendimento da forma de induzir melhorias na motricidade dos clientes que elevem o exercício (Força aplicada a um corpo com um determinado esforço e duração) a Exercício (Estimulação adaptativa).

Nuno Filipe Pinho Personal Trainer Formador EXS

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