Foucault e a teoria queer

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queer, tampouco a teoria queer é o destino do pensamento de Foucault. Para usar um de seus termos, este ensaio pode ser visto como uma “genealogia”3 breve e parcial de um conjunto particular de discursos sobre a sexualidade, culminando (de modo temporário e não exclusivo) no momento queer atual. Sexo, verdade e discurso O primeiro volume de História da sexualidade, de Michel Foucault, foi escrito nos anos 1970, no final da chamada “revolução sexual” na cultura ocidental. O livro apresentou uma contranarrativa, poderosa e provocante, à consagrada história da repressão sexual na Era Vitoriana, abrindo caminho para a libertação e o esclarecimento progressivos no século XX. Foi o começo do projeto mais ambicioso de Foucault, que ficaria inacabado por ocasião de sua morte. Nos relatos tradicionais, a sexualidade é vista como um aspecto natural da vida humana, que, a partir do século XVII, foi reprimido na sociedade e na cultura ocidentais, encoberto como se fosse as pernas escondidas dos pianos vitorianos, além de indizível – ou seja, censurado na fala e na escrita. A sexualidade ainda estava lá, cozinhando lentamente sob a superfície puritana da respeitabilidade burguesa do século XIX, mas sufocada por proibições e repressões. Até que ela e nós fomos libertadas na era da minissaia e da psicanálise, revelando pernas e desejos íntimos, colocando tudo para fora. Os problemas continuariam existindo, é claro, e a felicidade e a saúde das pessoas seriam Para explicações sobre esse e outros termos, ver a seção “Ideiaschave” na página 52.

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