Em foco edição nº 154 14 de outubro de 2012 (2)

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Repórter vive um dia de Peter Pan e revive brincadeiras do passado em escola pública de Campo Grande

Crianças ainda sabem brincar Foto: Arquivo pessoal Vinícius Nunes

Vinícius Nunes

CAMPO GRANDE - OUTUBRO DE 2012

B OA N OT Í C I A

Quando recebi a tarefa de ter que contar uma coisa boa, comecei a ficar pensando nas coisas que tinha visto nos últimos tempos. Recordei de ver crianças pulando corda, e brincando de verdade em uma escola. Visto que ultimamente este tipo de cena tem ficado raro devido a tantas tecnologias que as crianças e adolescentes estão conhecendo. É a Internet, os vídeo-games, celulares e tocadores de MP3 que cada vez invadem os lares destas crianças fazendo com que muitas vezes esqueçam o que é brincar. Me recordando disso resolvi voltar ao colégio onde vi várias vezes esta cena para ter esta experiência de brincar com elas, saber do que elas gostam, e quais as brincadeiras que elas sabem. Se realmente elas brincam como os nossos pais brincavam em casa e na escola. A surpresa foi que muitos adoram aquelas velhas brincadeiras de pega-pega e esconde-esconde. Descobri brincadeiras que jamais tinha conhecimento, e o mais legal, brinquei com elas! Na minha infância eu não brinquei muito. Vivia em casa e sempre fui muito tímido. Para mim foi uma emoção ter voltado a ser criança. Me lembrei o quanto é bom ser uma. E despertei o meu lado infantil que acredito que todos nós temos, que devemos despertar sempre que possível. Reparei que as crianças não reparam na sua roupa, no seu jeito de ser. É como se elas valorizassem o que você é, e não o que você tem. Os adultos esquecem de ser assim. O coração de uma criança é o mais puro, gentil e verdadeiro que você pode procurar em uma pessoa. Quando comecei a brincar, os adolescentes olhavam para mim e começavam a rir. Eu fi-

N o s t a l g i a - Acadêmico volta à infância e constata que crianças ainda se interessam por um entretenimento que não envolva tecnologias presentes no mundo moderno

quei sem graça no começo, mas depois pensei: “Quer saber? Não estou nem aí. Hoje quero me sentir uma criança de novo!”. E consegui. Brinquei com eles, no chão da escola mesmo, de Corre Cotia. Aquela velha brincadeira de criança que você começa a cantar uma música, enquanto uma criança dá a volta no círculo com um objeto na mão, até que ela coloca o objeto atrás da criança e esta tem que correr para pegar a outra, e tomar cuidado para a mesma não sentar no seu lugar e você ter de dar a volta na roda e escolher o próximo. Eu corri bastante! E fui pego várias vezes. Quando você é pego você é a galinha choca, e tem que ficar no meio do círculo até outra criança ser pega de novo. Fui galinha choca várias vezes. Enquanto cantávamos perguntei o que elas gostavam. Conversei como se fosse da idade deles. Sorrimos juntos, foi divertidíssimo. Até uma menina pediu por favor para que eu fosse o professor dela! Eu fiquei emo-

cionado. Disse que se eu pudesse com certeza seria. O nome dela era Adriele, e ficou perto de mim o tempo todo, conversando e dando risada junto comigo. Quando eu mudava de lugar ela ia atrás. E toda hora dizia que queria que eu fosse o professor dela. Eles até me chamaram de professor. As crianças possuem uma alegria contagiante. Tentei me recordar de quando senti isso quando criança. E foram raras as vezes. Descobri que elas adoram a tecnologia que cada vez mais deixam elas mais isoladas, porém nunca vi uma criança se divertir mais do que brincar ali, no chão, se sujando, não se importando com nada. Posso brincar? Esqueci totalmente dos problemas. Esqueci por um bom tempo que estava ali apenas para experimentar o que elas faziam para depois relatar. E sabe o que é mais interessante? Aqueles adolescentes que riam de mim, alguns deles começaram a brincar

também! Eles chegavam até mim e perguntavam: “Posso brincar?”. Eu dizia: “Mas é claro”. Era mais uma criança fazendo parte de toda a diversão! Brincamos também de “Passar o anel”. Achava que elas nem conheciam esta brincadeira. Brincamos de “Gato e Rato”. Uma brincadeira que eu não conhecia e que achei hilariante! Se faz uma roda com todos de mãos dadas, o rato fica dentro do círculo enquanto o gato tenta pegar do lado de fora. Ele tem que tentar passar entre os braços que fecham o círculo. Enquanto as pessoas da roda devem fechar para impedir que o gato entre nele e pegue o rato. Às vezes acontece do rato ficar fora do círculo e o gato ficar preso. É algo como uma brincadeira corporativa. Todos ajudam o pobre ratinho indefeso a escapar do gato se não ele morre. E todos devem saber o que estão fazendo para proteger o ratinho amigo. Uma forma de metaforizar que somos ratos em uma sociedade cheia de gatos que querem nos pegar. Porém Foto: Vinícius Nunes

sempre irão existir amigos dispostos a nos ajudar. Todos por uma união que faz a diferença às vezes entre a vida e a morte sem percebermos. No caso da brincadeira é um caso entre ser pego ou não. Imaginação Adorei a forma como as crianças interagiam entre elas e comigo. Depois conversamos de outras brincadeiras que elas conhecem. E são tantas que não é possível brincar todas elas em um único dia, o que me deixou mais feliz foi o fato das crianças ainda brincarem. Porque este tipo de brincadeira melhora o nível social das crianças, além de, permitir uma atividade física boa, aprender a não ser egoísta e se interagir com toda a escola. Fazer um pequeno espaço da escola ser o seu “esconderijo secreto”, ativa na criança o senso da imaginação, e o mais legal. Faz com que elas fiquem de sorriso de orelha a orelha o tempo todo. Entretenimento este que em jogos eletrônicos é muito curto. Elas brincam mais na hora da aula de educação física, porém é importante resgatarmos esta forma de brincadeira que é mais antiga do que o tempo dos nossos pais. É uma cultura que não

deve ser perdida jamais. E tem mais uma notícia boa. Eu e mais uma coordenadora da Escola Luisa Vidal, escola onde eu visitei, vamos elaborar um projeto para resgatar mais brincadeiras antigas, algumas que nem mesmo as crianças sabem. Resgatar uma tradição que não pode ser perdida é ótimo! E ajudar estas crianças a serem mais crianças será um grande prazer. E poder voltar a ser criança novamente será bom demais. E você? Quando foi a última vez que brincou? Se faz muito tempo, pegue seus filhos, sobrinhos ou primos pequenos e finja por um bom tempo ter a idade delas. Tenho certeza que você vai querer mais e mais, assim como eu, que em breve começarei esse projeto com aquelas crianças. Quando estava saindo da escola uma das coordenadoras que estava conversando com todos os alunos, levanta bem alto um anel e pergunta: “Alguém perdeu um anel?” Comecei a rir, me lembrei que a pouco tempo, naquele mesmo lugar onde todo mundo estava sério para se dividir para ir para a aula, eu e um monte de crianças brincávamos com aquele anel justamente para descobrir de quem ele era. Ser o peter-pan de vez em quando faz bem a saúde.

EM FOCO

Foto: Vinícius Nunes

D i v e r s ã o - Passa anel foi uma das brincadeiras escolhida pelo repórter para interagir com os estudantes do colégio

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14/2/2013, 12:31

T r a d i ç ã o - Resgate de passatempos antigos foi objetivo da visita


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