A história das Invenções - Do machado de pedra às tecnologias da informação

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A cada início de capítulo, um mapa para identificar as principais características sociais do período histórico a ser descrito

Com conteúdo surpreendente e inúmeros fatos e dados curiosos, a obra atinge seu principal objetivo: mostrar como os fatores tecnológicos modelaram – e continuam a modelar – a história humana. O velho mundo Os primórdios da civilização; a Revolução Agrícola; o transporte; edificações e construções; energia e maquinário.

Uma linha do tempo em cada capítulo para identificar as principais invenções daquele período da história

A descoberta de um novo mundo Da ascensão do islã ao Renascimento; as frotas e a navegação; o início da mecanização. O nascimento da industrialização O surgimento do Mundo Moderno; novas formas de transporte; a mineração e os metais; a invenção dos utensílios domésticos. A expansão transatlântica O início do século XX; a tecnologia militar e a Primeira Guerra Mundial; os novos canais de comunicação; a ascensão do transporte terrestre e aéreo; as novas técnicas de construção.

Trevor Illtyd Williams nasceu em 16 de julho de 1921, em Bristol, Inglaterra. Escreveu e editou uma série de livros sobre química e tecnologia. A importância de seu trabalho rendeu-lhe, em 1976, o Prêmio Dexter, concedido a quem presta notáveis contribuições à história da química, por seu extenso número de publicações relativas à área.

O mundo moderno O mundo do pós-guerra; medicina e saúde pública; os novos aspectos da agricultura e dos alimentos; novos materiais; os computadores e a tecnologia da informação.

Trevor I. Williams

Agricultura, construção, transporte, energia, medicina, máquinas, armamentos, arquitetura e comunicação. Tudo o que você sempre quis saber sobre invenções está neste ambicioso projeto de Trevor I. Williams, que dedicou mais de 30 anos de sua vida a estudos sobre tecnologia. A história das invenções fascina e envolve os leitores em uma viagem pela história da atividade humana, que começa com o trabalho da pedra e o surgimento da agricultura até o lançamento de foguetes espaciais, o advento dos computadores e a invenção dos chips de silício.

Trevor I. Williams

história das

história das INVENÇÕES

Representações artísticas e imagens do período citado no texto

Com texto objetivo e de leitura prazerosa, o livro possui conteúdo surpreendente, com inúmeros fatos, dados curiosos e mais de 300 imagens, incluindo: Fotografias das principais invenções do homem

Do machado de pedra Às TECNOLOGIAs DA INFORMAçÃO

www.editoragutenberg.com.br 0800 2831322

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ontar a história da tecnologia desde o despertar da civilização até os dias de hoje não é tarefa simples. Porém, não há ninguém mais indicado para esse ambicioso trabalho que Trevor I. Williams, que dedicou mais de 30 anos de sua vida aos estudos sobre ciência e tecnologia. Da Idade da Pedra, passando pela Revolução Agrícola, pelo início da mecanização, pela evolução tecnológica durante as grandes guerras, até chegar ao advento dos computadores e da tecnologia da informação, o autor abrange a história da civilização material em sua totalidade e nos fornece uma obra indispensável.

Diversos infográficos que contribuem para uma fácil compreensão


Trevor I. Williams Trevor I. Williams

história das

Atualizado e revisto por:

William E. Schaaf, Jr. com Arianne E. Burnette Tradução:

Cristina Antunes

Do machado de pedra Às TECNO LO GIAs DA INFORMA çà O


Publicado originalmente em 1987 por Macdonald & Co Edição atualizada e revista publicada em 1999 por Little, brown and Company (UK) Copyright do texto original © 1987 Trevor I. Williams Material textual adaptado da tradução em português © 1999 William E. Schaaf Jr/ Little Brown Company (UK) Copyright da tradução © 2009 Autêntica Editora LTDA./Gutenberg

título original

A History of Invention – From Stone Axes to Silicon Chips tradução

Cristina Antunes projeto gráfico de Capa

Diogo Droschi projeto gráfico de miolo

Christiane Costa / Conrado Esteves editoração eletrônica

Christiane Costa / Conrado Esteves

Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora/Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

edição de textos

Ana Carolina Lins Revisão

Ana Carolina Lins Cecília Martins editora responsável

Rejane Dias

Autêntica Editora Ltda./gutenberg Rua Aimorés, 981, 8º andar . Funcionários 30140-071 . Belo Horizonte . MG Tel: (55 31) 3222 68 19 Televendas: 0800 283 13 22 www.autenticaeditora.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Williams, Trevor I. História das invenções : do machado de pedra às tecnologias da informação / Trevor I. Williams ; tradução Cristina Antunes. – atual. e rev. por William E. Schaaf, Jr. e Arianne E. Burnette. – Belo Horizonte : Gutenberg, 2009. Título original: A History of Invention : From Stone Axes to Silicon Chips. ISBN 978-85-89239-21-9 1. Invenções - História 2. Tecnologia - História I. Schaaf, William E.. II. Burnette, Arianne E.. III. Título. 10-02687

CDD-609 Índices para catálogo sistemático: 1. Invenções : História : Tecnologia 609


