Peter Pan: uma nova aventura, Josué Dantas

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Copyright desta edição © 2023 by Grupo Quimera

Todos os direitos reservados

Editor Responsável

Vagner Araújo

Versão Final

Marianna Roman

Esta é uma obra de ficção. Os personagens e as situações desta obra são reais apenas no universo da ficção; não se referem a pessoas e fatos concretos, e não emitem opinião sobre eles.

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

PETER PAN/ DANTAS, Josué – 1. ed. – Rio de Janeiro: Grupo Editorial Quimera, 2023.

1. Romance brasileiro I. Título

21-57292

CDD-B869.3

Índice para catálogo sistemático:

1. Romance : Literatura brasileira B869.3

[2023]

Todos os direitos desta edição reservados ao GRUPO

QUIMERA

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Dedico este livro à minha irmã, Adriely. Que essas páginas venham te inspirar e que você possa crescer com graça e sabedoria.

Somos pó e sombra.

Quinto Horácio Flaco

PRÓLOGO

A magia tem um jeito engraçado de brincar. As fadas sempre foram criaturas belas, brilhantes e bondosas em todos os contos; as sereias eram lindas mulheres com sonhos e encantos; já os piratas eram egoístas e queriam tomar todo o tesouro só para si.

Alguma coisa mudara desde o fim do Capitão Gancho. Foi possível ouvir o som de um tecido rasgando, como um pano sendo descosturado, uma ruptura no sistema mágico, um fragmento perdido vagando pelo espaço sideral, amaldiçoado no véu das dimensões.

Havia um lugar sombrio, esfumado e aterrorizante por ali. O fragmento se perdera e fora consumido pela escuridão de um pesadelo, uma dimensão diferente e meio silenciosa. Ele não tinha lembranças; seus pensamentos estavam ocos, como uma casca vazia, sem resquícios ou frações do que já fora. Não se sabia como havia chegado ali, mas estava certo de que aquele não poderia ser um bom destino.

Todos que chegavam àquele lugar se lembravam de seu armazém de memórias conscientes e de tudo o que havia acontecido até aquele ponto, porém ele não. Sua mente foi preenchida com um amontoado de memórias falsas, como uma costureira estofando a cabeça de uma pelúcia.

É claro que a magia sabia brincar, mas era manipulada por aqueles que a tinham em mãos. Pesadelos não são reais, mas se ele fosse sua casa, a que ponto iria essa irrealidade?

Uma terra de faz de conta que te diverte, arranca sorrisos, faz com que crianças possam voar, conversar com fadas e sereias possa ser tão divertido... Mas qual é o preço a se pagar por tamanha diversão? Todas as coisas vêm com um preço, não é? Desde os tempos mais remotos, as pessoas conseguem seus bens através de um preço, seja ele dinheiro, escravos ou especiarias... Qual era o preço por viver em uma terra com magia e felicidade?

Seja qual for, Peter Pan estava disposto a pagar. Ele encontrou aquele lugar enquanto voava para longe, mas havia ficado tempo demais fora do mundo humano. Ele não imaginava quantas lágrimas sua mãe já havia derramado no carpete da sala e no travesseiro antes de dormir.

Ele era uma criança, um adolescente, na verdade, uma vez ouvira pessoas que os visitavam falando sobre como ele deveria ser em um futuro não tão distante. As pessoas haviam feito planos para ele. Pessoas que nem mesmo o conheciam de fato.

Sua mãe o mandava para a escola, mas ele fugia de todas as aulas para brincar do lado de fora com as árvores, pulando do alto, acreditando que iria voar. Seus professores achavam aquilo uma completa tolice e diziam que ele precisava de um médico que examinasse a fundo sua cabeça, mas Peter não se importava.

Uma vez ouviu um dos professores falar com sua mãe sobre o futuro de Peter. Dizia que ele precisava se concentrar nos estudos, do contrário nunca seria o gerente de um banco ou dono de posses poderosas, talvez nem mesmo viesse a se casar.

