O ovo e as aves Lino de Albergaria
Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos. “Uma galinha”, Clarice Lispector
Foi o professor Éder quem começou isso. Sem saber, foi o culpado ou o responsável pela mudança na minha vida. Abriu meus olhos para a literatura, estrada mal pressentida e pouco sinalizada nos outros anos de escola. Eu tinha então dezoito anos, na iminência do vestibular, tendo de decidir por uma faculdade e, a partir dessa escolha, nivelar e calçar meu destino. No ano anterior, ele nos fez descobrir Camões. Mais que o poeta lírico, o épico da grande aventura portuguesa por um mar desconhecido, chegando à Índia com Vasco da Gama. Não imaginava que ia gostar tanto daquilo, mas me percebi aliciado e rendido. Naquele ano, foi a vez de Guimarães Rosa, os contos de Primeiras estórias. Tropeço, no passar das páginas, em uma linguagem a que não estava acostumado, mas podia candidamente reconhecer o cenário, a paisagem rural das minhas férias. Não me eram indiferentes a roça, 49