Introdução

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1. Os primórdios da civilização 2. A Revolução Agrícola 3. Transporte 4. Edificação e construção 5. Engenharia e maquinário

12 33 44 59 73

6 . Da ascensão do Islã ao Renascimento 7. Frotas e navegação 8. O início da mecanização

86 95 108

9 .O surgimento do Mundo Moderno 10. Novos modos de transporte 11.Mineração e metais 12. Utensílios domésticos

118 137 155 168

13. O princípio do século XX 14. A tecnologia militar e a Primeira Guerra Mundial 15. Novos ca0nais de comunicação 16. Transporte: a ascensão do transporte terrestre e aéreo 17. Novas técnicas de construção

182

18. O mundo do Pós-Guerra 19.Medicina e Saúde Pública 20. Novos aspectos da agricultura e dos alimentos 21. Novos materiais 22. Computadores e Tecnologia da Informação

250 260

i. O Velho Mundo

iI . A descoberta de um novo mundo

iiI.

O nascimento da industrialização

iv.

A expansão transatlântica

v.

O mundo moderno

190 201 222 239

279 295 302



I NTROD UÇ ÃO

No decorrer dos últimos 30 anos dediquei muito tempo à história da tecnologia e escrevi e editei uma série de livros de caráter geral, tratando de temas e períodos históricos específicos. O fato de eles terem sido bem recebidos encorajou-me a embarcar neste novo trabalho que é, ao mesmo tempo, mais ambicioso e mais simples. Mais ambicioso na medida em que abrange a totalidade da história da civilização material, desde o trabalho da pedra e o surgimento da agricultura até o lançamento de foguetes espaciais e a o advento dos computadores e das tecnologias da informação. Simples porque notas de rodapé, referências no texto e outros aparatos acadêmicos foram deixados de lado para favorecer um texto discursivo ininterrupto que resistisse à tentação de explorar caminhos secundários, ainda que esses possam ser interessantes. Usando idioma vernáculo moderno – ele próprio reflexo de avanços tecnológicos recentes –,

apostamos no impacto visual causado pelo amplo uso de imagens coloridas e ilustrações, diferentemente do modo anterior a que estive acostumado. A civilização tem muitas facetas, mas a maneira como o homem vive depende muito mais do que ele pode fazer. O objetivo deste livro é despertar maior interesse pelo modo como os fatores tecnológicos modelaram – e continuam a modelar – a história humana; mas, se isso é conseguido, o interesse deve ser mantido. Há, portanto, uma extensa bibliografia no final para aqueles que quiserem leituras adicionais. Na maior parte do período aqui examinado, os inventores são anônimos e devem permanecer assim: não podemos dizer quem fez a primeira roda ou fundiu o primeiro cobre. De fato, como veremos, é provável que muitas invenções básicas tenham sido feitas independentemente, em diferentes épocas e diversos lugares. Nas palavras de um provérbio russo, o melhor do novo é muitas vezes o passado imemorável. À medida que a história se desenvolve, no entanto, a situação muda: invenções específicas podem ser progressivamente atribuídas a indivíduos específicos, atentos às oportunidades sociais e econômicas. Mesmo assim, podemos apontar diversos

O século XIX viu uma revolução no transporte por terra e por mar graças à propulsão a vapor. Essa ilustração mostra o esboço de Boulton e Watt para o Clemont de Robert Fulton (1807). (Birminghan Public Libraries. Boulton and Watt Collection)

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casos nos tempos atuais em que inventores rivais registraram patentes um do outro, num prazo de dias ou mesmo de horas. A ideia, por assim dizer, estava no ar, pronta para ser agarrada. No entanto, embora o gênio criativo e imaginativo do indivíduo seja a mola mestra da invenção, neste momento, de certa forma talvez estejamos rumando para um novo período de anonimato, pois muito do progresso tecnológico agora se origina do trabalho de equipes não identificadas publicamente, dentro de laboratórios governamentais ou de grandes corporações. Isso reflete ainda outro desenvolvimento significativo: a complexidade da tecnologia moderna é hoje tão notável que frequentemente apenas instituições

muito grandes podem se permitir aplicar os recursos necessários para se arriscarem mais longe dentro do desconhecido. A ideia tradicional de que a necessidade é a mãe da invenção – postulada pela primeira vez por escritores clássicos como Aristóteles – é, na melhor das hipóteses, não mais que meia verdade. O que espero que este livro vá mostrar não é que a tecnologia serve apenas para satisfazer necessidades humanas visíveis, mas que a sociedade pode lucrar tirando proveito dos novos avanços técnicos. Às vezes é difícil perceber qual fator é dominante em um caso específico, mas, quando se trata da realidade da poderosa interação entre tecnologia e sociedade, não pode haver dúvida. Trevor I. Williams.

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I

O Velho Mundo


O VELHO MUNDO Esse é um termo conveniente, embora geral, que representa um período de cerca de 4.000 anos e abrange geograficamente uma distância que vai da Europa ocidental até a China – uma ampla zona dentro da qual uma sucessão de grandes impérios contíguos floresceu e caiu.