Peter detestava qualquer ideia que tivesse a ver com ser adulto. Eles não se divertiam, não saíam para brincar, não subiam em árvores, não acreditavam que poderiam voar. E agora estavam falando sobre ser gerente de banco? Escritórios? Casamento? Por que alguém iria querer ter tudo isso quando se pode ser criança para sempre? Brincar com o relógio do tempo. Voar até as estrelas, encarar o Big Ben de tão perto a ponto de mudar a direção dos ponteiros... E se fosse possível? E se a fantasia fosse real? Era uma questão contraditória, talvez até paradoxal, mas como seria?

Em uma noite, ele fugiu de casa pela janela e pulou o muro da escola. Decidiu subir em uma árvore bem alta, que se esticava até o telhado. O garoto respirava ofegante pelo medo de cair e pelo frio de inverno, que deixava a ponta do nariz vermelho.

Ele encarou o céu e viu uma estrela brilhar mais do que as outras, mas depois conseguiu enxergar uma segunda estrela cintilando atrás dela, como se fosse um furo no manto da noite que escondia uma imensa terra de possibilidades e aventuras inexploradas.

Peter decidiu acreditar. Ele tirou seu casaco, seu cachecol e fez sua mente acreditar, não era preciso muito esforço, era um adolescente que cria no impossível. Logo, acreditar que poderia voar não era tão difícil. Ele decidiu... e pulou. Em nenhum momento, ele acreditou que iria cair, ele nem mesmo fechara os olhos ao pular. Seu corpo se equilibrou e ele se aprumou em perfeição ao voar em direção ao céu.

O garoto expunha seu sorriso para a noite, sendo confortado pela luz da lua. Ele sabia que a vida que queria não poderia estar na gerência de um banco, ou em um casamento, ou com um filho no colo. Ele só queria ser um menino para sempre e se divertir.

Então ele voou mais alto e alcançou o céu, sem duvidar em momento algum. Ele viajou o espaço sideral e viu milhares de planetas, estrelas e cometas. Sabia que estava voando por onde a maioria das pessoas nunca havia nem sonhado em estar. Mas ele estava procurando um lugar específico, uma terra que vira em seus sonhos e que acreditava ser perfeita para um garoto como ele.

Foi então que avistou um vislumbre de uma ilha. Estava envolvida em um manto claro como a superfície transparente da margem clara do mar. Ele aprumou seu corpo e voou em disparada para aquele lugar.

Peter atravessou o véu e caiu do céu em uma grama bem quentinha em que vários sóis banhavam seus raios. O céu estava muito claro e ele enxergava muitas cores e vida. O canto dos pássaros encantava seus ouvidos, como as boas vindas da primavera.

Ele voltou até ali diversas vezes, porém, o tempo naquele lugar se passava de forma diferente; havia vários sóis e luas naquele lugar. O tempo não era o mesmo. Um dia, ele passou mais dias do que esperava, esquecendo-se aos poucos de sua terra natal, mas decidiu voltar.

Quando chegou em sua casa, sua mãe estava segurando um bebê nos braços, uma outra criança, um outro filho. Peter não sabia quanto tempo havia se passado, mas não aguentava ver aquela cena, não suportava a ideia de continuar sentindo em seu peito o que estava sentindo naquele momento. Então, ele voou, voou para longe, para o furo na costura, para a terra além do tempo e do espaço, para o véu claro como a água. Ele decidiu ser imortal, deixar seus pensamentos voarem em outro lugar, que não aquele.

O garoto atravessou o véu de água e caiu com força no chão, mas não se machucou. Ele chorava muito e agarrava a grama como se fosse a única coisa no mundo enquanto rolava na terra e na lama, sujando a calça e a camisa verde desbotada. Ele gritava ao mesmo tempo que chorava, com raiva e tristeza transbordando do peito.

Um som de um pequenino sino chegou aos ouvidos de Peter, que saiu da lama e sentou-se com rapidez.

Quem é você? ele ouviu uma voz, mas sua visão ainda estava embaçada demais para conseguir enxergar alguma coisa. Quem está aí?

Eu...

Você é um fantasma?

Fantasma?

Eu não estou conseguindo te ver ele esfregou os olhos e piscou algumas vezes.

