pressionada fortemente contra a borda da pederneira a ser esculpida, e pequenas lascas eram removidas no ponto de contato. Na assim chamada técnica núcleo de tartaruga (tortoise-core), a pederneira era antes de tudo modelada até que parecesse uma tartaruga invertida. Se golpeada repetidamente em torno da borda, ela renderia uma sucessão de lascas uniformes afiadas que poderiam ser usadas, sem tratamento adicional, como facas descascadoras ou para propósitos semelhantes. Certas pedras siliciosas, tais como a obsidiana e o sílex córneo, demonstram a mesma propriedade útil da fratura concoidal e foram usadas nas regiões onde existiam. O vidro e a cerâmica também fraturam concoidalmente, e, nos tempos modernos, os aborígines da Austrália têm recebido com prazer garrafas e isoladores descartados pelas linhas telefônicas como matérias-primas. Outras pedras siliciosas foram utilizadas em regiões onde a pedra rochosa não era acessível, ou quando a disponibilidade de pederneira para lascar era uma desvantagem, como na manufatura de ferramentas pesadas, por exemplo, machados para o corte de árvores. Rochas ígneas perfeitamente granuladas, como o basalto, eram cortadas rudemente com o auxílio de outras pedras e, então, finalmente modeladas por pulverização. Isso pode ser feito com o auxílio de um bloco de rocha áspera, tal como o arenito. Por outro lado, uma mistura de areia e água serviria. Essa técnica também era usada pelos egípcios para preparar superfícies planas de pedras para construção. Ela daria um acabamento satisfatório, mas alguns machados sobreviventes têm um polimento tão intenso que evidentemente haviam sido mais polidos, talvez com couro e um fino pó de polimento, como barro ou argila absorvente (fuller’s earth). As questões de diferença racial nas habilidades físicas e na acuidade mental são delicadas e controversas. É fato, entretanto, 20
O v e l h o mundo
que as realizações do homem paleolítico variaram consideravelmente, visto que os artefatos sobreviventes demonstram claramente o surgimento de diferentes culturas. Assim, na cultura acheuliana do norte da França, que se originou na África, predominou o uso de ferramentas sobre núcleo, enquanto na cultura clactoniana-mousteriana, que deve ter chegado na Europa a partir da Ásia, eram favorecidas as ferramentas de lascas. A cultura aurignaciana, que incluía o CroMagnon, era caracterizada pelo extenso uso do osso e do chifre. Para o especialista, a forma precisa pela qual uma pederneira é trabalhada ou uma galhada é entalhada pode ser tão reveladora quanto a forma de usar o pincel numa pintura o é para um moderno historiador de arte.
Artes decorativas À medida que abordamos períodos históricos – digamos 25000 a.C. – surgem novos critérios culturais. Inicialmente, as tentativas do homem de produzir ferramentas eram estritamente utilitárias, embora o orgulho da habilidade artesanal, evidenciado por um acabamento mais fino do que a necessidade demandava, logo se tornasse aparente. Então o talento artístico foi praticado como um fim em si mesmo ou, pelo menos, por propósitos místicos em vez de práticos. A chamada estatueta de Vênus, com uns poucos centímetros de altura e muitas vezes esculpida em marfim, tem sido encontrada em sítios tão distantes como Rússia, Itália e França. Uma manifestação particularmente interessante foi a arte rupestre. Ela retrata, de maneira vívida, muitas das atividades e ferramentas – especialmente aquelas associadas à caça – que, de outra maneira, seriam uma questão de inferência. Embora os melhores exemplos conhecidos estejam na Europa ocidental, como em Chauvet, Lascaux e Altamira, também têm sido encontrados –