O IMPÉRIO ROMANO atingiu sua maior extensão no século III d.C., quando compreendia e havia assimilado as culturas da maior parte da Europa moderna, exceto a Alemanha, a costa norte da África, todo o Egito e grande parte do Oriente Médio.

O IMPÉRIO EGÍPCIO O IMPÉRIO ASSÍRIO

O IMPÉRIO EGÍPCIO alcançou geograficamente o seu auge aproximadamente em 1450 a.C., quando se estendeu para o sul além de Cartum, no Nilo, e em direção ao norte para o Eufrates. O IMPÉRIO ASSÍRIO floresceu de um pequeno começo no Tigre central. Por volta do século VII a.C., estendia-se do norte do Egito ao que é hoje o Irã ocidental, mas ruiu em 612 a.C. com o saque de Nínive, sua capital, pelos medos e babilônios.


O IMPÉRIO PERSA

IMPÉRIO PERSA (maior extensão em 525 a.C.) Estados gregos (550 a.C.)

O IMPÉRIO PERSA foi fundado aproximadamente em 550 a.C., por Ciro II. Sob Dario I, estendeu-se desde o rio Nilo até o Indo. Em seguida, sob Alexandre, o Grande, foi largamente incorporado em um notável novo IMPÉRIO GREGO, que floresceu a partir de cidades-Estado fundadas ao redor do Mediterrâneo e do Mar Negro.

O IMPÉRIO HAN. No início da era cristã na Europa, o Império Han (202 a.C. – 220 d.C) já tinha dois séculos de idade e rivalizava com o Império Romano em extensão e riqueza.

IMPÉRIO DE ASOKA. A civilização harappiana floresceu na região do Vale do Indo cerca de 3.000 anos atrás. É duvidoso que ela sempre tenha tido um governo central, mas é certo que em 250 a.C. o soberano budista Asoka já estava firmemente estabelecido como chefe do império que cobria a maior parte do subcontinente indiano.


c a p í t u l o

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O s primór d i o s d a civi liza çã o

“Civilização” não pode ser precisamente definida, não apenas por ser um processo evolucionário, mas também por ter se manifestado de formas muito diferentes através dos tempos. Assim, a civilização romana, que variava consideravelmente em si mesma dentro de sua enorme extensão, era muito diferente daquela da Polinésia, da qual o Ocidente sequer tinha conhecimento até as grandes viagens do Pacífico no século XVI, ou daquela dos incas da América do Sul, que foi extinta pelos espanhóis. Entre essas civilizações, havia múltiplas diferenças nas crenças 6000 a.C. AGRICULTURA

cerâmica lâmpada a óleo

TRANSPORTE

bote escavado na madeira na Holanda

CONSTRUÇÃO

maquinário de força e de COMBATE

3500 a.C.

trigo emmer linho arados moinho manual primeiro trigo einkornpainço irrigação primitiva estágio cevada foice de sílex no Oriente Médio agrícola animais domesticados tecelagem

VIDA DOMÉSTICA

religiosas, nos costumes sociais, nas formas de governo e na criação artística. Contudo, uma faceta de fundamental importância para todas elas: a tecnologia, que, num sentido mais amplo, pode significar a aplicação do conhecimento para finalidades práticas. Hoje, a tecnologia é, na prática, sinônimo de ciência aplicada, mas as tecnologias básicas – tais como agricultura, construção, cerâmica, tecidos – foram originalmente empíricas e transmitidas de uma geração para outra, enquanto a ciência, no sentido de pesquisa sistemática das leis do universo, é um fenômeno relativamente recente. A tecnologia foi fundamental, já que proporcionava os recursos necessários para sociedades organizadas, e estas tornaram possíveis não apenas a divisão do trabalho – por exemplo entre trabalhadores da terra, oleiros, marinheiros e similares –, como também um ambiente no qual puderam florescer as artes em geral, não

cerâmica queimada em fornos

3000 a.C. irrigação no Egito

2500 a.C. cânhamo cultivado na China

roda de oleiro na Mesopotâmia

seda na China

animal de carga (jumento) veículos à roda na Mesopotâmia tijolos cozidos no forno no Oriente Médio

construção de pedra no Egito pirâmide em degraus de Zoser (pedra) alavancas e rampas usadas para mover cargas pesadas

lanças

semeadeiras na Babilônia

vidro feito no Egito

barcos de junco no Nilo barcos à vela navios de madeira na Mesopotâmia

arcos e flechas simples

foices de bronze

corantes animais e vegetais escrita em papiros

veículos à roda na China esquis usados navio funerário na Escandinávia de Queops arco aparece no Egito represa de alvenaria através do Wadi Gerrawi enxó e pua de arco de corda usada no Egito carruagem na Suméria fundição por cera-perdida