Consegue me ver agora?

Peter encarou um ponto branco e levemente amarelado em sua frente. Ele não tinha ideia do que era aquilo então decidiu perguntar, tendo cuidado para não soar rude.

Quem é você?

Eu sou Tinker Bell, mas pode me chamar de Sininho.

E... o que é você?

Não é óbvio? Eu sou uma fada.

Fada? Que legal! Podemos brincar?

Claro que podemos. Qual é o seu nome?

Peter. Peter Pan.

O garoto e a fada se divertiram o dia inteiro e, no fim dele, Peter decidiu que não voltaria mais para sua casa. Sua mãe não estava mais triste, ele pensava, não havia motivo para regressar. Ele finalmente tinha tudo o que queria, tudo o que precisava.

Quando a noite chegou, Peter e Sininho ficaram apreciando o desfile de nuvens, estrelas e luas pelo céu. O menino conversou com ela e disse que em seu mundo só havia uma lua.

O tempo lá passa diferente daqui disse Sininho em sua forma minúscula, sentada no ombro de Peter.

Eu não me importo mais. Não quero saber daquele mundo.

Não me parece ser muito ruim.

É muito ruim. As pessoas querem entrar na sua vida e fazerem o que quiserem sem nem perguntar. Eu só queria ser feliz, só queria me divertir um pouco.

Aqui você pode se divertir por muito tempo. Vai adorar esse lugar. Posso te mostrar as outras fadas, sereias e tantas outras coisas.

Seria incrível ele abriu um sorriso e sua mente viajou ainda mais.

Mas não é seguro ficar aqui à noite.

Por quê?

A Terra do Nunca está sendo atacada por sombras malignas. Quando os sóis estão no céu, estamos protegidos; mas quando a noite chega, elas ficam à solta.

E o que essas sombras fazem?

Em poucas palavras: transformam sua vida em um pesadelo sem fim.

Vocês precisam ter fé. A única maneira de vencer as sombras é com o poder da luz. Acho que vale a pena tentar.

Poder da luz...

Exatamente.

Peter! ela exclamou em êxtase Existe um livro mágico aqui. Ele contém vários segredos da Terra do Nunca. Você acha que...

É claro que sim, vamos buscá-lo.

Será que devemos?

É a nossa chance. Imagine só. Nossa primeira aventura... contra sombras malignas sedentas.

Tudo bem Sininho sorriu animada e levantou voo, guiando Peter acima das árvores, prontos para pegar um livro mágico e darem início a sua primeira aventura juntos na Terra do Nunca.

Magia é uma estupidez!

... Às vezes, quando as luzes se apagavam, August ficava deitado na cama imaginando o motivo de estar ali, viajando no espaço sideral dentro de sua cabeça, procurando alguma estrela iluminada o bastante para tirar a atenção da escuridão da mente, como estava fazendo naquele momento...

Londres, 1915

AS SOMBRAS PINTAVAM as paredes do quarto. Espalhavam-se como manchas retorcidas de monstros e caveiras dançando no cômodo.

Havia um espelho perto do armário. Nele, aparecia um homem usando um chapéu largo nas pontas com uma pluma branca presa ao lado, uma jaqueta de marinheiro da mesma cor do vinho na garrafa em sua mão e uma calça escura onde guardava uma espada afiada em uma bainha no cinto da calça. Na extremidade do braço direito, nada de cinco dedos, só um gancho bem afiado.

Se August fosse grande o bastante, poderia derrotá-lo. Mas um garoto daquele tamanho não teria chance contra um homem com uma arma tão pontuda no lugar da mão.

Ele foi se aproximando bem devagar. Seus olhos eram como dois rubis presos ao rosto e sua raiva parecia prestes a engoli-lo vivo. Teve sorte de tudo aquilo ser apenas um sonho. ***

Dizem que nossa casa é como um porto seguro, nosso círculo de proteção, o lugar em que você mais é amado no mundo inteiro. August sempre achou esse pensamento muito bonito, a ideia de um lar perfeito parecia fantástica, mas... e quando você não tem uma casa? E se aquilo que te ensinam a chamar de lar é, na verdade, uma mansão cheia de meninos assustados e perdidos que não têm para onde ir?