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METAIS

ouro aluvial

CULTURA URBANA

Jericó

Catal Hüyuk

O v e l h o mundo

cobre / bronze

escrita da civilização suméria calendário egípcio da cultura no Nilo

solda e soldagem

ornamentos de prata em Ur

primórdios da Império Antigo egípcio escrita cuneiforme escrita hierática hieróglifos egípcios calendário babilônico

trabalho em chapa metálica de prata civilização do Vale do Indo Harappa e Mohenjo-Daro


necessárias para a vida no dia a dia. A maioria dessas artes dependia de alguma espécie de suporte tecnológico: o escultor requeria ferramentas, o escritor necessitava de tinta e papiro (ou papel, mais tarde), o dramaturgo precisava de teatros especialmente construídos. Muito frequentemente, a fronteira entre ofício e arte era indistinta: desde época bem remota, os vasilhames dos ceramistas eram ricamente ornamentados, exigindo uma habilidade prática em vitrificação; o tecelão usava corantes para tingir seu fio e manejava seu tear para produzir intricados e coloridos desenhos e os requintados produtos do joalheiro exigiam conhecimento de trabalho com metais e de técnicas especiais, tais como esmaltagem e granulação. Este livro pretende contar a história da tecnologia desde o despertar da civilização até os dias de hoje, quando, para o melhor ou o pior, tornou-se um fator dominante 2000 a.C.

1500 a.C.

cultivo de campos algodão cultivado de arroz na China no Vale do Indo milho cultivado shaduf na América argila caulim usada pelos oleiros chineses

panela Li chinesa

veículo puxado a cavalo rodas com raios Stonehenge I

1000 a.C.

Olduvai Gorge, na planície do Serengeti, é um dos sítios arqueológicos mais famosos do mundo e deve seu nome à mais antiga tecnologia humana de ferramenta de pedra conhecida.

na vida das pessoas do mundo ocidental e, por sua necessidade, também no restante do mundo. Não é, de maneira alguma, uma história simples, já que se desdobra regular e logicamente, estando, pelo contrário, longe de ser uniforme – enquanto o primeiro homem estava andando na superfície da lua, 500 a.C.

1 d.C.

500 d.C.

algodão no Oriente chá cultivado arado com Médio e China na China pontas de ferro parafuso de Arquimedes cadeia de baldes para irrigação para irrigação importação de associação romana de pintores velas na Ásia Menor vidro soprado tricô de malha estabelecido o comércio do sal

fechaduras e chaves no Egito

seda para o ocidente fornos horizontais para cerâmica em Roma e na China

carro de sela barcos de casco bote de junco no Peru birreme canal do Nilo ao mão na acolchoada trincado na Mar Vermelho cavalos cavalgados fenício China na China Escandinávia trirreme bússola magnética Penteconter grego ferradura de ferro navios chineses com mapa-múndi (embarcação a remo) estribo de metal anteparas transversais

tumba Tholos em Micenas

Partenon muralha Assíria-Média

reforço de ferro nas construções

polia simples usada fortaleza torno para cavalos de pelos assírios concêntrica Sinjerli madeira guerra usados bestas compostos pelos povos da torres de cerco guindaste e incendiários arco composto estepe da Ásia complexo de polias

Grande Muralha Muralha de Adriano da China arco ogival arcos de Panteão, Roma pedra na Aqueduto Pont du Gard China armas de artilharia manivela na China rede de correio complexo de roda d’água plaina romana moinho d’água para madeira de Barbegal baixa aço produzido por cofusão

mineração de estanho na Cornualha molde de fundição ligas de bronze e cobre-níquel na China em duas partes

Coluna de Ferro em Delhi uso do latão fundição em pilha na China na China

alfabeto fundação de Cartago pergaminho cidades-Estado gregas no Egito primeiros caracteres chineses relógio de sol no Egito caracteres demóticos cidades fenícias dominam fundação de Roma colapso do império hitita comércio do Mediterrâneo

papel manufaturado calendário na China Juliano abreviaturas impressão manual latinas com pedra na China

ferro trabalhado pelos chalybes fundido minério sulfato de cobre

expande-se o uso do ferro

O s P rim ó rdios da C i v i l i z a ç ã o

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outros, em locais remotos do mundo, ainda estavam vivendo praticamente na Idade da Pedra. Também não ocorreu um processo simples de novas técnicas sendo inventadas em um único centro, de onde elas se propagam para longe. Isso muitas vezes até chegou a ocorrer, mas temos diversos exemplos de invenções independentes e de fortes interações nas quais culturas distintas se encontram. A China, embora tendo vivido uma história turbulenta, tem desfrutado cerca de 4.000 anos de civilização ininterrupta, e a importância de suas exportações para o Ocidente é bem conhecida, já que seu povo foi responsável, entre outros, pela bússola magnética, pelo papel, pela impressão e pela pólvora. Mais tarde, por outro lado, especialmente depois que os jesuítas lá se estabeleceram, as tecnologias ocidentais também foram absorvidas pela civilização chinesa. Portanto, determinar as rotas pelas quais tanto produtos manufaturados quanto novas ideias foram trocados ao longo dos séculos é um dos aspectos mais fascinantes da história da tecnologia.