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Uma vez, ele ouviu as mulheres de branco chamarem de orfanato. Esse era o nome da minha casa? Orfanato? Soava tão triste. Seria um lar de garotos perdidos? Quantas perguntas... Será que as outras crianças eram tão curiosas assim? Ele não duvidaria.

Os meninos não tinham acesso ao mundo de fora. Moravam em um lugar enorme com grades nas janelas e cortinas grossas e pesadas. Dormiam em quartos separados por idade. August ficava no quarto três, junto às outras crianças de nove aos doze anos. Mês que vem, se mudaria para o quarto quatro e ficaria com Neville, um dos poucos amigos que fez ali.

O toque de recolher era às nove em ponto, não que tivessem muita escolha, as mulheres de branco os trancavam do lado de dentro e só podiam sair às seis da manhã do dia seguinte, sem falta, senão seriam castigados.

Às vezes, quando as luzes se apagavam, August ficava deitado na cama imaginando o motivo de estar ali, viajando no espaço sideral dentro de sua cabeça, procurando alguma estrela iluminada o bastante para tirar a atenção da escuridão da mente, como estava fazendo naquele momento.

BUUH! exclamou Harry, seu outro amigo, quase o fazendo derrubar a estante de livros ao lado.

Precisa parar de tentar me assustar; você está se envergonhando disse August.

E você precisa parar de ser tão chato. O Neville conseguiu roubar as batatas fritas da cozinha. Pelo menos nosso almoço não vai ser tão chato como esse livro que você está lendo ele esticou as pernas na cama e bagunçou o cabelo molhado e escuro de August. A pele amendoada era tão macia que nem parecia que estava perto da idade de ter espinhas.

Só estava lendo por causa do Neville, ele me obrigou. E por falar nisso, ele vai acabar se encrencando. Sabe o que as mulheres de branco fazem com os meninos desobedientes.

O Neville é inteligente, e aquelas mulheres são lentas demais para ele.

É verdade.

Então... sobre o que é esse livro tedioso aí?

É só um monte de bobagens sobre piratas, fadas e um menino que não envelhece.

Ah, o Peter Pan.

Já ouviu falar?

Sim, não fale mal dele. A história é boa.

Mas você acabou de dizer que é um tédio.

Eu gosto da fada.

Odeio fadas August revirou os olhos.

Mas você nem acredita nelas.

Odeio a ideia de qualquer inseto voando no meu ouvido.

Fadas não são insetos, seu...

BOM DIA, MOCINHAS! Neville abriu a porta do quarto arfando, como se estivesse fugindo de alguém. Ele se jogou na cama, colocou uma mecha de cabelo castanho para o lado e respirou fundo. August notou que a pele dele estava rosa e provavelmente quente de tanto correr Comam antes que aquelas horrorosas descubram que eu roubei as batatas.

Você é maluco! August fechou o livro e sentou em cima das pernas Mas passa logo essas batatas para cá e não esquece de fechar a porta.

Ah! Senti saudades de vocês, suas delícias douradas! Harry começou a beijar as batatas.

Sinto pena da sua futura esposa disse Neville.

Nem me fale August deu uma risada E como estão as coisas lá embaixo?

Chegou um menino novo disse Neville com a boca cheia de batatas.

Sério? E como ele é? Harry parecia espantado.

Abandonado aos dois anos, histórico de dois orfanatos e chegou aqui com quatorze anos.

Quatorze anos? Então ele vai ficar com você disse August.

E você vai ficar com a gente no mês que vem.

E eu vou ficar sozinho disse Harry.

Até parece, logo depois você vem com a gente. E vamos ficar juntos por muito tempo até o próximo de nós ir para o quarto cinco August tentou aliviar o clima.

Será que a gente vai ficar aqui para sempre? Neville pesou o clima de novo O quarto cinco é para os meninos de dezesseis anos. Depois que fizermos dezoito... Vão nos mandar embora.

Vão nos adotar antes. Pode ter certeza disse Harry.

Tomara.

E o que está achando do livro? Neville parecia animado.

Uma estupidez. Magia? Fadas? Isso não é para mim.

Você precisa de motivação. Essa história é perfeita. Imagina um lugar sem regras, onde você poderia brincar para sempre, sem precisar se preocupar com a falta dos pais, sem mulheres puxando nossas orelhas, sem emprego, sem filhos, só... Diversão.

É uma fantasia muito bonita, mas é só isso: uma fantasia. Não quero colocar na minha cabeça uma coisa que não existe.

Talvez, se você...

QUEM FOI QUE PEGOU AS BATATAS?! a voz ecoou até o quarto.

Se escondam disse Neville.

Harry e August se esconderam no guarda-roupa e Neville se enfiou debaixo de uma das camas, bem na hora que duas mulheres de branco entraram. Uma delas gritou:

Aquele pivete roubou de novo a nossa comida!

Como sabe que foi ele? perguntou a outra.

É sempre ele.

Ah, minha Santa Maria, eu estou tão feliz que logo esses pivetes vão embora desse lugar agradeceu a primeira mulher, jogando-se em cima da cama que o Neville estava escondido.

Vão embora? Como assim? Alguma família vai adotá-los? a outra mulher também se sentou.

Mas é claro que não. Não está sabendo? O orfanato vai fechar.

August sentiu o coração tremer dentro do peito.

Fechar? E para onde as crianças vão?

Eu sei lá, e sinceramente não me importo. Por mim, podem todos ir para o inferno.

Que horror! Não precisa falar assim. São só crianças.

São capetas. Capetas que roubam nossa comida, nosso tempo e nossa vida ela se levantou Vamos, vamos embora daqui.

Elas saíram do quarto resmungando alguma coisa sobre serem demitidas e sobre acerto de salário.

Demorou um tempo antes de saírem dos esconderijos. Estavam tentando entender aquilo que tinham acabado de ouvir.

Meninos uma voz ecoou pelo quarto.

Ótimo. Ela chegou, August pensou. Ao menos uma notícia boa no dia. Harry e August abriram a porta do armário antes que se sufocassem

Mia disse Neville tentando se desembaraçar dos lençóis da cama.

***

Precisa falar mais baixo; as mulheres vão ouvir você August sussurrou.

Que se danem todas elas disse Mia pulando da janela para dentro do quarto.

O cabelo dourado estava embaraçado e os olhos esverdeados vibrantes de animação como sempre. Estava usando uma camisa verde clara e uma saia da mesma cor, só que mais escura.

Mia era a melhor amiga dos três pobres órfãos. Brincava com eles desde que lembravam, mas sempre escondida. Os pais dela eram ricos, estudava numa das melhores escolas de Londres, mas tinha pouquíssimos amigos, ou melhor, apenas August, Harry e Neville.

O orfanato proibia a presença de garotas, então tínham que brincar escondidos. Às vezes, até fugiam para se divertirem nas ruas, onde ninguém era dono de ninguém.

Então? O que vamos aprontar hoje? Mia fez uma pirueta.

Não estamos no clima disse Harry.

Sempre estamos no clima.

Hoje não August baixou os olhos.

Ouvimos as mulheres de branco falando que o orfanato vai fechar disse Neville.

Fechar? Como assim?

Não faz sentido nenhum afirmou Neville.

E para onde vocês vão?

Para o inferno disse Harry revirando os olhos.

Para de brincadeira Mia revirou os olhos

Ele não está muito errado August ergueu o olhar Talvez sejamos jogados na rua

Mas isso seria bom, não é? Assim poderíamos brincar para sempre, sem ninguém mandando em nós.

Você ficou maluca? Harry falou um pouco alto demais Como ir para a rua pode ser uma coisa boa?

Não foi a intenção dela, Harry disse Neville.

Olha... a gente só precisa pensar em um jeito de... Mia começou a falar, mas foi interrompida por uma voz nem um pouco familiar

Bom dia, meu nome é James, sou o garoto novo. Acho que vou ficar com um de voc... Ele mesmo se interrompeu quando viu Mia e as caras de choque e surpresa dos outros garotos.

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