Os homens primitivos A afirmação de que a tecnologia é um ingrediente essencial da civilização imediatamente nos faz questionar quando foi que o homem se tornou um ser civilizado, distinguível de seus ancestrais hominídeos. Pode não ser, é claro, um ponto preciso de transição, mas o critério geralmente aceito é que o homem se diferencia de seus ancestrais primatas por sua habilidade de produzir ferramentas. Desde a declaração do bispo James Ussher, no século XVII, de que a criação aconteceu no ano 4004 a.C., tem sido dada ao homem uma antiguidade muito maior. Estima-se que resquícios descobertos em Olduvai Gorge, na África oriental, e associados com pedras cruamente esculpidas como ferramentas tenham uma idade de 2,6 milhões 14

O v e l h o mundo

de anos. A mais antiga tecnologia humana de ferramenta de pedra conhecida é, por essa razão, chamada de Oldowan. Resquícios humanos de lugares tão longínquos como Pequim têm entre 350.000 e 500.000 anos, e fósseis mais primitivos do Homo erectus têm sido encontrados em Java, datando de 600.000 a 1,8 milhão de anos atrás. No entanto, o estudo de tais vestígios primitivos é domínio dos antropólogos, e para que encontremos homens com os quais possamos nos identificar não podemos voltar mais que, aproximadamente, 25.000 anos, apesar de a espécie Homo sapiens ter se desenvolvido bem antes disso. Ao voltar tanto no tempo somos igualmente levados para uma época de ampla variação climática, marcada por sucessivos avanços e recuos de geleiras que, vez ou outra, cobriam a maior parte da América do Norte, da Europa e da Ásia. Por causa dessa severidade do clima, a sobrevivência somente foi possível através de respostas tecnológicas: controle do fogo, construção de abrigos ou aperfeiçoamento dos naturais e produção de vestimentas capazes de isolar o frio. Essas mudanças climáticas tinham outra importante consequência, visto que, em sua extensão máxima, a cobertura de gelo ampliada podia imobilizar enormes quantidades de água a ponto de mudar o nível dos oceanos, fazendo-os descer a um nível cerca de 100 metros abaixo do atual. A migração humana – e animal – foi favorecida pelo surgimento de pontes de terra que não existiam antes, abrindo caminho, por exemplo, da Ásia para a América do Norte – através do Estreito de Bering – e da Grã-Bretanha para a Europa continental. De modo inverso, à medida que períodos mais quentes intervinham, os oceanos se elevavam, fazendo com que as áreas recentemente ocupadas se tornassem isoladas. Embora essas variações climáticas fossem mais severas nas latitudes setentrionais,


os efeitos eram globais. Afetavam profundamente a fauna e a flora regionais, fazendo com que o homem só pudesse sobreviver se adaptasse suas técnicas às novas condições. O Saara é um exemplo: hoje é um deserto, mas durante a Idade do Gelo europeia foi uma área verde. Prova disso são os traços abundantes de antigos assentamentos, com várias pinturas rupestres que retratam animais que desapareceram há muito tempo. Além disso, foi o principal caminho para a migração humana, e não a barreira que é hoje. As considerações climáticas, assim como a evidência fóssil, sugerem a África como o berço da espécie humana (embora a possibilidade de mais de um centro não possa ser descartada). De lá ocorreu a migração para as partes do mundo onde o clima era mais favorável. Na Europa, na Ásia, no Japão e na Austrália certamente já existiam colônias humanas há cinquenta mil anos. A América do Norte, no entanto, parece ter sido praticamente desabitada até 20.000 anos atrás, quando caçadores da Mongólia atravessaram a ponte de terra até o que é hoje o Alasca e o Canadá, em busca de abundantes rebanhos de mamute e rena. Mais tarde, eles se espalharam para o sul, rumo ao México, e em seguida ao longo do istmo do Panamá, descendo a costa oeste da América do Sul. Um assentamento da Idade do Gelo, em Monte Verde, bem abaixo no sul do Chile, data de mais ou menos 11.000 a.C, e foi dessa linhagem que surgiram as civilizações dos incas e dos astecas, as quais, entretanto, tiveram vida curta. Porém, por enquanto devemos voltar a examinar que tipos de habilidades acumuladas foram legados ao homem moderno por seus ancestrais remotos. Se aceitarmos a definição de que o homem é um primata criador de ferramentas, podemos olhar para um bastão pontiagudo endurecido no fogo ou para uma pedra rudemente lascada como evidência de realização tecnológica. Mas se

vamos falar de seres civilizados no sentido geralmente aceito, devemos procurar mais que isso. Além das habilidades manuais, devemos olhar para a capacidade de pensamento racional conceitual e a habilidade para se comunicar através de uma linguagem falada e, em última análise, escrita. Somente assim as realizações de uma geração podem ser transmitidas para as próximas e, por estas, ser aperfeiçoadas. Tendemos a considerar a informação tecnológica como uma inovação moderna, mas, na realidade, trata-se de uma das mais antigas e mais fundamentais: um sistema para manutenção de registros e relatos públicos foi um dos primeiros requisitos das comunidades organizadas.

Homem, o caçador-coletor O Paleolítico ou antiga Idade do Gelo foi um período no qual o homem viveu à custa da terra como caçador e coletor de alimento em vez de como um produtor deliberado. O sucesso nisso demandava uma série de habilidades, muitas das quais completamente refinadas e complexas, que lhe permitiram não apenas sobreviver, mas sobreviver confortavelmente, em circunstâncias sob as quais o homem civilizado moderno teria rapidamente perecido. Não é exequível colocar a aquisição dessas habilidades em qualquer espécie de ordem cronológica, visto que a prática variava de lugar para lugar e de época para época, dependendo das circunstâncias locais. A extraordinária habilidade do talhador de pederneira (ou britador), por exemplo, não seria, obviamente, praticada em áreas onde esse tipo de pedra não estivesse disponível. Assim, devemos nos contentar em sumariar o que pode ser chamado de tecnologias básicas do homem paleolítico, o qual significa o homem que ainda não tinha nenhum conhecimento dos metais. Inicialmente, o homem não produzia ferramentas, porém dependia do que se revelava imediatamente pronto, como O s P rim ó rdios da C i v i l i z a ç ã o

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Pinturas rupestres proporcionam imagens vívidas das atividades do homem primitivo. Este exemplo do platô Tassili n’Ajjer, na Argélia, data de cerca de 6.000 a.C. Retrata uma cena de caça, incluindo girafas, hoje só encontradas ao sul do Saara.

uma pedra afiada, um osso quebrado ou um galho partido. Posteriormente ele começou a modelar madeira, osso e pedra como ferramentas. Artefatos de madeira raramente sobrevivem, embora sua forma possa muitas vezes ser deduzida a partir dos instrumentos de pedra – tais como cabeças de machado ou pontas de lança –, com as quais eles devem ter sido usados. No começo, a machadinha pontiaguda, ainda usada pelos aborígines australianos, foi a ferramenta básica para todos os fins, sendo útil para cortar, raspar, triturar e rachar. Mas, já em época muito antiga, existe clara evidência não apenas da produção deliberada de ferramentas, mas também de um surpreendente grau de especialização. Muitas das armas inventadas para a essencial e fundamental atividade da caça

permanecem em uso até os dias de hoje, sendo modificadas à medida que novos materiais e técnicas se tornaram disponíveis. As antigas lanças eram, sem dúvida, nada mais que varas de madeira afiadas em ponta e endurecidas no fogo. Uma das mais antigas peças de marcenaria sobreviventes é exatamente semelhante a uma lança, feita de teixo, recuperada de solo alagado – um bom conservante de madeira – na Inglaterra e com, talvez, mais de um quarto de milhão de anos de idade. Outra lança similar, também feita de teixo, foi encontrada dentro do esqueleto de um elefante na Alemanha. Era com armas simples assim que grandes presas eram caçadas. Mais tarde, foram utilizadas pontas feitas de pederneira ou osso, e o poder da arma nua do caçador foi aumentado pelo uso de recursos de alavanca (spear-throwers) para obter maior velocidade no arremesso, como aqueles usados pelos esquimós, pelos aborígines da Austrália e pelos nativos da Nova Guiné. O arco foi o mais antigo dispositivo usado para liberar instantaneamente energia concentrada e é claramente ilustrado em pinturas rupestres na África do Norte que datam, provavelmente, de 20000 a.C. ou antes – indubitavelmente, eles eram, então, já bem antigos. Para a caça de pequenos animais eram usadas armas de arremesso feitas de madeira, dentre as quais podemos citar o bumerangue australiano de formato falciforme que retorna ao lançador, uma forma altamente especializada de arma. Bumerangues de

O nível do mar caiu durante a última Idade do Gelo, criando pontes de terra entre Grã-Bretanha e Europa, Ásia e América do Norte, China e Indonésia e Nova Guiné e Austrália. Na medida em que desenvolveram meios de sobrevivência em climas mais frios, os homens primitivos começaram a se propagar fora da África, há cerca de 50.000 anos. As novas pontes terrestres permitiram-lhes colonizar primeiro a Europa e a Ásia, depois a Austrália e, finalmente, a América, alcançando a extremidade da América do Sul 13.000 anos atrás.

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O v e l h o mundo


1200

1600

2000

800 400

bilhões

AD

milhões 100

10.000 1000 100 10 1

1000 10.000 100.000

10.000.000

anos atrás

O aumento da população mundial durante o último milhão de anos. A inserção mostra o crescimento ao longo dos últimos 2.000 anos.

diferentes formatos desenvolveram-se também na África, na Índia e em outros lugares, como prova um bumerangue encontrado na Polônia meridional, na caverna Obla-Zowa, que se acredita ter 21.000 anos, sendo mais antigo que o primeiro bumerangue australiano conhecido. Projetar tal artefato com a vantagem do conhecimento de aerodinâmica atual seria tarefa para um especialista; como ele foi desenvolvido empiricamente pelo homem primitivo, permanece um mistério. Outro exemplo de arma de arremesso bem antiga é a funda, que tem sido encontrada em muitos sítios paleolíticos. Para pessoas que vivem perto do mar ou dos rios, a pesca é uma importante fonte de alimento, e várias espécies de anzóis de pesca foram recuperadas de sítios paleolíticos. Eles vão desde o simples gancho de garganta (gorge hook) – uma espiga de pontas duplas no meio do qual a linha era amarrada – até verdadeiros anzóis feitos de sílex, osso ou concha. Pinturas egípcias datadas de mais de 3000 anos a.C. mostram o uso do laço e de bolas. Estas últimas consistiam em dois pesos ligados por uma corda curta, lançadas com um movimento giratório a fim de serem enroscadas em torno das pernas da

caça para derrubá-la. Ambos os dispositivos são provavelmente armas muito antigas e bem podem ter sido inventadas independentemente, em mais de um lugar, já que os laços também eram usados pelos índios na América pré-colombiana, e as bolas, na região da Patagônia, na América do Sul. A pedra foi de uma importância ímpar por causa de sua dureza e da capacidade de permitir um corte afiado, mas o homem também sempre se servia, onde quer que estivesse, de recursos locais. Embora os animais fossem caçados principalmente pela carne, também forneciam osso, chifre e marfim. Esses eram transformados não apenas em artigos úteis, mas também em outros objetos, tais como estatuetas, que tanto eram ornamentais como tinham significado religioso. Os chifres serviam como picaretas, e as escápulas, como pás. Ambos são comumente encontrados próximos aos restos de minas e pedreiras, como as de Grime’s Graves na Inglaterra, que foram abertas para fornecer pederneira. Os animais também forneciam couros que podiam ser raspados, limpos da gordura e dos pelos com raspadeiras de sílex e depois tornados macios e flexíveis, talvez pela mastigação, como faziam os esquimós. Posteriormente, o couro era transformado em vestimentas, essenciais para proteção nos frios invernos do norte. A madeira servia a muitos propósitos. Nos locais de climas setentrionais, onde era abundante, funcionava como um combustível indispensável e fonte de luz. O fogo também era usado na caça para dispersar animais rumo a uma emboscada ou em direção a armadilhas, conforme revelaram os esqueletos de uma manada de elefantes circundada por feixes queimados que foram encontrados em escavações na Espanha. A madeira, modelada pelo corte e pela raspagem, era apropriada para muitas outras finalidades práticas, como fornecer cabos para ferramentas, conferindo uma vantagem mecânica. Também deve ter O s P rim ó rdios da C i v i l i z a ç ã o

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em situações similares, os homens tendem a reagir da mesma maneira, ainda que seja apenas pelo número de opções limitado.

O trabalho da pedra

O homem primitivo fez hábil uso de todos os materiais disponíveis. Ossos e chifres tiveram muitas utilidades: escápulas, por exemplo, davam excelentes pás, e galhadas serviam como picaretas. Estes arpões feitos de chifres de galhadas vieram de um sítio mesolítico (cerca de 6.000 a.C.) em Stone Car, Yorkshire, Inglaterra.

sido útil para a construção de estruturas de abrigos, como as cabanas revestidas de couro dos índios americanos, as tendas portáteis dos lapões e os yurts, construções arredondadas dos mongóis. Embora barcos verdadeiros não possam ser identificados antes do sétimo milênio a.C., balsas simples devem ter sido usadas bem antes. Mesmo sob as mais primitivas condições, os recipientes simples e os vasilhames para beber eram cobiçados, e havia muitas fontes naturais deles antes do advento da cerâmica. Conchas, chifres ocos, cabaças, cuias de coco e semelhantes podiam facilmente ser utilizados para esse fim, como ainda são em algumas partes do mundo. Certamente, pessoas que podiam costurar vestimentas de couro podiam igualmente costurar garrafas de couro. E, apesar de não haver evidência direta, podemos supor que a cestaria básica já era conhecida em épocas remotas, uma vez que vimeiros, juncos e outros materiais apropriados estavam largamente disponíveis. De fato, à medida que penetramos na visão dos períodos históricos, podemos inferir que o homem fez o mesmo tipo de uso dos recursos disponíveis que as tribos primitivas fazem hoje. Isso porque, 18

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Em razão da natureza perecível da madeira, nosso conhecimento de como ela era usada deve ser, em grande parte, uma questão de inferência. Com a pedra, no entanto, falamos com mais propriedade, uma vez que existe um grande número de artefatos antigos que atravessaram os anos e chegaram até nós. A pederneira era o material favorito em todo o mundo devido às suas propriedades físicas incomuns. Embora um forte golpe a despedace, reduzindo grandes pedras a proporções manejáveis, golpes mais leves produzem o que é chamado de fratura concoidal (semelhante a “concha”), removendo uma lasca de pederneira e deixando uma rasa depressão. Pelo controle da força e direção do golpe, um trabalhador habilidoso pode regular o tamanho e a forma das lascas com extraordinária precisão. Duas técnicas básicas eram usadas. Em uma delas, eram lascados pedaços de uma peça de pederneira de tamanho considerável até o objeto desejado (por exemplo, uma machadinha) ser produzido. Os resultados disso são chamados de ferramentas sobre núcleo. Na outra técnica, a pedra era trabalhada para produzir lascas de tamanho e forma adequados para serem usadas como raspadeiras ou lâminas de faca. Essas eram chamadas ferramentas sobre lascas. Inevitavelmente, as duas técnicas se sobrepunham de vez em quando. O produtor de ferramentas sobre núcleo, naturalmente, recolheria algumas das lascas resultantes para convertê-las em ferramentas sobre lascas. Essas técnicas de modelagem da pederneira não desapareceram de todo na sociedade moderna. Na cidade de Brandon, na Inglaterra, romper pederneiras com martelos foi uma técnica usada desde 1790 até recentemente para


A

D

B As mais primitivas ferramentas de pedra eram pouco mais que seixos lascados, como aqueles recuperados em Olduvai Gorge (A). Esses contrastam com a lasca e o núcleo (B), o raspador e a pederneira (C), as pontas de flecha neandertais (F) e a lindamente trabalhada adaga de pederneira da Dinamarca (E), que provavelmente data da antiga Idade do Bronze. Numa primeira fase, a produção de ferramentas de pederneira torna-se uma indústria organizada, e produtos característicos são distribuídos ao longo das rotas de comércio. Um desses centros foi aquele em Grime’s Grave, Norfolk, Inglaterra (D). Lá, mineiros neolíticos desciam em poços a uma profundidade de 10 m, com galerias iluminadas. Minas de pederneira similares foram descobertas em outras partes da Inglaterra e em muitas regiões da Europa.

C

E

fornecer pedra para fecharias de pederneira de armas de fogo na África. Se corretamente desferido, um golpe leve descolava uma lasca. A pederneira a ser modelada geralmente seria mantida numa das mãos e golpeada com um seixo seguro na outra mão, embora a experiência e a

F

observação de povos primitivos nos tempos atuais mostrem que também pode ser usada uma peça de madeira dura ou de osso. Uma técnica alternativa era golpear a pedra a ser esculpida contra a borda de outra maior, usada como uma bigorna. Na lascagem por pressão, uma peça pontuda de madeira ou de osso era O s P rim ó rdios da C i v i l i z a ç ã o

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pressionada fortemente contra a borda da pederneira a ser esculpida, e pequenas lascas eram removidas no ponto de contato. Na assim chamada técnica núcleo de tartaruga (tortoise-core), a pederneira era antes de tudo modelada até que parecesse uma tartaruga invertida. Se golpeada repetidamente em torno da borda, ela renderia uma sucessão de lascas uniformes afiadas que poderiam ser usadas, sem tratamento adicional, como facas descascadoras ou para propósitos semelhantes. Certas pedras siliciosas, tais como a obsidiana e o sílex córneo, demonstram a mesma propriedade útil da fratura concoidal e foram usadas nas regiões onde existiam. O vidro e a cerâmica também fraturam concoidalmente, e, nos tempos modernos, os aborígines da Austrália têm recebido com prazer garrafas e isoladores descartados pelas linhas telefônicas como matérias-primas. Outras pedras siliciosas foram utilizadas em regiões onde a pedra rochosa não era acessível, ou quando a disponibilidade de pederneira para lascar era uma desvantagem, como na manufatura de ferramentas pesadas, por exemplo, machados para o corte de árvores. Rochas ígneas perfeitamente granuladas, como o basalto, eram cortadas rudemente com o auxílio de outras pedras e, então, finalmente modeladas por pulverização. Isso pode ser feito com o auxílio de um bloco de rocha áspera, tal como o arenito. Por outro lado, uma mistura de areia e água serviria. Essa técnica também era usada pelos egípcios para preparar superfícies planas de pedras para construção. Ela daria um acabamento satisfatório, mas alguns machados sobreviventes têm um polimento tão intenso que evidentemente haviam sido mais polidos, talvez com couro e um fino pó de polimento, como barro ou argila absorvente (fuller’s earth). As questões de diferença racial nas habilidades físicas e na acuidade mental são delicadas e controversas. É fato, entretanto, 20

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que as realizações do homem paleolítico variaram consideravelmente, visto que os artefatos sobreviventes demonstram claramente o surgimento de diferentes culturas. Assim, na cultura acheuliana do norte da França, que se originou na África, predominou o uso de ferramentas sobre núcleo, enquanto na cultura clactoniana-mousteriana, que deve ter chegado na Europa a partir da Ásia, eram favorecidas as ferramentas de lascas. A cultura aurignaciana, que incluía o CroMagnon, era caracterizada pelo extenso uso do osso e do chifre. Para o especialista, a forma precisa pela qual uma pederneira é trabalhada ou uma galhada é entalhada pode ser tão reveladora quanto a forma de usar o pincel numa pintura o é para um moderno historiador de arte.

Artes decorativas À medida que abordamos períodos históricos – digamos 25000 a.C. – surgem novos critérios culturais. Inicialmente, as tentativas do homem de produzir ferramentas eram estritamente utilitárias, embora o orgulho da habilidade artesanal, evidenciado por um acabamento mais fino do que a necessidade demandava, logo se tornasse aparente. Então o talento artístico foi praticado como um fim em si mesmo ou, pelo menos, por propósitos místicos em vez de práticos. A chamada estatueta de Vênus, com uns poucos centímetros de altura e muitas vezes esculpida em marfim, tem sido encontrada em sítios tão distantes como Rússia, Itália e França. Uma manifestação particularmente interessante foi a arte rupestre. Ela retrata, de maneira vívida, muitas das atividades e ferramentas – especialmente aquelas associadas à caça – que, de outra maneira, seriam uma questão de inferência. Embora os melhores exemplos conhecidos estejam na Europa ocidental, como em Chauvet, Lascaux e Altamira, também têm sido encontrados –


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